Big Bands”- a Maravilhosa Era Do Swing 4ª Parte
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MÚSICOS, FATOS & CURIOSIDADES • Nº 62 • NOVEMBRO 2010 “BIG BANDS”- A MARAVILHOSA ERA DO SWING 4ª PARTE Entre todas as “Big Bands” que atuaram durante a “era do swing”, ou que após essa era ainda se mantiveram em atividade, a de COUNT BASIE destacou-se por ser, além de animadora de salões de baile, uma banda de JAZZ e, portanto, um grupo para ser ouvido e assistido, o que ocorre até os dias de hoje. O sucesso e a importância da “Big Band” de BASIE não ocorreram por acaso e tampouco de imediato, mas foram fruto de muita pertinácia e trabalho permanente de um líder carismático. William “Bill” Basie, que recebeu a alcunha de “conde” (COUNT) por sua figura de classe, distinção e maneiras tranqüilas, foi pianista, organista, compositor e chefe de orquestra. Nasceu na cidade de Red Bank, estado de New Jersey, no dia 21 de agosto de 1904 e faleceu em vias de completar 80 anos no dia 26 de abril de 1984, em Hollywood / Flórida. Filho de família humilde (o pai era cocheiro e a mãe lavadeira), recebeu de sua mãe suas primeiras lições no piano, complementadas por uma professora particular. Ainda na adolescência e em sua cidade natal acompanhava filmes mudos ao piano. Com 20 anos a família foi para New York, onde BASIE teve oportunidade de aprender órgão com o grande “Fats” Waller, podendo ainda apreciar e aproximar-se das então figuras máximas do JAZZ-piano: James P. Johnson, Willie “The Lion” Smith e Lucky Roberts. Durante breve período acompanhou as cantoras de blues Maggie Jones e Clara Smith, assim como integrou os grupos de June Clark e de Ilmer Snowden. Foi contratado para acompanhar um grupo itinerante de “vaudeville”, capitaneado por Kattie Cripper e Gonzelle White e vinculado ao circuito “TOBA” (“Theatre Owners Booking Association”, espécie de sindicato de empresários agenciadores de espetáculos com artistas negros, bandas de JAZZ e cantoras de “Blues”), ficando sem trabalho quando da passagem desse grupo por Kansas City. Estávamos em 1928 e COUNT BASIE voltou a trabalhar como pianista acompanhante de filmes mudos. A grande oportunidade surgiu então, pois passou a integrar os famosos “Blue Devils” do contrabaixista Walter Page, em cujas fileiras alinhavam músicos do calibre de “Hot Lips” Page, Jimmy Rushing (o excepcional cantor de “Blues” alcunhado de “Mr. Five By Five”, devido às suas vastas dimensões corporais), Buster Smith, Eddie Durham, músicos esses que pouco a pouco e durante 1929 foram sendo absorvidos pela banda mais famosa de Kansas City (e também de Chicago, Pensilvânia e New York), a REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 62 – NOVEMBRO/2010 PÁGINA 1 DE 6 de Bennie Moten, à qual também BASIE foi agregado. A banda de Bennie Moten já contabilizava à época diversas gravações de sucesso. Bennie Moten veio a falecer em 1935, sendo a banda então liderada por seu irmão Buster, que conseguiu manter a formação por apenas cerca de 06 meses. COUNT BASIE voltou a reunir a banda em seguida, com parte dos músicos originários do grupo de Bennie Moten e ex-companheiros que recrutou: Lester Young, Herschel Evans, Jimmy Rushing, Jack Washington, Buster Smith e outros. O grupo atuava com o título de "The Barons of Rhythm". BASIE havia conseguido contrato para que a banda atuasse no “Reno Club”, onde o apresentador local passou a denominar BASIE de “COUNT” BASIE. Se por um lado esse contrato rendia muito pouco para BASIE e seus músicos, por outra parte as apresentações eram transmitidas pela rádio W9XBY, o que acenava com a possibilidade de serem difundidas, numa época sem televisão e com o “império da transmissão radiofônica”, para centenas de milhares de aparelhos em todo o território americano. E foi exatamente o que aconteceu, já que o produtor John Hammond ouviu a banda em dezembro de 1935 pelo rádio e abriu-lhe as portas para atuar em Chicago (“Grand Terrace Theatre”) e New York (“Roseland Ballroom”). Algumas dificuldades surgiram para essas atuações, já que o trumpetista “Hot Lips” Page retirou-se da banda contratado por outro empresário, tendo que ser substituído por Buck Clayton. Os integrantes da banda não eram muito cuidadosos no trajar, sem uniforme, sem “figurações” das seções de instrumentos, a banda tinha arranjos muito simples e quase todos tocavam “de memória”, enfim, ainda não estavam prontos para altos vôos na era das “Big Bands” e nos centros de maior projeção. A estréia em 1936 no “Grand Terrace” não foi um êxito, levando BASIE a pedir arranjos emprestados a Fletcher Henderson, também líder de banda. BASIE conseguiu também um contrato para gravações com a “DECCA”, além de sob o título de “Smith-Jones Inc.” gravar com formação reduzida para o selo “Vocalion”. A estréia em New York (“Roseland Ballroom”) também foi sem expressão e as apresentações em Pittsburgh podem bem ser definidas como inexpressivas. BASIE então contratou Billie Holiday que apresentou-se com a banda no “Savoy” e, também com o cantor Jimmy Rushing apresentou-se seguidamente no Harlem, onde fez muito sucesso, partindo para concertos em muitas cidades com sucesso crescente de público e de crítica; em realidade a banda começou a receber reconhecimento a partir dessas suas atuações no Harlem, no “Paramount Theatre” e de temporada no pequeno clube “Famous Door”, em que a “intimidade” da banda com o público permitia perfeita interação, até porque e a essa altura a banda já mostrava bela unidade no trajar e nas apresentações, no som e no JAZZ que a caracterizariam daí em diante, calcados no “Blues” de Kansas City. Interessante notar que apesar de ter atuado com a banda de BASIE, a grande Billie Holiday jamais gravou com a banda em estúdio, já que esta era contratada pela “DECCA”, enquanto que Billie era artista da “Brunswick”: uma pena ! ! ! . O único registro de Billie Holiday com a “Big Band” de COUNT BASIE consta de um 78rpm, da gravadora “Columbia” (atual “Sony”), gravado diretamente de apresentação no “Savoy”. Mais adiante Billie desligou-se da banda de BASIE para incorporar-se à de Artie Shaw, que lhe ofereceu um contrato bem mais vantajoso, sendo substituída pela vocalista Helen Humes. Em 1938 a banda de COUNT BASIE foi vencedora em um duelo organizado no “Savoy” do Harlem, com a também famosa banda de Chick Webb (cuja cantora era ninguém menos que Ella Fitzgerald). Nessa ocasião a banda de BASIE reunia Buck Clayton, Benny Morton, Harry “Sweets” Edison, Dick Wells, Lester Young, Herschel Evans, Earl Warren, Freddie Green, Walter Page, Jo Jones, ou seja uma “constelação”. Essa formação contava com a denominada “All American Rhythm Section”, o símbolo máximo do “swing” = COUNT BASIE / piano, Freddie Green / guitarra, Walter Page / contrabaixo e Jo Jones / bateria, seção rítmica que permaneceu na banda até 1942, foi desfeita e voltou a reunir-se no período de 1946 até 1949. REVISTA MENSAL DO JAZZ – POR PEDRO CARDOSO EDIÇÃO Nº 62 – NOVEMBRO/2010 PÁGINA 2 DE 6 BASIE havia estabelecido seu padrão ao piano, caracterizado pela economia de notas, isoladas, marcadas, frases curtas e de intenso dinamismo, mantendo arranjos não tão complexos para a banda, que garantia seu êxito pela extraordinária capacidade dos solistas e pela dinâmica imprimida entre as seções de instrumentos e a seção rítmica. Dessa época temos gravações até hoje consideradas “clássicas” na discografia do JAZZ, a saber e entre outras: “One O’Clock Jump” (pre fixo da banda), “Every Tub”, “Topsy”, “Sent For You Yesterday” (veículo para o cantor Jimmy Rushing), “Blue And Sentimental”, “Jumpin’ At The Woodside”, “Tickle Toe” (composição do grande Lester Young) e “Panassié Stomp”. A “Big Band” de COUNT BASIE tinha alcançado então reputação em alta conta e seu sucesso caminhava passo-a-passo com o das bandas de Duke Ellington e Benny Goodman. Seus arranjos eram assinados por Buck Clayton, Fletcher Henderson, Herschel Evans, Andy Gibson, Jimmy Mundy, Don Redman, Eddie Durham, Skippy Martin e Buster Smith, vale dizer, todos arranjadores e músicos de primeira linha. Até o final da década de 1930 a banda apresentou-se nas melhores salas de baile (“ballroons”), salas de concerto, grandes hotéis e restaurantes de prestígio, assim como excursionou para temporadas por todo o país. A banda de BASIE manteve durante essa década de 1930 uma formação bastante estável, com pequenas alterações ao final da década, tendo aos trumpetes Buck Clayton, Shad Collins, Harry “Sweets” Edison, Ed Lewis, Bobby Moore e Tatti Smith, aos trombones Dan Minor, Bennie Morton, Eddie Durham e Dick Wells, nas palhetas Herschel Evans, Chu Berry, Lester Young, Buddy Tate, Earl Warren e Jack Washington, com Jimmy Rushing e Helen Humes nos vocais, todos devidamente escudados em sua “All American Rhythm Section” já indicada anteriormente. O grande sax-tenorista Herschel Evans veio a falecer no início do ano de 1939, em um acidente de automóvel. Na década seguinte de 1940 a banda de BASIE passou por mudanças em seus integrantes, como a ocasionada pelo citado falecimento do grande tenorista Herschell Evans, a saida do também tenorista Lester Young, ao passo que foram sendo incorporados novos valores, sempre os melhores da cena jazzística. Fatores determinantes para essas mudanças foram, também, os anos da IIª Guerra Mundial que levaram as Forças Armadas americanas a recrutar diversos membros da banda, além da interrupção das gravações comerciais (01/agosto/1942 a 16/novembro/1944, interrupção comandada pela “American Federation Of Musicians” e conhecida como “recording ban”), ambos fatores com forte impacto econômico nos negócios da banda. Outro fator que motivou muitas alterações na formação da banda de BASIE nos anos de 1940 a 1950 foi, sem dúvida, a disseminação das pequenas formações, economicamente mais favoráveis para os músicos que o trabalho nas “Big Bands”, formações sempre maiores e com remuneração menor para os músicos.