A Festa De Santo Estêvão Em Ousilhão: Agentes E Dinâmicas Culturais Nas Festas De Inverno Do Nordeste Transmontano
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A Festa de Santo Estêvão em Ousilhão: Agentes e dinâmicas culturais nas Festas de Inverno do Nordeste Transmontano Fernando André Santos Camponês Dissertação de Mestrado em Antropologia Culturas em Cena e Turismo ão: Agentes e Agentes ão: Camponês, A Festa de Festa Santo Camponês, A vão em vão Ousilh Fernando Estê dinâmicas de Festas nas culturais Transmontano, Inverno do Nordeste 2014. Março, 2014 Dissertação apresentada para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Antropologia – Culturas em Cena e Turismo, realizada sob a orientação científica da Prof.ª Dr.ª Paula Godinho À minha namorada, Ana Figueiredo. Agradecimentos Gostaria de agradecer a um conjunto de pessoas que colaboraram direta e indiretamente na realização deste trabalho. Sem pretender distinguir ninguém em particular, pois todos ocupam um lugar especial, aqui fica a minha sincera gratidão e reconhecimento: - Aos habitantes de Ousilhão que me acolheram nos Natais de 2012 e 2013. Ao Sr. Carlos e sua esposa pela hospitalidade inexcedível. Ao Filipe, ao Romeu Fernandes e respetiva família, ao André Pereira e respetiva família, ao Sérgio Martins e respetiva família, ao Orlando e Pedro Diegues, ao Sr. Nélson pela amizade e cordialidade em responder às minhas perguntas. - À minha orientadora a Prof.ª Dr.ª Paula Godinho pela sua incansável ajuda. Pelas sugestões bibliográficas, pela leitura crítica do texto, e sobretudo pelo seu entusiasmo, que me incentivou nos momentos de dúvida. - Aos meus pais que sempre me apoiaram. - À minha namorada Ana, a quem dedico este trabalho, e que me acompanhou nos bons e maus momentos, nos altos e baixos, sabendo sempre encorajar-me. A todos eles fica o meu sincero e eterno agradecimento. A Festa de Santo Estêvão em Ousilhão: Agentes e dinâmicas culturais nas Festas de Inverno do Nordeste Transmontano Fernando André Santos Camponês Dissertação de Mestrado em Antropologia Culturas em Cena e Turismo Março, 2014 PALAVRAS-CHAVE: património cultural, politização cultural, agentes, desenvolvimento, turismo, identidade. RESUMO: O presente trabalho pretende problematizar o papel dos agentes externos nas Festas de Inverno do Nordeste Transmontano, nomeadamente nos processos de objectificação cultural (Handler, 1988). Projetadas para o exterior através do papel dos media, que têm vindo a filmar estas celebrações desde a década de 80, atualmente apresentam formatos de espetáculo turístico-cultural, bem como constituindo modalidades para pensarmos os processos de mercadorização, patrimonialização e turistificação cultural. Estas festas são dos principais recursos de emblematização da região Transmontana, servindo aos organismos do poder local interesses político- eleitorais, que vêem naquela uma forma de veiculação simbólica/ideológica, e encaram a sua aplicação (através de políticas culturais patrimoniais), como fonte de rentabilidade económica, pelo aumento de fluxos turísticos. Neste contexto, a Festa de Santo Estêvão em Ousilhão (durante a qual realizei trabalho de campo nos meses de Dezembro de 2012 e 2013) é um terreno a partir do qual a cultura local se configura em vários planos articulados, um momento para perceber a mudança, os seus agentes e as relações entre os locais com os poderes locais, e outras empresas culturais. KEYWORDS: cultural heritage, politization of culture, agents, development, tourism, identity. ABSTRACT: This paper intends to discuss the role of external actors in the Nordeste Transmontano’s winter Festivities, particularly in the cultural processes of objectification (Handler, 1988). Projected outward through the role of the media, who have been filming these celebrations since the 80s, currently present touristic-cultural show formats, as well as constituting modalities for thinking processes of mercadorization, patrimonialization and cultural touristification. These celebrations are one of the main resources for the emblematization of Transmontana region, serving local power entities with political and electoral interests, who see it as a form of symbolic/ ideological placement, and face their application (through cultural and patrimonial policies) as a source of economic profit because of the increase in turist flows. In this context, the Santo Estevão’s Festivity in Ousilhão (during which I conducted fieldwork – December 2012 and 2013) is a ground from which local culture is programed in various articulated plans, a moment to notice the change, its actors and the correlations between the local population and the local authorities and others cultural entities Índice Introdução…………………………………………………………………………….1 Capítulo I: Enquadrameto teórico……………………………………………...…5 I.1 O conceito de cultura………………………………………….…………….…5 I.2 Ousilhão: um contexto em mudança………………….……………….……….8 I.3 O espaço e o tempo globalizados…………………………….…………….…11 I.4 As Festas em 4 tempos………….…………………………………………….12 I.5 Problemática……………………….………..……………………..………….24 I.6. Objetivos/Pressupostos……………………………………………………….25 I.7. Métodos………………………………………………………………………26 Capítulo II: Contexto sócio-cultural……………………….....…………..……..29 II.1 Uma História da comunidade………………………………………………. 30 II.2 A Festa de Santo Estevão em Ousilhão……………………………….....…..33 II.3 Atores da Festa……………………………………………………………....34 II.4 Sequência Ritual………………………………………………………….….36 II.5 Mudanças no segmento ritual………………...…………………………..….39 Capítulo III: Agentes, textualizações e contextos de produção…….……...40 III.1 O período republicano……………………………………………………....42 III.2 O Estado Novo e o Processo de Folclorização……………………………...45 III.3 O Processo de transição democrática e a antropologia…..…………….……53 III.4 Filmes sobre as Festas de Inverno..………………………………….……...54 III.5 O domínio das artes no universo ritual transmontano………………………58 III.6 O papel da Antropologia e dos Notáveis Locais……………..……..………60 Capítulo IV: As autarquias enquanto agentes secundários?……………......66 IV.1 Politização cultural……………...…………………………………………..69 IV.2 Políticas culturais: Breve incursão….………………………………………71 IV.3 As políticas da Unesco….……………………………………….….………76 IV.4 Bragança ligada à máscara: O património imaterial nas políticas culturais...77 IV.5 Património cultural: Incursão conceptual…………………………………...82 IV.6 Patrimonialização e seus agentes……………………………………………85 Capítulo V: Cultura e desenvolvimento: O turismo como motriz………....89 V.1 A construção turística do Nordeste transmontano….….…………………….93 V.2. Turismo e Património: A mercadorização da diferença…………………...96 Capítulo VI: Um estudo de caso: A Festa de Stº. Estêvão em Ousilhão...99 VI.1 Textualizações: (re) imaginar a festa……………………………………...101 VI.2 Exportação Ritual: da comunidade para o espetáculo turístico-cultural….107 VI.3 Emblematização identitária ………………………………………………108 VI.4 O uso da máscara no tempo: pistas para pensar a mercadorização……….111 VI.5 “A Festa é do Povo: visões locais em torno do visitante informado..........113 Capítulo VII: Conclusão………………………………………………………..116 Referências Bibliográficas……………………………………………………..121 Introdução As Festas do Ciclo de Inverno do Nordeste Transmontano têm sido largamente tematizas por antropólogos e etnógrafos. (Pereira, 1973; Godinho, 2010; Raposo, 2004; Tiza, 2004; entre outros). Este interesse disciplinar deve-se a um conjunto de particularidades, que tornam o objeto de estudo num terreno adequado para discutir as questões de objectificação cultural (Handler, 1988). Este processo está associado a três fases: (1) ao modo como na ideologia nacionalista a nação é vista como um objeto, (2) à formação de determinados traços da cultura popular são transformados em coisas discretas que devem ser estudadas, catalogadas e exibidas, e (3) ao modo como, depois de reinterpretada a cultura popular, se transforma em património, algo de que a nação e/ou os grupos têm a propriedade, um objeto que literalmente possuem e que é indispensável à sua existência. (Leal, 2010:130). O pano de fundo é um contexto social em que a cultura apresenta um corpo de conhecimento multifacetado, e um lugar conceptual que não pertence apenas a eruditos, nomeadamente a antropólogos: “O monopólio da cultura aparentemente dilui-se e deu lugar a um novo cenário onde vários actor actuam, académicos, eruditos, media, políticos, mediadores locais (associações ou indivíduos), agentes turísticos e populações locais” (Raposo, 2002:2). De actores populares ou participantes, a organizações e instituições promotoras e difusoras dos eventos, a mediadores culturais (etnógrafos, mediadores e notáveis locais, intelectuais e artistas regionais e nacionais), aos poderes locais e regionais instituídos (eclesiásticos e civis), e ainda a diversas audiências (locais, emigrantes, turísticas, académicas ou artístico culturais) (Raposo, 2003:46), constituem-se novas visões e apropriações sobre as festas. São estes agentes que contribuem (de formas diferenciadas, é certo), para a mercadorização destes itens culturais1. Tendo passado por um processo de revitalização (Boissevan, 1992), as festas refletem um conceito de cultura, que se assume um “lugar” de confronto, tensão, disputa, consenso e negociação. (Raposo, 2002:2), pela dimensão política que se reveste. Paulo Raposo afirma que:” Inventada e encenada em termos de autenticidade, a «cultura» tornou-se num dos maiores bens da indústria turística (…)”. (Raposo, 2004:7). 1 “A ironia é que a tradição preserva-se enquanto comercializada e mercantilizada. A busca de raízes acaba por produzir uma imagem, um simulacro, um pastiche”. (Harvey, 1989:303, tradução livre) 1 É portanto necessário perceber que estas festas ganharam