Coordenação de Armando Fernandes

Textos Alexandre Rodrigues I Ana Marques Pereira I António Mourinho Armando Fernandes I Fernando de Sousa I Filipe Pinheiro de Campos Francisco Sande Lemos I Francisco Terroso Cepeda Henrique da Costa Ferreira I Isabel Vaz Freitas Luís Amaral I João Salvador Fernandes I José Manuel Garcia José Rodrigues Monteiro I Manuel J. Gandra Maria Alcina R. Correia Afonso dos Santos Maria João Guardado Moreira I Maria do Loreto Monteiro Maria Olinda Rodrigues Santana Tomás d' Aquino Freitas Rosa de Figueiredo Geografia Terra sulcada de rios e inundada de cores

Maria do Lareto Monteiro · Tomás de Figueiredo **

o solo é um recurso natural , não renovável à escala da tros. cuja « ... dorsal escura. des pida de vegetação, fecha vida humana. desenvolvido à superfície da Terra por in ­ com a sua linha regular o horizonte (a Nascente) a quem Ouência de vários factores de fo rmação: clima. material olh a de Bragança». origin ári o. relevo, organismos (em especial a vegetação) Estas descrições do ilustre geógrafo transmontano, data· e te mpo. das de já há mai s de 70 anos. ;'lssinalavam o fundamental O relevo é um dos factores de formação do solo mais da fi siografia da região. para o mais restrito espaço da expressivos no concelho de Bragnnça. Na paisagem da Terra I Fria Transmontana, como país de planaltos, sul· Terra Fria Transmontana. é saliente o contr

'" Professo ra coordenadora da Escola Superior Agníria de Bragança do Instituto Politécnico de Bragança ** Professor d

13 Na parte oriental do concelho desenvolve-se largamente ), podem observar-se diferenças na temperatura a peneplanície onde o planalto de Deilão atinge quase média anual superiores a 4°C, e que nos 50 quilometros 1000 l11elros. que distam do topo de Montesinho ao encontro Maçãs• No que especificamente aos solos diz respeito, é nítido. Sabor a temperatura do ar sobe em média mais de 6uC. no concelho, o efeito da temperatura e da precipitação na A altitude é, no caso, o principal responsável por estas espessura do solo e na sua pedregosidade, predominan­ variações espaciais (Montesinho - 1481 metros; Gimonde do os solos incipientes, em panicular os leptossolos (do - 530 metros; Foz do Maçãs - abaixo dos 300 metros). grego leptos, delgado), assentando sobre rocha dura, en­ Seguindo o ri tmo das estações, a temperatura atinge, na contrada a menos de 50 centímetros de profundidade. Os maior parte do território, valores médios em torno dos cambissolos ocupam mais de metade da área não afecta :2.0uC em Julho e Agosto. Apenas nas cotas mais elevadas a Leptossolos, em declives quase sempre inferiores a 1:2. as temperaturas de Verão são substancialmente menores por cento. São estes últimos solos pouco evoluídos, onde (Montesi nho. 16 ,S OC); pelo cOlllrário, a média do mês o Horizonte B dá o nome à Unidade Pedológica - Hori­ mais quente pode superar os 2:2."C no encaixe do sistema zonte Cámbico (do latim call1biare, a significar mudança Maçãs-Sabor. No mês mais frio (Janeiro), a temperatura de material simplesmente meteorizado para zona de ac­ média no território não ultrapassa os 4_5°C, sendo bem tuação de processos pedogenéticos) . menor nas áre as de serra (Montesinho, 1's°C) (INMG, Os solos evoluídos - luvissolos (de ilu viação, processo 1991; Gonçalves, 199 1). Esta distribuição estacionai de transporte vertical de colóides no perfil do solo ) e evidencia contrastes térmicos mu ilO marcados, porventura alissolos (de alumínio, pela natureza mais aluminosa da os mais expressivos do País, com amplitudes térmicas fracção coloidal) - cobrem apenas cerca de dois e quatro anuais da ordem dos 16"C (Bragança, 16,2"C). por cento do território do concelho. onde os luvissolo s Os rigores invernais são mais marcados em altitude, com são mais frequentes que os alissolos. Ambas as unidades Montesinho a registar temperaturas mínimas em média pedológicas se confinam aos decl ives mais suaves dos negativas em Janeiro e Fevereiro (-12"C em Janciro), relevos ondulados de planalto. onde constituem a parca um extenso período de ocorrência de geadas (a que reserva de solo s férteis da região. sendo. por isso. sujeitos praticamente só escapam os meses de Verão) e extremos a utilização mais intensiva. absolutos muito expressivos (algo infe riores aos - 1:2. Os nuvissolos (cio latimfll/I'ills, rio) desenvolvem-se nas "C de Bragança) (lNMG. 1991 ; Gonçalves, 199 1). No manchas aluviais, bordejando as linhas de água, resumi­ período estival as temperaturas máximas diárias são das na região a faixas estreitas c descontínuas. Detendo frequentemente superiores a :2.5°C, somando 45 a 50 dias elevado potencial para uso agrícola, por via de espessura, nos meses de Julho e Agosto, do total de 75 a 85 que sc disponibilidades hídricas e topografia bvonívcis, estão registam em média no ano com essas condições (valores ocupados pelas culturas mai s intensivas de regadio. Ao que se referem à faixa de altitudes dominal1lc na região redor de Bragança situam-se manchas signifi cativas des­ - os planaltos). tes solos. A amplitude térmica diúria média no ano situa-se em torno Naturalmente que outras unidades pedológicas ocorrem dos 10°C, o que é por si revelador do carácter continental também, ocupando pequenas manchas, embora frequen­ também sali ente no território. O efeito da cOl1linentalidade tes na região , como é o caso dos regossolos (de rególito (da ibcricidade, no dizer dos fitogeógrafos) é ainda mais - do grego rhegos. manto, e /irhos, rocha - a significar notório no Verão, estação em que a amplitude diária material grosseiro com fragmentos de rocha). São solos da temperatura cio ar excecle os 15"e na zona oriental desenvolvidos de espessura supcrior a I metro, tendo ge­ da Terra Fria. no mês mais quente, embora na zona ralmente ocupação agrícola e também hortícola em torno central (concelho de Bragança) , e muito especialm ente das povoações. em altitude, aquele valor não seja atingido. A amplitude média diária de Inverno ronda genericamcnte os 7°C (lNMG, 1991; Gonçalves. 1991). o clima e a rede hidrográfica Os múximos de temperatura e sua distribuição temporal contribuem, porventura mais até elo que outros parâmetros A isoterma dos lO ü C médios anuais envolve e destaca os climáticos. para identificar este território: a Terra Fria. maciços montanhosos da área - Nogueira e Montesinho. distinguindo-o, em Trás-as-Montes, da Terra Qucnte É somente nesta última, a mais alta e mais setentrional. (Gonçalves. 1991 al. que se regi stam valores inferiores a 8ue, de resto As precipitações na Terra Fria Transmontana apresentam limitados aos espaços acima dos 1000 metros de altitude. assinalável variação espacial, desde mais de 1:2.00mm. É notória a diversidade espacial do elemento climático nas

14 Lall/eira, CII/ Cova LlIa

inversa. já que são ambas influcnciadas pela I1siogral1a mecanismos de arrefecimento nocturno. É esta a região e pelo mais ou menos acentuado efeito da continentali­ de ondc mais frequcntemente o solo se cobre de dade. A isoicta dos 800mm contorna as montanhas e os gelo e mais prolongada é a estação de geadas (Gonçalves, planaltos e montanhas de maior pluviometria. As eleva­ 1985: Ribeiro, I 996\. ções de Montesinho-Coroa-Nogueira - prolongamentos Se as condições topográficas são favoráveis à sua ocor­ das serranias espanholas fronteiriças, que ultrapassam os rência. também o são as atmosféricas. Com efeito. a re­ 2000 metros de altitude e envolvem o território pelo Nor­ gião está sujeita, com relativa frequência. à invasão de tc - constituem assinaláveis redutos de humidade (Gon­ massas de ar frio, quer continentais. quer marítimas, que. çalves,1985a). favorecendo o arrefecimento generalizado da superfície, A distribuição das precipitações ao longo do ano segue, agudizado pela secura do ar no primeiro caso. determi­ em todo o território. o regime mediterrânico. No semes­ nam geadas de aclvecção (INMG, 1991 ; Gonçalves, 1985; tre húmido (Outubro-Março) ocorrem em média 70 por Gonçalves. 1991 a: Ribeiro. 1996). Em quase toda a área. cento do total anual de precipitação contra menos de 10 o período em que ocorrem valores mínimos diários nc­ por ccnto no trimestre seco (Junho-Agosto), tendo os gativos de temperatura do ar vai fundamentalmente de restantes meses carácter de transição. Nos meses de Ju­ Novembro a Março. lho e Agosto, as precipitações apenas excedem os 20mm Os rios da região são elementos estruturantes da pai ­ mensais nas zonas serranas, situando-se em quase todo sagem. Pelo que representam de fronteira natural entre o território entre os 20 e os IOmm, raramente descendo blocos do território, pelos valores que abrigam nas suas para valores menores que 10 milimetros (lNMG, 1991: vertentes, no estreito fundo dos seus vales ou nas suas Gonçalves, 1991). águas que correm frias da montanha até ao planalto, os Os frios invernais são o traço dominante deste territó• rios condicionam as actividades humanas. asseguram re­ rio. No entanto. mais que um país de neve, o concelho cursos, acresccntam diversidade e ritmo à rígida monoto­ de Bragança é muito atreito a geadas, mercê da relativa nia das formas esculpidas neste solo antigo. O principal secura dos planaltos desabrigados , lado a lado com de­ rio deste concelho é o Sabor. com uma rede de afluentes pressões profundas onde a estagnação do ar favorece os e subaftLlentes com significado.

IS I ~ Toda esta rede hidrográlka drena para o Douro. encontra identificação da fl oresta portuguesa, no reforço dos meios caminho em talvcgues que o seu próprio trabal ho erosivo c propósitos de actuação e de intervenção do Estado», vai afunclando. comandada por aquele que. aqui. ainda sem esquecer a potencialidade conflitual que transporta­ deles nada recebe. De facto , o ri o Douro consti tui o ní• va (Radich & Alves. 20(0). vel de base regional c a ele vão aflu ir, já no seu troço No século XX, CO m base Il OS in vent ários fl orestai s rea­ unicamente português, todas as principais linhas de água lizados, e suas actualizações. pode af1rmar-se que a área deste território. A rede hidrográfica principal é de caudal Oorestal aumentou significativamente, tendo praticamen­ permanente, apenas secando no Verão alguns dos seus te triplicado relativamente anterior. Rellra-se que, para anucntes secundários e terciários. tal. contribuiu seguramcnt c a Lei de 1901, que in stituiu o Regi me Florestal, uma vez que: «compreende o con­ junto de disposições destinadas a assegurar não só a cria­ o revestimento vegetal e as culturas ção, exploração e conservação da riqueza si lvícola, sob o ponto de vista da economia nac ional, mas também o o revestimento vegetal depende do clima. do relevo e reve!-itimcnto norestal cios terrenos cuja arbori zação !-ieja do solo, embonl as associações vegewi s renictum a inter­ de utilidade pública, e conve nie nt e ou necessária para o venção humana, criando de certa maneira Lima pai sagem bom regime das ág uas e defesa das vál7eas, para a va lo­ nova. ri zação das planíc ies áridas e benefício do clima, ou para Rego (2001 ), quando se refere ao conhecimento sobre a fixação e conservação do solo, das montanhas . e das a evolução da paisagem e vegetação a partir da última areias, no li toral lllarít im o.» glaciação, menciona que, nas serras de Trás-os-Montes Taborda ( 1932) refere que a fi sionomia vegetal, no Alto o coberto flore stal original seri a dominado por espéc ies Trás-as-Montes, deriva da combinação dos bosques, dos géneros qIfcrCII.\· e pil/os. Este autor ainda comenta os elo «monte». dos prados e das cLllturas e traz impressa ciclo s de avanço e recuo da floresta, naturalmente liga­ a marca da Natureza. aparecendo assim, lado a lado, as dos ~I S populações, os quais devem ter sid o seme lhantes árvores de folhas caducas. espessas ou membranosas, aos de outras áreas do Mediterrâneo, embora. no início gl'<1ndes e recortadas, com as árvores esclerótilas, de fo ­ da era cri stã, a paisagem vegetal haja sido descrita como lhas persistentes. duras, pequenas e coriáceas. Este autor pouco habitável. Admite que. nos séculos I a IV. a flo ­ exemplifica o facto através do «contraste entre a massa resta possa ter sido muito explorada. conduzindo a um sóbria. verde-escura dos soutos de castanheiro c a man­ empobrecimento e

16 Parque Natllral de MOll1esil/ho lógicas de influência ibero-mediterrânea, surge natural­ ça. apresente o COlljUll to das áreas de característi cas mais mcnte a azinhcirn. tipicamente Hore stai s. Es ta situação não sc re stringe somente à bacia do Douro, Já em 1910 , nltura em que a obra do Abade de Baçal co­ acontecendo au longo de todos os seus al'lu cn tcs e su ­ meça a ser publicada, este autor menciona no Tomo IX: bati uentes. que c~ n a li zam por toda a Terra Fria Trans­ «Feli zmente. hoje vai-se reconhecendo a necessid ade de montana a infl uência med iterrünca. a qual pode ser lida regressarmos ao Regi me Florestal que o frade viu e pra­ na paisagem vegetal das margens no Sabor (freg uesias ticou muito a tem po. sem se dar ares do lu xo cien tífico de . Grijó de Parada, Ri o Frio. Milhão . , Gi­ que a palavra inculca prescntemente. porque na árvore monde. Alfaião, Faílde . São Pedro de Serraccnos), assim está o futuro da agricultura: a caixa económica dos ter­ como na própri

17 ram com cultura (~as zonas de clima quente encravadas de resinosas e os mais espessos por povoamentos de fo­ na Terra Fria». Ihosas diversas. Este concelho. do ponto de vista biogeográfico ou do es­ O concelho enquadra-se, segundo Agroconsultores e tudo das relações entre a distribuição das espécies e as Coba ( 1988), na região natural, designada por Bragan­ características climáticas e geológicas de um dado espa­ ça, correspondendo a lima grande unidade gcofísica ou ço. insere-se na região mediterrânica do Reino Holártico paisagística que integra aspectos fisiográficos , climáticos (J. Costa, C. Aguiar, 1. Capelo & C. Neto, j 998), carac­ e de vegetação muito específicos ou allns. Fisiografica­ terizando-se essencialmente. pela ocorrência, no Verão, mente, a região compreende a vasta supelt'ície planáltica de dois meses em que a precipitação média mensal é me­ do NINE. a cotas médias dos 750/900 metros e que cons­ nor que o dobro da temperatura média mensal, podendo, titui parte integrante da Meseta Ibérica, nela se distin­ no entanto, haver excesso de água nas outras estações e, guindo morfologicamentc três situações que identificam por outro lado, pela ocorrência frequente de bosques e caracteristicamente outras tantas sub-regiões: sub-região matagais de árvores e arbustos de folhas planas, peque­ oriental , sub-região ocidental e sub-região montanhosa. nas, coriáceas e persistentes. Nesta região é marcante a Na região natural de Bragança, do ponto de vista Aores­ presença do género Querel/s, espécies: Q. rutlfl/di/afia tal, o carvalho negra I faz parte da vegetação climácica , (azinheira); Q. coee~/era (carrasco); Q. suber (sobreiro) ; e marca uma presença dominante nas faldas da serra de PisracialemiclIllIs (aroeira); VilJlfrJ1I/1II lill/flS (folhado) e Nogueira ( de Rebordãos, Nogueira, Carraze­ Olea el/rupea vaI'. sy/vestris (zambujeiro). da, Ousilhão, Vilar de Peregrinos, Edrosa, , Celas, De acordo com os mesmos autores, no artigo «Biogeo­ Sortes e Rebordaínhos) e de outras serranias localizadas grafia de Portugal Continentai» in Quercetea, esta zona nas freguesias de Castrelos, Soeira, Fresulfe, Mofreita, enquadrada na região referida, pertence à província Car­ Parâmio, , , Castro de Avelãs , petano-lbérico-Leonesa, (superprovíncia: Mediterrâni• Gostei, Donai, Carragosa, , Mcixedo, Bragança, co-Iberoatlfllltica; sub-região: Mediterrânica Ocidental). Samil, Alfaião, S. Pedro de Serracenos, Faílde, Mós, Pi ­ A vegetação climática desta província é constituída pelo nela, Pombares, e Quintela de Lampaças. No do­ carvalho negral (QuerclI.\· pyrelloica) , por sobreirais e cumento publicado pela Associação de Desenvolvimento azinhais. sendo de citar. a nível das comunidades arbusti­ dos Concelhos da Raia Nordestina (CoraNE), intitulado vas, os giestais. cervunais e estevais. Centro Rural de Montesinho, refere-se com especial Dentro da província, o concelho de Bragança pertence ao ênfase que «os carvalhais, na zona compreendida entre sector Orensano-Sanabriense. Este sector diz respeito ao os rios Tuela e Baceiro, fazem um contínuo que se pro­ território supramediterrânico sub-húmido e húmido, e in ­ longa para sul até à serra de Nogueira, constituindo um tegra as serras de Montesinho, Nogucira, planalto da Alta dos mais belos, extensos e bem conservados bosques de Lombada ou de Deilão. A paisagem deste Sector (Oren­ carvalho-negral da Europa». sano-Sanabriense) é dominada pelos matos subseriais, Para além cios carvalhos, como autóctones, assumem neste caso, os matos primitivos de Querells pyrel/aica de relevância as manchas de resinosas, à base de pinheiros urzal, giestal e medronhal. com uma ocupação superior a 50 por cento, situadas nas A disposição da vegetação ripícola deste sector é comum freguesias de Parâmio, Espinhosela, Carragosa, França, a todos os territórios supramediterrânicos Carpetano-Ibé­ Aveleda, Rio de Onor, Deilão, São Jul ião de Palácios. rico-Leoneses portugueses. Assim, em troços diferentes , Rio Frio, Bragança, Salsas, Santa Comba de do leito das linhas de água, podem observar-se os amiais Rossas, Rebordaínhos, São Pedro de Serracenos, Rebor­ (bosques de All/lIS g/util/asa) c uma série encabeçada por dãos e na parle norte da fregucsia de Outeiro do concelho freixiais (bosques de Fraxil1us al1gf{sr~folia). Nas mar­ de Bragança. gens dos cursos de água temporários e de regime torren­ Percorrendo estes povoamentos, a presença de elevada cial, com águas rápidas e turbulentas, são constantes os diversidade de líquenes na casca das árvores confere uma salgueiros arbustivos (género Salix). interessante variabilidade cromática ao arvoredo e uma De acordo com Costa et aI, no distrito de Bragança, sobre envolvência de mistério a determinados bosques. Estes rochas ultrabásicas estão presentes os azinhais do Gel/is­ seres também funcionam como bioindicadores, apresen­ lo hystricis-QIlereetllfll rotlll1difofiae typiClfl1/ e as respec­ tando grande sensibilidade aos efeitos nocivos da polui­ tivas etapas de substituição: giestais do Genisto hystri­ ção atmosférica, pelo que uma grande concentração de cis-Cylisetll/lI rnuJtiflori, arrelvados perenes de Agrostis líquenes é sinónimo de ambiente são. castel/al/a, estevais do Cisto /adan{leri-GenistetlflJl O castanheiro, espécie emblemática do concelho, ocupa hysrricis e arrelvados anuais do Anthyllido lusitanicae­ espaços muito significativos, marcando de uma forma pe­ Tl/berariellfl1/ guttari. A distribuição dos géneros PiJ1//s culiar a paisagem. Esta essência juntamente com o nosso e QllerclIs está ligada à profundidade dos solos , estando carvalho, o carvalho-negral, são as espécies por excelên­ os mais delgados ocupados sobretudo por povoamentos cia do espaço em apreciação, embora provavelmente o

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SOl/to de castanheiros castanheiro, no estado nalUral, fosse uma essência disse­ des épocas: Idade MédiO), acompanhando a viticultura, minada como as restantes fruteiras da floresta. tais como tanto na Itália como na França. os monges das grandes cerejeiras. macieiras e pereiras bravas (Bourgeois, 1992), abadias proprietários de vinhas, necessitavam desta ma­ e não uma espécie social como o carvalho, não restando deira para apoio àquela cultura, e no século XIX. Tam­ dúvidas de que a sua cultura foi imaginada no Próximo bém em Portugal, o castanheiro, como espécie florestal, é Oriente (como a de muitas árvores fruteiras), seguida­ referido em fnquirições dos anos 1220 e 1258, em plena mente transmitida aos Gregos e depois aos Romanos , que Idade Média (Monteiro, 1988). a difundiram em Portugal. A outra época cm que a cultura do castanheiro se desen­ Pitte, em 1986, refere a existência de uma verdadeira ci­ volve é o século XIX , quando se faz sentir a necessidade vilização do castanheiro, que foi estabelecida na Europa de madeira para forjas, minas e outras indústrias. Em­ entre o fim da Idade Média e o século XVIII, prolon­ pregado ainda na construção, ü castanho vai ser llluito gando-se pelo século XIX e. em algumas regiões, nome­ utilizado como madeira de serração. adamente em Trás-os-Montes e na Galiza. mesmo pelo A castanha desta região apresenta lima mais-valia conferi­ século XX. Segundo o mesmo autor, a esta civilização, da pela Denominação de Origem Protegida (OOP) «Cas­ considerada muito própria e muito rica, está associado tanha da Terra Fria)}, extensiva a outros concelhos para um particular imaginário. traduzido por diversos autores além dos de Bragança. Vinhais e Vimioso. Nesta DOP é cm elogios à beleza, majestade e «virilidade» desta árvo­ o concelho de Bragança que apresenta, dentro das suas re. Estes encontram naturalmente o seu fundamento no explorações rurais, um maior número de explorações (39 interesse alimentar do castanheiro, que exige poucos cui­ por cento do total) com castanheiro e praticamente meta­ dados para dar muitos frutos ... , representando a castanha, de (45 por cento) da área plantada (RGA,1999). em épocas distantes, a base da alimentação, pelo que era Apesar do interesse por esta espécie que marca fortemen­ denominada, entre outros epítetos , por «árvore do pão)}, te a paisagem agro-florestal do concelho, tendo sido o seu «marido da ama de leite», «maná» , «árvore da vida)}. ouriço elevado a símbolo do Parque Natural de Montesi­ Sob o ponto de vista das plantações florestais do casta­ nho , verifica-se que graves problemas atingem o casta­ nheiro, desenvolveram-se principalmente em duas gran- nheiro, nomeadamente o incremento ela propagação de

20 doenças (tinta e cancro). provocando, em alguns casos , a o INE/RGA (1999), é no concelho de Bragança que os morte precoce das árvores. cereais para grão ocupam a primeira posição. embora os De acordo com Agroconsultores e Coba (1991), a zona prados c pastagens permanentes preencham praticamente da Terra Fria divide-se em três regiões naturais, jcí ante­ área idêntica. Também os frutos secos, que dizem respei­ riormente descritas. Estes autores referem que. na Região to essencialmente ao castanheiro, mostram uma grande Natural de Bragança, o tipo de ocupação rural ou agrúria ocupação de área em Bragança. é essencialmente de pastagem de vale (Iameiros húmido Quanto às culturas agrícolas, Orlando Ribeiro in Portu­ e secadal); cereal de Inverno (centieiras) e pousio/pas­ gal, o Medilerrâneo e o ATlântico, afirma que do Medi­ tagem; soutos e pecuária bovina. Passadas praticamente terrâneo vieram as lentilhas. a fava. o grão, o linho de duas décadas - ou seja na actual idade - . em termos de sementes grossas e algumas ervas de pasto, para além da pecuária. o panorama modificou-se significativamente, oliveira e da vinha. Da Ásia vieram o linho de sementes pois a pecuária bovina, predominante nas regiões natu­ finas, o trigo-mole, muitos legumes, a vinha e a maior rais de Bragança e Miranda-Mogadouro. deu lugar à pe­ parte das árvores de fruto que dão fama aos pomares me­ cuária ovina. descendo fortemente o número de efectivos diterrfmeos: nogueira, amendoeira. cerejeira. macieira, bovinos, devido, por um lado, ao abaixamento do preço pereira, marmeleiro, pessegueiro e damasqueiro. O trigo da carne ao produtor e. por outro, ao envelhecimento da e a cevada (cereal que melhor suporta a secura) contam­ população rural c consequente redução de mão de obra se entre as culturas mais antigas. O último contributo disponível para manutenção dos efectivos anteriormen­ cabe à América, com o milho graúdo e a batata. te existentes. É de realçar. porém que neste concelho o Mais uma vez seguindo Taborda, este autor escrevia que, gado bovino pertence maioritariamente à raça mirandesa, nos anos 30, os cereais ocupavam. no território em es­ alimentada 110S lameiros. constituindo a sua carne uma tudo, a maior parte da terra cultivada, ultrapassando em referência gastronómica de elevado valor. muito os restantes produtos. pertencendo o primeiro lu­ Os lameiros - parcelas valiosas da exploração agrária -, gar ao centeio, seguido do trigo. que já ti veram maior representatividade, podem ser de re­ O sistema de cultivo assentava no afolhamento bienal. gadio e sequeiro. Estes somente têm água quando chove com um ano de pousio, dividindo-se a terra consagrada à ou neva, e os de regadio têm água todo o ano e rnantêrn­ lavoura em duas folhas que se granjeavam alternadamen­ se através da rega de lima, sendo. em geral, pastoreados te. Porém, os pousios poderiam ir até cinco allOS nos so­ directamente e vedados ao paslO entre Março-Abril e los magros dos cimos e encostas, praticando-se por toda Maio-Junho, com o objectivo de dar Ulll corte para feno a parte - as queimadas-o sobrevivência do modo antigo no Verão. (Um parêntesis para realçara arollla do feno na de cultivar. sendo as cinzas espalhadas pela terra. Nos altura da recolha ... ). solos mais profundos e mais bem adubados, vigorava o Refira-se. ainda, que é vulgar os espaços rurais do conce­ afolhamento bienal, em que entra quase sempre a batata lho serem ocupados e compartimentados especialmente associada a cereais (trigo, milho ou centeio). com freixos. embelezando e enriquecendo os lameiros, ao Assim. a cultura dos cereais, nomeadamente do centeio. formar cortinas forrageiras (o nome do género Fraxt'lIllS, ocupou um lugar ele relevo na Terra Fria, bem como a a que o freixo pertence. provém da palavra grega Ji,(IXis. da batata que, introduzida no século XVIII em Portugal, que signil1ca cortina, vedação), pois que os negrilhos ou de norte para sul, conheceu um grande incremento nos olmeiros de outrora e que tanta relevância tiveram, no­ séculos XIX e XX. O Abade de Baçal (Tomo IX) diz que meadamente, pela utilização das suas folhas na engorda a cultura da batata se inicia no distrito de Bragança por dos suínos e a madeira para as rodas dos carros de bois e volta de 1800. Neste tomo, reporta-nos para a o Tomo 11 utensílios de lavoura, foram sendo dizimados por via da (pág. 182), em que cita. de uma pastoral de 30 de Setem­ grafiose. Também os amieiros e choupos estão fortemen­ bro de 1817, que «se deve continuar a pagar dízimo nas te presentes neste ambiente, transmitindo calma e beleza, terras onde a batata se cultivava. aliás por ordem emana­ favorecendo actividades de lazer e turismo. já que contri­ da em 180 I, bem como naquelas onde esta cultura estava buem para o aumento da diversidade da flora e da fauna; a ser introduzida». e cOl1Stituindo alimento e refúgio para a caça. Além de in­ No que respeita à vinha, fora do Alto Douro, a produ­ crementarem as reservas de água no solo e os rendimentos ção de vinho era praticamente para consumo local. Po­ em produção vegetal e animal, melhoram o conforto do rém, ainda o Abade de Baçal (Tomo TI) refere que, em gado, actuando como reguladores do clima, elevam a tem­ 1858 , por alvará datado de 23 de Março, foi autorizado a peratura e protegem contra os efeitos mecânicos do vento. José de Sá Pilão fundar uma müquina de destilação para É conhecido que. para além dos lameiros tradicionais, aguardente na margem esquerda do Sabor, assim como, sobretudo o pastoreio de gado ovino se desenvolve em a 27 de Abril desse mesmo ano, foi concedido a Diogo zonas de cultura cerealífera, com a utilização dos resto­ Albino de SÜ Vargas montar também uma máquina de lhos e da cobertura herbácea dos pousios. De acordo com destilação de vinhos no sítio da Calçada, na cidade de

21 Parque Nall/rol de Momesil1ho

Bragança, e ainda, a 30 de Abril do mesmo ano, montar asserção surge. para além de diversas causas (envelhe­ outra, em Gimonde, a Manuel Paulino de Oliveira. Na cimento da população, preços à produção. entre outros) actualidade, existem vinhedos com significado nas fre­ como consequência da Política Agrícola Comum. guesias de Izeda, São Pedro de Serracenos e Gimonde, Releve-se que em obra recente sobre a MOllografia das do concelho de Bragança. Frq.;ffesias do Concelho de Brar;ança, quando se anali­ Oliveira Baptista (1996) analisando o que neste século sa o quadro resumo ele caela uma delas. se verifica que aconteceu relativamente ao LISO da terra escreve: «Em dentre as 49 fregues ias que compõem o concelho, todas meados do séc XX a agricultura e sociedade rural alcan­ elas têm como actividade a agricultura, à excepção ela çavam a sua maior expressão demográfica, e a vida das da Sé, em Bragança. Grande parte vive também aldeias e lugares assentava na população agrícola que se da pecuária e somente nas freguesias de Babe, Coelho­ havia apropriado de todo o espaço disponível.»À época soo rzella, , Outeiro, Parada e Paradinha desta publicação ( 1996) «a agricultura já não unifica a Nova a olivicultura mostra importflllcia. Nas freguesias sociedade rural com todo o território não urbano>; tendo a de Aveleda e Gondesende, é referida ainda a actividade «agricultura sofrido uma profunda transformação tecno­ silvícola. lógica com repercussões óbvias no seu peso na economia Relativamente a este tema - culturas c revestimento ar­ e na sociedade;; . Prossegue, afirmando que. « 110 aprovei­ bóreo - refira-se como curiosidade que, no Tomo IX, do tamento do território, ao !-1m dos incultos sucedeu a sobra Abade Baçal, são mencionadas algumas das explicações de terra para a produção agrícola, ou seja passou-se duma populares da botânica que eram frequentemente usadas perspectiva cm que se defendia o máximo aproveitamen­ nesta zona, relativamente ao vinho, aguardente. trigo, to do território para outra em que se apresenta, como ine­ centeio, pela vulgaridade da sua colheita, assim como ao vitável, o abandono de parte dele pela agricultura;). Esta amieiro c freixo, pela sua frequente utilização.

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