Quinta Turma
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Quinta Turma AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS N. 182.981-SP (2010/0155714-4) Relatora: Ministra Laurita Vaz Agravante: Ministério Público Federal Agravado: Herbert dos Santos Menezes Advogado: Volney Santos Teixeira - Defensor Público e outro EMENTA Agravo regimental em habeas corpus. Processual Penal. Homicídio qualifi cado, na forma tentada. Produção antecipada de provas. Medida determinada sem qualquer fundamentação concreta. Incidência do entendimento sedimentado na Súmula n. 455 deste Tribunal. Constrangimento ilegal configurado. Concessão monocrática da ordem. Possibilidade. Matéria já pacifi cada no âmbito deste Tribunal. Principio da colegialidade. Ausência de ofensa na hipótese de concessão total da ordem, por não haver prejuízo ao paciente. Precedentes do Supremo Tribunal Federal. Agravo desprovido. 1. A produção antecipada de provas está adstrita àquelas hipóteses em que a necessidade da medida urgente resta evidente, após prudente avaliação concreta pelo Juízo processante, devidamente fundamentada. 2. Conforme entendimento sedimentado na Súmula n. 455 desta Corte, “[a] decisão que determina a produção antecipada de provas com base no art. 366 do CPP deve ser concretamente fundamentada, não a justifi cando unicamente o mero decurso do tempo.” 3. Por tal razão, esta Corte não admite como fundamentos válidos para a antecipação de provas razões de economia processual ou alusões abstratas, especulativas e conjecturais de que as testemunhas podem se esquecer dos fatos, mudar de endereço, ou até virem a falecer durante a suspensão do processo. Precedentes. 4. Na hipótese em apreço, ao julgar o recurso em sentido estrito interposto pelo Parquet Estadual, o Tribunal a quo não indicou qualquer elemento idôneo e concreto apto a justificar a medida. Restabelecimento da decisão do Juízo Processante – o qual indeferiu o pedido de antecipação probatória – que se impõe, sem prejuízo de REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA que, eventualmente, nova medida seja determinada, com suporte em fundamentação idônea. 5. Não há óbice à concessão da ordem, monocraticamente, nas hipóteses semelhantes às veiculadas no presente writ, em razão do entendimento acerca da matéria inclusive restar sumulado. 6. O Supremo Tribunal Federal tem entendimento sedimentado no sentido de que as regras processuais que permitem ao Relator de um recurso decidir controvérsias monocraticamente (art. 557, § 1.º-A, do Código de Processo Civil, c.c. art. 3.º, do Código de Processo Penal) não se aplicam ao julgamento da ação constitucional de habeas corpus impetradas originariamente perante esta Corte, por ferir o princípio da Colegialidade. Precedentes. 7. Porém, ainda segundo a jurisprudência da Suprema Corte, o Princípio da Colegialidade impede a apreciação monocrática dos habeas corpus impetrados originariamente perante esta Corte somente na hipótese de denegação da ordem. Nesse sentido, já esclareceu a esclareceu a eminente Ministra Cármen Lúcia que “[o] exame do mérito do habeas corpus não pode ser realizado pelo Relator, monocraticamente, para denegar a ordem, sob pena de indevida ofensa ao princípio da colegialidade” (RHC n. 108.877-SP, 1.ª Turma, Rel. Min. Cármen Lúcia, DJe de 18.10.2011 – sem grifos no original.). Ora, na hipótese de concessão total da ordem de habeas corpus, não ocorre prejuízo ao Paciente. 8. Agravo regimental desprovido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráfi cas a seguir, por unanimidade, negar provimento ao agravo regimental. Os Srs. Ministros Jorge Mussi, Marco Aurélio Bellizze, Campos Marques (Desembargador convocado do TJ-PR) e Marilza Maynard (Desembargadora convocada do TJ-SE) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Brasília (DF), 4 de outubro de 2012 (data do julgamento). Ministra Laurita Vaz, Relatora DJe 9.10.2012 572 Jurisprudência da QUINTA TURMA RELATÓRIO A Sra. Ministra Laurita Vaz: Trata-se de agravo regimental, interposto pelo Ministério Público Federal, contra a decisão por mim proferida às fl s. 53- 58, em que concedi a ordem de habeas corpus. Na inicial do writ, impetrado em favor de Herbert dos Santos Menezes, contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, impugnou-se recurso em sentido estrito interposto pelo Ministério Público Estadual. Segundo documentação dos autos, o Paciente – denunciado pela suposta prática do delito previsto no art. 309, do Código de Trânsito Brasileiro – foi citado por edital, tendo sido determinada a suspensão do processo e o curso do prazo prescricional. Em razão disso, o Parquet requereu a antecipação da prova oral antecipatória, sob a justifi cativa de que as vítimas ou testemunhas do delito poderiam se esquecer de detalhes dos fatos – o que foi indeferido pela Juíza de instância prima. Contra tal decisão, foi interposto o recurso em sentido estrito cujo acórdão é o ato ora questionado. Alegou-se, no presente habeas corpus, em suma, que “a antecipação de prova, no presente caso, não possui respaldo legal, signifi cando coação ilegítima ao acusado” (fl . 02). Requereu-se, desta feita, em suma, “a concessão liminar da ordem de habeas corpus, e ao fi nal, julgamento favorável ao presente writ, anulando-se a decisão que determina a colheita antecipada de provas” (fl . 07). Indeferi o pedido liminar às fls. 40-41, ocasião em que dispensei as informações. Parecer do Ministério Público Federal às fl s. 48-51, pela denegação. A decisão ora impugnada foi proferida às fl s. 53-58, como já mencionei. Nas razões do agravo (fl s. 85-91), alega o Parquet, inicialmente, que a ordem não poderia ter sido concedida monocraticamente, sob o fundamento de que o tema não estaria pacifi cado na jurisprudência. Sustenta, ainda, que a antecipação de provas no caso encontra-se devidamente justifi cada, em razão da regra prevista no art. 366, do Código de Processo Penal; que o decurso de 4 anos desde o oferecimento da denúncia revela ser a urgente a antecipação da produção de prova testemunhal; e que RSTJ, a. 24, (228): 569-718, outubro/dezembro 2012 573 REVISTA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA o entendimento sedimentado na Súmula n. 455 desta Corte não incide na presente hipótese. Requer, por isso, a reforma da decisão ora impugnada, com a consequente denegação da ordem. É o relatório. VOTO A Sra. Ministra Laurita Vaz (Relatora): A pretensão recursal não merece prosperar. Reproduzo, para correta compreensão da controvérsia, o voto condutor do acórdão impugando nos presentes autos, por meio do qual o Tribunal a quo reformou a decisão do Juízo de primeira instância, em que se indeferiu o pedido de produção antecipada de provas (fl s. 31-34): 1 - Ao relatório da r. decisão de fl s. 21-23, acrescenta-se que, nos termos da Lei n. 9.271/1996, que alterou a redação do artigo 366 do Código de Processo Penal, foi indeferida a produção antecipada de prova testemunhai requerida pelo Ministério Público, pois não há urgência, com base no artigo 225 do Estatuto Processual Penal. O Ministério Público recorreu à fl . 02 - recurso recebido em sentido estrito (cf. fl . 11), e apresentou as razões, às fl s. 03-10, aduzindo que é necessária a produção das provas requeridas, por sua urgência, em respeito ao contraditório, e para garantia da efetividade do processo; que a produção da prova testemunhal, por ser perecível no tempo, não está limitada pelo art. 225 do C.P.P.; que o C.P.P., no art. 92, considera a prova testemunhai como urgente, e o art. 366 do mesmo diploma legal permite a produção antecipada das provas urgentes; que a interpretação dessas normas deve ser sistemática, em conjunto, e não cada qual, isoladamente; que é comum, com o passar do tempo, a testemunha, no mínimo, se esquecer dos fatos; que há necessidade e legalidade para a oitiva judicial imediata das testemunhas. Requer, assim, seja reformada a r. decisão, e determinada a produção antecipada da prova testemunhai acusatória. A Defensoria Pública contrariou o recurso, às fl s. 25-32; houve manutenção da decisão recorrida, à fl . 34; a Procuradoria de Justiça, às fl s. 37-40, opinou pelo provimento do recurso ministerial. É o relatório. 2 - Conhecido o recurso ministerial, há que ser provido, pois a pretensão da Justiça Pública mostra-se bem arrazoada e há que ser acolhida. 574 Jurisprudência da QUINTA TURMA Com efeito, o acusado na ação penal pública movida pela Justiça Pública, ora recorrido, não foi encontrado para ser intimado e citado, pessoalmente, e em razão disso foi citado por edital; o processo contra ele fora suspenso, nos termos da Lei n. 9.271/1996 (cf. fl s. 14-18). O representante da Justiça Pública pleiteou a realização da prova oral (cf. fl s. 19-20) e seu pleito foi indeferido, mas essa decisão não deve ser mantida, data venia. É sabido que a prova oral não deixa de ser considerada como urgente, na medida em que a vítima ou as testemunhas de um processo criminal poderão mudar de endereço e não serem mais localizadas, ou então uma ou outra poderá vir a falecer e assim a não realização dessa modalidade de prova, importante para a acusação, poderá comprometer o escopo de que se faça a devida Justiça, de acordo com os elementos seguros de convicção que venham a existir na relação processual. Salienta-se que, apesar de existir respeitável entendimento em direção oposta (RT - 746/591 e JTJ - 196/33), a prova testemunhai há de ser concebida como urgente, para efeito de sua produção antecipada, em conformidade com o atual artigo 366 do Código de Processo Penal, tanto porque o tempo pode fragilizá-la, como porque já existe, dentro do sistema processual, idêntico tratamento para a matéria, nos artigos 92 e 93 desse mesmo Estatuto Processual Penal, que versam sobre hipóteses semelhantes de suspensão do processo. Por outro lado, não se pode argumentar que, com a coleta antecipada de prova oral, haverá prejuízo à defesa do acusado.