Sumário 2 Editorial 40 Métodos de seleção de plantas de maracujazeiro- 3 Lançamentos editoriais azedo para a produção de sementes Registro Nota Científica Indicação Geográfica vai certificar a reputação da maçã Primeiro registro do ácaro-vermelho-das-palmeiras, 5 Fuji de São Joaquim 43 Raoiella indica, em Santa Catarina, Brasil Aplicativo traz informações estratégicas sobre 7 agronegócio de SC Crescimento, floração e frutificação de oliveiras jovens 46 em altitude intermediária do Oeste de Santa Catarina, 7 Aprimorar o trabalho é meta da nova gestão da Epagri Brasil 8 Previsão de maré está mais precisa em Santa Catarina Pesquisa testa cultivo de ostras para produção de carne Germoplasma 8 desconchada ‘SCS437 Catarina’: Maracujá-azedo de alta qualidade 9 Epagri lança cultivar de arroz branco SCS124 Sardo 49 para o mercado de mesa Novas estruturas impulsionam trabalho de pesquisa e 10 extensão rural Novo cultivar catarinense de azevém-anual: SCS316 CR 53 Altovale Estudo mostra impacto do manejo das pastagens na 11 pecuária de corte Artigo científico Epagri oferece canal de assistência técnica remota 12 Esterilidade de espiguetas e produção de grãos de 12 Pesquisadora identifica vespinha em SC genótipos de arroz 57 irrigado submetidos a baixas temperaturas na 12 Revista ganha nova versão online microsporogênese Opinião Validação de um sistema de previsão para a pinta preta Passicultura catarinense se moderniza para continuar 62 na produção integrada do tomateiro 13 produtiva e rentável Conjuntura Comportamento agronômico de porta-enxertos de 68 videira com resistência ao declínio de plantas jovens Um plano estratégico para impulsionar a maricultura nas condições do estado de Santa Catarina 15 catarinense Vida rural Cigarrinhas-das-pastagens em Santa Catarina: avaliação Aprenda a fabricar armadilha artesanal para capturar 73 do complexo de espécies e da incidência natural de 19 insetos fungos entomopatogênicos Reportagem 20 Em defesa do melhor maracujá do Brasil Efeito da desalcoolização parcial de vinhos tintos finos 80 através daliofilização 26 Exótica, rentável e cheia de charme Informativo técnico 86 Emissão de CO2 do solo pela aplicação de fertilizantes Quadro de controle reprodutivo no manejo da orgânicos e minerais em ambiente controlado 32 propriedade leiteira Revisão bibliográfica Flutuação populacional e controle de pragas: estudos 35 de caso com pragas Criopreservação: uma ferramenta para conservação de de arroz irrigado 92 recursos genéticos de videira Editorial

Esta RAC traz notícias de uma guerra do bem. Boas notícias. Nossa ISSN 0103-0779 (impresso) ISSN 2525-6076 (online) reportagem de capa conta a saga da cadeia produtiva do maracujá DOI 10.22491/RAC em Santa Catarina na luta contra a virose do endurecimento do INDEXAÇÃO: Agrobase, CAB International e PKP Index fruto. Ela apresenta o exército convocado para essa missão, revela

AGROPECUÁRIA CATARINENSE é uma publicação da suas estratégias e relata as batalhas que já foram vencidas para Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de defender o melhor maracujá do Brasil. Santa Catarina (Epagri), Rodovia Admar Gonzaga, 1.347, Itacorubi, Caixa Postal 502, 88034-901 Florianópolis, A cultura do maracujazeiro também é assunto de dois Santa Catarina, Brasil, fone: (48) 3665-5000, fax: (48) trabalhos científicos. Um informativo técnico trata sobre a seleção 3665-5010, site: www.epagri.sc.gov.br. e a preservação de materiais genéticos adaptados às condições A RAC tem por missão divulgar trabalhos de pesquisa catarinenses – uma das chaves para o sucesso da cultura. Na e extensão rural de interesse do setor agropecuário nacional. seção Germoplasma, um artigo apresenta o maracujazeiro SCS437 Catarina. Esse cultivar é resultado de anos de seleção na busca de Editor-chefe: Rosana Kokuszka um material com as características desejadas pelo mercado: frutos EditorES técnicoS: Lucia Morais Kinceler grandes, ovalados e com bom rendimento de polpa. Essas três Paulo Sergio Tagliari Márcia Cunha Varaschin leituras permitem entender como o esforço da pesquisa, aliado às Luiz Augusto Martins Peruch práticas repassadas pelos extensionistas aos nossos produtores, Contatos com a Editoria: [email protected], tornou a cadeia do maracujazeiro catarinense destaque no Brasil. fone: (48) 3665-5449, 3665-5367. Outro lançamento da Epagri que apresentamos na seção EDITORA DE JORNALISMO: Cinthia Andruchak Freitas Germoplasma é o cultivar de azevém-anual SCS316 CR Altovale. (MTb SC 02337) Ele se destaca pela alta produtividade, precocidade e adaptação ao JORNALISTAS: Cinthia Andruchak Freitas (MTb SC 02337) clima mais quente do litoral. Gisele Dias (MTb SC 00571) Isabela Schwengber (MTb MS 167) A seção técnico-científica também traz vários estudos sobre a fitossanidade em relação aos insetos-praga em diferentes culturas. CAPA, DIAGRAMAÇÃO E ARTE-FINAL: Victor Berretta Um artigo discute a importância e o controle desses agentes na FOTO DA CAPA: Aires Mariga – Cultivo de Maracujá cultura do arroz, enquanto outro trabalho traz um relato sobre

REVISÃO DE PORTUGUÊS: Laertes Rebelo diferentes cigarrinhas que incidem em pastagens. Ainda é destaque, Tikinet como Nota Científica, a primeira ocorrência do ácaro Raoiella

DOCUMENTAÇÃO: José Carlos Gelsleuster indica, um invasor com potencial para causar muitos prejuízos às culturas da palmeira e da bananeira. EXPEDIÇÃO: DEMC/Epagri, C.P. 502, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: (48) 3665-5357, 3665-5361, e-mail: E se o assunto é doença, o sistema de previsão da pinta- [email protected] preta do tomateiro pode ser uma solução. Um trabalho científico Ficha catalográfica demonstra a possibilidade de reduzir o número de pulverizações Agropecuária Catarinense – v.1 (1988) – Florianópolis: de fungicidas, mantendo a produtividade da cultura. Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária 1988 - 1991) Para finalizar, tem novidade da RAC no mundo digital. No Editada pela Epagri (1991 – ) endereço revista.epagri.sc.gov.br, o leitor tem acesso livre a Trimestral A partir de março/2000 a periodicidade passou a ser reportagens, notícias e dicas sobre agricultura, pecuária, aquicultura quadrimestral. e pesca, além de novidades sobre a atuação da Epagri na pesquisa 1. Agropecuária – Brasil – SC – Periódicos. I. Empresa agropecuária e na extensão rural. Esse novo canal facilita a leitura e Catarinense de Pesquisa Agropecuária, Florianópolis, SC. II. Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão a busca de conteúdo on-line. O site também dá acesso ao portal de Rural de Santa Catarina, Florianópolis, SC. publicações da Epagri (publicacoes.epagri.sc.gov.br), por meio do CDD 630.5 qual é possível ler artigos científicos e submeter trabalhos à seção técnico-científica da revista. Tiragem: 800 exemplares Impressão: Na tela ou no papel, desejamos boa leitura! RLAEGNISÇAMETRO NTOS EDITORIAIS

Síntese Anual da Agricultura de Santa Catarina 2017-2018. 2018. 204p.

O documento, publicado anualmente pelo Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Cepa) da Epagri, está na 39ª edição e traz informações dos setores agrícola, pecuário, florestal e aquícola de Santa Catarina. Apresenta análises do desempenho produtivo e mercadológico das principais cadeias produtivas da agricultura estadual: alho, arroz, banana, cebola, feijão, maçã, milho, soja, tabaco, tomate, trigo, uva e vinho, carne bovina, carne de frango, carne suína, leite, mel, aquicultura e setor florestal. Um diferencial desta edição é a análise sobre as mudanças estruturais na agricultura catarinense elaborada a partir dos dados do Censo Agropecuário 2017.

Disponível em webdoc.epagri.sc.gov.br/sintese.pdf

Maracujazeiro-azedo: polinização, pragas e doenças. 2018. 220p. Livro.

O livro reúne conhecimentos gerados pela pesquisa que irão contribuir para o avanço da fitossanidade e o manejo sustentável do maracujazeiro-azedo no Brasil. Ele foi escrito por pesquisadores e professores de diferentes instituições, de modo a contemplar os principais problemas da cultura, e é direcionado a engenheiros- agrônomos, técnicos agrícolas, pesquisadores, estudantes e agricultores. A obra traz capítulos sobre os polinizadores da cultura, a descrição e o manejo de insetos e pragas, além das doenças fúngicas, bacterianas, nematoses e viroses que atacam o maracujazeiro, com descrição de sintomas, etiologia, fatores favoráveis e formas de controle.

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Monocultivo de tilápia em viveiros escavados em Santa Catarina. 2019. 126p. SP nº 52.

Santa Catarina é o quinto produtor de peixes cultivados do Brasil. Em 2017, produziu 44,7 mil toneladas, das quais 74% correspondem à tilápia. Em um setor cada vez mais competitivo, o produtor precisa se adequar para que a atividade continue sustentável economicamente, socialmente e ambientalmente. Esse é o objetivo da publicação, concebida a partir da demanda de piscicultores e técnicos por informações que ajudem a aperfeiçoar o cultivo de tilápia e obter mais lucro na atividade, sem comprometer o meio ambiente. O documento mostra aspectos técnicos envolvidos na produção de tilápia em sistema semi-intensivo, tendo a ração como fonte principal de alimento.

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Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 5 LANÇAMENTOS EDITORIAIS

Indicação Geográfica – Erva-mate do Planalto Norte Catarinense: produto. 2018. 148p. Livro.

GE ÇÃO OGR CA ÁF A erva-mate produzida no Planalto Norte Catarinense em ambiente de I IC D A IN sombra esparsa junto à floresta é consagrada pelo sabor suave específico e mais valorizado no mercado. Dela são produzidos diversos tipos de produtos, tanto para exportação como para consumo interno, de chimarrão a chás verdes e tostados. A publicação apresenta elementos que comprovam a singularidade dessa erva-mate, com informações que servem de base para o pedido de registro de Indicação Geográfica (IG) na modalidade Denominação de Origem (DO). Reúne informações PRODUTO sobre a planta, sistemas de manejo, processos de obtenção dos organizadores: DENILSON DORTZBACH produtos, descrição dos produtos, influência do meio geográfico nas GILBERTO NEPPEL KLEBER TRABAQUINI VALCI FRANCISCO VIEIRA características do produto, além de dados sobre a cadeia produtiva e a organização dos produtores.

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GE ÃO GEOG ÇÃO OGR AÇ RÁ A Á IC F IC FI D IC D C A N A IN I

TERRITÓRIO HISTÓRIA organizadores: organizadores: DENILSON DORTZBACH DENILSON DORTZBACH FERNANDO TOKARSKI VALCI FRANCISCO VIEIRA GILBERTO NEPPEL GILBERTO NEPPEL VALCI FRANCISCO VIEIRA LEO TEOBALDO KROTH

Indicação Geográfica – Erva-mate Indicação Geográfica – Erva-mate do Planalto Norte Catarinense: do Planalto Norte Catarinense: território. 2018. 164p. Livro. história. 2018. 102p. Livro.

A publicação descreve o território catarinense da Este livro integra o conjunto de três publicações erva-mate, abordando aspectos relativos à carac- que servirão como base para o pedido da terização ambiental, social e econômica do Planal- Indicação Geográfica (IG) da erva-mate na região to Norte Catarinense. Ela faz parte do projeto para do Planalto Norte Catarinense. Ele caracteriza a construção da Indicação Geográfica (IG) da erva- história da região e suas interações com a erva- mate do Planalto Norte. Aborda características mate, a colonização e o povoamento da região, ambientais do território, como clima, geologia, a evolução da divisão político-administrativa geomorfologia, hidrografia, vegetação, solos, uso e a contextualização histórica do trabalho das do solo, paisagens e socioeconomia. instituições.

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6 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 REGISTRO Indicação Geográfica vai certificar a reputação da maçã Fuji de São Joaquim

Epagri e o Sebrae estão traba- território, mobilização e sensibilização vez faz uma avaliação técnica para en- lhando em conjunto para buscar dos produtores e análises das singula- tão dar permissão a usar a IG”, explica. Aa Indicação Geográfica (IG) da ridades do produto. A princípio a área No Brasil há duas modalidades de maçã Fuji produzida na região de São abrange os municípios que fazem parte IG: a Indicação de Procedência (IP), que Joaquim. Fruta de origem japonesa e da região de São Joaquim, nas áreas de está relacionada ao reconhecimento cultivada há 50 anos na referida região, altitude acima de 1.100 metros. da região de algum produto, e a De- localizada no Planalto Sul Catarinense, A Epagri é responsável pela caracte- nominação de Origem (DO), em que ela apresenta características únicas em rização edafoclimática para o relatório o território determina a tipicidade do solo catarinense que já são conhecidas que será entregue ao INPI, que é a fase produto, ou seja, as qualidades do pro- pelo mercado: o que se busca agora é a de estudos técnicos do solo e do clima. duto se devem essencialmente ao meio certificação dessa reputação, conferida O Sebrae desenvolve o relatório histó- geográfico, incluídos fatores naturais e pelo Instituto Nacional de Propriedade rico e cultural e promove a mobilização humanos. Intelectual (INPI). dos produtores. O depósito da docu- A IG é um ativo de propriedade in- mentação junto ao INPI deve ser feito A Fuji de São Joaquim dustrial usado para identificar a ori- ainda este ano e, depois de entregue gem de um determinado produto ou ao órgão, o processo leva de dois a três Para a Fuji de São Joaquim busca-se serviço, quando o local tenha se torna- anos para ter reconhecida a IG. a Denominação de Origem. Portanto, de do conhecido como centro de produ- De acordo com o consultor do Se- acordo com a pesquisadora da Estação ção, ou quando certa característica ou brae Rogério Ern, o modo de gestão Experimental da Epagri de São Joaquim, qualidade desse produto ou serviço se da IG será definido junto aos produto- Mariuccia Schlichting De Martin, para deva à sua origem geográfica. “No caso, res. “A gestão envolve, por exemplo, a que a DO seja alcançada, deve-se com- a Fuji tem os dois”, afirma o gerente análise de qual produto atende os parâ- provar que a qualidade diferenciada da do Centro de Informações de Recursos metros para receber o selo. Para isso é maçã da região é determinada por con- Ambientais e de Hidrometeorologia de preciso formar um Conselho Regulador, dições climáticas, geográficas e huma- SC (Ciram/Epagri), pesquisador Angelo que em regra é formado por produtores nas da região de origem. Massignam, que coordena o projeto da (beneficiários diretos), pesquisadores, No que diz respeito às condições ge- Indicação Geográfica da Fuji. universidades, governanças locais, con- ográficas, a Fuji deve estar em pomares Ele explica que no momento a busca sumidores. O produtor faz requerimen- com altitude acima de 1.110m. “Esse pela IG está na fase de delimitação do to ao conselho regulador, que por sua parâmetro físico também reflete nas condições climáticas, pois aci- ma dessa altitude existe uma maior chance de ocorrer pelo menos 700 horas de frio abaixo de 7,2°C no ano, que são neces- sárias para o desenvolvimento fisiológico da cultivar e que vão Fotos: Aires Mariga/Epagri Aires Fotos: resultar em maior qualidade: frutos maiores, mais arredon- dados e com menos defeitos físicos”. Outras condições climáticas da região também favorecem a qualidade dos frutos, como noites frias no período que antecede a colheita (4 a 6 se- manas), pois é nessa fase que ocorre a síntese de antocianina, principal pigmento responsável pela cor vermelha da casca. “O clima tipicamente mais frio da Clima da região é responsável por uma Fuji mais doce, crocante e vermelha região de São Joaquim resulta em uma colheita mais tardia e

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 7 REGISTRO

Sobre a melhoria da compo- de; quem produz terá o benefício de um sição mineral, também temos mercado valorizado”. a comprovação de pesquisas Rogério explica que o fato de a re- brasileiras que inclusive usam gião ser oficialmente reconhecida como banco de dados da Epagri com distinta para a produção da fruta- per informações de mais de 10 mite desencadear uma série de políti- anos”, informa a pesquisadora. cas públicas para a cadeia produtiva da No que diz respeito às con- maçã. “A produção tende a ser fomen- dições humanas, o diferencial tada, protegida, apoiada e até mesmo da região é a produção da subsidiada, bem como novas pesquisas maçã em propriedades rurais passam a ser desenvolvidas. Tudo isso com uma média de cinco hec- também reflete no desenvolvimento tares. Ângelo ressalta que a territorial: a região acaba recebendo IG, portanto, vai beneficiar os recursos públicos e privados para am- agricultores familiares, pois pliação e melhoria dos serviços, como eles terão oportunidade de restaurantes, hotéis e até o desenvolvi- buscar novos mercados devido mento do turismo de negócio naquela às especificidades da fruta por região”, diz o consultor do Sebrae. eles produzida. Santa Catarina é o maior produtor De acordo com o presiden- de maçã no Brasil. Segundo o gerente da te da Associação Brasileira de Epagri de São Joaquim, Marlon Francis- Produtores de Maçã (ABPM), co Couto, a Epagri é grande responsável Pierre Nicolas Pérès, a IG vai por essa liderança devido ao Programa permitir uma segmentação de de Melhoramento Genético de Maciei- mercado importante e por isso ra da Empresa, desenvolvido há 45 anos tem que ser muito criteriosa e responsável pelo lançamento de 19 na definição da qualidade des- cultivares e pelas tecnologias utilizadas A DO reconhece que as qualidades do produto se sa maçã. “Só assim seremos atualmente no manejo da cultura. Na devem ao meio geográfico e a fatores naturais e diferenciados”, diz ele. safra 2017/2018 foram colhidas cerca de humanos Já o presidente da Associa- 575 mil toneladas no Estado, conforme ção Catarinense de Produtores a previsão da Epagri/Cepa, que também de Maçã e Pera (AMAP), Dio- estima um crescimento de 5% na safra favorece o ganho de cor da fruta”, diz a ne Nunes Pereira, tem certeza de que deste ano. O cultivo é feito em aproxi- pesquisadora. Ela explica que diversas a maçã Fuji com IG vai ser boa para o madamente 16 mil hectares por mais pesquisas no mundo todo mostram que produtor e para o consumidor. “Quem de 2,5 mil produtores, que representam temperaturas noturnas mais baixas na consome terá uma garantia da qualida- 75% dos produtores de maçã do Brasil. pré-colheita deixam frutos mais verme- lhos. Mariuccia também ressalta que é importante o inverno não ter grandes oscilações de temperatura. “Depois que a macieira produz, ela perde folhas e em seguida entra em dormência, que é quando as reservas ficam no lenho da planta. É importante que durante esse período tenha frio o bastante para que a brotação seja melhor”. As condições mais frias também fa- vorecem mais duas características da Fuji: o surgimento do pingo de mel, que torna os frutos mais doces e atrativos para o mercado consumidor; e a melho- ria da composição mineral da fruta, que deixa a maçã mais crocante e com me- lhor conservação. “Sobre a influência da temperatura na ocorrência de pingo A área da IG deve abranger localidades de altitude acima de 1.100 metros de mel, estamos usando referências de estudos da Nova Zelândia e do Japão.

8 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 Aplicativo traz informações estratégicas sobre agronegócio de SC aplicativo InfoAgro, lançado para ilustradas por gráficos que permitem ma Boa Vista, tecnologia Big Data de- smartphones e tablets, coloca na comparações entre valores. senvolvida pelo Ciasc, que disponibiliza Opalma da mão do usuário informa- Para desenvolver o produto, foi pre- de forma inteligente e rápida grandes ções estratégicas sobre o agronegócio ciso antes integrar as bases de dados de volumes de dados. catarinense. É uma revolução na forma órgãos estaduais como Epagri, Cidasc, “Com o lançamento do InfoAgro, a de acessar números que antes estavam Ceasa e Secretaria da Agricultura e da Epagri mostra que está alinhada com o organizados em planilhas, tabelas, tex- Pesca. Também foram adicionados da- programa Governo sem Papel, que prio- tos e outros documentos arquivados em dos de fontes externas, como os de cré- riza geração de informações digitais em computadores de técnicos de institui- dito fundiário, gerados pelo Ministério substituição às impressas”, argumenta ções estaduais e federais. Ele foi desen- da Agricultura Pecuária e Abastecimen- Edilene Steinwandter, presidente da volvido pelo Centro de Socioeconomia e to (Mapa). Tudo é reunido na platafor- Empresa. O aplicativo customiza para Planejamento Agrícola da Epagri (Cepa) dispositivos móveis as informações dis- com apoio da Secretaria de Estado da ponibilizadas desde o ano passado no Agricultura e da Pesca e suporte tecno- Sistema Integrado de Informações da lógico do Centro de Informática e Auto- Agropecuária da Secretaria de Estado mação de SC (Ciasc). Cepa/Epagri Foto: da Agricultura e da Pesca de Santa Ca- O InfoAgro reúne dados anuais de tarina (www.infoagro.sc.gov.br). “Essa é produção vegetal e , importações mais uma plataforma de governo para e exportações do setor agropecuário, comunicação com o cidadão, que de- além de apresentar ações em políti- senvolvemos para dar a maior visibilida- cas públicas e Valor Bruto de Produção de possível aos dados que geramos”, es- (VBP). A aba de preços de produtos é clarece Reney Dorow, gerente do Cepa. atualizada mensalmente. Em cada aba, O InfoAgro está disponível para InfoAgro facilita o acesso aos dados da um botão “saiba mais” remete a um agricultura do Estado download grátis em celulares Android painel com informações detalhadas, e iOS. Aprimorar o trabalho é meta da nova gestão da Epagri nova presidente da Epagri, Edilene Eles se unem ao diretor institucional, profissionais têm suas histórias de tra- Steinwandter, já definiu a priorida- Ivan Bacic, eleito pelos funcionários em balho na Epagri pautadas pela retidão, Ade de sua gestão: aprimorar cons- 2018. competência, liderança, ética e admira- tantemente a excelência do trabalho da A presidente da Epagri destacou que ção dos colegas”, declarou a presiden- pesquisa agropecuária e da extensão sua gestão será pautada na construção te, lembrando que as indicações foram rural em Santa Catarina. “O desenvolvi- coletiva, considerando a experiência pautadas por critérios técnicos. mento rural é o nosso principal objeti- dos profissionais da Empresa. Ela disse O secretário de Estado da Agricultu- vo e precisa estar baseado na questão que compôs a diretoria com base na éti- ra e da Pesca, Ricardo de Gouvêa, mani- econômica, na ambiental e na quali- ca e na proatividade dos indicados, to- festou sua intenção em trabalhar cada dade de vida, que é o social”, destaca. dos eles funcionários de carreira. “Esses vez mais próximo das empresas que Edilene, que é funcionária da Epagri há compõem a estrutura da pasta: Epagri, 17 anos, assumiu o cargo em fevereiro, Cidasc e Ceasa. Ele disse que vai investir tornando-se a primeira mulher à frente na otimização de recursos estruturais, da Empresa. técnicos e humanos para entregar re- No evento de posse, o governador sultados cada vez mais positivos para a Carlos Moisés da Silva destacou a com- agricultura e a sociedade catarinense. Foto: Aires Mariga/Epagri Aires Foto: petência de Edilene para assumir o car- Edilene iniciou a carreira na Epagri go, com base na premissa de que ela foi como extensionista rural no município indicada por critérios técnicos. “A vivên- de Ponte Serrada. Também ocupou os cia da Edilene lhe dá envergadura para cargos de gerente regional de Xanxerê estar à frente da Empresa”, apontou o e gerente estadual de extensão rural, governador. onde permaneceu até assumir a presi- Também foram empossados o dire- dência. Ela é engenheira-agrônoma com tor de pesquisa Vagner Miranda Portes, mestrado em zootecnia e tem experiên- o diretor de extensão rural e pesqueira cia nas áreas de extensão rural e produ- Humberto Bicca Neto e o diretor admi- Edilene Steinwandter tem 17 anos de ção animal, com ênfase em bovinocul- nistrativo-financeiro Giovani Canola. carreira na Empresa tura de leite, pastagem e forragicultura.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 9 REGISTRO Previsão de maré está mais precisa em Santa Catarina om o objetivo de uniformizar e refi- Marinha. On Line. Clicando em qualquer uma nar a previsão da altura das marés Matias Boll, pesquisador da Epagri/ das estações maregráficas que apare- Cpara Santa Catarina, a equipe de Ciram, explica que em janeiro de 2019 cem no site, o usuário pode verificar a monitoramento costeiro da Epagri/Ci- foram compilados dados de maré me- maré prevista de acordo com os novos ram recalculou as tábuas de marés para didos entre 2017 e 2018, com frequ- cálculos (linha azul) e a maré observa- dez pontos do litoral catarinense. Agora, ência de amostragem de 15 minutos, da de fato (linha vermelha). A previsão cada um dos pontos monitorados pela totalizando 70.080 leituras por estação de maré astronômica tornou-se bastan- Epagri/Ciram tem sua própria tábua de maregráfica. Com auxílio do software te precisa, o que deve fazer com que, maré, com informações mais detalha- Pacmare 2003, foram extraídas para em condições ideais de tempo, a linha das do que as oferecidas pela tábua da cada ponto as constantes harmônicas vermelha do gráfico acompanhe quase que caracterizam a influ- fielmente o previsto na linha azul. Só a ência astronômica sobre presença de vento ou de outras variá- o nível do mar. Finalmen- veis meteorológicas que influenciam a te, a maré astronômica maré pode fazer a condição observada (previsão) foi recalculada se afastar da prevista, esclarece Matias. para cada ponto para um “O recálculo vai permitir uma me- período de 19 anos, com lhor previsibilidade do comportamento Foto: Aires Mariga/Epagri Aires Foto: frequência amostral de 15 das marés, aumentando a segurança minutos, o que representa para usuários envolvidos em opera- cerca de 666.240 valores ções de navegação, pesca artesanal e por estação. maricultura, além de oferecer outras O resultado de todo utilidades”, informa o pesquisador. Ele esse trabalho pode ser destaca que as atividades de praticagem visto no site da Epagri/Ci- (entrada e saída de navios) dos portos O estudo beneficia atividades como navegação, pesca e ram (ciram.epagri.sc.gov. catarinenses serão especialmente bene- maricultura br), dentro do link Litoral ficiadas por esse trabalho. Pesquisa testa cultivo de ostras para produção de carne desconchada Centro de Desenvolvimento em Em 2018, o pesquisador realizou ra de apenas quatro dias, o que limita Aquicultura e Pesca da Epagri (Ce- teste com 300 conchas que se transfor- os principais canais de comercialização Odap) está desenvolvendo um pro- maram em cluster de forma satisfatória com restaurantes e peixarias. Descon- jeto de pesquisa que testa uma nova num cultivo estabelecido no Ribeirão chada, a ostra poderia ser vendida con- técnica de cultivo de ostras, voltada da Ilha, no Sul de Florianópolis. Com os gelada, ampliando substancialmente o para a produção de carne desconchada. bons resultados, sete maricultores se in- mercado. O método exige menos mão de obra e teressaram em dar continuidade ao mé- tem custo menor quando comparado todo. A meta é formar 8 mil clusters de com a criação tradicional desenvolvida ostras nessas propriedades neste ano. em Santa Catarina. “Apesar da forma de apresentação Na nova técnica, o processo inicia desconchada ser comum em outros pa- com conchas de ostras vazias, que são íses, este é um mercado ainda não ex- mergulhadas em um tanque com larvas plorado pela maricultura catarinense”, Suplicy/Epagri Felipe Foto: do molusco produzidas em laboratório. avalia o pesquisador. Ele ressalta que a Após as sementes estarem fixadas nas nova técnica pode permitir um melhor conchas, elas são penduradas em uma aproveitamento das ostras quando elas corda por um período de 10 a 11 meses. se encontram em sua melhor condição Ao final do ciclo, cada concha se trans- de carne, o que geralmente ocorre nos forma em um cluster de ostras aderidas meses que antecedem a temporada de umas às outras. “A vantagem dessa téc- verão. nica é que ela dispensa qualquer ma- Santa Catarina é o maior produtor nejo durante o cultivo, exigindo menos de ostras do Brasil – em 2017, produziu mão de obra e permitindo uma redução 2.472t. A ostra viva (na concha) catari- no custo de produção”, relata Felipe nense já é vendida em quase todo o ter- O método exige menos mão de obra e Matarazzo Suplicy, pesquisador da Epa- ritório nacional. Contudo, o produto in reduz o custo de produção gri/Cedap responsável pelo projeto. natura apresenta um tempo de pratelei-

10 Epagri lança cultivar de arroz branco SCS124 Sardo

Epagri lançou seu primeiro cultivar voltado para o mercado de arroz Abranco. O SCS124 Sardo tem carac-

terísticas que agradam os produtores, a EEI/Epagri Fotos: indústria e os consumidores. Ele reúne boa produtividade (média de 8.754kg/ ha), ciclo médio, bom aspecto na pra- teleira, bom desempenho na panela e ótimo sabor. O lançamento foi realizado em fevereiro, na abertura da safra do arroz em Jacinto Machado, no Campo Demonstrativo Cooperja. O arroz SCS124 Sardo é classificado como longo-fino, tem excelente relação comprimento-largura do grão e suas plantas possuem resistência média à brusone. “Ele é recomendado para to- das as regiões produtoras de arroz irri- gado de Santa Catarina, podendo tam- bém ser cultivado em outras regiões do O cultivar é recomendado para todas as regiões produtoras de arroz irrigado de SC Brasil mediante realização de ensaios de Valor de Cultivo e Uso”, explica Alexan- der de Andrade, coordenador da equipe lheita, Industrialização e Qualidade de Sementes de pesquisa em arroz na Estação Experi- Grãos da UFPel – LabGrãos, e considera- mental de Itajaí. do compatível com esse processo. As sementes do SCS124 Sardo esta- Por ser branco, o SCS124 Sardo é Os grãos também foram analisados rão disponíveis para os agricultores na mais uma opção para os produtores na Estação Experimental de Itajaí e na safra 2019/20. Para mais informações catarinenses oferecerem às indústrias Embrapa (CNPAF). “O SCS124 Sardo de beneficiamento. Hoje, cerca de 76% sobre a disponibilidade de material é do arroz beneficiado em Santa Catarina apresentou excelente desempenho preciso entrar em contato com a Asso- é colhido no Estado e a maior parte é sensorial e culinário para arroz branco, ciação dos Produtores de Sementes de voltada para a parboilização. Da parcela comparável com os cultivares de refe- Arroz Irrigado ([email protected] restante, importada do Rio Grande do rência do mercado”, destaca Alexander. ou www.acapsa.com.br). Sul e do Mercosul, a maior parte é de arroz branco. “Com o lançamento des- se cultivar, as indústrias aqui do Estado vão precisar importar menos grãos para produzir arroz branco”, diz Alexander. Esse é o 32º cultivar de arroz irriga- do desenvolvido e lançado pela Epagri e o 24º desenvolvido para Santa Catarina. A denominação é uma homenagem à família Sardo, que atuou na equipe de pesquisa em arroz da Epagri e na Esta- ção Experimental de Itajaí por várias ge- rações. O lançamento é resultado de 14 anos de trabalho, iniciados com os pri- meiros cruzamentos na safra 2005/06. Embora seja destinado ao mercado de grão branco, o Sardo é adequado ao processo de parboilização, com a reco- mendação de que seja beneficiado se- parado de outros cultivares. O cultivar foi testado quanto ao comportamento Ele reúne boa produtividade, bom desempenho na panela e ótimo sabor industrial no Laboratório de Pós-Co-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 11 REGISTRO Novas estruturas impulsionam trabalho de pesquisa e extensão rural

Estação Experimental da Epagri em nep). Na UBS são beneficiadas e classifi- origem a produtos ícones no mercado Itajaí (EEI) conta com uma nova cadas sementes de arroz das variedades vitivinícola, como os Vinhos Finos de AUnidade de Beneficiamento de Se- desenvolvidas pela Epagri para diferen- Altitude e o espumante Niágara. Tam- mentes de Arroz (UBS), cujo diferencial tes condições de clima e solo de Santa bém foram desenvolvidos na unidade é o sistema de automação que oferece Catarina. Esse processo vai garantir ainda espumantes pelo método tradicional e mais agilidade, segurança e rastreabili- mais qualidade às sementes de origem sucos de uva que caíram no gosto dos dade em todo o processo. A estrutura, genética e básica produzidas pelos pes- consumidores. inaugurada no fim de 2018, tem 588,71 quisadores, beneficiando, mais adiante, metros quadrados, com espaços para os agricultores que compram sementes Unidades de aprendizado recepção, pré-limpeza, secagem e be- das empresas certificadas pela Epagri. neficiamento de sementes. Há ambien- Três centros de treinamento da Epa- te próprio para armazenamento, sala Vinícola experimental gri receberam recursos do Ministério da de engenho de prova, fornalha de seca- Agricultura, Pecuária e Abastecimento gem, além de setores de ensacamento, Com R$890 mil em investimentos (Mapa) para serem reestruturados. Re- pesagem e apoio. provenientes do PAC Embrapa, a Esta- centemente, foi inaugurado o Centro de Referência Tecnológica do Leite (CRT) no Centro de Treinamento da Epagri de Campos Novos. O objetivo é capacitar agricultores, técnicos e estudantes no

Foto: EEI/Epagri Foto: sistema de produção à base de pasto, recomendado pela Empresa por ser mais adequado à realidade das proprie- dades catarinenses. O CRT Leite conta com animais, sala de ordenha, pasta- gens perenes, cerca elétrica, piquetes com água e sombra e sobressemeadura. A unidade está em pleno funcionamen- to, mas continuará sendo ampliada até dezembro de 2019. No Centro de Treinamento de Tu- barão (Cetuba), está sendo estrutura- da uma Unidade Didática de Gado de Corte. O projeto, no valor de R$612 mil, prevê áreas de piqueteamento, melhoramento de pastagens e instala- Na UBS são beneficiadas e classificadas sementes de arroz de variedades desenvolvidas ções antiestresse, atendendo às normas pela Epagri de bem-estar animal. A unidade, que deve ficar totalmente pronta até o fim do ano, servirá para analisar resultados A unidade tem capacidade de rece- ção Experimental de Videira (EEV) re- técnicos e financeiros da atividade, rea- ber até quatro cultivares simultanea- cebeu uma vinícola experimental total- lizar cursos e dias de campo e desenvol- mente. Entre os equipamentos novos, mente reestruturada. Quase a metade ver pesquisas em parceria com a Esta- conta com máquinas de pré-limpeza e desse valor (R$430 mil) foi aplicada na ção Experimental de Lages (EEL). de limpeza, mesa densimétrica e eleva- reforma do prédio. O restante serviu E em Videira, o Centro de Treina- dores sem poço. Também foi instalado para compra de equipamentos mais mento da Epagri deve finalizar no pri- um secador intermitente com sistema modernos para elaboração de vinhos meiro semestre a Unidade de Refe- automático de secagem a gás para o e montagem de uma fábrica piloto de rência em Produção Integrada (PI) de melhor controle da temperatura duran- sucos. A modernização vai impulsionar Pêssego e Uva. Com 0,3 hectare, a área te o processo. pesquisas que permitam aprimorar as servirá para apresentar aos produtores Foram investidos R$917.631,14 na características dos produtos derivados tecnologias como telas de cobertura an- reforma do prédio e aquisição dos equi- da uva. tigranizo, sistemas de fertirrigação por pamentos. Os recursos foram aportados A vinícola experimental foi inaugu- gotejamento e de aspersão para con- por meio de projeto aprovado pela Fi- rada em 1987, como Cantina Modelo, e trole de geada, raleio químico e uso de nanciadora de Inovação e Pesquisa (Fi- é responsável por pesquisas que deram reguladores de crescimento.

12 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 Estudo mostra impacto do manejo das pastagens na pecuária de corte

ma pesquisa conduzida na Esta- ção Experimental da Epagri em ULages (EEL) mostra que o manejo correto das pastagens, aliado ao plane- jamento nutricional do rebanho bovino, resulta em ganhos de peso constantes,

carcaças padronizadas e carne de qua- Ulisses de Arruda Córdova Foto: lidade. O experimento, conduzido entre 2015 e 2018 sob coordenação da pes- quisadora Vanessa Ruiz Fávaro, avaliou o desenvolvimento de machos desde o nascimento até o abate. Os animais foram provenientes do cruzamento de touro da raça Flamen- ga com matrizes do rebanho da EEL. “A raça Flamenga é caracterizada pela du- pla aptidão e, quando utilizada no cru- zamento com animais de corte, produz animais mais pesados para o abate, aci- ma de 500kg”, diz Vanessa. Bovinos ½ sangue da raça Flamenga em pastagem de azevém-anual cultivar Winter Star O objetivo foi avaliar as característi- cas da carcaça de 16 bovinos ½ sangue da raça Flamenga, castrados, abatidos das carcaças apontou 53,5% de rendi- corte na região. “Os resultados mostra- aos 26 meses de idade. Foi elaborado mento e 4,4mm de espessura de gor- ram que, mesmo utilizando cruzamen- um planejamento forrageiro para ga- dura de cobertura. Os valores estão de to sem características de precocidade, rantir que os animais tivessem ganho acordo com as exigências da indústria foi possível abater animais jovens, com de peso constante durante todo o ciclo frigorífica, que adota como padrão de- acabamento uniforme e alimentação produtivo. As bases forrageiras foram: sejável espessura de 3 a 6 milímetros exclusiva em pastagem”, conclui a pes- azevém-anual cultivar Winter Star de de gordura e rendimento acima de 50%. quisadora. Ela reforça que ainda são julho a dezembro, Panicum maximum Nesse estudo, o peso médio da carcaça necessárias pesquisas para melhorar cultivar Aires de janeiro a abril e campo quente foi de 309,9kg. o desempenho animal durante o vazio naturalizado de abril a junho. “A altura A pesquisa aponta um caminho para forrageiro e encurtar o ciclo produtivo do dossel forrageiro e a carga animal fo- melhorar o desempenho da pecuária de na pecuária de corte. ram monitoradas constantemente para garantir a manutenção da altura reco- mendada para pastejo de cada espécie forrageira”, destaca a pesquisadora.

Peso crescente

O peso dos animais nas fases de cria, recria e engorda formou uma linha ascendente. No período de vazio forrageiro, que é a época de maior restrição nutricional, o peso se manteve. “Um dos principais entraves para a pecuária de corte no Planalto Sul Catarinense é o vazio forrageiro de outono e inverno, quando os animais, na maioria das vezes, perdem condição corporal, retardando a idade de abate”, explica Vanessa. Ao atingirem média de 580kg, os Ganho de peso de bovinos do nascimento ao abate. Setas indicam o período de vazio animais foram abatidos e a avaliação forrageiro no outono

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 13 REGISTRO Epagri oferece canal de assistência técnica remota

o encontrar um problema na la- O Minha Epagri coloca o agricultor, ao Pronaf Custeio e laudos de Opinião voura, o agricultor catarinense pecuarista, pescador ou maricultor re- de Valor. Anão precisa mais sair de casa para sidente em Santa Catarina em contato O serviço está disponível para pro- buscar ajuda. Basta tirar uma foto com direto com um técnico do escritório dutores residentes em Santa Catarina o celular e encaminhar uma mensagem mais próximo. As equipes de extensão que têm cadastro junto à Epagri. Nesse pelo sistema Minha Epagri, disponí- rural respondem as mensagens via sis- caso, basta entrar no site da Empresa ou tema, podendo solucionar o problema vel gratuitamente no site da Empresa no aplicativo Epagri Mob, clicar em Mi- a distância, enviar documentos com in- (www.epagri.sc.gov.br) e no aplicativo nha Epagri e digitar o CPF para receber formações que ajudem o agricultor ou uma senha de acesso por e-mail. Se o Epagri Mob. agendar uma visita à propriedade, por cadastro não estiver atualizado, o siste- exemplo. ma avisa e é preciso entrar em contato No Minha Epagri, o produtor tam- com a Epagri do município. Quem não bém tem acesso ao seu prontuário junto à Epagri, ou seja, todo o histórico de seu tem cadastro na Epagri também pode relacionamento com a Empresa. O sis- procurar a unidade mais próxima para tema reúne eventos dos quais o usuário fazê-lo. Foto: Aires Mariga/Epagri Aires Foto: participou, atendimentos que recebeu, Além do acesso ao Minha Epagri, o visitas, entre outros dados. Nessa área aplicativo da Empresa permite conferir é possível, ainda, baixar a segunda via a previsão do tempo, o calendário de de documentos como recomendação eventos, serviços, tecnologias, publica- Minha Epagri coloca o produtor em de insumos, laudo de prorrogação de ções, localização das unidades da Epa- contato com o técnico mais próximo dívidas, relatório de vistoria fitossani- gri, programas de rádio e outros servi- tário e fisiológico, proposta simplificada ços. Pesquisadora identifica vespinha em SC pesquisadora Janaína Pereira dos Santos, da Estação Experimental da Epagri em Caçador (EECd), identificou uma vespinha que ainda Anão tinha sido registrada no território catarinense. A espécie se chama Aganaspis nordlanderi, possui apenas 3mm de comprimento e é uma inimiga natural da mosca-das-frutas. A mosca-das-frutas (Anastrepha fraterculus) é uma importante Foto: André Sezerino/Epagri André Foto: praga das frutas de clima temperado. Nas pesquisas, Janaína também verificou que se tratava do primeiro registro de A. fraterculus como hospedeira de A. nordlanderi no Brasil. A pesquisadora realiza estudos com as culturas de macieira e pereira e com várias frutas nativas, como cereja-do-mato, guabiroba, goiaba- serrana, araçá, amora-preta e pitanga. O objetivo desse trabalho é registrar a biodiversidade de parasitoides no Meio-Oeste catarinense. Até então, a vespinha Aganaspis nordlanderi só tinha registro para os estados de São Paulo, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Espírito Santo. O trabalho completo foi publicado na Revista Brasileira de A espécie é inimiga natural da mosca-das-frutas Fruticultura. Revista ganha nova versão on-line revista Agropecuária Catarinense da Epagri na pesquisa agropecuária e na ramentas mais atuais de comunicação, (RAC), editada pela Epagri há 30 extensão rural. o site busca abranger um público mais Aanos, agora tem uma versão que O site também dá acesso ao portal amplo, levando os assuntos da agrope- facilita a leitura e a busca de conteúdo de publicações da Epagri (publicacoes. cuária catarinense também à população on-line. No site revista.epagri.sc.gov.br, epagri.sc.gov.br), onde é possível ler ar- urbana, por exemplo. o público tem acesso livre ao conteúdo tigos científicos e submeter trabalhos à O site está organizado de acordo de reportagens, notícias e dicas sobre seção técnico-científica da revista. com as seções da revista. Na página agricultura, pecuária, aquicultura e pes- Além de disseminar de forma livre Capa, o leitor tem a opção de navegar ca, além de novidades sobre a atuação o conteúdo da revista e alinhá-lo a fer- por edição.

14 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 OPINIÃO Passicultura catarinense se moderniza para continuar produtiva e rentável Henrique Belmonte Petry¹ e Darlan Rodrigo Marchesi²

cultura do maracujazeiro, também produtores da região. redução da área cultivada, chegando conhecida por passicultura, é uma Com a adaptação dessa cultura de a 50ha após a passagem do furacão Adas cadeias produtivas mais im- clima tropical às condições da região, Catarina. portantes do extremo sul de Santa Cata- o maracujazeiro-azedo ‘Catarina’ Após esse período, houve uma rina, principalmente pela produção de rapidamente caiu nas graças dos recuperação lenta da área cultivada, maracujá-azedo (Passiflora edulis). Em agricultores, que o viram como uma estimulada pela forte diminuição em 2017, o cultivo do maracujazeiro-azedo forma de diversificar suas propriedades, outros Estados, como São Paulo, que gerou o quarto maior valor bruto da pro- principalmente por ser uma alternativa sofreram com a entrada da virose dução (VBP) agrícola na microrregião de à fumicultura e apresentar boa do endurecimento dos frutos do Araranguá, atrás do arroz, fumo e bana- rentabilidade às pequenas propriedades maracujazeiro (VEFM), causada pelo na, que ficou entre as cinco regiões de rurais. Mesmo com os lançamentos vírus Cowpea aphid-borne mosaic virus maior produção de maracujá-azedo no de cultivares híbridos pela Embrapa (CABMV) e transmitida por pulgões Brasil (IBGE – PAM). Santa Catarina foi e Instituto Agronômico de Campinas (afídeos), ferramentas de poda e o terceiro maior produtor do fruto no (IAC), o maracujá-azedo ‘Catarina’ mudas contaminadas. Já em Araquari, país, atrás somente da Bahia e do Ceará continuou sendo o mais cultivado no município do litoral norte de Santa em 2017. Entre os dez municípios com nosso Estado devido à produtividade, Catarina, capital estadual do maracujá, maior produção no Brasil estiveram pre- adaptação e seus frutos de alta houve forte redução devido à entrada sentes São João do Sul e Sombrio, sen- qualidade, reconhecidos no mercado da VEFM em 2007. do estes os únicos abaixo da linha do nacional como os melhores do Brasil. Em 2016, com a chegada da VEFM Trópico de Capricórnio a figurar entre O maracujá-azedo, também no Sul Catarinense, as recomendações os mais expressivos produtores. Para a conhecido como fruta-da-paixão, para o cultivo da fruteira mudaram fruticultura catarinense, o VBP das úl- deixou os agricultores catarinenses radicalmente. Para conviver com a timas safras nos pomares de maracujá- apaixonados e essa paixão já completou virose, foi necessário adaptar a produção azedo tem sido semelhante às culturas bodas de prata. O Sul Catarinense é de mudas ao ambiente protegido, tradicionais, como a videira e as frutas uma das regiões mais longevas do em abrigos com telado antiafídeos, de caroço, ocupando em 2016 o terceiro Brasil na produção do fruto, com antecâmara e cobertura plástica, bem lugar entre as frutíferas de Santa Catari- aproximadamente 25 anos. Em outros como aumentar o tamanho das mudas na, ficando atrás somente da produção Estados e regiões, os ciclos dessa com a utilização de embalagens maiores de maçã e banana, respectivamente. cultura são de sete a 10 anos, devido à que permitissem a antecipação da safra. Esses resultados não foram obtidos alta incidência de doenças associada à Outra mudança necessária foi a adoção por acaso. Vêm de um esforço conjunto, inexperiência dos agricultores, levando de um período de vazio sanitário que começou em meados da década à decadência e substituição dessas áreas sincronizado em toda a região. Neste de 1990, quando alguns agricultores de por outras culturas. Essa longevidade caso, deixam-se as áreas sem plantas Jacinto Machado e Sombrio trouxeram ocorreu pelo poder de adaptação dos vivas e sintomáticas durante o mês de essa cultura como novidade para a agricultores à realidade do mercado e julho, para que haja a eliminação do região. A introdução pela Epagri - sua capacidade de lidar com doenças ao inóculo da virose, garantindo que o Estação Experimental de Urussanga, de longo desse percurso. pomar a ser instalado na safra seguinte diversas seleções obtidas no Ceagesp e No início dos anos 2000, com a não sofra com a influência da safra em outros Ceasas do sudeste do Brasil, entrada na região da mancha-bacteriana anterior, diminuindo a incidência da em 1995, e cultivadas em diversos locais (Xanthomonas axonopodis pv. doença na região. da Região Sul por alguns anos, resultou passiflorae) pela introdução de mudas Mesmo antes da chegada da VEFM em uma seleção altamente adaptada contaminadas, a grande área cultivada na região, diversas ações de extensão às condições edafoclimáticas do Sul à época com aproximadamente mil e da pesquisa foram realizadas a Catarinense, registrada e batizada hectares só no município de Jacinto fim de conscientizar os agricultores em 2015, como ‘SCS437 Catarina’, Machado, o excesso de frutas no das práticas de manejo da doença com participação de pesquisadores e mercado nacional e as fortes geadas e suas consequências, tais como: extensionistas da Epagri, bem como de daquele ano causaram uma grande dois seminários sul-brasileiros sobre

1 Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, Rodovia SC 108, km 353, nº 1563. Bairro: Estação, Urussanga – SC. CEP: 88840-000, e-mail: [email protected]. 2 Engenheiro-agrônomo, M. Sc., Epagri/Gerente estadual de extensão rural e pesqueira, Rodovia Admar Gonzaga, 1347. Bairro: Itacorubi, Florianópolis, SC. CEP 88034-901, e-mail: [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 15 maracujazeiro, em 2015 e 2017; VII Simpósio Brasileiro sobre a Cultura do Maracujazeiro, em 2017; dois encontros técnicos sobre maracujazeiro, em 2016 e 2018; curso estadual do maracujá, em 2018; e curso de produção de mudas em ambiente protegido, de 2016 a 2018. Além disso, foram realizados

vários dias de campo e atividades para reconhecimento da Analine Damiani Darós Foto: VEFM e conscientização das práticas de convivência com a doença. Tais ações contaram com o auxílio de especialistas de diversas instituições de todo Brasil e o grupo de trabalho do maracujazeiro de Santa Catarina colaborou ativamente na geração de um conjunto de indicações técnicas para enfrentar as viroses. Com as indicações de manejo da VEFM geradas pela Epagri e demais instituições parceiras, tais como Cidasc, IAC, universidades e empresas privadas da região, incluindo a participação de agricultores líderes na cultura, o setor produtivo iniciou um movimento para modernizar os pomares de maracujazeiro-azedo da região. A iniciativa contou com a produção de mudas altas, maiores que 80cm, em ambiente protegido, com telado antiafídeos; renovação anual dos pomares com vazio sanitário de pelo menos 30 dias entre as safras e a eliminação de plantas sintomáticas desde o plantio até o início do florescimento, adotando o ciclo anual para a cultura. A adoção dessas práticas foi vital para a redução dos efeitos da doença nos pomares da região, bem como para a manutenção da área produtiva. Além disso, a utilização de mudas avançadas permitiu a produção antecipada em muitos pomares, possibilitando a comercialização dos frutos em uma janela de produção de escassez no mercado nacional, gerando boa rentabilidade e maior rendimento aos produtores que aderiram às técnicas recomendadas. A evolução do sistema de cultivo convencional para o plantio direto, que está sendo desenvolvido de forma participativa pelos passicultores catarinenses, tendo como base o sistema de plantio direto de hortaliças (SPDH), também traz a perspectiva de melhoria da qualidade dos frutos produzidos em Santa Catarina, com a efetiva promoção da saúde das plantas e, com isso, redução e até eliminação do uso de agrotóxicos pelos produtores catarinenses. A implantação da cultura com o mínimo revolvimento do solo, em áreas com quebra-ventos adequados, com cobertura verde o ano todo, eliminando o uso de herbicidas, e a nutrição de acordo com a taxa de absorção de nutrientes pelo maracujazeiro-azedo devem proporcionar maior conforto às plantas e, por consequência, reduzir o custo de produção e da mão de obra necessária para a produção da cultura, além de tornar o trabalho mais humanizado e conectado com a natureza, aumentando os polinizadores e inimigos naturais nas áreas de cultivo. Nos próximos anos espera-se a sincronização do vazio sanitário, com datas de erradicação e plantio dos pomares definidos, bem como o estabelecimento de um padrão mínimo de qualidade das mudas para a efetivação da fiscalização e incentivo da adoção das práticas indicadas para a manutenção da cultura. Além disso, a produção em sistema de plantio direto deve aproximar cada vez mais os passicultores apaixonados e os amantes dessa deliciosa fruta, pela produção de um maracujá mais amigável ao ambiente, à sociedade e de alta qualidade para o consumidor brasileiro.

16 CONJUNTURA Um plano estratégico para impulsionar a maricultura catarinense Felipe Matarazzo Suplicy¹

Introdução • Momento adequado • Enfoque ecossistêmico Outro aspecto central do planeja- Após duas décadas de limitado de- A falta de competividade do produto mento é o de integrar a dimensão so- senvolvimento, tanto a produção de catarinense em um mercado altamente cial, ambiental e econômica, não só moluscos como o número de mariculto- globalizado, a gradativa ocupação do res vêm se reduzindo nos últimos anos, mercado interno por produtos impor- para atingir como para assegurar os principalmente devido à dificuldade das tados e o mencionado encolhimento da objetivos conquistados pela estratégia instituições de apoio e gestão do setor atividade foram fatores que reforçaram de desenvolvimento. A estratégia deve na superação de diversos entraves da a urgente necessidade de um melhor considerar a maricultura de uma forma cadeia produtiva. A complexidade, a planejamento. A necessidade de ado- abrangente, integrada e de maneira especificidade e as dimensões sociais ção de novos sistemas e tecnologias estruturada, em uma abordagem ecos- da maricultura dificultam as decisões de cultivo para reverter este quadro sistêmica de planejamento e de gestão a serem tomadas pelos gestores públi- também oferece oportunidades que praticável e implementável para promo- cos. Com o intuito de induzir discussões poderiam não ser tão evidentes para o ver um desenvolvimento harmonioso e pautadas nas dificuldades enfrentadas produtor, uma vez que não existiam an- coerente. Isto favorece a inclusão de as- pelos produtores, com foco na iden- teriormente. pectos ambientais e sociais juntamente tificação de ações para saná-las, foi com as perspectivas econômicas, contri- proposto que a recém-ativada Câmara • Abordagem participativa buindo para que as intervenções sejam Setorial da Maricultura, integrante do estrategicamente planejadas ao invés Conselho Estadual de Desenvolvimento Embora o processo participativo de de serem reativas e descoordenadas. Rural (Cederural), debatesse um plano planejamento seja mais trabalhoso e estratégico para reverter este quadro e custoso, ele favorece o engajamento e o • Objetivo claramente definido para promover o desenvolvimento sus- comprometimento dos diversos atores, facilitando sua aceitação e implemen- tentável da maricultura catarinense nos O plano estratégico conta com um tação. Neste caso, o processo adotado próximos dez anos. Para tanto, a Epagri objetivo claro e com metas socioeco- foi solicitada a redigir uma minuta de foi o “consultivo informado”, no qual nômicas indispensáveis para o desen- estratégia a ser discutida e aprimorada uma minuta do plano estratégico foi volvimento harmonioso da maricultura. pelos membros da Câmara Setorial. amplamente divulgada antes das reuni- Uma presunção equivocada sobre os ões realizadas com lideranças dos ma- resultados esperados deste desenvol- O processo ricultores nas regiões produtoras, onde eles fizeram contribuições sobre o tex- vimento poderia gerar frustação entre os produtores, criar dependência do A redação do plano estratégico foi to. Além das reuniões, foram colhidas embasada nas melhores recomenda- importantes contribuições por meio da governo ou aumentar a desigualdade ções internacionais disponíveis sobre realização de três workshops: Controle social. O plano estratégico também pre- o assunto, em particular as contidas sanitário de moluscos bivalves, Abaste- cisa ser orientado por uma demanda no documento da FAO Aquaculture cimento de sementes de moluscos e Sa- identificada de mercado e uma capaci- Planning: Policy formulation and imple- neamento ambiental e maricultura. Em dade, ao menos potencial, de atender mentation for sustainable development complementação, diversas contribui- a esta demanda. O objetivo expresso (BRUGÈRE et al., 2010). Entre as reco- ções surgiram das reuniões ordinárias como uma visão de futuro é: mendações contidas neste documento, da Câmara Setorial da Maricultura e de “Obter reconhecimento internacio- foram consideradas principalmente as discussões entre produtores, técnicos, nal na produção sustentável de molus- seguintes: pesquisadores e gestores públicos. cos com alto valor agregado”.

¹ Biólogo, Ph. D., Epagri/Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca – Cedap, Rod. Admar Gonzaga, 1188, Itacorubi, 88034-901 Florianópolis, SC, fone: 3665-5060, e-mail: [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 17 A estratégia Santa Catarina – Casan e Aegea – apre- volvimento Agrícola de Santa Catarina sentaram planos de investimentos que (Cidasc), com 24 pontos de coleta de A estratégia para alcançar este obje- somam mais de R$1 bilhão para elevar amostras e cobrindo todas as regiões tivo leva em consideração uma pirâmi- o índice de atendimento para 70% dos produtoras do estado. de de qualidade em moluscos. Na base habitantes em quatro anos e, em alguns Com os novos padrões de classifica- da pirâmide está a qualidade ambiental municípios, até 97% dos habitantes em ção, boa parte dos moluscos consumi- e sanitária das áreas de cultivo (Figu- seis anos. dos in natura, como as ostras, deverão ra 1). Assim como nos demais estados No segundo nível da pirâmide está passar pelo processo de depuração, en- brasileiros, existe um grande déficit de a necessidade de certificar a qualidade quanto os investimentos em saneamen- saneamento básico na região costeira sanitária das áreas de cultivo através de to não proporcionarem uma melhora na catarinense que afeta não só a qualida- um eficiente plano de monitoramento. condição sanitária das áreas de cultivo. de dos moluscos filtradores, mas que Para isso, o governo estadual contou No CECMB foi recomendado que se também impacta fortemente o turismo. com o apoio de um Grupo de Trabalho mantenha a classificação baseada nos Um diagnóstico do Sistema Nacional de criado no Comitê Estadual de Controle padrões anteriores por um período de Informações sobre Saneamento Bási- Higiênico Sanitário de Moluscos bival- dois anos, para que sejam realizados co do Ministério das Cidades realizado ves (CECMB), além de técnicos da Epa- os investimentos em depuradoras nos em 2011 (MINISTERIO DO DESENVOLVI- gri e do Mapa, para aprimorar a legis- locais necessários. De acordo com os MENTO REGIONAL, 2016) revelou que o lação estadual sobre o assunto. A nova padrões anteriores, 48% das áreas es- índice médio de atendimento da popu- portaria estabelecerá novos padrões tariam classificadas como aprovadas e lação com rede de coleta de esgotos em bacteriológicos para classificação das 52% como condicionadas à depuração Santa Catarina é de apenas 28%. Rever- áreas e uma alteração na metodologia ou cozimento. ter este quadro é um ponto basal que de amostragem, a fim de obter equiva- Para custear a manutenção do pro- precisa ser adequadamente trabalhado lência com a legislação internacional e grama de monitoramento, o governo para conquistar um reconhecimento in- reduzir substancialmente os custos de estadual está encaminhando à Assem- ternacional na produção de moluscos. manutenção deste programa. bleia Legislativa um projeto de lei cons- Apesar do cenário atual não ser positivo, Em Santa Catarina o monitoramen- tituindo um fundo setorial da maricul- no workshop sobre saneamento e mari- to bacteriológico e de ficotoxinas nas tura, que será mantido pelo setor pro- cultura as duas operadoras de coleta e áreas de cultivo é realizado desde 2012 dutivo, através do pagamento de taxas tratamento de esgotos que atuam em pela Companhia Integrada de Desen- atreladas à emissão das Guias de Trânsi- to Animal (GTAs). Outro grande desafio é a formaliza- ção da produção estadual no mercado, com produtos processados em estabe- lecimentos com inspeção sanitária e com rastreabilidade, que estruturam o terceiro nível da pirâmide. Diversas ações estão em andamento para forta- lecer as cooperativas existentes, apoiar a formação de novas cooperativas, além de orientar os produtores sobre as al- ternativas existentes, como o serviço de processamento terceirizado em empre- sas inspecionadas. Santa Catarina já conta com cinco estabelecimentos de processamento de moluscos atendidos pelo Serviço de Inspeção Municipal (SIM) e oito pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF). O SIM passou a ser ofertado por cinco dos dez municípios com produção de moluscos. As cooperativas contarão com assistên- cia da Organização das Cooperativas do Figura 1. Pirâmide de qualidade em moluscos bivalves Estado de Santa Catarina (Ocesc), rece-

18 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 bendo atividades delegadas de capaci- citada por uma associação estadual de e discussões realizadas durante o pro- tação profissional dirigidas ao aprimo- maricultura, que está sendo constituí- cesso consultivo do Plano Estratégico, ramento das atividades profissionais de da a partir de um grupo de produtores ficou evidente que este conjunto de de- colaboradores e dirigentes de coopera- empreendedores comprometidos com safios somente será superado com uma tivas e associados, em eventos voltados os objetivos estabelecidos no Plano forte fiscalização da Vigilância Sanitária à gestão de cooperativas. As atividades Estratégico. As regras de uso da marca nas peixarias, bares e restaurantes. delegadas consistem em cursos de pe- “Moluscos de Santa Catarina” incluirão, Além dos controles e padrões de quena duração, treinamentos, pales- além da adoção dos controles sanitá- qualidade, na parte econômica o Plano tras, cursos de pós-graduação in com- rios e da adesão ao mercado formal e Estratégico prevê a adoção de novas e pany, seminários, oficinas e similares. inspecionado, a rastreabilidade, a ocu- melhores tecnologias de cultivo para Outra meta importante do Plano Es- pação ordenada das áreas de cultivo, a aumentar a produtividade e reduzir tratégico é a rastreabilidade que deve- adoção de boas práticas de produção e custos. Com a globalização do mercado, rá ser provida através da integração do a manutenção de licenças ambientais os moluscos produzidos artesanalmen- sistema de emissão da GTA de cada lote válidas. No Plano Estratégico, todas as te têm um elevado custo de produção de moluscos colhido, com o Sistema de instituições que têm interface ou que e perdem sua competividade e espaço Informações Geográficas (SIG) desen- atuam sobre a gestão, pesquisa, exten- no mercado para moluscos importa- volvido pela Epagri (http://ciram.epagri. são, ou que podem prestar serviços em dos, como os chilenos, que entre 2012 sc.gov.br/sipldm/) e com os dados do apoio ao fortalecimento da cadeia pro- e 2017 exportaram para o Brasil 4.900 programa de monitoramento executado dutiva da maricultura, estarão execu- toneladas de carne de mexilhão conge- pela Cidasc nas áreas de cultivo. tando ações coordenadas e integradas lado, ao valor de US$14,1 milhões (BRA- No quarto nível da pirâmide estão em apoio à consolidação da marca de SIL, 2018). os padrões de qualidade do consumi- uso comum, evitando a sobreposição de A adoção de novas tecnologias dor relacionados aos tipos de produto, esforços e o desperdício de escassos re- envolve a mecanização dos cultivos forma de apresentação, embalagem, e cursos humanos e financeiros (Figura 2). para obter escala de produção, abrir e certificações de origem, além de certifi- Em praticamente todas as reuniões manter novos mercados e aumentar a cação ambiental e social. Novos produ- tos, como carne de ostras sem concha e mexilhões in natura em embalagens com atmosfera modificada, são formas diversificadas de apresentação que já vêm sendo objeto de pesquisas e de testes junto aos produtores. A Epagri está iniciando um projeto de monitora- mento ambiental das áreas de cultivo, analisando o impacto das fazendas so- bre o sedimento marinho e realizando estudos de capacidade de suporte. A médio e longo prazos, o Plano Estraté- gico prevê a certificação com padrões de sustentabilidade elaborados pela Aquaculture Stewardship Council (ASC) em conjunto com a World Wildlife Foun- dation – WWF (ASC, 2012). A adoção desta série de controles sa- nitários e ambientais conferirá credibili- dade para iniciar uma forte campanha de marketing, último nível da pirâmide de qualidade, embasada na certificação de origem e criação da marca de uso co- mum “Moluscos de Santa Catarina”, que por sua vez passará a ser reconhecida internacionalmente como sinônimo de produção sustentável de moluscos com Figura 2. Instituições envolvidas com a gestão, prestação de serviços em apoio à cadeia alto valor agregado. A marca será soli- produtiva e com a produção de moluscos em Santa Catarina

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 19 Figura 3. Atividades de pesquisa e extensão sobre o cultivo mecanizado de moluscos competitividade nos mercados interno dutivo organizado sobre os avanços nas Referências e estrangeiro. A mecanização já está ações propostas e a alocação de recur- presente em diversos cultivos, com má- sos financeiros adequados para atingir Aquaculture Stewardship Council. ASC quinas desenhadas e construídas pelos os objetivos propostos. A identificação Bivalve Standard. Version 1.0 Utrecht, próprios produtores, para colher mexi- e o monitoramento de feedbacks entre NL: Aquaculture Stewardship Council lhões ou para lavar e classificar ostras, o planejamento, a estratégia adotada e (ASC). 2012. 57p. e também por meio de atividades de os resultados sociais durante o proces- pesquisas e extensão que vêm sendo so de desenvolvimento da maricultura BRUGÈRE, C.; RIDLER, N.; HAYLOR, G.; realizadas pela Epagri, como o desen- é um tema altamente considerado na HISHAMUNDA, N. Aquaculture Plan- volvimento de máquinas de baixo cus- agenda política catarinense, dado o ning: Policy formulation and imple- to, a realização de cursos e publicação grande interesse na contribuição po- mentation for sustainable develop- de livros sobre o cultivo mecanizado de tencial desta atividade para a geração ment. FAO Fisheries and Aquaculture moluscos (Figura 3). de alimento, renda e benefícios para a Technical Paper. No. 542. Rome, FAO. sociedade. 2010. 70p. Conclusão Os leitores que desejarem obter mais informações sobre esta iniciativa BRASIL. COMEX STAT 2018 Disponível O sucesso na implementação do Pla- poderão acessar o link: http://www. em: . Acesso em: 29 março 2019. to, otimismo e comprometimento dos vos/cederural/camara-setorial-da-mari- diversos atores envolvidos com a mari- cultura para fazer o download da versão MINISTERIO DO DESENVOLVIMENTO cultura catarinense. Além da superação consolidada do Plano Estratégico, bem REGIONAL. Sistema Nacional de Sa- dos desafios relacionados à capacidade como as atas das reuniões da Câmara nidade Ambiental – SNSA 2016, Dis- humana e institucional, será preciso um Setorial da Maricultura, das reuniões ponível em: . Acesso Setorial da Maricultura e do setor pro- relatórios dos workshops realizados. em: 29 março 2019.

20 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 VIDA RURAL Aprenda a fabricar armadilha artesanal para capturar insetos

ombater insetos que prejudicam a mistura seja feita em fogo baixo para Preparo: Diluir a tinta no solvente, pin- hortas, pomares e lavouras sem que a cola não perca a liga. Aplicar logo tar a garrafa por dentro e deixar secar. Cusar agrotóxicos pode ser mais sim- em seguida nas armadilhas com pincel. Passar a cola entomológica com um ples do que se imagina. A pesquisadora Se a cola endurecer, é preciso reaquecê- pincel em volta da garrafa e prender o Janaína Pereira dos Santos, da Estação la em banho-maria para derretê-la no- arame na tampa para pendurar a arma- Experimental da Epagri de Caçador vamente. Esta receita rende cola para dilha próxima ao cultivo. (EECd), desenvolveu armadilhas artesa- 10 armadilhas. nais de baixo custo que podem ser facil- Armadilha adesiva de papel-cartão mente fabricadas em casa. Armadilha adesiva de garrafa PET Materiais: O segredo para atrair os insetos está Materiais: Papel-cartão amarelo ou azul-escuro na cor. “As armadilhas de cor azul cap- - Garrafas plásticas de qualquer tama- Arame turam os tripes, que são insetos vetores nho Preparo: Cortar o papel cartão em tiras que transmitem e disseminam viroses - Tinta amarelo-ouro e azul-royal (a cor largas, dobrá-las ao meio e colar para em várias culturas, como morangueiro, depende da finalidade da armadilha) que a armadilha tenha cor dos dois la- tomateiro e cebola. As de cor amarela - Solvente para tinta dos. Fazer furos para prender o arame e são utilizadas para capturar vaquinha - Arame passar cola nos dois lados. (besouros), cigarrinha, pulgão, mosca- branca, mosca-minadora e psilídeos, que atacam plantas de importância agrícola”, explica Janaína. Esses insetos estão presentes em todas as regiões do

País e em vários cultivos. Epagri/EECd Fotos: O estudo da pesquisadora resultou em adaptações de armadilhas adesivas coloridas disponíveis no mercado pelo valor de R$2,50 a unidade. Os modelos da Epagri, confeccionados com papel cartão e garrafa PET, usam uma cola artesanal e custam aproximadamente R$0,40 a unidade. A recomendação é pendurar o maior número possível de armadilhas nas bordaduras do cultivo. A tecnologia pode ser usada para controlar os insetos de forma mais sus- tentável tanto em áreas agrícolas quan- Modelos são confeccionados em papel cartão e garrafa PET to em áreas urbanas, como pequenas hortas, estufas, pomares caseiros e no interior de residências. “Na agricultura, o uso das armadilhas propicia a diminui- ção das populações de insetos-praga, aliada à redução no uso excessivo, in- discriminado e exclusivo de agrotóxicos para o controle de pragas”, ressalta Ja- naína.

Cola entomológica para aplicar nas armadilhas Ingredientes: - 40g de breu moído (encontrado em ca- sas agropecuárias) - 20ml de óleo de soja Preparo: Em uma panela, em fogo bai- Cola aplicada nas armadilhas pode ser Insetos-praga capturados em cultivo xo, misturar o breu e o óleo de soja por feita em casa de tomate cerca de 5 minutos. É importante que

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 21 Fotos: Aires Mariga / Epagri Mariga Aires Fotos:

REPORTAGEM Em defesa do melhor maracujá do Brasil Santa Catarina travou guerra contra a virose do endurecimento do fruto e já pode comemorar: a doença está controlada

Gisele Dias – [email protected]

22 de Santa Catarina o melhor maracu- doenças. do endurecimento do fruto, uma já para consumo in natura do Brasil. Para combater a virose do doença até então inédita nos pomares ÉE não são (só) os técnicos da Epagri endurecimento do fruto, a Epagri muniu catarinenses. “Quando nos chamaram, e agricultores catarinenses que dizem os produtores de maracujá de Santa o problema já tinha se alastrado pela isso. “Considero a melhor fruta do país Catarina com uma arma mais letal do que região”, lembra Luiz Augusto Martins para o mercado de mesa”, afirma Lau- qualquer agrotóxico, o conhecimento. A Peruch, pesquisador da Epagri. Ele ra Maria Molina Meletti, pesquisadora disseminação de informações técnicas releva que naquela época ainda não do Instituto Agronômico de Campinas foi a estratégia adotada para vencer se tinham todas as bases científicas (IAC). Ela fala com conhecimento de esse embate. As primeiras batalhas, necessárias para o convívio com a causa. Doutora em produção vegetal, os produtores rurais ganharam, mas a doença. A entrada do vírus causou o criou e coordena o Programa de Pes- guerra segue. A vantagem é que Santa declínio da cultura naquela região, que quisas do Maracujá do IAC, desenvolveu Catarina agora está bem armada, com hoje está recuperando gradativamente quatro cultivares da fruta e recebeu três exército preparado para seguir nessa sua área plantada. prêmios científicos pela contribuição a luta. Enquanto o Norte do Estado já todos os elos dessa cadeia produtiva. sofria com a virose do endurecimento Gabriel Bitencourt, engenheiro- História do fruto, a Região Sul de Santa Catarina agrônomo da Companhia de via a produção de maracujá crescer de Entrepostos e Armazéns Gerais de forma lenta e contínua, sem grandes Para contar essa história é preciso São Paulo (Ceagesp), reforça esse saltos de produção, e ainda livre da retornar alguns anos no calendário. “A entendimento. “A qualidade é boa. doença. Na safra 2016-2017, Santa produção de maracujá em Santa Catarina É uma fruta grande, com bastante Catarina alcançou o ápice de produção polpa”, descreve, lembrando que nos só começa a aparecer nas estatísticas do de maracujá. Foram 47.621 toneladas meses de fevereiro, março e abril Santa IBGE na safra 1992-93”, conta Henrique colhidas da fruta, 94% desse total Catarina se fixa no topo do ranking dos Belmonte Petry, pesquisador da Estação proveniente do Sul Catarinense. A estados fornecedores de maracujá para Experimental da Epagri em Urussanga. produtividade chegou a 20.875 quilos a Companhia, que distribui para São A cultura começou na região de Joinville por hectare, considerada uma média Paulo e estados vizinhos. e foi se consolidando pelo Estado. O satisfatória pelos técnicos da Epagri. Toda essa qualidade é resultado tamanho do mercado nacional para Mas, como em todo bom enredo de anos de trabalho com a fruta, que a fruta instigou os agricultores, que dramático, uma nova reviravolta estava começou a ser cultivada de forma foram expandindo a área de cultivo, planejada no roteiro escrito pelo destino. profissional no território catarinense que chegou a 1,5 mil hectares na safra Em 2016, os pomares de maracujá do por volta de 1990. Em 2005 teve início 1998-99. Sul de Santa Catarina começaram a a pesquisa da Epagri que, uma década Mercadologicamente, essa supe- apresentar os primeiros sintomas da depois, resultou no lançamento da roferta foi um desastre. As condições virose do endurecimento do fruto. Mas variedade SCS437 Catarina. A seleção inadequadas da BR 101, que ainda não então já existiam as armas necessárias genética destacou as melhores estava duplicada, dificultavam o esco- para enfrentar o mal. Por outro lado, era características do fruto: grande, bem amento da produção para outros Esta- preciso traçar uma estratégia para que a preenchido, com polpa de boa cor, casca dos. O grande volume colocado no mer- cultura do maracujá em Santa Catarina espessa e formato mais ovalado. Além cado causou queda nos preços pagos ao saísse vencedora desse combate. de agradar o consumidor, o cultivar da produtor. Paralelamente, uma bacte- Epagri também é adaptado às condições riose atingiu os pomares catarinenses. climáticas de Santa Catarina, que não Estratégia Sem contato anterior com a doença, as são as mais favoráveis ao cultivo, já que o maracujá prefere calor e pouca chuva, plantas não tinham mecanismos para A virose do endurecimento do como acontece no Nordeste do Brasil. se proteger e simplesmente secavam. fruto é uma doença disseminada pelo Mas todo esse trabalho correu Junta-se a isso uma forte geada que pulgão, um inseto comum nas lavouras risco de ser extinto por um inimigo atingiu o Sul do Estado. Esse cenário do Brasil. Ele não chega a ser um microscópico: o vírus causador do praticamente dizimou a cultura em San- problema para o maracujá, mas passa endurecimento do fruto. Em 2016 ta Catarina. No início dos anos 2000, o a apresentar riscos quando pousa em ele foi detectado nos pomares do Sul território catarinense tinha apenas 50 uma planta infectada com a virose. Nos de Santa Catarina, a principal região hectares de área plantada com mara- seus voos entre uma planta e outra, produtora do Estado. Não fosse uma cujá. ele dissemina rapidamente o vírus que, ação rápida e conjunta liderada pela Depois dessa crise, o mercado como o próprio nome diz, faz com que o Epagri, esse ser minúsculo poderia ter de maracujá foi aos poucos se pomar produza frutas mais duras, com dizimado a produção da região, como já autorregulando e, por volta de 2008, menos polpa. Também provoca uma aconteceu no Norte Catarinense, onde a produção catarinense começou importante queda de produtividade. a área plantada reduziu drasticamente a recuperar o fôlego. Naquele Os técnicos da Epagri sabiam que o nos últimos anos devido a uma série ano, Araquari, no Norte do Estado, pulgão não era o principal vilão nesse de percalços, entre eles o ataque de detectou os primeiros focos da virose intrincado enredo, não era ele que

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 23 também houve a entrada de técnicos novos na Epagri. Essa reoxigenação do corpo funcional permitiu uma maior integração entre pesquisa e extensão”, relata o extensionista. A mobilização envolveu, além de extensionistas e pesquisadores da Epagri, os varejistas de insumos (que apoiaram repassando informações aos produtores), os atacadistas (que apoiaram acertando seu ciclo de vendas ao ciclo produtivo da fruta), agricultores e suas entidades representativas, como cooperativas e associações. Estava formado o exército que iria entrar com força total na luta contra a virose do endurecimento do fruto. Uma série de ações capitaneadas pela Epagri tiveram início em 2016, para disseminar as informações de combate Maracujá catarinense é grande, bem preenchido e com polpa de boa cor à virose. Foram realizadas reuniões, encontros, oficinas e treinamentos deveria ser combatido. Petry explica dos primeiros sintomas da doença envolvendo técnicos, agricultores, que combater o pulgão não resolve aparecerem nos maracujazeiros do fornecedores, atacadistas e outros o problema, porque ele não gosta do Sul do Estado, Sandoval já vinha atores da cadeia produtiva do maracujá sabor da planta do maracujá. Ele voa até mobilizando a cadeia produtiva na no Sul do Estado. o maracujazeiro, faz a picada de prova, região, com o objetivo de perpetuar A primeira providência foi treinar e segue para outro vegetal que lhe seja o cultivo, que tinha característica extensionistas da Epagri, de cooperativas mais agradável ao paladar. Se estiver de ser nômade em Santa Catarina. e do setor privado para prepará-los carregando o vírus, já infectou a planta. Esse nomadismo era perpetuado para detectar a doença, o que permitiu Se o agricultor aplicar um inseticida no principalmente por produtores um levantamento das áreas atingidas. maracujazeiro, não vai matar o pulgão, “aventureiros”, que se interessavam “Paralelemente, começou a conversa porque o inseto não está mais ali. Já pela fruta quando ela estava em alta com os atacadistas. Se o maracujá o vírus que ficou na planta não pode no mercado, mas mudavam de plantio acabasse, seria um prejuízo enorme ser combatido com nenhum tipo de aos primeiros sinais de dificuldade na para eles. Depois, partiu-se para químico. cadeia produtiva. “Nesse momento conscientização dos produtores. Foram Então, a estratégia correta não é combater o pulgão, e sim a virose. E, para isso, os técnicos da Epagri foram colher conhecimento em publicações científicas e também em outras regiões do Brasil que já haviam enfrentado o mal. Perceberam que, seguindo uma série de tecnologias de manejos, seria perfeitamente possível conviver com a doença. Porém, o mais importante era que todos os produtores aderissem às recomendações, já que a virose é facilmente transmissível e se dissemina rapidamente de um pomar para outro. Era preciso mobilizar os soldados para a luta. “A grande chave do sucesso foi a mobilização de toda a cadeia produtiva”, afirma Sandoval Miguel Ferreira, extensionista do Escritório Municipal da Epagri em Sombrio e um dos principais soldados nessa batalha. Tecnologias de manejo permitem produzir frutas adequadas ao mercado, apesar da virose Em 2014, dois anos portanto antes

24 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 feitas inúmeras palestras e mais de mil produtores participaram”, descreve Peruch.

Manejo

Todas essas ações popularizaram as técnicas de manejo capazes de permitir o convívio com a doença nas plantações. Primeiro era necessário convencer os produtores da importância de eliminar os pomares de uma safra para outra. A prática mais comum no Sul do Estado era manter as plantas produzindo por dois anos, porém, com a renovação anual dos pomares, se retiram do campo todos os maracujazeiros que possam estar infectados com a doença. Eles são substituídos por mudas isentas do vírus. Enquanto o Norte do Estado sofria com a virose, a Região Sul via a produção crescer As mudas são peças importantes nessa batalha, já que a virose chegou a Santa Catarina pela importação de contra o vírus, evitando que ele chegue não há uma legislação sobre o assunto, mudas infectadas produzidas em outros ao cultivo de maracujá. esse período de vazio sanitário ainda Estados. A tecnologia de combate à Uma das mais importantes e não está consolidado, o que faz com que doença preconiza que as novas plantas polêmicas recomendações é a prática cada agricultor o pratique de acordo devem ser produzidas em ambientes do vazio sanitário. O maracujazeiro é com seu interesse, por 30 ou 45 dias. protegidos com plástico por cima e plantado em Santa Catarina em agosto tela antiafídeo nas laterais, para evitar e a colheita segue até junho do ano Combatentes a entrada dos pulgões. É importante seguinte. Para evitar contaminação com também que esse viveiro conte com a virose do endurecimento do fruto, A Cooperja, cooperativa nascida uma antessala em que o produtor possa o ideal seria que a área dos pomares em Jacinto Machado e que reúne colocar as vestimentas adequadas para permanecesse sem nenhum cultivo agricultores de outros municípios não levar o vírus para dentro daquele por pelo menos 60 dias, eliminando do Sul Catarinense, dá o exemplo de ambiente reservado. E, de preferência, completamente o vírus da região. Como como entrar nesse combate. Délcio que seja longe do pomar. A Epagri também passou a recomendar que os agricultores optassem por mudas maiores, com 80 centímetros ou mais, na hora de renovar o pomar. Quanto menor a muda, mais suscetível ela está à doença. Com base nessas orientações, muitos agricultores passaram a produzir suas próprias mudas, e aqueles que continuaram adquirindo foram orientados a comprar só de quem obedecesse essas regras. Depois de plantar, é importante fazer inspeções frequentes no pomar, destruindo os maracujazeiros que manifestem sintomas da doença até a fase da floração. Também se recomenda manter o solo protegido por cobertura verde e usar no entorno do pomar plantas quebra-vento, que podem ser o capim-cameron ou até árvores. Esses Mobilização da cadeia produtiva, entre eles os atacadistas, foi a grande chave do sucesso vegetais formam uma barreira física

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 25 Vieira Macarini, engenheiro-agrônomo responsável pela fruticultura da Cooperja, conta que, para incentivar a adesão ao vazio sanitário, a cooperativa só recebe maracujá até 30 de junho. “Obrigatoriamente, depois desse período, os agricultores têm que eliminar o plantio, não pegamos maracujá de quem não eliminou a roça” relata o técnico. São 150 famílias do Sul do Estado e do Rio Grande do Sul que comercializam maracujá via Cooperja. Segundo Macarini, apesar de a fruta ter menor representação no faturamento da instituição, ela é importante porque permite diversificação das atividades Edinei Bendo, maior comprador da fruta no Sul do Brasil, foi peça importante no combate nas propriedades rurais dos cooperados. Outro importante combatente nessa luta é Edinei Marcelo Bendo, produtor e atacadista de maracujá, maior comprador da fruta no Sul do Brasil. Ele, que produz há 25 anos, foi um dos primeiros a plantar maracujá em Sombrio, onde tem 15 hectares cultivados, que toca com a família e arrendatários. Como atacadista, compra a produção de pelo menos 250 famílias e distribui cerca de 500 mil caixas por ano, com 12 quilos da fruta cada. Metade do que entrega vai para o Ceagesp, outros 40% são distribuídos para Belo Horizonte. O restante vai para praças como Rio de Janeiro, Curitiba, Florianópolis e Porto Alegre. Depois de perceber sintomas em Com apenas 24 anos, Moisés de Mattos Matias dá exemplo na adoção de manejos seus plantios em 2016, ele procurou a Epagri e entrou de cabeça na luta, distribuindo panfletos, promovendo reuniões e dando seu depoimento aos agricultores. “Deu muito bom resultado”, avalia Bendo, contando que na primeira safra muitos produtores, inclusive ele, resistiram em renovar o pomar com um ano. Hoje, 90% dos agricultores aderiram às recomendações da Epagri, calcula o produtor e atacadista. Ele espera que no próximo ano 100% dos agricultores tenham “abraçado a ideia” de combate à virose. Além de disseminar a informação, Bendo investiu alto na instalação de três viveiros, cada um com 15 por 39 metros. Nesse espaço, vai produzir 24 mil mudas, que pretende plantar em seus pomares em agosto de 2019. Com Moisés investiu R$50 mil na construção e adaptação de viveiros a colheita da safra 2019-20 ele espera

26 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 pagar o investimento de pelo menos boa produtividade, com cerca de 20 a tro de Socioeconomia e Planejamento R$90 mil. 22 toneladas por hectare, maior que a Agrícola da Epagri (Cepa). Com apenas 24 anos de idade, Moisés média nacional, que fica entre 12 a 14 O analista estima que a safra de Mattos Matias é um indicativo do que toneladas por hectare. 2018-19 de maracujá em Santa está por vir na produção de maracujá no Mesmo sem as condições climáticas Catarina aumente 20% em relação Sul Catarinense. Ele tem 7 hectares de ideais para produção, o Estado ao período anterior, quando o Estado pomar em Balneário Gaivota, que toca catarinense consegue ser o terceiro colheu 31.983 toneladas da fruta. A com a mãe e o pai. Também atua como maior produtor de maracujá do Brasil. produtividade média deve ficar em atacadista, distribuindo 150 mil caixas Conforme dados do IBGE, em 2017 Santa torno de 19 toneladas por hectare. O por safra, tudo para São Paulo. Catarina produziu 46.152 toneladas da Sul Catarinense será responsável por Moisés dá exemplo na adoção das fruta. O estado da Bahia foi o primeiro, aproximadamente 93% da produção. tecnologias de manejo. Mesmo antes com 170,9 mil toneladas, seguido pelo Os números mostram que vencemos do surto da virose do endurecimento Ceará, com 94,8 mil toneladas. Os a batalha, mas a guerra ainda não do fruto, já renovava seus pomares municípios catarinenses de São João está encerrada. Os técnicos da Epagri anualmente, com objetivo de aumentar do Sul e Sombrio estão entre os dez destacam que é preciso manter a a produtividade. “A única coisa que maiores produtores do País, sendo os vigilância constante contra a virose, mudou foi o tamanho da muda”, conta únicos da lista fora das regiões Nordeste perpetuando as tecnologias de manejo, ele, que agora inicia o cultivo com e Norte. de modo a impedir que a doença plantas de até 2 metros. “Quanto maior, Tamanha produtividade se deve, volte a se espalhar pelos pomares. mais previne a doença”, revela Moisés, entre outros motivos, à forte adesão Com exército treinado e armamento que também comemora a colheita dos produtores às tecnologias cria- calibrado, a Epagri confia num futuro antecipada – a partir de dezembro – das e difundidas pela Epagri. “Temos a cada vez mais promissor para o melhor graças a essa iniciativa. Para produzir tendência de ser líderes porque o nos- maracujá do Brasil. mudas tão grandes ele adaptou e so produtor é muito construiu viveiros em sua propriedade, afeito às novas tecno- num investimento de R$50 mil. logias. Começamos a Os resultados ele já está colhendo. falar em produção de Na safra 2018-19, vai produzir cerca muda em abrigo pro- de 26,5 toneladas por hectare, o que tegido em 2015. Na considera um bom volume, mas não o safra de 2017-18 já suficiente. Seu objetivo é chegar às 36 existia um estoque de toneladas por hectare que produzia 1 milhão de mudas em antes da doença. Já trilhou boa parte ambiente protegido. É desse caminho, uma vez que no auge da um produtor que quer virose do endurecimento do fruto viu tecnologia”, descreve a produtividade cair para 18 toneladas Petry. por hectare. Com um cresci- mento mais planeja- do, será possível tam- Mal para o bem bém evitar o colapso que o mercado cata- “A virose foi um mal que veio para rinense de maracujá nos fazer bem”, resume Petry. Sua enfrentou nos anos declaração, contraditória à primeira 2000 pelo excesso de vista, se justifica. Foi devido ao oferta. Além da forte surgimento da doença que a cadeia demanda da Região produtiva de maracujá se uniu no Sul Sudeste do Brasil pela de Santa Catarina, tonando-se mais fruta catarinense, o organizada e coesa. mercado internacio- Tal organização, com adoção nal de maracujá fresco das tecnologias recomendadas pela está em crescimento, Epagri, deve resultar num aumento de impulsionado pelo produtividade. O sonho do pesquisador aumento do consumo Petry é tornar Santa Catarina a de frutas exóticas na campeã nacional de produtividade Europa e nos Estados de maracujá, com 30 toneladas por Unidos, segundo ava- Mesmo sem as condições ideais, Santa Catarina é o terceiro hectare, em média. Atualmente os lia Rogério Goulart Ju- maior produtor de maracujá do Brasil cultivos catarinenses já alcançam uma nior, analista do Cen-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 27 REPORTAGEM Exótica, rentável e cheia de charme

Fruta originária das Américas, a pitaia é a nova oportunidade de negócio para os agricultores familiares catarinenses, que registram alta lucratividade com a cultura

Isabela Schwengber – [email protected]

o pé ou na gôndola do mercado, com a esposa Sônia e com o filho Ronal- Copervalesul, cooperativa com sede em ela não passa despercebida. A pi- do. “Com as vendas da primeira safra já Turvo, por exemplo, tem a pitaia como Ntaia – palavra de origem indígena paguei todo o investimento inicial”, diz. um dos produtos principais e sempre que significa fruta de escama – chama O cultivo comercial da pitaia em conseguiu novos mercados para a fruta, atenção dos brasileiros não apenas pelo Santa Catarina começou em 2010 e o produzida por 24 associados. A coope- visual: rica em antioxidantes, está na Estado já é o segundo maior produtor rativa, por incentivo da Epagri, recebeu lista de preferência dos consumidores brasileiro, perdendo apenas para São recursos para aquisição de câmaras frias de alimentos funcionais, aqueles que Paulo. Segundo dados do IBGE, em e com isso consegue fazer todo o pro- oferecem benefícios à saúde. Atentos a 2017 o Estado produziu 328,4 tonela- cesso de pós-colheita: seleção e padro- essa demanda, produtores rurais catari- das, 270 delas somente em municípios nização das frutas, armazenamento e nenses estão investindo no cultivo e se do Sul Catarinense, onde Turvo lide- comercialização”, relata Reginaldo. surpreendendo com o rendimento que ra a produção. Naquele ano havia 120 A nutricionista Cristina Ramos, - ex a cultura vem gerando. propriedades rurais em Santa Catarina tensionista da Epagri de Florianópolis, Segundo o coordenador de fruticul- produzindo a fruta – 80 somente no Sul acredita que a procura pela pitaia se tura da Epagri no Sul do Estado, enge- nheiro-agrônomo Reginaldo Ghellere, o do Estado. Os números são expressivos, deve muito por conta das diferentes produtor consegue vender o quilo por embora a fruta ainda seja desconhecida substâncias com atividade antioxidante até R$8. Levando em conta os gastos por muita gente. que a fruta possui: vitamina C na polpa, com a produção, o rendimento é sig- Ghellere destaca que a Epagri atua betalaína na casca e polifenóis na ante- nificante, como relata Sérgio Cibien, na organização dos produtores de pitaia casca. “Substâncias antioxidantes são do município de Turvo, no Sul de Santa desde que eles se interessaram pela usadas na prevenção e no tratamento Catarina. De cada mil reais obtidos com cultura, seja para trocas de experiên- de algumas doenças, como câncer, do- a venda da fruta, R$700 ficam com a cias, capacitação, orientação técnica enças cardiovasculares e Alzheimer”, família. Há sete anos ele cultiva pitaia ou para melhorar a comercialização. “A explica a extensionista.

28 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 do, mas precisava de muito veneno pra produzir”, diz ela, que cultiva mil pés de pitaia em sociedade com a irmã Maria, 61, há sete anos. Os principais problemas que o cul-

Foto: Aires Mariga/Epagri Aires Foto: tivo da pitaia enfrenta são os ataques da formiga cortadeira – que ataca flor, fruto e broto – e da abelha nativa, que consome o pólen e não poliniza. Uma das soluções indicadas por Alessandro é usar repelente natural. Ao demandar poucos tratos cultu- rais, o cultivo da pitaia é considerado leve pelos agricultores familiares. As irmãs de Criciúma confirmam. “Tra- balhamos com a cultura de segunda a quinta-feira. O serviço é leve e tranqui- lo. Corrido mesmo é só na colheita, pois A pitaia é um cacto perene com polpa delicada, rica em vitamina C tem dia certo para que a fruta esteja no ponto”.Corrido ou não, elas não deixam de tratar a pitaia com delicadeza: assim do Sul existem produtores que cultivam Características que colhidas, as frutas são acomodadas a pitaia amarela em estufa”, conta Ales- em um carrinho de mão com todo o cui- sandro. A Colômbia e o México são os prin- dado para não bater. cipais produtores mundiais, mas países Por ser uma planta rústica, a pitaia asiáticos como Indonésia e Vietnã tam- demanda poucos tratos culturais e se dá bém possuem grandes produções de pi- muito bem em sistema orgânico. Esse é Cultivo taia. A planta é um cacto e a fruta tem a um dos motivos que têm levado os pro- polpa delicada, leve e refrescante, lem- dutores catarinenses a trocar outras cul- De acordo com Alessandro, o pri- brando um pouco o kiwi. Sua produção turas pela fruta, como aconteceu com a meiro passo para quem deseja produzir vai de dezembro a abril. agricultora Teresinha Picolo, 63 anos, pitaia é fazer a análise do solo. Com o Segundo o pesquisador da Estação de Criciúma, que plantava maracujá. resultado em mãos, avalia-se a neces- Experimental da Epagri em Itajaí, enge- “O maracujá tinha um excelente merca- sidade de calagem, pois o pH deve ser nheiro-agrônomo e biólogo Alessandro Borini Lone, as espécies mais comuns são as Hylocereus undatus (frutos com casca vermelha e polpa branca), Hylo- cereus polyrhizus (frutos com casca e polpa vermelhas) e Hylocereus mega-

lanthus (frutos com casca amarela e Lidiane Camargo/Epagri Foto: polpa branca). No Brasil há uma espécie nativa, a Selenicereus setaceus (pitaia do cerrado), que se diferencia por ser bem menor, de 40 a 70g, enquanto as espécies do gênero Hylocereus podem ultrapassar um quilo. A pitaia é uma planta perene. A maioria das espécies é originária de florestas úmidas, adaptando-se bem a ambientes quentes e úmidos. “A única precaução quanto a fatores climáticos é As flores duram apenas uma noite: abrem por volta das 22h e fecham em torno das a incidência de geada, que pode matar 9h do dia seguinte a planta. Por conta disso, no Rio Grande

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 29 próximo de 6. O plantio é realizado na de 60 a 90 dias e só depois plantadas lanque ao ano, dividida em duas a três primavera ou no verão e deve ser fei- no campo. “Alguns produtores utilizam vezes no ano”, diz. Outra orientação é to junto a um palanque onde a planta o plantio das estacas direto no campo, fazer a poda dos ramos (chamados de possa se fixar, já que é uma trepadeira. mas pode ocorrer alguma mortalidade cladódios) que ficam por baixo, pois fi- A recomendação do pesquisador é que por condições climáticas ou ataque de cam sombreados e são improdutivos. A seja de concreto. “Tem muito produtor pragas”, explica o pesquisador. sugestão é deixar de 50 a 55 cladódios que usa palanque de madeira, mas a O espaçamento recomendado para em cada palanque. durabilidade é pequena e a substituição o plantio das mudas é de três metros Para garantir maior pegamento, é muito trabalhosa, pois a copa chega a entre linhas e de dois a três metros melhor qualidade das frutas e conse- pesar 300kg depois de formada”. entre palanques na fila, e no máximo quentemente maior produtividade, Ele também orienta deixar o palan- quatro estacas por palanque. Na parte Alessandro aconselha fazer a poliniza- que entre 1,5m e 1,8m para fora do de cima do palanque a orientação é ter ção manual. “Uma vez que a formação solo, para facilitar a colheita, e uns 50cm uma estrutura para suportar o peso da das sementes vem da fecundação dos aterrado. “No entorno desse palanque copa, que pode ser feita de arame, ver- óvulos, quanto maior o número de óvu- o solo deve ficar mais alto para que a galhão ou pneu de moto. los fecundados, maior será o número base da planta fique mais elevada, de O pesquisador lembra que, ao se op- de sementes e maior será o tamanho forma a não acumular água em volta. O tar por uma planta de cobertura, não se do fruto. Nesse contexto, a polinização encharcamento pode causar podridão pode preparar o solo, pois a pitaia tem manual é importante para garantir uma na base da pitaia”, alerta o pesquisador. raízes superficiais. As irmãs Teresinha e quantidade adequada de pólen que, por O plantio pode ser feito por semen- Maria têm usado a aveia e o azevém. sua vez, fecunde um número grande de te ou por muda, com estacas de 20 a A extensionista de Criciúma que presta óvulos”, explica o pesquisador. 50cm. Alessandro explica que comer- assistência às agricultoras, engenheira- A polinização manual é simples: com cialmente o segundo método é o mais agrônoma Lidiane Camargo, orienta o a flor aberta, pode-se agitar as anteras comum, pois o tempo para produção uso da cobertura vegetal para aumen- com os dedos e coletar o pólen com varia de dois a quatro anos, a metade tar a fertilidade do solo, evitar erosão um recipiente, que pode ser qualquer do que levaria se o plantio fosse pela e promover a saúde da lavoura. “Todos tipo de pote. Com o pólen coletado, semente. esses benefícios vão resultar em plantas utiliza-se um pincel de cerdas macias Ele recomenda a produção das mu- mais produtivas”, diz. para transferi-lo do pote para o estigma das através da utilização de estacas em Alessandro comenta que ainda não (parte feminina da flor). Mas o produtor embalagens contendo substrato comer- existe recomendação para a aduba- rural não pode dormir no ponto, pois as cial para a produção de mudas ou terra ção da pitaia em condições brasileiras. flores duram apenas uma noite: abrem adubada. As mudas devem ser manti- “O que a gente indica é a aplicação de por volta das 22h e fecham em torno das em viveiro ou casa de vegetação cama de aves, entre 20 a 40kg por pa- das 9h da manhã seguinte. Foto: Aires Mariga/Epagri Aires Foto:

As frutas com casca vermelha e polpa branca ou vermelha são as mais produzidas no País

30 Foto: Aires Mariga/Epagri Aires Foto:

O cultivo da pitaia é considerado leve pelas irmãs Teresinha e Maria

O bom é que as espécies de casca manual – se dá quando a casca começa re é possível a instalação de mais de vermelha têm normalmente quatro pi- a mudar de cor. 1,6 mil palanques. Considerando que cos de floração e, portanto, quatro mo- cada um possa ter quatro mudas, serão mentos de produção. O prazo de matu- Alternativa para os pequenos mais de seis mil plantas. Nessas condi- ração dessas frutas é de 30 dias, en- ções, cada pé pode produzir até 5kg, quanto as de casca amarela demoram A pitaia é capaz de produzir muito chegando a uma produtividade de até 30 mil kg/ha. Isso acaba atraindo os até 90 dias. O ponto de colheita – que é em uma pequena área. Em um hecta- agricultores familiares, como Lindomar Darabas, de Içara, também no Sul do Es- tado. Ele começou a produção orgânica em 2014 com mil pés. “Está sobrando comprador”, diz ele, que está tão ani- mado com o negócio que em 2018 plan- tou mais 500 mudas.

Foto: Aires Mariga/Epagri Aires Foto: Atualmente Lindomar comercializa a produção por meio da Copervalesul a um preço de até R$8 o quilo. O inves- timento inicial foi de R$30 mil com a estrutura e com as mudas. Na segunda safra já pagou todo o investimento. Ele trabalha com a esposa Rosana e o filho Luan, que também cultiva milho e ma- racujá. A colheita é manual e se dá quando a casca começa a mudar de cor Já o produtor Sérgio Cibien usa cerca de 7 mil m² para cultivo de 2,5 mil pés de pitaia. O investimento inicial foi de

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 31 R$35 mil. Ele calcula uma produtividade anual de 25 toneladas por hectare e diz que não aumenta a produção porque quer manter a atividade somente com a família, sem contratar funcionários. Ghellere ressalta que as plantas de Mariga/Epagri Aires Foto: pitaia estabilizam sua produção a par- tir do terceiro ano após o plantio e que muitas áreas na região têm menos de três anos. “Portanto, os preços pagos aos produtores devem reduzir com o aumento da oferta da fruta”, diz. Antes de iniciar a atividade, ele orienta o agri- cultor a planejar muito bem qual será o mercado que pretende alcançar para di- minuir os riscos de se frustrar no futuro. Além de ser base para bebidas, a polpa da pitaia é usada em corantes de alimentos, O pesquisador Alessandro acredita cosméticos, sorvetes, geleias e iogurtes que o mercado da pitaia pode melhorar a partir da oferta de materiais genéticos melhorados. “Temos muitas variedades com baixos teores de açúcares, o que não agrada muito o paladar do brasilei- ro. Pesquisas em melhoramento podem beneficiar muito os agricultores familia- res, que vão poder oferecer frutos mais Mariga/Epagri Aires Foto: doces”, diz. Ele lembra que Israel é o centro de pesquisa sobre a pitaia e que no Brasil a Embrapa também vem tra- balhando no desenvolvimento de novas variedades. Se para o consumo in natura a pre- ferência do consumidor é de frutas mais doces, para a indústria isso parece não ter importância. A polpa da pitaia tem se mostrado muito versátil, principal- Lindomar está tão animado com o negócio que em 2018 plantou mais 500 mudas mente a vermelha: vem sendo usada em corante de alimento e transformada em cosmético, sorvete, bebidas destila- das e fermentadas, refrigerante, geleias e iogurte. O agricultor Sérgio já está de olho nesse mercado. “Penso que a coope-

rativa pode estimular os agricultores Mariga/Epagri Aires Foto: familiares a investir no processamento da fruta, buscando parcerias com insti- tuições como a Epagri para capacitação e abertura de agroindústrias, pois a fru- ta já mostrou que tem muito potencial para industrialização”, afirma. Ele já se adiantou e construiu uma cantina para produção de vinho de pitaia, que a cada ano vem sendo melhorado. A Epagri permanece ao lado do produtor e com ele espera brindar os resultados do pro- Sérgio e Sônia produzem vinho de pitaia, que a cada ano vem sendo melhorado duto inovador.

32 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 INFORSEÇÃOMA TÉCNICOTIVO TÉCNICO-CIENTÍFICA

Informativo técnico Quadro de controle reprodutivo no manejo da propriedade leiteira 32 Breeding Wheel in the dairy farm management Lucio Pereira Rauber, Renan Farina e Larissa Rafaeli Izolan Flutuação populacional e controle de pragas: estudos de caso com pragas de arroz irrigado 35 Population fluctuation and pest control: studies with irrigated rice pests Eduardo Rodrigues Hickel, Douglas George Oliveira, Domingos Sávio Eberhardt e Rene Kleveston Métodos de seleção de plantas de maracujazeiro-azedo para a produção de sementes 40 Selection of sour passion fruit plants for seed production Diego Adílio da Silva, Henrique Belmonte Petry, Emílio Della Bruna e Alexsander Luís Moreto Nota Científica Primeiro registro do ácaro-vermelho-das-palmeiras Raoiella indica em Santa Catarina, Brasil 43 First record of the red palm-mite Raoiella indica in the Santa Catarina State, Brazil Ildelbrando Nora, Eduardo Rodrigues Hickel e Fábio Martinho Zambonim Crescimento, floração e frutificação de oliveiras jovens em altitude intermediária do Oeste de Santa Catarina, Brasil 46 Young olives growth, flowering and fruiting in mid-altitude in the west of Santa Catarina, Brazil Eduardo Cesar Brugnara Germoplasma ‘SCS437 Catarina’: Maracujá-azedo de alta qualidade para o mercado de mesa 49 ‘SCS437 Catarina’: Sour passion fruit with high quality for the fresh market Henrique Belmonte Petry, Emilio Della Bruna, Alexsander Luís Moreto, Ademar Brancher e Márcio Sônego Novo cultivar catarinense de azevém-anual: SCS316 CR Altovale New annual ryegrass-annual cultivar SCS316 CR Altovale 53 Ana Lúcia Hanisch, Ulisses de Arruda Córdova, Jefferson Araújo Flaresso, Dediel Junior Amaral da Rocha, Humberto Bicca Neto e Edison Xavier de Almeida Artigo científico Esterilidade de espiguetas e produção de grãos de genótipos de arroz irrigado submetidos a baixas temperaturas na microsporogênese 57 Spikelet sterility and grain production of paddy rice genotypes submitted to low temperatures at microsporogenesis Francieli Weber Stürmer, Rubens Marschalek, Luis Sangoi e Natália Maria de Souza Validação de um sistema de previsão para a pinta preta na produção integrada do tomateiro 62 Validation of a predictive system for the early blight in the integrated production of tomato Walter Ferreira Becker Comportamento agronômico de porta-enxertos de videira com resistência ao declínio de plantas jovens nas condições do estado de Santa Catarina 68 Agronomic behavior of grape rootstocks resistant to young vine decline in the conditions of Santa Catarina State, Brazil Marco Antonio Dalbó e Nelson pires Feldberg Cigarrinhas-das-pastagens em Santa Catarina: avaliação do complexo de espécies e da incidência natural de fungos entomopatogênicos 73 Spittlebugs in Santa Catarina State, Brazil: assessment of pest species complex and natural incidence of entomopathogenic fungi Leandro do Prado Ribeiro e Angélica Ribolli Cazarotto Efeito da desalcoolização parcial de vinhos tintos finos através da liofilização 80 Effect of partial de-alcoholization of fine red wines through lyophilization João Felippeto, Francieli Artismo e Alberto Fontanella Brighenti

Emissão de CO2 do solo pela aplicação de fertilizantes orgânicos e minerais em ambiente controlado CO emission from soil under application of organic and mineral fertilizers in controlled conditions 86 2 Augusto Friederichs, Walter Santos Borges Júnior, Diego Fernando Roters e Álvaro Luiz Mafra Revisão bibliográfica Criopreservação: uma ferramenta para conservação de recursos genéticos de videira 92 Cryopreservation: a tool for conservation of grapevine genetic resources Jean Carlos Bettoni

33 INFORMATIVO TÉCNICO Quadro de controle reprodutivo no manejo da propriedade leiteira Lucio Pereira Rauber¹, Renan Farina² e Larissa Rafaeli Izolan²

Resumo – O gerenciamento reprodutivo através da anotação dos dados do rebanho possibilita identificar falhas de manejo, permitindo que medidas possam ser tomadas a fim de corrigi-las. O objetivo desta nota é apresentar o quadro de controle reprodutivo, tanto na forma física quanto virtual, para o gerenciamento de pequenas propriedades rurais produtoras de leite e explicar seu funcionamento. O quadro permite categorizar cada vaca de acordo com sua fase produtiva, facilitando a visualização do animal no rebanho e os cuidados que se deve ter em cada fase, o que permite alertar o produtor aos eventuais problemas reprodutivos. O quadro é acessível e aplicável à realidade das pequenas propriedades leiteiras de Santa Catarina.

Termos de indexação: Balde Cheio; detecção de cio; intervalo entre partos.

Breeding Wheel in the dairy farm management

Abstract – Reproductive management by recording herd data enables the identification of failures in the management, allowing corrective measures to be taken. The purpose of this note is to present the Breeding Wheel control framework, both in physical and virtual form, for the management of small dairy farms and to explain its functioning. The Wheel allows each cow to be categorized according to its productive phase, facilitating the visualization of the animal in the herd and the care procedures that must be taken in each phase, which makes it possible to alert the producer to possible reproductive problems. The framework is accessible and applicable to the reality of small dairy farms in Santa Catarina.

Index terms: Balde Cheio; estrus detection; calving interval.

Introdução Já os pequenos agricultores tendem O quadro ou roda da reprodução a escolher tecnologias que tragam Pressupõe-se que as vacas devam benefícios imediatos e que sejam fáceis O quadro de controle reprodutivo parir em intervalos regulares de um ano, de implementar (MARTÍNEZ-GARCÍA et (breeding wheel) é uma ferramenta e é de conhecimento que os melhores al., 2015). simples e de baixo custo que foi adotada índices de fertilidade são obtidos com A adoção de tecnologias permite pelo programa “Balde Cheio”, criado em serviços a partir dos sessenta dias que os agricultores tenham acesso a 1998 (NOVO et al., 2017) pela Embrapa pós-parto (LEITE et al., 2001; RIBEIRO fontes de dados que podem ajudar a Pecuária Sudeste (SP). Entretanto, o et al., 2012), o que significa um melhorar a saúde e o bem-estar do programa ainda é pouco empregado período relativamente curto do parto rebanho (BARKEMA et al., 2015). Os em propriedades catarinenses. Lançado à concepção. Algumas enfermidades softwares de gerenciamento são as em 2016 (GESTÃO, 2016), o aplicativo puerperais e metabólicas, bem como ferramentas mais utilizadas, porém a para celular do quadro de controle deficiente detecção de cio, podem grande maioria trabalha em sistema de reprodutivo está se popularizando, causar a baixa fertilidade, prolongando prestação de serviço ao produtor, tendo principalmente entre os jovens no meio o intervalo parto-concepção e maior custo de manutenção apesar da rural. aumentando o descarte involuntário de eficiência. Além disso, os produtores e animais (SANTOS & RIBEIRO, 2014). seus consultores devem ser treinados O gerenciamento reprodutivo Como funciona possibilita identificar quais áreas na interpretação de dados e no uso do sistema de produção possuem de listas de ação geradas por essas O quadro possui uma base fixa e um deficiências, permitindo que medidas tecnologias (BARKEMA et al., 2015). círculo móvel central com divisões que possam ser tomadas a fim de corrigi- Tendo conhecimento disso, esta correspondem aos meses e dias do ano las (RIBEIRO et al., 2012; FARINA et nota tem como objetivo apresentar (Figura 1A). Ele deve ser instalado em al., 2017). Produtores com rebanhos uma opção simples de gerenciamento local com acesso diário do produtor, maiores adotam tecnologias mais do rebanho leiteiro e, principalmente, de forma que possa alimentá-lo e que precisas como softwares de manejo aplicável às pequenas propriedades sempre esteja atento às atividades com de rebanho (GARGIULO et al., 2018). rurais de Santa Catarina. os animais. Os animais são divididos

Recebido em 14/6/2018. Aceito para publicação em 10/9/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.1 ¹ Médico-veterinário, Dr., Instituto Federal Catarinense Campus - Concórdia, rod. SC 283 km 17, bairro Fragosos, 89703-720 Concórdia, SC, fone: (49) 3441- 4889, e-mail: [email protected]. ² Acadêmico(a) do curso de medicina veterinária, IFC-Concórdia, e-mail: [email protected]; [email protected]

34 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.32-34, maio/ago. 2019 em quatro categorias: vacas paridas identificadas com ímã vermelho, vacas inseminadas com ímã amarelo, vacas prenhes com ímã azul e vacas secas com ímã verde. E ímã cinza para novilhas. O produtor escreve a identificação do animal no próprio ímã. Na base fixa do quadro existem zonas nas cores vermelha, amarela, azul e verde correspondendo à categoria. Na zona vermelha da base encontram- se os marcos “HOJE” referentes à data atual, e os marcos de 21, 42, 63 e 84 dias pós-parto (Figura 1B). A vaca entra no sistema recebendo o ímã vermelho no dia em que parir, sendo fixado na indicação “HOJE”. A cada dia a roda gira no sentido horário, fazendo o animal progredir no quadro. Quando o animal atinge os marcos 21, 42, 63 e 84 pós- parto, o produtor deve prestar atenção, pois eles se referem às possíveis datas para a vaca apresentar cio. Para uma vaca ter uma cria por ano, deve emprenhar em até 85 dias pós-parto, ou seja, ter até quatro inseminações. Portanto, é recomendado que um veterinário realize o exame ginecológico das vacas após o primeiro cio e antes de Figura 1. Representação do quadro de controle reprodutivo liberá-las para a primeira inseminação. Figure 1. Representation of the reproductive control chart Na primeira inseminação a vaca tem o ímã trocado para a cor amarela e pula para o dia 84, indicado no os manejos pré-parto. contagem de quantas inseminações quadro como “COBERTURA” (Figura Após o parto fecha-se o ciclo, e a foram necessárias para emprenhar o 1C), independentemente da data da vaca volta a receber o ímã vermelho. animal. inseminação. Um ímã vermelho na faixa As novilhas, que têm sua gestação Por isso é tão importante que o amarela indica que a vaca não foi vista confirmada, recebem um ímã na produtor mantenha todos os dados e em cio ou não foi inseminada, sugerindo cor cinza que é fixado junto à data eventos anotados em uma caderneta a necessidade de um exame mais em que ocorreu a inseminação. O ou planilha. Os índices como “dias aprofundado. Ainda na faixa amarela, quadro mostra-se eficiente dentro em aberto”, “dias em leite”, “número entre quarenta e sessenta dias após a das pequenas propriedades leiteiras de inseminações por concepção” inseminação, é indicado o momento de pois é uma ferramenta que pode ser e “intervalo entre partos” não são se fazer o diagnóstico de gestação das manuseada por qualquer pessoa que calculados pelo quadro. Para tanto, o vacas que não retornaram ao cio. esteja envolvida na rotina do rebanho. produtor deve ter os dados como dia A vaca com prenhez positiva recebe do parto, dia dos cios, das inseminações o ímã na cor azul, mesmo ainda estando Pontos críticos e diagnóstico de gestação anotados. na faixa amarela, e sem saltar no Fichas individuais para cada animal quadro. Sessenta dias pós-inseminação, devem ser implantadas na propriedade O salto que a vaca faz para o dia 84 a faixa da base do quadro passa a ser e estas podem variar de acordo com a causado pela inseminação pode gerar da cor azul. Um ímã amarelo na faixa necessidade. azul indica que a vaca não passou pelo confusão. Com esta manobra, não fica diagnóstico de gestação. O ímã azul mais visível os “dias em aberto”, ou seja, permanece até sessenta dias antes a contagem dos dias em que a vaca Plataforma digital “Roda da do parto, marco no qual a vaca passa está vazia. Outra falha é referente ao Reprodução” a usar o ímã da cor verde e onde o número de inseminações realizadas. Se quadro indica que ela deve ser seca. A a vaca retornar ao cio e for inseminada No intuito de ampliar o uso da faixa verde também indica, trinta dias novamente, ela também volta para metodologia de gerenciamento do antes do parto, o momento de realizar o dia 84 e o produtor pode perder a rebanho leiteiro, em 2016 a Embrapa

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.32-34, maio/ago. 2019 35 Pecuária Sudeste (SP) lançou o à internet e conhecimento básico para herd sizes adopt more precision dairy aplicativo gratuito de celular “Roda usá-lo. technologies. Journal of Dairy Sciences, da Reprodução”, seguindo os mesmos O aplicativo “Roda da Reprodução” Champaign, v. 101, n. 6, p. 5466-5473, 2018. moldes do quadro físico (GESTÃO, 2016). é uma alternativa eficiente e viável O aplicativo já foi instalado em mais de para gerenciar os dados do manejo, EMBRAPA. GESTÃO do rebanho leiteiro 10 mil aparelhos e possui excelente possibilita maior facilidade de registro e ganha aplicativo. Embrapa. Brasília, DF. avaliação pelos usuários. Em 2018 o portabilidade, além de acesso rápido ao 23 ago. 2016. Disponível em: https://bit. aplicativo foi atualizado e incorporada histórico de cada animal da propriedade ly/2cLeLqi. Acesso em: 18 ago. 2017. a ferramenta “Roda do Crescimento” e o envio das informações ao técnico LEITE, T.E.; MORAES, J.C.F.; PIMENTEL, C.A. onde o produtor pode lançar os dados ou veterinário. O quadro de controle Eficiência produtiva e reprodutiva em vacas das bezerras. Nesta versão ainda há a reprodutivo gera uma informação leiteiras. Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n. opção de importar os dados de outras visual, fazendo com que o produtor 3, p. 467-472, 2001. bases, facilitando a inserção do rebanho foque a atenção nos eventos e animais, no aplicativo. é de baixo custo, de fácil manuseio e MARTÍNEZ-GARCÍA, C.G.; UGORETZ, S.J.; O aplicativo é de fácil manuseio e compreensão, entretanto, não dispensa ARRIAGA-JORDÁN, C.M.; WATTIAUX, M.A. oferece funcionalidades como agenda o uso das anotações. Farm, household, and farmer characteristics para cadastro dos animais, controle associated with changes in management do ciclo dos estágios produtivo e Referências practices and technology adoption among reprodutivo. Basta consultar os animais dairy smallholders. Tropical Animal Health cadastrados, incluir filtros de pesquisa BARKEMA, H.W.; VON KEYSERLINGK, M.A.; and Production, v.47, p.311–316, 2015. por categoria e compartilhar as KASTELIC, J.P.; LAM, T.J.; LUBY, C.; ROY, J.P.; informações com empregados ou outros LEBLANC, S.J.; KEEFE, G.P.; KELTON, D.F. NOVO, A.L.M.; CAMARGO, A.C.; MORI, produtores por e-mail ou programas Invited review: changes in the dairy industry C.; PALHARES, J.C.P.; VINHOLIS, M.M.B.; de mensagem (GESTÃO, 2016). No affecting dairy cattle health and welfare. BARIONI JÚNIOR, W. Relatório 2016: Dados entanto, alguns pontos poderiam ser Journal of Dairy Science, Champaign, v. 98, zootécnicos, econômicos e de uso de melhorados, como um login virtual e n. 11, p. 7426-7445, 2015. tecnologia, Projeto Balde Cheio – Minas a possibilidade de fazer backup das Gerais. São Carlos: Embrapa Pecuária informações do rebanho em um banco FARINA, R.; SECCO, R.; SPAGNOL, A.B.; Sudeste, 2017. 63 p. de dados disponível ao produtor em FRIGO, M.E.; PIVATTO, R.A.; PAPPEN, F.G.; outras plataformas digitais a fim de RAUBER, L.P. Implantação do Quadro RIBEIRO E.S.; GALVÃO K.N.; THATCHER W.W.; assegurar as informações do rebanho. Reprodutivo no setor de zootecnia do IFC SANTOS J.E.P. Economics aspects of dairy Observou-se também a ausência de campus Concórdia. In: SIMPÓSIO DO LEITE reproductive Technologies to dairy herds. notificações de atividades a serem – 8º FÓRUM NACIONAL DE LÁCTEOS - 6ª Animal Reproduction, Belo Horizonte, v. 9, realizadas em determinado dia, como MOSTRA DE TRABALHOS CIENTÍFICOS, 14., n. 3, p.370-387, 2012. possível retorno ao cio, diagnóstico 2017, Erechim. Anais […]. Erechim: Simpósio SANTOS, J.E.P.; RIBEIRO, E.S.; Impact of de gestação, secagem e provável data do Leite, 2017. p. 1-3. do parto. Sem contar que o produtor animal health on reproduction of dairy deve ter um aparelho eletrônico que GARGIULO, J.I.; EASTWOOD, C.R.; GARCIA, cows. Animal Reproduction, Belo Horizonte, suporte o programa, bem como acesso S.C.; LYONS, N.A. Dairy farmers with larger v. 11, n. 3, p.254-269, 2014.

36 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.32-34, maio/ago. 2019 INFORMATIVO TÉCNICO Flutuação populacional e controle de pragas: estudos de caso com pragas de arroz irrigado Eduardo Rodrigues Hickel1, Douglas George Oliveira2, Domingos Sávio Eberhardt3 e Rene Kleveston4

Resumo – Os estudos de flutuação populacional são muito importantes para o controle de pragas, pois fornecem informações fundamentais sobre quando e em que intensidade determinado organismo nocivo pode surgir nas lavouras, propiciando, assim, uma maior exatidão na aplicação de medidas de controle. A flutuação populacional da bicheira-da-raiz (Oryzophagus oryzae), do percevejo-do-grão (Oebalus spp.) e da lagarta-boiadeira (Nymphula spp.) em lavouras de arroz irrigado foram relacionadas à prática desse cultivo. Para essas espécies, medidas de controle podem ser planejadas e implementadas com base nos estudos de flutuação populacional.

Termos para indexação: monitoramento; dinâmica populacional; Oryzophagus oryzae; Oebalus spp.; Nymphula spp.

Population fluctuation and pest control: studies with irrigated rice pests

Abstract – Population fluctuation studies are very important for pest control, since they provide fundamental information on when and in what intensity a harmful organism can arise in crops, thus providing a greater accuracy in the application of control measures. The population fluctuation of the South American rice water weevil (Oryzophagus oryzae), of the rice stink bug (Oebalus spp.), and of the rice caseworm (Nymphula spp.) in irrigated rice fields were related to the crop management. For these species, control measures can be planned and implemented based on population fluctuation studies.

Index terms: monitoring; population dynamics; Oryzophagus oryzae; Oebalus spp.; Nymphula spp.

Introdução ção populacional (HICKEL et al., 2007). períodos, relacionando-os com a prática Outra característica, é que as mesmas de cultivo do arroz irrigado, para orien- As variações verificadas na ocorrên- tendências na flutuação populacional tar sobre as estratégias de controle, es- cia dos organismos vivos há muito rece- são verificadas em locais com condições pecialmente a racionalização do contro- bem a atenção dos estudiosos de ento- ambientais semelhantes (POLTRONIERI le químico. mologia agrícola e são foco dos estudos et al., 2008), de modo que é possível fa- de flutuação populacional (HICKEL et al., zer extrapolações regionais a partir de Estudo de caso 1: bicheira- 2007). Para a produção agrícola, esses estudos locais. da-raiz, Oryzophagus oryzae estudos fornecem informações funda- Os estudos de caso apresentados a mentais sobre quando e em que inten- seguir têm por base o monitoramento (Costa Lima) (Coleoptera: sidade determinado organismo nocivo de pragas do arroz irrigado com armadi- Curculionidae) pode surgir nas lavouras, propiciando, lhas luminosas, executado desde a safra assim, uma maior exatidão na aplicação 2007/2008 na Estação Experimental da Na flutuação populacional de adul- das medidas de controle (LOGAN & AL- Epagri (EEI), em Itajaí, SC, e no período tos, ressaltam-se dois momentos im- LEN, 1992). das safras de 2012/2013 a 2015/2016 portantes na coleta de indivíduos (Fi- Uma característica peculiar dos es- no Centro de Treinamento da Epagri em gura 1). O primeiro está em meados de tudos de flutuação populacional é que Araranguá, SC (Cetrar). Convém salien- outubro e reflete a movimentação de o tempo, diretamente, não determina tar que as linhas médias apresentadas adultos dos locais de hibernação para as o número de indivíduos da população. (onze safras em Itajaí e quatro em Ara- lavouras (visto que a armadilha lumino- O tempo sempre avança, ao passo que ranguá) tendem a reduzir a amplitude sa captura insetos em voo). O segundo a população oscila para mais ou para das oscilações populacionais, porém in- momento vai de meados de dezembro menos. Assim, a visualização da varia- dicam com maior precisão os períodos ao final de fevereiro e reflete o retorno ção do número de indivíduos no tem- de ocorrência dos indivíduos. dos adultos das lavouras para os locais po não traduz as reais causas da varia- Assim, o objetivo é analisar esses de hibernação. Em média, a ocorrência

Recebido em 6/6/2018. Aceito para publicação em 20/9/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.2 1 Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri / Estação Experimental de Itajaí, C.P. 277, 88301-970 Itajaí, SC, fone: (47) 3398-6337, e-mail: [email protected] 2 Engenheiro-agrônomo, Epagri / Centro de Treinamento de Araranguá, 88900-000 Araranguá, SC, fone: (48) 3529-0311, e-mail: douglasoliveira@epagri. sc.gov.br 3 Engenheiro-agrônomo, MSc, Epagri / Estação Experimental de Itajaí (aposentado), e-mail: [email protected] 4 Engenheiro-agrônomo, MSc, Epagri / Centro de Treinamento de Araranguá (aposentado), e-mail: [email protected]

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.35-39, maio/ago. 2019 37 de adultos em meados de outubro é 6000 ü bem inferior àquela verificada a partir Itajaí (média de 2007/08 a 2017/18) 4000 População larval (1979/80) 80

de meados de dezembro (Figura 1). Isso ) o 2000 40 mostra que, embora a população que ü 12 infesta as lavouras seja relativamente baixa, ela tem grande potencial de mul- ü ü tiplicação (HICKEL et al., 2013). (n Indivíduos Em Araranguá, há dois picos popu- perfilhos Larvas/10 20/ago 17/set 15/out 12/nov 10/dez 07/jan 04/fev 04/mar 01/abr 29/abr 25/mai lacionais na época de abandono das 6000 lavouras (Figura 1), e isso talvez resulte Araranguá (média de 2012/13 a 2015/16) 4000 da prática do cultivo orgânico no Cetrar, ) o 2000 cujas lavouras são semeadas no final do ü período de plantio (novembro) (Tabela ü 1). Assim, o primeiro pico corresponde- ü ria à população gerada nas lavouras vizi- (n Indivíduos nhas (semeadas mais cedo), e o segun- 22/ago 19/set 17/out 14/nov 12/dez 09/jan 06/fev 06/mar 03/abr 01/mai 29/mai do pico à população gerada na própria Tempo (dia) área do Cetrar. O momento de maior ocorrência Figura 1. Flutuação populacional média de adultos e larvas de Oryzophagus oryzae em de larvas (linha verde) vai do início de Itajaí, SC, nas safras de 2007/2008 a 2017/2018, e de adultos em Araranguá, SC, nas safras de 2012/2013 a 2015/2016 novembro a meados de dezembro e Figure 1. Mean population fluctuation of adults and larvae of Oryzophagus oryzae in Itajaí, coincide com a redução da ocorrência SC, in 2007/08 to 2017/18 seasons and adults in Araranguá, SC, in 2012/13 to 2015/16 de adultos nas lavouras (Figura 1). Cabe seasons. ressaltar que, mesmo que o monitora- Nota: A linha de larvas (verde) é do monitoramento executado na safra 1979/80 (SCHMITT & MIURA, mento de larvas tenha sido executado 1981). Note: The larval line (green) is from monitoring in 1979/80 season (SCHMITT & MIURA, 1981). há mais de 38 anos, ele ainda se adéqua à flutuação populacional de adultos nos Em segundo lugar porque boa parte nativa. Depois, deve-se observar ou dias de hoje. dessa população será eliminada natu- monitorar a população de adultos nas Esses momentos revelam que até o ralmente durante a hibernação, sendo quadras a partir de outubro e, se for o início de outubro haverá pouca chance que cerca de 20% dela retornará apenas caso, decidir pela pulverização de inse- de se ter lavouras infestadas por bichei- na safra seguinte. ticida na época do controle de plantas ra-da-raiz (larvas). A saída dos adultos Isto posto, a orientação técnica daninhas. É preciso continuar observan- dos locais de hibernação não depende para equacionar o controle químico do a lavoura e, a partir de meados de de que haja lavouras plantadas, mas do da bicheira-da-raiz, com base na flutu- outubro, planejar o monitoramento de fotoperíodo, da temperatura e, prova- ação populacional do inseto, envolve larvas, iniciando-o por volta de 20 dias velmente, da pressão atmosférica, cujos inicialmente planejar qual estratégia após a semeadura (ou da inundação, limiares só são atingidos em meados será adotada em caso de necessidade. em caso de plantio em solo seco). Se de outubro (HICKEL et al., 2013). Dessa Há três modalidades de controle quími- o monitoramento indicar necessidade, forma, não se justifica aplicar insetici- co (HICKEL et al., 2013): tratamento de deve-se decidir pela aplicação do inse- das para controle da bicheira-da-raiz sementes, pulverização de inseticida e ticida na lavoura. antes de meados de outubro. Também distribuição de inseticida granulado na não adianta adotar o tratamento de se- água de irrigação (embora esta última Estudo de caso 2: percevejo-do- mentes para as semeaduras anteriores esteja em desuso). Deve-se lembrar que a meados de setembro, pois não haverá o residual do tratamento de sementes grão, Oebalus spp. (Hemiptera: mais residual do inseticida quando a in- dura em torno de 40 dias a partir da se- Pentatomidae) festação larval tiver início. meadura. A análise da flutuação populacional É importante analisar o histórico de A exemplo da bicheira-da-raiz, tam- também revela que propor o controle ocorrência de bicheira-da-raiz na pro- bém há na flutuação populacional do químico para eliminar os adultos pré- priedade para decidir sobre o tratamen- percevejo-do-grão dois momentos im- hibernantes será pouco eficaz. Primei- to de sementes. Se esse histórico reve- portantes na coleta de indivíduos (Fi- ramente pela quantidade de indivíduos lar incidência frequente e com danos gura 2). O primeiro, que se inicia em presentes e pelo período relativamente expressivos, a opção pelo tratamento novembro e se prolonga até meados longo de sua ocorrência (dois meses). de sementes pode ser a melhor alter- de dezembro, corresponde à ocorrên-

38 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.35-39, maio/ago. 2019 cia dos hibernados, ou seja, daqueles 1500 adultos que passaram o inverno em dia- 1000 Itajaí (média de 2008/09 a 2017/18) pausa. O segundo momento, durante o 500

) 120 o mês de fevereiro em Itajaí e de meados 100 de fevereiro ao início de abril em Ara- 80 ranguá, corresponde ao período dos 60

Insetos (n Insetos 40 enxames, quando grandes quantidades 20 de indivíduos se dispersam entre as la- 0 vouras. Esses enxames podem ser for- 20/ago 17/set 15/out 12/nov 10/dez 07/jan 04/fev 04/mar 01/abr 29/abr 1500 mados só por indivíduos estivais ou por 1000 Araranguá (média de 2012/13 a 2015/16) estivais já misturados com indivíduos 500

) 120 pré-hibernantes. Esse segundo momen- o to coincide com boa parte das lavou- 100 80 ras no estágio mais suscetível ao dano 60 pelo percevejo-do-grão (enchimento de (n Insetos 40 20 grãos) (Tabela 1). 0 Em Araranguá, a população de per- 20/ago 17/set 15/out 12/nov 10/dez 07/jan 04/fev 04/mar 01/abr 29/abr cevejos que ocorre a partir de meados Tempo (dia) de fevereiro é de 20 a 50 vezes maior Figura 2. Flutuação populacional média de adultos de Oebalus spp. em Itajaí, SC, nas safras que a registrada em Itajaí. Para isso de 2008/2009 a 2017/2018, e em Araranguá, SC, nas safras de 2012/2013 a 2015/2016 também contribui o cultivo orgânico Figure 2. Mean population fluctuation of Oebalus spp. adults in Itajaí, SC, in 2008/09 to praticado no Cetrar, que, por florescer 2017/18 seasons and in Araranguá, SC, in 2012/13 to 2015/16 seasons mais tarde, atrai toda a população de percevejos das lavouras do entorno já ainda não teve início. Dessa forma, a para equacionar o controle químico do colhidas ou em fase de colheita (HICKEL et al., 2016). população de hibernados não adentra percevejo-do-grão, com base na flutu- O primeiro momento revela que o as lavouras de arroz. ação populacional do inseto, envolve controle do percevejo-do-grão deveria O segundo momento revela que o planejar e implantar cultivos armadilha estar focado na época de ocorrência controle químico do percevejo-do-grão para atrair, reter e possibilitar o controle dos hibernados. Os indivíduos hiber- na lavoura de arroz será problemático. da população de percevejos hibernados nados estão debilitados, voam pouco e Nessa época de ocorrência dos enxa- (HICKEL, 2018). Na EEI o cultivo arma- deixam menos descendentes. Portanto, mes, o arroz está em enchimento de dilha tem sido praticado em quadras uma ação de controle sobre essa popu- grãos e pré-maturação, e a aplicação pequenas (0,2ha), com o plantio do cul- lação eliminaria grande parte da popu- de inseticidas aumenta o risco de con- tivar Epagri 106 na primeira semana de lação estival posterior (HICKEL, 2018). O taminação da produção com resíduos setembro, para que este esteja emitin- problema é que nessa época as lavou- de agrotóxicos em função das pulveriza- do panículas entre o final de novembro ras de arroz não estão atrativas para os ções próximas à colheita. e o início de dezembro. hibernados, pois a produção de grãos Dessa forma, a orientação técnica A partir da emissão de panículas no

Tabela 1. Períodos (em meses) de ocorrência das fases ou etapas do cultivo de arroz irrigado relacionados ao manejo de pragas Table 1. Time (in months) of irrigated rice cropping phases related to pest management Fase ou etapa Mês Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Maio Plantio(1) ▓▓▓▓█████████████▓▓▓▓ Fase vegetativa ▓▓▓▓█████████████████▓▓▓▓ Florescimento ▓▓▓▓▓██████████▓▓▓▓ Enchimento de grãos ▓▓▓▓▓█████████████▓▓▓▓▓ Colheita ▓▓▓▓▓█████████████▓▓▓▓▓ Nota da Tabela 1: A barra em hachura representa o período possível; a barra cheia representa o período mais comum. The crossbar represents the possible period; the full bar the most common period.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.35-39, maio/ago. 2019 39 cultivo principal, deve-se iniciar o mo- 500 nitoramento do percevejo-do-grão em 400 Itajaí (média de 2008/09 a 2017/18)

intervalo semanal, o que é feito com o ) 300 o uso de rede de varredura, obtendo-se 150 125 as amostras com 30 golpes de rede em 100 dez pontos, ao acaso, para lavouras de 75 50

até 5ha (HICKEL et al., 2016). O controle (n Indivíduos 25 químico do percevejo-do-grão é indica- 0 do quando forem coletados, em média, 20/ago 17/set 15/out 12/nov 10/dez 07/jan 04/fev 04/mar 01/abr 29/abr 25/mai 500 cinco percevejos por amostra nas duas Araranguá (média de 2012/13 a 2015/16) 400 semanas consecutivas após a floração,

) 300 o ou dez percevejos por amostra nas duas 150 semanas subsequentes (BARRIGOSSI, 125 100 2008). 75 50

Indivíduos (n Indivíduos 25 Estudo de caso 3: lagarta- 0 boiadeira, Nymphula spp. 22/ago 19/set 17/out 14/nov 12/dez 09/jan 06/fev 06/mar 03/abr 01/mai 29/mai Tempo (dia) (: Pyralidae) Figura 3. Flutuação populacional média de mariposas de Nymphula spp. em Itajaí, SC, nas safras de 2008/2009 a 2017/2018, e em Araranguá, SC, nas safras de 2012/2013 a A flutuação populacional das ma- 2015/2016 riposas da lagarta-boiadeira segue o Figure 3. Mean population fluctuation of Nymphula spp. in Itajaí, SC, in 2008/09 to padrão de incrementos cumulativos 2017/18 seasons and in Araranguá, SC, in 2012/13 to 2015/16 seasons até aproximadamente o final de janei- ro, quando passa a sofrer decréscimos cional revela que, antes do início de no- na Ásia (Índia e Filipinas), o controle cumulativos até o início de março - (Fi vembro, pouco resolve aplicar insetici- químico é aplicado quando a contagem gura 3). Ao contrário da bicheira-da-raiz das para controle da lagarta-boiadeira, de lagartas (cartuchos) em amostras de e do percevejo-do-grão, a lagarta-boia- pois haverá poucas mariposas e lagartas 0,25m2 fica entre 3 e 4 lagartas (GODOI deira não passa o período de frio em para controlar. Já as lavouras semea- & BORA, 2012). diapausa (HICKEL et al., 2018). Assim, das mais tarde (de 15 de novembro em uma população residual persiste nas diante) é que estarão sujeitas ao ataque Considerações finais arrozeiras por quase todo o outono e o mais intenso da lagarta-boiadeira. A inverno. Capins em banhados ou outras flutuação populacional também revela As orientações básicas de controle áreas alagadiças permitem ao inseto que as maiores populações de maripo- apresentadas estão relacionadas ape- permanecer ativo durante a entressafra sas resultam de populações larvais que nas à decisão pelo controle químico do arroz. se desenvolveram nos meses de novem- das pragas, que tem grande potencial Dessa forma, em Itajaí, as maripo- bro e dezembro, quando as plantas de de causar poluição e desequilíbrios am- sas já ocorrem em agosto, bem antes arroz melhor suprem as necessidades bientais. No entanto, dentro de um pro- do plantio do arroz. Contudo o cresci- nutricionais das lagartas (HICKEL et al., grama de manejo integrado, o controle mento populacional só passa a ser con- 2018). químico é só mais uma estratégia a ser tínuo a partir do primeiro decêndio de Assim, a orientação técnica para adotada. Diversas outras podem e de- outubro. Em Araranguá, a população de equacionar um eventual controle quí- vem ser integradas para reduzir a quan- mariposas também segue o mesmo pa- mico da lagarta-boiadeira, com base na tidade de indivíduos dessas populações drão, embora com retardo no início do flutuação populacional do inseto, envol- ou seus danos nas lavouras. Uma boa crescimento populacional, que se dá no ve inspecionar a lavoura com frequência prática de manejo integrado de pragas primeiro decêndio de dezembro. Isso li- a partir de novembro e planejar o con- (MIP) é usar o controle químico apenas mita o tempo de ocorrência das maiores trole químico, em caso de necessidade, como último recurso. populações, verificadas somente entre para o período de meados de novembro janeiro e fevereiro. Esse retardo tam- até o final de dezembro. Em Araranguá, Agradecimentos bém pode resultar do cultivo orgânico essa opção pelo controle químico, even- praticado em Araranguá, que é semea- tualmente, poderia ser postergada para À Fundação de Amparo à Pesquisa do mais tarde. o início de janeiro. Embora não haja es- e Inovação do Estado de Santa Catarina Esse padrão de flutuação popula- tudos para as condições catarinenses, (Fapesc) e ao Conselho Nacional de De-

40 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.35-39, maio/ago. 2019 senvolvimento Científico e Tecnológico HICKEL, E.R. Cultivo armadilha para manejo HICKEL, E.R.; PRANDO, H.F.; EBERHARDT, (CNPq), pelo suporte financeiro ao de- integrado do percevejo-do-grão em arroz ir- D.S. Lagartas nas lavouras catarinenses de senvolvimento dos estudos. rigado. Agropecuária Catarinense, Florianó- arroz irrigado: ocorrência, monitoramento Aos acadêmicos de Agronomia Ra- polis, v.31, n.1, p. 41-44, 2018. e manejo integrado. Florianópolis: Epagri, 2018. 48p. (Epagri. Boletim Técnico, 182). fael Ducioni Panato, Débora Dal Zotto, HICKEL, E.R.; HICKEL, G.R.; VILELA, E.F.; SOU- Marino Antônio de Quadros, Luciano da ZA, O.F.F.; MIRAMONTES, O. Por que as po- LOGAN, J.A.; ALLEN, J.C. Nonlinear dynamics Silva Alves e Sérgio Francisco Bervanger pulações flutuam erraticamente? Tantos e and chaos in populations. Annual Re- pelo auxílio nas coletas e na triagem de tão poucos… E suas implicações no manejo view of Entomology, Palo Alto, v.37, p.455- insetos. integrado de pragas. Revista de Ciências 477, 1992. Agroveterinárias, Lages, v.6, n.2, p. 149-161, 2007. POLTRONIERI, A.S.; MONTEIRO, L.B.; SCHU- Referências BER, J.M.; CARDOSO, N.A. Conexidade popu- HICKEL, E.R.; PRANDO, H.F.; EBERHARDT, D.S. lacional de Grapholita molesta (Busk, 1916) A bicheira-da-raiz nas lavouras catarinenses (Lepidoptera: Tortricidae) entre pomares de BARRIGOSSI, J.A. Manejo do percevejo da panícula em arroz irrigado. Santo Antônio de arroz irrigado: ocorrência, monitoramen- pessegueiro e macieira. Scientia Agraria, de Goiás: Embrapa Arroz e Feijão, 2008. 8p. to e manejo integrado. Florianópolis: Epagri, Curitiba, v.9, n.3, p.339-347, 2008. (Embrapa. Circular Técnica, 79). 2013. 56p. (Epagri. Boletim Técnico, 161). SCHMITT, A.T.; MIURA, L. Flutuação popula- GODOI, H.; BORA, D. Spatial distribution of HICKEL, E.R.; PRANDO, H.F.; EBERHARDT, cional da bicheira da raiz em arroz irrigado Nymphula depunctalis Guenée larvae (Lepi- D.S. Percevejos nas lavouras catarinenses em Itajaí, S.C. In: REUNIÃO DA CULTURA DO doptera: Pyralidae), an early vegetative pest de arroz irrigado: ocorrência, monitoramen- ARROZ IRRIGADO, 11., 1981, Pelotas. Anais of Oryza sativa L. Academic Journal of Ento- to e manejo integrado. Florianópolis: Epagri, […] Pelotas: UEPAE Pelotas, 1981. p.313- mology, Dubai, v.5, n.1, p.41-46, 2012. 2016. 54p. (Epagri. Boletim Técnico, 173). 315.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.35-39, maio/ago. 2019 41 INFORMATIVO TÉCNICO Métodos de seleção de plantas de maracujazeiro-azedo para a produção de sementes Diego Adílio da Silva¹, Henrique Belmonte Petry², Emílio Della Bruna³ e Alexsander Luís Moreto²

Resumo – A perda de características de importância agronômica do maracujazeiro-azedo (Passiflora edulisSims.), por ser uma espécie alógama autoincompatível, pode ocorrer em poucos anos se a seleção dos frutos para a obtenção de sementes não for realizada corretamente. Este trabalho apresenta metodologias de seleção para a conservação dos genótipos locais, visando manter e aumentar a frequência alélica das características de interesse econômico dos cultivares e a produção de maracujá- azedo de alta qualidade, em Santa Catarina.

Termos para indexação: Passiflora edulis; melhoramento genético; seleção massal.

Selection methods of sour passion fruit plants for seed production

Abstract – The loss of characteristics of agronomic importance for sour passion fruit (Passiflora edulis Sims.), for being self- incompatible allogamous species, can occur in few years if the selection method of the fruits to obtain seeds is not performed in the correct way. This study shows selection methodologies for the conservation of the local genotypes, aiming at maintaining and increasing the allele frequency of the characteristics of economic interest of the cultivars, and the production of high- quality sour passion fruit in the state of Santa Catarina, Brazil.

Index terms: Passiflora edulis; breeding; mass selection.

Introdução A seleção massal é um método efi- linização aberta, os frutos doadores de ciente para a seleção de características sementes devem ser selecionados de O maracujazeiro é uma planta alóga- de fácil mensuração e herdáveis, prin- plantas diferentes, de preferência de ma e entomófila. Por isso, a polinização cipalmente em populações de plantas distintos talhões e/ou pomares que cul- é um dos fatores que mais influenciam que exibem alta variabilidade, como o tivem o mesmo cultivar, e assim compor a sua frutificação (BRUCKNER et al., maracujazeiro-azedo (MELETTI et al., o total de sementes necessárias para a 2002). As flores são hermafroditas e 2005). Por exemplo, SCS437 Catarina produção de mudas. O número de plan- abrem uma única vez. Não ocorrendo a (Figura 1) é um cultivar de polinização tas selecionadas varia de acordo com o fecundação, as flores murcham e caem aberta, obtido através de seleção mas- tamanho do pomar, porém, orienta-se (SOUZA & PEREIRA, 2011). Por se tratar sal recorrente (BORÉM & MIRANDA, que se selecione pelo menos vinte ge- 2009), o que permite a produção de se- de uma espécie alógama autoincompa- nitores de alta qualidade (JUNGHANS et mentes pelo próprio produtor, diferen- tível, a perda de algumas características al., 2017). temente dos cultivares híbridos disponí- adaptativas locais e que possam estar A escolha de frutos próximos ao veis no mercado produzidos a partir de presentes na população de interesse centro da planta (indicador de precoci- plantas matrizes clonadas com poliniza- pode ocorrer em poucos anos se a se- dade), de tamanho e formato adequa- ção dirigida, para as quais não há reco- leção dos frutos para a obtenção de se- do, coloração da casca de acordo com o mendação para a produção própria de mentes não for realizada corretamente. desejado e que estejam em plantas com sementes (JESUS et al., 2017). Desta forma, ter conhecimento do com- boa carga produtiva e baixa incidência portamento dos genitores que darão de pragas e doenças, leva à manuten- origem às sementes se torna impres- Seleção de plantas e frutos ção, e até ao melhoramento, das carac- cindível para evitar que características doadores de sementes terísticas agronômicas dos materiais lo- indesejáveis sejam perpetuadas nas po- cais, devendo os produtores de mudas pulações subsequentes, além da perda Para o produtor produzir as suas estarem conscientes destas necessida- de caracteres desejados. próprias sementes de cultivares de po- des (JUNGHANS et al., 2017). A sele-

Recebido em 14/8/2018. Aceito para publicação em 26/11/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.3 ¹ Engenheiro-agrônomo, Epagri/Escritório municipal de Meleiro, Rua Vinte de Dezembro, 212, bairro Estreito, 88920-000 Meleiro, SC, e-mail: diegosilva@ epagri.sc.gov.br. ² Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, Rodovia SC 108, km 353, 1563, bairro Estação, 88840-000 Urussanga, SC, e-mail: [email protected], [email protected]. 3 Engenheiro-agrônomo, M. Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, Rodovia SC 108, km 353, 1563, bairro Estação, 88840-000 Urussanga, SC, e-mail: [email protected].

42 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.40-42, maio/ago. 2019 ção deverá ocorrer em pomares de pri- meiro ano, diminuindo assim os riscos de transmissão de doenças (fungos e bactérias) pelas sementes e com maior pressão de seleção para as característi- cas de precocidade e de qualidade dos frutos no início da safra, período que Petry Henrique Belmonte Foto: melhor remunera o produtor (GOULART JÚNIOR et al., 2017). Os materiais necessários para apli- cação da metodologia nos pomares são fitas coloridas para marcação nas plan- tas selecionadas de cada uma das carac- terísticas avaliadas, sacos de papel kraft e sacos tipo raschel. Para a avaliação da qualidade dos frutos é necessário ter Figura 1. Pomar de maracujazeiro-azedo SCS 437 Catarina no município de São João do Sul, SC um paquímetro, uma balança e um re- Figure 1. Orchard of passion fruit SCS 437 Catarina in the municipality of São João do Sul, SC fratômetro. Cinco objetivos são destacados como os principais para manter as ca- racterísticas comerciais do maracujá- azedo, atribuindo-se uma cor de fita para cada característica, para facilitar a distinção das plantas selecionadas a campo: a) Produtividade: plantas com carga produtiva superior, principalmente no início da safra; b) Sanidade: ausência de folhas e frutos com incidência das principais do- enças da cultura na região; c) Qualidade do fruto: frutos com bom padrão comercial para comerciali- zação in natura; Adílio da Silva. (c) Diego Roesler; (a) Elder S. Scussel; (b) Alexandro Fotos: d) Precocidade: florescimento e pro- Figura 2. Plantas de maracujazeiros SCS 437 Catarina selecionadas quanto: (a) ao dução precoce; florescimento; (b) à produção precoce; (c) por superioridade em quatro características e) Vigor: entrenós curtos, plantas conforme indicam as fitas amarradas na planta compactas e produtivas. Figure 2. Plants of passion fruit ‘SCS 437 Catarina’ selected for: (a) flowering; (b) early Resumidamente, a seleção de plan- production; (c) by superiority in four characteristics as indicated by the tapes attached to the plant tas matrizes e frutos para obtenção de sementes de maracujá deve seguir os sete itens descritos a seguir, baseado no método de seleção massal estratificada: 1. Dividir o pomar em duas ou qua- tro partes: essa estratificação do pomar visa minimizar as influências do ambien- te que podem levar a possíveis confun- dimentos na seleção das plantas, por Petry Henrique Belmonte Foto: causa de manchas de solo, por exemplo. 2. No início da floração, selecionar em cada uma das partes divididas do pomar as primeiras plantas que flores- ceram (Figura 2a) e que fixaram frutos (Figura 2b), sendo essas marcadas com fitas. Esses são indicadores de precoci- Figura 3. Maracujá-azedo SCS 437 Catarina selecionado com sacos tipo raschel, para ser dade; colhido totalmente maduro 3. No início da colheita, as plantas Figure 3. Sour passion fruit ‘SCS 437 Catarina’ selected with raschel type bags, to be de cada parte do pomar deverão ser harvested fully ripe

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.40-42, maio/ago. 2019 43 avaliadas e marcadas conforme as suas isoladas (ensacadas), evitando a con- superioridade genética pode implicar características, principalmente quanto taminação por pólen não desejado du- na redução de aplicação de agrotóxicos à produtividade, sanidade, qualidade rante polinização natural pelas maman- e menor risco de danos ao ambiente. – referente ao tamanho e formato dos gavas (Xylocopa sp. e outras espécies), frutos – e vigor; principalmente se houver pomares de 4. Somente deverão ser coletados maracujazeiros de outros cultivares na Referências os frutos das plantas selecionadas que vizinhança. A polinização manual deve contenham mais de três fitas (Figura ser realizada no período da tarde, ho- BORÉM, A.; MIRANDA, G. V. Melhoramento 2c), indicando que são superiores em rário em que as flores do maracujazeiro de plantas. 5. ed. Viçosa: UFV, 2009. 529p. pelo menos três características distin- estão abertas, geralmente após as 14 tas. Deverão ser colhidos os frutos mais horas, coletando o pólen das anteras BRUCKNER, C. H.; MELETTI, L. M. M.; OTONI, próximos ao centro da planta matriz. das flores das matrizes selecionadas e W. C.; ZERBINI JUNIOR, F. M. Maracujazeiro. Também deve-se coletar o mesmo nú- aplicando-o no estigma das flores das In: BRUCKNER, C. H. Melhoramento de fru- mero de frutos por matriz selecionada; outras plantas selecionadas, garantin- teiras tropicais. Viçosa: UFV, 2002. p.373- 5. Durante o processamento dos fru- do o cruzamento aleatório. Após, essas 409. tos para obtenção das sementes, avaliar flores polinizadas devem ser ensacadas GOULART JUNIOR, R.; MONDARDO, M.; a durabilidade dos frutos em tempera- e os sacos devem ser mantidos até os PETRY, H. B. Caracterização da produção e tura ambiente (vida de prateleira), eli- frutos alcançarem 6 a 8cm de diâmetro. comercialização do maracujá: estudo na me- minando os frutos que murcham e/ou Depois, os sacos de papel são removi- sorregião do sul catarinense. In: CONGRES- apresentam doenças pós-colheita até dos e os frutos ficam cobertos com sa- SO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ECONO- dez dias após a colheita; cos tipo raschel (Figura 3), diminuindo o MIA, ADMINISTRAÇÃO E SOCIOLOGIA RU- 6. Os frutos selecionados devem ser risco de serem extraviados na colheita. RAL, 55., 2017, Santa Maria. Anais […] Santa avaliados quanto a sua qualidade in- A troca de sementes do mesmo Maria: Sober, 2017. terna. Devem ter rendimento de polpa cultivar de maracujá-azedo entre - dife (com semente) superior a 40%, conteú- rentes produtores favorece a sua ma- JESUS, O. N.; FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, K. do de açúcares superior a 11° brix, aci- nutenção, já que existe a possibilidade P.; GIRARDI, E. A.; ROSA, R. C. C.; PETRY, H. dez, espessura da casca entre 7 e 10 mm de perda de alelos de interesse devido a B. Cultivares comerciais de maracujá-azedo e cor da polpa alaranjada. efeitos do selecionador (produtor) e da (Passiflora edulis Sims) no Brasil. In: JUN- 7. A separação do arilo das semen- seleção natural nos distintos ambientes. GHANS, T. G.; JESUS, O. N. Maracujá: do cul- tivo à comercialização. Brasília, DF: Embra- tes pode ser realizada por vários méto- Deve-se indicar a troca de sementes en- pa, 2017. p.9-58. dos, tais como: fricção manual em ma- tre produtores que realizem o mesmo lha de arame, utilização de pós-secantes método de seleção. JUNGHANS, T. G.; ROSA, R. C. C.; GIRARDI, E. (cal, farinha de milho etc.) e fermenta- A. Produção de mudas de maracujazeiro. In: ção da polpa, entre outras. Em geral, Marcadores morfológicos que JUNGHANS, T. G.; JESUS, O. N. Maracujá: do desde que não haja danos às sementes cultivo à comercialização. Brasília, DF: Em- (ocasionado por lâminas de liquidifica- auxiliam no processo de seleção brapa, 2017. p.101-114. dor, por exemplo), podem ser utilizados os diferentes métodos sem que haja Durante as observações realizadas MARTINS, M. R.; REIS, M. C.; MENDES NETO, J. A.; GUSMÃO, L. L.; GOMES, J. J. A. Influ- prejuízo na germinação e viabilidade para a seleção de plantas matrizes para ência de diferentes métodos de remoção do das sementes (MARTINS et al., 2006). a obtenção de sementes, alguns marca- arilo na germinação de sementes de mara- As sementes devem ser secadas à som- dores morfológicos podem ser utiliza- cujazeiro-amarelo (Passiflora edulis Sims F. bra e posteriormente armazenadas em dos como ferramentas complementares para tomada de decisão. Plantas com flavicarpa Deg.). Revista da FZVA, Uruguaia- temperatura entre 4 e 8° C (geladeira), na, v. 13, n. 2, 2006. p.28-38. dentro de sacos plásticos amarrados. maior presença de antocianinas (prin- Uma forma de acelerar os ganhos no cipalmente nos botões florais, ramos, MELETTI, L. M. M.; SOARES-SCOTT, M. D.; processo é com a utilização do método pecíolos e sépalas roxas) são menos BERNACCI, L. C.; PASSOS, I. R. S. Melhora- de seleção recorrente entre progênies suscetíveis às doenças e mais -produti mento genético do maracujá: passado e de irmãos completos (BORÉM & MI- vas. As plantas com folhas maiores são futuro. In: FALEIRO, F. G.; JUNQUEIRA, N. T. RANDA, 2009). Nesse caso, é indicada a mais tardias e menos produtivas, por V.; BRAGAS, M. F. Maracujá: germoplasma e realização de cruzamento dirigido entre apresentarem vigor excessivo. melhoramento genético. Planaltina: Embra- as matrizes selecionadas. Deve ser adi- pa, 2005. p.55-75. cionado um passo no processo de se- Considerações finais SOUZA, M. M.; PEREIRA, T. N. S. Biologia da leção anteriormente descrito, antes da reprodução em maracujazeiro amarelo e colheita dos frutos (item n° 4): proteger A base para a produção de mudas é sua importância para a produção comercial as flores antes de sua abertura (antese), a utilização de sementes de alta quali- de frutos. In: PIRES, M. M.; SÃO JOSÉ, A. R.; no período da manhã, com sacos de dade genética, proporcionando a ins- CONCEIÇÃO, A. O. Maracujá: avanços tec- papel (kraft), e realizar a polinização so- talação de pomares mais produtivos e nológicos e sustentabilidade. Ilhéus: Editus. mente com pólen de flores previamente saudáveis. A obtenção de plantas com 2011. p.175-202.

44 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.40-42, maio/ago. 2019 NOTA CIENTÍFICA Primeiro registro do ácaro-vermelho-das-palmeiras, Raoiella indica, em Santa Catarina, Brasil Ildelbrando Nora¹, Eduardo Rodrigues Hickel2 e Fábio Martinho Zambonim2

Resumo – A bananicultura e a produção de palmeiras para obter palmito destacam-se como atividades agrícolas de importância social e econômica na região litorânea de Santa Catarina. O ácaro Raoiella indica Hirst (Acari; Tenuipalpidae), recentemente constatado no território nacional, tem potencial para comprometer essas duas importantes cadeias produtivas catarinenses, uma vez que essa espécie está, historicamente, associada a plantas pertencentes às famílias botânicas Musaceae e Arecaceae. Assim, foi realizado um levantamento para verificar a ocorrência desse ácaro no estado. Amostras de plantas procedentes do município de Tubarão continham exemplares de todos os estágios de R. indica, sendo este o primeiro registro da espécie em Santa Catarina. A constatação da presença de R. indica no estado, num momento em que se busca manejos racionais para produzir alimentos com menos agrotóxicos, surge como severo complicador fitossanitário.

Termos para indexação: Musaceae; Arecaceae; dispersão, defesa fitossanitária.

First record of the red palm mite Raoiella indica in the Santa Catarina State, Brazil

Abstract – Banana cultivation and the production of palm trees to obtain palm hearts stand out as agricultural activities of social and economic importance in the coastal region of Santa Catarina. The mite Raoiella indica Hirst (Acari; Tenuipalpidae), recently recorded in Brazil, has the potential to compromise these two important production chains in the state, since this pest is historically associated with species belonging to the botanical families Musaceae and Arecaceae. Thus, a survey was carried out to verify the occurrence of this mite in Santa Catarina State. Samples of plants from the municipality of Tubarão contained specimens in all stages of R. indica, which makes this the first record of the species in the state. At a time when rational managements are being sought for the production of food with less use of agrochemicals, this pest appears as a severe phytosanitary concern.

Index terms: Musaceae; Arecaceae; dispersion, phytosanitary protection.

Nos domínios da vertente atlântica destas atividades no contexto socioeco- O ácaro-vermelho-das-palmeiras foi de Santa Catarina, destacam-se, dentre nômico das regiões do Vale do Itajaí e identificado na Índia em 1924, asso- as atividades agrícolas de importância litoral catarinense. ciado a coqueiros e a algumas espé- social e econômica, a produção de ba- Diante desse cenário, registra-se cies de plantas hospedeiras (MORAES nanas (Musa sp. – Musaceae) e o cul- neste trabalho o primeiro relato da & FLECHTMANN, 2008). Em 1958, foi tivo de diversos gêneros de palmeiras ocorrência do ácaro-vermelho-das- constatado nas regiões nordeste e sul (Arecaceae) para obter palmito. Em palmeiras Raoiella indica Hirst (Acari: da África e no Oriente Médio, associa- 2017, Santa Catarina atingiu a produ- Tenuipalpidae) (Figuras 1 e 2) em San- do a coqueiros (Cocos nucifera L.) e à ção de 720.300 toneladas de banana, ta Catarina. Potencialmente causador tamareira (Phoenix dactylifera L.) (MEN- o que posicionou a atividade na 12a co- de danos a diversos hospedeiros, este DONÇA et al., 2005). Nos neotrópicos, locação entre as principais atividades ácaro está historicamente associado a R. indica foi diagnosticado pela primeira agropecuárias do estado (EPAGRI/CEPA, espécies pertencentes às famílias botâ- vez em 2004. No ano seguinte, 2005, 2017). No mesmo ranking, a produção nicas Arecaceae e Musaceae. surgiu na Martinica, e a partir daí se dis- de palmito ocupa a 24a posição, com O ácaro-vermelho-das-palmeiras persou para várias ilhas do Caribe. Em aproximadamente 1.600 famílias de tem aspecto oval achatado, com cer- 2007 foi constatado no sul da Flórida e agricultores envolvidas, 4.500 hectares das rígidas no dorso. A cor dos adultos na Venezuela, incidindo em coqueiros, de palmeiras plantadas e produção anu- e dos estágios imaturos é vermelha. A bananeiras e palmeira imperial – Roys- al média estimada de 23 mil toneladas fêmea adulta mede aproximadamente tonea regia (Kunth) O.F.Cook (KANE et (IBGE, 2016). 0,32mm de comprimento e 0,22mm de al., 2005). Tanto a bananicultura quanto a pro- largura. Os machos têm a parte terminal Quando chegou às Américas, a gama dução de palmito ancoram cadeias pro- do abdômen triangular, enquanto nas de hospedeiros do ácaro-vermelho-das- dutivas estabelecidas, o que intensifica, fêmeas é arredondado (MENDONÇA et palmeiras aumentou para 96 espécies pelo efeito multiplicador, a importância al., 2005). de plantas, distribuídas em 58 gêneros

Recebido em 25/5/2018. Aceito para publicação em 24/10/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.4 ¹ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, (EEI), C.P. 277, 88318-112 Itajaí, SC, e-mail: [email protected] ² Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Itajaí, (EEI), C.P. 277, 88318-112 Itajaí, SC, e-mail: [email protected], zambonin@epagri. sc.gov.br

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.43-45, maio/ago. 2019 45 alerta foi feito para que medidas fitos- sanitárias fossem adotadas o mais bre- ve possível, pois a praga estava se dis- persando com rapidez a partir da região Norte, Nordeste, Sudeste e avançando para o Sul do país. Nessa época, já havia relatos não oficiais de sua ocorrência no Paraná. Em 2015, por iniciativa da equipe de pesquisa da Estação Experimental de Itajaí, da Empresa de Pesquisa Agro- pecuária e Extensão Rural de Santa Ca- tarina (Epagri), passaram a ser feitas as análises de potenciais hospedeiros de R. indica (Musaceae e Arecaceae) nos municípios de Corupá, Luiz Alves, Mas- saranduba, Brusque, Itajaí, Balneário Figura 1. Ácaro-vermelho-das-palmeiras Camboriú, Camboriú e Itapema. Figure 1. Red palm mite Para localizar possíveis focos da pra- ga, realizaram-se inspeções e observa- ções diretas em campo, direcionadas às folhas desses potenciais hospedeiros. Em 2016, por determinação da Secreta- ria de Estado da Agricultura e da Pesca de Santa Catarina, a Cidasc, por meio do Departamento Estadual de Defesa Sanitária Vegetal, aplicou a Instrução Normativa n° 005, determinando o le- vantamento de possíveis focos de R. indica no estado. Isso levou à inspeção de unidades de produção, viveiros e co- mércio de mudas hospedeiras de Areca- ceae, nas áreas urbanas e nas rotas de risco. O trabalho teve duas etapas: a pri- meira compreendeu o período de 18 de outubro a 20 de dezembro de 2016, e a segunda, de 2 de janeiro a 20 de abril de 2017. A inspeção em unidades de pro- dução constou da avaliação de 1% das Figura 2. Sintoma do dano do ácaro-vermelho-das-palmeiras em folha de bananeira propriedades produtoras de espécies Figure 2. Symptom of palm leaf mite damage on banana leaf hospedeiras de cada município. Para as avaliações, adotou-se o critério de esco- lha de plantas com maior probabilidade e 8 famílias (Arecaceae, Cannaceae, gundo Moya (2014), em 2015 esse áca- de ocorrência do ácaro (bordaduras, Cycadaceae, Heliconiaceae, Musaceae, ro foi detectado nos estados do Ceará, proximidades de estradas e rotas se- Pandanaceae, Strelitziaceae e Zingibe- Sergipe e Alagoas. Em 2017, R. indica foi cundárias de circulação de pessoas). Em Fra- raceae) (MOYA, 2014). Segundo Amaro registrado em folhas de morango ( cada local selecionado para inspecionar & Morais (2014), 75 dessas espécies garia sp.), cultivado em ambiente pro- e coletar material biológico, foram ava- pertencem à família Arecaceae, 1 à Can- tegido, nas cidades de Sarandi e Marial- liados no mínimo 20 plantas. naceae, 5 à Heliconiaceae, 6 à Musace- va, no Paraná (HATA et al., 2017). Para inspecionar produtores de mu- ae, 1 à Pandanaceae, 2 à Strelitziaceae e Prevendo-se a iminente dispersão das, foi selecionado 1% do total dos vi- 6 à Zingiberaceae. para o estado de Santa Catarina, em veiros estabelecidos em Santa Catarina Em 2009, a presença de R. indica foi 2014 fez-se a comunicação do risco da e avaliadas 100% das plantas destes lo- constatada pela primeira vez no Bra- entrada dessa espécie no estado às au- cais. Para estabelecimentos comerciais sil na região urbana de Boa Vista (RR), toridades da Defesa Fitossanitária de de mudas de arecáceas, foram selecio- associado a folhas de coqueiros (NAVIA Santa Catarina (Cidasc), para implemen- nadas 10% delas e avaliadas 100% das et al., 2011 & OLIVEIRA et al., 2016). Se- tar ações regulatórias pertinentes. O plantas destas unidades comerciais.

46 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.43-45, maio/ago. 2019 Para a inspeção de hospedeiros de foi feita em um estabelecimento comer- potencial do ácaro-vermelho-das-palmei- R. indica em residências no perímetro cial de flores e outras plantas ornamen- ras na América do Sul. Boa Vista: Embrapa urbano das cidades ou vilarejos, foram tais na cidade de Tubarão (28°29’00”S Roraima, 2014. 29 p. Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento 37. selecionadas 10 residências próximas e 49°00’25”O). A análise taxonômica ao comércio, casas de embalagens, revelou que de fato se tratava de R. indi- EPAGRI/CEPA – EMPRESA DE PESQUISA pontos de descarte de plantas e de seus ca. O ácaro estava associado às palmei- AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO DE SANTA substratos, postos de combustíveis, fei- ras fênix (Phoenix roebelenii O’Brien) CATARINA/CENTRO DE ENSINO E PESQUISA ras livres, centrais de abastecimento e e leque (Licuala grandis – hort. ex W. APLICADA. Síntese da agricultura em Santa terminais rodoviários. Nessas residên- Bull – H. Wendl.), ambas em vasos para Catarina: 2016-2017. Florianópolis: Epagri; Cepa, 2017. 202 p. cias foram avaliadas 100% das plantas comércio varejista. A constatação foi hospedeiras. levada, através de ofício, ao conheci- HATA, F. P.; SILVA, J. E. P.; VENTURA, M. U.; Inspecionaram-se também plantas mento das autoridades fitossanitárias PASINI, A.; ROGGIA, S. First report of Raoiella da família Arecaceae nas cercanias de do órgão estadual competente (Cidasc) indica (Hirst) (Acari; Tenuipalpidae) in south- postos de abastecimento, de distribui- e ao Ministério da Agricultura, Pecuária ern Brazil. Neotropical Entomology, New ção de combustíveis e de rotas interes- e Abastecimento (Mapa) para as ações York, v. 46, n. 3, p. 356-359, 2017. taduais consideradas de risco, que ligam regulatórias pertinentes. Nas incursões IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRA- Santa Catarina a outros estados. subsequentes, no que se refere à coleta FIA E ESTATÍSTICA. Banco de dados. Dispo- Para cada unidade inspecionada, de novos espécimes do ácaro e à ava- nível em: . foi lavrado um termo de fiscalização, e liação da possibilidade de infestação de Acesso em: dez. 2016. o local foi georreferenciado, com exce- outras plantas, nada foi constatado. A constatação desta praga em San- KANE, E.; OCHOA, R.; MATHURIN, G.; ERBE, ção das inspeções urbanas e de pontos E. Raoiella indica Hirst (Acari: Tenuipal- vistoriados nas rotas consideradas de ta Catarina preocupou bananicultores pidae): an island-hopping mite pest in the risco. Nesses casos foram feitos apenas e produtores de palmito. A erradicação Caribbean. In: ESA ANNUAL MEETING AND registros em planilhas. O trabalho de deste ácaro é uma técnica inviável se EXHIBITION, 1., Fort Lauderdale, 2005. Anais inspeção compreendeu 23 municípios considerada unicamente a estratégia […] Fort Lauderdale: ESA, 2005. Disponível catarinenses, distribuídos regionalmen- de controle químico. O ácaro-vermelho- em: . Acesso em: 15 maio 2018. Médio Vale do Itajaí (3), Alto Vale do rapidamente. Além disso, há diversida- Itajaí (1), Baixo Vale do Itajaí (1), Lito- de de hospedeiros nativos, intensa cir- MENDONÇA, R. S.; NAVIA, D.; FLECHTMANN, ral Sul (1) e Planalto Norte (5). Ao todo, culação de plantas hospedeiras em vi- C. H. W. Raoiella indica Hirst (Prostigmata: foram executadas 188 inspeções, uma veiros artesanais, floriculturas e viveiros Tenuipalpidae), o ácaro-vermelho-das- única vez em cada ponto, sendo 71 em comerciais, bem como frutos e produ- palmeiras – uma ameaça para as Américas. tos manufaturados oriundos de regiões Brasília, DF: Embrapa Recursos Genéticos e unidades de produção, 8 em viveiros, 13 Biotecnologia, 2005. 40 p. Embrapa Recur- em estabelecimentos comerciais, 90 em onde a praga já está estabelecida. Num momento em que se buscam sos Genéticos e Biotecnologia. Documentos, áreas urbanas e 6 em rotas de risco. 146. Para detectar a presença do ácaro manejos racionais para produzir alimen- nas plantas, a inspeção foi realizada na tos com menos agrotóxicos, o ácaro- MORAES, G. J.; FLECHTMANN, C. H. W. Ma- nual de acarologia: acarologia básica e áca- porção inferior das folhas, usando lu- vermelho-das-palmeiras surge como se- vero complicador. É certo que as cadeias ros de plantas cultivadas no Brasil. Ribeirão pas de bolso com aumento de 25 vezes. produtivas de banana e palmito serão Preto: Holos, 2008. 308 p. Nas folhas em que foram identificados afetadas, com reflexos diretos no pro- ácaros suspeitos, cortou-se a parte in- MOYA, C. A. G. Raoiella indica Hirst (Aca- dutor, na agroindústria e na exportação festada (na dimensão longitudinal de ri: Tenuipalpidae): hospedeiros nativos no de produtos in natura. Nesse sentido, aproximadamente 5cm), e a amostra foi Brasil e potencial de Amblyseius largoensis estratégias de manejo integrado deve- Muma (Acari: Phytoseiidae) para seu contro- acondicionada em frascos com teor al- rão ser pesquisadas e implementadas, le biológico. 2014. 68 p. Tese (Doutorado em coólico de 70%. visando manter as populações de R. in- Entomologia Agrícola) – Universidade Fede- Com os exemplares de ácaros, fo- dica sob controle. ral de Pernambuco, Recife, 2014. ram preparadas lâminas com solução de Hoyer, colocadas em estufa a 50°C e NAVIA, D.; MARSARO JUNIOR, A. L.; SILVA, F. R.; GONDIM JUNIOR, M. G. C.; MORAES, G. lá mantidas por sete dias. Em seguida, Agradecimentos J. First report of the red palm mite, Raoiella foram adotados procedimentos taxonô- indica Hirst (Acari: Tenuipalpidae), in Brazil. micos para identificar as espécies, com À Acafruta, ao Instituto Biológico Neotropical Entomology, New York, v. 40, auxílio de bibliografia especializada. (IB) e à Cidasc pelo suporte financeiro n. 3, p. 409-411, 2011. Uma coleta de folhas de palmáceas e logístico ao desenvolvimento do tra- contaminadas por ácaros, que apresen- balho. OLIVEIRA, D. C.; PRADO, E. P.; MORAES, G. J.; MORAIS, E. G. F.; CHAGAS, E. A.; GONDIN tavam características semelhantes ao JUNIOR, M. G. C.; NAVIA, D. First report of ácaro-vermelho-das-palmeiras, foi feita Referências Raoiella indica (Acari: Tenuipalpidae) in em abril de 2017 pela Cidasc (termo de southeastern Brazil. Florida Entomologist, coleta n° 0010802017). A amostragem AMARO, G.; MORAIS, E. G. F. Distribuição Gainesville, v. 99, n. 1, p. 123-125, 2016.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.43-45, maio/ago. 2019 47 NOTA CIENTÍFICA Crescimento, floração e frutificação de oliveiras jovens em altitude intermediária do Oeste de Santa Catarina, Brasil Eduardo Cesar Brugnara¹

Resumo – Este trabalho teve como objetivo comparar o crescimento, a floração e a frutificação de oliveiras jovens dos cultivares Arbequina, Arbosana, Frantoio e Koroneiki plantadas em quatro localidades do oeste catarinense, emaltitudes de aproximadamente 600m. Quatro experimentos foram instalados em 2013 e 2014 em Maravilha, São José do Cedro, Bom Jesus do Oeste e Guaraciaba. A altura e diâmetro das copas, floração e rendimento de frutos foram avaliados​​até o quinto ano. Todos os cultivares apresentaram bom crescimento, especialmente a ‘Frantoio’, comparados com as observações nos países tradicionais produtores de azeitonas. Nenhum cultivar floresceu em 2015 e pouca floração ocorreu em 2017, mas em 2016 houve floração em três locais. ‘Frantoio’ não floresceu. ‘Arbequina’ e ‘Arbosana’ foram os mais produtivos em 2016/2017. Os resultados sugerem que a adaptação à região de ‘Arbequina’, ‘Arbosana’ e ‘Koroneiki’ é parcial e a da ‘Frantoio’ é baixa.

Termos para indexação: Olea europaea; adaptação; precocidade.

Growth, flowering and fruiting of young olive trees in mid-altitude in the west of SantaC atarina, Brazil

Abstract – This study aimed to compare the growth, flowering and fruiting of young ‘Arbequina’, ‘Arbosana’, ‘Frantoio’ and ‘Koroneiki’ olives planted in four places of the west region of the state of Santa Catarina, situated at 600 m above sea level. Four experiments were installed in 2013 and 2014 in Maravilha, São José do Cedro, Bom Jesus do Oeste and Guaraciaba. The height and diameter of the canopies, flowering and yield were assessed until the 5th growth season. All cultivars grew well when compared to assessments of traditional olive producer countries, especially ‘Frantoio’. All plants failed to flower in 2015 and few flowers were observed in 2017, but in 2016 there was blooming in three sites. ‘Frantoio’ did not bloom. ‘Arbequina’ and ‘Arbosana’ were the most productive in 2016/2017. The results suggest that the adaptation to the region is partial for ‘Arbequina’, ‘Arbosana’ and ‘Koroneiki’ and poor for ‘Frantoio’.

Index terms: Olea europaea; adaptation; precocity.

A oliveira (Olea europaea L.) tem et al., 2006). Para dar continuidade na exceto no local 4 onde foram utilizadas como origem provável o leste da região qualificação deste conhecimento, este quatro repetições. mediterrânea. Apesar de a espécie ter trabalho objetivou comparar oliveiras A correção do solo foi feita com sido introduzida no Brasil na época da jovens de quatro cultivares no Oeste de 6t ha-1 de calcário dolomítico classe C, colonização, os maiores avanços com Santa Catarina, em áreas de altitude in- previamente ao plantio, seguida por relação à produtividade foram alcan- termediária (cerca de 600m), quanto a escarificação. As oliveiras foram plan- çados nas últimas duas décadas, espe- crescimento, florescimento e produção tadas em novembro de 2013, com es- cialmente nos estados de Minas Gerais de frutos. paçamento de 7x5m nos locais 1 a 3, e e Rio Grande do Sul. A espécie se de- Foram instalados experimentos em em agosto de 2014 com espaçamento senvolve melhor em solos de textura quatro locais do estado de Santa Cata- de 7x4m no local 4. Em janeiro de 2014 moderadamente fina, bem drenados rina: Local 1: Bom Jesus do Oeste (asso- foi realizada uma aplicação de 130g de e aerados, com pH igual ou superior a ciação Neossolo eutrófico e Cambissolo fertilizante NPK (9-33-12) por planta. 6,0, além de exigir temperaturas bai- eutrófico, altitude de 680m); Local 2: Em agosto de 2014 e em 2015 (janeiro xas para que a diferenciação floral e o São José do Cedro (Cambissolo Háplico e setembro) foram fornecidas 150g do florescimento ocorram em abundância eutrófico, altitude de 590m); Local 3: mesmo fertilizante. Depois disso foi re- (NAVARRO GARCÍA et al., 2012; MES- Guaraciaba (Cambissolo Háplico eutrófi- alizada adubação com 45 e 30g planta-1 QUITA et al., 2012). co, altitude de 673m); e Local 4: Maravi- de N (MESQUITA et al., 2012), na forma Em Santa Catarina, estudos inicia- lha (altitude de 650m). Os tratamentos de ureia em novembro de 2015 e fe- dos no final da década de 1990 resul- foram os cultivares ‘Arbequina’, ‘Arbosa- vereiro de 2016, respectivamente. Nos taram em dados promissores sobre o na’, ‘Koroneiki e ‘Frantoio, distribuídos ciclos seguintes a adubação N-P-K foi desempenho dos cultivares ‘Arbequi- em delineamento em blocos ao acaso realizada com base em Mesquita et al. na’, ‘Arbosana’ e ‘Koroneiki’ (DA CROCE com cinco repetições de cinco plantas, (2012) e em análises foliares. Em 2016,

Recebido em 2/10/2018. Aceito para publicação em 5/2/2019. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.5 ¹ Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) / Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar, Caixa Postal 791, 89801-970, Chapecó, SC, fone: (49) 2049-7545, e-mail: [email protected].

48 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.46-48, maio/ago. 2019 nos locais 2 e 3 foi reaplicado calcário países tradicionalmente olivicultores. e 2017 o acúmulo de unidades de frio em dose necessária para atingir pH Por exemplo, em Israel, sob irrigação, o (UF) (DE MELO-ABREU et al., 2004) em 6,5. Entre o início do crescimento dos cultivar Koroneiki apresentou cerca de São Miguel do Oeste, estação meteoro- racemos florais e a abertura das flores 3,9m de altura, respectivamente, aos lógica localizada em altitude de 665m, foram realizadas pulverizações de B e cinco anos de idade (SCHNEIDER et al., foi de 23 e 34UF¹, enquanto a estimativa Ca. As plantas foram podadas regular- 2012). A ‘Arbequina’, na Espanha, aos da necessidade da ‘Arbequina’ é 339UF mente para formação em vaso e pulve- três anos, teve média de 2,8m de diâ- (DE MELO-ABREU et al., 2004). Já em rizadas para controle da lagarta Palpita metro e 3m de altura, passando para 3,2 2016 o acúmulo foi de 133UF. A falta forficifera, de cochonilhas e de manchas e 3,6m aos quatro anos (VILLALOBOS et de frio inibe ou diminui a intensidade foliares. Além disso foram realizadas al., 2006). O crescimento naquelas con- do florescimento (MALIK & BRADFORD, roçadas nas entrelinhas e controle de dições pode ser considerado similar ao 2005), pois a diferenciação floral das plantas espontâneas com enxada e her- observado em Santa Catarina, pois pe- gemas induzidas se dá no período de bicida nas coroas e, mais tarde, na linha quenas diferenças podem ser devidas baixas temperaturas (NAVARRO GARCÍA de plantas (faixa). a podas que reduzem as dimensões et al., 2012; MESQUITA et al., 2012). O Em fevereiro de 2016 e julho de da copa. O crescimento observado em acúmulo de frio insuficiente também 2018 foram realizadas avaliações da Santa Catarina se deve às condições sa- explica a ausência de produção no Local altura e do diâmetro médio das co- tisfatórias de fertilidade dos solos, após 2, em todos os anos, pois é o de menor pas, cujos dados foram analisados por a correção, grande disponibilidade de altitude. Apesar disso, não se pode des- análises de variância e testes de Tukey água e temperaturas elevadas. cartar o efeito de outros fatores corre- (α=5%). A intensidade da floração foi Na safra 2016/2017 houve floração lacionados ao frio, já que o efeito das avaliada por meio de uma escala com e frutificação nos locais 1, 3 e 4 pelos horas ou unidades de frio na floração da quatro escores: ausente (sem racemos cultivares Arbequina, Arbosana e Koro- oliveira ainda é controverso na literatu- florais), escassa (poucas plantas com ra- neiki (Tabela 2), que diferiram em inten- ra. Não foram encontradas estimativas cemos e, quando presentes, em poucos sidade, enquanto no local 2 não houve precisas da necessidade dos cultivares ramos), média (maioria das plantas com floração em nenhuma safra. Nos locais ‘Arbosana’ e ‘Koroneiki’. Porém, ‘Fran- flores, mas poucos ramos floridos) e in- 3 e 4 a floração mais intensa ocorreu na toio’ necessita 671UF (DE MELO-ABREU tensa (maioria das plantas e ramos com ‘Arbequina’. Nos mesmos locais 3 e 4 a et al., 2004) e apresentou baixa intensi- flores). Quando ocorreu a produção de Arbequina e a Arbosana produziram sig- dade de florescimento no norte da Ar- frutos, a massa foi mensurada e os cul- nificativamente mais frutos que a ‘Koro- gentina (391 a 859m de altitude), que tivares comparados pelo teste de Dunn neiki’ e a ‘Frantoio’, que não diferiram foi atribuído à falta de frio (AYBAR et al., após a análise de Kruskal-Wallis (α=5%). entre si em nenhum dos locais. Nas sa- 2015). Todas as análises foram feitas separada- fras 2015/2016 e 2017/2018 não houve Na Espanha se obteve até o mente por local e ano, utilizando-se o frutificação em nenhum dos cultivares e quinto ano (2001 a 2004) produções pacote estatístico R. locais avaliados, apesar da emissão de acumuladas equivalentes a 14,5-24,0kg A altura das plantas foi afetada poucas flores (escassa) por ‘Arbequina’, planta-1 em um olival superintensivo significativamente pelos tratamentos ‘Arbosana’ e ‘Koroneiki’ nos locais 1, 3 e (DE LA ROSA et al., 2007). Ainda, nos locais 1, 3 e 4, onde as plantas de 4 na safra 2017/2018 (dados não apre- mesmo com 780 plantas por hectare, ‘Frantoio’ estiveram entre as mais altas sentados). A produção resultante não a ‘Arbequina’ produziu 8,56kg planta-1 (Tabela 1). Porém, a significância das di- foi medida por ser insignificante. no terceiro ano (LEÓN et al., 2007). As ferenças entre um dado par de cultiva- Sendo o ciclo 2016/2017 a quarta médias observadas por Da Croce et al. res foi dependente do local. No local 1, estação de crescimento das plantas le- (2016) em Chapecó variaram de 3,2 por exemplo, em 2018 ‘Frantoio’ tinha vadas ao campo em 2013, esperava-se a 5,76kg planta-1. Todas as produções plantas mais altas que ‘Arbequina’ e ‘Ko- colher a primeira safra de ‘Arbequina’, acima são superiores às observadas roneiki’, mas não diferia delas no local ‘Arbosana’ e ‘Koroneiki’ ainda em 2016, neste trabalho. 3. O contrário aconteceu com a ‘Arbo- terceira estação de crescimento, como Assim, pode-se inferir que a sana’. Os genótipos também afetaram observado previamente em Chapecó, adaptação das oliveiras ‘Arbequina’, significativamente o diâmetro da copa local de altitude semelhante, quan- ‘Arbosana’ e ‘Koroneiki’ na região de nos locais 2, 3 e 4, o qual variou de 2,34 do as plantas produziram 2,6 a 2,8kg altitudes intermediárias do Oeste de a 3,5m (Tabela 1). No local 1 as diferen- por planta (DA CROCE et al., 2016). Da Santa Catarina é parcial, especialmente ças não foram significativas. Nos outros, mesma forma se esperava produção por causa de anos desfavoráveis quanto ‘Frantoio’ sempre esteve entre as plan- em 2017/2018, apesar de a oliveira ser ao acúmulo de frio, e que a ‘Frantoio’ não tas com maior tamanho, e a ‘Arbosana’ uma planta com forte alternância de se adapta. Essas informações sugerem entre as menores. produção (LAVEE, 2007), já que a pro- um estudo das condições climáticas Os dados observados sugerem que dução anterior foi pequena. Uma pos- históricas para identificar riscos o crescimento da oliveira nas condições sível explicação para a improdutividade climáticos associados à olivicultura edafoclimáticas em questão é satisfató- nas duas safras é a falta de frio no perí- da região, avaliações de cultivares em rio, comparado ao que se observa em odo de repouso. Nos invernos de 2015 áreas com maior acúmulo de frio e de

¹ Calculadas a partir de dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia, do governo brasileiro.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.46-48, maio/ago. 2019 49 Tabela 1. Altura e diâmetro médio da copa de cultivares de oliveiras ‘Arbequina’, ‘Arbosana’, e do rendimento de azeite das oliveiras ‘Ar- ‘Frantoio’ e ‘Koroneiki’ no Oeste de Santa Catarina em dois momentos de avaliação bequina’, ‘Arbosana’ e ‘Koroneiki’ em Santa (fevereiro de 2016 e julho de 2018) Catarina. Agropecuária Catarinense, Floria- Table 1. Canopy height and mean diameter in trees of ‘Arbequina’, ‘Arbosana’, ‘Frantoio’ nópolis, v. 29, n. 1, p. 54-57, 2016. and ‘Koroneiki’ olive cultivars in the west of Santa Catarina in two evaluation moments DE LA ROSA, R.; LEÓN, L.; GUERRERO, N.; (February 2016 and July 2018) RALLO, L.; BARRANCO, D. Olival superin- Local(1) Cultivar Altura (m) Diâmetro médio (m) tensivo – realidade ou utopia? Revista de 2016 2018 2016 2018 Ciências Agrárias, Lisboa, v. 30, n. 1, p. 546- Local 1 Arbequina 2,52 ns 3,24 b(2) 1,77 ns 2,60 ns 551, 2007. Disponível em: https://goo.gl/ PNwzrb. Acesso em: 1 out. 2018. Arbosana 2,64 3,50 ab 1,84 2,34 Frantoio 2,79 4,16 a 2,25 2,82 DE MELO-ABREU, J. P.; BARRANCO, D.; COR- Koroneiki 2,40 3,38 b 1,66 2,50 DEIRO, A. M.; TOUS, J.; ROGADO, B. M.; Local 2 Arbequina 2,87 ns 3,52 ns 2,00 ns 3,20 ab VILLALOBOS, F. J. Modelling olive flowering date using chilling for dormancy release Arbosana 2,65 3,63 1,82 3,01 b and thermal time. Agricultural and Forest Frantoio 2,68 3,50 2,23 3,29 ab Meteorology, Amsterdam, v. 125, n. 1-2, p. Koroneiki 2,63 3,63 2,04 3,39 a 121-127, 2004. Local 3 Arbequina 1,41 b 3,39 ab 1,82 b 2,91 ab LAVEE, S. Bienial bearing in olive (Olea eu- Arbosana 1,50 b 3,19 b 1,89 b 2,48 b ropaea). Annales: Series Historia Naturalis, Frantoio 1,95 a 3,82 a 2,26 a 3,32 a Primorsko, v. 27, n. 1, p. 101-112, 2007. Dis- Koroneiki 1,51 b 3,44 ab 2,00 ab 2,68 ab ponível em: . Acesso Local 4 Arbequina 2,69 a 4,19 ns 1,86 ab 3,50 a em: 12 mar. 2018. Arbosana 2,26 b 3,75 1,54 b 2,80 b LEÓN, L.; DE LA ROSA, R.; RALLO, L.; GUER- Frantoio 2,67 a 3,99 2,18 a 3,38 ab RERO, N.; BARRANCO, D. Influence of spac- Koroneiki 2,14 b 3,68 1,45 b 3,15 ab ing on the initial production of hedgerow (1) Local 1: Bom Jesus do Oeste; Local 2: São José do Cedro; Local 3: Guaraciaba; Local 4: Maravilha; ns: ‘Arbequina’ olive orchards. Spanish Journal Diferença não significativa;(2) : Médias seguidas pela mesma letra, por local, nas colunas não diferem of Agricultural Research, Madrid, v. 5, n. 4, estatisticamente (Tukey, α=5%). p. 554-558, 2007. Disponível em: . Acesso em: 30 jul. 2018. Tabela 2. Intensidade de floração e massa de azeitonas colhidas dos cultivares de oliveira Arbequina, Arbosana, Frantoio, e Koroneiki cultivadas em diferentes locais de Santa MALIK, S. A. N.; BRADFORD, J. M. Is chilling Catarina na safra 2016/17 a prerequisite for flowering and fruiting in Table 2. Flowering intensity and mass of olives harvested from Arbequina, Arbosana, ‘arbequina’ olives? International Journal of Frantoio, and Koroneiki olive cultivars grown in different locations of Santa Catarina in the Fruit Science, Filadélfia, v. 5, n. 3, p. 29-39, 2016/17 harvest season 2005. (1) Cultivar Local 1 Local 3 Local 4 MESQUITA, H. A.; NAVARRO GARCÍA, C.; CIS- Floração Produção Floração Produção Floração Produção TA, E. L. Solos, aspectos nutricionais e suges- (g planta-1) (g planta-1) (g planta-1) tões de fertilização. In: OLIVEIRA, A. F. (Ed.). Arbequina Média 44,65 a Intensa 306,10 a Intensa 88,63 a Oliveira no Brasil: tecnologia de produção. Belo Horizonte: Epamig, 2012. p. 385-433. Arbosana Média 10,16 ab Média 33,80 a Média 70,31 a Koroneiki Escassa 6,20 ab Escassa 0,21 b Média 12,94 b NAVARRO GARCÍA, C.; MESQUITA, H. A.; AL- Frantoio Ausente 0,00 b Ausente 0,00 b Ausente 0,00 b VARENGA, A. A. Limitações de clima, solo e C.V. (%)(4) 417 458 220 planejamento do plantio para o cultivo da (1) Local 1: Bom Jesus do Oeste; Local 2: São José do Cedro; Local 3: Guaraciaba; Local 4: Maravilha; oliveira. In: OLIVEIRA, A. F. (Ed.). Oliveira no (2): Na safra 2018 não houve produção em nenhum local. No Local 2 não ocorreu floração; (3): Médias Brasil: tecnologias de produção. Belo Hori- seguidas pela mesma letra dentro de cada local não diferem estatisticamente (teste de Dunn, α=0,05); zonte: Epamig, 2012. p. 349-383. (4): C.V. = Coeficiente de variação. SCHNEIDER, D.; GOLDWAYA, M.; BIRGERB, uso de reguladores de crescimento para Referências R.; STERNA, R. A. Does alteration of ‘Koro- melhorar a floração e frutificação em neiki’ olive tree architecture by uniconazole casos de frio insuficiente. AYBAR, V. E.; ABREU, P. M.; SEARLES, S. P. S.; affect productivity? Scientia Horticulturae, MATIAS, A. C.; DEL RÍO, C. CABALLERO, J. M.; Amsterdam, v. 139, p. 79-85, 2012. Dispo- Agradecimentos ROUSSEAUX, M. C. Evaluation of olive flow- nível em: . Acesso ering at low latitude sites in Argentina using em: 30 jul. 2018. a chilling requirement model. Spanish Jour- Ao Programa SC Rural, à Fundação nal of Agricultural Research, Madrid, v. 13, VILLALOBOS, F. J.; TESTI, L.; HIDALGO, J.; de Amparo à Pesquisa e Inovação do n. 1, p. 1-10, 2015. Disponível em: . Acesso em: 19 set. 2017. canopies. European Journal of Agronomy, ro florestal Dorli Mario da Croce e aos Conthey, v. 24, p. 296-303, 2006. Disponível agricultores que foram parceiros nesta DA CROCE, D. M.; BRUGNARA, E. C.; OLIVEI- em: . Acesso em: pesquisa RA, V. P.; DIAS, C. R. Avaliação da produção 31 jul. 2018.

50 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.46-48, maio/ago. 2019 GERMOPLASMA ‘SCS437 Catarina’: Maracujá-azedo de alta qualidade para o mercado de mesa Henrique Belmonte Petry¹, Emilio Della Bruna², Alexsander Luís Moreto¹, Ademar Brancher³ e Márcio Sônego¹

Resumo - O maracujazeiro-azedo (Passiflora edulis Sims.) ‘SCS437 Catarina’ é o resultado de mais de vinte ciclos de seleção e manutenção da população realizado por pesquisadores da Epagri - Estação Experimental de Urussanga, em parceria com extensionistas rurais e produtores de maracujá do litoral sul-catarinense. É um cultivar altamente adaptado ao litoral catarinense, podendo ser cultivado em todo o sul do Brasil, em áreas com baixo risco de ocorrência de geadas. A produtividade média dos pomares desse cultivar no Sul de Santa Catarina é de 24t ha-1. Os frutos são grandes e ovalados e apresentam coloração de casca amarela e polpa alaranjada. São destinados ao consumoin natura e apresentam alta qualidade e aceitação no mercado nacional.

Termos para indexação: Passiflora edulis; melhoramento genético; seleção massal; maracujá subtropical.

‘SCS437 Catarina’: Sour passion fruit with high quality for the fresh market

Abstract - The ‘SCS437 Catarina’ sour passion fruit (Passiflora edulis Sims.) is the result of more than twenty cycles of breeding and population maintenance done by researchers of Epagri – Experimental Station of Urussanga, in partnership with agricultural extension agents and passion fruit producers, in the south coast of the Santa Catarina State – Brazil. The cultivar is highly adapted to the Santa Catarina coastline region and can be cultivated in southern Brazil, in areas with low risk of frosts. The average productivity of the orchards of this cultivar in the South of Santa Catarina is 24t ha-1. The fruits are large and oval and have yellow peel and orange flesh coloration. They are destined to the fresh fruit consumption and presents high quality and acceptance in the Brazilian market.

Index-terms: Passiflora edulis; breeding; mass selection; subtropical passionfruit.

Introdução as flores murcham e caem. Por - apre alta densidade econômica, o maracujá sentar flores grande e pólen pesado, a apresentou o terceiro maior valor bru- O maracujazeiro-azedo (Passiflora polinização é realizada sobretudo por to de produção entre todas as frutas edulis Sims.) é nativo do Brasil, sendo a mamangavas, abelhas nativas dos gêne- cultivadas na safra 2015/16 no estado, principal espécie cultivada do gênero. ros Xylocopa, principalmente (SOUZA & com resultado de mais de 67 milhões de As seleções e cultivares com casca ama- PEREIRA, 2011). reais recebidos pelos produtores catari- rela são de preferência do consumidor, O Brasil é o maior produtor e consu- nenses. Desta forma, a cadeia produtiva sendo essas as mais cultivadas (BER- midor de maracujá e seus derivados no dessa fruta se consolida como de gran- NACCI et al., 2008). O cultivo comercial mundo, principalmente de maracujá- de importância para a agricultura fami- do maracujazeiro é bastante recente, azedo (CERQUEIRA-SILVA et al., 2014). liar do litoral sul de Santa Catarina, visto apresentando ainda grande variabilida- Recentemente houve uma expansão da que tem se apresentado como uma das de genética natural para as diversas ca- produção de maracujá em Santa Catari- principais alternativas à cultura do fumo racterísticas da planta e do fruto (BRU- na, principalmente pela alta aceitação escolhidas pelos agricultores locais CKNER et al., 2002). dos frutos catarinenses pelos consumi- (GOULART JÚNIOR et al., 2015; GOU- O maracujazeiro é uma planta alóga- dores da região sudeste do Brasil e pela LART JÚNIOR et al., 2017a). ma, sendo a polinização um dos fatores redução da área de produção em outros O maracujazeiro-azedo ‘SCS437 Ca- que mais influenciam na sua frutifica- estados brasileiros. Assim, o maracujá- tarina’ produzido em Santa Catarina se ção, uma vez que as plantas são autoin- azedo tornou-se uma das frutas mais destaca no mercado nacional, devido compatíveis e apresentam flores que produzidas no estado e segundo maior à alta qualidade de seus frutos (Figura abrem uma única vez e por um curto pe- fornecedor da fruta no Ceagesp nos úl- 1). Este cultivar foi selecionado e man- ríodo de tempo, somente no turno ves- timos anos, mesmo produzindo menos tido por mais de vinte anos por pes- pertino. Se não ocorrer a fecundação, de 5% da produção nacional. Por ter quisadores da Estação Experimental de

Recebido em 3/8/2018. Aceito para publicação em 14/11/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.6 ¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, Rodovia SC 108, km 353, nº 1563. Bairro Estação, Urussanga – SC. CEP: 88840-000, e-mail: [email protected], [email protected], [email protected]. 2 Engenheiro-agrônomo, M. Sc., Epagri/Estação Experimental de Urussanga, e-mail: [email protected]. ³ Engenheiro-agrônomo, M. Sc., Aposentado da Epagri/Estação Experimental de Urussanga. Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.49-52, maio/ago. 2019 51 tais de 5.000m² cada (833 plantas por com frutos mais uniformes quanto ao hectare), em propriedades de produto- formato (ovalado) e de alta qualidade, res do litoral do estado. Os diferentes que, a partir de então, vem sendo man- genótipos foram dispostos de forma ca- tida pela Epagri em três áreas distintas, sualizada, com polinização ao acaso, re- isoladas de cultivos comerciais. alizada por mamangavas. Desses poma- res foram colhidos frutos de plantas que Descrição apresentavam produção diferenciada, tanto pela quantidade, como também As plantas do maracujazeiro-azedo pelo tamanho e formato. Os frutos das ‘SC437 Catarina’ são características da plantas com produção destacada foram espécie Passiflora edulis (Figura 1), sen- avaliados quanto à espessura da casca do trepadeiras vigorosas (Figura 2), que (maior que 7mm) e rendimento de pol- necessitam de sistemas de condução pa (maior que 50%). (espaldeira ou latada, esta última mais Como resultado do primeiro ano de comum nos pomares catarinenses), e produção, foram obtidas 22 seleções de meio-irmãos, das quais as sementes apresentando ramos de secção circular, produziram as mudas para implantar os folhas trilobadas e presença de gavinhas primeiros pomares experimentais des- (MELETTI et al., 2010). As flores são tinados à realização do melhoramento grandes, coloridas, aromáticas e -pos genético da população pelo método de suem néctar, sendo bastante atrativas seleção massal. aos polinizadores, predominantemente Anualmente, entre os anos de 1996 mamangavas. Elas são hermafroditas a 1999, foram implantados pomares ex- perfeitas, porém autoincompatíveis Figura 1. Planta característica do perimentais de aproximadamente um pela ação de genes que impedem a for- maracujazeiro-azedo ‘SCS437 Catarina’ hectare, nas quais eram selecionadas as mação de frutos por autopolinização ou Figure 1. Plant characteristic of passion fruit melhores plantas, conforme descrito an- pela polinização de plantas aparentadas ‘SCS437 Catarina’ teriormente, gerando assim as plantas (JESUS & ROSA, 2017). para um novo ciclo de seleção. Desses Entretanto, o cultivar se destaca Urussanga, em conjunto com técnicos e pomares, foram selecionadas as plantas entre variedades e cultivares de mara- produtores de maracujá do litoral sul- que apresentavam menor suscetibilida- cujazeiro-azedo por apresentar um con- catarinense. Por esta razão, é um ma- de a doenças – tais como a bacteriose junto de características agronômicas terial altamente adaptado às condições (Xanthomonas axonopodis pv. passiflo- de interesse à cadeia produtiva (Tabela de clima e solo do litoral catarinense, rae), antracnose (Colletotrichum gloe- 1). Os frutos são grandes e ovalados e podendo também ser cultivado no - ex osporioides) e verrugose (Cladosporium apresentam coloração de casca amarela tremo oeste do estado, em áreas menos herbarum) – , alta produtividade, frutos e polpa alaranjada (Figuras 3 e 4). Nesse sujeitas a geadas tardias, bem como no alongados e rendimento de polpa maior sentido, os frutos do ‘SCS437 Catarina’ litoral norte do Rio Grande do Sul e no que 50%. Após esses ciclos de seleção, de classificação extra (média de 70 a Paraná. foi identificada uma população superior 80% da produção) chegam a represen-

Origem

O início do trabalho de seleção do cultivar SCS437 Catarina foi no ano de 1995 com a introdução de 12 genótipos comerciais de maracujá-azedo, sendo dez destes de casca amarela e dois de casca roxa (seleções locais de poliniza- ção aberta) vindos das principais regi- ões produtoras do Brasil na época (São Paulo, Minas Gerais, Pará e Bahia) e do litoral norte de Santa Catarina. Os frutos foram adquiridos nas principais centrais de comercialização de frutas e horta- liças de São Paulo (Ceagesp e Ceasa Campinas). Com estes genótipos, foram Figura 2. Pomar de alta produtividade localizado no Sul de Santa Catarina implantados dez pomares experimen- Figure 2. High productivity orchard located in the South of Santa Catarina

52 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.49-52, maio/ago. 2019 Tabela 1. Características do cultivar de maracujazeiro-azedo SCS437 Catarina tar mais de 70% no mercado do Cea- Table 1. Characteristics of the cultivar of sour passion fruit SCS437 Catarina gesp nos meses de fevereiro a abril, pe- Características SCS437 Catarina ríodo em que há escassez de maracujá no mercado nacional, garantindo bons Mercado In natura preços aos agricultores catarinenses Produtividade (t ha-1) 20-90 (24)¹ (GOULART JÚNIOR et al., 2017b; GOU- LART JÚNIOR et al., 2017c). Os frutos Massa do fruto (g) 160-430 (315) desse cultivar também são resistentes Comprimento do fruto (cm) 90-145 (120) ao transporte por terem casca com es- Diâmetro do fruto (mm) 78-102 (90) pessura superior a 7mm e, devido ao excelente aspecto visual dos frutos, Rendimento de suco (%) 33-50 (42) são preferidos pelos consumidores das Sólido solúvel (°brix) 9-14,5 (11,5) principais capitais da região Sudeste do Acidez (% ácido cítrico) 1,8-5,4 (3,7) Brasil. O ‘SCS437 Catarina’ apresenta alta ¹Resultado entre parênteses médios da avaliação nos municípios de SC: Treze de Maio, Jacinto Machado adaptação às condições de clima e solo e Sombrio, na safra de 2016. do Sul do Brasil, principalmente no lito- ral Sul Catarinense. Esta condição con- fere precocidade de produção (Figura 5) e frutos de alta qualidade. A produtivi- dade média dos pomares desse cultivar no Sul de Santa Catarina é de 24t ha-1, porém apresenta potencial produtivo de 90t ha-1 em cultivos de primeiro ano, com alto nível tecnológico empregado, bem como com a aplicação da prática da polinização manual durante todo pe- ríodo de florescimento da cultura (final da primavera a meados do outono do ano seguinte, na Região Sul do Brasil).

Perspectivas e problemas

O maracujazeiro-azedo ‘SCS437 Ca- Figura 3. Maracujá-azedo ‘SCS437 Catarina’ destinado à comercialização tarina’ é indicado para cultivo anual nas Figure 3. Sour passion fruit ‘SCS437 Catarina’ intended for commercialization principais regiões produtoras de Santa Catarina, com vazio sanitário de 30 dias entre as safras, condição necessária para manutenção da qualidade exigi- da pelos consumidores. Não se indica a execução de poda de inverno para renovação da copa das plantas, já que são áreas com ocorrência da virose do endurecimento dos frutos (VEFM), cau- sada pelo Cabmv (Cowpea aphid-borne mosaic vírus) (Figura 6). O maracujazeiro-azedo ‘SCS437 Ca- tarina’ é tolerante à bacteriose e antrac- nose e suscetível à VEFM e outras. Po- rém, quando as mudas são provenien- tes de viveiros protegidos com telas an- tiafídeos e implantadas em campo com altura superior a 80cm, após a adoção do vazio sanitário de 30 dias no inver- no e quando os pomares são cultivados Figura 4. Fruto recém-colhido apresentando polpa alaranjada em áreas com proteção da incidência de Figure 4. Freshly harvested fruit with orange pulp ventos (quebra-ventos) e manejados de

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.49-52, maio/ago. 2019 53 In: BRUCKNER, C. H. Melhoramento de fru- teiras tropicais. Viçosa: UFV, 2002. p.373- 409.

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GOULART JUNIOR, R. Maracujá. In: SCHMITT, D. R.; PADRÃO, G. A.; DOROW, R.; GOULART Figura 5. Maracujazeiro-azedo com produção precoce JUNIOR, R.; MARCONDES, T. Boletim Agro- Figure 5. Sour passion fruit with early production pecuário. Florianópolis: Epagri, 2015. p.12- 13.

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GOULART JUNIOR, R; MONDARDO, M.; REITER, J. M. W. Relatório de projeto LF 2015/16: análise comparativa das principais Figura 6. Planta do ‘SCS437 Catarina’ apresentando sintomas de endurecimento dos frutos frutas nas safras 2014/15 e 2015/16. Floria- Figure 6. Plant ‘SCS437 Catarina’ showing symptoms of hardening of the fruit nópolis: Epagri, 2017a. acordo com as indicações técnicas para Postal. 49, CEP 88840-000 – Urussanga, MELETTI, L. M. M.; OLIVEIRA, J. C.; RUGGIE- a cultura, as plantas apresentam baixa SC. Telefone: (48) 3403-1400 e 3403- RO, C. Maracujá. Jaboticabal: Funep, 2010. incidência dessas doenças. 1377. (Série Frutas Nativas, 6). E-mail: [email protected] SOUZA, M. M.; PEREIRA, T. N. S. Biologia da Disponibilidade de material reprodução em maracujazeiro amarelo e Referências sua importância para a produção comercial O maracujazeiro-azedo ‘SCS437 Ca- de frutos. In: PIRES, M. M.; SÃO JOSÉ, A. R.; tarina’ foi incluído no Registro Nacional BERNACCI, L. C.; SOARES-SCOTT, M. D.; JUN- CONCEIÇÃO, A. O (Eds.). Maracujá: avanços de Cultivares (RNC) do Ministério da QUEIRA, N. T. V.; PASSOS, I. R. S.; MELETTI, tecnológicos e sustentabilidade. Ilhéus: Edi- Agricultura, Pecuária e Abastecimento L. M. M. Passiflora edulis Sims: the correct tus, 2011. p.175-202. (Mapa) em 15 de dezembro de 2015, taxonomic way to cite the yellow passion com número de registro 34905. fruit (and others colors). Revista Brasileira JESUS, O. N.; ROSA, R. C. C. Polinização do Para informações e disponibilidade de Fruticultura, v.30, n.2, p.566-576, 2008. maracujazeiro. In: JUNGHANS, T. G.; JESUS, de sementes entrar em contato com: O. N. (Ed.). Maracujá do cultivo à comercia- Epagri (Estação Experimental de Urus- BRUCKNER, C. H.; MELETTI, L. M. M.; OTONI, lização. Brasília, DF: Embrapa, 2017. p.177- sanga): Rodovia SC 108, Km 16, Caixa W. C.; ZERBINI JÚNIOR, F. M. Maracujazeiro. 190.

54 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.49-52, maio/ago. 2019 GERMOPLASMA Novo cultivar catarinense de azevém-anual: SCS316 CR Altovale Ana Lúcia Hanisch1, Ulisses de Arruda Córdova2, Jefferson Araújo Flaresso2, Dediel Junior Amaral da Rocha3, Humberto Bicca Neto4 e Edison Xavier de Almeida5

Resumo - SCS316 CR Altovale é o novo cultivar de azevém-anual, diploide, resultado do processo de seleção de um material proveniente da região do Alto Vale do Itajaí em Santa Catarina. Destaca-se dos demais cultivares comerciais por produtividade, precocidade e por sua adaptação ao clima Cfa. O SCS316 CR Altovale é um azevém-anual de ciclo médio, com hábito de crescimento semiereto e uma relação folha-colmo de 4:1 no período vegetativo. Em dois anos de avaliação (2014 e 2015) e três locais do estado (Papanduva, Lages e Ituporanga), sendo manejado a uma altura de 30cm, alcançou uma produção média de 32t ha-1 de massa verde e 5,8t ha-1 de massa seca, em oito cortes, entre junho e outubro. Na média de todos os locais, apresentou teor de 23% de proteína bruta e 69% de digestibilidade in vitro, na avaliação realizada no terceiro corte. O cultivar foi registrado junto ao Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A disponibilidade de sementes comerciais deverá ocorrer a partir de 2020.

Termos para indexação: Lolium multiflorum Lam.; forrageiras de clima temperado; pastagem anual; valor de cultivo e uso.

New annual ryegrass-annual cultivar SCS316 CR Altovale

Abstract - SCS316 CR Altovale is the new diploid annual ryegrass cultivar resulting from the selection process of genotypes from the “Alto Vale from Itajaí” region of Santa Catarina State, South of Brazil. It differs from other commercial cultivars by productivity, precocity and their adaptation to climate Cfa. The SCS316 CR Altovale is medium annual ryegrass, with semi erect growth habit and leaf: stem ratio of 4: 1 in the vegetative period. In two years of evaluation (2014 and 2015) and three sites in the State (Papanduva, Lages and Ituporanga), it was managed at the height of 30cm, reaching an average yield of 32t ha-1 of green mass and 5,8t ha-1 of dry mass, in eight cuts, between June and October. In the average of all the sites, it presented 23% of crude protein and 69% of in vitro digestibility, in the evaluation realized in the third cut. The cultivar was registered in Registro Nacional de Cultivares do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. The availability of commercial seeds should occur from 2020.

Index terms: Lolium multiflorum Lam.; temperate forages; annual pasture; value of cultivation and use.

Introdução Quando manejado adequadamente, BEIRO FILHO et al., 2009). o azevém-anual apresenta alta relação Em regiões de clima Cfa no Sul do O azevém-anual (Lolium multiflo- folha-colmo e alto valor nutritivo, o que Brasil, em função de temperaturas mais rum Lam.) há muitas décadas é uma das garante bons resultados do seu uso tan- elevadas, é comum o azevém-anual plantas forrageiras de clima temperado to para pastejo, quanto para conserva- apresentar como limitação a redução no mais utilizadas na Região Sul do Brasil, ção de forragem (OLIVEIRA et al., 2014; ciclo produtivo e, consequentemente, consagrando-se pela sua facilidade de COSTA et al., 2018). na produtividade. Esse fato ocorre por- ressemeadura natural e produção de Na bovinocultura leiteira, desde que que espécies de clima temperado apre- sementes; tolerância a doenças, pragas manejado com alta oferta de forragem, sentam um crescimento ótimo em tor- e baixas temperaturas; alta palatabili- o azevém-anual permite elevado consu- no de 18,3°C, sendo que, dos 15,6 aos dade e habilidade em associações com mo individual de massa seca e produção 21,1°C, produzem cerca de 95% da taxa outras gramíneas e leguminosas (RIBEI- de leite superior a 20kg vaca dia-1, sem máxima de crescimento, reduzindo o RO FILHO et al., 2009; TONETTO et al., prejuízo ao estado corporal de vacas desempenho em temperaturas acima e 2011). leiteiras no terço médio de lactação (RI- abaixo desses valores (WEIHING, 1963).

Recebido em 9/1/19. Aceito para publicação em 13/3/19. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.7 1 Engenheira-agrônoma, Dra., Epagri/Estação Experimental de Canoinhas, BR 280, 1101, 89466-500, Canoinhas, SC, fone: (47) 3627 4199, e-mail: analucia@ epagri.sc.gov.br. 2 Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/Estação Experimental de Lages - EEL, Rua João José Godinho, sn - Morro do Posto, Lages, SC, 88502-970, fone: (49) 3289 6400, e-mail: [email protected]; [email protected]. 3 Engenheiro-agrônomo, Dr., EEL, e-mail: [email protected]. 4 Engenheiro-agrônomo, Gerência Regional de Campos Novos, e-mail: humberto.neto@epagri,sc,gov.br 5 Engenheiro-agrônomo, Dr., pesquisador aposentado da Epagri/Estação Experimental de Ituporanga, SC, e-mail: [email protected]

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.53-56, maio/ago. 2019 55 Outra limitação no uso da espécie dos esses testes o ecotipo regional foi o e Desenvolvimento Rural), denominado refere-se à dificuldade de técnicos e mais produtivo. azevém SCS316 CR Altovale. produtores que atuam na área de pro- A partir de 2011 a Cravil iniciou um dução animal, na escolha de cultivares diálogo com a Epagri, via EEItu no senti- Avaliações experimentais em com maior adaptação às condições de do de promover uma parceria para ava- cada região. Entre os vários cultivares liação, seleção e registro desse genótipo diferentes ambientes de SC disponíveis no mercado, não são raros de azevém-anual. Em 2013, foi firmado aqueles que não atendem às expecta- um acordo conjunto entre Epagri e Cra- O genótipo selecionado foi compa- tivas dos produtores, seja por falta de vil e foram iniciados os procedimentos rado com os cultivares comerciais Em- adaptação ao ambiente ou de dificulda- legais para realização do Ensaio de Valor pasc 304, Estanzuela 284, Bakarat e BRS de de manejo. de Cultivo e Uso (VCU) para avaliação e Ponteio, em ensaios de Valor de Cultivo Para contornar essas limitações, em possível registro do material. e Uso (VCU) conduzidos em três diferen- países que utilizam a tecnologia da pro- O Ensaio de VCU foi registrado no tes regiões fisiográficas de Santa Catari- dução de leite e carne à base de pasto então Ministério da Agricultura, Pecuá- na: 1) Planalto Norte Catarinense – no como sustentação da matriz produtiva, ria e Abastecimento (Mapa) em maio de município de Papanduva (26°22´11”S, como Uruguai e Nova Zelândia, os sis- 2014, sob responsabilidade da Estação 50°16´41”O, altitude de 800m e cli- temas de pesquisa são voltados para a Experimental de Canoinhas e os ensaios ma Cfb); 2) Planalto Sul Catarinense geração e avaliação de novos materiais foram conduzidos em três locais do es- – no município de Lages (27°48’31”S e forrageiros adaptados às condições re- tado de Santa Catarina, nas estações 50°19’50”O, altitude de 937m e clima gionais. Em Santa Catarina, a Epagri experimentais de Ituporanga, Lages e Cfb); 3) Alto Vale do Itajaí – nomu- adotou estratégia semelhante, através Canoinhas (cujo campo experimental nicípio de Ituporanga (27°25’08’’S e da seleção de ecotipos regionais, que se localiza no município de Papanduva), 49°38’52’’O, altitude de 475m do nível apresentem ampla adaptação e que durante os anos de 2014 e 2015. do mar e clima Cfa). Os ensaios foram podem ser melhorados para adequação O genótipo de azevém-anual avalia- conduzidos no ano de 2014 e repetidos comercial. Neste sentido, a Epagri e a do esteve entre os materiais mais pro- em 2015 (Figura 1). Cooperativa Regional Agropecuária Vale dutivos nos três locais, destacando-se A metodologia de avaliação foi a do Itajaí (Cravil) desenvolveram uma em produtividade, precocidade e longe- mesma para os três locais. O solo foi parceria que resultou no lançamento do vidade do ciclo na região do Alto Vale, preparado em sistema convencional, cultivar SCS316 CR Altovale de azevém- que possui clima Cfa. Após os dois anos com uma aração e uma gradagem, sen- anual. de avaliação, o acordo entre as partes do corrigido e adubado conforme as re- definiu pelo registro do genótipo junto comendações do Manual de Adubação Origem e histórico de obtenção ao Mapa (hoje Ministério do Alimento e de Calagem para Santa Catarina e Rio

Em 2007, em visitas de prospecção de materiais forrageiros realizada em conjunto pela Estação Experimental de Ituporanga e pela Cravil em proprieda- des do Alto Vale do Itajaí, os pesquisa- dores foram apresentados a um mate- rial de azevém-anual, em uma proprie- dade rural do município de Lontras, que vinha se destacando dos demais há aproximadamente 60 anos. Para validar a informação foi implantada uma área de observação com o material na Esta- ção Experimental de Ituporanga – EEItu. Essa área de observação confirmou o excelente potencial produtivo e adapta- bilidade do material à região. Em 2008, a Cravil, através do seu responsável técnico, implantou um en- saio para comparação desse genótipo de azevém-anual com outros quatro cultivares comerciais. Em 2009, foi re- Figura 1. Vista geral do ensaio de VCU na Estação Experimental de Canoinhas, com o petido o ensaio, comparando-o a oito cultivar SCS316 CR CR Altovale em primeiro plano, na parcela 1. Papanduva, SC, 2015 cultivares comerciais, inclusive com cul- Figure 1. General view of the trial at the Canoinhas Experimental Station, with the cultivar tivares importados e nacionais. Em to- SCS316 CR CR Altovale in the foreground, in plot 1. Papanduva, SC, 2015

56 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.53-56, maio/ago. 2019 Grande do Sul para gramíneas anuais de Tabela 1. Descrição de algumas características morfológicas e produtivas do cultivar SCS316 clima temperado (CQFS RS/SC, 2004). A CR Altovale em três regiões do estado de Santa Catarina em 2014 e 2015 semeadura foi feita manualmente, em Table 1. Description of some morphological and productive characteristics of the cultivar linhas, e a densidade de semeadura foi SCS316 CR Altovale in three regions of the Santa Catarina State, in 2014 and 2015 de 25kg ha-1 para todos os cultivares. As Altura da planta 65 cm avaliações para disponibilidade de for- Relação folha colmo no período vegetativo 4:1 ragem foram realizadas através de cor- População de plantas no início do perfilhamento 600 plantas m2 tes na pastagem, sempre que 50% das Percentagem de área coberta no primeiro corte 100% plantas de cada tratamento atingiam a Capacidade de rebrota Muito alta altura de 25cm do solo, deixando-se re- síduo de 7cm de altura. Após cada corte Reação a pragas Baixa de avaliação toda a parcela foi roçada e Doenças do colmo Ausência o material cortado foi retirado da mes- Ataque de insetos Sem danos ma. Na sequência, foi realizada a aplica- Resistência à seca Alta ção em cobertura de 20kg ha-1 de N, na Resistência às geadas Alta forma de ureia. Nos ensaios de 2014 foi realizada Proteína bruta 22,8% a determinação dos teores médios de Fibra detergente neutro (FDN) 50,5% matéria seca (MS), proteína bruta (PB), DIVMO 68,9% fibra detergente neutro (FDN) e diges- tibilidade in vitro da matéria orgânica (DIVMO) utilizando-se o método de Es- pectroscopia de Infravermelho Próximo (NIRS). Foram mantidas linhas de ob- servação, em todos os locais e nos dois anos, para avaliação do ciclo de cada ge- nótipo, ocorrência de doenças e pragas. Essas linhas foram cortadas até primeiro de setembro e depois ficaram em cres- cimento livre.

Descrição morfológica e desempenho agronômico

A descrição morfológica detalha- da quanto às características da planta Figura 2. Linhas de observação do ciclo de vida de cinco genótipos de azevém, com as respectivas percentagens de florescimento em 14 de outubro de 2014. Papanduva, SC que tornam possível a identificação do Figure 2. Life cycle observation lines of five ryegrass genotypes, with respective percentages cultivar SCS316 CR Altovale é apresen- of flowering on October 14, 2014. Papanduva, SC tada na Tabela 1. Com relação ao ciclo de vida, o cultivar destacou-se por ser o último a florescer nas linhas de observa- o cultivar mais produtivo no Alto Vale rior aos cvs BRS Ponteio em 2014 e LLE ção (Figura 2). nos dois anos de avaliação. 284 em 2015, mas mantendo valores Em relação ao desempenho agronô- Nos dois anos de avaliação, os maio- de produtividade muito próximos ao mico o cultivar SCS316 CR Altovale este- res valores de forragem foram obser- cv. Empasc 304, que é um cultivar com ve, entre os mais produtivos em todos vados na região do Planalto Norte, em excelente adaptação a essa região onde os ensaios de VCU, indicando adapta- função de ser a região com clima mais ocorrem as menores temperaturas do ção às três condições edafoclimáticas estável, sem extremos de frio como no Brasil (ROSA et al., 2008). em que foi avaliado, embora tenha Planalto Sul Catarinense, nem tempe- Os valores observados para esse cul- apresentado valores de produção de raturas mais elevadas como ocorre no tivar são altos para azevém-anual diploi- forragem diferente entre as regiões (Ta- Alto Vale do Itajaí. No Planalto Norte de, uma vez que é comum o relato de bela 2). Na região do Alto Vale do Itajaí seu destaque ocorreu em função da grande variação na produtividade desta o cultivar une a precocidade forrageira rapidez de rebrote, o que permitiu um espécie, com resultados variando de ao prolongamento do ciclo até o mês de corte a mais nos dois anos, o que lhe 1,7 a 7,0t ha-1 de MS durante seu ciclo outubro, fato raro para gramíneas tem- rendeu maior produtividade que os produtivo (MITTELMANN et al., 2010; peradas em regiões de clima Cfa, em demais cultivares. No Planalto Sul apre- TONETTO et al., 2011; HANISCH et al., função do aumento da temperatura na sentou produtividade e ciclo semelhan- 2014; COSTA et al. 2018). Essa variação primavera e maior incidência de luz. Foi tes aos demais cultivares, sendo supe- ocorre em função de diferentes condi-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.53-56, maio/ago. 2019 57 Tabela 2. Disponibilidade total de forragem (kg ha-1 de matéria seca) de genótipos de teristics of ryegrass cultivars used to- hay azevém-anual em três regiões de Santa Catarina, em dois anos de avaliação making in lowland soils. Bioscience Journal, Table 2. Total forage availability (kg ha-1 of dry matter) of annual ryegrass genotypes in Uberlândia, v. 34, n. 5, p. 1232-1238, 2018. three regions of Santa Catarina State, in two years of evaluation Planalto Norte Planalto Sul Alto Vale CÓRDOVA, U.A. Forrageiras de clima tempe- 2014 rado: caracterização, implantação e manejo. SCS316 CR Altovale 6195 a A 4882 a B 5744 a A Revista do Produtor Rural do Paraná, Gua- Empasc 304 5117 b A 4801 ab AB 4320 b B rapuava, v. 8, n. 41, p. 52-57, 2014.

LE 284 4552 b A 4420 ab A 3305 c B HANISCH, A.L.; CORDOVA, U.A.; FLARESSO, Bakarat 5003 b A 4422 ab A 3507 c B J.A. Forage yield and chemical composition BRS Ponteio 4513 b A 4081 b A 3103 c B of ryegrass varieties (Lolium multiflorum) in 2015 Santa Catarina, State. Anais[...]In: REUNIÃO SCS316 CR Altovale 7360 a A 5117 a C 5894 a B ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOO- Empasc 304 7043 a A 5186 a B 4761 b B TECNIA, 51., 2014, Barra dos Coqueiros, SE. LE 284 5114 d A 4283 b B 2440 d C A produção animal frente às mudanças cli- Bakarat 6112 c A 4707 ab B 3485 c C máticas. Aracaju, SE: SBZ, 2014. BRS Ponteio 6271 bc A 4417 ab B 4741 b B MITTELMANN, A.; MONTARDO, D.P.; CAS- C.V.% 8,34 TRO, C. M.; NUNES, C.D.M.; BUCHWEITZ, Médias seguidas de letras iguais, minúsculas na coluna e maiúsculas na linha para cada ano, não diferem E.D.; CÔRREA, B.O. Caracterização agronô- entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. C.V.= coeficiente de variação mica de populações locais de azevém na Re- ções edafoclimáticas, de implantação, mais quentes de todo o Sul do País. O gião Sul do Brasil. Ciência Rural, Santa Ma- de manejo e, mais recentemente, em sucesso do cultivar também é associa- ria, v. 40, n.12, p. 2527-2533, 2010. função da diversidade de cultivares dis- do à precocidade com ciclo intermedi- OLIVEIRA, L. V.; FERREIRA, O.G.L.; COELHO, ponibilizados no mercado, sendo que ário, uma característica incomum em nos últimos anos têm sido registrados azevém-anual. R.A.T.; FARIAS, P.P.; SILVEIRA, R.F. Caracte- muitos materiais tetraploides e do tipo rísticas produtivas e morfofisiológicas de itálico (Lolium multiflorum Lam. var. Disponibilidade de semente cultivares de azevém. Pesquisa Agropecu- italicum), que normalmente produzem ária Tropical [online]. 2014, vol.44, n.2, pp. mais e possuem ciclo mais longo, che- O cultivar SCS316 CR Altovale está 191-197. gando até final de novembro ou primei- registrado junto ao Registro Nacional ra quinzena de dezembro em estágio RIBEIRO FILHO, H.M.N.; HEYDT, M.S.; BAA- de Cultivares do Ministério do Alimento vegetativo (CÓRDOVA, 2014). DE, THALER NETO, A. Consumo de forragem e Desenvolvimento Rural com o certifi- e produção de leite de vacas em pastagem cado nº 37.071, sendo mantenedoras Indicações de uso a Epagri e a Cravil. A recomendação de de azevém-anual com duas ofertas de forra- uso é de 25kg ha-1 de sementes. A dis- gem. Revista Brasileira de Zootecnia, Viço- - Pastagem anual de clima tempera- ponibilidade de sementes comerciais sa, v.38, n.10, p.2038-2044, 2009. do, com formação precoce; deverá ocorrer a partir de 2020, pois ROSA, J.L.; CÓRDOVA, U.A.; PRESTES, N.E. - Integração lavoura-pecuária, com em 2018 foi produzida semente básica produção de massa verde (cobertura suficiente para iniciar a multiplicação Forrageiras de clima temperado para o do solo) até novembro; comercial. estado de Santa Catarina. Florianópolis: - Silagem pré-secada de alta quali- Epagri, 2008. 64p. (Epagri, Boletim Técnico, dade. Referências 141). TONETTO, C.J.; MÜLLER, L.; MEDEIROS, Perspectivas futuras COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO S.L.P.; MANFRON, P.A.; BANDEIRA, A.H.; SOLO (CQFS) RS/ SC. Manual de adubação MORAIS, K.P.; LEAL, L.T.; MILTTEMANN, A.; Em função dos ensaios terem sido e calagem para os Estado do Rio Grande do DOURADO NETO, D. Produção e composi- desenvolvidos em três regiões distintas Sul e Santa Catarina. Porto Alegre: Socieda- ção bromatológica de genótipos diploides e e nos dois climas existentes em Santa de Brasileira de Ciência do Solo/Núcleo Re- Catarina, o cultivar SCS316 CR Altovale é gional Sul, 2004. 400p. tetraploides de azevém. Zootecnia Tropical, adaptado às condições edafoclimáticas Maracay, v.29, p.169-178, 2011. de todo o estado. Seu destaque se dá COSTA, O.A.D.; FERREIRA, O.G.L.; SILVA, em função da ótima adaptação ao clima J.L.S.; FLUCK, A.C.; KRÖNING, A.B.; OLIVEIRA, WEIHING, R.M.; Growth of ryegrass as influ- Cfa, o que aumenta muito sua produtivi- L.V.; COELHO, R.A.T.; BRONDANI, W.C. Yield, enced by temperature and solar radiation. dade e a perspectiva de uso nas regiões structural composition and nutritive charac- Agronomy Journal, v.55, p.519-521, 1963.

58 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.53-56, maio/ago. 2019 ARTIGO CIENTÍFICO Esterilidade de espiguetas e produção de grãos de genótipos de arroz irrigado submetidos a baixas temperaturas na microsporogênese Francieli Weber Stürmer¹, Rubens Marschalek², Luis Sangoi³ e Natália Maria de Souza4

Resumo – Baixas temperaturas reduzem o rendimento do arroz, especialmente quando ocorrem na microsporogênese da cultura. Este trabalho objetivou identificar genótipos tolerantes ao estresse ocasionado pelo frio na microsporogênese. Foram avaliados 17 genótipos do programa de melhoramento da Epagri. O cultivo das plantas foi em casa de vegetação da semeadura até a microsporogênese, quando foram transferidas para câmara de crescimento por 72 horas, à temperatura noturna de 12°C e diurna de 15°C. Cada genótipo contou com uma testemunha mantida na casa de vegetação com temperaturas de 25 a 30°C durante o ciclo da cultura. Avaliou-se a esterilidade de espiguetas e a produção de grãos. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F e as médias comparadas pelo teste de Skott Knott ao nível de significância de 5%. As linhagens SC 854 e SC 850 mostraram potencial para a geração de futuros cultivares com a presença de tolerância ao frio na microsporogênese. As linhagens SC 806 e SC 491ME, embora apresentem baixa esterilidade de espiguetas e boa produção de grãos, mostraram instabilidade quando os dois ambientes são comparados. A linhagem SC 790 foi considerada muito sensível ao frio na fase de microsporogênese.

Termos para indexação: Oryza sativa; emborrachamento; frio; linhagem.

Spikelet sterility and grain production of paddy rice genotypes submitted to low temperatures at microsporogenesis

Abstract – Low temperatures reduce rice grain yield, especially when they occur at the crop microsporogenesis. This study was conducted aiming at identifying paddy rice genotypes tolerant to the cold stress at microsporogenesis. Seventeen genotypes from the Epagri’s breeding program were evaluated. The plants were grown in the greenhouse from sowing to microsporogenesis, when they were moved to the growth chamber for a 72-hour period of cold stress, with a night temperature of 12°C and a day temperature of 15°C. Each genotype had a control kept in the greenhouse with temperatures ranging from 25°C to 30°C during the whole crop cycle. Spikelet sterility and grain production were determined. Data were evaluated by variance analysis using the F test and averages were compared by the Skott Knott’s test at a 5% significance level. The inbreeds SC 854 and SC 850 showed potential to generate future cultivars tolerant to cold stress at microsporogenesis. Inbreeds SC 806 and SC 491ME, although presenting low spikelet sterility and good grain production, had instability when the two environments were compared. The inbreed SC 790 was considered very sensitive to cold at microsporogenesis.

Index terms: Oryza sativa; booting; cold; inbreeds.

Introdução rigado devido à ocorrência de condições (TERRES, 1991). Temperaturas abaixo meteorológicas adversas, como baixas de 17°C durante a microsporogênese O arroz é um dos cereais mais culti- temperaturas. Essas, quando ocorrem comprometem a formação e viabilidade vados e consumidos em todo o mundo. nas fases críticas de desenvolvimento dos grãos de pólen (CRUZ & MILACH, Os estados do Rio Grande do Sul e Santa da cultura, afetam negativamente a sua 2000). Além disso, tem-se observado Catarina são responsáveis por aproxi- produtividade (SOSBAI, 2016). outros efeitos negativos do frio, como madamente 80% do total produzido no As fases de germinação, desenvol- a má exerção da panícula, deformação Brasil, sendo considerados estados es- vimento inicial das plântulas, micros- dos ápices das panículas e sua emissão tabilizadores para o mercado brasileiro, porogênese e antese, são consideradas muito lenta (CRUZ et al., 2006). garantindo o suprimento desse cereal as mais sensíveis aos efeitos do frio A utilização de cultivares tolerantes para a população de todo o país (SOS- (STINGHEN, 2015). As baixas tempera- a baixas temperaturas pode auxiliar a BAI, 2016). turas durante a fase de prefloração (mi- mitigar os problemas ocasionados pelo Apesar de apresentar alta produtivi- crosporogênese) têm maiores efeitos frio em arroz irrigado (TORRES TORO, dade, em alguns anos ocorrem decrésci- sobre o rendimento de grãos devido ao 2009). Assim, o melhoramento genético mos no rendimento de grãos do arroz ir- aumento da esterilidade das espiguetas é um aliado na busca por cultivares que

Recebido em 21/5/2018. Aceito para publicação em 20/9/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.8 1 Engenheira agrônoma, Mestranda, Udesc – CAV, Av. Luiz de Camões, 2090. Conta Dinheiro, Lages, SC, CEP 88520-000. E-mail: [email protected]. 2 Engenheiro agrônomo, Dr. Epagri / Estação Experimental de Itajaí. E-mail: [email protected]. 3 Engenheiro agrônomo, Dr., Universidade do Estado de Santa Catarina – Centro de Ciências Agroveterinárias (Udesc – CAV), E-mail: [email protected] 4 Engenheira agrônoma, Ms. Doutoranda, (Udesc – CAV), E-mail: [email protected]

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.57-61, maio/ago. 2019 59 apresentem tolerância a essa condição O delineamento experimental utili- acordo com a recomendação da SOSBAI nas fases críticas da cultura. Este tipo zado foi inteiramente casualizado, com sempre que constatados sintomas de de cultivar é importante principalmente os tratamentos distribuídos em esque- doenças. nas regiões produtoras do estado que ma bifatorial (17 x 2) com três repeti- Quando atingida a maturação, foi apresentam maior altitude, destacando- ções. O primeiro fator diz respeito aos realizada a colheita das plantas inteiras se o Alto Vale do Itajaí. Segundo dados genótipos utilizados no ensaio e ose- de cada unidade experimental como climáticos levantados junto à Epagri/Ci- gundo fator correspondeu à temperatu- bulk, incluindo colmo principal e perfi- ram, com base numa série histórica de ra no estádio de microsporogênese (frio lhos. Posteriormente, procedeu-se a se- 1980 a 2016, as probabilidades da ocor- versus controle). Para as plantas subme- paração das espiguetas cheias e vazias, rência de temperaturas abaixo de 17°C tidas ao estresse por frio, utilizou-se a além da contagem e pesagem dessas, no período compreendido entre 1/11 e temperatura de 15°C durante o dia (12 obtendo-se assim a taxa de esterilidade 31/03 foram de 33,6% e 38,8% nos mu- h) e 12°C à noite (12 h), por um período e de produção de grãos por balde dos nicípios de Rio do Campo e Ituporanga, de 72 horas. genótipos. respectivamente (STÜRMER, 2018). As unidades experimentais foram O índice de esterilidade relativo O trabalho foi conduzido com o ob- compostas por baldes com dimensão de (IER) foi obtido pelo quociente entre jetivo de avaliar o efeito de baixas tem- 22cm de diâmetro, 20cm de altura, com a esterilidade sob frio e a condição de peraturas na fase de microsporogênese capacidade volumétrica de 7L. Em cada controle. Além disso, também foi calcu- sobre a esterilidade de espiguetas e balde foram semeadas 10 sementes lado o índice de produção relativo (IPR), produção de grãos de genótipos de ar- pré-germinadas e, após o desbaste, dei- obtido pelo quociente entre a produção roz irrigado, a fim de identificar mate- xou-se somente uma planta por balde, dos genótipos sob frio e na condição riais promissores quanto à tolerância a visto que o arroz apresenta grande per- de controle. Os genótipos mais toleran- essa condição. filhamento. As unidades experimentais tes para cada variável são aqueles que foram mantidas em casa de vegetação apresentam menor índice quando com- Material e métodos da semeadura até a fase da microsporo- parados os ambientes. gênese, a uma temperatura que oscila- Os dados foram submetidos à aná- Este trabalho faz parte do programa va de 25 a 30°C e umidade relativa do ar lise de variância utilizando o teste F. de melhoramento genético de arroz da próxima a 65%. Quando os valores de F foram significa- Empresa de Pesquisa Agropecuária e Ex- A identificação da microsporogêne- tivos, a comparação de médias foi rea- tensão Rural de Santa Catarina (Epagri). se ocorreu observando o momento do lizada pelo teste de Scott Knott. Ambas Ele foi conduzido em casa de vegetação emborrachamento do colmo dos perfi- as análises foram efetivadas ao nível de e câmara de crescimento, no município lhos, até a ocorrência do estádio R2 da significância de 5% utilizado o software de Itajaí, SC, durante o ano agrícola de escala de Counce et al. (2000). Essa fase de livre acesso ASSISTAT (SILVA & AZE- 2016/2017. é caracterizada considerando a distân- VEDO, 2016). Avaliou-se um total de 17 genóti- cia da lígula da folha bandeira e da pe- pos, incluindo 12 linhagens (SC 806, SC núltima folha entre 3cm (lígula da folha Resultados e discussão 491 ME, SC 755, SC 854, SC 859, SC 850, bandeira abaixo da lígula da penúltima SC 790, SC 792, SC 817, SC 841, SC 786 folha) e 2cm (lígula da folha bandeira A análise de variância realizada para ME, SC 849) e cinco cultivares (Epagri acima da lígula da penúltima folha), de a variável esterilidade de espiguetas de- 109, Epagri 106, Amaroo, SCS 121 CL, acordo com o procedimento utilizado monstrou que houve efeito significativo SCS 122 Miura), na presença e na au- por Zaffari et al. (2014). da interação entre o fator genótipo e o sência de estresse por frio na fase da Em cada unidade experimental (bal- fator temperatura, evidenciando que microsporogênese. As linhagens foram de) foram identificados, no mínimo, os genótipos responderam de maneira escolhidas em função do seu comporta- três perfilhos no estádio R2 e, a seguir, diferenciada ao frio na fase da micros- mento em trabalhos prévios conduzidos eles foram transferidos para a câmara porogênese (Tabela 1). por Marschalek et al. (2011; 2017) no de crescimento para aplicação do regi- Na comparação entre genótipos den- município de Rio do Campo, localizado me térmico pré-definido (15°C diurno tro de cada regime térmico, nota-se que no Alto Vale do Itajaí. O cultivar Epagri e 12°C noturno e fotoperíodo de 12h), a linhagem SC 790 apresentou maior es- 109 foi escolhido em função do seu his- por três dias consecutivos. Após esse terilidade de espiguetas (83,5%) sob frio tórico de cultivo no Estado de SC. O cul- período, os baldes foram recolocados na fase de microsporogênese, diferindo tivar SCS 121 CL foi incluído em razão da na casa de vegetação, ficando nesse estatisticamente dos demais genótipos. sua grande expressividade em termos local até o momento da colheita. Para Outro grupo de genótipos que também de área cultivada no Estado nas duas cada genótipo avaliado, foi mantida a apresentou alta esterilidade quando últimas safras. O cultivar Amaroo foi testemunha em casa de vegetação com submetido ao estresse térmico foi com- selecionado em razão da sua tolerância temperaturas de 25 a 30°C durante todo posto pelas linhagens SC 849, SC 859, ao frio (CRUZ et al., 2010). O Epagri 106 o ciclo de desenvolvimento. A irrigação SC 786 ME, SC 841 e o cultivar Epagri foi utilizado por ser de ciclo curto (pre- dos baldes era realizada sempre que 109, com valores entre 47% e 63%. A coce) e o SCS 122 Miura, um genótipo necessário para manter uma lâmina alta taxa de esterilidade observada nos com bom potencial produtivo, lançado de aproximadamente 3cm de água. A genótipos supracitados evidencia que o recentemente pela Epagri. aplicação de fungicidas era realizada de momento de formação do grão de pólen

60 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.57-61, maio/ago. 2019 Tabela 1. Esterilidade de espiguetas (%) de genótipos de arroz irrigado submetidos ao 806 e SC 491 ME, com 11,4% e 13,4%, estresse por baixas temperaturas na microsporogênese e na condição controle, e Índice de respectivamente, de esterilidade de esterilidade relativo. Itajaí, SC, 2016/2017 espiguetas. O dado apresentado nesse Table 1. Spigel sterility (%) of irrigated rice genotypes submitted to low temperature stress trabalho pela linhagem SC 491 ME cor- in microsporogenesis and in the control condition, and Relative sterility index. Itajaí, SC, robora o encontrado por Rozzetto et al. 2016/2017 (2013), que nas mesmas condições de Genótipos Frio Controle IER tratamento apresentou esterilidade de SC 854 19,6 dA* 27,0 bA 0,73 16,2%. Amaroo 21,2 dA 22,7 cA 0,93 As linhagens SC 806 e SC 491 ME SC 850 24,7 cA 24,9 cA 0,99 apresentaram baixa esterilidade tanto Epagri 106 18,8 dA 16,1cA 1,17 em condições de submissão ao estresse SC 755 38,2 cA 32,4 bA 1,18 por frio, como na ausência de estresse, SC 792 27,5 cA 22,6 cA 1,22 o que demonstra a estabilidade desses SC 786 ME 53,0 bA 40,4 bA 1,31 materiais frente a diferentes regimes térmicos, podendo ser considerados ge- SC 790 83,5 aA 63,6 aB 1,31 nótipos promissores, candidatos a futu- SC 491 ME 18,8 dA 13,4 dA 1,40 ros cultivares. SCS 121 CL 28,1 cA 17,3 cA 1,62 Observando-se o índice de esterili- Epagri 109 47,6 bA 29,2 bB 1,63 dade relativo (IER), percebe-se que os SC 806 18,7 dA 11,4 dA 1,64 genótipos SC 817 e SC 849 apresenta- SCS 122 Miura 28,4 cA 17,3 cA 1,64 ram esterilidade de espiguetas duas SC 841 51,1 bA 31,0 bB 1,65 vezes maior sob frio em comparação à SC 859 58,9 bA 32,9 bB 1,79 condição de controle. Isso demonstra SC 817 21,3 dA 9,3 dB 2,29 a baixa estabilidade desses materiais SC 849 62,9 bA 24,6 cB 2,56 quando sofrem estresse por frio. Em ------C.V. % = 14,36 ------contrapartida, as linhagens SC 850, SC IER – Índice de esterilidade relativo. * Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna e 854 e os cultivares Epagri 106 e Amaroo maiúscula na linha não diferem entre si pelo teste de Scott Knott, ao nível de 5% de significância. demonstraram ser bastante tolerantes ao estresse aplicado, uma vez que man- é crítico e sensível à ocorrência de bai- linhagens com potencial de tolerância a tiveram o mesmo nível de esterilidade xas temperaturas, conforme reportado condição de frio. nas duas condições ambientais de cul- por Yoshida (1981) e Torres Toro (2009). No tratamento controle, a linhagem tivo. No tratamento com estresse, menor SC 790 também se destacou negativa- Na análise de variância realizada esterilidade de espiguetas foi registrada mente, apresentando 63,6% de espi- para a variável produção de grãos por para as linhagens SC 806, SC 854, SC 491 guetas estéreis, mesmo em condições balde não houve interação entre os ge- ME, e os cultivares Epagri 106 e- Ama térmicas consideradas adequadas ao nótipos avaliados e a aplicação ou não roo. Souza (2015), no entanto, encon- desenvolvimento da planta. Apesar de estresse térmico. trou esterilidade de 39,5%, em tempe- desse comportamento com alta esteri- A linhagem SC 806 se destacou na ratura constante de 15°C, por um perío- lidade na condição controle e também produção de grãos por balde, produ- do de três dias, para o genótipo SC 491 sob estresse por frio, essa linhagem zindo 74,9g e diferindo estatisticamen- ME. Contudo, nesse trabalho, as plantas apresentou produtividade média de te dos demais genótipos (Tabela 2). A foram submetidas ao frio quando pelo 8.340 Kg ha-1 em trabalhos conduzidos SC 491 ME também diferiu dos demais menos seis perfilhos estavam na fase da a campo por Marschalek et al. (2017). genótipos (60,9g), contudo, apresen- microsporogênese, o que provavelmen- Portanto, ela deve ser estudada mais tou rendimento por balde inferior à te aumentou os prejuízos causados pelo detalhadamente em trabalhos futuros linhagem SC 806. Estas duas linhagens frio. conduzidos sob condições controladas apresentaram menor esterilidade de es- Em estudo conduzido por Terres et e maior número de plantas, visto que piguetas, refletindo, assim, na produção al. (1994), demonstrou-se que alguns algum fator não identificado pode ser de grãos por balde. cultivares toleram temperaturas de 15°C o causador desse comportamento con- Houve um grupo de genótipos, com- na fase de microsporogênese, apresen- traditório, buscando assim, elucidar posto pelas linhagens SC 854, SC 850, SC tando esterilidade inferior a 15%, o que de maneira objetiva o comportamento 792, SC 817 e os cultivares Epagri 106, pode indicar tolerância a essa condição. desse genótipo em condições tanto de SCS 122 Miura e SCS 121 CL, que apre- Considerando este critério, cinco dos 17 campo, como em condições controla- sentou produção entre 52,2g e 43,8g. genótipos avaliados se mostraram com das. Esse grupo de materiais apresentou-se tolerância ao frio, visto que demonstra- Em contrapartida, o genótipo que significativamente inferior em relação ram esterilidade próxima a esses valo- mais se destacou positivamente no tra- às linhagens SC 806 e SC 491 ME. A li- res, uma vez que o valor de 15% de este- tamento controle foi a linhagem SC 817, nhagem SC 790 foi o destaque negativo rilidade, não é um valor absoluto e sim com uma esterilidade de 9,3%. Junto na produção de grãos por balde, produ- uma referência para separar cultivares e dessa, destacaram-se as linhagens SC zindo apenas 13,2g. A baixa produção

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.57-61, maio/ago. 2019 61 desta linhagem foi ocasionada pela alta Tabela 2. Produção de grãos por balde (g) de genótipos de arroz irrigado, na média de dois esterilidade que apresentou. Embora regimes térmicos na microsporogênese e índice de produção relativa. Itajaí, SC, 2016/2017 não haja uma correlação diretamente Table 2. Grain yield (g) of irrigated rice genotypes, on the average of two thermal regimes proporcional entre produção em baldes in the microsporogenesis and relative production index. Itajaí, SC, 2016/2017 com produção no campo, em virtude de Genótipos Produção de grãos IPR uma série de fatores, como a densida- SC 806 74,7 a* 0,87 de de semeadura, os dados produtivos SC 491 ME 60,9 b 0,82 dessa linhagem observados a campo SC 854 52,2 c 1,01 por Marschalek (2017) foram conside- SC 792 51,7 c 1,06 rados altos e homogêneos em distintas Epagri 106 50,4 c 0,89 safras. SC 850 49,3 c 1,05 A despeito do índice de produção SCS 122 Miura 48,6 c 1,09 relativo, que trata da estabilidade pro- dutiva dos genótipos em diferentes SC 817 43,8 c 1,02 ambientes, pode-se destacar que as li- SCS 121 CL 43,8 c 0,64 nhagens SC 854, SC 792, SC 850, SC 817 SC 755 40,6 d 0,80 apresentaram valores próximos de 1, SC 859 36,0 d 0,50 significando que possuem capacidade SC 786 ME 35,3 d 0,83 de produção semelhante em condições Epagri 109 33,5 d 0,66 ambientais adequadas ou na presença Amaroo 33,1 d 1,36 de frio. Esses cultivares, portanto, po- SC 841 33,0 d 0,57 dem ser consideradas tolerantes ao frio SC 849 32,8 d 0,50 para a variável produção de grãos. SC 790 13,2 e 0,57 Analisando-se conjuntamente os da- C.V. % = 22,94 dos das Tabelas 1 e 2, observa-se uma IPR – Índice de produção relativo. * Médias seguidas pela mesma letra minúscula na coluna não diferem correlação negativa entre a percenta- entre si pelo teste de Scott Knott, ao nível de 5% de significância. gem de espiguetas estéreis e a produ- ção de grãos por balde, a qual indepen- foram submetidas ao estresse podem período de perfilhamento podem -per de da imposição de estresse térmico na ter compensado a produção de grãos mitir um escape da condição de estres- microsporogênese. A taxa de esterilida- quando realocadas novamente na casa se por frio. Por outro lado, genótipos de foi significativamente diferente entre de vegetação. Isso pode ter ocorrido com maior uniformidade fenológica en- os genótipos, independente da condi- porque os perfilhos atingem a fase de tre os perfilhos têm um prejuízo maior, ção térmica estudada. Nesse sentido, microsporogênese em diferentes mo- quando da ocorrência do estresse. Nes- as linhagens SC 806 e SC 491 ME, que mentos, podendo compensar ou não te sentido, Yoshida (1981) observou que apresentaram baixa quantidade de es- esse estresse térmico sofrido na fase o período de duração do estresse é de piguetas estéreis, com ou sem estresse reprodutiva, a mais sensível à ocorrên- grande importância, pois a temperatura térmico, também foram as que externa- cia de baixas temperaturas, conforme de 12°C pode não induzir esterilidade se ram maior produção de grãos por bal- exposto por Cruz et al. (2006). ocorrer em períodos menores que 48 de. Por outro lado, a linhagem SC 790, Deve-se destacar que a ausência de horas. Todavia, pode ocasionar 100% que mostrou as maiores percentagens efeito significativo da interação estresse de esterilidade quando essa exposição de espiguetas estéreis nos dois regimes térmico/genótipo sobre a produção de ao frio for por um período de mais de térmicos, também foi a de menor pro- grãos sugere a necessidade de estudos seis dias consecutivos, dependendo da dução de grãos cheios por unidade ex- mais detalhados sobre os genótipos suscetibilidade do genótipo. perimental. avaliados, temperatura utilizada, perío- Avaliando conjuntamente o compor- Importante salientar, também, que do de imposição do estresse, momento tamento da esterilidade de espiguetas e os genótipos SC 817, SC 816 e SCS 122 de ocorrência desse estresse em rela- a produção de grãos por balde (Tabela Miura apresentaram aumento na esteri- ção ao desenvolvimento da planta e 3), as linhagens SC 806, SC 491 ME, SC lidade quando submetidos ao frio, mas tempo de recuperação da planta após 854, SC 850, e os cultivares Epagri 106 apresentaram produtividade razoável e o frio. Quanto mais perfilhos estiverem e Amaroo se destacaram positivamente, tolerância ao estresse por frio para esta na fase da microsporogênese, maior é apresentando ao menos dois dos crité- variável. Isso indica sua elevada capaci- a probabilidade de ocorrência de per- rios: baixa esterilidade sob frio, estabi- dade de compensação no final da fase filhos estéreis, em função da formação lidade estéril, boa produção de grãos produtiva. do grão de pólen ser prejudicada (CRUZ e estabilidade produtiva. Isso coloca as A ausência de efeito significativo & MILACH, 2000). Assim, maior deverá linhagens como promissoras frente ao da interação entre baixas temperatu- ser a capacidade e o potencial compen- processo de melhoramento genético na ras na fase da microsporogênese e os satório da planta para reverter os pre- busca de cultivares que apresentem to- genótipos sobre a produção de grãos juízos sofridos pela ocorrência dessa lerância a baixas temperaturas na fase pode estar relacionada à capacidade de condição adversa. da microsporogênese. Alguns destes compensação da planta. As plantas que Genótipos que apresentem maior cultivares, além da baixa esterilidade

62 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.57-61, maio/ago. 2019 e maior produção de grãos por balde, Tabela 3. Quadro resumo com características requeridas para tolerância ao frio e apresentaram produtividade elevada apresentadas por alguns genótipos de arroz irrigado. Itajaí, SC, 2016/2017 a campo nos trabalhos conduzidos por Table 3. Summary table with characteristics required for cold tolerance and presented by Marschalek et al. (2011; 2017), em Rio some genotypes of irrigated rice. Itajaí, SC, 2016/2017 do Campo, a uma altitude de 600m, al- Baixa -1 -1 Boa Estabilidade cançando 8.309kg ha e 7.800kg ha , Genótipo esterilidade IER produtividade produtiva respectivamente. Os autores citaram no frio que em alguns ciclos houve ocorrência SC 806 a a significativa de dias frios nos períodos a a críticos para a cultura. SC 491 ME SC 854 a a a a Conclusões EPAGRI 106 a a a SC 850 a a a As linhagens SC 854 e SC 850 apre- Amaroo a a sentaram potencial para gerar futuras cultivares com tolerância ao frio na MARSCHALEK, R.; ANDRADE, A DE.; STUKER, de arroz irrigado quanto a dormência e to- microsporogênese. H.; RAIMONDI, J.V.; PORTO, G.; SANTOS, S. B lerância ao frio na germinação. 2015. 135 p. As linhagens SC 806 e SC 491ME, DOS. Avaliação de linhagens e cultivares de Dissertação (Mestrado em Produção Vege- embora apresentem baixa esterilidade arroz irrigado em região de elevada altitude tal) – Universidade do Estado de Santa Ca- e boa produção, não apresentam esta- e baixa temperatura média, no Alto Vale do tarina, Centro de Ciências Agroveterinárias, bilidade quando comparados os dois Itajaí. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ARROZ Lages, 2015. ambientes. IRRIGADO, 7, 2011, Balneário Camboriú, SC. A linhagem SC 790 deve ser estuda- Anais[…] Itajaí, SC: Epagri, 2011. 1 v. p. 183 STÜRMER, F.W. Tolerância a baixas tempera- da mais detalhadamente como um mo- – 186. turas durante o estabelecimento e micros- delo de sensibilidade ao frio na fase da porogênese em genótipos de arroz irrigado. MARSCHALEK, R.; HICKEL, E.R.; STÜRMER, 2018. 107 p. Dissertação (Mestrado em Pro- microsporogênese. F.W. Avaliação da produtividade de cultiva- dução Vegetal) – Universidade do Estado de res e linhagens de arroz irrigado em região Santa Catarina, Centro de Ciências Agrovete- Agradecimentos de altitude, sujeita à baixas temperaturas, rinárias, Lages, 2018. 2015/16 – 2016/17. In: CONGRESSO BRASI- À Epagri – Estação Experimental de LEIRO DE ARROZ IRRIGADO, 10, 2017, Gra- TERRES, A.L. Melhoramento de arroz irriga- Itajaí (EEI) e à equipe do Projeto Arroz mado, RS. Anais[…] Gramado, RS. Sosbai, do para tolerância ao frio no Rio Grande do (Projeto 6312764 – Melhoryza: Extre- 2017. Sul –Brasil. In: REUNIÓN SOBRE MEJORA- mos de Temperatura) pela parceria, pla- MENTO DE ARROZ EM EL CONO SUR 1991, nejamento, fornecimento de linhagens ROZZETTO, D.S.; MARSCHALEK, R.; STUKER, Trabajos[…] Montevideo: IICA – PROCISUR, e cultivares e de toda a infraestrutura H.; EBERHARDT, D.S.; RAIMONDI, J.V.; SAN- 1991, p.91-103. TOS, S.B.; PORTO, G.; PAZINI, B.S.; SOUZA, para os experimentos e pela ajuda na N.M DE.. Tolerância ao frio em genótipos de TERRES, A.L.; RIBEIRO, A.S.; MACHADO, M.O. execução dos mesmos. arroz irrigado expostos a baixas temperatu- Progress in breeding for cold tolerance semi ras em câmara de crescimento no estágio dwarf rice in Rio Grande do Sul, Brazil. In: Referências reprodutivo. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE TEMPERATURE RICE CONFERENCE. Yanco. ARROZ IRRIGADO, 8, 2013, Santa Maria, RS. Proceedings[…] Riverina: Charles Sturf Uni- COUNCE, P. A.; KEISLING, T.C.; MITCHELL, A.J. 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Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.57-61, maio/ago. 2019 63 ARTIGO CIENTÍFICO Validação de um sistema de previsão para a pinta preta na produção integrada do tomateiro Walter Ferreira Becker¹

Resumo – A pinta preta causada por Alternaria spp. é uma das principais doenças do tomateiro ocorrendo em cultivos dessa cultura na microrregião de Joaçaba, a qual é responsável por mais de 57% da produção do estado de Santa Catarina. Para o controle desta doença, são aplicados fungicidas semanalmente, o que implica em aumento de custos de produção. O objetivo deste trabalho foi comparar a aplicação preventiva semanal de fungicida com o sistema de previsão TomCast. Esse sistema utiliza a duração do molhamento foliar e a temperatura média neste período para calcular a severidade diária da doença (VSD). As pulverizações baseadas no calendário semanal iniciaram na semana do transplante enquanto as com o previsor TomCast iniciaram quando o valor de VSD acumulado atingiu o limiar estabelecido (10, 15, 20, 25 e 30 VSD). Em cada um dos anos estudados, a pulverização de acordo com o TomCast resultou no controle de doença e na produção comparável com o calendário semanal, mas retardou o início da pulverização em 26 a 46 dias e reduziu o número de pulverizações em até 84%.

Termos para indexação: Solanum lycopersicum; sistema de alerta; Alternaria solani.

Validation of a predictive system for the early blight in the integrated production of tomato

Abstract – Tomato early blight, caused by Alternaria spp., is one of the main diseases occurring on tomato crops in the Joaçaba microregion, which is accountable for more than 57% of the tomato production in the State of Santa Catarina. Fungicides are commonly used on a weekly schedule to control early blight, increasing production costs. This study aimed to compare the preventive calendar-based application schedules with the TomCast forecast system. This system uses the duration of leaf wetness and average temperature during the wetness period to calculate a daily severity value (DSV). The calendar-based fungicide application started in the week of transplanting, whereas the TomCast predictor fungicide spray begun when the cumulative DSV reaches a predetermined threshold (10, 15, 20, 25, and 30 DSV). In each of the years studied, timing sprays according to the TomCast predictor resulted in disease control and yield comparable with the weekly schedule, but delayed the initial fungicide spray for as much as 26 to 41 days. Additionally, the TomCast predictor system allowed reducing the number of sprays by up to 84%.

Index terms: Solanum lycopersicum; forecast system; Alternaria solani.

Introdução Dentre as principais doenças do to- área fotossintetizante e a produtivida- mateiro, na microrregião de Joaçaba, de. O estado de Santa Catarina ocupa destaca-se a pinta preta (FAORO & TO- O alto potencial destrutivo da do- a sexta posição em área plantada (2,76 MASELLI, 1997), causada por Alternaria ença, aliado a indisponibilidade de ge- mil ha), a sétima posição em produção solani Ell. & Mart., L.R. Jones & Grout nótipos resistentes entre os cultivares (171,6 mil t ano-1) e a quinta posição e espécies relacionadas (RODRIGUES, tradicionalmente plantados (TÖFOLI et em produtividade (62t ha-1) do tomate, 2009). A rápida expansão da área culti- al., 2003; LOPES & ÁVILA, 2005), faz do com uma participação de 4,69% da pro- vada nos últimos anos, aliada ao clima controle químico semanal a principal dução nacional do consumo in natura. predominantemente chuvoso no verão, opção entre os produtores de Caça- A microrregião de Joaçaba se destaca, pode ter contribuído para o agravamen- dor (SC). Os sistemas de previsão para com 49,3% da área plantada e 57,09% to na intensidade da doença. A doença o tomateiro rasteiro e tutorado são de da produção do estado, constituindo a ocorre nas folhas mais velhas do toma- largo uso em outros países (CAMPBELL segunda maior região nacional fornece- teiro na forma de manchas marrom-es- & MADDEN,1990; SIKORA et al., 2002), dora de tomate no verão e o principal curas; também ocorre no caule e frutos, porém incipientes no Brasil. Em toma- polo produtor do estado, com destaque causando severos danos, e em todos os teiro, Santos (2000) avaliou o sistema ao município de Caçador, com plantio estádios da planta (BASU, 1974; JONES, de previsão PAST e obteve uma redução de 700 ha (IBGE, 2017). 1991) reduzindo consideravelmente a de 30% nas aplicações de fungicidas,

Recebido em 16/8/2018. Aceito para publicação em 23/10/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.9 ¹ Engenheiro-agrônomo, Fitopatologista, Dr., Epagri / Estação Experimental de Caçador, C.P. 591, 89501-032 Caçador, SC, fone: (49) 3561-6803, e-mail:wbecker@ epagri.sc.gov.br

64 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.62-67, maio/ago. 2019 enquanto Paul et al. (2004) obtiveram Tabela 1. Valores de severidade diários da doença (VSD) estimados em função da reduções de 60% das pulverizações. temperatura média ambiente durante o período (horas) de molhamento foliar O modelo TomCast (Tomato Forecas- Table 1. Daily disease severity values (SDV) estimated as a function of the mean ambient ting) foi estendido a outras interações temperature during the period (hours) of leaf wetness patógeno-hospedeiro proporcionando Temperatura Valores de Severidade da Doença (VSD) significativa redução de pulverizações média oC 0 1 2 3 4 (DORMAN et al., 2009). 13 – 17 0 – 6 7 – 15 16 – 20 21+ O objetivo deste trabalho foi avaliar 18 – 20 0 – 3 4 – 8 9 – 15 16 – 22 23+ o modelo TomCast na previsão da pinta 21 – 25 0 – 2 3 – 5 6 – 12 13 – 20 21+ preta do tomateiro tutorado conduzido em sistema de produção integrada de 26 – 29 0 – 3 4 – 8 9 – 15 16 – 22 23+ Fonte: Madden et al. (1978) modo a orientar o produtor do momen- to de aplicação do fungicida para con- trole da doença. acumulado de 15-VSD; 4) pulverização A. Foram considerados frutos extra AA no acumulado de 20-VSD; 5) pulveriza- aqueles com massa média maior que Material e métodos ção no acumulado de 25-VSD; A parcela 150g e frutos extra A os com massa mé- experimental foi constituída por uma dia entre 100 e 150g. Os ensaios foram realizados na Epa- fileira de 16 plantas, sendo 12 úteis, es- A severidade da pinta preta foi ava- gri – Estação Experimental de Caçador, paçadas de 1,5m entre fileiras e 0,5m liada semanalmente (BOFF, 1988) e Caçador-SC, na microrregião de Joaça- entre plantas, com tutor vertical de fi- integralizada como área abaixo da cur- ba – durante os anos agrícolas 2009/10, tilho, para uma planta com duas hastes. va de progresso da doença (AACPD) 2010/11 e 2011/12. O clima é do tipo As parcelas ficaram sujeitas a infecção de acordo com a fórmula AACPD=∑

Cfb, temperado, com chuvas frequen- natural oriunda de tomateiros próximos {[(y1+y2)/2]*∆t}, na qual y1 e y2 são tes no verão (PANDOLFO et al., 2002). a área experimental. As mudas de toma- duas avaliações sucessivas e ∆t, o inter- Registraram-se as variáveis climáticas te foram oriundas de viveiristas e plan- valo de tempo entre estas avaliações. (temperatura, molhamento foliar) pelo tadas 01/12/2009. As estimativas da taxa de progresso da aparelho termo-higro-umectógrafo, A pulverização semanal teve inicio doença (r) foram obtidas com os valores marca Luftt, modelo 8341. Diariamen- após o plantio enquanto os demais tra- de severidade ajustando-se ao modelo te, o período do molhamento foliar e tamentos iniciaram de acordo com o de Gompertz (CAMPBELL & MADDEN, a temperatura daquele período foram modelo TomCast (PITBLADO, 1992). Os 1990). convertidos em valores de severidade valores de severidade da doença foram Ensaio 2010. Os tratamentos avalia- da doença (VSD), variando de 0 a 4, que obtidos da relação entre o período de dos foram: 1) pulverização semanal; 2) significam uma condição ambiente des- molhamento foliar e a temperatura nes- pulverização no acumulado de 10-VSD; favorável até altamente favorável à do- te período e o VSD acumulado durante 3) pulverização no acumulado de 15- ença, respectivamente (Tabela 1; MAD- o período de cultivo (∑VSD) (Tabela 1). VSD; 4) pulverização no acumulado de DEN et al., 1978). Quando alcançado o Para a primeira pulverização, o VSD foi 20-VSD; 5) pulverização no acumulado somatório pré-determinado para cada acumulado diariamente até atingir o de 25-VSD; 6) pulverização no acumu- VSD, iniciou-se a pulverização do res- valor limite de 35; pulverizações subse- lado de 30-VSD; 7) testemunha sem pectivo tratamento. quentes ocorreram quando o valor VSD, pulverizar (inclusa no delineamento ex- O delineamento experimental foi in- estimado para cada tratamento, era perimental) e quatro repetições. Cada teiramente casualizado, dada a unifor- alcançado. A cada pulverização o valor parcela foi constituída de 12 plantas, midade da área (topografia, fertilidade foi zerado, iniciando novo acúmulo de sendo 10 úteis, espaçadas de 2,0m en- e tipo de solo). Utilizou-se o cultivar Pa- valores e assim sucessivamente durante tre fileiras e 0,54m entre plantas. As ronset com a condução, tratos culturais, o ciclo. mudas de tomate foram plantadas em controle de pragas e doenças realizadas Não se utilizou uma testemunha 04/11/2010. Buscou-se avaliar a efici- conforme as indicações técnicas da cul- sem fungicida, com o propósito de mi- ência dos modelos de previsão com uso tura (MUELLER et al., 2008). As variáveis nimizar o erro experimental, devido à de um fungicida protetor, o clorotalonil avaliadas foram submetidas à análise de interferência entre as parcelas dos tra- (50% i.a.), na dose de 150g i.a.hl-1 em variância ou, quando não atendidos os tamentos (ZADOKS & SCHEIN, 1979; alto volume. pressupostos desta, pelo teste não-pa- PAUL et al., 2004). O fungicida boscali- As avaliações de monitoramento das ramétrico de Kruskal-Wallis, utilizando o da (50% i.a.) foi aplicado na dosagem de variáveis climáticas, aplicação das pul- programa estatístico SAEG. 7,5 g i.a. hl-1 em alto volume (1000 L ha-1) verizações, produção e intensidade da Ensaio 2009. Os tratamentos com com pulverizador costal motorizado doença foram aquelas descritas na safra quatro repetições foram: 1) pulveriza- marca Yamaho, modelo LS-937, com es- 2009-2010. ção semanal; 2) pulverização no acumu- guicho de bico duplo D-5 e pressão de Ensaio 2011. Os tratamentos, ava- lado de 10-VSD (valores diários de seve- 80 lbs pol-2. Foram avaliadas a produti- liações de produção, severidade da do- ridade da doença); 3) pulverização no vidade total, comercial, extra AA e extra ença, monitoramento das variáveis cli-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.62-67, maio/ago. 2019 65 máticas, a aplicação das pulverizações Tabela 2. Número de pulverizações (NP), severidade (SEV), área abaixo da curva (AACPD) e determinação dos valores de severi- e taxa do progresso (R) da doença em função do modelo de previsão da pinta preta, em dade (VSD) foram aquelas descritas na tomateiro cv. Paronset nos ciclos 2009, 2010 e 2011. Epagri, Caçador safra 2010. As mudas de tomate foram Table 2. Number of sprays (NP), severity (SEV), area under disease progress curve (AACPD) and rate of progression (R) of the disease as a function of the prediction model for the early plantadas em 25/10/2011. O fungicida blight in tomato cv. Paronset in the cycles 2009, 2010 and 2011. Epagri, Caçador boscalida (50% i.a.) foi aplicado em cada tratamento semanal ou quando indica- Tratamentos NP SEV AACPD R do pelo valor do respectivo VSD, na do- 2009 sagem de 7,5g i.a. hl-1 em alto volume. 10 vsd 13 1,89 7,81 0,014 15 vsd 10 1,90 6,55 0,016 Resultados e discussão 20 vsd 8 2,11 9,15 0,015 25 vsd 6 1,96 9,65 0,022 Ensaio 2009 Semanal 16 1,71 7,64 0,028 Os primeiros sintomas da doença fo- Teste F - 0,38 ns 0,19 ns 0,28 ns ram visíveis aos 56 dias após o plantio (DAP). A primeira pulverização no tra- CV (%) - 14,15 23,05 50,77 tamento semanal ocorreu aos sete dias 2010 após o plantio (DAP). Nos tratamentos 10 vsd 16 10,56 5,03 0,014 10-VSD, 15-VSD, 20-VSD e 25-VSD a pri- 15 vsd 12 10,34 5,66 0,014 meira pulverização ocorreu aos 33 DAP 20 vsd 9 11,34 5,74 0,011 quando somatório do valor diário da 25 vsd 8 9,63 4,67 0,011 severidade da doença totalizou o valor 35. O maior número de pulverizações 30 vsd 7 11,33 5,98 0,012 ocorreu com o tratamento semanal to- Semanal 31 8,35 4,32 0,011 talizando 16 pulverizações, enquanto Testemunha 0 13,13 6,35 0,013 nos demais tratamentos houve redução Teste F - 0,35 ns 0,88 ns 0,91ns em até 62,5% à medida que aumentava CV (%) - 25,93 29,12 43,8 o nível do VSD. O intervalo médio entre 2011 uma pulverização e a seguinte foi de 1 1 sete dias (semanal), nove dias (10-VSD 10 vsd 8 6,80 2,17 A 0,028 A 10), 11 dias (15-VSD), 14 dias (20-VSD) e 15 vsd 7 13,20 3,53 B 0,034 B 19 dias (25-VSD) e não houve diferença 20 vsd 5 17,00 3,98 BC 0,038 C significativa (P=0,283) na taxa de pro- 25 vsd 5 16,20 3,72 B 0,037 BC gresso da doença entre os tratamentos 30 vsd 4 18,00 4,98 C 0,037 BC (Tabela 2) (Figura 2A). Semanal 25 5,40 1,35 A 0,026 A A partir dos 70 DAP verificou-se uma Testemunha 0 25,60 8,71 D 0,040 C maior frequência de valores de severi- 2 3 3 dade 3 e 4 totalizando ao final do ciclo Teste F - ns 0,00001 0,00001 202 VSDs acumulados (Figura 1A) e na CV (%) - - 20,07 7,05 severidade final não houve diferença ¹Médias seguidas da mesma letra na coluna não diferem pelo teste de Fischer a 5% 2 3 significativa (P=0,381) entre tratamen- de probabilidade; Teste não paramétrico de Kruskal-Wallis; Probabilidade do teste F altamente significativa tos. A área abaixo da curva do progres- so da doença (AACPD) foi ligeiramente maior nos tratamentos 20 e 25-VSD, Ensaio 2010 ções); de 70,96% no 20-VSD (9 pulve- mas não houve diferença significativa Os primeiros sintomas da doença rizações); de 74,19% no 25-VSD (8 pul- (P=0,193) entre estes e os demais trata- foram visíveis aos 85 DAP. A primeira verizações) e de 77,41%no 30-VSD (7 mentos (Tabela 2) (Figura 2A). pulverização do tratamento com calen- pulverizações) (Tabela 2). O intervalo Não houve diferença estatística sig- dário fixo (semanal) ocorreu aos 4 DAP. médio entre pulverizações foi de cinco nificativa entre os tratamentos na pro- Para os sistemas de previsão (10-VSD, dias com o calendário fixo (semanal), dução total (P=0,285), produção comer- 15-VSD, 20-VSD, 25-VSD e 30-VSD) a pri- de oito dias no previsor 10-VSD, 12 dias cial, descarte e classificação comercial meira pulverização ocorreu aos 47 DAP. no 15-VSD, 15 dias no 20-VSD, 17 dias (Tabela 3). Em relação ao número de O tratamento semanal totalizou 31 no 25-VSD e 20 dias no 30-VSD. O valor frutos nas classes comerciais extra AA pulverizações. Já nos tratamentos com acumulado de VSD foi de 197 unidades e extra A também não houve diferença previsor, houve redução das pulveriza- para um período de cultivo de 140 dias estatística significativa (P=0,54; P=0,31, ções em relação à aplicação semanal de (Figura 1B). respectivamente) entre os tratamentos 48,38% no 10-VSD (16 pulverizações), Houve uma tendência da testemu- (Tabela 3). de 61,29% no 15-VSD (12 pulveriza- nha absoluta em manter a maior seve-

66 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.62-67, maio/ago. 2019 Figura 1. Valor de severidade diário (VSD) e acumulado (∑VSD) da Figura 2. Curva de progresso da pinta preta em função do pinta-preta do tomateiro cv. Paronset durante os ciclos de cultivo tratamento semanal e modelos de previsão (VSD) nos ciclos 2009, 2009, 2010 e 2011. Epagri, Caçador 2010 e 2011. Epagri, Caçador Figure 1. Daily severity value (VSD) and cumulative value (ΣVSD) of Figure 2. Early blight progress curve as a function of weekly the early blight of tomato cv. Paronset during the 2009, 2010 and treatment and prediction models (VSD) in cycles 2009, 2010 and 2011 crop cycles. Epagri, Caçador 2011. Epagri, Caçador ridade enquanto o tratamento semanal, Ensaio 2011 e redução de 84% (Tabela 2). a menor severidade (Figura 2B), contu- Os primeiros sintomas da doença O intervalo médio entre pulveriza- do, esta diferença não foi significativa foram visíveis aos 92 DAP. A primeira ções foi de cinco dias com o tratamento (P=0,35) na avaliação final aos 134 DAP. pulverização do tratamento semanal semanal, de 10 dias no previsor 10-VSD; Para as variáveis AACPD e taxa de pro- ocorreu aos três DAP e totalizou 25 pul- de 12 dias no 15-VSD; de 17 dias nos tra- gresso da doença também não foi ob- verizações. Nos tratamentos com pre- tamentos 20-VSD e 25-VSD e intervalo servada diferença estatística significati- visor, a primeira pulverização ocorreu de 21 dias no 30-VSD. Esta maior ampli- va (P=0,88 e P=0,91, respectivamente) aos 44 DAP, totalizando no tratamento tude de intervalo pode ter influenciado entre os tratamentos (Tabela 2). 10-VSD, oito pulverizações e redução de a taxa de progresso da doença, havendo Na produção total, produção comer- 68%; no 15-VSD, sete pulverizações e diferença estatística (P=0,00001) entre cial, descarte e classificação comercial redução de 72%; ambos os tratamentos tratamentos; os tratamentos, semanal e não houve diferença estatística signi- 20-VSD e 25-VSD tiveram cinco pulveri- 10-VSD, apresentaram uma menor taxa, ficativa (P>0,05) entre os tratamentos zações com redução de 80% e com 30- diferindo dos demais, porém não entre (Tabela 3). VSD houve apenas quatro pulverizações si; já os demais, exceto o tratamento 15-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.62-67, maio/ago. 2019 67 Tabela 3. Produtividade de frutos total, comercial e descarte em função do modelo de te significativa (P=0,00001) dos demais previsão da pinta preta em tomateiro, cv. Paronset nos ciclos 2009, 2010 e 2011. Epagri, tratamentos; a menor AACPD foi encon- Caçador trada na pulverização semanal e 10-VSD Table 3. Total, commercial and discarded fruit productivity as a function of the prediction diferindo dos demais tratamentos; os model of the early blight in tomato, cv. Paronset in the cycles 2009, 2010 and 2011. Epagri, tratamentos 15-VSD, 20-VSD e 25-VSD, Caçador não diferiram entre si; o tratamento 20- Tratamentos Total Comercial Extra AA Extra A Descarte VSD também não diferiu do tratamento Mg ha-1 30-VSD (Tabela 2). Não houve diferença estatística sig- 2009 nificativa entre os tratamentos para as 10 vsd 79,27 76,35 38,15 38,20 2,92 variáveis de produção total significativa (P=0,29), produção comercial (P=0,31), 15 vsd 70,67 67,88 38,45 29,43 2,79 descarte (P=0,58) e classificação comer- 20 vsd 73,34 69,65 37,33 32,32 3,69 cial extra AA (P=0,22) e extra A (P=0,06), 25 vsd 68,74 65,07 34,30 30,77 3,67 (Tabela 3). O período de cultivo do tomate em Semanal 73,33 69,40 36,46 32,94 3,93 Caçador (SC) se estende de outubro a Teste F 0,28 ns1 0,19 ns 0,54ns 0,31 ns 0,79ns abril com condição ambiente propícia às principais doenças do tomateiro (WAM- CV (%) 9,23 9,08 12,20 17,91 33,39 SER et al., 2008). O aumento de susce- 2010 tibilidade à pinta preta está associado 10 vsd 76,94 67,77 53,80 13,97 9,17 aos tecidos maduros: as folhas velhas são infectadas primeiramente e poste- 15 vsd 79,57 71,19 57,01 14,18 8,38 riormente as novas, após atingir matu- 20 vsd 72,61 62,17 47,61 14,56 10,44 ridade fisiológica (JONES, 1991), sendo mais severa a partir da frutificação. Esta 25 vsd 77,04 67,26 56,10 11,16 9,78 peculiaridade da doença permite que o 30 vsd 77,51 68,18 55,22 12,96 9,33 acumulado de 35 valores de severidade como “gatilho” do primeiro previsor da Semanal 75,11 67,87 53,72 14,15 7,24 doença do modelo TomCast seja admi- Testemunha 77,52 66,07 53,31 12,76 11,45 tido, também para a região de Caçador, Teste F 0,19ns 0,30ns 0,45ns 0,98ns 0,063ns uma vez que de 2009 a 2011 os primei- ros sintomas ocorreram aos 56, 85 e 92 CV (%) 13,40 14,63 16,90 17,83 18,77 dias após o plantio, coincidindo com as 2011 primeiras colheitas e início da senescên- cia do tomateiro. 10 vsd 107,35 100,01 79,34 20,67 7,34 As pulverizações subsequentes no 15 vsd 102,01 94,88 73,73 21,15 7,13 modelo TomCast são indicadas com 20 vsd 116,54 109,17 88,02 21,15 7,37 base no VSD igual a 20 (PITBLADO, 1992). Entretanto, na condição climá- 25 vsd 117,15 110,34 92,23 18,11 6,81 tica de Caçador, sugere-se que as pul- 30 vsd 110,64 102,78 83,16 19,62 7,86 verizações subsequentes à primeira (“gatilho”) possam ocorrer quando o Semanal 104,02 97,95 82,22 15,73 6,07 somatório atingir 25 VSD. O VSD igual Testemunha 101,47 94,42 77,19 17,23 7,05 a 25 proporcionou efetividade no con- Teste F 0,29 ns 0,31ns 0,22ns 0,06ns 0,58ns trole da doença e significativa redução das aplicações desnecessárias durante o CV (%) 10,00 10,63 12,53 13,72 20,78 ciclo de cultivo com consequente redu- 1ns= teste F não significativo com probabilidade P > 0,05 ção de custo. Entretanto, estes valores de severidade devem ser validados na VSD, a taxa de progresso da doença não se observou diferença entre os trata- região na qual serão utilizados (CAMP- diferiu da testemunha (Tabela 2). Devi- mentos, pela análise não paramétrica BELL & MADDEN, 1990). do à ocorrência de vários dias ao longo de Kruskal-Wallis. Entretanto, quando A severidade foi baixa, não havendo do ciclo, com a ausência de condição esta foi avaliada como a área abaixo da evidência de efeito sobre a produção para a doença, o valor acumulado de curva do progresso da doença (AACPD), mesmo quando a severidade na tes- VSD foi de 149 unidades, sendo o me- houve diferença estatística significati- temunha atingiu 25,5%. Basu (1974) nor dos três ciclos avaliados (Figura 1C). va. A maior AACPD foi encontrada na demonstrou que sem a aplicação de Em relação à severidade final, não testemunha e a diferença foi altamen- fungicidas, 60% da área foliar infectada

68 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.62-67, maio/ago. 2019 seriam necessários para causar lesões lentum Mill). 140p.1988. Dissertação (Mes- Epidemiologia comparativa da pinta preta em 10% dos frutos e o comprometi- trado) – Universidade Federal de Viçosa, Vi- do tomateiro sob quatro regimes de pulveri- mento de 10 a 30% no número de fru- çosa, MG,1988. zação. Fitopatologia Brasileira, Brasília, v.29, tos comerciais. Segundo Vloutoglou & n.5, p. 475-479, 2004. Kalogerakis (2000) e Chelal et al. (2015), CAMPBELL, C.L.; MADDEN, L.V. Introduction à medida que aumenta a maturidade to plant disease epidemiology. New York: PITBLADO, R.E. The development and im- das plantas, a porcentagem de desfolha John Wiley & Sons, 1990. 532p. plementation of TOMCAST- a weather- timed fungicide spray program for field to- pela doença também aumenta. Ape- CHELAL, J.; MASRI, A.A.; HAU, B. Modelling matoes. Ridgetown: Ministry of Agriculture nas no ensaio 2012 houve diferença na the interaction between early blight epide- and Food; Ridgetown College of Agricultural AACPD e taxa de progresso da doença, mics and host dynamics of tomato. Tropical Technology, 1992. 22p. enquanto as demais variáveis avaliadas Plant Pathology, Brasília, v.40, n.2, p.77-87, não diferiram entre os tratamentos. 2015. RODRIGUES, T.T.M.S. Morphological, mole- Considerando que o objetivo do traba- cular characterization, and inference about lho foi utilizar um modelo de previsão DORMAN, E. A.; WEBSTER, B. J.; HAUSBECK, recombination, for species of Alternaria re- para o controle da doença e redução do M. K. Managing foliar blights on carrot using lated to early blight of potato and tomato. número de aplicações, isso foi alcança- copper, azoxystrobin, and chlorothalonil ap- 78p. 2009. Tese (Doutorado) – Universidade do, em maior proporção, com os trata- plied according to TOM-CAST. Plant Disease, Federal de Viçosa, Viçosa, MG, 2009. mentos 20-VSD, 25-VSD e 30-VSD em St. Paul, v.93, n.4, p.402-407, 2009. semelhança aos dados encontrados por FAORO, I. D.; TOMASELLI, A. (Coords.). Nor- SANTOS, J. R. M. dos. Desenvolvimento do Paul et al., (2004). sistema de previsão e aviso “PAST” para Modelos de previsão de doenças mas técnicas para o tomateiro tutorado na região do Alto Vale do Rio do Peixe. Floria- requeima (Phytophthora infestans (Mont.) no Brasil ainda são pouco utilizados, de Bary), pinta preta (Alternaria solani (Ellis não devido ao custo dos equipamen- nópolis: Epagri. 60p. (EPAGRI. Sistemas de Produção, 27). & Martin) L. R. Jones) e septoriose (Septo- tos agrometeorológicos, mas à falta de ria lycopersici Speg.) em tomateiro e sua pesquisas de campo. Em Santa Catarina, JONES, J.P. Early Blight. In: JONES, J.B; JONES, avaliação no controle da pinta preta. 129p. após a validação deste modelo de pre- J.P.; STALL, R.E.; ZITTER, T.A. (Eds.) Compe- 2000. Tese (Doutorado) – Universidade de visão, na unidade piloto da produção dium of tomato diseases. St. Paul: The Ame- Brasília, Brasília, DF, 2000. integrada (Sispit), o Ciram/Epagri dispo- rican Phytopathological Society, p.13-14, nibilizou-o na plataforma Agroconnect 1991. SIKORA, E.J.; KEMBLE, J.M.; ZEHNDER, G.W.; sem nenhum custo ao tomaticultor, GOODMAN, W.R.; ANDRIANIFAHANANAET, auxiliando-o na decisão do momento LOPES, C.A.; ÁVILA, A.C. Doenças do toma- M.; BAUSKE, E.M. Using on-farm demonstra- de aplicação do fungicida no controle teiro. Brasília: Embrapa Hortaliças, 2005. tions to promote integrated pest manage- da pinta preta (Alternaria spp.) 151p. ment practices in tomato production. Hort- Technology, Alexandria, v.12, n.3, p.485- IBGE. Levantamento Sistemático da Produ- 488, 2002. Conclusão ção Agrícola: pesquisa mensal de previsão e acompanhamento das safras agrícolas no O uso de sistema de previsão Tom- TÖFOLI, J.G.; DOMINGUES, R.J.; GARCIA JU- ano civil. Rio de Janeiro: IBGE, v.30, n.1, p.1- NIOR, O.; KUROZAWA, C. Controle da pinta Cast permitiu reduzir significativamente 81, jan. 2017. o número de aplicações de fungicidas, preta do tomateiro por fungicidas e seus sem afetar a produtividade ou quali- MADDEN, L.V.; PENNYPACKER, S.P.; MAC- impactos na produção. Summa Phytopatho- dade dos frutos. Estes valores de se- NAB, A.A. Fast – a forecast system for Alter- logica, Botucatu, v.29, n.3, p.225-233, 2003. veridade (VSD) poderão ser validados naria solani on tomato, Phytopathology, St. VLOUTOGLOU, I.; KALOGERAKIS, S. N. Effects em acordo com as exigências locais do Paul, v.68, n.9, p.1354-1358, 1978. of inoculum concentration, wetness dura- cultivo. MUELLER, S.; WAMSER, A.F.; BECKER, W.F.; tion and plant age on development of early SANTOS, J.P. Indicações técnicas para o to- blight (Alternaria solani) and on shedding Referências mateiro tutorado na Região do Alto Vale of leaves in tomato plants. Plant Pathology, do Rio do Peixe. 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New York: condução do tomateiro (Lycopersicon escu- TES, P.C.R.; COELHO, R.R.; MACABEU, A.J. Oxford University Press. 1979. p.119-170.

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.62-67, maio/ago. 2019 69 ARTIGO CIENTÍFICO Comportamento agronômico de porta-enxertos de videira com resistência ao declínio de plantas jovens nas condições do estado de Santa Catarina Marco Antonio Dalbó¹ e Nelson Pires Feldberg²

Resumo – O declínio de plantas jovens, causado pela ação conjunta da pérola-da-terra ou margarodes (Eurhizococcus brasiliensis) e fungos patogênicos (Cylindrocarpon, Phaeoacremonium e outros), é um problema grave em vinhedos do Sul do Brasil. Para diminuir as perdas provocadas por esse problema fitossanitário pode-se adotar o uso de porta-enxertos resistentes, mas seu uso não está difundido nessa região. Neste trabalho avaliou-se as características agronômicas do cultivar Moscato Embrapa enxertado nesses porta-enxertos em comparação com Paulsen 1103 e R99, utilizados como referência. De uma forma geral todos os porta-enxertos testados podem ser utilizados para produção de uva. Os porta-enxertos tropicais IAC 313 Tropical, IAC571-6 Jundiaí e IAC 766 Campinas induziram a brotação precoce comparada a Paulsen 1103, ao contrário de VR043-43 e Dog Ridge. Mesmo os porta-enxertos tropicais, sem dormência no inverno, comportam-se como porta-enxertos normais quando enxertados. O IAC 572 Jales tem a vantagem de não induzir a brotação precoce, mas provoca vigor excessivo da planta, exigindo práticas especiais de manejo para controlar o desenvolvimento vegetativo.

Termos para indexação: Vitis sp.; Cylindrocarpon sp.; pérola-da-terra; melhoramento genético.

Agronomic behavior of grape rootstocks resistant to young vine decline in the conditions of the state of Santa Catarina Brazil

Abstract – Young vine decline caused by the joint action of ground pearl or margarodes (Eurhizococcus brasiliensis) and pathogenic fungi (Cylindrocarpon, Phaeoacremonium and others) is a major problem in many vineyards of the South of Brazil. Resistant rootstocks can be used to reduce the losses caused by this phytosanitary problem; however, these rootstocks are not used on a large scale in the South of Brazil. This study evaluated the agronomic characteristics of the cultivar Moscato Embrapa grafted on these rootstocks, and compared to Paulsen 1103 and R99, which were used as reference. Tropical rootstocks IAC 313 Tropical, IAC571-6 Jundiaí and IAC 766 Campinas induced early bud break when compared to Paulsen 1103, unlike VR043- 43 and Dog Ridge. Even tropical rootstocks with no winter dormancy behave as normal rootstocks when grafted. IAC 572 Jales has the advantage of not inducing early bud break but causes excessive vigor, requiring special management practices to control vegetative development.

Index terms: Vitis sp.; Cylindrocarpon sp.; ground pearl; genetic improvement.

Introdução redução significativa da área plantada cremonium e outros (GARRIDO et al., nas décadas de 1980 e 90 (SCHUCK et 2004). Os sintomas são semelhantes ao Os porta-enxertos de videira foram al., 2001). “declínio da videira jovem” e outras do- A principal causa atribuída a essa enças da videira (doença de Petri, esca) desenvolvidos principalmente para re- síndrome é a pérola-da-terra ou mar- causadas por este tipo de fungo e que sistência à filoxera, bem como para a garodes (Eurhizococcus brasiliensis). foram relatados em outros países (GRA- adaptação a diferentes condições do É uma cochonilha de raízes que ataca MAJE & ARMENGOL, 2011; GATICA et solo (REISCH et al., 2012). No sul do Bra- uma grande variedade de hospedeiros, al., 2001; STAMP, 2001). Esse problema sil, a ocorrência de declínio e morte de mas é particularmente prejudicial à vi- fitossanitário pode ser manejado pelo plantas jovens de videira levou à busca deira (BOTTON et al., 2000). No entan- uso de porta-enxertos com uma forma de porta-enxertos que possam resolver to, existem evidências de que os danos mais complexa de resistência, devido à também esse problema, que é seve- causados pela pérola-da-terra em raízes multiplicidade de fatores envolvidos. ro em alguns locais. No Vale do Rio do de videira levam à infecção por diver- Ensaios de campo com porta-enxer- Peixe, a maior região vinícola de Santa sas espécies de fungos patogênicos do tos em áreas com alta incidência de de- Catarina, esse problema levou a uma solo, como Cylindrocarpon, Phaeoa- clínio de videira mostraram que os por-

Recebido em 14/5/2018. Aceito para publicação em 18/11/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.10 ¹ Engenheiro-agrônomo, PhD., Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão rural de Santa Catarina (Epagri) / Estação Experimental de Videira, Videira, SC, e-mail: [email protected]. ² Engenheiro-agrônomo, MSc., Embrapa Canoinhas, e-mail: [email protected].

70 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.68-72, maio/ago. 2019 ta-enxertos tradicionais são altamente Dog Ridge (V. champinii); IAC 313 Tro- de 2012 a 2015. Considerou-se que as suscetíveis (DALBÓ et al., 2016). Híbri- pical (V. cinerea x Golia); IAC 572 Jales plantas estavam começando a brotar dos de espécies tropicais (Vitis cariba- (V. caribaea x 101-14); IAC 571-6 Jundiaí quando a maioria das gemas terminais ea, V. cinerea) apresentaram os maiores (V. vinifera x V. caribaea); IAC 766 Cam- atingiu o estágio de ponta verde. níveis de resistência, enquanto híbridos pinas (V. caribaea x 106-8). As parcelas O delineamento experimental foi em de Muscadinia rotundifolia (VR 043-43 consistiram em quatro plantas espaça- blocos ao acaso, com cinco repetições. e VR 039-16) e Dog Ridge (V. champinii) das de 3,5 x 1,5m. A análise estatística (Anova) foi feita uti- apresentaram resistência intermediária Os porta-enxertos foram plantados lizando o software R (versão 3.4.2). O (DALBÓ et al., 2016). Híbridos de V. ca- no local definitivo em agosto de 2009, teste de comparação de médias (Tukey) ribaea, como o IAC 572, foram criados sendo enxertados com o cultivar Mos- é apresentado para a média dos anos de para regiões tropicais, onde têm desem- cato Embrapa em agosto de 2010. No avaliação no caso de variáveis em que penho superior em termos de produtivi- ano seguinte, alguns enxertos que fa- não houve interação significativa entre dade (TERRA et al., 2001; PAULETTO et lharam no ano anterior foram refeitos. ano e porta-enxerto. Por outro lado, no al., 2001a). Em regiões mais frias, como O manejo do solo consistiu no controle caso de interação significativa das vari- no Meio-Oeste catarinense, característi- da vegetação com herbicidas ao longo áveis os resultados foram apresentados cas tropicais, como a ausência de dor- das linhas e roçada entre linhas. O con- em cada período experimental. mência hibernal, são fatores limitantes trole de doenças foi feito através de pul- ao seu uso, devido à indução de brota- verizações periódicas com fungicidas, Resultados e discussão ção precoce e aos danos causados por conforme recomendado para a cultura geadas em plantas jovens. Além disso, (EPAGRI, 2005). As observações fenológicas indicam esses porta-enxertos induzem um vigor Para avaliação da produtividade e que o porta-enxerto tem influência so- excessivo na copa (DALBÓ et al., 2011). qualidade dos frutos, os rendimentos bre o início de brotação do cultivar copa Considerando que os porta-enxertos iniciais foram descartados e conside- (Moscato Embrapa) e que essas diferen- que apresentaram maior resistência ao rados apenas os dados obtidos nas sa- ças são constantes na maioria dos anos declínio da videira não são comumen- fras de 2014 a 2017 (4° ao 7° ano após (Figura 1). Considerando-se o porta- te utilizados na vitivinicultura do sul a enxertia). As avaliações de qualidade enxerto Paulsen 1103 como referência, do Brasil, foi estudado o desempenho da uva foram baseadas em amostras de observou-se que os porta-enxertos VR agronômico desses materiais em com- 100 bagas coletadas aleatoriamente na 043-43, Dog Ridge e R99, induziram paração com porta-enxertos tradicio- parcela. O mosto foi analisado quanto a uma brotação posterior. Por outro lado, nais, visando avaliar o seu potencial em sólidos solúveis (°Brix) em refratômetro os porta-enxertos IAC 313 Tropical, IAC termos de produção e qualidade da uva de bancada (Nova Instruments), pH (ph- 571-6 Jundiaí e IAC 766 Campinas ten- nas condições do Meio-Oeste de Santa metro Diagtech) e acidez total titulável deram a antecipar a brotação. Esses três Catarina. (meq l-1). A avaliação dos dados fenoló- porta-enxertos são híbridos de espécies gicos (início de brotação) foi estendida tropicais, nas quais não há um período Material e métodos

O experimento foi instalado em uma propriedade privada no municí- pio de Videira, Santa Catarina (altitude: 855m, latitude: 26°56’09’’S, longitu- de: 51°14’41’’W). O solo é classificado como Cambissolo Háplico Eutrófico (EMBRAPA, 2004). Sete porta-enxertos foram testados, sendo dois deles considerados tradicio- nais (Paulsen 1103 e R99) e os demais escolhidos com base em estudos ante- riores que indicaram serem menos sus- cetíveis ao declínio de videira. Foram avaliados os seguintes porta-enxertos, com sua origem (cruzamento): Paulsen Figura 1. Data de início de brotação do cultivar ‘Moscato Embrapa’ enxertado sobre 1103 (V. berlandieri x V. rupestris); R99 diferentes porta-enxertos no período de 2012 a 2015 em Videira, SC, Brasil (V. berlandieri x V. rupestris); VR 043-43 Figure 1. Bud break date of the cultivar ‘Moscato Embrapa’ grafted onto different (V. vinifera x Muscadinia rotundifolia); rootstocks in the 2012 to 2015 period in Videira, SC, Brazil

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.68-72, maio/ago. 2019 71 de dormência definido, o que poderia Tabela 1. Produtividade do cultivar ‘Moscato Embrapa’ enxertado sobre diferentes porta- levar a uma antecipação do início da enxertos no período de 2012 a 2015 em Videira, SC, Brasil brotação. No entanto, o IAC 572 Jales Table 1. Productivity of ‘Moscato Embrapa’ cultivar grafted on different rootstocks from 2012 to 2015 in Videira, SC, Brazil que também apresenta características tropicais, teve a brotação da copa de Porta-enxerto 2014 2015 2016 2017 Média -1 - média a tardia, geralmente alguns dias - t ha depois de Paulsen 1103. VR 043-43 25,3 25,8 14,2 31,9 24,3 a* A brotação tardia é particularmente Dog Ridge 17,1 19,0 8,8 21,2 16,5 c vantajosa em anos com ocorrência de IAC 313 Tropical 14,0 17,5 6,2 21,6 14,8 c geadas tardias, como ocorreu no perí- IAC 571-6 Jundiaí 22,2 20,6 15,5 22,9 20,3 abc odo de 2015. Nesse ano, as condições IAC 572 Jales 23,4 22,3 21,1 26,1 23,2 a climáticas foram bastante atípicas, com IAC 766 Campinas 20,8 16,5 8,3 20,9 16,6 bc um inverno ameno, mas com geadas Paulsen 1103 25,3 24,5 9,7 29,1 22,2 ab tardias (10 e 11 de setembro) quando R99 16,6 15,2 6,6 21,3 14,9 c todas as plantas já tinham começado CV(%) 26,1 33,4 46,9 23,3 30,2 a brotar. Embora tenha havido dano *Significativo a 5% pelo teste de Tukey em todas as combinações de copa e porta-enxerto, as perdas de produção Tabela 2. Vigor das plantas estimado pelo material retirado na poda de inverno do cultivar na safra seguinte (2016) foram, em ge- ‘Moscato Embrapa’ enxertado sobre oito porta-enxertos, no período de 2012 a 2015 em ral, maiores no caso dos porta-enxertos Videira, SC, Brasil que anteciparam o início da brotação Table 2. Plant vigor, estimated by the material removed from the winter pruning, of ‘Moscato Embrapa’ cultivar grafted on eight rootstocks, in the period from 2012 to 2015 in (Tabela 1). Nos outros anos, quando as Videira, SC, Brazil condições climáticas foram normais, as Porta-enxerto 2014 2015 2016 2017 Média diferenças de produtividade entre os -1 porta-enxertos foram menores. Mesmo Kg pl. assim, não houve interação significativa VR 043-43 2,26 b* 1,38 cd 1,36 bc 1,06 d 1,51 entre porta-enxerto e safra. Na média Dog Ridge 2,08 b 1,49 bcd 1,15 bc 1,58 bc 1,57 geral, as maiores produtividades foram IAC 313 Tropical 2,59 b 1,88 bc 1,84 ab 1,57 bc 1,97 proporcionadas pelos porta-enxertos IAC 571-6 Jundiaí 2,96 b 2,11 b 1,50 b 1,65 b 2,05 VR 043-43, IAC 572 Jales, Paulsen 1103 IAC 572 Jales 4,23 a 3,08 a 2,38 a 2,45 a 3,03 e IAC 571-6 Jundiaí, que não diferiram IAC 766 Campinas 2,44 b 2,09 b 1,28 bc 1,22 cd 1,76 entre si. Os porta-enxertos R99, IAC 313 Paulsen 1103 2,30 b 1,57 bcd 1,28 bc 1,33 bcd 1,62 Tropical e Dog Ridge foram os que re- R99 2,11 b 0,95 d 0,69 c 1,10 d 1,21 sultaram em menor produtividade. No CV(%) 21,66 18,59 25,13 13,74 21,25 caso do R99, possivelmente está asso- *Significativo a 5% pelo teste de Tukey ciado ao menor vigor das plantas (Tabe- la 2). O IAC 572 Jales foi o porta-enxerto floral foi observada eventualmente em com outros de menor vigor para os cul- que induziu o maior vigor à copa e o algumas plantas com este porta-enxer- tivares copa Niágara Rosada (PAULET- R99, o de menor vigor. Os outros mos- to, mas não chegou a comprometer a TO et al., 2001b) e Bordô (MOTA et al., traram resultados intermediários (Tabe- produção. 2009). Entretanto, em outro estudo não la 2). O alto vigor da copa induzido pelos Os porta-enxertos vigorosos tendem foram encontradas diferenças significa- porta-enxertos da série IAC, particular- a prolongar a maturação dos frutos em tivas com relação a essas características mente pelo IAC 572 Jales, já havia sido comparação com genótipos de baixo para Isabel, no norte do Paraná (SATO et observado em outros estudos (DALBÓ vigor (POUGET, 1986). Além disso, se al., 2009), indicando que isso pode va- et al., 2011). No presente experimento um porta-enxerto diminui o vigor da riar conforme as condições experimen- foram necessárias três intervenções de variedade copa, há uma diminuição do tais. poda verde para controle do crescimen- adensamento do dossel vegetativo, fa- No presente caso, com base nas va- to vegetativo, principalmente no caso zendo com que os cachos fiquem mais riáveis de avaliação da qualidade dos dos porta-enxertos mais vigorosos. expostos à radiação solar (SPAYD et al., frutos não foram observadas diferenças O crescimento excessivo de plantas 2002). Alguns estudos mostraram uma consistentes entre os porta-enxertos ao induzido pelo IAC 572 Jales parece ser diminuição dos teores de sólido solúveis longo dos anos. O R99, de baixo vigor, o principal fator negativo deste porta- com o uso de porta-enxertos vigorosos, não esteve entre os porta-enxertos que enxerto. A tendência de ocorrer aborto como os da série IAC, em comparação forneceram maior conteúdo de sólidos

72 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.68-72, maio/ago. 2019 solúveis (Tabela 3), mas foi o que resul- Tabela 3. Teor de sólidos solúveis (°Brix) do mosto de uva do cultivar ‘Moscato Embrapa’ tou no menor nível de acidez (Tabela 4). enxertado sobre oito porta-enxertos no período de 2012 a 2015 em Videira, SC, Brasil O IAC 572 Jales resultou em menor teor Table 3. Soluble solids content (°Brix) of Moscato Embrapa grape must grafted on eight rootstocks from 2012 to 2015 in Videira, SC, Brazil de sólidos solúveis (Tabela 3). No entan- to, combinações de copa/porta-enxerto Porta-enxerto 2014 2015 2016 2017 Média altamente vigorosas frequentemente VR 043-43 19,0 ab 16,2 a 18,3 ab 16,5 a 17,5 resultam em ciclos vegetativos mais lon- Dog Ridge 18,8 ab 16,7 a 17,9 abc 17,8 a 17,8 gos e demoram mais para atingir a ma- IAC 313 Tropical 18,9 ab 16,2 a 18,3 a 17,2 a 17,7 turidade. Nesse experimento, a data de IAC 571-6 Jundiaí 19,2 ab 16,6 a 17,3 c 16,8 a 17,5 colheita foi a mesma para todos os por- ta-enxertos, o que desfavoreceu a com- IAC 572 Jales 18,4 b 15,5 a 17,3 bc 17,2 a 17,1 pleta maturação da uva em plantas en- IAC 766 Campinas 19,8 a 16,8 a 18,2 abc 17,4 a 18,1 xertadas no IAC 572 Jales. O mesmo se Paulsen 1103 18,7 ab 16,3 a 18,4 a 16,5 a 17,5 verifica com relação aos dados de pH do R99 18,3 b 16,7 a 17,8 abc 17,0 a 17,5 mosto (Tabela 5). Ocorreram diferenças CV(%) 4,0 5,4 2,7 4,6 4,0 significativas entre porta-enxertos nos *Significativo a 5% pelo teste de Tukey anos 2016 e 2017, porém as diferenças não foram consistentes no decorrer dos anos. Assim, não é possível destacar um Tabela 4. Acidez total do mosto de uva do cultivar ‘Moscato Embrapa’ enxertado sobre oito porta-enxerto que induza melhores ca- porta-enxertos, no período de 2012 a 2015 em Videira, SC, Brasil racterísticas qualitativas na produção Table 4. Total acidity of grape must cultivar ‘Moscato Embrapa’ grafted on eight rootstocks, do cultivar copa. in the period from 2012 to 2015 in Videira, SC, Brazil A área do experimento havia sido Porta-enxerto 2014 2015 2016 2017 Média escolhida pelo fato de que não haviam meq L-1 sido observados problemas claros de VR 043-43 70,3 76,9 84,8 103,4 83,9 ab* declínio e morte de plantas na proprie- Dog Ridge 65,6 78,8 83,2 106,0 83,4 ab dade. No período em que o experimen- to foi conduzido, também não foram IAC 313 Tropical 65,8 74,8 84,7 93,8 79,7 b observados sintomas nas plantas ava- IAC 571-6 Jundiaí 60,4 77,6 82,4 98,6 79,8 b liadas. Desse modo, pode-se considerar IAC 572 Jales 71,3 78,2 93,9 109,9 88,3 ab que os resultados refletem basicamente IAC 766 Campinas 64,6 81,2 87,2 100,7 83,4 ab o efeito das características agronômicas Paulsen 1103 63,5 73,4 89,9 101,5 82,1 b dos porta-enxertos sobre a copa avalia- da. R99 52,0 66,9 74,8 94,1 72,0 c De acordo com as observações e os CV(%) 9,7 8,4 5,7 5,3 7,0 resultados obtidos até o momento, é *Significativo a 5% pelo teste de Tukey possível utilizar porta-enxertos com ca- racterísticas tropicais, como a série IAC, Tabela 5. pH do mosto de uva do cultivar ‘Moscato Embrapa’ enxertado sobre oito porta- em regiões frias do sul do Brasil. O IAC enxertos no período de 2012 a 2015 em Videira, SC, Brasil 572 Jales se destaca por não antecipar a Table 5. pH of grape must of ‘Moscato Embrapa’ cultivar grafted on eight rootstocks from brotação do cultivar copa em compara- 2012 to 2015 in Videira, SC, Brazil ção com o porta-enxerto de referência Porta-enxerto 2014 2015 2016 2017 Média para esta região (Paulsen 1103) e por VR 043-43 3,19 a 3,15 a 3,43 a 3,42 bc 3,28 ser um dos porta-enxertos que induzi- ram maior produtividade ao longo dos Dog Ridge 3,17 a 3,14 a 3,40 ab 3,36 abc 3,27 anos, juntamente com o VR 043-43 e o IAC 313 Tropical 3,19 a 3,12 a 3,39 ab 3,38 ab 3,27 Paulsen 1103. O IAC 572 Jales também IAC 571-6 Jundiaí 3,24 a 3,19 a 3,34 ab 3,35 abc 3,28 foi um dos mais resistentes ao declínio IAC 572 Jales 3,21 a 3,17 a 3,36 ab 3,32 c 3,26 e morte de videiras jovens em traba- IAC 766 Campinas 3,26 a 3,17 a 3,39 ab 3,41 a 3,30 lhos anteriores (DALBÓ et al., 2016; LOURENÇÃO et al., 2002). No entanto, Paulsen 1103 3,22 a 3,14 a 3,31b 3,38 abc 3,26 sua principal desvantagem é o alto vi- R99 3,22 a 3,22 a 3,40 ab 3,34 bc 3,30 gor que imprime à copa, o que requer CV(%) 1,60 1,57 1,02 0,90 1,30 práticas de manejo diferenciadas para *Significativo a 5% pelo teste de Tukey

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.68-72, maio/ago. 2019 73 reduzir o crescimento vegetativo, como grape petioles. Revista Brasileira de Fruti- dos com o porta-enxerto. Pesquisa Agrope- podas verdes intensivas, espaçamentos cultura, Jaboticabal, v. 33, n. 3, p. 941-947, cuária Brasileira, Brasília, DF, v. 36, n. 1, p. maiores entre plantas e redução do uso 2011. 115-121, 2001a. de fertilizantes ao longo do ciclo. Pode DALBÓ, M.A.; ARIOLI, C.J.; SILVA, M.L. Resis- ser indicado para áreas de replantio, PAULETTO, D.; MOURÃO FILHO, F.A.A.; KLU- tance of rootstocks to grapevine decline and principalmente para cultivares de uva GE, R.A.; SCARPARE FILHO, R.A. Efeito do dieback in southern Brazil. Acta Horticultu- de mesa ou para produção de suco de porta-enxerto na qualidade do cacho da rae, Leuven, n. 1127, p. 65-70, 2016. uva, onde o vigor elevado é mais tole- videira “Niágara Rosada”. Pesquisa Agro- rado. Para a produção de vinho, entre- EMBRAPA. Solos do Estado de Santa Cata- pecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 36, n. 7, p. tanto, o vigor excessivo é um defeito rina. Rio de Janeiro: Embrapa Solos; CNPS, 935-939, 2001b. difícil de ser contornado com práticas 2004. 745p. (Boletim de desenvolvimento e POUGET, R. Usefulness of rootstocks for con- culturais. Isso somente poderá ser ob- pesquisa). tido com o desenvolvimento de novos trolling vine vigour and improving wine qual- porta-enxertos que sejam ao mesmo EPAGRI. Normas técnicas para o cultivo da ity. In: KLIEWER, W.M. (Ed.). Symposium on tempo resistentes e menos vigorosos. videira em Santa Catarina. Florianópolis: grapevine canopy and vigor management, Epagri, 2005. 67p. (Sistemas de Produção, XXII IHC. Davis: Acta Horticulturae,1986. Conclusão 33). p.109-118.

GARRIDO, L.R.; SONEGO, O.R.; URBEN, A.F. 1. É possível utilizar porta-enxer- REISCH, B.I.; OWENS, C.L.; COUSINS, P.S. Cylindrocarpon destructans, causador do tos com características tropicais, como Grape. In: BADENES, M.L.; BYRNE, D.H. “pé-preto” da videira no Rio Grande do Sul. a série IAC, em regiões frias do sul do (Eds.). Fruit Breeding. Springer: New York, Fitopatologia Brasileira, Brasília, DF, v. 29, n. Brasil; 2012. p. 225-262. 5, p. 548-550, 2004. 2. Com exceção do IAC 572 Jales, SATO, A.J.; JUBILEU, B.; BERTOLUCCI, R.; os porta-enxertos da série IAC induzi- GATICA, M.; CÉSARI, C.; MAGNIN, S.; DU- CARIELO, M.; GUIRAUD, M.C.; FONSECA, ram uma brotação mais precoce do cul- PONT, J. Phaeoacremonium species and Pha- I.C.B.; ROBERTO, S. Ripening evolution and tivar Moscato Embrapa em relação ao eomoniella chlamydospora in vines showing physico-chemical characteristics of ‘Isabel’ porta-enxerto Paulsen 1103; “hoja de malvón” and Young vine decline 3. As maiores produtividades fo- symptoms in Argentina. Phytopath Medite- grape on differents rootstocks in North of ram obtidas com os porta-enxertos VR rranea, Firenze, v. 40, p. 317-324, 2001. Parana. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, 043-43, IAC 572 Jales e Paulsen 1103; v. 30, n. 1, p. 11-20, 2009. 4. O maior vigor de plantas foi ob- GRAMAJE, D.; ARMENGOL, J. Fungal trunk tido com os porta-enxerto IAC 572 Jales, pathogens in the grapevine propagation SCHUCK, E.; DALBÓ, M.A.; ROSIER, J.P.; DU- seguido do IAC 571-6 Campinas. process: potential inoculum sources, detec- CROQUET, J.P. Porta-enxertos para a cultura tion, identification, and management strate- da Videira. In: ENFRUTE, 4., 2001, Fraiburgo. Agradecimentos gies. Plant Disease, [S.l.], v.95, p.1040-1055, Anais […]. Caçador: Epagri, 2001. p.122-132. 2011. STAMP, J.A. The contribution of imperfec- Ao Conselho Nacional de Desenvol- LOURENÇÃO, A.L.; TERRA, M.M.; PIRES, tions in nursery stock to the decline of young vimento Científico e Tecnológico (CNPq) E.J.P.; POMMER, C.V.; AMBROSANO, G.M.V. pelo financiamento e à dra. Simone S. vines in California. Phytopathologia Medi- Comportamento de porta-enxertos de videi- Werner pelo auxílio na realização de terranea, Firenze, v. 40, p.369-375, 2001. ra em solo infestado pela pérola-da-terra. análises estatísticas. Revista de Agricultura, Piracicaba, v.77, n. 1, SPAYD, S.E; TARARA, J.M.; MEE, D.L.; FER- Referências p.57-64, 2002. GUNSON, J.C. Separation of sunlight and temperature effects on the composition of MOTA, R.V.; SOUZA, C.R.; FAVERO, A.C.; SIL- Vitis vinifera cv. Merlot berries. American BOTTON, M.; HICKEL, E.R.; SORIA, S.J.; TEI- VA, C.P.C.; CARMO, E.L.; FONSECA, A.R.; Journal of Enology and Viticulture, [S.l.], XEIRA, I. Bioecologia e controle da pérola- REGINA, M.A. Produtividade e composição v.53, n. 3, p. 171-182, 2002. da-terra Eurhizococcus brasiliensis (Hem- físico-química de bagas de cultivares de uva pel, 1922) (Hemiptera:Margarodidae) na em distintos porta-enxertos. Pesquisa Agro- TERRA, M.M.; POMMER, C.V.; PIRES, E.J.P.; cultura da videira. Bento Gonçalves: Embra- pecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 44, n.6, p. RIBEIRO, I.J.A.; GALLO, P.B.; PASSOS, I.R.S. pa Uva e Vinho, 2000. 23p. (Circular Técnica, 576-582, 2009. Produtividade de cultivares de uva para suco 27). PAULETTO, D.; MOURÃO FILHO, F. A. A.; KLU- sobre diferentes porta-enxertos IAC, em Mo- DALBÓ, M.A.; SCHUCK, E.; BASSO, C. Influ- GE, R.A.; SCARPARE FILHO, R.A. Produção e coca, SP. Revista Brasileira de Fruticultura, ence of rootstock on nutrient content in vigor da videira “Niágara Rosada” relaciona- Jaboticabal, v.23, n.2, p.382-386, 2001.

74 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.68-72, maio/ago. 2019 ARTIGO CIENTÍFICO Cigarrinhas-das-pastagens em Santa Catarina: avaliação do complexo de espécies e da incidência natural de fungos entomopatogênicos Leandro do Prado Ribeiro¹ e Angélica Ribolli Cazarotto²

Resumo – Levantamentos sistemáticos foram realizados de modo a determinar a proporção de espécies no complexo de cigarrinhas-das-pastagens incidentes em pastagens estabelecidas em diferentes municípios de Santa Catarina e avaliar a incidência natural de fungos entomopatogênicos associados aos espécimens coletados. Para isso, cigarrinhas adultas foram coletadas em pastagens de grama-bermuda, Cynodon dactylon cv. Tifton 85, sem histórico da aplicação de micoinseticidas, em 12 municípios do estado usando rede de varredura. Em laboratório, a proporção de espécies de cigarrinhas foi determinada e a mortalidade natural observada durante dez dias, sendo os exemplares mortos desinfectados e mantidos em placas de Elisa para avaliação da incidência de fungos, com posterior isolamento dos mesmos. Com base nas amostras obtidas, foram identificadas sete espécies de cigarrinhas (Notozulia entreriana, Deois schach, Deois knoblauchii, Mahanarva integra, Deois flavopicta, Deois flexuosa e Deois incompleta), sendo N. entreriana e D. schach classificadas como superfrequentes, constantes, superdominantes e superabundantes de acordo com a análise faunística empregada. Além disso, foram encontradas 15 espécies de fungos em associação às cigarrinhas (Alternaria sp., Aspergillus sp., Aspergillus niger, Bipolaris sp., Cladosporium sp., Curvularia sp., Metarhizium sp., Mucor sp., Nigrospora sp., Penicillium sp., Pestalotia sp., Pithomiices sp. e Monilia sp.), sendo a maioria delas reconhecidas como patógenos oportunistas, saprofitos ou fungos endofíticos. A incidência natural do fungo entomopatogênico Metarhizium spp. foi baixa em todas as áreas amostradas (0,7% do total de cigarrinhas coletadas).

Termos para indexação: Cercopidae; amostragem populacional; Notozulia entreriana; Deois schach; controle microbiano.

Spittlebugs in Santa Catarina: assessment of species complex and natural incidence of entomopathogenic fungi

Abstract – Systematic surveys were conducted to determine the proportion of species of spittlebugs and assess the natural incidence of entomopathogenic fungi species on populations collected in pastures located in different municipalities of the state of Santa Catarina, Brazil. For such, adult specimens were collected in pastures of bermudagrass, Cynodon dactylon cv. Tifton 85, without application of mycoinsecticides from 12 municipalities using a sweeping net device. In the laboratory conditions, the proportion of spittlebugs species and their natural mortality was observed for 10 days. Their cadavers were stored and disinfected, being kept on Elisa plates to assess the incidence of fungi species and their subsequent isolation. Based on obtained samples, seven spittlebug species were identified (Notozulia entreriana, Deois schach, Deois knoblauchii, Mahanarva integra, Deois flavopicta, Deois flexuosa, Deois incompleta), being N. entreriana and D. schach classified as super- frequent, constant, super-dominant and super-abundant according to the faunistic analysis employed. Moreover, 15 fungi species were found (Alternaria sp., Aspergillus sp., A. niger, Bipolaris sp., Cladosporium sp., Curvularia sp., Metarhizium sp., Mucor sp., Nigrospora sp., Penicillium sp., Pestalotia sp., Pithomiices sp., Monilia sp.) in association with spittlebugs. Most are recognized as opportunistic pathogens or plant endophytes. Natural incidence of entomopathogenic fungusMetarhizium spp. was low in all sampled areas (0.7% of the total of collected spittlebug).

Index terms: Cercopidae; populational sampling; Notozulia entreriana; Deois schach; microbial control.

Introdução al., 2017; PALADINI et al., 2018). Os da- (dano qualitativo) (VALÉRIO & NAKANO, nos causados pelas cigarrinhas são veri- 1987, 1988; CONGIO et al., 2012). Além As cigarrinhas-das-pastagens (He- ficados tanto na redução do volume de disso, o ataque intenso de pragas é uma miptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) matéria seca produzida (dano quantita- das causas da degradação de áreas de constituem um complexo de espécies tivo), que limitam consideravelmente a pastagens, problema crônico da pecu- que se configuram na principal praga capacidade de suporte das pastagens ária brasileira que ocasiona prejuízos de gramíneas (Poaceae) forrageiras em (AUAD et al., 2007), quanto na quali- para toda a sociedade (VALÉRIO et al., toda a América Latina (ALVARENGA et dade nutricional dos tecidos da planta 2000; PERON & EVANGELISTA, 2004).

Recebido em 31/10/2018. Aceito para publicação em 27/12/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.11 ¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina/Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (EPAGRI/ CEPAF), Rua Serv. Ferdinando Tusset s/n, Bairro São Cristóvão, Chapecó, SC. E-mail: [email protected], Fone: 049 – 20497563. *Autor para correspondência; ² Engenheira-agrônoma, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Chapecó, Santa Catarina. E-mail: [email protected].

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.73-79, maio/ago. 2019 75 A distribuição e a proporção das Argentina, Foieri et al. (2018) relataram Material e métodos espécies de cigarrinhas-das-pastagens a ocorrência natural do fungo do gênero são bastante variáveis de acordo com Pandora (Entomophthorales) sobre po- As coletas, visando avaliar a pro- as condições climáticas, espécies hos- pulações de cercopídeos-praga. porção de espécies no complexo de ci- pedeiras (nível de resistência) e históri- Diante do exposto, este estudo teve garrinhas-das-pastagens e a incidência co de uso e manejo da área (RIBEIRO & como objetivos avaliar, por meio de ín- natural de fungos entomopatogênicos CASTILHOS, 2018). No Brasil, a espécie dices faunísticos, a frequência, constân- associados, foram realizadas em pas- de cercopídeo Deois flavopicta Stal é a cia, dominância e abundância das es- tagens estabelecidas em propriedades que ocorre com maior frequência, espe- pécies no complexo de cigarrinhas-das- produtoras de leite de 12 municípios cialmente nas regiões Sudeste e Centro- pastagens incidentes em pastagens pe- (Alto da Bela Vista, Arvoredo, Bom Re- Oeste (FONTES et al.,1995; VALÉRIO et renes de verão de propriedades leiteiras tiro, Brunópolis, Campo Erê, Canoinhas, al., 2000). No Oeste Catarinense, Ber- de diferentes regiões de Santa Catarina, Iomerê, Lindóia do Sul, Ouro Verde, Pal- tollo et al. (2007) verificaram que Zulia assim como a incidência natural de es- mitos, Santa Rosa do Sul e São Miguel entreriana (Berg) (atualmente Notozulia pécies de fungos entomopatogênicos do Oeste) de diferentes regiões de San- entreriana) é a espécie predominante- associadas a essas populações. Além ta Catarina (Figura 1). Os levantamen- mente encontrada em pastagens for- de contribuir para o estabelecimento tos foram realizados entre os meses madas por gramíneas perenes de verão, de uma coleção de isolados de fungos de janeiro e março de 2016, em áreas embora os autores tenham verificado entomopatogênicos, esse conjunto de de pastagens constituídas por Cynodon diferenças na ocorrência e na proporção informações subsidiará futuros estudos dactylon cv. Tifton 85 [uma das forragei- das espécies de acordo com a gramínea que busquem potencializar o controle ras mais cultivadas no Estado (JOCHIMS hospedeira. Em grama-missioneira-gi- microbiano aplicado desse importante et al., 2017)] sem histórico de uso de gante (Axonopus catharinensis Valls), D. complexo de espécies-praga e o desen- micoinseticidas. A determinação dos flavopicta e Deois schach (F.) foram as volvimento de programas de melhora- pontos de amostragem levou em consi- espécies mais abundantemente encon- mento genético visando à obtenção de deração a distância entre eles (~ 100km) tradas em Chapecó, SC (CHIARADIA et genótipos resistentes para as espécies e a representatividade da atividade lei- al., 2013). majoritariamente encontradas nas prin- teira em cada região. Cada ponto amos- No Brasil, o controle químico do cipais regiões produtoras. trado foi georreferenciado utilizando-se complexo de cigarrinhas-das-pastagens tem sido a principal estratégia de mane- jo adotada pelos agricultores (RIBEIRO & CASTILHOS, 2018). Em contrapartida, o controle microbiano das cigarrinhas- das-pastagens com o fungo entomo- patogênico Metarhizium anisopliae (Metchnikoff) Sorokin (Ascomycota: Clavicipitaceae) vem sendo cada vez mais utilizado em virtude da crescente disponibilidade de formulações comer- ciais registradas (LOVATTO & RIBEIRO, 2017; MAINA et al., 2018). Além de M. anisopliae, outras espécies de fun- gos podem contribuir para o controle natural das cigarrinhas-das-pastagens. Leite et al. (2002) encontraram Furia sp. (Entomophthorales) em níveis epizoó- ticos atacando D. schach em pastagem de Brachiaria, provocando até 80% de infecção, com consequente queda na população do inseto. Nesse mesmo es- Figura 1. Municípios de Santa Catarina onde foram coletadas amostras de cigarrinhas-das- pastagens visando à avaliação da proporção de espécies e ocorrência natural de fungos tudo, os autores também constataram entomopatogênicos Batkoa sp. (Entomophthorales) atacan- Figure 1. Municipalities of Santa Catarina, Brazil where samples of spittlebugs were do Mahanarva fimbrioata (Stal) em pas- collected in order to evaluate the proportion of species as well as the natural occurrence of tagem de capim-elefante cv. Napier. Na entomopathogenic fungi

76 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.73-79, maio/ago. 2019 um GPS de navegação Garmin Etrex® talidade pela constatação da extrusão frequência e abundância. Além disso, a (Garmin Brasil Comércio de Tecnologias do patógeno, distinguido pelo cresci- diversidade de cigarrinhas-das-pasta- Ltda., Barueri, SP). mento micelial característico sobre o gens foi calculada pelo índice de Shan- Para coleta das cigarrinhas adul- tegumento do inseto após sete dias de non-Wiener (H’). Por sua vez, o índice tas foi utilizada rede de varredura com incubação. de riqueza de espécies adotado foi de 40cm de diâmetro. Cada amostra foi Em câmara asséptica, o isolamento Margalef (α) e, para estimar a uniformi- composta por indivíduos coletados dos fungos foi realizado através do mé- dade em termos de abundância de indi- por meio de redadas em movimentos todo de plaqueamento em meio de cul- víduos entre as espécies amostradas, foi pendulares em pontos aleatoriamente tura BDA (batata, dextrose e ágar). Para calculado o índice de equitabilidade (E’) distribuídos de cada área com esforço isso, o meio preparado foi autoclavado (SILVEIRA NETO et al., 1976). amostral de 30 minutos. Para transpor- e adicionado às placas de Petri (9cm de te ao laboratório, os insetos coletados diâmetro) previamente esterilizadas. O Resultados e discussão vivos foram dispostos em caixas teladas isolamento dos fungos observados nos (30 × 30 × 30cm) de modo a permitir a exemplares mortos foi realizado por Com base nos espécimens adultos livre circulação do ar e contendo partes meio da raspagem da superfície das ci- amostrados (n = 1564) em pastagens da forrageira da própria área amostrada garrinhas contaminadas com uma pinça de grama-bermuda cultivadas em di- para servir de sítio de refúgio e alimen- esterilizada, introduzindo, posterior- ferentes municípios de Santa Catarina, tação durante o transporte. As coletas mente, o micélio do fungo no meio de foram identificadas sete espécies de e transportes das cigarrinhas-das-pasta- cultura. As placas foram incubadas em cercopídeos (Hemiptera: Auchenor- gens foram realizadas com prévia auto- câmaras tipo BOD, com temperatura de rhyncha) compondo o complexo de rização emitida pelo Sistema de Autori- 25±2°C, umidade relativa de 60±10% e cigarrinhas-das-pastagens (Figura 1, Ta- zação e Informação em Biodiversidade fotoperíodo de 12 horas, por sete dias. bela 1). Embora tenham sido verificadas (ICMBio/SISBIO) do Instituto Brasileiro Nas placas em que houve o crescimen- diferenças na proporção das espécies do Meio Ambiente e Recursos Natu- to de mais de um tipo de fungo foi re- de cigarrinhas-das-pastagens entre os rais Renováveis do Ministério do Meio alizada a repicagem, separando-os em locais amostrados (Tabela 1), N. entre- Ambiente (IBAMA/MMA), sob número placas contendo meio de cultura BDA riana foi a espécie mais abundante, cor- 51520-1. e mantendo-os em câmara BOD sob as respondendo por 74,04% dos indivídu- mesmas condições mencionadas ante- os coletados (Figuras 1 e 2), seguido por Avaliação da proporção de riormente. A identificação das espécies Deois schach (19,50% dos indivíduos espécies e incidência de fungos de fungos foi realizada utilizando-se coletados). Essas duas espécies foram associados chaves de classificação. Alguns isolados as únicas classificadas como superfre- selecionados foram preservados em tu- quentes, constantes, superdominantes bos criogênicos com glicerol 10%, man- Em laboratório, as cigarrinhas foram e superabundantes, de acordo com a tidos em ultrafreezer (-80°C) e deposita- separadas por espécies (morfotipos) análise faunística empregada (Tabela 2). dos na coleção de fungos entomopato- e locais amostrados, sendo que vou- O índice de Shannon-Weaner esti- gênicos da Epagri/Cepaf. chers specimens foram encaminhados mado (1,0323) foi baixo, o que denota à Profa. Dra. Andressa Paladini (UFSM, a ocorrência de fatores limitantes e de Santa Maria, RS) visando à confirmação Análise dos dados obtidos competição interespecífica intensa nos específica. As cigarrinhas coletadas (vi- locais amostrados (SILVEIRA NETO et al., vas) foram mantidas em gaiolas confec- Inicialmente, os dados obtidos fo- 1976). Nesse sentido, as espécies mais cionadas com tecido fino do tipo voile, ram submetidos a análises descritivas. comuns aumentam suas populações e dispostas sobre plantas de Brachiaria Por sua vez, os índices de frequência, as espécies raras apresentam baixo ní- brizantha (Poaceae) cultivadas em va- abundância, dominância e constância vel populacional (HUSCH et al., 2012). sos com capacidade de 15 litros. Diaria- das espécies de cigarrinhas-das-pasta- A riqueza das espécies, medida pelo mente, por um período de dez dias, foi gens foram obtidos por meio de análise índice de Margalef (0,8667), confirma observada a ocorrência de cigarrinhas faunística utilizando o software ANAFAU haver a predominância de espécies, ou mortas, as quais foram desinfectadas (MORAES et al., 2003). Na classificação seja, a ocorrência de poucas espécies em solução de hipoclorito de sódio a do ANAFAU é adicionada a classe extre- com populações de muitos indivíduos, 0,5% (v v-1) por 30 segundos seguido de ma (super), referente aos valores dis- com destaque para N. entreriana, que três lavagens em água destilada esté- crepantes de número de insetos, discri- correspondeu a mais de 70% dos exem- ril. Feito isso, essas foram transferidas, minados através da análise de resíduos. plares coletados. O índice de equitabili- imediatamente, para placas de Elisa (24 Esses valores não são considerados no dade ou uniformidade estimada foi de células) visando à confirmação da mor- cálculo dos parâmetros de dominância, 0,6414, sendo que quanto mais próximo

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.73-79, maio/ago. 2019 77 Tabela 1. Locais amostrados e proporção de espécies de cigarrinhas-da-pastagens (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) coletadas em pastagens de Cynodon dactylon cv. Tifton 85 em 12 municípios de Santa Catarina (janeiro a março de 2016) Table 1. Sampling sites and proportion of spittlebugs species (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) collected on pastures of Cynodon dactylon cv. Tifton 85 from 12 municipalities of Santa Catarina, Brazil (January to March 2016) Proporção de espécies coletadas (%) Número de Locais amostrados insetos Notozulia Deois Deois Mahanarva Deois Deois Deois coletados entreriana schach knoblauchii integra flavopicta flexuosa incompleta

Alto da Boa Vista 127 88,98 8,66 2,36 0,00 0,00 0,00 0,00 Arvoredo 252 81,35 0,79 15,48 0,40 1,98 0,00 0,00 Bom Retiro 83 0,00 98,80 1,20 0,00 0,00 0,00 0,00 Brunópolis 73 86,30 13,70 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Canoinhas 3 0,00 100,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Campo Erê 238 13,44 76,05 6,73 0,00 3,78 0,00 0,00 Iomerê 375 97,34 0,53 0,00 2,13 0,00 0,00 0,00 Lindóia do Sul 99 96,97 1,01 0,00 1,01 1,01 0,00 0,00 Ouro Verde 282 92,55 3,90 1,42 2,13 0,00 0,00 0,00 Palmitos* 0 ------Santa Rosa do Sul 20 60,00 10,00 5,00 0,00 0,00 20,00 5,00 São Miguel do 12 91,67 0,00 8,33 0,00 0,00 0,00 0,00 Oeste

Total 1564 74,04 19,50 4,16 1,02 0,96 0,26 0,06 * Na data de amostragem realizada, não foram encontradas cigarrinhas-das-pastagens adultas na área amostrada.

Tabela 2. Análise faunística do complexo de cigarrinhas-da-pastagens (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) em pastagens de Cynodon dactylon cv. Tifton 85 de 12 municípios de Santa Catarina (janeiro a março de 2016) Table 2. Faunistic analysis of spittlebugs complex (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) in pastures of Cynodon dactylon cv. Tifton 85 from 12 municipalities of Santa Catarina, Brazil (January to March 2016)

Número de insetos Frequência Constância Dominância Abundância Locais amostrados coletados (F) (C) (Do) (A)

Notozulia entreriana 1158 Super frequente Constante Super dominante Super abundante Deois schach 305 Super frequente Constante Super dominante Super abundante Deois knoblauchii 65 Muito frequente Constante Dominante Muito abundante Mahanarva integra 16 Frequente Acidental Dominante Muito abundante Deois flavopicta 15 Frequente Acidental Dominante Muito abundante Deois flexuosa 4 Frequente Acessória Não dominante Muito abundante Deois incompleta 1 Frequente Acessória Não dominante Muito abundante Total de espécimens coletados 1564 Índice de Shannon-Weaner (H’) 1,0323 (IC 95%: 1,0151-1,0496) Índice de Margalef (α) 0,8667 Índice de equitabilidade (E’) 0,6414

78 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.73-79, maio/ago. 2019 a zero maior o indicativo da predomi- nância de espécies (HUSCH et al., 2012). Os resultados obtidos nos diferentes locais amostrados indicam a predomi- nância das espécies N. entreriana e D. schach em pastagens de C. dactylon cv. Tifton 85, diferindo de levantamentos prévios realizados em Santa Catarina (BERTOLLO et al., 2007; CHIARADIA et al., 2013). Apesar da distribuição e da proporção das espécies de cigarrinhas- das-pastagens ser bastante variável de acordo com as condições climáticas, as espécies forrageiras hospedeiras e o his- tórico de uso e manejo da área (RIBEIRO & CASTILHOS, 2018), os resultados ob- tidos indicam que essas duas espécies Figura 2. Proporção de espécies de cigarrinhas-da-pastagens (Hemiptera: Auchenorrhyncha: deverão ser, preferencialmente, o alvo Cercopidae) em pastagens de Cynodon dactylon cv. Tifton 85 em 12 municípios de Santa de futuros estudos visando o desenvol- Catarina (janeiro a março de 2016) Figure 2. Proportion of spittlebugs species (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) on vimento de genótipos resistentes ou o pastures of Cynodon dactylon cv. Tifton 85 from 12 municipalities of Santa Catarina, Brazil delineamento de estratégias de manejo (January to March 2016) integrado. Entre os espécimens adultos coleta- Tabela 3. Espécies de fungos associados ao complexo de cigarrinhas-da-pastagens dos, 56,65% apresentaram mortalidade (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) coletadas em pastagens de Cynodon dactylon dentro do período observado (dez dias), cv. Tifton 85 de 12 municípios de Santa Catarina (n = 1564) e ocorrência de extrusão de estruturas Table 3. Fungal species associated to spittlebugs complex (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) collected on pastures of Cynodon dactylon cv. Tifton 85 from 12 municipalities de patógenos associados (Tabela 3). of Santa Catarina, Brazil (n = 1564) Assim, foram identificadas 15 espécies Número de insetos % de insetos de fungos em associação às cigarrinhas Espécie identificada (Alternaria sp., Aspergillus sp., A. niger, infectados infectados Bipolaris sp., Cladosporium sp., Curvula- Alternaria sp. 59 6,66 ria sp., Fusarium sp., Metarhizium sp., Aspergillus sp. 8 0,90 Mucor sp., Nigrospora sp., Papulospora Aspergillus niger 7 0,79 sp., Penicillium sp., Pestalotia sp., Pitho- miices sp. e Monilia sp.) (Tabela 3), sen- Bipolaris sp. 256 28,89 do a maioria deles reconhecidos como Cladosporium sp. 23 2,60 patógenos oportunistas ou fungos en- Curvularia sp. 81 9,14 dofíticos (HUANG & JIANG, 2015; KAUR Fusarium sp. 198 22,35 et al., 2015). A incidência natural do Metarhizium sp. 11 1,24 fungo entomopatogênico Metarhizium Mucor sp. 44 4,97 spp. foi baixa em todas as áreas amos- tradas, correspondendo a 0,7% do total Nigrospora sp. 88 9,93 de cigarrinhas coletadas, ou seja, ape- Papulospora sp. 3 0,34 nas 1,24% dos insetos infectados das Penicillium sp. 14 1,58 amostras obtidas. Pestalotia sp. 8 0,90 Bipolaris sp. (29,89%), Fusarium sp. Pithomiices sp. 2 0,23 (22,35%), Nigrospora sp. (9,93%) e Cur- vularia sp. (9,14) foram as espécies de Monilia sp. 1 0,11 fungos mais abundantemente associa- Não identificadas 83 9,37 das às populações de cigarrinhas-das- Total 886 pastagens (Tabela 3). Embora muitas Proporção de insetos 56,65% espécies desses gêneros constituam infectados patógenos de C. dactylon e esporos des-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.73-79, maio/ago. 2019 79 dos selvagens no controle biológico das espécies de cigarrinhas-das-pastagens mais abundantes em Santa Catarina. Todavia, estudos em condições de cam- po também deverão ser conduzidos de modo a avaliar a bioatividade e o com- portamento desses isolados em condi- ções naturais, subsidiando a avaliação do potencial uso desses isolados na for- mulação de micoinseticidas. Conclusões

Com base nos levantamentos reali- zados nas condições pré-estabelecidas, conclui-se que: - Em pastagens de grama-bermuda (C. dactylon cv. Tifton 85), sete espé- cies (N. entreriana, D. schach, D. kno- Figura 3. Espécies de cigarrinhas-da-pastagens (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) incidentes em pastagens de Cynodon dactylon cv. Tifton 85 em 12 municípios de Santa blauchii, M. integra, D. flavopicta, D. Catarina flexuosa e D. incompleta) compõem o Figure 3. Species of spittlebugs (Hemiptera: Auchenorrhyncha: Cercopidae) on pastures of complexo de cigarrinhas-das-pastagens Cynodon dactylon cv. Tifton 85 from 12 municipalities of Santa Catarina, Brazil incidentes em Santa Catarina; - N. entreriana e D. schach são es- pécies superfrequentes, constantes, sas espécies possam estar associados riormente, o mesmo efeito também foi superdominantes e superabundantes ao sistema digestório das cigarrinhas, demonstrado a partir do fungo endofí- em pastagens de grama-bermuda nas estudos têm demonstrado o efeito de tico Alternaria alternata (KAUR et al., regiões amostradas de Santa Catarina; espécies desses gêneros ou mesmo 2015). - A incidência natural do fungo ento- de metabólitos secundários por eles Recentemente, Campagnani et al. mopatogênico Metarhizium spp. é baixa produzidos sobre insetos. Por exem- (2017) detectaram a ocorrência de cinco em todas as áreas amostradas (0,7% do plo, Pečiulytė et al. (2010) verificaram isolados de fungos associados a Maha- total de cigarrinhas coletadas). a ação de isolados de Lecanicillium narva spectabilis (Distant) (Hemiptera: psalliotae (syn. Verticillium psalliotae) e Cercopidae) em áreas de sistemas silvi- Agradecimentos Fusarium solani sobre Bupalus piniaria pastoris (SSP) tropicais: Penicillium sp. L. (Lepidoptera: Geometridae). Isolado (isolados UFMG 11440 e UFMG 11441), À Zelinda Meneguzzi, Carmen Cella de Fusarium pallidoroseum, obtidos de Mucor sp. (UFMG 11441), Fusarium sp. dos Santos e Neusa Terezinha Maciel cadáveres de Lymantria dispar (L.) (Le- (isolado UFMG 11443) e Metarhizium (Epagri/Cepaf) pela colaboração técnica pidoptera: Erebidae), causaram promis- sp. (isolado 11444). Em ensaios de vi- na execução do estudo. Aos técnicos de sores níveis de mortalidade de lagartas rulência, os autores verificaram que campo da Epagri/Cepaf e dos escritórios de L. dispar (MUNSHI et al., 2008). A os isolados UFMG 11443 e 11444 cau- municipais da Epagri de diferentes mu- toxina beauvericin produzida por isola- saram mais de 90% de mortalidade de nicípios pelo auxílio na coleta de cigar- do de Fusarium semitectum e Fusarium ovos e de ninfas expostas, enquanto rinhas-das-pastagens nas propriedades moniliforme var. subglutinans apresenta que os demais isolados (UFMG 11440, amostradas. Os autores também agra- toxicidade para o besouro Leptinotarsa 11441 e 11442) foram igualmente ou decem à prof. Dra. Andressa Paladini decemlineata (Say) (Coleoptera: Chry- mais eficientes que a cepa comercial de (UFSM) pela identificação das espécies somelidae) (GUPTA et al., 1991). Thakur M. anisopliae (controle positivo), com de cigarrinhas, ao Dr. Wiliam da Silva et al. (2014) verificaram que os fungos mais de 50% de ovos inviáveis ou morta- Ricce (Epagri/Ciram) pelo auxílio na endofíticos Nigrospora oryzae e Clados- lidade de ninfas. Diante desse potencial, elaboração do mapa dos locais amos- porium uredinicola apresentam efeito estudos de virulência deverão ser con- trados e a Regina Célia Botequio de Mo- citotóxico sobre hemócitos de Spodop- duzidos futuramente com os isolados raes (Departamento de Entomologia, tera litura (F.) (Lepidoptera: Noctuidae), obtidos no levantamento realizado de ESALQ/USP) pelo auxílio na análise fau- alterando seu sistema de defesa. Poste- modo a avaliar o potencial desses isola- nística. Por fim, os autores agradecem

80 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.73-79, maio/ago. 2019 ao CNPq (Processo 445518/2014-6) pest, Deois flavopicta (Homoptera: Cercopi- MUNSHI, N. A.; HUSSAIN, B.; MALIK, G. N.; pelo suporte financeiro. dae). Journal of Economic Entomology, La- YOSUF, M.; FATIMA, N. Efficacy of entomo- nham, v. 88, n. 5, p. 1256-1262, 1995. pathogenic fungus Fusarium pallidoroseum (Cooke) Sacc. against gypsy (Lymantria Referências GUPTA, S.; KRASNOFF, S. B.; UNDERWOOD, obfuscata walker). Journal of Entomology, N. L.; RENWICK, J. A. A.; ROBERTS, D. W. [S.l.], v. 5, n. 1, p. 59-61, 2008. ALVARENGA, R.; AUAD, A. M.; MORAES, J. C.; Isolation of beauvericin as an insect toxin SILVA, S. E. B.; RODRIGUES, B. S.; SILVA, G. from Fusarium semitectum and Fusarium PALADINI, A.; TAKIYA, D. M.; URBAN, J. M.; B. Spittlebugs (Hemiptera: Cercopidae) and moniliforme var. subglutinans. Mycopatho- CRYAN, J. R. 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Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.73-79, maio/ago. 2019 81 ARTIGO CIENTÍFICO Efeito da desalcoolização parcial de vinhos tintos finos através da liofilização João Felippeto¹, Francieli Artismo² e Alberto Fontanella Brighenti³

Resumo – Bebidas com teor alcoólico reduzido têm ganhado espaço no mercado consumidor mundial. Assim, o desenvolvimento de tecnologias conservadoras, capazes de remover parcialmente o álcool sem prejudicar as suas características sensoriais, é de grande interesse às indústrias vinícolas. O objetivo deste trabalho foi testar a eficiência e compreender os efeitos da liofilização para a desalcoolização parcial de vinhos. As amostras foram submetidas ao processo de liofilização e as cinéticas de decaimento ou concentração dos componentes da matriz do vinho foram sequencialmente avaliadas, através da correlação entre os valores dos parâmetros físico-químicos e o tempo de exposição, em intervalos entre 30 minutos e 120 minutos. O método se mostrou eficiente para a redução dos compostos voláteis do vinho, com destaque para o álcool (0,038°GL) e para a água (0,9mL), por minuto. Em função da redução gradual do volume, foram observados aumentos na acidez (0,092mEq L-1) e nos índices de polifenóis totais (2,77mgEAG L-1) por minuto. Relativamente aos aspectos sensoriais, foram verificados decréscimos com maior variabilidade nos descritores associados com a intensidade olfativa e com a nitidez gustativa.

Termos de indexação: teor alcoólico reduzido; bebidas alcoólicas; qualidade sensorial.

Effect of partial dealcoholization of fine red wines through lyophilization

Abstract – Drinks with reduced alcohol content have gained space in the world consumer market. Thus, the development of conservative technologies, capable of partially removing alcohol without impairing its sensorial characteristics, is of great interest to the wine industry. The objective of this study was to test the efficiency and to understand the effects ofthe lyophilization process for partial dealcoholization of wines. The samples were submitted to the lyophilization process, and the kinetics of decay or concentration of the wine matrix components were evaluated by correlation between the values of the physicochemical parameters and the time of exposure, in intervals from 30 to 120 minutes. The method was efficient to reduce the volatile compounds of wine, with emphasis on alcohol (0.038 ° GL) and water (0.9mL) per minute. As a result of the gradual volume reduction, increases in acidity (0.092mEqL-1) and total polyphenol indices (2.77mg EAGL-1) were observed per minute. Regarding sensorial aspects, there were decreases with greater variability in the descriptors associated with olfactory intensity and taste clarity.

Index terms: reduced alcohol content; alcoholic beverages; sensory quality.

Introdução (BRUWER et al., 2014; WINE INTELLI- do uma forte modificação no padrão GENCE, 2012). Por ser altamente com- de consumo: a do produto saudável e O consumo de vinhos com teor al- petitivo, o ambiente de mercado do conveniente. Esta mudança no compor- coólico reduzido tem aumentado em Reino Unido pode fornecer ideias cla- tamento do mercado está relacionada à diversos países. De acordo com as agên- ras sobre as modificações no compor- busca de produtos alternativos capazes cias Euromonitor International (WINE, tamento do consumidor mundial, bem de oferecer menos calorias e, no caso 2012) e Institute of Wine and Spirit Re- como subsidiar importantes estratégias das bebidas fermentadas, uma redu- cord (2012), o Reino Unido representa de vendas no varejo (BRUWER et al., ção dos efeitos do álcool. Neste viés, as o maior mercado mundial de vinhos, 2011, 2012). bebidas fermentadas com baixo teor al- com valores próximos a £14 bilhões A produção e a comercialização de coólico têm sido comercializadas como em 2011. Nesses países, os vinhos com vinhos com reduzido teor alcoólico são opção para os consumidores e parecem menor teor alcoólico tiveram a sua pro- uma excelente oportunidade mercado- representar uma completa modificação dução aumentada em 26%, com uma lógica em todo o mundo. Além disso, no padrão tradicional de consumo, si- valorização de preços próxima aos 39% nos últimos anos, o mercado mundial tuação comparável aos produtos light entre março de 2011 a março de 2012 de alimentos e bebidas tem observa- e diet produzidos pela indústria de la-

Recebido em 22/8/2018. Aceito para publicação em 20/11/2018. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.12 ¹ Enólogo, Msc., Epagri / Estação Experimental de São Joaquim, rua João Araújo Lima, 102, bairro Jardim Caiçara, 88600-000 São Joaquim, SC, e-mail: [email protected]. ² Engenheira-agrônoma / Universidade Estadual de Santa Catarina, Av. Luiz de Camões, 2090, bairro Conta Dinheiro, Lages, SC, e-mail: francieli_artismo@ hotmail.com ³ Eng. agrônomo, Dr., Epagri / Estação Exp. de São Joaquim, rua João Araújo Lima, 102, bairro Jardim Caiçara, 88600-000 São Joaquim, SC, e-mail: [email protected]

82 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.80-85, maio/ago. 2019 ticínios (SILVA, 2004; ORDUÑA, 2010; das variedades Cabernet Sauvignon As análises sensoriais foram realiza- GAMBUTI et al., 2011). (70%) e Merlot (30%), cultivadas na das através de um painel composto por Diversas tecnologias têm sido de- região de São Joaquim durante o ciclo cinco julgadores previamente treina- senvolvidas para a redução do etanol de 2010/2011. As amostras contendo dos, utilizando fichas de provas padrão em vinhos na fase pós-fermentativa: exatamente 500mL de vinho a 20°C fo- da Organização Internacional do Vinho destilação por coluna (cone spinning) e ram acondicionadas em tubos de liofi- (OIV, 1990). Quinze minutos antes das lização com capacidade para 1000mL e extração supercrítica de CO2 combina- análises, os vinhos foram distribuídos da com destilação a vácuo (SEIDLITZ et resfriadas até o ponto de congelamento em taças tipo ISO previamente codifica- al., 1991); osmose reversa (PILIPOVIK & através de uma solução hidroalcoólica a das. Cada amostra foi avaliada quanto RIVEROL, 2005); separação por mem- -35°C. Após o congelamento dos vinhos, aos seus aspectos visuais, olfativos, gus- brana (LABANDA et al., 2009); pervapo- os tubos foram acoplados a um liofiliza- tativos e apreciação global. A ordena- ração (TAKÁCS et al., 2007); destilação dor EYELA (Tokyo Rikakikai Freezer FD) e ção dos dados foi feita com o auxílio de osmótica (LIGUORI et al., 2013). Estas imediatamente expostos a uma pressão planilhas Excel, sendo calculadas, para metodologias, no entanto, apresentam de 12Pa. As amostras foram retiradas cada variável, as médias e os desvios- alto custo e afetam os atributos sen- em intervalos lineares de tempo: 0 min. padrão amostrais. Com os dados obti- soriais do vinho. Nesse contexto, com- (testemunha), 30 min., 60 min., 90 min. dos, foram estabelecidas as correlações preende-se a importância do desenvol- e 120 min. Os intervalos foram estabele- e elaborados os gráficos que demons- vimento ou da validação de métodos cidos a partir de estudos prévios sobre a tram as dinâmicas de decaimento ou a capazes de gerar processos industriais velocidade de redução dos componen- concentração dos diversos componen- eficientes para reduzir o teor alcoólico tes voláteis do vinho, realizados no mes- tes do vinho submetido ao método em nos vinhos sem prejuízo às suas caracte- mo equipamento. avaliação. rísticas olfato-gustativas. Como forma de compreender a A liofilização pode ser um método performance do vinho frente aos trata- Resultados e discussão adequado para a desalcoolização parcial mentos, foram estudadas as cinéticas de decaimento dos componentes vo- de vinhos considerando a natureza con- O teor alcoólico das amostras, servadora desta técnica que, segundo láteis, bem como a concentração dos componentes fixos presentes na matriz que inicialmente era de 12°GL, sofreu Marques & Costa (2015), produz altera- uma diminuição de aproximadamente ções mínimas nos atributos de natureza do vinho. Tais cinéticas foram estabe- lecidas através da correlação entre os 0,038°GL por minuto durante a exposi- nutricional e sensorial dos alimentos ção do vinho ao processo de liofilização, por permitir a retenção de cerca de valores dos parâmetros físico-químicos e o tempo de exposição ao processo de chegando a 7,3°GL no final de 120 minu- 80% das substâncias voláteis e aromas. tos (Figura 1A). Liguori et al. (2013), uti- Esse método utiliza temperaturas mais liofilização. Todos os tratamentos foram em triplicata, perfazendo quinze amos- lizando o método da destilação osmóti- baixas que o ponto de congelamento ca para a redução do teor de etanol em da água e pressão menor do que a at- tras. Os parâmetros físico-químicos estudados foram: acidez total titulável vinho tinto da variedade Aglianico com mosférica para promover a sublimação (mEq L-1), pH, teor alcoólico (°GL) e den- um teor alcoólico inicial de 13,0°GL, da água desde o centro do gelo com mí- sidade relativa, conforme metodologia obtiveram reduções que chegaram a nimo deslocamento de sólidos solúveis descrita por Rizzon (2010). O índice de 9,9°GL nos mesmos 120 minutos, o que para a superfície. Além disso, as reações polifenóis totais (IPT) foi determinado demonstra que a liofilização proporcio- oxidativas e não oxidativas são mínimas, de acordo com Singleton & Rossi (1965), na, comparativamente, um menor fluxo já que que permite manutenção das pa- utilizando o reagente Folin-Ciocalteu. de extração do álcool. A volatilização do redes celulares (BOSS, 2007; MARQUES, As concentrações de polifenóis totais álcool verificada nas condições do expe- 2008; VAN CLEEF et al., 2010; MARQUES foram lidas em espectrofotômetro de rimento pode ser explicada pelo princí- & COSTA, 2015). Considerando a escas- UV/VIS na faixa espectral de 760nm, pio físico da liofilização, de forma seme- sez de informações sobre o comporta- quantificadas por meio de uma curva lhante ao que ocorre com a água duran- mento dos vinhos frente a esse proces- de calibração com ácido gálico e ex- te a sublimação. Neste processo, a eva- so, o objetivo desta pesquisa foi avaliar pressas em miligramas de Equivalente poração da água ocorre diretamente do a eficiência e compreender os efeitos da de Ácido Gálico por litro (mgEAG L-1). A estado sólido para o gasoso, desde que liofilização sobre os parâmetros físico- densidade ótica (DO) também foi deter- a pressão de vapor e a temperatura da químicos e sensoriais de vinhos tintos minada através da espectrofotometria, camada de gelo se mantenham abaixo finos. nos comprimentos de onda de 420nm, do ponto tríplice da água que é 0,0099°C 520nm e 620nm (medidos pela absor- a uma pressão atmosférica menor do Material e métodos bância), em cubetas de 1,00mm de per- que 610Pa (ORDÓÑES, 2005; MARQUES curso ótico. Foram calculados os índices & COSTA, 2015). Por outro lado, assim O trabalho foi realizado no Labora- de cor (IC = A420 + A620 + A320) e os como a água, os demais componentes tório de Enoquímica da Epagri – Esta- teores de cor (T = A420/A520), de acor- de natureza volátil também são eva- ção Experimental de São Joaquim, SC. do os métodos propostos por Glories porados, na interface entre o gelo e o O vinho utilizado foi elaborado a partir (1984) e Amerine & Ough (1988). ar, através do fluxo causado pela baixa

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.80-85, maio/ago. 2019 83 Figura 1. Teor alcoólico (°GL), volume volatilizado (mL) (A) e densidade relativa (g/mL) (B) dos vinhos submetidos ao processo de desalcoolização parcial através do método da liofilização Figure 1. Alcohol content (°GL), volatilized volume (ml) (A) and density of wines (B) submitted to the partial de-alcoholization process by the freeze-drying method pressão atmosférica, consequentemen- No que se refere à acidez total titulá- mesmo em pequenas reduções no teor te reduzindo os seus teores. Observa- vel (ATT), os valores aumentaram a uma alcoólico (0,2°GL a 2°GL), sem no entan- se uma tendência com alta linearidade taxa de aproximadamente 2,76mEq.L-1 to, ocasionar modificações significati- no decaimento deste parâmetro, o que a cada 30 minutos, modificando o vas na ATT. Estes dados também estão demonstra a eficiência do método uti- seu teor relativo de 53,08mEq L-1 para de acordo com Liguori et al. (2013). A lizado como promotor de extração dos 64,12 mEq L-1 após o transcurso de 120 constatação do aumento da ATT na ma- componentes voláteis, com destaque minutos (Figura 2). Os vinhos contêm triz do vinho pode ser explicada pela para os álcoois e para a água. Também uma matriz ácida composta por diversos redução dos solventes (principalmente nota-se uma redução linear no volume ácidos orgânicos, com destaque para o a água), e pela consequente concen- das amostras, a uma taxa de, aproxima- tartárico, málico e cítrico, que são deri- tração dos ácidos totais. Esta observa- damente, 0,9mL por minuto, reduzindo vados da própria uva, e aqueles prove- ção pode ser ratificada pelo comporta- de 500mL para 388mL no final do pro- nientes do metabolismo microbiológico mento do pH que teve os seus valores cesso. O principal efeito da extração dos durante o processo fermentativo, como reduzidos de 3,85 para 3,81, durante o principais solventes da matriz do vinho o succínico, acético e lático (BENASSI, transcurso de 120 minutos (Figura 2). (álcool e água) é o aumento da densida- 1997). Rolle et al. (2018), utilizando a O pH corresponde à concentração de de relativa das amostras, o que pode ser técnica da destilação osmótica para a hidrogênio iônico proveniente dos áci- observado na Figura 1B. Este parâmetro teve os seus valores aumentados de redução do álcool nos vinhos, verifica- dos orgânicos, além da concentração forma linear a uma taxa de aproxima- ram aumentos na concentração dos áci- de potássio, e representa a acidez real damente 0,001 pontos a cada 30 minu- dos tartárico, lático, succínico e cítrico, do vinho (GABAS et al, 1994; RIZZON & tos. A elevação numérica da densidade se deve à concentração de moléculas com menor volatilidade, como os poli- fenóis, além dos sólidos dissolvidos na matriz complexa da mistura. Estudos de métodos para redução do etanol de vi- nhos através da nanofiltração também mostraram aumentos nas quantidades relativas de compostos moduladores da densidade como o açúcar, ácido total, extrato total e extrato sem açúcar, em função da extração da água e do álcool (BANVOLGYI et al., 2006). É importante referir que a expectativa dos consumi- dores dos vinhos tintos elaborados nas altas altitudes é a de uma bebida com uma estrutura mais densa. Nesse sen- Figura 2. pH e acidez total (meqL-1) dos vinhos submetidos ao processo de desalcoolização tido, a liofilização pode contribuir po- parcial através do método da liofilização sitivamente para o atendimento dessa Figure 2. pH and total acidity (meqL-1) of wines submitted to the partial de-alcoholization expectativa. process by the freeze-drying method

84 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.80-85, maio/ago. 2019 MIELE, 2002). Esses resultados estão de os resultados obtidos por Liguori et al. dos valores de A520); reações de oxi- acordo com Lança (2011), que estudou (2010) e Belisario-Sanchez et al. (2009), dação envolvendo a degradação das o comportamento de vinhos brancos utilizando a técnica da osmose direta. É antocianinas (redução de A520 e A620); e tintos parcialmente desalcoolizados importante referir que os polifenóis são polimerização de taninos, tornando-se através dos métodos da osmose inversa substâncias que interferem fortemen- castanhos (aumento do A420); oxidação e da nanofiltração, quando foi constata- te nas características cromáticas dos das combinações taninos-antocianas do uma ligeira redução do pH nos tintos, vinhos, o que foi demonstrado através evoluindo naturalmente para o laran- ocasionada pelo aumento da acidez to- das análises espectrofotométricas da ja (aumento do A420 e diminuição do tal. É importante referir que a elevação cor das amostras. A620) (GLORIES, 1984). Neste sentido, dos valores da ATT nos vinhos pode ser As características da cor, identifica- os vinhos oxidados ou excessivamente benéfica para a sua qualidade, espe- das através do índice de cor (IC) e da envelhecidos tendem a ser menos ver- cialmente nos brancos elaborados com tonalidade de cor (TC), estão demons- melhos, evoluindo para uma cor mais uvas sobrematuradas ou provenientes trados na figura 3B. Houve aumento de alaranjada ou telha. A linearidade dos de regiões de clima quente, onde os aproximadamente 28% no IC nas condi- valores do teor de cor observada neste ácidos orgânicos são fortemente degra- ções deste experimento. De acordo com trabalho mostra que não houve fortes dados durante o período da maturação. Glories (1984), o IC é definido como a modificações nas relações oxidativas Quanto aos polifenóis totais (Figura 3A), soma das densidades óticas medidas ou poliméricas entre os principais com- é possível observar uma variação de, nas faixas espectrais em que: A420 postos fenólicos e, portanto, o método aproximadamente, 20,3%, aumentando (amarelo) representa a proporção de pode ser considerado pouco agressivo de 1633,45 para 1965,73 mgEAG L-1 em taninos; A520 (vermelho), as antociani- ou mesmo conservador para a estrutura 120 minutos. Embora o índice de poli- nas; e A620 (violeta-azul), as condensa- polifenólica total. fenóis totais represente a totalidade ções entre as catequinas e as antociani- Quanto às análises sensoriais do dos compostos fenólicos presentes num nas. Portanto, o aumento do IC ratifica vinho, não foram observadas grandes determinado vinho, sem distinção das os dados obtidos pela quantificação do modificações nos descritores responsá- frações relativas de cada grupo, os re- IPT (Figura 3A), considerando que uma veis pelas características visuais, o que sultados obtidos demonstram que estas parte importante da estrutura polifenó- pode ser comprovado através dos bai- substâncias não são retiradas do vinho lica é responsável pela cor. Entretanto, xos valores dos coeficientes de variação através do fluxo promovido pela liofili- o teor de cor, que é definido pela razão da limpidez e do aspecto (CV% menor zação. Portanto, o aumento do IPT pode entre as faixas espectrofotométricas do que 6%) (Tabela 1). Essa constatação ser explicado pela baixa capacidade de (A420/A520), permaneceu praticamen- evidencia que não houve precipitações volatilização dos polifenóis e da sua te inalterado (Figura 3B). Os fatores que ou turvações dos sólidos dissolvidos na consequente concentração nos vinhos, podem modificar a tonalidade são as re- matriz do vinho ocasionadas pelo méto- quando submetidos a esse método. ações de condensação de antocianinas do em estudo. Por outro lado, a intensi- Essa constatação está de acordo com e taninos envolvendo etanal (aumento dade visual teve os seus valores reduzi- ) -1 Índice de polifenóis totais (mg EagL totais Índice de polifenóis

Figura 3. Índice de polifenóis totais (mgEAGL-1) (A) e intensidade de cor dos vinhos (B) submetidos ao processo de desalcoolização parcial através do método da liofilização. Figure 3. Index of total polyphenols (mgEAGL-1) (A) and color intensity of wines (B) submitted to the partial de-alcoholization process by the freeze-drying method

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.80-85, maio/ago. 2019 85 Tabela 1. Descritores sensoriais percentuais do vinhos submetido à desalcoolização parcial cionadas para a redução do teor alcoó- através do método da liofilização lico de vinhos. Table 1. Sensory descriptors of wines subjected to partial de-alcoholization by the freeze- drying method Conclusões Minutos Descritores 0 30 60 90 120 CV(%)1 A liofilização é um método eficien- Limpidez 100,0 100,0 92,0 92,0 92,0 4,6 te para a redução do teor alcoólico de vinhos tintos por possibilitar a extração Visual Aspecto 96,0 95,0 88,0 88,0 84,0 5,7 do etanol a uma taxa linear constante. Intensidade 85,0 71,9 62,5 62,5 62,5 13,3 Os compostos com menor volatilida- Nitidez 80,0 66,7 56,7 56,7 53,3 16,6 de como os polifenóis, os ácidos orgâ- nicos e os sólidos dissolvidos na matriz Qualidade 87,5 75,0 67,5 67,5 65,0 12,2 Olfativo complexa da mistura são preservados Intensidade 80,0 68,8 65,0 55,0 40,0 24,5 durante o processo, o que aumenta as Nitidez 76,7 62,5 53,3 53,3 46,7 18,8 suas concentrações relativas. Qualidade 78,2 69,3 56,4 56,4 53,6 15,4 Os componentes responsáveis pelas percepções sensoriais têm um decrés- Gustativo Persistência 85,0 68,8 65,0 65,0 62,5 12,5 cimo proporcional ao tempo de exposi- Global 87,3 81,8 70,9 70,9 67,3 10,5 ção ao método, tornando-o inapropria- (1) Coeficiente de variação(%) do para grandes reduções nos teores alcoólicos dos vinhos. dos ao longo do processo, considerando postos mais importantes do aroma da Referências: o valor do seu CV%, que chegou 13,3%. uva e responsáveis por diversas notas AMERINE, M. A.; OUGH, C. S. Wine and must Paradoxalmente, os valores da inten- aromáticas nos vinhos. Considerando a analysis. New York: Willey, 1988. sidade visual obtidos nas degustações natureza volátil desses álcoois monoter- e os lidos através da espectrofotome- pênicos, é possível inferir que uma par- BANVOLGYI, S.; KISS, I.; BEKASSY-MOLNAR, tria são divergentes. Embora as causas te importante destes compostos, inicial- E.; VATAI, G. Concentration of red wine by desta diferença não estejam completa- mente presentes nas amostras, sofrem nanofiltration. Desalination, Amsterdam, v. mente elucidadas, é preciso considerar uma redução quantitativa através do 198, n. 1-3, p. 8-15, jan. 2006. a natureza das análises. Se por um lado mesmo fluxo que foi capaz de volatilizar BELISARIO-SANCHEZ, Y. Y.; TABOADA-RODRÍ- as leituras obtidas eletronicamente in- os demais álcoois. GUEZ, A; MARIN-INIESTA, F.; LÓPEZ-GÓMEZ, formam as variações de cor em três fre- As características gustativas tam- A. Dealcoholized wines by spinning cone co- quências restritas: amarelo, vermelho bém sofreram modificações durante lumn distillation: Phenolic compounds and e azul-violeta, por outro, as sensoriais a exposição ao método, o que pode antioxidant activity measured by the 1,1-di- informam as características globais do ser explicado pela gradativa redução phenyl-2-picrylhydrazyl method. Journal of vinho, considerando todo o espectro dos componentes voláteis do vinho, já Agricultural and Food Chemistry, Washing- visível através do olho humano, porém que estas substâncias desempenham ton, DC, v. 57, n. 15, p.6770-6778, jul. 2009. com critérios subjetivos e sujeitos a in- papeis importantes na percepção gus- BENASSI, M.T. Metodologia analítica para terferências não matemáticas. Quanto tativa para muito além dos descritores avaliação de parâmetros físico-químicos e às características olfativas, ficou eviden- básicos, como doçura, amargor, acidez, sensoriais de qualidade em vinhos Riesling ciado que os aromas são influenciados adstringência e salinidade. As maiores Itálico nacionais. 1997. 164f. Tese (Doutora- pela liofilização de forma que, quanto variabilidades foram observadas nos do em Engenharia de Alimentos) – Univer- maior o tempo de exposição ao méto- descritores responsáveis pela nitidez sidade Estadual de Campinas, Campinas, do, menores são as suas percepções. (CV 18,8%) e pela qualidade (CV 15,4%) 1997. As maiores variações foram verificadas (Tabela 1). Diversos autores obtiveram no descritor olfativo responsável pela resultados semelhantes (DIBAN et al., BOSS, E.A. Modelagem e otimização do pro- intensidade (CV 24,5%) (Tabela 1). Essa 2013; LIGUORI et al., 2010; LIGUORI et cesso de liofilização: aplicação para leite redução se deve, provavelmente, à na- al., 2013; MANGINDAAN et al., 2018), desnatado e café solúvel. 2007. 87f. Tese (Doutorado em Engenharia Química) – Uni- tureza volátil dos compostos químicos evidenciando que a preservação dos versidade Estadual de Campinas, Campinas, responsáveis pelos aromas da bebida. componentes aromáticos e gustativos 2007. De acordo com Vilanova et al. (2013) representa um grande desafio para o os álcoois monoterpênicos são os com- desenvolvimento de tecnologias dire- BRUWER, J.; SALIBA, A. J.; MILLER, B. Con-

86 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.80-85, maio/ago. 2019 sumer behaviour and sensory preference efeito do nível de desalcoolização. 2011. ROLLE, L.; ENGLEZOS, V.; TORCHIO, F.; CRA- differences: implications for wine product 93f. Dissertação (Mestrado em Viticultura VERO, F.; RÍO SEGADE, S.; RANTSIOU, K.; marketing. Journal of Consumer Marketing, e Enologia) – Instituto Superior de Agrono- GIACOSA, S.; GAMBUTI, A.; GERBI, V.; COCO- Bingley, v. 28, n. 1, p. 5-18, 2011. mia, Universidade Técnica de Lisboa, Lisboa, LIN, L. Alcohol reduction in red wines by te- 2011. chnological and microbiological approaches: BRUWER, J.; LESSCHAEVE, I.; CAMPBELL, a comparative study. Australian Journal of B. L. Consumption dynamics and demogra- LIGUORI, L.; ATTANASIO, G.; ALBANESE, D.; Grape and Wine Research, Hoboken, v. 24, phics of Canadian wine consumers: retai- DI MATTEO, M. Aglianico wine dealcoholiza- ling insights from the tasting room channel. tion tests. 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M.; URTIAGA, A.; ORTIZ, I. Membrane deal- MANGINDAAN D.; KHOIRUDDINB, K.; WEN- 2004. 120f. Tese (Doutorado em Processos TENB, I.G. Beverage dealcoholization pro- coholization of different wine varieties redu- Biotecnológicos Industriais) – Departamen- cesses: past, present, and future. Trends in cing aroma losses. Modeling and experimen- to de Engenharia Química – Universidade Food Science & Technology, Amsterdam, v. tal validation. Innovative Food Science and Federal do Paraná, Curitiba, 2004. Emerging Technologies, Amsterdam, v. 20, 71, p. 36-45, 2018. p. 259-268, mai. 2013. SINGLETON, V.L.; ROSSI, J.A. Colorimetry MARQUES, E.C.; COSTA, S.R.R. Estudo da of total phenolics with phosphomolybdic- GABAS, N.; RATSIMBA, B.; GERBAUD, V. Les liofilização pela engenharia de produto no phosphotungstic acid reagents. American sels tartriques dans les vins: solubilité et sur- processamento industrial de alimentos. Acta Journal of Enology and Viticulture, Davis, v. saturation. 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Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.80-85, maio/ago. 2019 87 ARTIGO CIENTÍFICO

Emissão de CO2 do solo pela aplicação de fertilizantes orgânicos e minerais em ambiente controlado Augusto Friederichs1, Walter Santos Borges Júnior2, Diego Fernando Roters3 e Álvaro Luiz Mafra4

Resumo – A atividade suinícola tem grande importância no Brasil e, por isso, busca-se a utilização adequada do dejeto líquido de suíno (DLS) em áreas agrícolas. O objetivo deste trabalho foi avaliar os efeitos da aplicação de DLS e ureia, tratados ou não com inibidor de nitrificação (DCD), e o modo de distribuição dos fertilizantes na presença e ausência de resíduos culturais sobre as emissões de CO2 em ambiente controlado. O solo utilizado para a condução do trabalho foi um Cambissolo Húmico, para avaliar as emissões diárias e acumuladas de CO2. As emissões diárias de CO2 aumentaram com a utilização de DLS. Não houve efeito relacionado ao modo de aplicação dos fertilizantes. A utilização de palhada aumentou as emissões de CO2. As emissões acumuladas de CO2 foram maiores nos tratamentos com a utilização de palha combinada ao uso de DLS.

Termos para indexação: adubação; esterco; matéria orgânica.

CO2 emission from soil under application of organic and mineral fertilizers under controlled conditions

Abstract – Swine production is fundamental in Brazil and it seeks suitable use for swine slurry (SS) in agricultural areas. The objective of this study was to evaluate the effects of SS and urea application, treated or not with nitrification inhibitor (DCD) and the way of fertilizer distribution, associated or not with crop residues, on CO2 emissions in a controlled environment.

The soil used in this study was a Humic Dystrudept soil and daily and accumulated CO2 emissions were measured. Daily CO2 emissions increased with SS use. There was no difference considering the way the fertilizers were applied. The use of straw increased CO2 emissions. Accumulated CO2 emissions were higher under use of straw associated with SS.

Index terms: fertilization; manure; organic matter.

Introdução favorece o acúmulo de nutrientes na nitrificação como dicianodiamida camada superficial do solo (VEIGA et al., (DCD) é outra estratégia que pode ser 2012), mas pode potencializar perdas A atividade suinícola está em utilizada visando maior aproveitamento de nutrientes e efeitos negativos na expansão, com previsão de crescimento do nitrogênio proveniente do dejeto. qualidade da água e do ar. de 31,7% na produção de carne suína Este inibidor retarda a reação do A injeção de dejeto no solo permite até o ano de 2024 (MAPA, 2014). amônio para nitrito, consequentemente maior contato com as partículas deste, Entretanto, a produção de suínos gera há maior estabilização do amônio, promovendo retenção de amônio expressivo volume de dejetos com alto afetando sua disponibilidade para as (NH +) (DELL et al., 2011). A injeção potencial poluente, concentrando-se 4 plantas, com possíveis efeitos sobre a de DLS no solo facilita ou possibilita a em poucas regiões, onde há excedentes disponibilização de carbono para sua atividade biológica do solo (GONZATTO do resíduo em relação às necessidades metabolização, e consequentemente et al., 2016a). nutricionais das plantas e à capacidade aumenta a atividade microbiana e A incorporação de materiais de suporte dos solos. A forma usual da estimula a respiração microbiana orgânicos ao solo pode afetar a aplicação do dejeto líquido de suínos (WEBB et al., 2010). Giacomini et al. atividade microbiana e a disponibilidade (DLS) é sua distribuição superficial (2008) encontraram maiores emissões de nutrientes, em especial o nitrogênio. em solos agrícolas, a qual apresenta -1 Além disso, materiais com alta de CO2 (3.750Kg ha ) quando o DLS foi menor custo operacional e se adequa injetado no solo e menores (2.750Kg ha-1) concentração de carbono e pobres em ao sistema de plantio direto. Essa quando aplicado em superfície. nitrogênio, com alta relação C/N, têm aplicação sobre os resíduos das culturas A utilização de inibidores de lenta decomposição e podem induzir

Recebido em 30/7/2018. Aceito para publicação em 6/3/2019. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.13 ¹Engenheiro-agrônomo, M.sc., Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) / Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), Avenida Luís de Camões, 2090, 88520-000, Lages – SC e-mail: [email protected] ²Graduando em Agronomia, bolsista de iniciação científica (CNPq), Udesc /CAV, e-mail: [email protected] ³ Engenheiro-agrônomo, doutorando em Ciência do Solo, Udesc/CAV, e-mail: [email protected] 4 Engenheiro-agrônomo, Prof. dr., Udesc/CAV, e-mail: [email protected].

88 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.86-91, maio/ago. 2019 deficiência de nitrogênio às plantas 455g kg-1; matéria orgânica: 46g kg-1. O plásticos hermeticamente fechados (GIACOMINI et al., 2013). material foi coletado de 0-15cm com um com tampa de rosca. No interior dos A eficácia do DLS em relação à cilindro de PVC com 7,5cm de diâmetro potes havia um tubo falcon com solução alteração da matéria orgânica (MO) é e em seguida coberto com papel- de NaOH para realizar a captura do variável. Alguns autores afirmam que alumínio para manter a integridade do CO2 emitido, conforme metodologia a aplicação de DLS aumenta os teores solo. proposta por Stotzky (1965). Os de carbono orgânico do solo (STEINER, Os tratamentos que receberam recipientes eram completamente

2011), através do efeito direto da aplicação superficial de fertilizantes vedados. Para capturar o CO2 do adubação orgânica ou do efeito indireto tiveram a sua aplicação realizada sobre ambiente, oito potes foram utilizados no desenvolvimento das culturas neste a superfície do solo nos anéis. Nos como controle, contendo apenas o tubo sistema, que por sua vez adiciona mais tratamentos em que houve injeção falcon como solução de NaOH 0,5mol L-1, resíduos vegetais ao solo (LOSS et al., dos fertilizantes, houve corte vertical e solução de HCl 0,5mol L-1 padronizada 2009). do solo na parte central do cilindro, e com a utilização de fenolftaleína (2 O objetivo deste trabalho foi com aplicação no interior do solo, com gotas). avaliar os efeitos da aplicação de auxílio de um sulco formado com uma Para o cálculo do CO2 evoluído, foi

DLS e ureia, tratados ou não com haste de alumínio, como forma de utilizado a seguinte fórmula: CO2 = inibidor de nitrificação (DCD), e o simular o efeito da máquina de injeção (B-V)*M*6*(V1/V2), onde, B é o volume modo de distribuição dos fertilizantes utilizada no campo. de HCl na prova em branco; V é o volume na presença e ausência de resíduos O dejeto utilizado para a aplicação de HCl na amostra; M é a molaridade culturais sobre as emissões de CO2 em foi proveniente de uma granja de real do ácido; 6 é a massa atômica da ambiente controlado. terminação de suínos. O teor de matéria reação do CO2, V1 é o volume total de

seca do DLS era 12,4%, o teor de CO2 gasto na amostra para capturar o -3 Material e métodos nitrogênio era 2,9kg m e apresentava CO2; V2 é o volume gasto na titulação. 40,6% de carbono (base seca). A dose de As coletas foram realizadas Os tratamentos consistiram de um dejeto líquido de suíno foi baseada na diariamente nos primeiros dez dias, fatorial 2x2x5, com quatro repetições. O recomendação da CQFS-RS/SC (2004), após 24h da incubação. A partir do primeiro fator foi a utilização e ausência estabelecida como 160kg de N ha-1, décimo dia as coletas foram realizadas de palha, o segundo fator foi a forma de com eficiência de 80% do nitrogênio a cada 48h. Ao total foram procedidas aplicação dos fertilizantes, com injeção do DLS, o que totalizou 69m³ ha-1. A 25 coletas, momento em que as ou aplicação superficial. O terceiro dose de ureia foi equivalente ao total emissões se compararam com as fator foi o tipo de fertilizante utilizado: de N adicionado na forma de DLS. Os testemunhas. Durante as coletas, os DLS, DLS+DCD, ureia, ureia+DCD e teores de superfosfato triplo e cloreto potes permaneciam abertos por 15min tratamento controle sem fertilizantes. de potássio aplicados aos tratamentos para permitir reoxigenação do solo. O experimento foi conduzido em com ureia, foram equivalentes aos A solução de NaOH dos tubos falcon câmara de incubação do tipo BOD respectivos teores de P e K adicionados era aspirada e acomodada em copos (Demanda Bioquímica de Oxigênio), pelo DLS. A dose de inibidor foi de contendo cloreto de bário (BaCl), que com temperatura de 25°C e umidade de 10kg ha-1, sendo homogeneizado aos visa paralisar a reação de alcalinização

50%, constantes durante todo o período fertilizantes. do CO2 atmosférico. Na sequência cada de condução, sem fotoperíodo. A palhada aplicada aos tratamentos amostra era titulada para quantificar os

Como unidade experimental, foram consistiu de plantas inteiras de milho, teores de CO2 emitidos no período de utilizados cilindros de solo indeformado que foram moídas e peneiradas em coleta. coletados de campo em um Cambissolo malha de 3mm. Utilizou-se a quantidade Os resultados foram testados pela Húmico Alumínico (EMBRAPA, 2013), correspondente a 10Mg ha-1 de massa análise de variância, comparando-se em local que não ocorreu aplicação seca de palha, que foi espalhada sobre a os fatores principais e suas interações. de fertilizantes orgânicos e minerais. superfície das amostras nos anéis. Para comparação de médias utilizou-se Nele apenas foi realizada a calagem A umidade inicial do solo foi o teste de Tukey a 5% de significância. do solo três anos antes da coleta do padronizada, todos os anéis receberam Utilizou-se o programa SAS® para solo do experimento. O solo coletado 25mL de água. Cada cilindro foi pesado realizar as análises estatísticas. apresentou as seguintes características e a massa de solo seco foi determinada químicas e físicas na camada de 0-20cm: para expressar as emissões de CO2 com Resultados e discussão -1 pH (H2O): 5,4; SMP: 5,9; Al: 5,1cmolc kg ; base na mesma massa de solo. Após a -1 -1 Ca: 5,6cmolc kg ; Mg: 1,9cmolc kg ; aplicação dos tratamentos, os cilindros As emissões de CO2 tiveram efeito P: 3,1mg dm-3; K: 92mg dm-3; argila: foram acomodados dentro de potes de acordo com o tipo de fertilizantes

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.86-91, maio/ago. 2019 89 (Figura 1) e da adição de palha sobre o solo (Figura 2), mas não houve interação entre fatores. A forma de aplicação não influenciou a respiração microbiana. Da mesma forma, Giacomini et al. (2008) também não encontraram diferenças na decomposição de resíduos orgânicos adicionados na superfície ou incorporados ao solo, sendo uma possível explicação para isso que a quantidade de N presente na palha é suficiente para manter a demanda de N aos microrganismos. Na primeira coleta, 24 horas após a incubação, as maiores emissões ocorreram no tratamento DLS+DCD, diferindo dos tratamentos com ureia. O DLS foi semelhante à ureia, no entanto, ambos fertilizantes diferiram da testemunha (Figura 1). No quarto dia após a aplicação, Figura 1. Efeito simples dos diferentes tipos de fertilizantes aplicados ao solo sobre as houve as maiores emissões em todos emissões de CO2. Barras indicam a diferença mínima significativa pelo teste de Tukey para os tratamentos, fato que pode ser p<0,05. TESTE: tratamento testemunha; DLS: dejeto líquido de suíno; DLS+DCD: dejeto líquido de suíno com adição de DCD; Ureia: ureia; Ureia+DCD: ureia com adição de DCD associado à reposição de água ao solo, Figure 1. Simple effect of different types of fertilizers applied to the soil on CO2 emissions. o que estimulou a multiplicação dos Bars indicate the least significant difference by the Tukey test for p <0.05. TEST: control organismos (PAMPILLÓN-GONZÁLEZ treatment; SS: swine slurry; SS + DCD: swine slurry with addition of DCD; Urea: urea; Urea + et al., 2017). Nesta coleta, as maiores DCD: urea with DCD addition emissões ocorreram com a adição de DLS. Parte das emissões iniciais de

CO2 relacionadas com a adição de DLS ao solo ocorrem devido à atividade microbiana dos organismos presentes no próprio dejeto. Odlare et al. (2012) relatam que a ocorrência de picos de emissões iniciais pode ser relacionada aos constituintes de fácil decomposição presentes nos dejetos. A adição de fertilizantes orgânicos é considerada fonte de energia para os microrganismos do solo (SÁ et al., 2014). Nesse caso, a adição de DLS aumentou as emissões de CO2 em relação à ureia até o 19º dia após a incubação e também foi superior ao tratamento- controle até o 29º dia (Figura 1). Os dejetos de animais, por conterem nitrogênio prontamente disponível e serem fonte de carbono, estimulam o crescimento microbiano, ocasionando Figura 2. Efeito da adição de palha em superfície sobre as emissões de CO2 do solo. *: maior liberação de CO . A aplicação Diferença significativa para p<0,05; ns: não significativo p>0,05, para o teste de Tukey; Com 2 Palha: tratamentos com adição de palha; Sem Palha: tratamentos sem adição de palha de N na forma de ureia não diferiu da Figure 2. Effect of surface straw addition on soil 2CO emissions. *: Significant difference for testemunha na emissão de CO2. p<0.05; ns: not significant p>0.05, for the Tukey test; With Straw: treatments with straw Pode se verificar que no decorrer do addition; No Straw: treatments without straw

90 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.86-91, maio/ago. 2019 período de incubação houve diminuição Maris et al. (2016) também observaram CO2. Uma possível explicação é proposta das emissões diárias de CO2, igualando estímulo à população microbiana pela por Giacomini et al. (2008), que os tratamentos com a testemunha a variação nos teores de água no solo. A atribuem a semelhança nas emissões de partir do 29º dia (Figura 1). Fato também adição de palha representa aporte de CO2 à baixa relação C/N da palha. Assim, observado por Pampillón-González et al. energia e nutrientes, o que estimula a a quantidade de nitrogênio fornecida (2017), que 28 dias após a aplicação dos população microbiana e aumenta sua pela palha não seria suficiente para tratamentos observaram estabilização atividade metabólica, ocasionando aumentar a atividade microbiana. das emissões de CO2. maior emissão de CO2. Além disso, a Contraditoriamente aos resultados O aproveitamento de compostos presença da palhada sobre a superfície citados anteriormente, Grave et al. orgânicos de fácil decomposição de solo exerce papel importante sobre o (2015) encontraram maiores emissões como substrato para o crescimento condicionamento do microclima no solo, de CO2 quando resíduos orgânicos foram microbiano no solo é responsável por com preservação da umidade no solo incorporados ao solo. No entanto, esses resultados foram apenas 9% superiores boa parte das emissões de CO2 na fase e manutenção da atividade biológica inicial após a aplicação, considerando mais ativa. Solos que permanecem aos tratamentos com disposição dos que estas emissões provêm do material por um período maior com cobertura resíduos orgânicos na superfície do solo. orgânico aplicado, sendo maior nos vegetal, especialmente em sistemas de Gonzatto et al. (2016b) atribuem os primeiros 15 dias, com posterior plantio direto, podem apresentar maior efeitos da aplicação de DLS incorporado redução, segundo Maris et al. (2016). atividade microbiana. ao solo e às condições ambientais, temperaturas de solo e umidade, não Isso pode ser explicado pela fração A emissão acumulada de CO2 mais solúvel e disponível de carbono mostrou interação dos fatores tipo de podendo generalizar os resultados. ser utilizada primeiro e, após alguns fertilizantes e palha, mas não houve A emissão acumulada de CO2 com dias, restar a fração menos acessível efeito relacionado ao modo de aplicação uso de ureia aliada ou não ao uso de aos microrganismos, que diminuem seu dos fertilizantes (Figura 3). Maris et DCD foi semelhante à testemunha, ritmo de atividade. al. (2016) verificaram que a injeção de independentemente do uso de palha Aita et al. (2006) verificaram que a fertilizantes orgânicos até 10cm não é (Figura 3). Os tratamentos com uso DLS foram os que mais emitiram CO e não velocidade de liberação de CO2 a partir suficiente para mitigar as emissões de 2 da aplicação de dejetos suínos é alta nos primeiros dias de incubação e diminui no decorrer dos dias. Adicionalmente, mostraram que a utilização de DLS não alterou a velocidade de mineralização de palhada. Este fato corrobora os resultados encontrados neste trabalho, onde não houve interação entre a aplicação de DLS e o uso de palha para emissões diárias, apenas resultando no efeito simples de cada fator. Vale destacar que a decomposição da palhada de milho, por apresentar uma relação C/N alta, é maior por causa da influência do N aplicado e do contato dos resíduos culturais com o solo, regulando, assim, a disponibilidade de N para os microrganismos que atuam Figura 3. Efeito de interação entre a forma de aplicação e tipo de fertilizante nas emissões acumuladas de CO . Barras indicam diferença mínima significativa (p<0,05) para o teste de na decomposição (GIACOMINI et al., 2 Tukey; C-: no início do nome do tratamento: adição de palha; Letra S- no início do nome 2008). do tratamento: sem adição de palha; TEST: testemunha; DLS: dejeto líquido de suíno; A utilização de palha aumentou DLS+DCD: dejeto líquido de suíno com adição de DCD; Ureia: ureia; Ureia+DCD: ureia com adição de DCD a emissão de CO2, se comparada à ausência de palha, exceto na primeira Figure 3. Effect of interaction between the form of application and type of fertilizer on the accumulated CO emissions. Bars indicate a significant minimum difference (p <0.05) for the coleta (Figura 2). Houve um pico de 2 Tukey test; Letter C- at the beginning of the treatment name indicates addition of straw; emissão diária no 4º dia de coleta, o Letter S- at the beginning of the treatment name indicates no straw added; TEST: Witness; que pode ser resultado do estímulo SS: swine slurry; SS + DCD: swine slurry with addition of DCD; Urea: urea; Urea + DCD: urea provocado pela adição de água ao solo. with DCD addition

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.86-91, maio/ago. 2019 91 houve efeito do uso de DCD. As maiores emissões acumuladas de CO2 ocorreram no tratamento de DLS+DCD com palha, sendo semelhante ao DLS. Gonzatto et al. (2016a) justificam que a DCD inibe temporariamente a nitrificação, restando dessa maneira o nitrogênio amoniacal por mais tempo no solo. Essa maior permanência do N no solo possibilita maior oportunidade de utilização dele pelos microrganismos, os quais consequentemente emitem mais CO2. Já na segunda coleta os tratamentos com DLS emitiram 493mg kg-1 de

CO2. As testemunhas por sua vez emitiram 203mg -1 kg . Este fator pode ser associado à baixa relação C/N e à maior quantidade de carbono lábil do DLS, o que permite melhor acesso para os microrganismos do solo (ANGNES et Figura 4. Efeito da adição de palha em superfície sobre as emissões acumuladas de CO2 do al., 2013). Este fator pode ser desejado solo. Diferença estatística para todas as coletas segundo teste de Tukey para p<0,05; Com Palha: tratamentos com adição de palha; Sem Palha: tratamentos sem adição de palha. quando se procura mineralização mais Figure 4. Effect of surface straw addition on accumulated CO2 emissions from soil. rápida dos nutrientes da palhada, Statistical difference for all samples according to Tukey test for p <0.05; With Straw: para aproveitamento pelo cultivo treatments with straw addition; No Straw: treatments without straw subsequente. Grave et al. (2015) verificaram maiores emissões de CO2 nos da adição da palha a partir do 7º dia Decomposição de palha de aveia preta tratamentos com adição de DLS. A de incubação houve maior emissão e dejetos de suínos em solo sob plantio adição de DLS ao solo nos tratamentos acumulada em relação aos tratamentos direto. Revista Brasileira de Ciência do em que houve adição de palha, seja sem palha. Na média dos tratamentos Solo, Lavras, v.30, n.1, p.149-161, 2006. superficial ou incorporada, promoveu com palha aumentou em 44% a Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/ maiores emissões de CO (Figura 3), fato S0100-06832006000100015. Acesso em: 3 2 emissão de CO2 em comparação com os também observado por Aita et al. (2012) tratamentos sem palha (Figura 4). nov. 2017. ao avaliarem o impacto da dinâmica de C e N na aplicação de dejeto líquido Conclusões AITA, C.; RECOUS, S.; CARGNIN, R. H. O.; LUZ, suíno em condições controladas. L. P.; GIACOMINI, S. J. Impact on C and N dynamics of simultaneous application of pig Ao final do experimento, os A aplicação de DLS aumentou as slurry and wheat straw, as affected by their tratamentos com adição de ureia, com emissões de CO em relação à ureia, 2 initial locations in soil. Biology and Fertility ou sem uso de DCD, emitiram maiores mas não houve diferença relacionada of Soils, Florença, v.48, n.6, p.633-642, 2012. quantidades de CO nos tratamentos ao modo de aplicação dos fertilizantes. 2 Disponível em: https://doi.org/10.1007/ com palha do que nos sem palha. A utilização de palhada aumentou s00374-011-0658-x. Acesso em: 5 nov. 2017. Esse fato ocorre principalmente na as emissões de CO2 em relação ao decomposição de resíduos de cereais, tratamento sem palha. ANGNES, G.; NICOLOSO, R. S.; SILVA, M. L. que apresentam relação C/N alta. A adição de DCD no DLS aumentou B.; OLIVEIRA, P. A. V.; HIGARASHI, M. M.;

Assim, a necessidade de nitrogênio as emissões de CO2, no entanto, quando MEZZARI, M. P.; MILLER, P. R. M. Correlating para os organismos decompositores utilizado com a ureia não houve efeito. denitrifying catabolic genes with N2O and

é mais alta, e a adição de nitrogênio N2 emissions from swine slurry composting. ao solo favorece essa atividade, Referências Bioresource Technology, Lucknow, v.140, emitindo consequentemente maiores p.368-375, 2013. Disponível em: https://doi. org/10.1016/j.biortech.2013.04.112. Acesso quantidades de CO2. AITA, C.; CHIAPINOTTO, I. C.; GIACOMINI, Analisando isoladamente o efeito S. J.; HÜBNER, A. P.; MARQUES, M. G. em: 3 nov. 2017.

92 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.86-91, maio/ago. 2019 SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIÊNCIA DO M.; FRITZ, D. D. Short-term carbon dioxide SÁ, M. F.; AITA, C.; DONEDA, A.; PUJOL, SOLO. Manual de adubação e calagem para emissions under contrasting soil disturbance S. B.; CANTÚ, R. R.; JACQUES, I. V. C.; os estados do Rio Grande do Sul e de Santa level sand organic amendments. Soil and BASTIANI, G. G.; OLIVEIRA, P. D.; LOPES, P. Catarina. 10. ed. Porto Alegre: SBCS/Núcleo Tillage Research, Amsterdam, v.146, p.184- D. Dinâmica da população de coliformes Regional Sul; Comissão de Fertilidade do 192, 2015. Disponível em: https://doi. durante a compostagem automatizada Solo RS/SC, 2004. 400p. org/10.1016/j.still.2014.10.010. Acesso em: de dejetos líquidos de suínos. Arquivo 15 nov. 2017. Brasileiro de Medicina Veterinária e DELL, C. J.; MEISINGER, J. J.; BEEGLE, D. B. 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Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.86-91, maio/ago. 2019 93 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Criopreservação: uma ferramenta para conservação de recursos genéticos de videira Jean Carlos Bettoni¹

Resumo – A conservação de recursos genéticos vegetais é fundamental para o desenvolvimento da agricultura. O desenvolvimento de protocolos eficientes de criopreservação tornou-se uma ferramenta eficaz para conservar espécies vegetais propagadas vegetativamente. Tradicionalmente, os recursos genéticos de videiras têm sido mantidos principalmente em coleções no campo. Como coleções no campo, os acessos de Vitis são vulneráveis a estresses abióticos e ameaças bióticas, como patógenos e pragas. Assim, quando métodos robustos de criopreservação estão disponíveis, há uma oportunidade para preservar coleções por longos períodos de tempo, com segurança e com baixo custo de manutenção. Vários métodos têm sido descritos para Vitis e, até agora, a vitrificação em gotas tem sido o mais efetivo para várias espécies de videira e parece ser um método promissor para superar as respostas específicas de genótipos/espécies para um determinado protocolo que tem sido o gargalo para o uso generalizado da criopreservação de Vitis. Esse artigo de revisão apresenta informações atualizadas e relevantes sobre o uso da criopreservação como ferramenta complementar para a conservação de recursos genéticos de videira.

Termos para indexação: Vitis; banco de germoplasma; cultura in vitro; armazenamento a longo prazo.

Cryopreservation: a tool for conservation of grapevine genetic resources

Abstract – Plant genetic resources conservation is essential for the development of agriculture. The development of efficient cryopreservation protocols has become an effective tool to conserve vegetatively propagated plant species. Traditionally, genetic resources have been maintained primarily in field collections. As field collections, Vitis accessions are vulnerable to abiotic stresses and biotic threats, such as pathogens and pests. Thus, the availability of robust cryopreservation methods is an opportunity to preserve collections for long periods, safely and with low maintenance costs. Several cryopreservation methods have been described for grapevines and, so far, droplet-vitrification has been the most effective for multiple Vitis species. This method seems to be promising to overcome species- and genotype-specific responses to a determined protocol, factors that have been bottlenecks for the widespread use of Vitis cryopreservation. This review article presents updated and relevant information on the use of cryopreservation as a complementary tool for the conservation of Vitis genetic resources.

Index terms: Vitis; germplasm bank; in vitro culture; long-term storage.

Introdução to, outras espécies de Vitis, tais como Bancos de germoplasma (BAGs) V. labrusca, V. berlandieri, V. riparia, de videira no Brasil A cadeia produtiva da videira possui V. rupestris, e Muscadinia rotundifolia inserção destacada no cenário mundial (gênero Muscadinia) são importantes Atualmente, o Brasil mantém a da fruticultura e a planta está entre as para programas de melhoramento ge- maior coleção de germoplasma de Vi- mais importantes fruteiras de clima nético focados no desenvolvimento de tis na América do Sul, com aproxima- temperado cultivadas e consumidas no novos cultivares e porta-enxertos tole- damente 1400 acessos, que incluem mundo. Em 2017, a área de cultivo foi rantes/resistentes a pragas e doenças cultivares, híbridos interespecíficos e de 7,53 milhões de hectares produzin- e adaptados a diversas condições am- espécies silvestres. O BAG de videira é do 73,3 milhões de toneladas de uvas bientais (CARIMI et al., 2016; SMITH et mantido no estado do Rio Grande do (OIV, 2018). Em todo o mundo, existem al., 2016). Para tanto, a manutenção e Sul, em Bento Gonçalves, na Empre- mais de 70 espécies dentro do gêne- o fácil acesso aos recursos genéticos de sa Brasileira de Pesquisa Agropecuária ro Vitis, com muitos dos cultivares co- videira são essenciais para futuros avan- (Embrapa) Uva e Vinho. A coleção inclui mercialmente importantes atribuídas a ços de programas de melhoramento (BI 655 acessos de V. vinifera, 64 acessos de Vitis vinifera (LI et al., 2017). No entan- et al., 2018a; BETTONI, 2018). V. labrusca e híbridos e 561 acessos de

Recebido em 5/12/2018. Aceito para publicação em 17/1/2019. http://dx.doi.org/10.22491/RAC.2019.v32n2.14 ¹ Engenheiro-agrônomo, Dr., Oak Ridge Institute for Science and Education/USDA-ARS-Plant Germplasm Preservation Research Unit, 1111 South Mason Street, 80521, Fort Collins, CO, e-mail: [email protected]

94 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.92-97, maio/ago. 2019 híbridos interespecíficos (MAIA et al., al., 2015). A manutenção de plantas no Como fonte de material biológico 2015). Na Região Nordeste do país, a campo é dispendiosa, requer extensiva para a criopreservação pode ser utiliza- Embrapa Semiárido mantém aproxima- área plantada, além da vulnerabilidade do qualquer tecido totipotente (REED, damente 267 acessos de videira conser- a estresses bióticos e abióticos (PATHI- 2017); porém, em procedimentos clo- vados, composto por 168 cultivares de RANA et al., 2016). A manutenção de nais de criopreservação, a integridade V. vinifera, 8 cultivares de V. labrusca, bancos in vitro requer frequentes ma- clonal é necessária. Dessa forma, teci- 73 híbridos interespecíficos, 8 espécies nuseios de culturas, o que resulta em dos organizados como meristemas ou silvestres americanas, além de 10 aces- uma elevação de custos, risco de per- gemas dormentes são preferíveis, prin- sos sem informação sobre origem (NU- da do acesso vegetal e principalmente cipalmente, quando o objetivo é manter NES et al., 2015). Outras coleções com apresenta potencial para gerar varia- as características da planta matriz (BI et menor número de acessos são mantidas ção somaclonal (MATHEW et al., 2018; al., 2017; WANG et al., 2014). por empresas de pesquisa nacional nos WANG et al., 2014). Neste sentido, ou- Atualmente, a criopreservação de estados de Santa Catarina (Empresa de tras estratégias de conservação ex situ rotina está disponível para várias espé- Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural para os recursos genéticos de plantas cies de plantas, e BAGs de plantas crio- de Santa Catarina [Epagri]), Minas Ge- devem ser consideradas que, além da preservadas têm sido implementados rais (Empresa de Pesquisa Agropecuária manutenção do material vegetal por em todo o mundo. Até o momento, exis- de Minas Gerais [Epamig]), São Paulo longos períodos de tempo, preservem a tem vários relatos na literatura sobre (Instituto Agronômico de Campinas estabilidade genética durante o armaze- protocolos de criopreservação em Vitis [IAC]) e Paraná (Instituto Agronômico namento. (BI et al., 2017). Os primeiros trabalhos do Paraná [Iapar]) (MAIA et al., 2015). da aplicação da criopreservação em ex- Criopreservação de videira plantes de videira foram na década de Estratégias complementares 1990, com a técnica de encapsulação- para a conservação de recursos A criopreservação de plantas, que desidratação e, nos anos seguintes, genéticos consiste no armazenamento de mate- outros trabalhos foram realizados com rial biológico a temperaturas ultrabai- a mesma técnica (PLESSIS et al., 1991, Para a conservação de recursos ge- xas em nitrogênio líquido (NL, -196°C) 1993; WANG et al., 2000; WANG et al., néticos vegetais existem dois métodos ou vapor de nitrogênio líquido (VNL, 2003a; BAYATI et al., 2011; MARKOVIĆ complementares de conservação, no- -160ºC para -196ºC), é um método et al., 2013). Outros protocolos ou meadas como conservação in situ e ex complementar para os tradicionais mé- técnicas também foram investigados: situ (DULLOO et al., 2010; BENELLI et al., todos de conservação de germoplasma vitrificação (MATSUMOTO & SAKAI, 2013; BETTONI, 2018). A conservação in a campo e in vitro, permitindo que re- 2003; WANG et al., 2003a; GANINO et situ consiste na manutenção do recurso cursos vegetais sejam preservados de al., 2012), encapsulamento-vitrificação vegetal no ambiente natural de origem, forma segura, em um espaço reduzido (BENELLI et al., 2003; GRIBAUDO et al., preservando a organização do ecossis- e com mínima manutenção (BETTONI, 2012) e, mais recentemente, vitrifica- tema. Por outro lado, a conservação ex 2018; ENGELMANN, 2011; BENSON, ção em gotas (MARKOVIĆ et al., 2013; situ é a manutenção do recurso genéti- 2008). Nas últimas décadas, estudos de PATHIRANA et al., 2016; BI et al., 2018a; co fora do ambiente natural e geralmen- criopreservação têm evoluído em vários VOLK et al., 2018; BETTONI et al., 2018a; te é utilizada para proteger coleções de gêneros de plantas e, atualmente, tem BETTONI et al., 2019a, 2019b) e V crio- plantas de uma potencial ameaça de sido considerado um método preferi- placa (BETTONI et al., 2019b). Informa- perda para futura utilização (BOROKINI, do para conservação a longo prazo de ções detalhadas sobre protocolos de 2013). material vegetal, principalmente pela criopreservação aplicados para videira Nas últimas décadas, esforços con- manutenção da integridade genética podem ser encontradas em artigos de sideráveis foram realizados em todo o de materiais criopreservados (BI et al., revisão publicados recentemente por mundo para implementação de BAGs 2017; REED, 2017). Marković et al. (2018), Bi et al. (2017) e com o objetivo principal de conservar Metodologias práticas e confiáveis Bettoni et al. (2016). recursos genéticos fundamentais para a de criopreservação que resultem em al- Apesar dos vários protocolos de segurança alimentar e tentar minimizar tos níveis de regeneração (≥40%) após criopreservação de videira disponíveis, os efeitos da antropização e da erosão a exposição ao NL, associadas ao fácil criobancos de Vitis spp. ainda não têm genética. Tradicionalmente, coleções acesso e transferência dessas tecnolo- sido implementados. Algumas publica- de plantas mantidas a campo, em casa gias entre laboratórios, é a chave para ções demonstram baixos níveis de rege- de vegetação e em cultura de tecidos o uso generalizado da criopreservação e neração após a exposição em NL (GANI- in vitro têm sido utilizadas para preser- o desenvolvimento de coleções de plan- NO et al., 2012; BENELLI et al., 2003) e, var germoplasma de videira (MAIA et tas criopreservadas (VOLK et al., 2016). em grande parte destas, os pesquisado-

Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.92-97, maio/ago. 2019 95 res se concentraram no desenvolvimen- to de procedimentos usando um núme- ro limitado de espécies (BI et al., 2017; BETTONI et al., 2016). Associado a tudo isso, está o principal fator que ainda li- mita a implementação de criobancos de videira: a especificidade de genótipos para um determinado protocolo (BI et al., 2017; PATHIRANA et al., 2016; BE- NELLI et al., 2013; BENSON, 2008). As- sim, pesquisas futuras devem focar no desenvolvimento de protocolos que sejam aplicáveis para várias espécies, visando facilitar a criação de criobancos de videira. Figura 1. Principais etapas no procedimento de vitrificação em gotas para criopreservação de explantes de Vitis spp. Barra de escala na etapa de pré-cultivo: 2 mm. Fonte: elaboração Ao longo dos anos, muitas técnicas do autor de criopreservação foram publicadas, Figure 1. Main steps in droplet-vitrification procedure for cryopreservation of Vitis spp. como relatado anteriormente; entre explants. Scale bar in the preculture step: 2 mm. Source: prepared by the author elas, até agora, a técnica de vitrificação em gotas mostrou-se a mais eficiente e é considerada promissora para superar osmoproteção (½ MS + 2M de glicerol (GVA) e Grapevine fanleaf virus (GFLV) as respostas específicas de espécies e + 0,4M de sacarose) por 20 minutos e têm sido eliminadas de videiras usando genótipos a um determinado protoco- meia força de solução vitrificação de técnicas de crioterapia (BI et al., 2018b; lo (VOLK et al., 2018; BI et al., 2018a). planta 2 (PVS2) (SAKAI et al., 1990) por PATHIRANA et al., 2015; MARKOVIĆ et o Recentemente, melhorias nos protoco- 30 minutos a 22 C, seguido de 90 minu- al., 2015; BAYATI et al., 2011; WANG et o los de vitrificação em gotas para a crio- tos de exposição ao PVS2 a 0 C e trans- al., 2003b). preservação de Vitis foram publicadas, ferência dos explantes para gotículas de e estas estão associadas à melhoria da solução de PVS2 sobre tiras de papel Fatores-chave que afetam a qualidade do explante (MARKOVIĆ et alumínio antes do tratamento em NL, eficiência de procedimentos de al., 2014), das condições de pré-trata- descongelamento em solução de lava- criopreservação mento, com a adição de antioxidantes e gem (½MS + 1,2M de sacarose) por 20 minutos a 22oC e cultivo dos explantes eliciadores de proteínas de defesa (PA- Nas últimas décadas, pesquisadores em meio de regeneração. As principais THIRANA et al., 2016; BI et al., 2018a; de todo o mundo buscam estratégias etapas da criopreservação de Vitis spp. VOLK et al., 2018; BETTONI et al., 2019a, para otimizar os métodos de criopreser- pela técnica de vitrificação em gotas são 2019b) e do meio de regeneração após vação. Dentre os fatores que são enten- a criopreservação (VOLK et al., 2018). apresentadas na Figura 1. didos como determinantes para o suces- Volk et al. (2018) relataram um método Foi comprovado que a criopreserva- so de um protocolo de criopreservação de vitrificação em gotas aplicado com ção poderá ir além da conservação de está a qualidade do material que será sucesso para nove espécies de videi- material biológico, já que tecidos in vitro submetido ao procedimento criogênico. ra com regeneração média de 35 ± 2% inicialmente infectados por vírus, quan- Assim, o estado fisiológico adequado é após a exposição dos meristemas ao do criopreservados, regeneram plantas um pré-requisito de plantas que serão NL. O método desenvolvido (usando sadias (BETTONI et al., 2019c; BI et al., doadoras de explantes (MARKOVIĆ et nove espécies de videira) inclui as eta- 2018b; BETTONI et al., 2018b; BETTONI al., 2014; ENGELMANN, 2011). pas de pré-tratamento de segmentos et al., 2016; PATHIRANA et al., 2015). Durante a criopreservação, os ex- nodais em meio basal MS (MURASHI- Assim surgiu a denominação criotera- plantes são submetidos a uma série de GE & SKOOG, 1962) contendo 0,2mg L-1 pia, que se refere ao breve tratamento etapas como excisão, lesão osmótica, de 6-Benzilaminopurina, 0,1mM de de explantes em NL para eliminar pató- dessecação e tratamento a ultrabaixa ácido salicílico, 1mM de glutationa re- genos de plantas, como vírus, fitoplas- temperatura. Esses procedimentos im- duzida e 1mM de ácido ascórbico por mas e bactérias (BETTONI & SOUZA, põem estresse ao material vegetal, de- duas semanas, seguido por pré-cultivo 2018). Até à data, cinco das principais vido à produção de espécies reativas de de explantes em meio basal MS suple- viroses da videira, incluindo Grapevine oxigênio que causam danos oxidativos mentado com 0,3M de sacarose por três leafroll associated virus-1 (GLRaV-1), e podem tornar o maquinário celular dias antes do tratamento em solução de GLRaV-2, GLRaV-3, Grapevine virus A inviável (MATHEW et al., 2018). Uma

96 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.92-97, maio/ago. 2019 abordagem recente que vem sendo es- ção, de modo que não ocorram danos estabelecidos. Assim, qualquer espécie tudada é adição de antioxidantes (ácido nos tecidos promovidos por uma retira- que possui um protocolo de cultura de salicílico, ácido ascórbico) em meios de da excessiva da água ou efeitos deleté- tecidos funcional pode ser passível de cultura onde são cultivadas as plantas rios causados pela formação de cristais criopreservação (ENGELMANN, 2011, doadoras de explantes (PATHIRANA et de gelo no interior da célula durante o 2014). al., 2016) e em meios de cultura duran- congelamento, que causam ruptura do te as etapas da criopreservação (VOLK sistema de membranas celulares e, as- Considerações finais e et al., 2018). O efeito positivo da adição sim, colapso e morte de células (MAT- perspectivas de agentes antioxidantes ou compostos SUMOTO, 2017) ou toxicidade causada pela exposição excessiva à soluções vi- antiestresse tem sido observado na me- Condições recentemente otimizadas trificantes (GANINO et al., 2012; SAKAI lhoria do crescimento e desenvolvimen- em protocolos de criopreservação de et al., 2000). to das plantas de videira após a exposi- videira relacionadas à melhoria no pré- Além do status fisiológico das plan- ção ao NL (VOLK et al., 2018; BETTONI tratamento e na qualidade de explantes tas doadoras de explantes, adição de et al., 2019a; PATHIRANA et al., 2016). e do meio de regeneração após a crio- antioxidantes e status hídrico do mate- Dessa forma, esses componentes possi- preservação, especificamente as rela- rial biológico, o funcionamento de pro- velmente estarão presentes em pesqui- cionadas com a técnica de vitrificação tocolos de criopreservação depende, sas futuras com criopreservação. em gotas, deverão superar os desafios O sucesso de protocolos de criopre- também, da definição de meio adequa- do de regeneração (BI et al., 2017; BET- atuais para a implementação de BAGs servação está ligado principalmente ao Vitis TONI et al., 2016). Torna-se imprescindí- de spp. criopreservadas. A disponi- status hídrico que o material biológico bilidade de métodos de criopreservação apresenta antes do tratamento em NL vel que, anterior à aplicação de técnicas de criopreservação, a rota de multipli- para Vitis spp. também pode facilitar o (BETTONI et al., 2016). Alguns materiais, cação do material esteja estabelecida, uso de técnicas de crioterapia para erra- como sementes ortodoxas, gemas dor- de modo que não ocorram problemas dicar viroses, os quais serão determina- mentes e pólen, passam por um proces- de regeneração resultantes da utiliza- dos por trabalhos futuros quanto à efe- so de desidratação natural no ambien- ção de um protocolo de regeneração tividade dessas técnicas na erradicação te, sendo passíveis de criopreservação inadequado. O uso de reguladores de de viroses que acometem a cultura da sem nenhum pré-tratamento, porém, crescimento em meios de regeneração, videira. a maioria dos materiais biológicos que mesmo quando utilizado em pequenas É importante destacar a necessidade são submetidos à criopreservação pos- concentrações, tem-se mostrado fun- de órgãos públicos ligados à fruticultu- suem alto conteúdo de água, o que os damental. A adição de citocininas em ra fomentarem pesquisas aplicadas em torna extremamente sensíveis ao con- combinação ou não com auxinas teve biotecnologias de criopreservação e gelamento (ENGELMANN, 2011). Neste efeito positivo no desenvolvimento de crioterapia, visando a manutenção de sentido, duas principais estratégias de explantes de várias espécies de plan- bancos de germoplasmas e a produção criopreservação para tecidos de plan- tas, dentre elas a videira (MARCOVIĆ de material propagativo de alta qualida- tas são comumente utilizadas: adição et al., 2014; WANG et al., 2003a). No de fitossanitária. de soluções vitrificantes, como PVS2 entanto, quando esses reguladores de (SAKAI et al., 1990), que fazem com crescimento são utilizados em concen- Agradecimentos que a água livre presente nos tecidos trações inadequadas podem estimular o sofra uma transição da fase líquida para desenvolvimento de calos (WANG et al., À Coordenação de Aperfeiçoamen- um estado vítreo, evitando a formação 2000). A capacidade de regeneração das to de Pessoal de Nível Superior (Capes) de cristais de gelo quando o material culturas por meio de crescimento direto pelas bolsas de doutorado no país e de é exposto ao NL (FAHY et al., 1984); e de estrutura diferenciada, sem o desen- doutorado sanduíche no exterior (PDSE) remoção de parte da água das células volvimento de calo, é fundamental para para realizar pesquisas com criopreser- por meio da desidratação de explantes evitar problemas de variação somaclo- vação de videira no USDA-ARS, Natio- encapsulados ao ar em câmara de fluxo nal, garantindo assim a fidelidade gené- nal Laboratory for Genetic Resources laminar ou em sílica gel (MARKOVIĆ et tica do clone, principalmente quando se Preservation (NLGRP) em Fort Collins, al., 2013). Ambas as abordagens têm o utilizam estruturas diferenciadas como Colorado, EUA. À Dra. Gayle Volk (NL- mesmo objetivo de reduzir ou impedir a fonte de explante (MATSUMOTO, 2017; GRP), Remi Bonnart (NLGRP), Ashley formação de cristais de gelo nos tecidos HARDING, 2004). Sendo assim, é evi- Shepherd (NLGRP), Juliana Aparecida (BETTONI et al., 2016; ENGELMANN, dente que ensaios de criopreservação Souza (Universidade do Estado de Santa 2014). Dessa forma, o maior desafio é bem-sucedidos são dependentes de Catarina [Udesc]) pelo apoio técnico nas encontrar um equilíbrio na desidrata- protocolos de cultura de tecidos bem pesquisas com criopreservação.

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Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, p.92-97, maio/ago. 2019 99 NORMAS PARA PUBLICAÇÃO Normas para publicação na revista Agropecuária Catarinense – RAC Os trabalhos devem ser submetidos pré-textuais: título, resumo (máximo documento” – ”Propriedades do à RAC pelo portal de publicações da de 15 linhas, incluindo termos para documento e informações pessoais”. Epagri (http://publicacoes.epagri.sc.gov. indexação), título em inglês, abstract Os nomes dos autores devem constar br) com espaçamento duplo, fonte e index terms, texto corrido e refe- nos metadados do artigo submetido Arial 12, margens de 2,5cm, folhas rências. A seção “Agradecimentos” é (plataforma de submissão), onde paginadas, alinhamento justificado e opcional. São permitidas no máximo devem aparecer as seguintes linhas numeradas. Serão aceitos para 10 referências. informações: formação profissional publicação textos ligados à agropecuária do autor e do(s) coautor(es), título e à pesca, seguindo as normas descritas: 5. A seção Germoplasma deve conter de graduação e pós-graduação título, resumo (máximo de 20 (especialização, mestrado ou 1. Trabalhos para as seções Artigo linhas, incluindo termos para doutorado), nome e endereço da Científico, Germoplasma, Nota indexação), título em inglês, abstract instituição em que trabalha, telefone Científica, Informativo Técnico e e index terms, introdução, origem para contato, endereço eletrônico. Revisão Bibliográfica devem ser (incluindo pedigree), descrição inéditos e vir acompanhados de carta (planta, brotação, floração, fruto, É altamente recomendável o máximo ou e-mail que afirme a exclusividade folha, sistema radicular, tabela com de três coautores por artigo. Depois de publicação pela RAC. É preciso dados comparativos), perspectivas de receber a aceitação do editor que o autor concorde em ceder os e problemas do novo cultivar ou da RAC, os autores deverão inserir direitos autorais do texto publicado. germoplasma, disponibilidade de os dados pessoais no manuscrito, material e referências. O limite é em sua versão final, e revisar os metadados da plataforma, que são 2. O Informativo Técnico refere-se à de 12 páginas para cada matéria, fundamentais para a indexação descrição de doenças, insetos-praga incluindo tabelas e figuras. correta do artigo. Alguns exemplos: etc. e a recomendações técnicas de 1 Engenheiro-agrônomo, Dr., Empresa de cunho prático, tendo como principal 6. A Revisão Bibliográfica apresenta o Pesquisa Agropecuária e Extensão estado da arte de tecnologias ou público extensionistas e técnicos em Rural de Santa Catarina (Epagri) / processos das ciências agrárias, geral. Extensão máxima: 8 páginas, Centro de Pesquisa para Agricultura trazendo não apenas uma análise contando figuras e tabelas. Elementos Familiar (Cepaf), C.P. 791, 89801-970 pré-textuais: resumo de até 15 linhas descritiva, mas também crítica, e com Chapecó, SC, fone: (49) 2049-7510, (incluindo termos para indexação), referências bibliográficas atualizadas. e-mail: [email protected]. título em inglês, abstract e index Os autores devem ter reconhecida 1 Médico-veterinário, Dr., Universidade terms. Estrutura: “Introdução”, qualificação e experiência na do Estado de Santa Catarina (Udesc) seções (conforme o conteúdo) e, para temática. Extensão máxima: 16 / Centro de Ciências Agroveterinárias finalizar a matéria, “Considerações páginas, incluindo tabelas e figuras. (CAV), av. Luís de Camões, 2090, finais” ou “Recomendações”. O item Elementos pré-textuais: título, Bairro Conta Dinheiro, 88520-000 “Agradecimentos” é opcional, e as resumo (máximo de 20 linhas, Lages, SC, fone: (49) 2101-22121, referências não devem ultrapassar o incluindo termos para indexação), e-mail: [email protected]. número de 10. título em inglês, abstract e index 1 Acadêmico do Curso de Agronomia, terms. Estrutura: “Introdução”, Universidade do Oeste de Santa 3. O ArtigoC ientífico deve ser conclusivo, “Desenvolvimento”, “Discussão”, Catarina (Unoesc), campus Xanxerê, oriundo de pesquisa conluída. “Conclusões” ou “Considerações e-mail: [email protected]. São obrigatórios, além do título, finais”, “Agradecimentos” (opcional) os seguintes elementos: resumo e “Referências”. Formato para mais de um autor por (máximo de 20 linhas, incluindo unidade de pesquisa, com mesma termos para indexação), título 7. Os termos para indexação (no mínimo titulação: em inglês, abstract e index terms. 3 e no máximo 5) não devem conter 1 Engenheiro-agrônomo, Dr., Empresa de Estrutura: “Introdução”, “Material e palavras já usadas no título. Pesquisa Agropecuária e Extensão métodos”, “Resultados e discussão”, Rural de Santa Catarina (Epagri) “Conclusão” e “Referências”. A 8. O título do trabalho deve ter no máximo /Centro de Socioeconomia e seção “Agradecimentos” é opcional. 15 palavras e ser representativo de Planejamento Agrícola (Cepa), rod. Tamanho máximo do artigo é de 15 seu conteúdo. Nomes científicos no Admar Gonzaga, 1486, Florianópolis, páginas, incluindo tabelas e figuras. título não devem conter o nome do SC, fone: (48) 36655078, e-mail: identificador da espécie. [email protected], 4. A Nota Científica refere-se a pesquisa [email protected]. inédita e recente, com resultados im- 9. A versão original do manuscrito portantes, porém com volume insu- submetida via plataforma não Em caso de autores da mesma institui- ficiente de informações para um ar- pode conter o nome nem os dados ção, já mencionada, não colocar o tigo científico. A nota pode também pessoais dos autores em rodapé. As nome da unidade de pesquisa por descrever uma doença ou inseto- informações dos autores também extenso, apenas a sigla. praga recém-descoberto. Extensão devem ser eliminadas do arquivo 2 Engenheiro-agrônomo, M.Sc., Epagri/ máxima: 8 páginas, incluindo tabelas Word (.doc), pela ferramenta Cepa, e-mail: endereco@epagri. e figuras (ver Item 11). Elementos do programa em “Inspecionar sc.gov.br

100 Agropecuária Catarinense, Florianópolis, v.32, n.2, maio/ago. 2019 GERMOPLASMA

Importante: os casos de colaboração, “A Lei dos Direitos Autorais (9.610/98), 14. Apenas trabalhos citados ao longo do apoio técnico ou financeiro são em seu artigo 7, diz que a fotografia texto devem constar das referências, inseridos no final do artigo e antes é obra intelectual protegida. E o de acordo com a ABNT NBR 6023 das referências, com o subtítulo artigo 29 aponta que sua reprodução e dispostas em ordem alfabética. “Agradecimentos”. depende de autorização prévia e Deve-se atentar aos seguintes expressa do autor. Assim, quem viola detalhes: 10. A autoria das citações deve ser esses dispositivos fere direitos de - Cerca de 70% das referências devem ter indicada por sobrenome e ano. Se personalidade assegurados no artigo sido publicadas nos últimos 10 anos; no texto, apenas a primeira letra 5º da Constituição, atraindo o dever - Todos os nomes dos autores devem ser maiúscula. Ex.: Segundo Garcia de indenizar na esfera cível.”[1] mencionados nas referências; (1998)...; Se entre parênteses, todas maiúsculas. Ex.:...(GARCIA, 1998). [1] Disponível em: . Acesso em: 8 out. apresentados em congressos. o primeiro seguido por “et al.”, sem 2018. itálico. Ex.:...(RUCKEBUSH et al., 15. Conflito de interesses – Como o 1991). 13. As matérias apresentadas para processo de revisão dos artigos pelos as seções Registro, Opinião e consultores ad hoc e do comitê é 11. Tabelas e figuras geradas no Word Conjuntura devem orientar-se pelas sigiloso, procura-se evitar conflitos não devem ser inseridas no corpo normas deste item. de interesses que possam influenciar do texto, mas ao final, em ordem - Opinião – dissertação em que se a elaboração ou avaliação de de apresentação e com as legendas. expressa a opinião do autor, e não manuscritos. No corpo do texto, apenas indica- necessariamente da revista, sobre se o seu local de inserção. Gráficos determinado assunto. O texto deve gerados no Excel devem ser enviados, ter até 5 páginas. 16. Plágio – A revista não admite, em com as respectivas planilhas, em - Conjuntura – matérias que enfocam nenhuma hipótese, plágio total ou “Arquivos Suplementares”. As fatos atuais, com base em análises parcial, nem mesmo autoplágio. A tabelas e as figuras devem ter técnicas, econômicas, sociais equipe editorial aplica, de forma título claro e autoexplicativo, em ou políticas, e cuja divulgação é aleatória e por amostragem, software português e inglês. O título da tabela oportuna. Não devem ter mais que detector de plágio nos manuscritos deve estar acima dela; e o título da 10 páginas. prontos para publicação. figura, abaixo. As tabelas devem ser abertas à esquerda e à direita, sem linhas verticais e horizontais, com Exemplo de formato de tabela: exceção daquelas para separação do cabeçalho e do fechamento. As abreviaturas devem ser explicadas Tabela 3. Rendimento de massa seca da pastagem anual de inverno por ocasião da dessecação ao aparecerem pela primeira vez. em função do sistema de produção do milho e da adubação com dejeto líquido de bovinos As chamadas devem ser feitas em e adubo solúvel (2012-2015) Table 3. Dry matter yield of the annual winter pasture (at the desiccation) as a function of the algarismos arábicos sobrescritos, maize production system or the liquid manure of bovines and soluble fertilizer (2012-2015) entre parênteses e em ordem crescente (ver modelo). Tratamento Anos 2012 2013 2014 2015 Média 12. As fotografias (figuras) devem estar ______-1 ______digitalizadas, em formato JPG ou TIFF, kg ha em arquivos separados do texto, com Sistema de produção do milho resolução mínima de 300dpi, 15cm Grãos 2.757 NS 3.509 b 2.965 NS 3.240 NS 3.118 de base, e submetidos na plataforma Silagem 2.900 4.250 a 2.680 3.610 3.360 como “Arquivos Suplementares”. Adubação • Fotografias pertencentes ao arquivo Testemunha 1.996 b 3.133 b 2.403 NS 2.775 NS 2.577 da Epagri ou feitas pelo autor do DLB25 2.262 b 3.455 ab 2.625 4.050 3.098 texto não necessitam ter autoria identificada. Já trabalhos com vários DLB50 2.291 b 3.856 ab 2.682 3.575 3.101 autores devem indicar a autoria. DLB100 2.720 b 4.875 a 3.656 3.650 3.725 AS 4.782 a 4.078 ab 2.749 3.075 3.694 • Figuras já publicadas anteriormente Média 2.828 3.879 2.823 3.425 devem conter dados sobre a fonte de 3 -1 onde foram extraídas, e a submissão Testemunha; DLB25, DLB50 e DLB100: 25, 50 e 100 m ha de DLB por cultivo; AS; N, P e K equivalente à do artigo deve ser acompanhada por dose de 50 m3 de DLB ha-1 por cultivo. declaração de anuência, por escrito, Médias seguidas de letras minúsculas na coluna dentro de cada fator não diferem entre si pelo teste de do autor das imagens. Tukey a 5%. NS: Não significativo a 5% de probabilidade

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