UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA

Angelita Scalamato

A PERCEPÇÃO DOS MORADORES NA CONFIGURAÇÃO DA PAISAGEM DA VILA LORENZI, SANTA MARIA/RS: ESTUDO NAS OCUPAÇÕES PORTELINHA E SOL POENTE

Santa Maria, RS 2017

Angelita Tomazetti Scalamato

A PERCEPÇÃO DOS MORADORES NA CONFIGURAÇÃO DA PAISAGEM DA VILA LORENZI, SANTA MARIA/RS: ESTUDO NAS OCUPAÇÕES PORTELINHA E SOL POENTE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia, na área de concentração Análise Ambiental e Dinâmica Espacial, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientador: Prof. Dr. Bernardo Sayão Penna e Souza

Santa Maria, RS 2017

Angelita Tomazetti Scalamato

A PERCEPÇÃO DOS MORADORES NA CONFIGURAÇÃO DA PAISAGEM DA VILA LORENZI, SANTA MARIA/RS: ESTUDO NAS OCUPAÇÕES PORTELINHA E SOL POENTE

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia, na área de concentração Análise Ambiental e Dinâmica Espacial, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Geografia.

Aprovada em 06 de março de 2017:

______Bernardo Sayão Penna e Souza, Dr. (UFSM) (Presidente/Orientador)

______Marilene Dias do Nascimento, Drª (UFSM)

______Adriano Luís Heck Simon, Dr. (UFPel)

Santa Maria, RS 2017

DEDICATÓRIA

À minha amada filha, MARCELLY, por estar sempre ao meu lado e ser essa filha que me inspira a fazer as escolhas certas, com emoção te dedico.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que, de uma forma ou outra, contribuíram para a conclusão desta pesquisa e, em especial, agradeço: A Deus pela vida e por me guiar às escolhas certas. A Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) pelo ensino público, gratuito e de qualidade. Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFSM por meu crescimento intelectual, mesmo tendo ainda muito a aprender. Ao prof. Dr. Bernardo meu orientador, obrigada pelos momentos de aprendizagem e pela liberdade em escrever. Aos professores doutores examinadores da qualificação, João Batista Cabral e Marilene Nascimento obrigada por cada palavra que contribuiu para o trabalho. Ao professor Dr. Adriano Simon por aceitar participar da banca de avaliação dessa dissertação. Aos meus pais, Alda e Celso, pela existência e orações, as minhas irmãs por sempre estarem do meu lado e aos meus queridos sobrinhos (as), aos quais minhas conquistas eu dedico a vocês! Ao meu esposo, Marcelo, pelo incentivo e compreensão a minha opção em seguir nos estudos. Aos colegas e amigos (as) que a Geografia me proporcionou: Medianeira, Tássia, Gislaine, Deise, Natália, Mauricio, Márcia, Denise, Diego e Carmen obrigada por fazerem parte desta caminhada, com vocês o percurso foi menos doloroso e mais prazeroso. Aos moradores da vila Lorenzi, os quais abriram as portas de suas casas para a realização dessa pesquisa. Espero contribuir como educadora da E.M.E.F CAIC “Luizinho de Grandi” na formação de verdadeiros cidadãos que possam mudar a realidade em que vivem.

MUITO OBRIGADA!

“O conhecimento de uma cidade varia muito de uma pessoa para outra. A maioria das pessoas são capazes de indicar pelo nome os dois extremos da escala urbana: a cidade como um todo e a rua onde moram”. Yi-fu Taun, Topofilia, pag. 222

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RESUMO

A INFLUÊNCIA DA PERCEPÇÃO DOS MORADORES NA CONFIGURAÇÃO DA PAISAGEM DA VILA LORENZI, SANTA MARIA/RS

AUTORA: Angelita Tomazetti Scalamato ORIENTADOR: Bernardo Sayão Penna de Souza

Este trabalho tem como objetivo principal compreender a influência da percepção dos moradores na configuração da paisagem da Vila Lorenzi - Santa Maria/RS. Neste sentido, trata- se de um estudo sobre a percepção, visando a compreender como os indivíduos percebem a paisagem, construída a partir das experiências de cada um e na forma como se relacionam com o meio em que vivem. A paisagem aqui estudada é vista sob uma perspectiva sistêmica, porquanto decorre da interação da sociedade com a natureza. A fim de atingir os objetivos propostos, foram realizados estudos sobre o processo de urbanização do Brasil, para compreender a expansão urbana de Santa Maria/RS, sendo necessário o estudo da expansão urbana da vila Lorenzi, entre os anos de 2004 e 2015, a descrição geomorfológica e a realização de entrevistas. A área de estudo passou por um processo de ocupação irregular, a partir da década de 1990, atraindo população de baixa renda, que acabou por ocupar esses espaços, ocasionando um crescimento, até certo ponto, sem controle. A descrição geomorfológica identificou que a vila Lorenzi está localizada numa área de colinas que se alongam para as áreas de planície fluvial do arroio Cadena. Essa característica permitiu o processo de expansão urbana, surgindo, assim, a ocupação da Avenida Sol Poente, primeira ocupação no período de 1996, e a Portelinha, segunda ocupação (2008). Durante o processo de ocupação, a área mais alterada foi a planície fluvial do arroio Cadena, que apresenta risco para os moradores da área, devido a ocorrências de casos de inundações. A partir da compreensão geomorfológica da área, foram realizadas entrevistas com os moradores da planície de inundação do arroio Cadena, na vila Lorenzi, a fim de verificar as condições socioeconômicas e ocupacionais. Com isso, chegou-se à conclusão de que os entrevistados perceberam a relação entre pluviosidade e o processo de inundação, umidade em seus terrenos e, para solucionar o problema, utilizaram-se de aterros, alterando, dessa forma, a paisagem. Os moradores identificaram os problemas da vila Lorenzi, realizaram alterações na paisagem visando a seu bem/interesse próprio e, hoje não possuem uma preocupação com a harmonia da paisagem. Faz-se necessária a união de diversos segmentos da sociedade para compreender que habitam numa bacia hidrográfica, que compõe o todo de um sistema e que, para a harmonia dessa paisagem, dependem das suas ações nesse espaço.

Palavras-Chave: Geomorfologia. Ocupação irregular. Paisagem. Percepção.

ABSTRACT THE INFLUENCE OF INHABITANTS PERCEPTION IN A LANDSCAPE COMPOSITION AT LORENZI COMMUNITY, SANTA MARIA/RS

AUTHOR: Angelita Tomazetti Scalamato ADVISOR: Bernardo Sayão Penna de Souza

This article aims at realizing the perception influence of inhabitants in a landscape composition at Lorenzi community – Santa Maria/RS. Therefore, it is a study about perception seeking for an understanding about how individuals comprehend the landscape built from the experiences of each one and how they relate in the environment they live. The landscape is considered in a systemic perspective since it results from the society and nature interaction. In order to accomplish the goals, some studies about Brazilian urbanization were performed so as to understand the urban expansion in Santa Maria/RS. It was necessary the study of urban expansion among 2004 and 2015 years, the geomorphological description and interviews. The area of study has endured an irregular occupation process from 1990 decade attracting limited income people which occupied these spaces resulting in an uncontrolled growth. The morphological description identified that Lorenzi community is placed in a hill area which expands to the flood plain areas of arroyo Cadena. This characteristic allowed the urban expansion process hence the Avenida Sol Poente occupation originated, the first occupation in 1996 and Portelinha, the second occupation (2008). During the occupation process, the flood plain of arroyo Cadena was the most unstable which represents a great risk to the inhabitants of the area due to some cases of flooding. From the geomorphological comprehension of the area, interviews with some inhabitants of the flooding area of the arroyo Cadena, Lorenzi community, were conduct in order to verify the socioeconomical and occupational impacts. Hence, it was concluded that the interviewees noticed the relation among rainwater, flooding, and humidity in their lands and in order to solve the problem, landfills were used, changing then, the landscape shape. The inhabitants identified the problems of Lorenzi community and carried out some modifications aiming at their own interests and, currently they do not have any problems concerning the harmony of the landscape. It was necessary the combination of several parts of society to aprehend that they live in a watershed which constitutes the whole system and, the harmony in this landscape depends on their actions in this area.

Key Words: Geomorphology. Irregular Occupation. Landscape. Perception.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Mapa de localização do bairro Lorenzi, Santa Maria, RS ...... 18 Figura 2 - Mapa de localização da área de estudo e vilas do bairro Lorenzi, Santa Maria, RS ...... 18 Figura 3 - Proposta metodológica ...... 42 Figura 4 - Cálculo amostral ...... 46 Figura 5 - Fórmula de cálculo ...... 46 Figura 6 - Ocupação da vila Lorenzi 2004 (A – B) ...... 52 Figura 7 - Evolução da expansão urbana da vila Lorenzi entre 2004 e 2015, Santa Maria/RS ...... 53 Figura 8 - Mapa Hipsométrico do Bairro Lorenzi - Santa Maria, RS ...... 59 Figura 9 - Perfil Hipsométrico da área de estudo ...... 60 Figura 10 - Mapa dos condicionantes à ocupação do Bairro Lorenzi, Santa Maria/RS61 Figura 11 - Avenida Sol Poente - Vila Lorenzi, Santa Maria/RS em dois períodos distintos (C – D) ...... 63 Figura 12 - Residências localizadas na Avenida Sol Poente ...... 64 Figura 13 - Tempo de moradia na Avenida Sol Poente, vila Lorenzi, ...... 65 Figura 14 - Procedência dos moradores da Avenida Sol Poente, vila Lorenzi, Santa Maria/RS ...... 66 Figura 15 - Faixa Etária e Sexo da população - Avenida Sol Poente ...... 67 Figura 16 - Grau de Escolaridade da população ...... 68 Figura 17 - Vínculo empregatício ...... 69 Figura 18 - Renda Familiar ...... 69 Figura 19 - Residências com material de entulho - Avenida Sol Poente ...... 71 Figura 20 - Casa atingida pela inundação do arroio Cadena ...... 71 Figura 21 - Inundação na Avenida Sol Poente ...... 72 Figura 22 - Residência Avenida Sol Poente ...... 75 Figura 23 - Boca de lobo Avenida Sol Poente ...... 76 Figura 24 - Casa atingida pela inundação do arroio Cadena ...... 77 Figura 25 - Residência numa vertente suave ...... 77 Figura 26 - Tempo de moradia na Portelinha ...... 80 Figura 27 - Tipo de moradia na Portelinha ...... 81 Figura 28 - Moradias localizadas na Portelinha ...... 81

Figura 29 - Olaria Portela e moradias construídas na antiga estrutura da olaria ...... 82 Figura 30 - Origem dos moradores da Portelinha ...... 83 Figura 31 - Faixa etária da população Portelinha ...... 84 Figura 32 - Grau de escolaridade da população residente na Portelinha ...... 85 Figura 33 - Infraestruturas irregulares – gato - da Portelinha ...... 87 Figura 34 - Acesso às residências na Portelinha ...... 88 Figura 35 - Lixo próximo as moradias e arroio Cadena...... 88 Figura 36 - Moradias da Portelinha ...... 91 Figura 37 - Ruas de acesso a ocupação da Portelinha ...... 93 Figura 38 - Moradias situadas nas margens do arroio Cadena e sujeitas a inundações ...... 93 Figura 39 – Planície de inundação na ocupação da Portelinha ...... 94

TABELA

Tabela 1 - Dinâmica Populacional de Santa Maria 1950 - 2010...... 30 Tabela 2 - Classificação do relevo Bairro Lorenzi - Santa Maria/RS ...... 57 Tabela 3 - Contribuintes no rendimento familiar e Renda mensal ...... 86

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...... 14 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ...... 14 2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO ...... 17 2.1 SANTA MARIA/RS - VILA LORENZI ...... 17 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ...... 21 3.1 O CRESCIMENTO URBANO BRASILEIRO ...... 21 3.2 EXPANSÃO URBANA DE SANTA MARIA ...... 27 3.3 A GEOMORFOLOGIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ...... 33 3.3.1. Geomorfologia como ciência geográfica ...... 33 3.3.2. Geomorfologia Urbana ...... 34 3.4 O ESTUDO DA PAISAGEM ...... 36 3.4.1 A Paisagem numa Abordagem Sistêmica ...... 36 3.4.2. Percepção da Paisagem ...... 38 4 PROPOSTA METODOLÓGICA...... 41 4.1 NÍVEL COMPILATÓRIO ...... 41 4.1.1 Descrição do relevo da vila Lorenzi ...... 43 4.1.2 Elaboração da representação cartográfica: expansão urbana na vila Lorenzi 44 4.1.3 Entrevistas ...... 45 4.2 NÍVEL CORRELATIVO ...... 48 4.3 NÍVEL SEMÂNTICO ...... 48 4.4 NÍVEL NORMATIVO ...... 49 5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ...... 50 5.1. PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA VILA LORENZI ...... 50 5.2 CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO DA ÁREA DE ESTUDO ...... 56 5.3 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO OCUPACIONAL DA POPULAÇÃO ENTREVISTADA 63 5.3.1 Moradores da ocupação irregular da avenida Sol Poente ...... 64 5.3.2 Posicionamento em relação à percepção da paisagem avenida Sol Poente73 5.3.3 Ocupação irregular da Portelinha ...... 79 5.3.4 Posicionamento em relação à percepção da paisagem – Portelinha ...... 89 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...... 95

REFERENCIAS ...... 99 ANEXO A ...... 105 ANEXO B ...... 106

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1 INTRODUÇÃO

1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Ao longo da história, o homem vem se concentrando em determinadas áreas, visando a sua sobrevivência, concentração essa, materializada nas cidades. Nesse processo de evolução, as cidades tornam-se um palco em constante transformação, social, econômica, política e física. Os estudos sobre as transformações que o espaço vem sofrendo, perpassam por diferentes áreas da ciência moderna, cada uma com o seu enfoque. Entre essas ciências, destaca-se a Geografia, que estuda o espaço produzido pelas sociedades humanas. É uma ciência que possui alguns conceitos estruturantes, através dos quais desenvolve seus estudos, como é o caso da Paisagem, terminologia própria da Geografia, descrita por Suertegaray (2001) como um espaço onde possui elementos naturais, que já sofreu alterações (ou natureza artificializada), privilegiando “a coexistência de objetos e ações sociais na sua face econômica e cultural manifestada”. O espaço urbano, representado pelo modelo capitalista, resultou em significativas transformações no campo, atraindo a população rural e esta reconstruindo as paisagens e impondo maior complexidade aos elementos que as compõem. A Geografia preocupa-se com as relações espaciais, englobando tanto os aspectos sociais como os naturais. Assim, deve-se pensar na organização desse espaço também como reflexo das intencionalidades humanas. A intensidade das transformações impostas às paisagens está relacionada ao grau de organização da sociedade e às diferentes culturas. Apresenta-se, assim, um campo fértil para a Geografia, que se preocupa com a organização do espaço. O estudo da paisagem é a oportunidade para analisar as relações entre a Sociedade e a Natureza, sendo a ação do homem carregada de valores simbólicos, os quais se refletem no espaço ocupado. Dessa forma, a paisagem apresenta-se como categoria de apreciação para a conexão entre intencionalidades humanas e a configuração espacial e, consequentemente, para a compreensão das transformações que vêm ocorrendo especialmente nas áreas urbanizadas. 15

O espaço urbano reflete muitas transformações, e a sociedade enfrenta vários problemas, principalmente a população de menor poder aquisitivo, pois a “produção do espaço urbano fundamenta-se num processo desigual; logo, o espaço deverá, necessariamente, refletir essa contradição (CARLOS, 2005, p.40). Os problemas encontrados nesses espaços são diversos, como a dificuldade de acesso aos serviços sociais (saúde, educação, moradia, transporte, lazer etc.) e a falta de projetos que visem à qualidade ambiental dos espaços urbanos. A segregação espacial, comum nos centros urbanos, mesmo sendo produzida pelo trabalho de toda a sociedade é dividida de maneira desigual, sendo que alguns podem usufruir de um bom padrão urbanístico, enquanto para outros os serviços essenciais de infraestrutura urbana são insuficientes ou não existem. Alguns espaços urbanos da cidade de Santa Maria, especificamente aqueles próximos aos arroios e encostas de morros, surgem como alternativa de moradia para a população de renda menos elevada, favorecendo um crescimento urbano relativamente sem controle e com perda da qualidade ambiental, muitas vezes, sem um planejamento adequado que garanta qualidade de vida à população. Sendo assim, verifica-se que os problemas sociais e ambientais, decorrentes da expansão urbana e das ações antrópicas, se tornam mais frequentes, alterando, de forma desorganizada, os espaços físicos e estabelecendo áreas de risco ambiental, podendo o homem ser considerado como sujeito dessas transformações, porquanto altera esses espaços geralmente de forma desarmônica. O estudo da paisagem está relacionado à relevância e contribuição dos estudos geográficos para a transformação de valores e atitudes na inter-relação ser humano e meio ambiente. Para isso, este trabalho tem como base a perspectiva da Ecologia da Paisagem, descrita por Bertrand (1972), que realiza a reflexão sobre um estudo integrado dos elementos que o constituem. Nesse sentido, trata-se de um estudo sobre a percepção que visa a pesquisar como os indivíduos percebem a paisagem a partir das referências simbólicas, construídas através das experiências individuais e na forma como se relacionam com o meio em que vivem. 16

Dessa forma, o objetivo geral da pesquisa é compreender a influência da percepção dos moradores na configuração da paisagem da Vila Lorenzi - Santa Maria/RS, mais especificamente nas ocupações da Sol Poente e Portelinha. Como objetivos específicos, têm-se: - Identificar as características geomorfológicas da área de estudo, especificamente as formas das vertentes e a hipsometria; - Identificar, por meio de produtos do sensoriamento remoto, a expansão urbana da vila Lorenzi, em Santa Maria/RS a partir de 2004; - Verificar as condições socioeconômicas dos moradores da área de ocupação irregular da vila Lorenzi; - Investigar a percepção da população em relação às alterações sobre as formas de relevo, decorrentes da ocupação irregular na planície de inundação; - Compreender como os moradores percebem, influenciam e se relacionam com a paisagem na área de estudo. A presente pesquisa irá abordar o processo histórico do crescimento urbano de Santa Maria, procurando, assim, compreender a ocupação da vila Lorenzi, localizada na Zona Sul de Santa Maria/RS. Será embasada pelo método dedutivo tal como preconiza Karl Popper (1972). Com isso, busca-se a resposta para a seguinte questão: Como a percepção dos moradores da área de ocupação irregular da vila Lorenzi influencia na configuração da paisagem? 17

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

2.1 SANTA MARIA/RS - VILA LORENZI

O município de Santa Maria localiza-se entre as coordenadas geográficas 29°20’28” e 30°00’16” de latitude sul e 53°30’22” e 54°19’32” de longitude oeste. Essa posição situa no centro do estado do , abrangendo uma área de 1.781,757 Km2, conforme o censo demográfico de 2010, do IBGE. Santa Maria possui 261.031 habitantes, sendo 248.347 na área urbana, perfazendo aproximadamente 96% da população total, enquanto 12.684 habitantes residem na área rural. Quanto aos aspectos geológico/geomorfológicos, o município apresenta um relevo bastante diversificado. Ao Norte, encontra-se o Planalto e Chapadas da Bacia do Paraná, apresentando as maiores altitudes, com rochas vulcânicas originadas dos derrames sucessivos de lavas, ocorridos durante a separação da Gondwana. Ao Sul, que compreende a maior parte do município de Santa Maria, a Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense apresenta terrenos de origem sedimentar, desde lamitos a arenitos, com feições morfológicas do tipo colinas onduladas com declividades que raramente ultrapassam 10% (MICHELON e WERLANG, 2004). As áreas mais planas, nos terraços fluviais que compõem a rede de drenagem do munícipio, correspondem às planícies de aluvião dos tributários da Bacia do Rio Vacacaí-mirim, dentre eles, destaca-se o Arroio Cadena, eixo de drenagem que abrange grande parte da área urbana de Santa Maria/RS e que passa por treze bairros da cidade, entre eles o Bairro Lorenzi (PMSA – SM s/d). Quanto ao uso e ocupação, a cidade de Santa Maria teve seu processo de ocupação, primeiramente, sobre as colinas da Depressão Periférica Sul Rio-grandense e foi se expandindo para as áreas de planícies aluviais do arroio Cadena. O perímetro urbano de Santa Maria está dividido em oito regiões administrativas e subdivido em 41 bairros que, por sua vez, são constituídos por vilas, parques residenciais e Conjuntos Habitacionais (COHAB’s). Na Região Administrativa Sul, situa- se o bairro Lorenzi, conforme figura 1. 18

Figura 1 - Mapa de localização do bairro Lorenzi, Santa Maria, RS

Fonte: SRC: SIRGAS 2000 – Malha Digital 2000 2 2010

De acordo com a Lei Complementar Nº 042, de 29 de dezembro de 2006, artigo 38 (Anexo A), o bairro Lorenzi (figura 2) faz parte da Região Administrativa Sul e contém sete unidades residenciais; entre elas, está a vila Lorenzi, localizada na zona sul da área urbana da cidade. O referido bairro limita-se, ao Sul, com distrito de Pains (Minuano), ao norte, com o Bairro Urlândia, ao leste, com a BR 392 e, ao oeste, com o Arroio Cadena. As duas ocupações estudadas, a Sol Poente e da Portelinha, estão localizadas na vila Lorenzi. A primeira ocupação teve início na Rua Virgílio Lorenzi, em 1996, e se prolongou para a rua Luizinho de Grandi até chegar à planície de inundação do arroio Cadena, que pela Lei nº 5687 do dia 12 de setembro de 2012, passou a se denominar de avenida Sol Poente. A segunda ocupação, da Portelinha (final da travessa Gramado), ocorreu a partir de 2008 na planície de inundação do mesmo arroio. As ruas que apresentam uma concentração populacional significativa são, Atalício T. Pithan, Chico Mendes, Valdemar Coimbra, Virgilio Lorenzi, Luizinho de Grandi e Adelmo Genro Filho.

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Figura 2 - Mapa de localização da área de estudo e vilas do bairro Lorenzi, Santa Maria/ RS

Fonte: SRC: SIRGAS 2000/UTM 22S

O bairro Lorenzi possui duas escolas: Escola Estadual Especial Reinaldo Cóser e o Centro de Atenção Integral à Criança – CAIC, mantido pela Prefeitura Municipal de Santa Maria, que atende alunos da Educação Infantil até as séries finais. No mesmo bairro, encontra-se a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) em atividade desde novembro de 1986, responsável pelo tratamento do esgoto doméstico da cidade e que, após o processo de limpeza, o efluente final é lançado na sanga Norte, sendo que desàgua no arroio Cadena (Plano Municipal de Saneamento Ambiental de Santa Maria). A população total do bairro Lorenzi, conforme dados do Censo/2010 (IBGE/2010), é composta de 5.621 habitantes, espalhados numa área de 4.742 Km2, 20

apresentando, assim, uma densidade demográfica de 1,185 hab./km2. Além disso, o Censo IBGE/2010 informa que a população do bairro Lorenzi é composta, na sua maioria, por adultos (55,95%), entre eles, 28,14% do sexo feminino e 27,81% do sexo masculino. A população jovem compreende um total de 34,8%, e a idosa (+de 60 anos) com 9,24%.

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3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

3.1 O CRESCIMENTO URBANO BRASILEIRO

O processo de urbanização ocorrido no Brasil teve seu início a partir do século XX, principalmente após 1940, portanto, é um processo recente, em virtude do êxodo rural, motivado pelas transformações no campo, como a mecanização, a concentração fundiária e a expansão industrial. No ano de 1940, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população urbana, no Brasil, era 18,8 milhões de habitantes (26,3%) e intensificou-se rapidamente em 2000, compondo um total de 138 milhões de habitantes (81,25%). Já, no último censo demográfico realizado pelo IBGE/2010, a população urbana no Brasil era 160.879.708 pessoas (84,35%), e a rural de 29.852.986 pessoas (15,65%). Então, comparando os dois últimos censos, verifica-se que ocorreu um aumento de 22.879,708 pessoas que passaram a morar nas áreas urbanas, um crescimento de 3,1%, agravando os problemas sociais, principalmente a falta de moradia. Diante do contexto, destaca-se que, a partir de 1960, quando o Brasil vivenciou o “milagre econômico brasileiro”, ocorreram mudanças na sociedade, pois o crescimento econômico atraiu as pessoas do campo, sem que as cidades estivessem preparadas para recebê-las. Na maioria das vezes, a cidade não é planejada como um todo o que pode gerar mudanças significativas nas estruturas espacial, econômica e social do país. Nos últimos setenta anos, ocorreu um crescimento urbano em torno de 140 milhões de habitantes, necessitando, assim, de uma organização espacial para atender à demanda populacional que estava chegando nas médias e grandes cidades. O processo de expansão de forma desordenada e o mercado fundiário não foram benéficos a todos, como observa Maricato (2001):

Infelizmente o financiamento imobiliário não impulsionou a democratização do acesso à terra via instituição da função social da propriedade [...]. Para a maior parte da população que buscava moradia nas cidades o mercado não se abriu. O acesso das classes médias e altas foi priorizado (MARICATO, 2001 p.20-21).

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Diante da demanda por habitação, o governo propõe uma intervenção no campo habitacional, disponibilizando recursos para o financiamento da construção de imóveis residenciais. Com isso, o Governo Federal disponibilizou uma linha de crédito imobiliário por meio da Caixa Econômica Federal e dos Institutos de Aposentadoria e Pensões (IAPs). A partir de então, surgiram casas e apartamentos populares para abrigar trabalhadores das indústrias (ROSSATTO, 2014 pág. 205). Em 1964, o governo militar criou o Banco Nacional de Habitação (BNH), instituição criada pela Lei n° 4.380/64 e extinta pelo Decreto-Lei n° 2.291, de 21 de novembro de 1986, que teve como objetivo “estimular a construção de habitações de interesse social e o financiamento da casa própria, especialmente para a população de menor renda”. Bonduki (2008, pág. 72)) ressalta que o BNH foi “uma resposta do governo militar à forte crise de moradia presente num país que se urbanizava aceleradamente”. Tal medida visava a conquistar o apoio popular como forma de legitimar o regime imposto. O BNH foi criado com o objetivo de favorecer as camadas populares, com maiores dificuldades de obter a casa própria; todavia, acabou beneficiando a população de melhores rendimentos financeiros no país, como esclarece Maricato (1996, p.45), “Combinando investimento público com ação reguladora, o Estado garante a estruturação de um mercado imobiliário capitalista para uma parcela restrita da população, ao passo que, para a maioria, restam as opções das favelas, dos cortiços ou do loteamento ilegal, na periferia sem urbanização [...]”. Sendo assim, pode-se afirmar que o crescimento econômico, observado no período, pouco contribuiu ao decréscimo da desigualdade social no país. Nos anos de 1980 e 1990, o Brasil vivenciou o período conhecido como “décadas perdidas”, no qual, de acordo com Maricato (2001, p. 22), a economia decresceu, ocasionando “um forte impacto social e ambiental, ampliando o universo de desigualdade social”. Intensificando as desigualdades, o país passou a presenciar o desemprego, o trabalho informal e a pobreza nas áreas urbanas. O Brasil passou a ter fortes consequências negativas, como, por exemplo, no meio ambiente, na baixa qualidade de vida e na exclusão social (MARICATO, 1996, p. 31). 23

A urbanização, considerada um processo inevitável nos países capitalistas e, cada vez mais, em expansão, está sempre sendo organizada conforme os interesses imobiliário, sendo transformada em mercadorias e geralmente a maioria da população não pode pagar por essa inclusão. Scarlato (2003) descreve que o processo de urbanização desenvolveu duas cidades dentro de seu espaço, uma formal e outra informal. Ou seja, a primeira, as áreas centrais ou condomínios nos bairros, com infraestrutura adequada e que atende a legislação urbanística, destinada às pessoas que têm poder aquisitivo para pagar por esses serviços; e a segunda, as áreas periféricas, que ficam destinadas à população de menor poder aquisitivo, onde se encontram os principais problemas sociais e ambientais. A partir do século XX, com a dinâmica de urbanização, surge uma gigantesca construção de cidades, sendo a minoria construídas de forma legal, homogênea, “fruto” do capitalismo, e outra parte construída de forma ilegal, sem a participação do poder público e sem recursos técnicos e financeiros significativos, sendo que, para Maricato (2002 p. 77), “A cidade ilegal não é cadastrada”. Com essa prática, os espaços são segregados e, conforme Ross (2001), alguns bairros são mais dotados de investimentos e melhores condições de infraestrutura; todavia, outros, formados por vilas e favelas, estão localizados em ambientes precários, e a maioria das moradias são autoconstruídas. Tal dinâmica também traz à tona a redistribuição do uso do solo, em que parte da população, que não dispõe de meios suficientes para obter um lugar seguro para sobreviver, se vê obrigada a morar em áreas que não apresentam infraestrutura suficiente. Logo, tem baixa qualidade de vida, com problemas desde degradação da paisagem aos problemas urbanos, como violência, miséria, falta de saneamento básico e saúde, entre outros. As políticas públicas do final do século XX (1980/1990) foram destinadas às questões de infraestrutura devido ao crescimento urbano nos grandes centros, momento em que foi necessário investir numa gama de serviços que atendessem à população desses locais. Logo, os problemas sociais passaram a ser tratados como “disfunções” do crescimento, as quais passariam a receber investimentos assim que o 24

desenvolvimento econômico atingisse um patamar considerável, como especifica Pinheiro (2002): A teoria do “crescimento do bolo”, que Delfim Neto elaborou para justificar a segregação social produzida no período do autoritarismo, argumentava que a questão social deveria ser postergada enquanto se implantaria uma política de crescimento econômico, que depois “seria dividido”. Nas cidades, esta postura de abandonar as áreas sociais significou, e ainda em muitos casos, investimentos em obras faraônicas, de necessidade discutível, geralmente localizadas em bairros de classe alta ou destinados ao tráfego de automóveis, através de recursos públicos de empreendimento privado, dentro da lógica “privatização dos lucros”, e socialização dos prejuízos”, enquanto grande parcela da população sofria carência de serviços básicos (PINHEIRO, 2002 apud, BONDUKI,1997 p.264).

O crescimento desenfreado do espaço urbano fez com que a concentração do capital fosse investido na implantação das infraestruturas necessárias ao desenvolvimento do modelo capitalista, o que contribuiu para o avanço dos problemas nos espaços ilegais, como a falta de moradias nos grandes centros urbanos. O Banco Nacional de Habitação (BNH), que foi criado para resolver o problema habitacional no Brasil, possuía o interesse capitalista, pois visava ao lucro e não à solução dos problemas de moradia dos trabalhadores brasileiros. Em 1986, o BNH foi extinto e sua herança foi transferida para a CEF - Caixa Econômica Federal - O objetivo do BNH, em favorecer as classes de menor renda, não foi atingido e ficou ainda mais difícil para a população pobre conseguir crédito imobiliário. Segundo Bonduki (2008), o BNH foi extinto sem resistência, pois havia se tornado uma instituição odiada no país. Sendo assim, o espaço urbano ficou sob responsabilidade “de economistas que desconhecem a cidade e o território” (MARICATO 2002, p. 100) e restrito a uma parcela da população. O crescimento das favelas, dos cortiços e das áreas de ocupações, a partir da década de 80, passou a se concentrar distante dos grandes centros urbanos e ficou conhecido como lugares periféricos. Conforme o Ministério das Cidades,

(...) o modelo de desenvolvimento socioeconômico que comandou a urbanização acelerada no Brasil produziu cidades fortemente marcadas pela presença das chamadas “periferias”. Dezenas de milhões de brasileiros não tem tido acesso ao solo urbano e à moradia senão através de processos e mecanismos ilegais (...) bem como nas ocupações de áreas públicas, encostas, áreas de preservação, beiras de reservatórios e rios (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2004, p.39). 25

O crescimento econômico adotado no Brasil passou a ser um modelo concentrador e excludente, que torna os problemas sociais mais evidentes, como a falta de moradia. A população que não tem como pagar por terrenos com uma infraestrutura adequada acaba morando em áreas públicas, terrenos em inventários, ou porções de terras mantidas vazias com fins especulativos. Diante desses fatores, ocorrem as ocupações irregulares, configurando-se como estratégia de sobrevivência da população de baixa renda, que sempre teve negada seu direito à moradia. Conforme Carlos (1999, p. 48-49), essas pessoas foram comprimidas nas áreas periféricas da cidade por vários motivos, entre eles, o menor custo da moradia, devido à ausência de infraestrutura e onde aos terrenos não vigoram direitos de propriedade. A autora ainda complementa que havia ausência de políticas públicas que resolvessem a falta de moradias na cidade. No entanto, no ano de 1980, começou o processo de redemocratização no país, e os movimentos sociais passaram a se fortalecer - Movimento Popular, Universidades, ONGs, sindicatos e outros segmentos organizados da sociedade civil. No ano de 1987, com a instalação da Assembleia Nacional Constituinte, criou-se o Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU), com o objetivo de promover a Reforma Urbana, que passou a lutar pelo direito à moradia, ao saneamento básico, ao transporte público, entre outros direitos do cidadão (HOLZ, 2008). Os movimentos populares urbanos e, especialmente, o Fórum Nacional pela Reforma Urbana (FNRU) tiveram um papel importante na formulação da Constituição de 1988 e propiciaram a inclusão do capítulo da Política Urbana através de uma Emenda Popular. Logo, a Constituição de 1988 reconheceu o direito à moradia como um direito fundamental e concedeu uma maior autonomia para os municípios, além da abertura e da ampliação de espaços de participação social na gestão de políticas públicas (HOLZ, 2008). A gestão pública passou por um processo de descentralização, fortalecendo o poder dos municípios, o qual foi reforçado pela Lei nº 10.257/2001 - Estatuto da Cidade, que regulamentou os artigos da Constituição de 1988, possuindo como objetivo “Ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da propriedade urbana em prol do bem coletivo, entendendo a cidade como produção social”. Então 26

coube ao Plano Diretor de cada município cumprir as premissas desse Estatuto, determinando as possibilidades de uso e ocupação, segundo critérios preestabelecidos pelo Estatuto da Cidade. Com a finalidade de empoderar mais os municípios, no ano de 2003, no governo de Luís Inácio Lula da Silva, foi criado o Ministério das Cidades, com o objetivo de prover o acesso à moradia digna com vistas à diminuição do déficit habitacional brasileiro. Além disso, foram planejadas ações de apoio aos Estados e Municípios para o desenvolvimento de ações para a regularização fundiária, segurança e habitações para populações localizadas em áreas inadequadas e em situação de risco. Para isso, o Governo Federal colocou em prática o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) que incorporou ações nas áreas social e urbana (PAC, 2010). Conforme Bonduki (2008), os setores de habitação e saneamento foram privilegiados. Com o interesse de resolver o problema da falta de moradia nas cidades, o Governo Federal teve dificuldades, visto que a população de baixa renda não possuía condições financeiras para custear o financiamento e, assim, obter uma moradia no mercado imobiliário legal. No ano de 2009, o Governo Federal lança o Programa Minha Casa, Minha Vida que, segundo Borges (2013, pág.149), tinha por objetivo implementar a construção de 1 milhão de moradias, das quais 400 mil para a população de zero a três salários mínimos. Com isso, o governo pretendia resolver o problema da falta de moradia às famílias de baixa renda e promover a inclusão social. O público-alvo era famílias que recebiam até 10 salários mínimos, sendo que as famílias com renda até 3 salários mínimos poderiam ter acesso a subsídio integral com isenção do seguro (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2009). Dessa forma, coube ao Estado o papel de facilitador de verbas públicas, enquanto, ao capital privado, ficou a continuidade do regulador do espaço urbano, segregando as famílias de menor poder aquisitivo nas periferias urbanas. Cabe a gestão pública das áreas urbanas, aos municípios, mas, conforme esclarece Borges (2013, p.150), “a política habitacional, que propôs o programa habitacional Minha Casa Minha Vida, expressa a continuidade e ampliação de relações 27

sociais e produtivas que favoreçam a plena mercantilização, facilitando a circulação do capital no fortalecimento do capitalismo financeiro”. Com isso, os órgãos públicos devem estar sempre comprometidos em desenvolver políticas de inclusão social que visem a uma abordagem integrada. Sobre esse viés da inserção de todos na sociedade, Maricato (2002) comenta que

[...] a urbanização de favelas pode resolver problemas de saneamento ambiental, atribuir endereço legal a cada domicilio, melhorar as condições de moradia e de segurança urbana, mas não melhora o nível de escolaridade ou de alfabetização, não organiza as mulheres para melhorar o padrão de vida, nem ajuda na organização de cooperativas de trabalho, ou no lazer dos jovens. “A exclusão social é um todo” - econômica, cultural, educacional, social, jurídica, ambiental, racial - e não pode ser combatida de forma fragmentada (MARICATO, 2002, p.75)

Compreende-se, assim, que os desafios relacionados às questões urbanas envolvem critérios políticos, culturais, sociais, financeiros, os quais são de difícil solução para resolver os problemas de moradia das áreas periféricas. Para isso, é necessário garantir o direito à cidade para todos, visando a uma qualidade de vida digna aos moradores do município de igual forma.

3.2 EXPANSÃO URBANA DE SANTA MARIA

Na cidade de Santa Maria, localizada no interior do Estado do Rio Grande do Sul, a urbanização ocorreu como em várias outras cidades brasileiras, e a organização do espaço aconteceu conforme as atividades econômicas desenvolvidas pela sociedade. Santa Maria teve a sua efetiva ocupação a partir de um acampamento da comissão demarcadora de limites de terras entre Portugal e Espanha que passava pela região, em 1797, e montou um acampamento militar em terras doadas através de sesmarias. Os acampamentos militares deram origem à atual Rua do Acampamento, formando, ao longo do tempo, um povoado com a população oriunda de São Paulo, Paraná e Açores (BELÉM, 1989). Em 1819, foi criado o Curato de Santa Maria que passou à categoria de Distrito Administrativo da Vila Nova de São João da Cachoeira. No ano de 1857, conseguiu sua 28

emancipação político-administrativa, e o povoado é elevado à categoria de vila e de sede municipal, desmembrando-se de Cachoeira do Sul. Na data de 17 de maio de 1858, foi criada a Primeira Câmara do Município de Santa Maria, e, pela Lei Provincial nº 1013, de 06 de abril de 1876, passou à categoria de cidade devido à sua importância econômica e ao seu grau de desenvolvimento (BELÉM, 1989). De um acampamento montado no alto de uma colina, surge um núcleo urbano, com expressivo crescimento econômico e infraestrutura suficiente para atrair várias famílias, muitos imigrantes de origem europeia, entre eles, os alemães (1888) e, mais tarde, os italianos (1877) (BELÉM, 1989). No final do século XIX, a construção da estrada de ferro que ligava Santa Maria a Cachoeira do Sul marca o ingresso da cidade no transporte ferroviário, tornando-se um centro irradiador de ligações, o que possibilitou o transporte de toda a produção oriunda da região central do Estado. Essas interligações deram a Santa Maria o título de “Centro Ferroviário”, pois se tornou um ponto de ligação entre os diferentes pontos do Estado, integrando todo o espaço sulino. As ferrovias contribuíram para o desenvolvimento da cidade, tornando-se um importante centro comercial, com serviços urbanos de iluminação (1881) e luz elétrica (1898) passando a ter pavimentação nas ruas centrais (BELÉM, 1989). Gomes (2013) descreve que o sistema ferroviário (Rede Ferroviária Federal S.A. – RFSSA) contribuiu com a articulação e a criação do primeiro anel viário da cidade, com intuito de “[...] expandir suas extensões para além das áreas centrais e seu entorno, em direção sul e leste, mesmo que incipiente, já demonstrando novos vetores de crescimento” (GOMES, 2013, p. 106). No início do século XX, Santa Maria era “considerada uma das cidades prósperas do interior do Estado devido ao seu cenário econômico” (GOMES, 2013 p. 106), a qual possuía um centro comercial, educacional, militar e, no final da década de 1960, já era um polo de economia terciária. Na década de 1980, o setor de transporte ferroviário passou por um processo de desaceleração até sua extinção. A organização do espaço de Santa Maria iniciou-se com os acontecimentos históricos que permitiram a constituição atual do município e, com isso, as transformações na paisagem. A formação da cidade, primeiramente como 29

acampamento militar, deu origem à Rua do Acampamento e, posteriormente, à Viação Férrea, estabelecida na atual Avenida Rio Branco que, fez com que surgissem os maiores investimentos em infraestruturas e a valorização do espaço urbano ao longo do tempo. Assim foi se constituindo a urbanização de Santa Maria, na qual, após a década de 1960, com a construção da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e a Base Aérea de Santa Maria (BASM), ocorreu o crescimento para o sentido leste. A partir do ano de 1980, o crescimento urbano ocorreu para o sentido oeste com a instalação do Distrito Industrial, como parte do processo de industrialização da cidade, e a construção do Conjunto Habitacional de Santa Maria (Santa Marta) e Conjunto Habitacional Tancredo Neves (NASCIMENTO E MOURA, 2014). Juntamente com a expansão territorial, o crescimento populacional é diretamente proporcional nos sentidos leste e oeste, sendo que, ao norte, o processo não foi acentuado, devido ao limite natural, as encostas íngremes do rebordo do Planalto da Bacia do Paraná (NASCIMENTO E MOURA, 2014). No sentido sul, no período de 1914 – 1945, conforme Gomes (2013), é uma área que não possui loteamentos, demonstrando, com isso, um crescimento mais lento nesse sentido. No período de 1946 – 1979, já se observa um processo de ocupação na Região Administrativa Sul, com o surgimento dos Bairros Urlândia, Tomazetti (nesse bairro se encontra a vila Lorenzi), compreendendo uma área loteada de 256,33 hectares (GOMES, 2013, p. 112). Esse crescimento ocorreu devido ao crescimento populacional observado em Santa Maria, causado pela atração da cidade com a chegada de militares e pela criação de instituições de ensino superior. Quanto ao crescimento da população de Santa Maria, conforme Nascimento (2015), pode-se observar que, a partir de 1950, a população cresceu com a expansão das ferrovias e do crescimento do setor terciário, passando de 83.001 habitantes para 120.975, na década de 1960, com um crescimento percentual de 45,75%. Conforme a tabela 1, o município de Santa Maria, não fugiu à regra da maioria das cidades brasileiras, refletindo um acelerado processo de urbanização a partir de 1950.

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Tabela 1 - Dinâmica Populacional de Santa Maria 1950 - 2010

ANOS População

Total Urbana Rural

1950 83.001 47.904 35.097 1960 120.975 85.014 36.961 1970 156.609 124.136 31.893 1980 181.579 154.565 27.043 1991 217.592 192.415 21.250 2000 243.611 230.696 12.915 2010 261.031 248.347 12.684

Fonte: NASCIMENTO (2015) Org.: SCALAMATO, A.T (2015)

Com a parte urbana expandindo-se, a partir de 1950, Santa Maria passou a atrair população de diferentes áreas, tornando-se grande polo de atração populacional. A população cresceu atraída pelas melhores condições de vida e pela oportunidade de trabalho no setor de serviços oferecidos, principalmente nas áreas da saúde e da educação. Conforme o Censo demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE/2010), a densidade demográfica de Santa Maria é 145,98 hab./Km2. Desse total, 248.347 habitantes residem na área urbana (aproximadamente 96% da população total do município) e 12.648, na área rural. Santa Maria apresenta um detalhe diferencial que, de acordo com Souza (2001, p. 10-11), é a população flutuante de estudantes atraída pelas instituições de ensino como “[...] Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), mais o Centro Universitário Franciscano (UNIFRA) e a Faculdade Metodista de Santa Maria – (FAMES), além da Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)”, Faculdade Integrada de Santa Maria (FISMA), Faculdade Palotina de Santa Maria (FAPAS) e Faculdade de Direito de Santa Maria (FADISMA), além de Colégios Técnicos e Escolas de Ensino Fundamental e Médio, públicas e privadas. 31

A população atraída para a cidade de Santa Maria, conforme Nascimento e Moura (2014), procura se estabelecer em três vetores de crescimento urbano, como as regiões oeste, centro-leste e leste. A região sul, permaneceu com o processo de crescimento lento, concentrando algumas indústrias e o comércio em geral ao longo da Avenida Hélvio Basso e BR-392. Mas o que caracteriza essa região é o uso residencial (NASCIMENTO E MOURA, 2014). A expansão urbana e o crescimento populacional (da cidade de Santa Maria) ocorreram de forma rápida e sem planejamento. Pode-se observar, com isso, o crescimento de dois processos antagônicos, o das ocupações e/ou invasões e os condomínios. O primeiro expandiu-se sem um controle do poder público e sem as condições ideais de infraestrutura para a população que, sem condições econômicas para comprar um terreno, passou a invadir para, posteriormente, requerer na justiça o direito de posse. Ao contrário, tem-se os condomínios fechados, regulados pelo poder imobiliário que surgem nos espaços afastados dos grandes centros urbanos, localizados nas áreas periféricas, distantes dos congestionamentos e demarcados por muros altos, mas próximos fisicamente da periferia pobre. As ocupações podem ocorrer de forma irregular, surgindo, assim, os loteamentos clandestinos e as invasões que, segundo Rodrigues (1988), podem ser definidas como uma área que possuiu uma organização prévia, em que aconteceu uma escolha com condições mínimas para moradia e que, além de tudo, haja ações para reivindicar a moradia no local. Logo, o sentido de ocupação está relacionado à política organizada. Para Santos (2008), a diferença

[...] não é simplesmente semântica. No uso do termo, invasão estão implícitas a ilegalidade e a violência da ação: invadir a privacidade ou a propriedade de outrem. Trata-se de uma ação ilegítima. O termo ocupação relaciona-se a conquista de um direito: ocupa-se o que é de direito. Aquilo que em algum momento, do passado ou do presente foi usurpado de um grupo ou classe social, mesmo que não tenha sido “diretamente” usurpado. Mas a desigualdade social, que também significa desigualdade de oportunidades, a exploração e a espoliação impediram que esses cidadãos mais pobres tivessem acesso à propriedade da terra ou à moradia. (Santos, R. 2008, p. 132)

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Os loteamentos ilegais, tão comuns no Brasil, inclusive na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, são considerados, segundo Maricato (2003):

[...] o contrato de compra e venda que garante algum direito ao morador do loteamento, também chamado popularmente de loteamento clandestino. Muitas são as variantes que o loteamento ilegal pode assumir. Em geral a ilegalidade pode estar na burla às normas urbanísticas: diretrizes de ocupação do solo, dimensão dos lotes, arruamento, áreas públicas e institucionais, que devem ser doadas para o poder público, estão entre as mais comuns. Há casos, entretanto, em que a ilegalidade está na documentação de propriedade, na ausência da aprovação do projeto pela prefeitura ou no descompasso entre o projeto aprovado e sua implantação. A irregularidade na implantação do loteamento impede o registro do mesmo pelo cartório de registro de imóveis, prejudicando, consequentemente, os compradores” (MARICATO, 2003, pag 80).

A terminologia utilizada depende muito do grupo que ali vive e que a expressa como representação. Entretanto, independente do conceito utilizado, as pessoas passam a morar em lugares em que suas condições financeiras permitem, como áreas de inundação, de deslizamento de terra, sem água potável, sem energia elétrica, iluminação, segurança entre outros. Em Santa Maria, observa-se a expansão urbana nas periferias, em lotes situados distantes do centro urbano, em áreas geomorfologicamente impróprias, inseridas dentro da bacia hidrográfica do arroio Cadena, que drena a maior parte da área urbana. Ao construírem suas moradias nesses espaços, os moradores podem gerar sérios problemas ambientais, o que pode surtir na perda da qualidade ambiental e na falta de garantia da qualidade de vida à população. Conforme Zanatta (2011, p. 88), “[...] nesses locais vão estabelecendo seus próprios limites, demarcando lotes e eles próprios edificando suas casas, mas, pelo caráter irregular, acabam sem se beneficiarem da infraestrutura criada pelo poder público”. Embora apresente desafios perante sua urbanização, a cidade de Santa Maria ainda possui o poder de atrair pessoas, seja através do êxodo rural, seja por deslocamentos interurbanos. A população vinda de diversos lugares pode encontrar na cidade muitas dificuldades urbanas, já que a cidade não apresenta estrutura para acompanhar seu imenso crescimento populacional. Os moradores que provêm de diferentes lugares para Santa Maria/RS encontram dificuldades para achar um local próprio para construírem suas moradias, pois, na 33

maioria dos casos, se estabelecem em lugares impróprios, áreas de risco, como nas encostas de morros e ou na planície de inundação do arroio Cadena, transfigurando, assim, o relevo e alterando a paisagem.

“[...] a análise da paisagem deve estar conjugada com uma visão histórica, para esclarecer o complexo caráter das atividades humanas sobre esta [...]” Rodrigues, Silva e Cavalcanti, 2007, p. 159

3.3 A GEOMORFOLOGIA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

3.3.1. Geomorfologia como ciência geográfica

A Geomorfologia, como ciência geográfica, pode ser compreendida, segundo Christofoletti (1980, p. 1), como “a Ciência que estuda as formas de relevo”. Souza (2001) descreve que, além de analisar e descrevê-las, é necessário dar o enfoque e a abordagem para compreender e explicar sua gênese e seu processo de evolução.

A Geomorfologia estuda o espaço em constante alteração.

Geomorfologia que tem suas bases conceituais nas ciências da terra, mas fortes vínculos com as ciências humanas, à medida que pode servir como suporte para entendimento dos ambientes naturais, onde as sociedades humanas se estruturam, extraem os recursos para a sobrevivência e organizam o espaço físico-territorial (ROSS, 1992, p.1).

Na perspectiva de Ross (1992), o relevo está em processo de transformação e sofre com a atuação dos agentes endógenos e exógenos, em constante processo de formação e desgaste, uma vez que

[...] através de variações topográficas e morfológicas abre-se espaço para a interferência da ação da gravidade, que possibilita, por exemplo, o deslocamento de materiais quer seja liquido quer seja sólido das partes mais altas para as mais baixas, em um processo continuo de desgaste dos terrenos elevados e de acumulação nos segmentos mais baixos (ROSS, 1992, p. 11). 34

No entanto, há de se levar em consideração a ação antrópica no processo de modelagem do relevo, como especifica Souza (2001):

[...] a relação existente entre o relevo e sociedade, porque a atuação dos agentes externos se faz sentir numa escala de tempo histórica, ou ainda de menor duração, e não apenas geológica, como é o caso da maior parte da ação das forças endógenas (SOUZA, 2001 p. 65).

O homem, como ser social e atuante, intervém, controla e transforma o relevo conforme suas necessidades, numa velocidade mais intensa que os agentes internos e externos. Todas as modificações estão relacionadas diretamente ao estudo da Geografia que, de acordo com Suerttegaray (2001), sempre buscou a compreensão da relação do homem com seu entorno natural, Sendo assim, estudar o relevo é de extrema importância para compreender a estrutura do terreno e de que forma esse espaço está sendo ocupado, revelando a forma e as alterações causadas pela interferência humana. (Hart,1986 apud Guerra e Marçal, 2006) específica que, como o homem utiliza a superfície terrestre, ele tem que conhecer suas partes (solo, rochas, recursos hídricos etc.) para que, assim, possa obter melhor aproveitamento dos recursos ali existentes, bem como evitar danos maiores à área.

3.3.2. Geomorfologia Urbana

A evolução dos espaços urbanos, as construções para moradias e a infraestrutura necessária para receber a população descaracterizam a topografia do terreno e introduzem elementos novos no relevo. Com as interferências que o homem tem provocado na paisagem, cada vez mais faz-se necessário o estudo desses espaços pela geomorfologia urbana. Segundo Suertegaray (2001), as intervenções humanas podem ser comparadas a agentes geológicos, que são atuantes e em constante processo de transformação nos espaços urbanos, capazes de transfigurar os elementos que constituem a paisagem, somente num ritmo mais acelerado. A ação humana, com o passar do tempo, tende a transformar o espaço em uma ação dinâmica e contínua. 35

A paisagem modificada, segundo Jorge, in Guerra, (2011), “é um espaço produzido, cujo relevo serve de suporte físico, em que diferentes formas de ocupação refletem o momento histórico, econômico e social”. Portanto, fruto da interação entre os agentes sociais e o espaço físico. A atuação do homem sobre as formas de relevo é dinâmica, e este se utiliza dos avanços técnico-científicos para deixar marcas na paisagem conforme seus interesses. Essa intervenção humana é caracterizada como o período geológico denominado Quinário ou Tecnogênico (Peloggia, 1997), no qual o homem intervém e modela a natureza. Peloggia, (1997), assim define o período Quinário e/ou Tecnógeno:

“[...] no período atual que a intervenção humana passa a ser diferenciada qualitativamente em relação à atividade biológica na modelagem da Biosfera, desencadeando processos (tecnogênicos) intensivamente superior aos processos naturais” (PELOGGIA, 1997, pág. 9).

Os espaços urbanos são os mais alterados, apresentando depósitos tecnogênicos resultantes das atividades humanas, com a retirada de materiais e acúmulos de outros, como “materiais de construção e restos de mineração” (MOURA, 2013). A paisagem passa a ser moldada com as técnicas utilizadas pela população a fim de resolver os problemas que enfrenta. Dessa forma, surgem novas morfologias e, à medida que o processo de urbanização acelera, o homem altera a paisagem, como descreve Fugimoto (2005), retirando a vegetação, realizando cortes e aterros para a execução de arruamentos e moradias, os quais, ao serem construídos, cortam e direcionam os cursos d’água, gerando padrões de drenagem não existentes. Quanto às interferências urbanas, Fujimoto (2008, pág. 97) complementa descrevendo que esse processo alterou os espaços, criando novas formas devido à sua utilização, pois “as formas criadas ou construídas podem ser formadas por processos de retirada e/ou acumulação de material, e as formas induzidas podem ser formadas por processos de saída de material ou por processos de deposição de material”. A Geomorfologia Urbana é compreendida, conforme Gomes (2013), como

[...] uma linha de pesquisa indutiva da Geomorfologia Antropogênica, por indicar e analisar como a sociedade, a partir de seus valores e recursos tecnológicos, 36

pode ser considerada agente transformador e modelador da superfície terrestre, alterando a dinâmica natural das formas, dos materiais e processos do estrato ambiental (GOMES, 2013, p. 25/26).

As intervenções humanas devem ser estudadas, pois, conforme Souza (2001, p. 71), “[..] sendo o homem um ser vivo que atua sobre a superfície da Terra, torna-se imprescindível que a sua atuação seja investigada para que a análise geomorfológica sob tal perspectiva seja completa e coerente”. Guerra e Marçal (2006, pág. 29) descrevem que a Geomorfologia Urbana busca compreender as transformações causadas pelo homem e até que ponto essas mudanças podem ser responsáveis pela aceleração de certos processos geomorfológicos. Com isso, o estudo realizado pela ciência Geomorfológica pode contribuir para o desenvolvimento e o planejamento urbano, sem que ocorram danos ambientais significativos e que coloquem em risco a vida da população que ali vive. Frente a isso, as alterações promovidas pelo processo de urbanização sobre as formas de relevo levam ao seu reconhecimento e planejamento para melhor uso dos agentes socioeconômicos, visto que, a sociedade e a natureza compõem um sistema articulado e de forma integrada (POLIVANOV E BARROSO, in GUERRA, 2011).

3.4 O ESTUDO DA PAISAGEM

3.4.1 A Paisagem numa Abordagem Sistêmica

A paisagem é constituída de diferentes significados e depende da forma como as pessoas a avaliam e a interpretam. Nesse sentido, ela pode ser interpretada através de seus símbolos visíveis, não visíveis e sensíveis, envolvendo, assim, os elementos da natureza, dentre os quais, a fauna, a flora, o homem e o espaço construído. Suertegaray (2001, pág. 5) descreve que os geógrafos compreendem a paisagem como a expressão materializada das relações do homem com a natureza, mas, para outros, ela é o resultado da articulação entre os elementos constituintes e deve ser estudada a partir da sua morfologia, estrutura e divisão. A paisagem, dessa forma, passa a ser a integração do espaço natural e o construído pelo homem, que juntos formam um cenário único, em constante 37

transformação e, como esclarece Bertrand (2007, pág. 21), “é uma entidade global”, cujos elementos que a constituem fazem parte de um único contexto e não devem ser estudados separadamente. Essa paisagem, estudada pela Geografia como um todo, é descrita por Bertrand (2007, pag 7) como “o estudo das paisagens não pode ser realizado senão no quadro de uma geografia física global”. Segundo o autor,

A paisagem não é a simples adição de elementos geográficos disparatados. É, numa determinada porção do espaço, o resultado da combinação dinâmica de elementos físicos, biológicos e antrópicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução (BERTRAND, 2007, pag 7-8).

Pode-se observar que toda paisagem é um bem cultural, uma vez que, para alguns estudiosos, não existe mais o que se denomina natural, pois, em todos os lugares do planeta, o homem ocasionou alguma alteração. Logo, pode-se considerar que o próprio olhar que se faz de algo é em si uma prática cultural. Nesse sentido, Tricart (1981, p.8), salienta que “[...] a paisagem deve ser considerada globalmente e não segundo os diversos pontos setoriais [...]” deve ser estudada de forma integrada, possuindo como base uma abordagem sistêmica, que permite entender as inter-relações mais complexas que existem entre os aspectos físicos e humanos. Dessa forma, “[...] o conceito de sistema é, por natureza, de caráter dinâmico e por isso adequado a fornecer os conhecimentos básicos para uma atuação - o que não é o caso de um inventário, por natureza estático” (TRICART, 1977, p. 19). Assim, o desenvolvimento de estudos embasados na abordagem sistêmica permite compreender a relação existente entre a sociedade e a natureza. Sendo assim, o estudo da paisagem possibilita uma análise que privilegia as várias dimensões que compõem o espaço geográfico, por meio de seus elementos naturais, sociais e/ou culturais. Logo, pesquisar essa relação é fundamental para compreender a organização do espaço geográfico e também entender de que maneira as pessoas residentes em uma determinada paisagem relacionam-se com o mundo e percebem as alterações da superfície terrestre.

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3.4.2. Percepção da Paisagem

Estudar o espaço geográfico e suas características físicas é de extrema importância para a Geografia, mas, concomitante a essas características se deve buscar compreender a relação entre a população com o ambiente em que se vive. Ao estudar essa relação, o pesquisador deve levar em consideração todos os aspectos envolvidos, uma vez que estão carregados de subjetividade do sujeito que ali está inserido. Nessa relação, os fenômenos sociais devem ser significativos para explicar “A percepção e o comportamento espacial” (ORELLANA, 1981, p.7). Assim, a compreensão do espaço deve levar em consideração o espaço vivido, construído a partir da interação humana no espaço e observando que podem ocorrer alterações conforme os grupos culturais que ali estão localizados (YI-FU-TUAN, 1980). Dessa maneira, o conceito de percepção se apresenta ligado não somente às sensações, mas também às atitudes proposicionais (SOUZA, 2006). Tuan também esclarece que, “percepção é tanto a resposta dos sentidos aos estímulos externos, como a atividade proposicional, na qual certos fenômenos são claramente registrados, enquanto outros retrocedem para a sombra ou são bloqueados” (YI-FU TUAN, 1980, p.4) Para Tuan (1980), é necessário compreender as visões que o homem possui em relação ao meio ambiente e como ele é percebido e estruturado, quais os vínculos entre o meio ambiente e as visões de mundo de cada indivíduo e da sociedade para a compreensão da paisagem ao seu redor. A paisagem pode ser vista a partir do suporte físico que apresenta alterações que o homem incorpora ao longo do tempo, como agente dinâmico e não como mero espectador. Essa paisagem, conforme (TUAN, 1970 apud HOLZER, 1997, p. 82), “é um campo que se estrutura na relação do eu com o outro, o reino onde ocorre a nossa história, onde encontramos as coisas, os outros e a nós mesmos”. Nessa relação do corpo e o “eu” para o mundo está o sujeito, que, envolvido no mundo como um todo, 39

constitui um ser-no-mundo, passando a ter, assim, uma abordagem sistêmica da realidade. Além da paisagem ser compreendida como um todo, Tricart (1981), a descreve como “[...] um conteúdo emotivo, estético, intrinsicamente subjetivo do próprio fato” (TRICART, 1981, p. 8). Assim, paisagem é compreendida muito mais que somente o que o olhar alcança, mas o que está por trás, ou pode-se compará-la a um iceberg, não se enxerga, mas está controlando todo um sistema que está interligado e cabe ao geógrafo estudar todo o iceberg, principalmente a parte escondida para compreender a parte revelada. Ao estudar esse espaço, o homem o vê como um sistema “um conjunto de fenômenos que se processam mediante fluxos de matéria e energia” (TRICART 1977, pag. 19), do qual fazem parte um canal de entrada e saída que, sendo dinâmico, em constante transformação e que Bertrand (2007) salienta que a paisagem deve “ser tratada globalmente”. Nesse sentido, a compreensão de paisagem é tão complexa e deve ser real, verdadeira, pois, para Searle (2000) “[...], o universo existe de modo bastante independente de nossas mentes”, ou seja, a paisagem existe independentemente de estar sendo observada. O que muda é a percepção, ou seja, a somente a minha percepção sobre ela, e nesse sentido, Tuan (1980) descreve, “todos os homens compartilham atitudes e perspectivas comuns, contudo a visão que cada pessoa tem do mundo é única” (TUAN, 1980, pag.285). Com isso, pode-se inserir a perspectiva segundo a qual “ninguém nunca vê a realidade diretamente como ela é em si, pelo contrário, as pessoas a encaram segundo seu próprio ponto de vista” (SEARLE, 2000, pag.28). Esse ponto de vista será sua verdade, pois cada indivíduo percebe o lugar de acordo com a sua bagagem cultural e visão de mundo. Para compreender a percepção, é necessário saber que existem três características comuns a todos os estados conscientes, como descreve Searle (2000, pag 46), “eles são internos, qualitativos e subjetivos”.

“Os estados e processos conscientes são internos [...] já que acontecem dentro do meu corpo, e especificamente dentro do meu cérebro. [...] são 40

qualitativos no sentido de que há, para cada um deles, um modo de senti-lo, [...] e os estados conscientes são subjetivos no sentido de serem sempre experimentados por um sujeito humano [...]” (SEARLE, 2000, pag 47)

Portanto, é de extrema importância o estudo da percepção em relação à paisagem, compreender a influência da percepção dos moradores na configuração da paisagem, como cada indivíduo a percebe através das referências simbólicas, construídas a partir das experiências de cada um, mas não esquecendo de que existem valores e crenças comuns, que formam a colcha de retalhos e que cada um contribui com um “pedaço” para a construção deste todo – a paisagem. Nesse sentido é que o estudo sobre a percepção da paisagem faz-se necessário

[...] ir além de inventários do quadro físico, socioeconômico, é necessário entender as relações e percepções mantidas entre o social/individual e o espacial. A percepção espaço/ambiente é apreendida e está carregada de afetos que traduzem juízos acerca dele. Estão juntos o cognitivo, o emocional, o interpretativo e o avaliativo” (NASCIMENTO, 2015. p. 9)

Concluindo, o que se pensa (consciente e inconscientemente), se fala ou como se age está relacionado com a forma como se assimila essas informações na mente, pois tem-se armazenadas informações que irão nortear o pensamento e compreensão sobre coisas que se veem, se ouvem e se sentem. Assim, todos os sentidos contribuem para a percepção da paisagem.

“A paisagem está no espelho da sociedade” Bertrand, 2007, p.244

41

4 PROPOSTA METODOLÓGICA

Como o objetivo principal é compreender a percepção dos moradores na configuração da paisagem da vila Lorenzi, foi necessário preestabelecer etapas para uma melhor organização da pesquisa. O desenvolvimento geral da pesquisa segue a proposta de Libault (1971), que distingue quatro níveis de pesquisa geográfica: nível compilatório, nível correlatório, nível semântico e nível normativo. Para Ross (2003), as pesquisas de caráter geográfico passam, obrigatoriamente, por esses níveis de análise, que irão constituir as etapas do trabalho. A seguir, serão caracterizados os quatro níveis de abordagem geográfica e destacadas as atividades que serão realizadas em cada um deles, para a execução da presente pesquisa, conforme o fluxograma da figura 3.

4.1 NÍVEL COMPILATÓRIO

A primeira fase do trabalho foi realizada em gabinete e correspondeu ao levantamento bibliográfico referente aos temas abordados: crescimento urbano brasileiro e de Santa Maria, geomorfologia, paisagem e percepção da paisagem. Nessa etapa, ocorreu um aprofundamento dos níveis de informações, com a organização dos dados levantados, os quais foram obtidos tanto de fonte primária (seleção da bibliografia adequada, interpretação de fotografias aéreas e imagens de satélite e cartas topográficas), como de fonte secundária (compilação de material já produzido por outros autores). Nessa etapa da pesquisa, ocorreu também a elaboração das questões para a entrevista (Anexo B).

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Figura 3 - Proposta metodológica

A INFLUÊNCIA DA PERCEPÇÃO DOS MORADORES NA

CONFIGURAÇÃO DA PAISAGEM DA VILA LORENZI, SANTA MARIA/RS

- Contextualização do problema Introdução - Justificativa -Definição dos objetivos

- Crescimento urbano; Fundamentação - Geomorfologia;

Teórica - Paisagem e percepção.

NÍVEL COMPILATÓRIO

Atividade de Atividade de campo: gabinete: - Levantamento - Visitas a órgãos bibliográfico; públicos; - Elaboração das - Verificação in loco da expansão questões para a entrevista. urbana; - Seleção das cartas - Aplicação do topográficas e instrumento de imagens de satélite. pesquisa. Metodologia NÍVEL CORRELATIVO

- Mapa geomorfológico; - Análise da expansão urbana; - Análise das entrevistas.

NÍVEL SEMÂNTICO

Perfil da população entrevistada; Perfil geomorfológico da área de estudo; Percepção da paisagem pelos moradores das áreas Resultados e de ocupações irregulares, nas planícies de Discussões inundação.

NÍVEL NORMATIVO

Redação Final e Proposições 43

A atividade de campo compreendeu visitas à Prefeitura Municipal de Santa Maria nos anos de 2015 e 2016, visando à coleta de dados (mapas, fotografias aéreas) referentes à vila Lorenzi e também a identificação do padrão urbano da área de estudo. As visitas na área de estudo e a aplicação do questionário ocorreram também nos anos de 2015 e 2016.

4.1.1 Descrição do relevo da vila Lorenzi

Para a descrição geomorfológica da área de estudo, realizou-se uma pesquisa de análise nos trabalhos de Gomes (2013) e Nascimento (2015). As contribuições trazidas por outros autores foram utilizadas para a caracterização do quadro natural da área, como os estudos de Maciel Filho (1990), que foram empregados na análise geológica. Para a interpretação dos fatos geomorfológicos, seguiu-se a proposta de classificação taxonômica de Ross (1992), que passa pela concepção de se expressar cartograficamente o relevo, partindo da conceituação de morfoestrutura e de morfoescultura, na qual se propõe o estudo do relevo considerando seis táxons de análise. 1º Táxon – Unidades Morfoestruturais que correspondem às grandes macroestruturas; 2º Táxon – Unidades Morfoesculturais, que correspondem a divisões e subdivisões do relevo, são caracterizadas pelos planaltos, planícies e depressões; 3º Táxon – Possui uma dimensão inferior, corresponde às Unidades Morfológicas e aos processos externos atuais, como o clima que começa a interferir nas formas. São identificadas segundo sua natureza em agradação (acumulação/deposição) e denudação (erosão/ dissecação) e de dimensões inferiores.; 4º Táxon – Corresponde às formas de relevo individualizadas dentro de cada unidade de padrão de formas semelhantes. Dois padrões ou formas de relevo são encontrados, os quais podem estar agrupados em modelados de dissecação e de acumulação. O modelado de dissecação inclui em forma de colinas, e o modelado de acumulação inclui os padrões em forma de planícies fluviais; 44

5º Táxon – Corresponde às vertentes de gêneses distintas. A análise desse táxon ocorreu a partir da construção do perfil topográfico extraído da unidade morfoescultura do 2º táxon, apresentando, assim, formas como vertente convexa, côncava e plana. O 6º Táxon, conforme Ross (1992), corresponde às menores feições, incluindo as produzidas pelos depósitos atuais, ou seja, as pequenas formas criadas pela interferência antrópica ao longo das vertentes. A proposta taxonômica elaborada por Ross (1992) permite conhecer os aspectos fisionômicos das diferentes formas e tamanhos do relevo, sua gênese, o seu significado morfogenético e as influências estruturais e esculturais no modelado terrestre. Diante de tal proposta, a taxonomia de relevo, proposta por Ross (1992), foi a adotada para a realização da descrição e interpretação geomorfológica do bairro Lorenzi – Santa Maria/RS. Para a descrição geomorfológica do local, foram observadas as áreas mais vulneráveis ao processo de inundação, no caso, a planície de inundação do arroio Cadena. A interpretação do relevo da área foi corroborada com fotointerpretação e identificada a área para a realização das entrevistas. Para a realização do mapa do relevo e do perfil Hipsométrico da área de estudo, foram utilizadas a carta topográfica da Diretoria do Serviço Geográfico (DSG) do Exército Brasileiro em escala 1:25.000 de Santa Maria - SH-22V-C-IV-1-SE; imagens do Google Earth, Carta de Unidades Geotécnica de Santa Maria - 1:25.000 (Maciel Filho, 1990).

4.1.2 Elaboração da representação cartográfica: expansão urbana na vila Lorenzi

A descrição da expansão urbana do bairro Lorenzi baseou-se na interpretação de imagens de satélite, nos períodos entre 2004 e 2015, e contou-se, ainda, com as fotografias aéreas de 1990 e 2001 (para a interpretação dos produtos cartográficos verificando a expansão urbana da vila Lorenzi). Os documentos cartográficos selecionados e utilizados (para a realização dos mapas da expansão urbana da vila Lorenzi) foram imagens de satélite (Google Earth) e 45

fotografias aéreas de Santa Maria, 1990 (1:8000) e 2001 (1:10.000), e a metodologia de interpretação foi visual.

4.1.3 Entrevistas

A entrevista foi elaborada de forma semiestruturada, com questões abertas e fechadas para a verificação socioeconômica e a compreensão da percepção dos moradores em relação à paisagem. A vila Lorenzi possui duas áreas de ocupações irregulares, a mais antiga (pós 1996) e a mais recente (2008) e, por isso, as duas comunidades foram entrevistadas separadamente. Utilizou-se, para isso, o Google Earth, no qual foram quantificados os números de casas que estão nas cotas altimétricas entre 68 e 76 metros de altitude, estando próximas à planície de inundação do arroio Cadena em cada ocupação. Na avenida Sol Poente, existem 36 casas e, na ocupação da Portelinha, 61 casas, totalizando uma soma de 97 moradias. O critério de seleção das casas visitadas foi a indicação, no qual um(a) morador(a) indicava outro(a) para ser entrevistado(a). Para o cálculo de casas que seriam entrevistadas, foi realizado o cálculo amostral, utilizando-se, a calculadora on-line (Figura 4), conforme Santos (2014 apud NASCIMENTO 2015). Essa calculadora utiliza a seguinte fórmula, conforme figura 5. O erro amostral é a diferença entre o valor estimado pela pesquisa e o verdadeiro valor, cujo erro amostral estabelecido foi 10%. O nível de confiança escolhido foi de 90 %. O número de residências foi estipulado a partir da contagem das duas ocupações, com um total de 97 residências. O percentual máximo definido foi 50%.

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Figura 4 - Cálculo amostral

Fonte: SANTOS,2014 Org.: SCALAMATO A.T. (2016)

Figura 5 - Fórmula de cálculo

Fonte: SANTOS, 2014 Org.: SCALAMATO A.T. (2016)

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A partir desse cálculo, a entrevista foi aplicada com 50 moradores, sendo entrevistados 25 moradores da avenida Sol Poente e 25 da ocupação da Portelinha. Ocorreu durante os meses de junho a outubro de 2016. A entrevista foi estruturada em três blocos de perguntas, sendo o primeiro, com questões socioeconômicas ocupacionais, o segundo, com o posicionamento em relação à percepção da paisagem, o terceiro, sobre a relação com o poder público e o nível de organização da comunidade na melhoria da qualidade ambiental. Os dados socioeconômicos analisados nessa pesquisa referem-se ao número de moradores por unidade residencial, tempo de residência no local, origem, composição familiar, estrutura etária, escolaridade, renda em salários mínimos por família, ocupação principal e infraestrutura (rede de esgoto, energia elétrica, iluminação pública, abastecimento d’água, coleta de lixo). A entrevista consta no anexo B. A entrevista semiestruturada, foi realizada sem distinção de classe, gênero ou faixa etária, tempo de moradia, uma vez que o trabalho de pesquisa visa a investigar a percepção dos moradores e de que maneira se relacionam com a paisagem. Para isso, foram entrevistados, de forma completa, os 50 selecionados das ocupações irregulares. Para a avaliação sobre a percepção da paisagem, foi preciso compreender como os moradores influenciam e se relacionam com a paisagem da vila Lorenzi. Nesse sentido, fez-se necessário saber como o entrevistado percebe o seu espaço e quais os problemas que ele enfrenta no seu cotidiano. As perguntas foram abertas e fechadas, perguntando qual o motivo de morar ali, os pontos positivos e negativos da vila Lorenzi, satisfação com a qualidade ambiental, os problemas ali observados, entre outras. O terceiro bloco, procurou saber qual a atuação do poder público na comunidade e se os entrevistados têm participação na articulação do espaço em que vivem, se acreditam que a organização das pessoas da comunidade pode contribuir para a melhoria da qualidade ambiental e se gostariam de modificar a paisagem do lugar, então, como o fariam. O último bloco é sobre a visualização do entrevistador, observando quanto ao tipo de casa, se o local tem risco de inundação, se apresenta lixo próximo às suas casas, se apresenta esgoto a céu aberto, além de outras observações necessárias para 48

a compreensão do local, realizando um registro fotográfico das condições atuais da paisagem.

4.2 NÍVEL CORRELATIVO

Essa etapa é uma sequência do primeiro nível, ou seja, as informações e produtos cartográficos gerados anteriormente estabeleceram a continuidade da pesquisa, resultando em documentos como tabelas, gráficos, uma representação cartográfica da expansão urbana da vila Lorenzi, nos anos de 2004 e 2015, descrição geomorfológica e perfil Hipsométrico e as características das unidades de relevo que compõem a paisagem. Após a realização das entrevistas, ocorreu a análise dos resultados. Salienta-se que o objetivo de estudar o processo de expansão urbana, do Brasil e de Santa Maria, não foi o de realizar uma intensa revisão bibliográfica, mas sim resgatar aspectos históricos desse processo e as políticas públicas urbanas voltadas para a solução da falta de moradias. Essa etapa foi realizada com a consulta de trabalhos preexistentes sobre a temática. As informações referentes aos processos geomorfológicos do lugar, à expansão urbana, assim como a infraestrutura do lugar permitiram um conhecimento maior da área. As imagens de satélite proporcionaram verificar as áreas de expansão urbana que ocorreram na vila Lorenzi, principalmente na planície de inundação do arroio Cadena. As imagens de 2004 e de 2015 representam o uso, a ocupação do espaço e a manifestação da sociedade na natureza.

4.3 NÍVEL SEMÂNTICO

No terceiro nível, efetuou-se a reorganização dos dados e ocorreu a análise das informações para interpretação dos resultados.

49

4.4 NÍVEL NORMATIVO

No nível normativo, foram organizados os resultados finais que consistem no conhecimento do relevo do bairro Lorenzi, pois, a partir da descrição, pôde-se observar a expansão urbana na vila Lorenzi. As entrevistas permitiram compreender a questão socioeconômica da população e as conexões estabelecidas em consonância com à paisagem do lugar.

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5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

5.1. PROCESSO DE OCUPAÇÃO DA VILA LORENZI

O processo de expansão urbana, para o sentido sul de Santa Maria, ocorreu de forma lenta e, conforme Salamoni (2008, p. 283), no ano de 1944, os parcelamentos urbanos estavam concentrados junto à BR 392 e integravam essa porção ao eixo central da cidade. No ano de 1986, foi criado o Bairro Tomazetti (ID-91), o qual passou a englobar a vila Lorenzi (SALAMONI, 2008, p. 281). A zona sul da cidade, na década de 1980, ainda se encontrava estagnada, possuindo grandes áreas não agenciadas ao uso urbano. Somente no período 1980 - 1991, com a ligação entre Santa Maria - São Sepé - Rio Grande, pela BR 392, “essa rodovia passa a desempenhar o papel de centralidade local, pois os loteamentos estão articulados nessa estrutura” (SALAMONI, 2008, p. 317). No ano de 1991, a população urbana de Santa Maria era 214.159 habitantes, passando para cerca de 230.696 habitantes em 2000. Foi nesse período que a cidade passou pelo maior processo de ocupação irregular no seu perímetro urbano, como exemplo, a ocupação da área que passou a ser denominada de , a qual se iniciou no ano de 1992 e, rapidamente, um novo núcleo urbano surgiu, com cerca de quinze mil habitantes em 2001 (SALAMONI, 2008, p. 326). Não diferente, em toda a cidade ocorreram ocupações irregulares como o da vila Lorenzi. O bairro Lorenzi se desmembrou do bairro Tomazetti, no ano de 2006, conforme a Lei Orgânica do município. A denominação Lorenzi, segundo moradores mais antigos do bairro, deve-se aos primeiros proprietários, à família Lorenzi, os quais vieram de Silveira Martins e passaram a cultivar na área. Conforme estudos de Salamoni (2008), a população do bairro Lorenzi esteve concentrada nas proximidades da BR-392 e, após o ano de 2000, os loteamentos localizados nas áreas mais baixas, nas proximidades do arroio Cadena, passaram a ser ocupados de forma mais intensa e irregularmente. O primeiro processo de invasão/ocupação que aconteceu na vila Lorenzi foi proveniente de uma área que a Prefeitura Municipal de Santa Maria desapropriou no 51

dia 11 de novembro de 1994, conforme Decreto Executivo nº 601/94, que foi uma fração de terras com área de 107.000m2, localizada na vila Lorenzi. Entretanto, no dia 28 de novembro de 1994, o município de Santa Maria desmembrou do total da área, 22.754,00m2 e doou à União Federal para a construção do Centro de Atenção Integral à Criança - CAIC, e o restante ficou destinado à regularização fundiária, segundo ofício 176, expedido pela agente administrativo Alma Cristina Holzchuke. Localizado em uma parte da área, o Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente, “Luizinho de Grandi”, foi criado pelo Decreto Executivo nº 287/95, por meio de um convênio firmado entre a Prefeitura e o Governo Federal em 12 de julho de 1996. Na área que sobrou do lote comprado pela Prefeitura Municipal de Santa Maria foi ocupada por cerca de 20 famílias, no ano de 1996, passando, no dia 31 de outubro 1998, a mais de 100 famílias, sendo a maioria proveniente das vilas próximas como A vila Tomazetti1. Não diferente das diversas ocupações da cidade, essas famílias iniciaram o processo de ocupação irregular com suas moradias construídas de forma bastante precária. Segundo Pereira (2004), essas pessoas receberam a denominação de “sem piso”, devido ao fato de suas casas não possuírem piso, estarem assentadas sob “chão batido”. O bairro Lorenzi possuía, no final de 1990, uma infraestrutura que estava concentrada nas vilas Bom Jesus, Santa Rita de Cassia, Santo Antônio e Quitandinha, todas nas proximidades da BR-392 e nas adjacências da E.M.E.F. CAIC “Luizinho de Grandi”. Na primeira ocupação irregular, localizada na atual avenida Sol Poente, na vila Lorenzi, a infraestrutura era precária, pois não se possuía energia elétrica, saneamento básico, e as ruas eram caminhos abertos sem o devido planejamento. As primeiras famílias, necessitando de luz elétrica e água encanada, “recorreram à prática ilegal e arriscada das ligações clandestinas” (PEREIRA, 2004, p. 12). Os estudos de Pereira (2004, p.14) esclarecem que,

[...] de 1996 até 2004, o número de famílias residentes no local só fez aumentar de 15 famílias passou para 51 residências, novas ruas foram

1 Informações retiradas no Jornal A Razão, de Santa Maria, no dia 04 de novembro de 1998. 52

abertas, a iluminação pública chegou a algumas delas, mas a situação de precariedade não deixou de existir. A maioria das vias é de terra ou pedras soltas, em algumas o esgoto ainda corre a céu aberto e mesmo havendo rede elétrica disponível, muitas casas ainda possuem ligações clandestinas, o que coloca em risco a vida de todos que ali residem.

A primeira ocupação irregular pode ser observada na figura 6 (A e B) e demonstra alguns problemas que as pessoas enfrentavam na época, como a precariedade das moradias e a ausência de infraestrutura adequada para uma qualidade de vida dos moradores.

Figura 6 - Ocupação da vila Lorenzi 2004 (A – B)

A B

Fonte: PEREIRA, 2004. Org.: SCALAMATO, A.T.

A figura 7 (A e B) apresenta um comparativo das ocupações do solo da vila Lorenzi no ano de 2004 e 2015. 53

Figura 7 - Evolução da expansão urbana da vila Lorenzi entre 2004 e 2015, Santa Maria/RS 54

Na imagem de 2004 (A), pode-se observar uma pequena concentração de habitantes na vila Lorenzi nas ruas Chico Mendes, Valdemar Coimbra, Virgílio Lorenzi, Luizinho de Grandi e Adelmo Genro Filho e uma expansão em direção ao arroio Cadena, sentido oeste. A maioria das moradias estavam concentradas nas vilas Quitandinha, Santo Antônio, Santa Rita de Cassia, Bom Jesus. Conforme relato de moradores da vila Lorenzi, a principal atividade desenvolvida, até 1990, era a primária, com plantação de produtos sazonais, além da extração de argila pela olaria Portela. A vila Lorenzi (2004 - A) estava bem servida de áreas verdes e, ao longo do arroio Cadena, apresentava a mata ciliar com os campos nas suas adjacências. Observa-se, na imagem, pouca intervenção humana, sendo possível verificar elementos geomorfológicos na área. Ao analisar a imagem da Figura 7 (B), pode-se observar a expansão urbana da vila Lorenzi, em um pequeno espaço de tempo (11 anos), a qual ocorreu, em direção oeste, nas proximidades do arroio Cadena e para o norte, sendo limitada pela ETE (Estação de Tratamento de Esgoto – CORSAN). A ação antrópica alterou o relevo com a ampliação das vias de acesso e com a construção de casas. Na mesma figura, observa-se, entre a avenida Sol Poente e a ETE, o surgimento da ocupação Portelinha (2), na Olaria do Portela, que, segundo um antigo morador, desenvolveu suas atividades, aproximadamente, por 30 anos no local. Como a olaria deixou de funcionar e ficou desocupada, alguns moradores começaram a construir suas moradias dentro da mesma e nas suas proximidades. As moradias construídas na Portelinha estão em uma área considerada, pela Secretaria de Habitação da PMSM (Gestão/2016), como ocupação irregular, pois não estão em processo de regularização fundiária, sendo que a área é de propriedade particular e não apresenta as condições ideais para moradia, com total falta de infraestrutura, como rede de água, rede de esgoto, energia elétrica, arruamento e transporte. A ocupação ao longo da avenida Sol Poente (1), conforme relatório da situação predial fornecido pela Secretária de Habitação, está em processo de regularização fundiária, apresentando um padrão urbano regular com malha viária pavimentada, 55

oferecendo rede de água, rede de esgoto, rede elétrica, além de coleta de lixo, três vezes por semana, de forma integral, a todos os moradores. Conforme cadastro da situação predial fornecido pela Prefeitura Municipal de Santa Maria, na avenida Sol Poente, existem aproximadamente 100 residências, das quais vinte e nove moradores pagam IPTU (Imposto Predial sobre Território Urbano). Segundo a Secretaria de Habitação, no ano de 2006, a Prefeitura Municipal de Santa Maria realizou um relatório que apresentava o Plano Municipal de Redução de Riscos, que visava a apresentar as áreas de risco associadas a deslizamentos, alagamentos, inundações etc. e que ameaçam a segurança dos moradores e dificultam a inclusão dos assentamentos precários à cidade formal. A partir desse estudo, foram selecionadas as áreas que receberiam investimentos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Através do Decreto nº 26/2008, o Governo Municipal declara, como utilidade pública, a execução da obra do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, nesse contexto, a vila Lorenzi foi uma das beneficiadas, recebendo obras essenciais de infraestrutura, destinadas à qualificação dos serviços públicos de saneamento e mobilidade urbana, visando à melhoria da qualidade ambiental e de vida das populações atendidas. As ruas beneficiadas para o investimento foram Virgílio Lorenzi, Luizinho de Grandi e a área de ocupação da avenida Sol Poente. As obras receberam investimentos através de uma ordem de serviço de 14 de fevereiro de 2008, a qual previa a drenagem pluvial e a pavimentação asfáltica das ruas Virgílio Lorenzi e Luizinho de Grandi. Segundo a Secretaria de Habitação de Santa Maria, a obra foi orçada em R$646.099,89 e entregue à comunidade em 16 de março de 2011. A avenida Sol Poente receberia somente um revestimento primário, sem a camada asfáltica. O segundo processo de licitação ocorreu através da ordem de serviço, de 14 de maio de 2008, que previa o esgoto cloacal e a entrega de 2 bombas para levar o esgoto até a CORSAN – ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) que está localizada na porção norte da avenida Sol Poente. A obra foi orçada em R$374.992,06 e entregue no dia 11 de março de 2011. 56

Diante das considerações sobre essas ocupações em Santa Maria, ressalta-se que cabe ao poder público maior fiscalização no sentido de coibir a instalação de loteamentos particulares irregulares. Em Santa Maria, o Cartório de Registro de Imóveis exige do proprietário o chamado “habite-se” para a regularização da área; então, é atribuição urgente da Prefeitura Municipal emitir o documento para a escritura pública e fiscalizar se as moradias estão sendo construídas de forma legal, ilegal ou em áreas impróprias para moradias.

5.2 CARACTERIZAÇÃO DO RELEVO DA ÁREA DE ESTUDO

A classificação do relevo do bairro Lorenzi, segue a proposta de Ross (1992), utilizando-se, para isso, cinco táxons, conforme a tabela 2. Com base nessa classificação, a cidade de Santa Maria/RS está inserida na unidade morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná (1º Táxon), Ross (2003, p.47). O 2º táxon refere-se às Unidades Morfoesculturais e está inserido na unidade denominada Depressão Periférica Sul-rio-grandense, cuja área não apresenta grandes variações altimétricas, com as maiores altitudes em torno de 200 metros, onde se encontram os morros testemunhos como Cerrito e Mariano da Rocha (NASCIMENTO, 2012, pág. 75). No sentido sudoeste da cidade de Santa Maria, observam-se amplas e alongadas coxilhas com topos convexos ou planos que caem suavemente em direção aos vales, com aprofundamentos médios em torno dos 60 metros (GOMES, 2013, pág. 74). De acordo com estudos realizados por Maciel Filho (1990), a área proposta para estudo corresponde a rochas sedimentares do Triássico, localizadas sobre Formação Santa Maria, com composição na Era Mesozoica, Litologia composta do Membro Passo das Tropas. Essa Formação, conforme trabalho realizado por Nascimento (2015), caracteriza-se como “topografia suave de coxilhas baixas, com declividades inferiores a 6% e altitudes que não ultrapassam 100 metros” (NASCIMENTO, 2015, p. 156). A Formação Santa Maria engloba o Membro Passo das Tropas que apresenta a composição: “Arenitos Feldspáticos Grosseiros, com estratificação cruzada acanalada na base, seguidos de siltitos arenosos roxo-avermelhados de ambiente fluvial, além de 57

arenitos finos e siltitos laminados, de cores rosa e lilás, de ambiente flúvio-lacustre” (MACIEL FILHO, 1990). Conforme estudos de Maciel Filho (1990), o Membro Passo das Tropas é uma unidade com facilidade erosiva, formando caneluras nos barrancos e ravinas em beira de estradas devido à retirada da vegetação.

Tabela 2 - Classificação do relevo Bairro Lorenzi - Santa Maria/RS

Unidades Morfoestruturais 1º Táxon Bacia Sedimentar do Paraná Unidades Morfoesculturais 2º Táxon Depressão Periférica Sul-rio-grandense Unidades Morfológicas 3º Táxon Denudação (D) Agradacionais (A) Unidades dos Padrões de Formas: Unidades dos Padrões de Formas: Colinas Suaves Planícies Fluviais Conjunto de Relevo 4º Táxon Padrão em Forma de Colinas de lamito Padrão em Forma de Planícies Fluviais e arenito (Dp) (Apf) Unidades de Vertentes 5º Táxon Relevo suave ondulado com vertentes Relevo plano, associado à rede de convexas (Vc) e topos planos drenagem

Formas Menores de Relevo ou de Processos Atuais 6º Táxon Construções e arruamentos Aterros e extração de argila

Fonte: adaptado de NASCIMENTO, 2012 e GOMES, 2013 Org.: SCALAMATO, A.T. (2016)

58

O 3º Táxon consiste na identificação das formas, geneticamente, que foram ou estão sendo formadas por processos denudacionais (D) ou agradacionais (A). Os denudacionais formam o relevo por processos de esculturação, e os agradacionais, por acumulação de sedimentos. Ao analisar o 3º Táxon, conclui-se que a vila Lorenzi está inserida nas Unidades de Colinas – D – (Membro Passo das Tropas) e Unidades de Planícies Fluviais – A – (próximo ao Arroio Cadena) e sua gênese está associada à processos erosivos e deposição de sedimentos fluviais recentes, o que significa para Gomes (2013) que a diferença entre as duas formas de relevo dá-se pela diferença de altimetria, conforme figura 8. O 4º Táxon está representado pelas formas individuais, apresentando duas formas de relevo, as colinas, que estão relacionadas aos processos erosivos, e as formas de planícies fluviais, associadas ao acúmulo de sedimentos nas áreas mais baixas. A Unidade de colinas suaves (Dp) caracteriza-se, conforme Nascimento (2015), “[...] por apresentar morfologias muito suaves de topos planos e vertentes suaves (NASCIMENTO, 2015, p. 191). A declividade média está entre 5% a 12%, variando a altimetria de 84 a 100 metros. Nessa área, notam-se pequenas alterações no relevo, como alguns cortes ou compactação do solo devido às construções de casas ou no arruamento. Após fortes eventos chuvosos, surgem pequenos sulcos erosivos nas áreas de declives. As Planícies Fluviais (Apf) compreendem áreas formadas por depósitos recentes, ocorrendo o processo de acumulação desses materiais nos períodos de cheias. Nascimento (2015) descreve a área com “cotas altimétricas máximas que não ultrapassam os 80 metros”, as declividades predominantes são inferiores a 5%. As áreas com declividades inferiores a 5%, quando ocupadas de maneira incorreta, segundo OLIVEIRA (2004), são áreas saturadas e necessitam de procedimentos técnicos, como drenagem para que a água pluvial, até mesmo em episódios de chuvas de curta duração, que escoa por gravidade, encontre o seu destino final sem intervenções humanas. 59

Nas áreas de planícies fluviais, ocorreram fortes intervenções humanas, devido à extração de argila para as indústrias oleiras que existiam na região.

Figura 8 - Mapa Hipsométrico do Bairro Lorenzi - Santa Maria, RS

O 5º Táxon corresponde às unidades de vertentes que pertencem a cada forma individualizada do relevo e possuem dimensões menores do relevo e, portanto, são de gênese e idade mais recentes. Ross (1992) descreve os setores de vertentes como convexos, retilíneos, planos, abruptos ou côncavos. A análise desse Táxon inferiu-se a 60

partir da construção do perfil topográfico, retirado da Unidade Morfoescultural individualizada no 2º Táxon. As unidades de vertentes estão representadas no perfil Hipsométrico, na Figura 8, com as letras A-B, indicado pelo traçado no sentido sudeste-noroeste da porção sul da Unidade Morfoescultural da Depressão Periférica Sul Rio-grandense, sobre as duas áreas de ocupação irregular, localizadas na vila Lorenzi. Na figura 09, o Perfil Hipsométrico da vila Lorenzi, indicado pelas letras A-B na figura 8, abrange a forma de relevo com topos convexos e de planícies fluviais. Nas porções mais elevadas, em torno de 80 a 93 metros, o predomínio de colinas onduladas alongadas e as vertentes são convexas e retilíneas, que sofrem erosão.

Figura 9 - Perfil Hipsométrico da área de estudo

61

Nas porções mais baixas do perfil Hipsométrico, nas áreas de planícies fluviais (Apf), pertencentes à rede de drenagem do arroio Cadena e seus tributários, observam- se superfícies retilíneas relativamente longas, com as menores altitudes, (69 metros), que são coletoras de água - inundação fluvial. A área está associada a uma declividade muito baixa, inferior a 5% que, conforme o Mapa dos condicionantes à ocupação (figura 10) realizado por Maciel Filho (1990), não deveriam ser ocupadas, pois se referem às áreas de inundação do arroio Cadena, porquanto as águas acabam por extravasar, alagando ruas e áreas próximas.

Figura 10 - Mapa dos condicionantes à ocupação do Bairro Lorenzi, Santa Maria/RS

62

No 6º Táxon, encontram-se as formas de processos atuais, originados pela ação antrópica e foram descritos os mais significativos. Nas duas áreas estudadas, foram encontrados materiais depositados ou extraídos pelo homem nas saídas de campo. Na Avenida Sol Poente, observou-se a retirada da vegetação original para a construção de casas e arruamento. Na frente das residências, foram encontradas cargas de entulho (restos de materiais de construção civil) para aterrar as casas, evitando-se, assim, o alagamento das mesmas. Nas ruas, encontrou-se uma grande quantidade de sulcos no relevo, originados em épocas de chuvas intensas que escoam movendo materiais finos superficiais, que acabam sendo acumulados na planície de inundação do arroio Cadena. Na Portelinha, foi constatado que a área foi aterrada na época em que existia, no lugar, a olaria do Portela, para facilitar o escoamento da produção e evitar o alagamento da mesma. Para a produção de tijolos, a olaria extraía, nas proximidades do arroio Cadena, argila, pois a área encontra-se na Formação Santa Maria, que apresenta grande quantidade desse material na sua composição (NASCIMENTO, 2012). Após a retirada da argila, as cavas ficavam abertas, apresentando um grande risco para os moradores da área. A figura 11 (C e D) demonstra os alagamentos que ocorrem em períodos de cheia do arroio Cadena, alagando a Avenida Sol Poente, em períodos distintos. Oliveira (2004) declara que a vila Lorenzi apresenta problemas de “inundação/alagamentos provocados pelo barramento causado pela instalação de tubos de concreto mal dimensionados, fazendo com que essa área possua risco iminente”. (OLIVEIRA, 2004 pág. 130). Fernandes (2016) afirma que 3.645 pessoas, ou seja, 64% dos moradores do bairro Lorenzi estão inseridos nas áreas de alta e altíssima suscetibilidade à inundação, portanto uma população vulnerável a esse fenômeno.

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Figura 11 - Avenida Sol Poente - Vila Lorenzi, Santa Maria/RS em dois períodos distintos (C – D)

C D

C- Outubro de 2015 D- Outubro de 2016 Org.: SCALAMATO, A.T

Dessa forma, tais áreas apresentam modificações nas feições topográficas, impostas pelo homem que, ao se apropriarem do espaço, acaba por alterá-las em virtude de suas atividades e necessidades. Mas, a população, ao ocupar essas áreas, especificamente as de planície fluvial, acaba por sofrer as consequências das chuvas demasiadas que ocorrem, pois, nessas ocasiões, as águas extravasam o leito do rio e inundam as áreas adjacentes, gerando, com isso, sérios problemas sociais à população que ali vive.

5.3 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO OCUPACIONAL DA POPULAÇÃO ENTREVISTADA

A vila Lorenzi possui duas áreas de ocupações irregulares, a mais antiga (pós 1996) e a mais recente (2008) e, devido a esse processo de ocupação diferenciado, as duas comunidades foram entrevistadas separadamente, a fim de verificar as condições 64

socioeconômicas dos moradores e investigar a percepção da população em relação às alterações na paisagem.

5.3.1 Moradores da ocupação irregular da avenida Sol Poente

A ocupação irregular da vila Lorenzi está localizada na porção norte do bairro Lorenzi e foi a primeira área a ser ocupada. É uma área de planície fluvial, formada por depósitos recentes de origem de rochas sedimentares, que ocorrem principalmente, nos períodos de cheia. Os níveis altimétricos estão nas cotas de 68 metros a 76 metros, cuja declividade é inferior a 5%, sobre planícies fluviais do arroio Cadena. Para atingir o objetivo proposto, foram entrevistados 50 moradores da planície de inundação do arroio Cadena, perfazendo um total de 100. Como a área foi ocupada de forma ilegal, os moradores tiveram que providenciar suas moradias em barracas, assegurando, assim, um lote de terras. No primeiro momento, foram construindo suas moradias de madeira e, com o tempo, estas passaram a ser de alvenaria (figura 12).

Figura 12 - Residências localizadas na Avenida Sol Poente

Fonte: Trabalho de campo (julho/2016) Org.: SCALAMATO, A.T.’ 65

Os moradores da ocupação mudaram muito com o tempo, sendo que 40% dos entrevistados foram os primeiros moradores (pós 1996) e outros 60% compraram a casa construída de um conhecido. A área está em processo de regularização fundiária, e os moradores entrevistados não possuem documentos da casa, ou seja, a escritura. Na área comprada pela Prefeitura Municipal de Santa Maria, existem aproximadamente 100 residências e apenas 29 contribuem com Imposto Predial sobre Território Urbano (IPTU). Quanto ao tempo de moradia (figura 13), 48% dos entrevistados possuem mais de 15 anos e 52%, de 15 anos de moradia no local. Segundo os residentes entrevistados, alguns moradores mais antigos da localidade, assustados após a chacina que vitimou 6 jovens, no dia 03 de janeiro de 2001, foram embora da vila Lorenzi.

Figura 13 - Tempo de moradia na Avenida Sol Poente, vila Lorenzi,

30%

25%

20%

15%

10%

5%

0% 19 anos 18 anos 16 anos 10 anos 8 anos Menos 6 anos

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

As perguntas relacionadas à origem e à localidade do morador (figura 14), foram realizadas a fim de verificar os costumes, hábitos que eles acabam trazendo para o lugar e assim influenciando na configuração da paisagem. Como a área surgiu de uma ocupação irregular, a maioria dos moradores estão na localidade há pouco tempo e, com isso, a afinidade entre homem e natureza está em processo de construção.

66

Figura 14 - Procedência dos moradores da Avenida Sol Poente, vila Lorenzi, Santa Maria/RS

32% Moradores do município De outro município 68%

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

A maioria dos moradores do local é composta por pessoas provenientes do próprio município (68%), sendo cinco, do próprio bairro, dois, do bairro Passo das Tropas, três, das proximidades da Estância do Minuano, cinco, do bairro Urlândia, portanto das áreas adjacentes do bairro Lorenzi e dois de bairros mais distantes, um da vila Rigão e um do Alto da Boa Vista. De outros municípios, provêm 32%, sendo um de Júlio de Castilhos, um de Dilermando de Aguiar, um de São Martinho da Serra, dois de Porto Alegre e dois moradores do município de Formigueiro. Os dois moradores de Porto Alegre estão na vila Lorenzi há, aproximadamente, cinco (05) anos e moram no mesmo terreno. Os moradores foram questionados sobre a principal razão que os levou a morar naquela localidade. Para maioria, o principal motivo foi sair do aluguel ou da casa de parentes e, assim, possuir moradia própria. Os demais entrevistados alegam motivos diversos, como ficar mais próximo da cidade, o terreno ser maior; “não tinha onde morar, consegui a casa emprestada e estou aqui até hoje”; “troquei de casa, mas não entendi por que fiz isso. Hoje sofro com as enchentes”, “necessidade, ganhei um dinheiro e resolvi comprar a casa por um preço acessível”. 67

Uma das primeiras moradoras do local relatou que ganhou uma casa da Prefeitura, na época, para morar na vila Maringá, mas, quando soube da invasão da vila Lorenzi, resolveu retornar, fecharam um lote e, com o tempo, construíram a casa. Os moradores que vieram do município de Formigueiro alegam que a cidade de Santa Maria oferece mais oportunidade de emprego, mas que não perderam o vínculo com a cidade natal e frequentemente retornam para a casa de familiares. Em relação à faixa etária da população residente na localidade (figura 15), observou-se que a população jovem compreende 49%, adulta 44% e a idosa representa 7%. Desse total 57%, correspondem à população feminina e, 43%, à masculina.

Figura 15 - Faixa Etária e Sexo da população - Avenida Sol Poente

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

O nível de escolaridade é um importante indicador populacional e contribui para verificar diferenças entre a percepção de pessoas com maior e menor escolaridade sobre a configuração da paisagem. Com isso, observa-se (figura 16) que o nível de escolaridade se apresentou muito baixo, sendo que 67% com nível de ensino equivalente ao Ensino Fundamental Incompleto. Destes, 42% não estão estudando, e 25% matriculados na Escola Municipal de Ensino Fundamental CAIC ‘Luizinho de Grandi” que fica no próprio bairro, 68

4% com ensino fundamental completo; 13% possuem o ensino Médio Incompleto e, apenas, 4% possuem o Ensino Médio completo. As crianças com idade escolar de 03 a 06 anos, estão matriculadas na Escola Municipal de Educação Infantil “Luizinho de Grandi”, perfazendo 11%. Foi identificado ainda 1% de analfabeto, ou seja, um dos familiares dos entrevistados que possui mais de 60 anos.

Figura 16 - Grau de Escolaridade da população

Creche Analfabetos Ensino 11% 1% Médio Completo 4% Ensino Médio Incompl. 13% Ensino Fundamenat Ensino al Comp. Fundamental 4% Incomp. 67%

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Das pessoas entrevistadas, 36% possuem carteira assinada, 64% não possuem vínculo empregatício e realizam suas atividades em serviços gerais, como servente de obras, serviço de diaristas, auxiliar de cozinha, biscateiros entre outros. (figura 17)

69

Figura 17 - Vínculo empregatício

70%

60%

50%

40%

30%

20%

10%

0% Com carteira de Trabalho Sem carteira de trabalho

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Na figura 18, pode-se observar que, das 25 moradias visitadas, a renda familiar que prevalece é até 2 salários mínimos em 72% das famílias. Até 1 salário mínimo, corresponde 20% e, de dois a três salários mínimos, 8% das famílias. 40% das famílias são beneficiadas com Bolsa Família e quatro residências possuem aposentados, sendo que, em uma residência, a aposentadoria é a única forma de rendimento da família e, nas outras duas, complementam a renda familiar.

Figura 18 - Renda Familiar

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T. 70

No que se refere às condições de infraestrutura, todos os moradores da Avenida Sol Poente possuem energia elétrica proveniente da concessionária AES Sul. O fornecimento de água é realizado pela concessionária CORSAN em todas as residências. A rede de esgoto foi concedida com a obra do PAC, e 80% das residências despejam o esgoto diretamente na rede, mas 20% das residências ainda não ligaram o esgoto na rede e lançam seus dejetos a céu aberto nos fundos da casa. A avenida Sol Poente foi entregue pela Prefeitura Municipal de Santa Maria aos moradores no ano de 2011, e não previu a pavimentação asfáltica, impedindo, assim, a circulação do transporte público pela avenida. A rede de iluminação pública é precária, possuindo poucos postes de luz. Os moradores entrevistados alegam que infelizmente a “gurizada” da rua quebra as lâmpadas e que, à noite, fica muito difícil de sair de casa e/ou frequentar a escola. A coleta de lixo é realizada três vezes por semana e não se observa grande quantidade de lixo espalhado pela avenida. O local que possui maior quantidade de lixo é o final da avenida Sol Poente, onde se observa uma grande quantidade de sucatas. Os moradores entrevistados, por construírem suas residências em local impróprio, estão vulneráveis aos riscos geomorfológicos decorrentes da dinâmica fluvial como inundações. A maioria das residências são de alvenaria e foram construídas rente ao chão. A figura 19 (E – F) mostra casas construídas sobre a planície de inundação do arroio Cadena e, em razão dessa condição, os moradores passaram a aterrar seus terrenos, configurando nessa área uma transformação antropogênica, com o objetivo de conter o avanço da água em dias de chuva e utilizando, para isso, restos de materiais provenientes da construção civil.

71

Figura 19 - Residências com material de entulho - Avenida Sol Poente

E F

Fonte: Trabalho de campo (julho/2016) Org.: SCALAMATO, A.T.

A figura 20 mostra a última residência localizada no final da avenida Sol Poente, do dia 08 de outubro de 2015 (Diário de Santa Maria), quando ocorreram chuvas intensas na cidade (acima de 200 mm de chuva), e as águas do arroio extravasaram para as áreas marginais (planície de inundação), ocasionando inundação nas casas próximas, tendo as famílias que as abandonar até o leito do arroio voltar ao normal.

Figura 20 - Casa atingida pela inundação do arroio Cadena

Fonte: Diário de Santa Maria 09/10/2015 Org.: SCALAMATO, A.T. 72

As chuvas ocorrem com maior intensidade na cidade de Santa Maria no mês de outubro. Oliveira (2004), relata que esse fenômeno está relacionado com as prolongadas chuvas que ocorrem no final de setembro e se prolongam no mês de outubro, conhecidas, popularmente, como enchente de São Miguel. No ano de 2015, no período de 07 a 11 de outubro de 2015, choveu o acumulado de 280 mm, na cidade de Santa Maria, (média para o mês era 128 mm) conforme dados disponíveis no site do INMET2 e, dos dias 15 a 19 de outubro de 2016, o índice pluviométrico foi 269 mm, a média prevista para o período era 145 mm. A figura 21 mostra a inundação que ocorreu na Avenida Sol Poente no dia 18 de outubro de 2016.

Figura 21 - Inundação na Avenida Sol Poente

Fonte: Trabalho de campo (Outubro/2016) Org.: SCALAMATO, A.T.

2 INMET -Instituto Nacional de Meteorologia 73

As chuvas foram intensas nesse período, o que contribuiu para o extravasamento do leito do rio, causando inundação, que se agrava pela ausência de infraestrutura adequada para escoar o valor acumulado de águas pluviais.

5.3.2 Posicionamento em relação à percepção da paisagem – avenida Sol Poente

O segundo bloco de questões visou a compreender a influência da percepção dos moradores da área de ocupação irregular, com a paisagem. São descritas as respostas dos entrevistados sobre a percepção do seu espaço, os problemas enfrentados pelos moradores no seu dia a dia e a forma como isso interfere na paisagem. Ao perguntar sobre o motivo que os levou a morar na vila Lorenzi, as respostas foram as mais variadas como sair da casa dos parentes, sair do aluguel, ter a casa própria ou estar mais próximos do emprego. A partir de suas respostas, observou-se que as pessoas buscam uma moradia própria, embora esses espaços não possuam as condições ideais. Os pontos positivos, descritos pelos moradores da vila Lorenzi, correspondem a um lugar calmo, tranquilo e ao bom relacionamento entre os vizinhos. Alegam a segurança como um item importante, já receberam propostas de compra de suas casas, mas alegam que não saem da vila Lorenzi, pois podem trabalhar e deixar seus filhos sozinhos que os vizinhos reparam. Segundo relato dos moradores, a vila já foi mais violenta, mas hoje é tranquila. A maioria dos entrevistados não se imagina morando em outro lugar, gosta e sente-se acolhido. Com isso, nota-se que a percepção dos moradores é uma relação de pertencimento, embora tenham um tempo curto de vivência no lugar. Em relação aos pontos negativos de morar na vila Lorenzi, 28% elencam a falta de calçamento na avenida Sol Poente e, por isso, o ônibus não passa no local; 28%, o problema da inundação, 16%, a falta de emprego nas proximidades, 16%, falta de áreas de lazer para as crianças e, 12%, tudo de que necessitam é distante. A questão mais preocupante é a falta de oportunidade de emprego, pois 44% dos moradores possuem idade para estar no mercado de trabalho. 74

A Avenida Sol Poente, está localizada numa área de declividade média, em torno de 5% a 12%, a qual uma moradora expressa como ponto negativo, pois a água da chuva, que escoa por gravidade, alaga sua residência e, devido a tal situação, já teve que ficar longe de casa durante uma semana com medo de ficar doente. As enchentes que ocorrem em épocas de chuvas abundantes é um problema muito sério para alguns moradores, pois três relataram que já perderam tudo devido à inundação de suas casas, ocorrida no dia 08 de outubro de 2015, pela madrugada (por volta das 3 horas) quando alguns moradores tiveram que abandonar a casa e voltar três dias depois, quando a água baixou. Ao considerar a questão sobre o que deveria ser feito para melhorar as condições de vida da população da vila Lorenzi, os moradores relataram soluções diversas, tais como a melhoria das ruas para que o ônibus passe na avenida, a limpeza do arroio Cadena, pois acreditam que sofrem devido ao lixo do arroio. Também gostariam de que os moradores fossem mais unidos para reivindicar melhorias na vila e o investimento em cursos profissionalizantes para qualificar os jovens da comunidade. Na pergunta sobre a satisfação com a qualidade ambiental da vila Lorenzi, 76% responderam que não estão satisfeitos. Com a construção da avenida Sol Poente, um vereador esteve na rua e plantou árvores, mas os próprios moradores não cuidaram e elas não se desenvolveram. Eles alegam que, por falta de área de lazer, a gurizada joga bola nos canteiros, quebrando as mudas. Outro problema ambiental relatado é a quantidade de sucata que está em frente a uma casa (figura 22), numa área de inundação, e que o morador vendeu a casa e deixou o material por lá. Os moradores, próximos ao local, temem pela proliferação de mosquitos, devido à água parada nas latarias. Somente 24% da população está satisfeita com a qualidade ambiental da vila Lorenzi, pois cuida e faz o possível para manter a limpeza de seus pátios e a frente de suas casas. A população reconhece que a responsabilidade de manter a qualidade ambiental da vila Lorenzi é dos próprios moradores, principalmente a questão do lixo (armazenamento, recolhimento), mas reconhece que o Poder Público deve fazer a sua parte, verificando as reais necessidades da vila Lorenzi.

75

Figura 22 - Residência Avenida Sol Poente

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Quanto aos problemas do lugar, 40% da população relatou que é o processo de inundação, 12%, o lançamento de esgoto nos fundos das residências, falta de saneamento básico; 36% elencaram, como principal problema, o lixo que pode entupir as bocas de lobo, devido ao seu acúmulo (figura 23) e, com as chuvas, o esgoto transborda e, 12%, animais abandonados (cachorros) que rasgam os sacos de lixo, pois, muitas vezes, é depositado antes do caminhão passar.

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Figura 23 - Boca de lobo Avenida Sol Poente

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Sobre a melhoria da paisagem da vila Lorenzi, 48% elencaram que o plantio de árvores iria tornar o lugar bonito e agradável, 24%, a pavimentação das ruas, assim, o ônibus poderia passar na comunidade e as ruas não iriam ficar cheias de buracos, 20%, iluminação pública e 8% responderam que, para melhorar a paisagem, seria necessário o recolhimento do lixo na frente das casas ou os depósitos nos dias e horários corretos. Na questão sobre inundação, 60% dos entrevistados responderam que a última inundação que aconteceu na vila Lorenzi atingiu suas casas, devido às chuvas intensas, como as ocorridas nos meses de outubro e tiveram que abandoná-las, abrigando-se na casa de familiares até a água baixar. Uma das moradoras relatou que ficou 16 dias fora de casa, perdeu tudo e teve que contar com a solidariedade dos vizinhos – sentiu-se “impotente”, pois, quando a água baixou, teve que jogar tudo fora, não deu para aproveitar nada, devido ao cheiro de esgoto que “impregnou” em tudo, até na madeira da casa, principalmente o assoalho de madeira (figura 24 – G e H). Os moradores relataram que não têm medo de saque, mas temem pela saúde.

77

Figura 24 - Casa atingida pela inundação do arroio Cadena

G H

Fonte: Diário de Santa Maria 09/10/2015 Org.: SCALAMATO, A.T.

Observa-se, assim, que os moradores percebem os problemas com a inundação de suas residências e, na medida do possível, procuram resolver o problema aterrando seus terrenos, como demonstra a figura 25, uma área de colina suave que, devido à inclinação ser menor que 5%, a moradora precisou aterrar sua casa para que a água da chuva não ficasse acumulada em seu pátio.

Figura 25 -Residência numa vertente suave

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T. 78

Na questão sobre se estar morando nesse local contribui para a inundação, 44% responderam que não. Os mesmos atribuem à força da natureza, mas associam à grande quantidade de lixo no arroio Cadena, 56% disseram, sim, as pessoas que constroem suas casas em áreas irregulares e uma moradora comenta, “que a natureza tem o seu espaço e as pessoas estão muito próximas e com isso sofrem com a inundação”. A população da área de ocupação percebe que é um agente que contribui para a inundação do local, atribuindo, como principal responsável por esse processo, a grande quantidade do lixo encontrado no arroio Cadena. A pergunta seguinte foi sobre jogar lixo no arroio Cadena, e 70% responderam que não jogam lixo e uma moradora relatou que, inclusive, já retirou lixo do arroio. 30% responderam que, sim, principalmente na época das inundações. A população muitas vezes não percebe que o lixo lançado por eles ou por moradores a montante pode contribuir para o transbordamento das águas das planícies de inundação. O terceiro bloco de perguntas sobre o posicionamento em relação ao poder público municipal na vila Lorenzi, 64% dos moradores responderam que é ruim, poucas melhorias são realizadas e que aparecem para ver os problemas da comunidade somente em ano eleitoral. Um morador relatou que, quando ocorreu a enchente de 2015, um vereador apareceu na comunidade, ajudou no que foi possível e, depois, não apareceu mais. 36% disseram que é regular, poderiam aparecer mais vezes e contribuir para as melhorias no bairro. Percebe-se, com isso, que o poder público é visto pelos moradores da comunidade como um auxiliador dos problemas, mas não como aquele que deveria evitar que tais problemas ocorressem. No dia 15 de julho de 2016, na realização das entrevistas, uma moradora estava passando nas residências, convidando os moradores para um encontro com um candidato à Prefeitura Municipal de Santa Maria e comentou que, se não aproveitasse aquela oportunidade, depois seria mais difícil. Na questão sobre se acreditam que a organização das pessoas da comunidade pode contribuir para a melhoria da qualidade ambiental da vila Lorenzi, 92% dos moradores responderam que sim e, como sugestões, propõem não jogar lixo na rua para não entupir as bocas de lobo para não ter problemas com os mosquitos e, 79

também, a construção de uma área verde. Os 8% não acreditam na organização das pessoas para a melhoria da qualidade ambiental do local. Questionados sobre a responsabilidade de manter a paisagem, 72% responderam que é coletiva, “Todos devem ter o pensamento coletivo” – “todos devem ter a preocupação de manter a paisagem em harmonia”. E 28% acreditam que a responsabilidade é individual, “Cada um deve fazer a sua parte e o resultado será coletivo”. A partir desses dados, observa-se que os moradores da avenida Sol Poente já possuem uma infraestrutura necessária para a moradia, restando apenas adequar seus terrenos para que não sofram com as inundações, mas sem provocar uma desarmonia na paisagem.

5.3.3 Ocupação irregular da Portelinha

A ocupação irregular da Portelinha está localizada na porção noroeste da vila Lorenzi e faz divisa com a Estação de Tratamento de Esgoto da Corsan (ETE). Essa comunidade possui, aproximadamente, 80 famílias sendo que 61 famílias têm suas residências construídas na planície de inundação do arroio Cadena, numa altitude de 68 metros a 76 metros, com declividade menor que 5%. Foram entrevistadas 25 residências englobando 100 pessoas, correspondendo a uma média de 4 habitantes por residência. Em relação à posse dos lotes, os 25 entrevistados não possuem escrituras dos terrenos, pois a área é uma ocupação irregular. Conforme relato de antigos moradores, a área teve o processo de ocupação a partir de 2008, o que demonstra o pouco tempo de moradia no local. A maioria da população, 56% dos entrevistados, vive no local de 5 a 8 anos, 24% têm de 1 ano a 5 anos de moradia e 16% menos de 1 ano, como pode observar na figura 26.

80

Figura 26 - Tempo de moradia na Portelinha

60%

56% 50%

40%

30%

20% 24%

16% 10%

4% 0% Mais de 30 anos Menos de 1 ano De 1 ano a 5 anos De 5 anos a 8 anos

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

O pouco tempo de moradia no local é um indicador de que os moradores ainda estão se adequando ao espaço, realizando alterações, e, o que é mais perigoso, sem um planejamento, um acompanhamento técnico. Por não possuírem outra área para morar, não querem saber se o local é apropriado, querem resolver o seu problema mais imediato, no momento, o da moradia. O morador mais antigo do local é um ex-funcionário da olaria Portela e relata, que “quando chegou na vila, não existiam tantas casas, a população estava concentrada na parte mais alta” e que a ocupação ocorreu de uma hora para outra, sem um controle. Em relação ao tipo de moradia, observou-se o predomínio de casas de madeira, conforme figura 27, as moradias de alvenaria representam 12%, e as casas mistas, 24%.

81

Figura 27 - Tipo de moradia na Portelinha

Alvenaria 12%

Mista 24%

Madeira 64%

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Observa-se na área o predomínio de casas de madeira (figura 28 – I e J), e alguns moradores relatam que não investem na casa, pois reconhecem que estão numa área irregular e temem que, a qualquer momento, podem ter de sair do local. Um morador relatou: “fica mais fácil desmanchar e não perdemos dinheiro”.

Figura 28 - Moradias localizadas na Portelinha

I J

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T

82

Nessa área, conforme o morador mais antigo, para facilitar a circulação de caminhões ou até mesmo expor as pilhas de tijolos na olaria, foi necessário aterrar o lugar (figura 29 – k e L), pois, em épocas de chuvas intensas, a área sofria com inundações. As moradias construídas nas proximidades da antiga olaria se beneficiaram dessa estrutura e poucas enfrentam o risco de inundação.

Figura 29 - Olaria Portela e moradias construídas na antiga estrutura da olaria

K L

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Quanto à pergunta sobre a propriedade da residência, os vinte e cinco entrevistados responderam que a casa “é própria”, sendo que 40% dos moradores ocuparam o terreno e construíram as casas, e 60% compraram a residência dos antigos moradores que foram embora do local. Os principais motivos alegados para estarem nesse local foram os mais diversos, como divergências com vizinhos em outro bairro, por necessidade, foi o que o dinheiro possibilitou comprar no momento, sair do aluguel e/ou ter casa própria. Quanto à origem dos moradores, (figura 30) 84%, são provenientes do município de Santa Maria, sendo que 32% são do bairro Lorenzi e 52% provenientes de diferentes bairros do município como Minuano, Urlândia, Passo das Tropas, Alto da Boa Vista e . São provenientes de outros municípios, 16% dos moradores, como de Caçapava do Sul, São Sepé e Porto Alegre. 83

Nota-se, com isso, que a maioria dos moradores são provenientes de bairros periféricos da cidade, portanto, possuem um conhecimento da paisagem do lugar.

Figura 30 - Origem dos moradores da Portelinha

90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Município De outro Bairro Lorenzi Bairros municipio Distantes

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

A maioria da população da Portelinha é considerada adulta (50%); desta 50% é composta de mulheres e 50% de homens; 44% é jovem, sendo 52% meninas, 48% meninos e 6% são idosos, com quatro homens e uma mulher. A figura 31 demonstra essa distribuição e, conforme dados da entrevista, existe uma igualdade entre população feminina e masculina, na faixa etária adulta, e uma pequena diferença entre mulheres e homens jovens. A população masculina idosa é maior que a feminina e constatou-se que, em três residências, os homens idosos moram sozinhos.

84

Figura 31 - Faixa etária da população Portelinha

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

O grau de escolaridade é um importante indicador, pois possibilita verificar o grau de conhecimento da população e de que maneira esse conhecimento permite realizar melhorias no espaço, influenciando desse modo na transformação da paisagem, de forma positiva ou negativa. Nesse sentido, a escolarização, (figura 32), apresentou-se de forma bastante comprometedora, pois, à medida que a população não possui estudo, acaba por não conhecer muito bem quais são as medidas de proteção ambiental, o que compromete a qualidade ambiental do lugar, que já enfrenta o problema de falta de infraestrutura. A maioria das pessoas (68%) não possui o ensino fundamental completo, dessas, cerca de 42%, não frequenta a rede escolar, pois não possui idade (menor de 3 anos) ou por ter abandonado os estudos, e 26% estão matriculados na E.M.E.F CAIC ‘Luizinho de Grandi”; 2% estão frequentando o ensino médio e 7% são analfabetos, sendo uma do sexo feminino, com 27 anos, e os demais do sexo masculino, que são idosos. Um morador da comunidade está cursando Educação Física na Universidade Federal de Santa Maria.

85

Figura 32 - Grau de escolaridade da população residente na Portelinha

68%

8%

7% 7%

6%

2% 2%

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Dos moradores entrevistados, 60% são trabalhadores sem carteira de trabalho que desenvolvem suas atividades econômicas no mercado informal, como auxiliar de limpeza, serviços gerais, cozinheira e pedreiro; e somente 40% desenvolvem suas atividades com vínculo empregatício. Na Portelinha, foram identificados três mercados pequenos, cujos proprietários são credenciados pelo SEBRAE3 para a realização de suas atividades. Quanto à situação econômica dos moradores (tabela 3), 64% das moradias possuem 1 pessoa para sustentar a casa, 28% possuem 2 pessoas que contribuem para o rendimento familiar e 8% possuem 3 pessoas que ajudam na renda familiar. 44% das famílias recebem até 1 salário mínimo, demonstrando que se trata de uma população de classe baixa à média-baixa, com recursos financeiros limitados.

3 SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. 86

Tabela 3 - Contribuintes no rendimento familiar e Renda mensal

Nº de contribuintes no rendimento familiar Porcentagem

1 pessoa 64%

2 pessoas 28%

3 pessoas 8%

Renda Mensal (salário mínimo R$880,00) Porcentagem

Até 1 salário 44%

Até 2 salários 40%

De 2 a 3 salários 16%

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

A maioria das famílias, (64%), relatou que não recebe benefícios do Governo Federal, como bolsa família e bolsa escola, e os outros 36% responderam que sim, compondo uma média de R$206,00 por família. A Portelinha é uma área de ocupação irregular recente e existe uma ação na justiça movida pelo proprietário da área e, devido a isso, a área não possui infraestrutura adequada, o que não garante uma qualidade de vida e ambiental à população, que enfrenta uma série de dificuldades, pois não possui energia elétrica e água encanada, a não ser na forma clandestina (figura 33 – M e N). As moradias mais próximas às margens do arroio Cadena são as que mais sofrem com a falta d’água, pois, no verão, chegam a ficar de 2 a 3 meses sem água, tendo que armazenar em recipientes.

87

Figura 33 - Infraestruturas irregulares – Portelinha

M N

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

O saneamento básico é inexistente. Embora se localize ao lado da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE), 92% dos residentes lançam seus esgotos a céu aberto, e 8% possuem fossa; o principal receptor do esgoto da área de ocupação irregular é o arroio Cadena. O acesso até a Portelinha é precário (figura 34 – O e P), a principal rua de acesso é de chão batido e, a cada chuva, aumentam os sulcos no solo, devido à declividade do terreno. Para melhorar o acesso até suas casas, a população coloca cargas de entulho nas ruas para facilitar a circulação de pessoas ou dos carros. Essas cargas de entulho são compradas pelos moradores e espalhadas em forma de mutirão.

88

Figura 34 - Acesso às residências na Portelinha

O P

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

A iluminação pública não existe, alguns moradores se organizaram e colocaram lâmpadas em alguns postes na frente de suas residências. A coleta de lixo é realizada três vezes por semana, mas observa-se muito lixo nas ruas, como pode ser visto na figura 35 (Q e R). O caminhão de coleta do lixo não passa nas ruas próximas ao arroio Cadena e, devido a distância, alguns moradores relataram que queimam seu lixo nos fundos de casa.

Figura 35 - Lixo próximo as moradias e arroio Cadena.

Q R

Fonte: Trabalho de campo – 2016 Org.: SCALAMATO, A.T. 89

A Portelinha, por não ser uma área regularizada, requer muitos investimentos em infraestrutura, em todos os segmentos, inclusive a limpeza do arroio Cadena, que apresenta grande quantidade de lixo. A Portelinha apresenta um terreno com facilidade erosiva, formando caneluras nos barrancos e ravinas nas proximidades das estradas devido à retirada da vegetação e ao tráfego de automóveis e carroças no local. A área passou por um processo de transformação geomorfológica recente, iniciando com o aterro na olaria Portela, e atualmente, com os entulhos colocados pelos moradores nas vias de acesso à comunidade e, com isso, as inundações não atingem a área com intensidade.

5.3.4 Posicionamento em relação à percepção da paisagem – Portelinha

Nessa etapa da pesquisa, procurou-se compreender como os moradores influenciam e se relacionam com a paisagem da vila Lorenzi. Eles foram indagados sobre os pontos positivos de morar na vila Lorenzi, e as respostas foram as mais variadas, 60% relataram que o lugar é tranquilo, calmo, que gostam e que os vizinhos contribuem para esse gostar do lugar, 20% dizem que estão no local por necessidade, pois investiram aí construindo seus mercados o que lhes garantem um rendimento; 10% por causa do posto de saúde “Oneyde de Carvalho”, pois precisam de tratamento médico e 10%, sendo uma moradora que foi muito clara em dizer que, “não gosta do lugar e depois da chacina, que perdeu amigos, o lugar ficou triste, sem sentido”. Quando o morador relata seus sentimentos em relação ao lugar, principalmente que gosta, é um indício de que criou um vínculo e, com isso, desenvolve o sentimento de pertencimento, que “significa que precisamos nos sentir como pertencentes a tal lugar e, ao mesmo tempo, sentir que esse tal lugar nos pertence”, acreditando, dessa forma, que pode interferir nos rumos do lugar. (BOTELHO in GUERRA/2011, pág. 79) Quanto aos pontos negativos de morar na comunidade, os entrevistados relataram que a Portelinha poderia ter investimentos em infraestrutura, (calçamento, iluminação pública e saneamento básico) e também em segurança, pois acreditam que é um problema geral do município de Santa Maria. 90

A Portelinha está localizada numa área muito afastada da BR-392 e, para a população deslocar-se até o centro, tem que ir até a referida rodovia para “pegar” um ônibus. Devido a isso, um dos pontos negativos mais relatado, é que tudo de que necessitam fica distante, como um mercado maior, farmácia, o posto de saúde, a escola e o trabalho. Quando chove, a situação fica mais complicada ainda, devido ao barro que se forma nas ruas. Outro aspecto negativo da área, relatado pelos entrevistados, é o problema com inundação, que alaga os pátios. Uma moradora relata que nos fundos de sua casa, era o local de onde extraíam barro para a produção de tijolos e que há lugares com 15 metros de profundidade. Considerando a questão que solicita aos entrevistados o que deveria ser feito para melhorar as condições de vida da população da vila Lorenzi, os mesmos elencaram, como o item principal, a melhoria na infraestrutura. Mas entende-se que, para essa melhoria ocorra, é necessária a legalização da área, mas os moradores do local não elencaram como um problema a ser solucionado. Quanto à satisfação com a qualidade ambiental da vila Lorenzi, 76% responderam que não estão satisfeitos, devido à grande quantidade de lixo, jogado na rua ou até mesmo no arroio Cadena. Os moradores relataram que o lixo é colocado dias antes do caminhão passar para realizar a coleta e que os cachorros acabam rasgando e espalhando-o pelas ruas e 24% estão satisfeitos com a qualidade ambiental na vila Lorenzi. Na pergunta sobre a melhoria da paisagem da vila Lorenzi, 59% responderam que o item mais importante seria a pavimentação da rua, pois os moradores acreditam que assim o ônibus passaria nas proximidades, com 21%, os moradores elencaram o recolhimento do lixo, sendo que o caminhão passa três vezes por semana e o que está faltando para os moradores é responsabilidade em colocar o lixo no local adequado e no dia certo, para que não fique espalhado pelas ruas. E, para 20% dos entrevistados, seria a iluminação pública, Em relação à responsabilidade de melhorar a paisagem do lugar, 76% disseram que é coletiva, sendo que, na fala de um dos entrevistados, “não adianta um fazer e os 91

demais jogar o lixo no chão”. 24% alegam que é individual, “cada um deve fazer sua parte, sem olhar se o outro faz ou não”. Geomorfologicamente, pode-se afirmar que a área sofreu transformações com os aterros que foram sendo colocados para elevar o nível do terreno e, 60% da população disseram não ter problemas com inundações, mas 40% disseram que sim, alguns moradores relataram que suas casas alagam parcialmente, pois, ao construí-las, foram alertados pelos moradores antigos do risco de inundações, e por isso, procuram aterrar ou construir na forma de palafitas (figura 36 S – T).

Figura 36 - Moradias da Portelinha

S U

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Os moradores da Portelinha (72%) acreditam que estar morando nesse local não contribui para o processo de inundação. Alegam que a força da natureza é a responsável, e 28% acreditam que sim, que as ocupações irregulares interferem no processo de inundação de forma indireta, pois, ao colocarem lixo no arroio Cadena, irão contribuir para o processo de inundação. Um morador, dono de um mercadinho, relatou que está sempre limpando a frente do mercado para que o lixo não seja transportado para o arroio Cadena. Os moradores foram questionados se já tiveram necessidade de jogar lixo no arroio Cadena. 100% responderam que não. Uma moradora relatou que seu cano do esgoto “vai” direto para o arroio Cadena. 92

A terceira parte da entrevista faz referência à atuação do poder público no local. Dessa forma, 100% dos moradores disseram que é ruim, não há melhorias e que os gestores públicos pouco aparecem para solucionar os problemas da comunidade. Duas moradoras, ao serem questionadas sobre a atuação do poder público, responderam que eles realmente não podem fazer nada porque a ocupação é ilegal. Os entrevistados responderam à pergunta referente à participação na organização das pessoas para a melhoria da qualidade ambiental da comunidade, sendo que todos os moradores responderam que deveriam ser mais unidos, para a realização das melhorias do local, como trocar um poste, colocar brita, melhorar a rua, recolher o lixo etc., e que ficaria mais fácil reivindicar alguma coisa com a união de todos, como no caso da realização de um abaixo-assinado para a legalização da área. Quando questionados sobre se existe algo que gostariam de modificar na paisagem do lugar onde vivem, responderam que a comunidade precisa de calçamento, para que o ônibus chegue mais próximo e que o correio entregue as correspondências, pois têm que colocar o endereço de outras pessoas para receberem suas correspondências. Observou-se que nenhum morador da área de ocupação elencou, como algo a ser modificado na paisagem, a questão da infraestrutura, água encanada, rede de esgoto, uma vez que a comunidade está ao lado da ETE - Corsan e o abastecimento de energia elétrica. Durante a aplicação das entrevistas, observou-se que predominam as casas de madeira e sem pintura, o que demonstra o baixo poder aquisitivo da população, e que os pátios das residências não são bem cuidados, alguns, inclusive, com lixo. As condições das ruas da Portelinha são de difícil acesso, sem um limite especifico, com entulho e, quando chove, surgem sulcos na rua e com muito barro (figura 37 U – V).

93

Figura 37 - Ruas de acesso a ocupação da Portelinha

U V

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Destacam-se as ocupações muito próximas à planície de inundação do arroio Cadena, demonstrando que a população não respeita as leis como as APPs (Áreas de Preservação Permanente) e constrói suas moradias em áreas impróprias como se observa na figura 38 (X – Z).

Figura 38 - Moradias situadas nas margens do arroio Cadena e sujeitas a inundações

X Z

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

94

Ainda se encontra uma área desocupada na planície de inundação (figura 39), mas que requer atenção do proprietário e da fiscalização dos Órgãos Públicos, a fim de coibir o avanço das moradias nesse local.

Figura 39 – Planície de inundação na ocupação da Portelinha

Fonte: Trabalho de campo - 2016 Org.: SCALAMATO, A.T.

Observa-se, assim, que os moradores, passam por muitas dificuldades no lugar, pois não possui infraestrutura e que tudo do que necessitam é muito distante, mas, mesmo assim, preferem permanecer ali, pois têm uma moradia e gostam do lugar, firmando assim um laço afetivo.

95

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho procurou realizar um resgate histórico do espaço urbano para que assim fosse possível compreender as desigualdades que existem ali existe, o qual, geralmente, possui um centro privilegiado, dotado de infraestrutura, e uma periferia irregular que não possui investimento público e que recebe, cada vez mais, população sem condições financeiras de adquirir um espaço nas áreas mais centrais. Ao ocupar os espaços urbanos, o homem provoca modificações na paisagem do lugar. Essas alterações são percebidas na vila Lorenzi, verificadas a partir da elaboração dos dois mapas da expansão urbana (2004 e 2015), que, num período de 11 anos, apresentaram alterações significativas. A partir da descrição geomorfológica, verificou-se que a vila Lorenzi encontra-se na Depressão Periférica Sul-rio-grandense, com topografia suave, marcada pela presença de colinas e alongando-se para as áreas de planície fluvial. Essas características permitiram o processo de expansão urbana na área de estudo, observando-se que o processo de ocupação irregular se iniciou nas áreas de colinas suaves e, posteriormente, expandiu-se para as áreas da planície fluvial, ocupando a margem esquerda do arroio Cadena. Durante o processo de ocupação, compartimentos do relevo foram modificados, à medida que ocorra a expansão urbana. Porém observa-se que a área mais alterada foi a planície fluvial do arroio Cadena, onde a expansão urbana sobre o relevo representa um risco para a planície, pois a população retira a vegetação e aterra o terreno, fazendo com que essa mesma população sofra a influência dessas alterações, com as inundações no local. As ocupações da vila Lorenzi, assim como no Brasil, ocorreram devido à falta de alternativa da população de baixa renda, a qual, não possuindo condições de comprar um lugar com infraestrutura, acaba por construir suas moradias em locais impróprios e sem as condições necessárias para um bom padrão de vida. A vila Lorenzi conta com duas ocupações. A primeira, a da avenida Sol Poente, que era uma área do município de Santa Maria, o qual doou os lotes aos moradores, investindo na área, no ano de 2008, através do Programa de Aceleração do 96

Crescimento (PAC), oferecendo infraestrutura necessária para melhorar a qualidade de vida da população. A segunda ocupação irregular é a da Portelinha, cuja a população vive até hoje sem as condições ideais para moradia. As duas ocupações da Vila Lorenzi apresentam diferenças, como no tipo de moradia, sendo que, na Avenida Sol Poente, predominam casas de alvenaria e mistas. No ano de 1996, quando ocorreu o primeiro processo de invasão na vila Lorenzi, as moradias foram construídas de madeira, mas à medida que a população foi adquirindo infraestrutura no local e a certeza de que não perderiam suas casas, estas foram sendo substituídas por construções de alvenaria. Na Portelinha, o que se nota é o predomínio de casas de madeira, inclusive com cercas de madeira. Nessa área, como se trata de um processo de ocupação de uma propriedade particular, observa-se o baixo investimento nas residências, porquanto existe um litígio na justiça, e os moradores temem ter que desocupar a área. Na ocupação da avenida Sol Poente, 60% do rendimento das famílias está acima de 2 salários mínimos, enquanto, na Portelinha, a maioria dos moradores possui rendimento de até 1 salário mínimo. Compreendem-se, assim, os motivos que levaram essa população a morar em lugares impróprios para moradias, como a planície de inundação Em relação a essa diferenciação, observa-se que os moradores enfrentam riscos geomorfológicos diferenciados, uma vez que as moradias localizadas na avenida Sol Poente estão em terrenos em vertentes com certa declividade e na planície de inundação do arroio Cadena (terrenos muito planos). Ainda, enfrentam o processo de inundação e a alta umidade em seus terrenos. Com isso, acabam por alterar a paisagem, pois recorrem à prática de aterros para resolver o problema. Os moradores da Portelinha vivenciam o alagamento de seus terrenos, mas de intensidade menor, devido ao aterro que foi consolidado quando existia a olaria Portela e, a fim de não sofrerem maiores danos, constroem suas casas em forma de palafitas, altas do chão, evitando a umidade do terreno. Dessa forma, os moradores entrevistados percebem a relação entre a pluviosidade e o processo de inundação com umidade de seus terrenos e procuram resolver o problema aterrando os mesmos ou construindo casas altas do chão. 97

As características semelhantes, encontradas nas duas áreas, correspondem ao principal motivo de morar na vila Lorenzi, porquanto os moradores elencaram a necessidade de sair do aluguel ou da casa dos parentes e assim possuir a própria casa. O grau de escolaridade das duas ocupações é um item preocupante, que merece grande atenção, visto que as duas áreas entrevistadas demonstram um baixo nível de escolaridade. A maioria da população não possui o ensino fundamental completo, o que reflete no tipo de ocupação que exercem, estando empregados no setor terciário informal. O perfil educacional apresenta reflexo na percepção dos moradores e na configuração da paisagem, observando-se, com isso, a falta de cuidado que a população possui com o meio ambiente, uma vez que se verificou uma grande quantidade de lixo nas ruas e próximo ao arroio Cadena, principalmente, nas adjacências da Portelinha. Assim, como os problemas são diferenciados e as características socioeconômicas e ocupacionais são peculiares de cada área de ocupação, as entrevistas e a visita ao local demonstram que todos possuem consciência dos riscos que enfrentam, mas não compreendem que estão alterando o relevo do local consequentemente. Embora a população da vila Lorenzi passe por diversos problemas, como, alagamento de suas casas, distância de tudo de que necessitam e falta de infraestrutura, possui um sentimento de afetividade com o lugar e procura dessa forma, adequar o ambiente aos seus interesses e bem-estar. Verificou-se que o poder público realizou melhorias na avenida Sol Poente, visto que era uma área pública (de propriedade do Município), e recebeu investimentos através do Programa de Aceleração para o Crescimento (PAC). Mas isso não significa que o projeto trouxe melhorias consideráveis para a população residente, já que a obra foi entregue sem garantir melhorias para os moradores, como calçamento, impedindo, assim, a passagem do transporte coletivo, uma reinvindicação da população. Em relação ao nível de organização da comunidade na melhoria da qualidade ambiental, os moradores relatam que poderiam ser mais unidos na questão do lixo, cuidar para não entupir as bocas de lobo e com o cuidado com a limpeza de seus próprios pátios. 98

Eles sentem a ausência dos órgãos públicos na comunidade, sentem-se abandonados em relação às melhorias de que necessitam. Embora seja um direito deles contar com a ajuda do poder público, reconhecem que deveriam ser mais unidos para reivindicar as melhorias no local. Com base no trabalho desenvolvido, percebe-se que o conhecimento geomorfológico da área é indispensável para conhecer as particularidades do relevo e, assim, planejar o processo de ocupação, além de verificar os principais problemas decorrentes da ocupação irregular. Além disso, a área merece atenção dos órgãos públicos na questão do planejamento urbano, com vista a regularizar a ocupação e não permitir um crescimento que altere a paisagem. A presente pesquisa buscou respostas sobre a percepção dos moradores da ocupação irregular da vila Lorenzi na configuração da paisagem, para isso, verificou-se que os moradores conhecem os problemas da vila Lorenzi, realizam alterações na paisagem visando ao seu bem/interesse próprio e não possuem uma preocupação com a harmonia dessa paisagem. Além disso, observou-se que os moradores não são unidos para buscar as melhorias necessárias para uma qualidade de vida na vila Lorenzi e, para que isso ocorra, faz-se necessário um trabalho coletivo entre os diversos setores da comunidade, mas especialmente dos moradores locais em compreender que habitam numa bacia hidrográfica que compõe o todo de um sistema e que, para a harmonia dessa paisagem, dependem das suas ações nesse espaço. 99

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ANEXOS

ANEXO A

SUBSEÇÃO II DO BAIRRO LORENZI

Art. 38. Denomina-se Bairro Lorenzi a unidade de vizinhança da R.A. Sul, cuja delimitação inicia no ponto extremo-sul da divisa da Vila Urlândia, com a canalização do Arroio Cadena, segue-se a partir 106

daí pela seguinte delimitação: linha reta de projeção que parte deste ponto com o ponto extremo-oeste da divisa norte da E.T.E. (CORSAN); divisa norte desta, no sentido nordeste; sanga afluente do Arroio Cadena, no sentido a montante, passando pelo norte da Vila Lorenzi; eixo da Rodovia BR-392, no sentido sul; eixo da Estrada Municipal Vergílio Da Cás, no sentido oeste, contornando para Norte; eixo da Estrada Municipal Antônio Ovídio Severo, no sentido oeste; linha de Projeção que parte, no sentido oeste, do extremo oeste do eixo desta última estrada, até o eixo da canalização do Arroio Cadena; eixo desta canalização, no sentido a montante, até encontrar o extremo-sul da divisa da Vila Urlândia, início desta demarcação.

Parágrafo único. O Bairro Lorenzi contém as seguintes unidades residenciais: I - LORENZI - Toda a área do perímetro deste Bairro sem denominação específica;

II – VILA BOM JESUS - A unidade residencial urbana que limita com a Rua Adelmo Genro Filho, ao norte; BR-392, a nordeste, e a Rua da ABS, ao sudeste;

III - VILA LORENZI - A unidade residencial urbana que limita com uma sanga afluente do Arroio Cadena, Vila Quitandinha, o fundo dos lotes que confrontam ao norte para a Rua Olga Parcianello Lorenzi, e a Rua Valdemar Coimbra, a oeste;

IV -VILA QUITANDINHA- A unidade residencial urbana que limita com uma sanga afluente do Arroio Cadena, BR-392, Vila Santo Antônio e Vila Lorenzi;

V - VILA SANTA RITA DE CÁSSIA - A unidade residencial urbana que limita com o fundo dos lotes que confrontam ao sul com a Rua Rondônia, BR – 392, Rua Adelmo Genro Filho e o fundo dos lotes que confrontam a leste com a Rua Amapá;

VI - VILA SANTO ANTÔNIO - A unidade residencial urbana que limita com a Vila Quitandinha, BR- 392 e Vila Santa Ritade Cássia;

VII- VILA SEVERO- A unidade residencial urbana que confronta com a Estrada Municipal Francisco Viterbo Borges e dista a 380 metros ao sul da BR – 392;

VIII-VILA TAVARES- A unidade residencial urbana que limita a oeste com a propriedade da CORSAN (E.T.E.) e cujos lotes confrontam com a Rua Dom Atalício T. Pthan.

ANEXO B

Este questionário é parte integrante do projeto “Proposta de Metodologia para Avaliação da “A Percepção Dos Moradores Na Configuração Da Paisagem Da Vila Lorenzi, Santa Maria/RS: Estudo nas ocupações Portelinha e Sol Poente” desenvolvido pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Observações: 107

1. Poderão responder este questionário as pessoas maiores de 16 anos 2. O questionário deve ser aplicado nas residências dos moradores.

I. Características Sócio Ocupacionais

Perg 1. Incluindo você, quantas pessoas moram nesta casa? ______Perg 2. Há quanto tempo (em anos) você mora nesta casa? ______Perg 3. Sua casa é: (LER AS OPÇÕES) 3 Cedida 1 Própria 2 Alugada

Há quanto tempo é morador no local: ______

Perg 4. Onde você morava anteriormente? a) No mesmo bairro, mas em outra casa 1 b) Em outro bairro 2 c) Em outro município 3 d) Sempre morou na localidade 4

Perg 5. Qual o parentesco, idade e escolaridade das pessoas que moram nesta casa? (EM RELAÇÃO AO ENTREVISTADO) Nome Sexo Idade Escolaridade

Perg 6. Qual a sua principal ocupação? (LER AS OPÇÕES) a) Empregado(a) com carteira assinada 1 b) Empregado(a) sem carteira assinada 2 c) Funcionário Público 3 d) Proprietário Rural 4 e) Estudante 5 f) Autônomo 6 g) No momento estou sem ocupação 7 h) Do lar 8 108

i) Aposentado 9 j)Outro:(ANOTAR)______10

Perg 7. Quantas pessoas contribuem na renda familiar? 3 4 5 ou mais 1 1 pessoa 2 2 pessoas 3 4 5 pessoas pessoas pessoas

Perg 8. Contando com todos os membros da família que colaboram financeiramente, qual a renda mensal em salários-mínimos da casa: (LER AS OPÇÕES) (O SALÁRIO NACIONAL EQUIVALE A 788 REAIS). Até 1 3 2 a 3 4 a 6 7 a 10 Mais de 10 1 2 Até 2 SM 3 4 5 SM SM SM SM SM

Perg 9. Alguém na família é beneficiado com auxílio do governo federal como bolsa família, bolsa escola, etc. Quantas pessoas?______

Perg 10. Sua casa possui qual tipo de rede de esgoto? a) ligado à rede s/fossa 1 b) à céu aberto 2 c) ligado à rede c/ fossa 3 d) latrina 4

Perg 11. A energia elétrica utilizada para consumo da família é proveniente de qual fonte? a) AES Sul 1 b) cedida 2 c) clandestina 3 d) não possui 4

Perg 12. Sua rua possui iluminação pública? a) Não 1 b) Sim 2

Perg 13. A água utilizada para consumo da família é retirada de qual local? a) rede encanada 1 b) córrego 2 c) poço artesiano 3 d) outro 4

Perg 14. A sua rua possui coleta de Lixo? a) Não 1 b) Sim 2 109

c) Quantas vezes por semana

II. Posicionamento em relação a Paisagem

Perg 15. Qual é a principal razão que o levou a morar nesta localidade:______Perg 16. Na sua avaliação, qual o principal ponto positivo de morar na Vila? ______

Perg 17. Agora, na sua opinião, qual o principal ponto negativo de morar na Vila? (LER AS OPÇÕES) a) Falta de segurança 1 b) Falta de áreas de lazer para os moradores 2 c) Falta de melhorias na infraestrutura (calçamento, 3 iluminação, etc) d) Vizinhança 4 f) Tudo que necessito é distante 5 g) Falta de emprego 6 h) Problema com inundação 7 y) Outro: (ANOTAR)______8

Perg 18. Na sua opinião, o que deveria ser feito para melhorar condições de vida na vila Lorenzi: ______

Perg 19. Você está satisfeito com a qualidade ambiental da vila Lorenzi? a) Sim 1 b) Não 2 Se a resposta for negativa, o que falta? ______

Perg. 20. Você identifica quais problemas no lugar que vive: a) lançamento de esgoto nas ruas – falta de 1 saneamento básico b) inundações 2 c) O lixo nas ruas 3 d) animais abandonados 4 Outro(s): Qual(is) ______

Perg. 21. Para a melhoria da paisagem da vila Lorenzi, o que é mais importante? a) Pavimentação 1 110

b) Iluminação Pública 2 c) Recolhimento do lixo e esgoto sanitário 3 d) Arborização das ruas 4 Outro(s): Qual (is) ______

Perg. 22. Você acha que a responsabilidade de manter a paisagem é? a) Individual 1 b) Coletiva 2

Perg 23. A última enchente que aconteceu na vila Lorenzi atingiu sua casa?

a) sim 1 b) não 2

24 a. Em caso afirmativo o que foi feito para resolver o problema? ______

24 b. Você acha que estar morando neste local contribui ou não para esses processos de inundações? ______

Perg. 25. Atribui as inundações de suas moradias: a)A força da natureza 1 b) Ocupação irregular 2 Outro(s): Qual(is) ______Perg 26. Você já teve necessidade de jogar lixo no Arroio Cadena: a.Sim 1 b.Não 2

Perg 26 a. (Se Sim para a pergunta anterior) Você acha que os resíduos jogados no Arroio Cadena aumentam as ocorrências de inundações em épocas de chuva? a.Sim 1 b.Não 2

III. Posicionamento em relação a Poder Público

111

Perg 27. Quanto à atuação do poder público municipal na Vila Lorenzi, qual seria sua opinião: a) ruim (Não há melhorias) 1 b) regular (Poucas melhorias são realizadas) 2 c) boa (Algumas melhorias são realizadas, mas uma boa parte não é 3 atendida) d) ótima (Todas as necessidades da comunidade são atingidas) 4 Por que: ______

Perg 28. Você acredita que a organização das pessoas da comunidade pode contribuir para a melhoria da qualidade ambiental do local? a. Sim 1 Se SIM, diga como isso poderia ser b) Não 2 feito: ______

Perg.29. Há algo que gostaria de modificar na paisagem do lugar onde vive? ______

IV. ASPECTO DE VISUALIZAÇÃO DO ENTREVISTADOR Casa do tipo: Casa de Casa de Material 1 2 3 Casa Mista 4 Alvenaria Madeira Alternativo

Condições da rua: Característica Sim Não Local com risco de enchente 1 2 Local apresenta lixo próximo a 1 2 casa Apresenta esgoto a céu aberto 1 2

Observações: Descrição da localidade - Qual a posição do terreno?