Animais E Política No Antropoceno Reitor Pe
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Histórias de vivos e de fantasmas: animais e política no Antropoceno Reitor Pe. Josafá Carlos de Siqueira SJ Vice-Reitor Prof. Pe. Anderson Antonio Pedroso SJ Vice-Reitor para Assuntos Acadêmicos Prof. José Ricardo Bergmann Vice-Reitor para Assuntos Administrativos Prof. Ricardo Tanscheit Vice-Reitor para Assuntos Comunitários Prof. Augusto Luiz Duarte Lopes Sampaio Vice-Reitor para Assuntos de Desenvolvimento Prof. Sergio Bruni Decanos Prof. Júlio Cesar Valladão Diniz (CTCH) Prof. Luiz Roberto A. Cunha (CCS) Prof. Luiz Alencar Reis da Silva Mello (CTC) Prof. Hilton Augusto Koch (CCBS) 3 JULIANA FAUSTO Histórias de vivos e de fantasmas: animais e política no Antropoceno 4 ©Editora PUC-Rio Rua Marquês de S. Vicente, 225, Casa da Editora PUC-Rio Gávea | Rio de Janeiro | RJ | CEP 22451-900 Telefone: 3527-1760/1838 [email protected] www.editora.puc-rio.br Conselho Gestor da Editora PUC-Rio Augusto Sampaio, Danilo Marcondes, Felipe Gomberg, Hilton Augusto Koch, José Ricardo Bergmann, Júlio Diniz, Luiz Alencar Reis da Silva Mello, Luiz Roberto Cunha e Sergio Bruni. Editora Numa www.numaeditora.com Projeto gráfico do miolo: Design de Atelier Projeto gráfico da capa: Design de Atelier/Fernanda Soares DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO (CIP) (CÂMARA BRASILEIRA DO LIVRO, SP, BRASIL) ______________________________________________________ Fausto, Juliana Histórias de vivos e de fantasmas : animais e política no Antropoceno / Juliana Fausto. – Rio de Janeiro : Ed. PUC-Rio : Numa Editora, 2020. 1 recurso eletrônico (272 p.) : il. Originalmente apresentado como tese da autora (doutorado -Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Filosofia) Inclui bibliografia ISBN Numa Editora (e-book): 978-65-87249-26-1 ______________________________________________________ 5 Criado em 2017 pelo Decanato do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC- -Rio, o Prêmio CTCH de Teses tem como objetivo laurear e dar reconhecimento e visibilidade para as melhores teses de Doutorado defendidas em 2019/2020 nos Programas de Pós-graduação em Design, Educação, Estudos da Linguagem, Filosofia, Literatura, Cultura e Contemporaneidade, Psicologia Clínica e Teologia, e para a melhor dissertação de Mestrado em Arquitetura. Os critérios de premiação consideraram a originalidade dos trabalhos e sua relevância para o desenvolvimento científico, tecnológico, cultural, social e de inovação. Os Programas de Pós-graduação selecionaram internamente os tra- balhos premiados, verificando a adequação das pesquisas ao patamar elevado de qualidade exigido. A publicação deste livro é resultado da parceria entre o Decanato do CTCH, os Departamentos do Centro, a Editora PUC-Rio e a Numa Editora, com apoio da Vice-Reitoria Acadêmica. Rio de Janeiro, novembro de 2020 Júlio Diniz Decano do CTCH Monah Winograd Vice-decana de Pós-graduação e Pesquisa do CTCH 6 Aos meus companheiros Marco Antonio, Bruxo, Nausicaa e Batatinha, que me inventam diariamente e me tornam capaz. 7 Agradecimentos À PUC-Rio, ao CNPq e à FAPERJ, pelo auxílio concedido para a feitura da pes- quisa que resultou neste trabalho. À Editora Numa, pela publicação. À Edna Sampaio, secretária do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da PUC-Rio, pela gentileza e prontidão contínuas. À Déborah, melhor orientadora do mundo e amiga do coração. À Adriana Maciel, da Numa, pela enorme paciência, delica- deza e generosidade. Aos amigos e familiares que pacientemente me apoiaram e estimularam: Shirley, Júlio, Nancy, Rapha, Yara, Ismar, Rondinelly, Isabela, Ceci, Alyne, Eduardo, Andressa, Alexandre, Flávia, Marcos, Orlando e a moça- da do Corações Vulgares. Às mulheres que me ensinam a pensar e ver o mundo diferentemente: Donna Haraway, Vinciane Despret, Val Plumwood, Deborah Bird Rose, Isabelle Stengers, Ursula K. Le Guin, Virginia Woolf e Déborah Da- nowski. À Carla Forte Maiolino Molento, à Vanessa Bones e a todos os pesqui- sadores do LABEA – Laboratório de Bem-Estar Animal da UFPR, pela genero- sidade com que me receberam e pelo exemplo de dedicação rigorosa e amorosa aos animais. Aos primeiros leitores da tese, Eduardo Viveiros de Castro, Felipe Sussekind, Peter Pál Pelbart e Rita Paixão, pela consideração e atenção. À inter- net e todos aqueles comprometidos com o compartilhamento de fontes e ideias. Aos animais com quem vivi e com os quais me constituí: Bú, Milady, Leonel, Lady, Eleonora, Anabel, Michkin, Aliocha, Pingo, Bernadete, Nina, Frajola, Bru- ce, Nausicaa, Bruxo e Batatinha; aos que conheci pessoalmente ou por leituras; aos que comi; a todos aqueles que, mesmo em situações inimagináveis, lutam diariamente para fazer e manter seus mundos, por me mostrarem o que signi- ficam fé e força. Ao Marco Antonio: mil anos! God only knows what I’d be without you 8 God in the Bible says, “Let there be light.” Only we humans, according to that bible, are in God’s image. So only God and We can say “Let there be light.” But I ask you, what is a rooster at four in the morning saying? Ursula K. Le Guin, “Cheek by Jowl. Animals in Children Literature” Over and over the crow cries uncover the cornfield. Van Dyke Parks, “Cabinessence” 9 Sumário 1 Introdução 11 2 Errantes 17 3 Confinados 75 4 Experimetais 133 5 Desaparecidos 199 Conclusão 236 Referências Bibliográficas 252 10 1 Introdução “O homem é, por natureza, um animal político [ὁ ἄνθρωπος φύσει πολιτικὸνζῷον]” (Política, 1253b),1 a célebre sentença de Aristóteles, constitui não apenas um dos fundamentos de sua teoria política, mas um dos pilares desse pensamento no Oci- dente. Houve, e há, defensores e detratores da ideia, mas ela tem sido, senão inescapável, profundamente influente, adentrando mesmo a cultura popular, o que não acontece frequentemente com discursos filosóficos. Os quatro termos da frase remetem a conceitos complexos que suscitam constante disputa quanto a seu significado: homem, natureza, animal e política. Além disso, eles são con- jugados de um modo que encerra muitas questões que foram e continuam sendo matéria de debate – o homem é ou não um animal, possui ou não uma natureza, é determinado por ela ou a determina, a política é ou não natural e o que quer dizer natureza ou natural nesses contextos, entre outras. Por entre esses e outros problemas que se entrelaçam com eles, tais como os de justiça, lei, direitos, pro- priedade e formas de governo, o que se chama de filosofia política parece ter se fixado exclusivamente no homem. “Que o homem é um animal político em maior medida que todas as abe- lhas e todos os animais de bando (idem) é claro”, continuava o filósofo grego. É que, para ele, só o homem possuiria lógos – discurso, razão, linguagem –, o mais fundamental dos muitos avatares da distinção humana que o pensamen- to ocidental produziu em sua história. Os animais, sempre os outros diante dos quais a humanidade se eleva singularmente, além de desprovidos de linguagem, razão, alma, ferramentas e incontáveis outras propriedades, restaram sem políti- ca. Homo homini lupus, a máxima evocada por Thomas Hobbes na Epístola De- dicatória de seu De Cive, aponta para a condição bruta e bestial das cidades em sua relação entre si, isto é, sem um Estado dos Estados que as ordene. Sem essa autoridade superior, ali onde não se encontra um mestre, retorna-se ao estado de natureza, aquele dos lobos considerados canibais, configuração sumamente a-po- lítica. No debate político, os animais surgem apenas como metáforas, símbolos – lobos, leões, ratos, cobras e cordeiros sendo algumas delas – que significam certas disposições ou ânimos sem no entanto se referirem aos bichos e suas populações. Atualmente, o campo conhecido como estudos animais, que reverbera um interesse renovado por esses outros viventes que dividem o planeta com a humanidade, tendo se tentacularizado em disciplinas como filosofia, literatura, 1 As traduções dos textos citados, quando não houver menção ao tradutor nas Referências Bibliográficas, são de minha autoria. 11 antropologia, história e outras, também começa a delinear uma teoria política animal. Volumes como Zoopolis (2013), de autoria dos filósofos Will Kymicka e Sue Donaldson, ou Political Animals and Animal Politics (2014), editado pe- los teóricos da política David Schlosberg e Marcel Wissenburg, procuram tornar políticas questões de direito ou ética animal por meio de sua institucionaliza- ção. O primeiro livro elabora categorias possíveis para animais de diversos tipos (cidadania para animais domésticos; soberania de território para selvagens; resi- dência ou cidadania naturalizada [denizenship] para sinantrópicos ou liminares), de modo que se possa, segundo seus autores, travar relações realmente políticas com eles (cf. KYMLICKA e DONALDSON, 2013). O segundo propõe que sair da ética para a prática política requereria “a imposição oficial de regras legítimas e legimitizadas, incluindo sanções, no todo da sociedade política” (SCHLOSBERG e WISSENBURG, 2014, p. 1). Em um artigo de 2015, dois teóricos da política, Svenja Ahlhaus e Peter Niesen, procuraram resumir as características da área de política animal: [Ela] diz respeito à sujeição política de humanos e animais [...] e à existência, na- tureza e justificativa das reivindicações coercivas dos animais [...]. Discute a in- clusão dos animais nas políticas humanas e as reivindicações de coletivos animais ‘soberanos’ [...]. A política animal desenvolve diretrizes normativas com vistas à sua realização prática [...] e, finalmente, reflete sobre seu próprio status como um corpo de discurso dentro de sociedades democráticas (AHLHAUS e NIESEN, 2015, p.