Juliana Fausto De Souza Coutinho a Cosmopolítica Dos Animais
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Juliana Fausto de Souza Coutinho A cosmopolítica dos animais Tese de doutorado Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo programa de Pós-Graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia da PUC- Rio. Orientadora: Profª. Déborah Danowski Rio de Janeiro Setembro de 2017 Juliana Fausto de Souza Coutinho A cosmopolítica dos animais Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Filosofia do Departamento de Filosofia do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. Profª Déborah Danowski Orientadora Departamento de Filosofia – PUC-Rio Prof. Felipe Sussekind Viveiros de Castro Departamento de Ciências Sociais – PUC-Rio Prof. Peter Pál Pelbart Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-PUC/SP Prof. Eduardo Batalha Viveiros de Castro Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ Profª. Rita Leal Paixão Universidade Federal Fluminense - UFF Profª. Monah Winograd Coordenadora Setorial de Pós-Graduação e Pesquisa do Centro de Teologia e Ciências Humanas – PUC-Rio Rio de Janeiro, 19 de setembro de 2017. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem a autorização da universidade, da autora e da orientadora. Juliana Fausto de Souza Coutinho Graduou-se em Filosofia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) em 2001 e fez Mestrado em Letras na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) em 2012. Ficha Catalográfica Coutinho, Juliana Fausto de Souza A cosmopolítica dos animais / Juliana Fausto de Souza Coutinho ; orientadora: Déborah Danowski. – 2017. 300 f. ; 30 cm Tese (doutorado)–Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Filosofia, 2017. Inclui bibliografia 1. Filosofia – Teses. 2. Cosmpolítica. 3. Relações multiespecíficas. 4. Animais. I. Danowski, Déborah. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Filosofia. III. Título. CDD: 100 Aos meus companheiros Marco Antonio, Bruxo, Nausicaa e Batatinha, que me inventam diariamente e me tornam capaz. Agradecimentos À PUC-Rio, ao CNPq e à FAPERJ, pelo auxílio concedido. À Déborah, melhor orientadora do mundo e amiga do coração. Aos amigos e familiares que pacientemente me apoiaram e estimularam: Shirley, Júlio, Nancy, Rapha, Yara, Ismar, Rondinelly, Isabela, Ceci, Alyne, Eduardo, Andressa, Alexandre, Flávia, Marcos, Orlando e a moçada do Corações Vulgares. Às mulheres que me ensinam a pensar e ver o mundo diferentemente: Donna Haraway, Vinciane Despret, Val Plumwood, Deborah Bird Rose, Isabelle Stengers, Ursula K. Le Guin, Virginia Woolf e Déborah Danowski. À Carla Forte Maiolino Molento, à Vanessa Bones e a todos os pesquisadores do LABEA – Laboratório de Bem-Estar Animal da UFPR, pela generosidade com que me receberam e pelo exemplo de dedicação rigorosa e amorosa aos animais. Aos membros da banca, Eduardo Viveiros de Castro, Felipe Sussekind, Peter Pál Pelbart e Rita Paixão, por considerarem este trabalho. À internet e todos aqueles comprometidos com o compartilhamento de fontes e ideias. Aos animais com quem vivi e com os quais me constituí: Bú, Milady, Leonel, Lady, Eleonora, Anabel, Michkin, Aliocha, Pingo, Bernadete, Nausicaa, Bruxo e Batatinha; aos que conheci pessoalmente ou por leituras; aos que comi; a todos aqueles que, mesmo em situações inimagináveis, lutam diariamente para fazer e manter seus mundos, por me mostrarem o que significam fé e força. Ao Marco Antonio: mil anos! God only knows what I’d be without you Resumo Coutinho, Juliana Fausto de Souza; Danowski, Déborah. A cosmopolítica dos animais. Rio de Janeiro, 2017. 300 p. Tese de doutorado. Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Esta tese tem por objetivo investigar, desde um ponto de vista filosófico, a vida política dos animais outros que humanos no contexto do Antropoceno. Entre diversas configurações, a errância, o confinamento, a experimentação e a extinção são privilegiadas como verdadeiras situações conceituais, cuja análise e problematização requerem a abordagem conjunta da filosofia com diferentes discursos, como a etologia, a biologia, a antropologia, a história e a literatura. O primeiro passo consiste em uma exploração do lugar nos animais na pólis a partir da confrontação de ideias clássicas e contemporâneas sobre política; em seguida passa-se a uma análise do zoológico tomado como modelo da política humana, oferecendo-se, como alternativa, feições possíveis de uma política animal a partir dos diversos sentidos do conceito de brincadeira; o terceiro momento examina experimentações multiespecíficas no âmbito das artes, com foco na literatura, e no de práticas científicas, observando seus diferentes modos de mundificação; finalmente, procede-se à elaboração de uma noção de extinção não tanto como um fato, mas como acontecimento, diante do qual o cultivo imaginativo de narrativas de luto e as experiências de continuidade são necessários. Por este percurso, conclui-se que, ainda que acossados por todos os lados, os animais outros que humanos vivem e oferecem possibilidades cosmopolíticas diante das quais a humanidade compreendida como exceção ontológica se evidencia como potência apolítica. Palavras-chave Cosmopolítica; relações multiespecíficas; animais Abstract Coutinho, Juliana Fausto de Souza; Danowski, Déborah (Advisor). The Cosmopolitics of Animals. Rio de Janeiro, 2017. 300 p. PhD Thesis. Departamento de Filosofia, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. The present thesis aims to investigate, from a philosophical standpoint, the political life of other-than-human animals in the context of the Anthropocene. Amid several configurations, errancy, confinement, experimentation and extinction are privileged as actual conceptual situations, the analysis and problematization of which require a combined approach between philosophy and other discourses, such as ethology, biology, anthropology, history and literature. The first step consists of an exploration of the animal’s place in the polis taking as a starting point a confrontation between classic and contemporary ideas regarding politics; following that, an analysis of the zoo viewed as a model of human politics, to which are offered, as alternatives, possible features of an animal politics taking as a starting point the several meanings of the concept of play; the third section examines multispecies experiments in the realm of the arts, especially literature, and in the realm of scientific practices, noting different modes of worlding respective to each; lastly, we proceed to the elaboration of a notion of extinction, not so much as a fact but as a event in the face of which the imaginative cultivation of grief narratives and experiences of continuity is necessary. So reasoning, we conclude that, although accosted on all sides, other- than-human animals live and offer cosmopolitical possibilities in the face of which humanity, understood as ontological exception, proves itself to be an apolitical power. Keywords Cosmopolitics; multispecies relations; animals Sumário 1 Introdução 11 2 Errantes 18 2.1. Pet Sounds 18 2.2. A velha dos gatos 23 2.3. “Expulsos do espaço urbano” 29 2.4. Indistinção e indiscernibilidade 36 2.5. Amizade e pastoreio 44 2.6. Razão do mestre versus saberes situados 51 2.7. Guerras felinas 62 2.8. Habitar o problema 72 2.9. Fim de uma colônia 79 3 Confinados 83 3.1. De Monkey Islands e paradoxos 83 3.2. Soberania e patologia 93 3.3. “Algo que foi tornado absolutamente marginal” 98 3.4. “Tristes filósofos” 102 3.5. “Aberrificação” 109 3.6. “Donzellas... para pentear macaco” 115 3.7. E, ainda assim, brincaram 120 3.7.1. “Fair play” 121 3.7.2. “Proliferação louca de formas” 132 3.8. Política animal 141 4 Experimentais 148 4.1. Arte 148 4.1.1. Rotpeter e Consul 148 4.1.2. Literatura e povo 156 4.1.3. Devir-animal 163 4.1.4. Cosmoliteratura 171 4.1.5. “Think my way into the existence of a being” 176 4.1.6. Sultão 184 4.2. Ciência 189 4.2.1. Cabeça (de homem) 189 4.2.2. Bestial com as bestas 195 4.2.3. Cauda (de rato) 202 4.2.4. Kluger Hans 208 4.2.5. Parentesco como política 217 5 Desaparecidos 221 5.1. Fins do mundo 221 5.1.1. Homens 222 5.1.2. Ratos 229 5.2. Casa mal-assombrada 236 5.3. Zumbis 239 5.4. Histórias de vivos e de fantasmas 246 5.5. Sangue e vísceras 256 6 Conclusão 261 7 Referências Bibliográficas 279 God in the Bible says, “Let there be light.” Only we humans, according to that bible, are in God’s image. So only God and We can say “Let there be light.” But I ask you, what is a rooster at four in the morning saying? Ursula K. Le Guin, “Cheek by Jowl. Animals in Children Literature” Over and over the crow cries uncover the cornfield. Van Dyke Parks, “Cabinessence” 1 Introdução “O homem é, por natureza, um animal político [ὁ ἄνθρωπος φύσει πολιτικὸν ζῷον]” (Aristóteles, 2002, 1253b1), a célebre sentença de Aristóteles, constitui não apenas um dos fundamentos de sua teoria política, mas um dos pilares desse pensamento no Ocidente. Houve, e há, defensores e detratores da ideia, mas ela tem sido, senão inescapável, profundamente influente, adentrando mesmo a cultura popular, o que não acontece frequentemente com discursos filosóficos. Os quatro termos da frase remetem a conceitos complexos que suscitam constante disputa quanto a seu significado: homem, natureza, animal e política. Além disso, eles são conjugados de um modo que encerra muitas questões que foram e continuam sendo matéria de debate – o homem é ou não um animal, possui ou não uma natureza, é determinado por ela ou a determina, a política é ou não natural e o que quer dizer natureza ou natural nesses contextos, entre outras. Por entre esses e outros problemas que se entrelaçam com eles, tais como os de justiça, lei, direitos, propriedade e formas de governo, o que se chama de filosofia política parece ter se fixado exclusivamente no homem.