A Ocupação Do Noroeste Do Paraná E a Cidade De Umuarama: Uma Retrospectiva Do Processo De Ocupação
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
A OCUPAÇÃO DO NOROESTE DO PARANÁ E A CIDADE DE UMUARAMA: UMA RETROSPECTIVA DO PROCESSO DE OCUPAÇÃO SETTLEMENTS OF THE NORTHWESTERN REGION OF THE STATE OF PARANÁ AND UMUARAMA: A HISTORY OF THE SETTLEMENT PROCESS Junior Pedro França1 FRANÇA, J. P. A ocupação do nordeste do Paraná e a cidade de Umuarama: uma retrospectiva da processo de ocupação. Akró- polis Umuarama, v. 19, n. 3, p. 165-174, jul./set. 2011. RESUMO: A ciência Geográfica valoriza o elemento histórico, pois sem compreender este, existe uma lacuna de se entender os espaços atu- ais e suas transformações. Neste artigo procurou-se discorrer sobre o processo de ocupação do território paranaense, em especial a região noroeste e a cidade de Umuarama. Ao se observar um determinado lo- cal, hipoteticamente, espera-se entender quais os reais acontecimen- tos que levaram aquele lugar a deter aquela conformação. Os proces- sos históricos e as mudanças políticas afetam e alteram a configuração do espaço, para se entender a atual conjuntura territorial, necessita-se saber os fatos e as constatações do espaço geral, para posteriormente compreender os acontecimentos mais específicos do local. PALAVRAS-CHAVE: Noroeste do Paraná. Umuarama. Ocupação. Transfor- mações do espaço. 1Mestre pelo programa de Pós-graduação em Geografia - PGE Universidade Estadual ABSTRACT: Geography values the historical element because the lack de Maringá (UEM). Licenciado em Geogra- of their understanding causes a gap in the understanding of current fia pela Faculdade de Ciências e Letras de spaces and their transformations. This study focuses on the settlement Campo Mourão (FECILCAM). E-mail: fran- process of Paraná regions, mainly the northwestern area and the city of [email protected]. Umuarama. When a certain space is under analysis, it is highly interes- ting to discover the actual events that made that space become what it is today. The historical processes and political changes affect and alter spacial configuration. Information on facts and general space should be known so that current territory contours may be understood. The events and occurrences of that particular space will be eventually understood. KEYWORDS: northwestern region of the state of Paraná. Umuarama. Set- tlement. Space transformations. Recebido em fevereiro 2011 Aceito em maio 2011 Akrópolis, Umuarama, v. 19, n. 3, p. 164-174, set./dez. 2011 165 FRANÇA, J. P. INTRODUÇÃO e Espanha. Sendo assim, a região paranaense e grande parte do território brasileiro estiveram A ocupação do território paranaense, es- sob a jurisdição da Coroa Espanhola até mea- pecialmente do Norte do Estado, é fruto de um dos do século XVIII, quando se instituiu o tratado processo ímpar da história do Brasil. Foi mar- de Santo Ildefonso, que estabeleceu novas fron- cada pelo processo agrário de distribuição de teiras entre os dois reinos. terras por meio de empresas loteadoras e pelo Percebendo a necessidade de ocupação desmatamento e rápida ocupação das áreas lo- do território que hoje se conhece como para- teadas. naense, a Coroa Espanhola criou, na segunda A formação territorial é marcada por po- metade do século XVI, as primeiras vilas neste líticas públicas e privadas voltadas à ocupação território, denominadas de Ciudad Real de Guai- e ao desenvolvimento dos lugares. Com base rá (1557) e Vila Rica (1576). Essas terras eram neste conhecimento, buscou-se neste estudo administradas por missionários Jesuítas, que enfocar o processo de ocupação desenvolvido instalaram o sistema de reduções (ou missões) na Região Noroeste do Paraná, e com maior como meio de alfabetização e catequização dos aprofundamento, o surgimento do município de povos indígenas da região, os quais serviam Umuarama nesta região, denominada por al- para a Coroa Espanhola como mão de obra nos guns pesquisadores de “Norte Novíssimo”. trabalhos agrícolas, pecuários e manuais. No A metodologia utilizada foi uma investiga- entanto, essas primeiras iniciativas de ocupação ção bibliográfica, compreendendo documentos, do território tiveram seu fim em meados do sé- mapas, teses e dissertações, assim como, publi- culo XVIII, devido à invasão do território pelos cações referentes a fatos marcantes no proces- bandeirantes paulistas, gerando grandes vazios so de ocupação do Norte do Paraná. Na primeira demográficos. parte do artigo é dada ênfase ao processo de Com um processo de ocupação de curto ocupação do Estado do Paraná, de modo espe- prazo, a Coroa Espanhola abriu espaço para a cial às ações das frentes de ocupação. Em se- expansão da Coroa Portuguesa, iniciada a par- guida, focalizou-se o caso específico do proces- tir do litoral em meados dos séculos XVI, até as so de ocupação do Norte do Estado, região que regiões antes pertencentes à Espanha. Marcada se destaca pelo loteamento efetuado em grande por contextos diferentes, a ocupação do territó- escala pela Companhia Melhoramentos Norte rio paranaense, configura-se por três grandes do Paraná (CMNP). Na última parte o trabalho avanços de ocupação: do litoral e dos Campos particulariza-se o processo de ocupação do mu- Gerais, por meio da mineração e do tropeirismo, nicípio de Umuarama e algumas de suas carac- a do Norte e Noroeste, por meio da cultura ca- terísticas socioeconômicas. feeira e do Oeste e Sudoeste paranaense, prin- Esta pesquisa fundamenta-se na rela- cipalmente por meio da erva mate e pecuária. ção histórico-geográfica, retratando os fatos que Tais avanços, além da clara intenção de ocupar podem contextualizar as transformações do es- o espaço físico, tinham um caráter de explora- paço. Phillo (1996, p.270), afirma: “a geografia ção dos recursos naturais da região (Figura 1). do mundo está estreitamente ligada com o que Segundo Cardoso (1981, p. 09): acontece em sua história”. Essa ideia nos reve- la alguns processos históricos que ocorreram e A história do Paraná compreende a formação que retratam a atual configuração do espaço ter- de três comunidades regionais: a do Paraná ritorial do município. tradicional, que se esboçou no século XVII, com a procura de ouro, e estruturou-se no A GÊNESE DO PROCESSO HISTÓRICO-GEO- século XVIII sobre o latifúndio campeiro dos Campos Gerais e, mais tarde, no século XIX, GRÁFICO NO NORTE DO PARANÁ nas atividades extrativas e no comércio ex- portador da erva-mate e da madeira; e a do Na gênese de sua descoberta pelos eu- Paraná moderno, já no século XX, sendo a ropeus, o território onde atualmente se situa o do Norte, com a agricultura tropical do café, Estado do Paraná, foi dividido em duas áreas a que, pelas origens e interesses históricos, de colonização, estabelecidas pelo Tratado de ficou, a princípio, mais diretamente ligada a Tordesilhas, em 1494. Este dividia as terras São Paulo; e a do Sudoeste e Oeste, dos recém-descobertas entre os reinos de Portugal criadores de suínos e plantadores de cere- 166 Akrópolis, Umuarama, v. 19, n. 3, p. 164-174, set./dez. 2011 A nova configuração familiar... ais que, pelas origens e interesses históricos, O segundo processo de ocupação ocor- ficou a princípio mais intimamente ligada ao reu na área correspondente ao Norte do Paraná, Rio Grande do Sul. (CARDOSO, 1981, p. 09). e é sobre essa região que se lançou um olhar mais detalhado nesta pesquisa. Por fim, a terceira e última, que corres- ponde as áreas do Oeste e do Sudoeste e Oeste do Estado e se deu em meados das décadas de 1950, originando diversos núcleos popula- cionais, como os municípios de Dois Vizinhos, Francisco Beltrão, Medianeira, Toledo e Mare- chal Cândido Rondon. Segundo o historiador Wachowicz (1988, p.271), “essa nova frente pioneira, chegou ao Paraná estimulada pelos problemas com o ex- Figura 1: Frentes de ocupação do Paraná cesso de mão de obra agrícola e o acúmulo de Fonte: Tomazi (1997) capital no Rio Grande do Sul e Santa Catarina o qual estimulou a migração para outros estados”. O processo de ocupação do território da área correspondente ao Paraná Tradicional é A OCUPAÇÃO DO NORTE DO PARANÁ marcado pela entrada de um expressivo contin- gente populacional pelo litoral, com a finalidade A ocupação do Norte do Paraná consti- de explorar os metais preciosos encontrados nos tuiu-se como o terceiro processo de ocupação leitos dos rios e frear os índios. Segundo Wa- e tem sido alvo de investigação por parte de chowicz (1988, p. 41), sobre a origem: “Vindos diversos estudiosos do tema, como Cancian de Cananéia, São Vicente, Santos, São Paulo (1981), Tomazi (1997), Luz (1997), Haracenko e até do Rio de Janeiro, atraídos pelo alvoroço (2007), entre outros especialistas. Para alguns levantado com o descobrimento do ouro na baía autores, essa ocupação possui três fases distin- de Paranaguá”. tas, apesar de suas similaridades: a ocupação Com o ciclo econômico paranaense do do Norte Pioneiro (ou Velho), a do Norte Novo ouro houve o povoamento efetivo do litoral (ou e a do Norte Novíssimo. Toda a Região Norte do chamado Primeiro Planalto ou de Curitiba), fora ocupada por imigrantes de diversas regiões, dando origem às primeiras povoações, como: principalmente por paulistas e mineiros, fruto do Paranaguá, Curitiba, São José dos Pinhais, Mor- processo econômico vigente, dependente da ca- retes e Guaratuba. feicultura (Figura 2). Outro processo de ocupação da área de- Segundo Cancian (1981), a cafeicultura nominada Paraná Tradicional corresponde ao paranaense processou-se em três fases. povoamento do Segundo Planalto ou dos Cam- pos Gerais. Compreende a fundação de Ponta A primeira fase corresponde à ocupação do Grossa, Castro, Piraí do Sul e outros municípios Norte Velho, desde a divisa com São Paulo desta região. até o Rio Tibagi, a partir do final do século XIX e início de século XX, culminando com a crise As sociedades estabelecidas nos Campos de 1929. A segunda foi a fase de ocupação Gerais se caracterizavam por serem (sic) do Norte Novo, a partir da região do Rio Ti- uma sociedade constituída de famílias pa- bagi, passando por Londrina, até as margens triarcais que iam além da família nuclear: ela do Rio Ivaí, a partir de 1930, tendo ocorrido abrigava em seu seio agregados e homens de forma lenta até o final da Segunda Guerra pobres livres protegidos dos grandes proprie- Mundial e acelerando-se a partir daí.