hipertextFamecos/ PUCRS. Porto Alegre, setembro de 2007 – Ano 9o – Nº 58

Fernanda Fell/Hiper Set mostra seu vigor aos 20 anos Diogo Mainardi (foto), de Veja, o designer e curador de exposições Marcelo Dantas e os ex-alunos e ex-professores da Famecos, hoje diretores da Globo, Carlos Kober, do Domingão do Faustão, e Edson Erdmann, da novela Eterna Magia, entre os destaques

Página 6

Jornalismo Gráfico da Famecos faturou cinco prêmios na mostra competitiva: Hipertexto com reportagem, Jornal da Manhã venceu dois, como Publicação Impressa e Cartoon de Fabiane Bento Alver, Ufa! como Projeto Experimental e Matheus Beck com Crônica

Vinícius Carvalho/ Hiper Esporte Caos na saúde Eles jogam futebol com de Porto Alegre a imaginação

Fernando Corrêa/ Hiper Deficientes visuais se superam no futsal

Página 10

Karol Denardin/Hiper alerta Ambiente desorienta as abelhas

Problemas causados pela monocultura e formicidas

Página 8 Greves, falta de repasse de verbas, hospitais lotados, pacientes pelos corredores. Na página 4 2 abertura Porto Alegre, setembro de 2007 hipertexto Editorial Crise aérea: trégua ou solução? O futuro sem limites

Por Yara Tropea Roussef, considerava “tranqüilo” o “A crise aérea nacional só será Por Lidiana de Moraes, editora comunicação e a convivendo com tráfego aéreo. solucionada com novos controla- pessoas com o mesmo interesse é Após dois meses da colisão do Mais precavido, o presidente dores de vôo”, lembra o professor A quantidade de trabalhos ins- espetacular. Abre uma nova fronteira avião da TAM com o prédio da Luiz Inácio Lula da Silva assumiu Hoffmann. O conjunto de decisões critos no 20º Set Universitário de pensamento para que os alunos empresa de cargas da mesma compa- que o colapso ainda não acabou. Jo- de Jobim pode solucionar a tensão aumentou 41% comparados ao ano aprendam que não basta ser bom nhia, a pergunta que continua no ar é: bim faz coro: “Não está superado”. se ele não ceder às pressões externas, passado. O crescimento no número naquilo que se faz, é preciso ser o A crise aérea brasileira acabou? Após o acidente, no fim de julho, porém os resultados não serão ime- de participações é um sinal de que melhor. Ou, como disse o designer O acidente e o auge do caos fi- três diretores da Anac renunciaram diatos. “Os resultados virão a curto, os futuros profissionais da comu- e curador de exposições, Marcello zeram com que o governo brasileiro e deixaram seus postos. “Já caminha- médio e longo prazos”, enfatiza nicação estão preocupados com o Dantas, durante o Debate RBS: empossasse Nelson Jobim como o mos para solucionar o problema da Hoffmann. Esclarece que controla- desenvolvimento acadêmico e com “Você tem que ser o número 1, mas novo ministro da Defesa. Nascido segurança, que era o primeiro obje- dores de vôo demoram, pelo menos, a construção de um currículo bem para ser o número 1, você tem que em Santa Maria, deputado federal tivo de nossa administração. Agora três anos para serem formados. Lula fundamentado que abra as portas inventar a sua própria corrida”. constituinte pelo PMDB e ex-presi- temos que caminhar para o regime assegura que o reforço será de 300 de um mercado que para muitos já Tomará que nos próximos anos dente do Supremo Tribunal Federal, da pontualidade, o problema dos profissionais. Quanto à redução do está saturado. aumente ainda mais o número de ele situou-se no centro da crise e atrasos, que será resolvido com toda número de poltronas, Hoffmann é A preocupação destes estudantes interessados nestas iniciativas. Deste tomou medidas como estudo para a a reconstituição da malha aérea”, enfático: “É como um bode que se é louvável e mostra que há o interes- modo os estudantes terão a oportu- implantação de um novo aeroporto explica o ministro. coloca na sala para dispersar a aten- se de melhorar as condições da edu- nidade de criar e experimentar, sem em São Paulo, a redistribuição dos Com o acidente, o foco da crise ção do principal, a crise”. cação no país, mas as conseqüências limites, traçando o futuro da comu- vôos de Congonhas e a sugestão de foi para Congonhas, mas o profes- Entre os passageiros, a principal de eventos como o Set vão além de nicação de forma promissora. Não redução no número de poltronas por sor e vice-diretor da Faculdade de conseqüência é o aumento do preço horas complementares e premiações. se trata apenas de dar oportunidade avião. A entrada do novo ministro e Ciências Aeronáuticas da PUCRS, da passagem. “Depois do acidente A experiência adquirida durante aos estudantes, mas de permitir que as resoluções trouxeram esperança Hildebrando Hoffmann, enfatizar os preços subiram muito. Antes eu pelo menos três dias respirando eles mesmos criem seus ensejos. para os usuários dos aeroportos que as mudanças no maior aeroporto ia de Porto Alegre a Campo Grande brasileiros. Experientes nas frus- brasileiro em número de passageiros por R$ 350, hoje não gasto menos de trações, os usuários se perguntam visam à segurança e não resolvem 500. O jeito é viajar de ônibus”, con- se as iniciativas vão resultar na a dificuldade nacional. “A redução forma-se Maíra Fedatto, estudante solução do problema e quando isso do número de vôos em Congonhas de jornalismo com família em Mato Elvo Clemente (1921-2007) acontecerá. diminui enormemente o risco de aci- Grosso do Sul. Hoffmann alerta os Quase um mês antes do acidente dentes, porém precisamos também usuários: “O pessoal tem que tomar em Congonhas, em 23 de junho, o de uma área de escape”. A área ga- cuidado com o superfaturamento das Tibério VargasRamos, professor ber a edição mensal do Hipertexto, presidente da Agência Nacional de rante que, no caso de alguma pane, a passagens. As medidas contra o caos [email protected] sempre me Aviação Civil (Anac), Milton Zuana- aeronave tenha tempo de parar antes aéreo não implicam em dobro de Conheci o irmão Elvo Cle- mandava um e-mail com elogios e zzi, que havia trocado o PDT pelo de colidir em construções que este- custos, mas as empresas aproveitam mente quando entrei no Curso de incentivos. Fiel a uma longa amiza- PT junto com o presidente regional jam próximas aos aeroportos, como para aumentar indevidamente os pre- Jornalismo da Famecos, em 1968 de. Neste mês, sua mensagem não do partido Sereno Chaise e Dilma aconteceu com o avião da TAM. ços, usando-as como desculpa”. e ele era vice-diretor. Quatro anos chegará pela Internet, mas em outro mais tarde, 23 anos de idade, recém plano. No dia 19 de setembro, aos formado e cabelos nos ombros, fui 86 anos, quando tomava o café da o primeiro assessor de imprensa da manhã para mais uma jornada de Um Fausto na Assembléia gaúcha Universidade. O reitor era o irmão trabalho, seu coração parou. José Otão e seu chefe de gabinete, o Quando encontrava com o ir- irmão Elvo. Tornei-me seu colega e mão Elvo pelo campus, na frente Por Lidiana de Moraes cadas, até que, no fim de 2004, com além, conseguir mais. Com diversas admirador. da Faculdade de Letras ou no bar a indicação do PTB, foi promovido a oportunidades surgindo, parecia não Nascido na Itália, batizado como da Famecos, sempre costumava Um dia ele fez parte da classe diretor de Departamento, recebendo haver razões para não incrementar a Antônio João Silvestre Motin, entrou brincar: “eis a forma humana da operária e, aos poucos, através de a tão sonhada quantia com cinco renda. Propina de R$3.000 ao mês jovem na Congregação dos Irmãos Universidade”. Ele sorria, apertava contatos políticos, foi subindo de dígitos. para pagar as 50 parcelas da casa Maristas. Sua vida foi dedicada ao os lábios e batia a mão direita para cargo até chegar a ganhar R$15.000 A trajetória de Macalão poderia de praia, em Xangri-lá, onde foram magistério e à PUCRS. Doutor em baixo, em seu gesto característico. por mês, quantia que boa parte da ser mais uma mostrando a garra do enterrados os R$ 232,7 mil em selos, Letras Clássicas, Elvo Clemente foi Era mais do que uma saudação. população brasileira precisa trabalhar brasileiro para mudar de vida, mas mais R$ 45 mil para não exigir da pró-reitor de Pesquisa e Pós-Gra- Era como eu o via. Culto, religioso, mais de três anos, sem gastos, para a ganância degenerou sua história. companhia de limpeza Silvestre o duação e de Extensão. Continuava simples, educado, elegante, afável, acumular. Tornou-se o Doutor Fausto, de número de funcionários firmados em plena atividade como assessor atencioso, prestativo, leal, inteligente Ubirajara Amaral Macalão come- Goethe, que vendeu a alma para o em contrato. especial da Reitoria e presidente da e visionário. Foram quase quatro çou a trabalhar no dia 29 de junho de diabo. Sua ação colocou o Rio Gran- O caso dos selos é repleto de Academia Rio-Grandense de Letras. décadas de convivência. Sua morte 1978 como servente na Assembléia de do Sul, que sempre se apresentou ironias que poderiam render boas Acabara de finalizar dois livros de o fez abandonar a forma humana Legislativa. Três anos depois passou como diferente, na lista dos estados piadas, caso não se tratasse de uma uma produção de mais de 30. para se tornar o espírito eterno da a integrar o Departamento de Ser- corruptos. ocasião de desrespeito com os cida- Nos últimos nove anos, ao rece- Universidade Católica gaúcha. viços Administrativos. Em 1995, os Os altos rendimentos como dãos. O presidente Frederico Antu- rendimentos cresceram ainda mais funcionário da Assembléia desper- nes (PP), pelo menos, assegura: “A com o exercício de funções gratifi- taram em Ubirajara um desejo de ir Casa não irá proteger ninguém”.

Hipertexto Apoio cultural: Zero Hora. Impressão: Pioneiro, . Tiragem 5.000

Jornal mensal da Faculdade de Comunicação Social Diretora da Famecos: Mágda Cunha Moraes Patrícia Lima, Rafael Lopes Codonho, Raiza Ismério (Famecos) da Pontifícia Universidade Católica do Coordenadora/ Jornalismo: Cristiane Finger Editora de Fotografia:Fernanda Fell Roznieski, Tatiana Feldens, Thiago Oliveira, Vinícius Rio Grande do Sul (PUCRS). Produção dos Laboratórios de Jornalismo Gráfico Editor de Arte: Bruno Gazola de Paoli Roratto Carvalho, Yara Tropea. Avenida Ipiranga 6681, Jardim Botânico, Porto e de Fotografia. Repórteres Fotográficos: Andressa Vargas Gri- Alegre, RS, Brasil. Professores Responsáveis: Repórteres: Ariane Jorej, Bernhard Friedrich Sch- ffante, Daniela Curtis do Lago, Fernanda Faria Cor- E-mail: [email protected] Tibério Vargas Ramos e Ivone Cassol (redação e lee, Bruna Ostermann, Bruna Weis Scirea, Bruno rea, Fernando Sá Correa, Gabriel Pozzobom Silveira, Site: http:// www.pucrs.br/ famecos/ hipertexto/ edição), Celso Schröder (arte e editoração eletrônica) Gazola de Paoli, Cássia Sírio de Oliveira, Camila Al- Gabriela M de Oliveira, Ingrid Guerra , Jaqueline O. 045/ index.php e Elson Sempé Pedroso (fotojornalismo). ves Schaedler, Camila Rinaldi, Clarissa Leite Caum, Sordi, Jessica Tarantino de Carvalho, Karoline Sara ESTAGIÁRIOS: Fernando Rotta Weigert, Guilherme Zauith, Helena Danardi, Laís Cerutti Scortegagna, Lucas Soares Reitor: Ir. Joaquim Clotet Gerente de produção: Thais Silveira Wilhelm Eilers, Igor Elias Carrasco, Jamille Callai, Costanzi, Pedro de Oliveira, Raissa Genro, Tamara Vice-reitor: Ir. Evilázio Teixeira Editoras: Ariane Xavier Borba Jorej e Lidiana de Luciana Birck, Maurício Círio, Natasha Centenaro, Carvalho, Vinicius Roratto Carvalho. hipertexto Porto Alegre, setembro de 2007 brasil 3

Fernanda Fell/Hiper STF abre processo contra 40 acusados no mensalão Dois ex-ministros, deputados e publicitários entre os réus

Por Ariane Jorej ocupar. O procurador-geral da asse- ambigüidade histórica, ressalta o gura ter novas provas que reforçam professor da Famecos. Todas as 40 pessoas denunciadas as acusações. Segundo ele, laudos Recebida a denúncia, o caso Movimentos sociais se mobilizam na capital pela retomada da mineradora de participar do esquema de compra periciais, que estavam em fase final agora entra em fase de instrução, de votos em troca de apoio político, de elaboração no momento em que quando acusação e defesa indica- caso do mensalão, irão responder a denúncia foi apresentada, estão rão testemunhas e terão o direito Contestada privatização da Vale processos penais. Com a decisão, prontos e serão incluídos no proces- a requerer perícias. O STF abriu o Supremo Tribunal Federal(STF) so. Entre os novos documentos está processo por formação de quadrilha encerrou a primeira parte do jul- um laudo que, no entendimento do contra 24 acusados. A pena para Por Bruna Scirea em 1997, quando ocorreu a alienação gamento, que durou cinco dias. A procurador, “comprova a presença esse crime varia de um a três anos e e Natasha Centenaro da Companhia. A privatização da denúncia do procurador-geral da de dinheiro público fortalecendo o a prescrição ocorre após oito anos CVRD é encarada como um golpe República, Antonio Fernando de esquema”. do início da ação. Anular a privatização da Com- para o país. Promovido no governo Souza, acusava 40 pessoas de envol- A oposição vem criticando du- O prazo do processo poderá panhia Vale do Rio Doce (CVRD) Fernando Henrique Cardoso, o vimento no esquema que financiava ramente o governo do presidente durar mais, dadas as peculiaridades. e retornar à situação anterior de Plano Nacional de Desestatização parlamentares da base aliada em Luiz Inácio Lula da Silva que teve Para a jurista Diórgia Streit, não há estatal é o objetivo da campanha de (PND) privatizou cerca de 70% das troca de apoio político, conforme o escândalo como uma das marcas como fazer previsões de sentença, mobilização que culminou com con- estatais brasileiras, entre elas, Embra- tornara público o ex-deputado de sua primeira gestão, apesar disto pois o processo judicial brasileiro é sulta popular informal, realizada na tel, Companhia Siderúrgica Nacional Roberto Jefferson (PTB-RJ)em 6 não ter se refletido em sua reeleição. extremamente demorado. Semana da Pátria. Com o lema “Isso (CSN) e Eletrobrás, até incluir a Vale, de junho de 2005. O escândalo foi O jornalista e professor Roberto não Vale! Queremos participação a mais significativa economicamente considerado a maior crise política Ramos pondera que o mensalão Os denunciados no destino da nação”, milhares de para o Brasil. Foi criada na década recente da história brasileira para o não nasceu com o PT, com o seu pessoas saíram às ruas para protestar de 1940, por Getúlio Vargas, com governo federal e o PT. governo. “Todavia, veio à tona e Entre os acusados estão os e denunciar o leilão de privatização recursos do Tesouro e do governo Por unanimidade, o STF acolheu se materializou no governo Lula, ex-ministros José Dirceu e Luiz da companhia. norte-americano, interessado na denúncia contra os últimos dois como o maior e mais impactante Gushiken, o então presidente A campanha contrária à privati- entrada do Brasil da II Guerra ao da lista de acusados: o publicitário processo de corrupção da histó- da Câmara dos Deputados, João zação da maior produtora de minério lado dos Aliados. Desde então ex- Duda Mendonça e sua sócia, Zilmar ria da República brasileira. O PT Paulo Cunha, e seus colegas do de ferro e segunda mineradora em pande sua produção, exportação e Fernandes, que responderão por mostrou, no governo, as suas duas PT e partidos aliados do governo, âmbito mundial é encabeçada por comercialização, transformando-se lavagem de dinheiro e evasão de faces ambígüas. Na oposição, é o Roberto Jefferson, Pedro Henry movimentos sociais, entre eles dos na maior fornecedora de minério de divisas. O STF também aceitou a latifundiário da ética; na situação, é Neto, João Cláudio de Carvalho Trabalhadores Rurais Sem-Terra ferro do mundo em 1970. Quando denúncia contra Silvio Pereira por protagonista do mensalão. Portanto, Genu, Bispo Rodrigues, Pro- fessor Luizinho e Costa Neto. (MST), Atingidos por Barragens foi arrematada por R$ 3,3 bilhões, formação de quadrilha. a sua imagem política foi maculada, Também os publicitários Marcos (MAB), Central Única dos Traba- figurava como a primeira empresa Os 40 réus no caso do mensalão ainda que tenha vencido a eleição Valério e Duda Mendonça. lhadores (CUT), União Nacional no ranking nacional.. têm mais uma coisa com que se pre- presidencial. Isso não apaga a sua dos Estudantes (UNE), Conlutas, “A entrega do patrimônio sem Central dos Movimentos Populares, consulta ou debate político tira do setores da Conferência Nacional dos povo a única identidade brasileira Bispos do Brasil (CNBB) e outras que o mantém, o direito à demo- entidades sociais e sindicais. cracia garantido pela Constituição”, A convocação da população para argumenta o professor da PUCRS comparecer às urnas foi motivada Pedrinho Guareschi, consultor do pela alegação de irregularidades e Secretariado de Justiça e Paz da fraudes cometidas na época do leilão Caritas Internationalis.

46 senadores livram Renan

Por Lidiana de Moraes madrugada do dia 12, pelo ministro Ricardo Lewandowski e mantida No dia 12 de setembro, o presi- pelo Supremo Tribunal Federal dente do Senado, Renan Calheiros, (STF), permitiu que 13 deputados foi absolvido das acusações de tivessem acesso à Assembléia. Mes- quebra de decoro parlamentar. No mo com a permissão, houve brigas fim da sessão secreta, 40 votos o quando seguranças tentaram barrar inocentaram, 35 senadores votaram a entrada na sessão. Para o vice-pre- a favor da cassação do mandato e sidente do Senado, Tião Viana (PT seis se abstiveram. – AC) a medida do STF prejudicaria A votação colocou fim apenas o sigilo da reunião. a uma parte do escândalo que co- Apesar da absolvição, Renan meçou há quatro meses quando ainda enfrenta outros processos no surgiram denúncias de que Calheiros Conselho de Ética. As acusações usaria recursos do lobista Cláudio de favorecer a empresa Schincariol Gontijo, da construtora Mendes Jú- no INSS, de compra de veículos de nior, para pagar pensão alimentícia à comunicação alagoanos por meio jornalista Mônica Veloso, com quem de laranjas e um suposto esquema teve uma filha. de arrecadação de dinheiro em Mi- Antes mesmo do início da vo- nistérios comandados pelo PMDB, tação, o clima no Plenário estava ainda podem custar o mandato a tenso. Uma liminar concedida na Calheiros. 4 últimas Porto Alegre, setembro de 2007 hipertexto

recortes Thais Silveira e Jamille Callai Emergência para saúde Grenal na Fifa Acordo prevê concurso público para contratar pessoal do Programa da Família A passagem dos cinco diri- gentes da Fifa por Porto Alegre fez nascer mais uma disputa Por Clarissa Leite Caum recebendo da prefeitura para organi- prefeitura ficar sem dinheiro, será co- despesas necessárias. A partir disso, a entre Grêmio e Internacional. zar as contratações dos funcionários brada pela Lei de Responsabilidade prefeitura contatou uma nova entida- Os dois clubes prometeram Dose extra de paciência foi pre- da saúde. Fiscal, que a proíbe de se endividar. de de intermediação dos contratos, o reformulações para que seus ciso para os pacientes do Sistema A Faurgs encerrou sua parti- Prosseguindo com a terceirização, o Instituto Sollus, de São Paulo, pouco estádios cumpram as exigências Único de Saúde (SUS) no final de cipação no mês passado, devido à município não se preocupa com a lei. conhecido. dos inspetores e possam receber agosto e início de setembro. As de- falta de pagamento pela prefeitura, Enquanto isso a União previa que as A problemática desse novo con- as partidas da Copa do Mundo missões ocasionadas pela mudança de R$ 240 mil mensais. A quantia se prefeituras passassem a absorver os trato era a falta de negociação entre de 2014. no contrato de prestação de serviços refere às despesas de administração profissionais. Isso não foi feito e as médicos e empresa. Os funcionários O atual campeão do mundo, à prefeitura de Porto Alegre e a pa- dos funcionários, e o valor não es- contratações continuaram terceiriza- mais antigos queriam contratos de 20 Internacional, planeja construir ralisação dos hospitais filantrópicos tava previsto no contrato, segundo das. O secretário municipal da Saúde, horas semanais, como na empresa uma espécie de shopping, um geram novos conflitos para médicos, o conselheiro do Sindicato Médico Eliseu Santos, alega que o Ministério antiga, mas a Sollus insistia em con- estacionamento ao lado do enfermeiros e funcionários, e muitos do RS (Simers), Sami El Jundi. As Público Federal recomendava, desde trato de 40 horas. Os médicos mais Gigantinho, um hotel de luxo, prejuízos aos pacientes. contratações de funcionários sempre 2004, à prefeitura que não pagasse antigos seriam os mais prejudicados centro de convenções e até um Os problemas na assistência do foram repassadas às prefeituras que a taxa reclamada pela Faurgs. Os por perderem privilégios. restaurante de vista panorâmica SUS não são recentes, mas se agrava- historicamente terceirizam esse tipo problemas jurídico-financeiros oca- Com a proposta da prefeitura com a venda do Estádio dos ram a partir do término do contrato de estrutura, não realizando concur- sionaram o fim do pagamento e con- ao Simers de pagar R$ 6.500 para Eucaliptos. Beira-Rio passará da prefeitura de Porto Alegre com so público para esses cargos. seqüente rompimento do contrato médicos, os profissionais retornaram a ter capacidade para 60 mil a Fundação de Apoio da Universi- A terceirização ocorre há 10 pela fundação. ao trabalho. O salário básico ficou em pessoas. dade Federal do Rio Grande do Sul anos. A prefeitura teme que o go- Para El Jundi, essa conta não R$ 5,5 mil. No final, houve acordo. O Estádio Olímpico está (Faurgs). A empresa terceirizava o verno federal retire a parcela de prevista no orçamento fez com que a Os funcionários aceitaram a contrata- fora da disputa, mas o Grêmio Programa de Saúde da Família (PSF), incentivo ao programa e tenha que prefeitura tivesse, por recomendação ção via Instituto Sollus, e a prefeitura tem grandes chances com a que o Ministério da Saúde mudou arcar com o pagamento dos profis- do Tribunal de Contas, que abrir um se comprometeu de realizar concurso construção da Arena. O proje- para Estratégia de Saúde da Família, sionais. Se o rompimento ocorrer e a novo processo que previsse todas as público a partir de 2008. to do novo estádio deverá ser Fotos Fernando Correa/ Hiper construído até 2011, no bairro Humaitá. O clube definirá até outubro por uma das quatro propostas para a execução da obra. A área será de 33 hectares, quatro vezes maior que o Olím- pico, e terá um orçamento de R$ 440 milhões .

Mercado multimídia As plataformas digitais e a produção do conteúdo jorna- lístico na era tecnológica foram temas centrais dos debates do Seminário Internacional de Imprensa Multimídia. Promo- Dornelles de Matos: defasagem El Jundi: denuncia terceirização vido pela revista Imprensa, o evento ocorreu nos dias 3 e 4 de setembro na PUCRS. O mer- cado multimídia foi o assunto tratado pelo diretor de redação da Zero Hora, Marcelo Rech, e do editor-assistente do Correio Brasiliense, Carlos Alexandre de Souza. A multimídia não é nenhu- ma novidade na RBS, observou Rech, pois nos anos 60 jornalis- tas como Mendes Ribeiro e Cân- dido Norberto já convergiam informações para o rádio e TV. “A melhor definição para este novo modelo de redação é que todos fazem tudo para todos”, Romualdo Pandolfo está há um ano na fila para transplante de pulmão Falta de funcionários nos hospitais prejudica atendimento à população comentou. Um dos benefícios da consolidação do mercado multimídia, para Carlos Souza, é que jornais estão mais atentos à Hospitais filantrópicos reclamam da tabela do SUS checagem da informação, mas o grande dilema é a falta de recur- Os administradores dos hospitais destina menos que a metade do valor Federação das Santas Casas, Julio F. de emergência: “O indivíduo que sos: “poucas empresas têm os filantrópicos, aqueles voltados ao que deveria aos serviços de saúde. A Dornelles de Matos, argumentou recebe atendimento em um hospital recursos financeiros necessários, atendimento pelo SUS de, no míni- tabela do SUS não foi reajustada da que as filas hoje por atendimento após longa espera, se tivesse tratado já que a internet ainda garante mo, 60%, reclamam que o custo de mesma forma que cresceu a inflação. são virtuais e não em hospitais como do problema desde o início, teria uma pouco retorno”, acrescentou manutenção é muito maior do que Esta subiu 400%, enquanto o reajus- antigamente. “O paciente espera solução e um custo bem menor. Mas Souza. Outros painéis trataram o governo remunera. A defasagem te se deu por volta de 33,7%. em casa, silenciosamente, e quando ele acaba entrando nas emergências do Second Life, a TV Digital e o atual é de 81,8%, ou seja, a cada O presidente do Sindicato dos é chamado para o atendimento, ele com um grau de complexidade muito papel das assessorias de impren- R$ 100 gastos em atendimento, 55 Hospitais Beneficentes, Religiosos pode já ter falecido”. Salientou que a maior e um custo alto, em função sa na era da multimídia. são restituídos aos hospitais pelos e Filantrópicos do Rio Grande do demora no atendimento dos pacien- do tempo que levou para acessar ao governos federal e estadual. A receita Sul (Sindiberf) e vice-presidente da tes agrava o problemática do sistema sistema”. hipertexto Porto Alegre, setembro de 2007 medicina 5 Justiça Federal obriga SUS a pagar cirurgias para mudanças de sexo Ação foi impetrada pelo Ministério Público e medicina gaúcha é pioneira na redesignação sexual

Fotos Jaqueline Sordi/ Hiper Por Guilherme Zauith e eles têm de tomar hormônio para o resto da vida”. O Ministério da Saúde terá de Walter Koff alega que a procura incluir, na tabela de preços do Sis- não aumentou depois da decisão tema Único de Saúde, a operação judicial. Ele opera, em média, 30 de mudança de sexo realizada em pacientes por ano. De acordo com hospitais universitários do país. o médico, em clínicas particulares A decisão judicial, votada no Rio chega a custar R$ 20 mil, “agora a Grande do Sul, prevê que em caso internação e o material custam R$ de transexualidade, ou seja, o indi- 2 mil”. A operação de resignação víduo que possui uma identidade pode ser realizada tanto em homem de gênero oposta ao designado, o como mulher. “A procura maior é SUS deve “auxiliar” no processo de pessoas do sexo masculino que operatório, não ficando definido em não aceitam o gênero, mas tam- que níveis. bém há mulheres que sofrem de O juiz da Justiça Federal Roger transexualismo e desejam realizar Raupp Rios, 39 anos, relator do neofaloplastia (a transformação da processo no Tribunal Regional Fe- vagina em pênis)”. Koff conta que deral da 4º região, em Porto Alegre, já operou 80 pacientes desde 2001 explica que o Ministério Público e 60 aguardam na fila de espera. A entrou com uma ação civil pública primeira cirurgia moderna foi reali- contra a União: “Foi pedido que fos- zada 1951, na Alemanha, com um se incluído na tabela procedimentos oficial da marinha sueca. “No Brasil, de cirurgia de transgenitalização em começou na década de 60 em São favor de transexuais pelo SUS”. De Paulo”, informa. acordo com Roger Raupp, a deter- A psicóloga do grupo, Jaqueline minação foi impetrada em 2001, mas Salvador, explica que o transtorno a União sempre recorria. “Desta vez da identidade de gênero inicia na ganhamos por unanimidade e não infância. “Geralmente aos seis anos houve contestação. Portanto, foi de idade o transexual começa a decidido que o Sistema Único pa- sentir aversão ao corpo. A partir daí, gue uma parte do procedimento e a sofre com discriminação em casa, na operação seja realizada em hospitais escola, no trabalho”. A inserção na universitários”, assegura o jurista. sociedade é o mais complicado e o O magistrado acentua que o di- grupo de apoio assiste nesse aspec- reito à saúde é constitucional e não to. “Eles dividem as experiências e pode ser discriminado pela diferença sofrimentos nas sessões. A exclusão sexual. “Qualquer pessoa que sofrer é um fato na vida do transexual, que um acidente que seja necessário uma acaba se isolando. Muitos fogem de cirurgia de reconstituição genital, o casa, mas depois do acompanha- SUS paga”. Com base neste argu- mento do grupo e da cirurgia, nor- mento, Roger Raupp votou que “a malmente a família passa a entender transexualidade é um distúrbio de e a auto-estima do paciente melhora. identidade sexual, no qual o indivi- Assim, é mais fácil trabalhar, estudar, duo necessita alterar a designação, namorar”, argumenta. Pacientes se encontram na sala de espera do Hospital de Clínicas para marcar a cirurgia de troca de sexo é um desejo e direito do paciente, que pode levar a casos mais graves como mutilação, ou até mesmo ao suicídio”. “Sempre me senti uma menina, o difícil é enfrentar o preconceito” Grupo de apoio A universitária de Farroupilha ceito é muito forte e a família não grupo”, diz. enquanto arruma o cabelo castanho No Hospital de Clínicas de prefere não se identificar. Aos 20 entendia. “Depois que minha mãe Márcia considera importante escuro e curto. As orelhas sustentam Porto Alegre, 16 pessoas, entre elas anos, os cabelos loiros caem macios me levou ao psicólogo, na adoles- a troca de experiências entre as grandes brincos de argola prata. assistentes sociais, médicos, fono- sobre os ombros estreitos. Veste um cência, ela entendeu. Hoje as pessoas mais velhas e as mais novas. “Nasci “Sete dias após a cirurgia estava em audiólogos, psiquiatras e psicólogos casaco rosa, calça jeans e sapato pre- aceitam. Trabalho, estudo, e estou mulher, mas no corpo errado. Já casa, a recuperação foi perfeita”. são chefiadas pelo urologista Walter to de bico fino. Colocou silicone no feliz que vou operar”, desabafa. tive namorados. Agora tenho um Para Marcela, o preconceito é Koff, 60 anos. Coordenador do Pro- peito, operou o pomo de adão para Acompanham a universitária relacionamento estável e ano que o maior sofrimento e conta que já grama de Transtorno de Identidade afinar a voz. O rosto é fino e liso, a duas mulheres que já fizeram a vem quero casar de véu, grinalda tentou suicídio quatro vezes. “Hoje de Gênero, Koff explica que o gru- sobrancelha arqueada. As unhas são cirurgia de redesignação sexual. e tudo”, revela com voz que ainda estou realizada, fiquei seis anos sem po formado no Hospital das Clínicas delicadamente vermelhas. Ela fará a Márcia Beatriz e Marcela, ambas de denuncia a masculinidade da qual me olhar no espelho. É uma con- tem a finalidade de acompanhar o necopovulvoplastia (cirurgia em que 37 anos. Alta e loira, Márcia é natural quer se livrar. quista. Sou casada há quatro anos transexual antes, durante e depois da o pênis é transformado em vagina) de Ametista do Sul. Fez a cirurgia em A bageense Marcela trabalha e pretendo adotar uma criança”. E cirurgia de troca de sexo. “O pacien- no final do ano. “Sempre me senti 2001, mas colocou prótese mamária como relações-públicas e promotora confessa, extasiada: “tomo anticon- te é acompanhado todo este tempo, menina. Quando criança gostava de este ano e agora exibe seios fartos cultural. Trocou de sexo em março. cepcional para ter seios pequenos, porque existe um processo rigoroso, boneca e maquiagem”, conta com tapados apenas por uma fina cami- Sentada com a coluna ereta e as per- não ponho silicone por que odeio uma vez que a cirurgia é irreversível orgulho. Reconhece que o precon- seta amarela. “Nunca abandonei o nas cruzadas, fala com desenvoltura sutiã”. 6 sociedade Porto Alegre, setembro de 2007 hipertexto A diversidade marcou 20° Set na PUC

Gabriel Pozzobom/Hiper Camila Rinaldi e Igor Carrasco Se vira nos 20 Edson Erdmann, passaram de meros O que se esperava da palestra estudantes improvisando com os Alunos de Comunicação de “Se vira nos 20 – a TV ontem, hoje recursos que possuíam, a referência diversas partes do país viver a expe- e amanhã” era o que se espera de internacional na área da televisão. riência do 20º Set Universitário entre qualquer palestra do SET Univer- 17 a 19 de setembro na Famecos. sitário, muita informação. É justo Comunicação interativa Palestras, oficinas e uma mostra dizer que a palestra superou todas competitiva reuniu estudantes de Jor- as expectativas dos presentes. Os No segundo dia do SET Uni- nalismo, Publicidade e Propaganda, ex-estudantes da Famecos, Carlos versitário, um dos painéis tratou da Relações Públicas e Cinema. Kober e Edson Erdmann contaram “Convergência digital – o passado A abertura do evento contou como foi a criação do Set Universi- e o futuro da comunicação interati- com a presença do colunista Diogo tário, em 1988. va”. Para falar sobre o tema foram Mainardi, da revista Veja, discutindo Erdmann e Kober levaram o convidados o diretor de conteúdo a “relação incestuosa entre mídia público por um passeio por suas do IG, Caíque Severo, e a jornalista, e poder”. À noite, o RBS Debates carreiras. Desde o começo na Pro- professora do curso de jornalismo e reuniu o designer e curador de expo- Vídeo, atual Centro de Produção do programa de pós-graduação em sições Marcelo Dantas; a professora Multimídia, onde faziam programas comunicação midiática da UFSM, da PUCRS, Ana Carolina Escoste- para aulas de diversos cursos da Luciana Mielniczuk. O debate fora guy; o diretor de redação dos jornais PUC, até os dias atuais, com Kober mediado pelo professor da Famecos, RBS, Marcelo Rech e o publicitário na direção do “Domingão do Faus- Eduardo Pellanda. Beto Callage que abordaram o tema tão”, e Erdmann dirigindo a novela Segundo Severo, é difícil ter uma “Comunicação pelos poros”. “Eterna Magia”. real noção sobre a transformação Uma edição especial do Sarau O tema da palestra em geral foi, pela qual a sociedade vem passando Elétrico, com Kátia Suman e os como não poderia deixar de ser, e sobre o futuro, pois as mudanças escritores Luís Augusto Fischer e televisão. Ambos os palestrantes ocorrem rápido demais. Outra Claudia Tajes marcou o encerramen- possuem um currículo invejável nes- preocupação ou provocação, como to no último dia do SET no auditório ta mídia, tendo passagem pela RBS definiu Luciana, foi com a formação da Famecos. Na cerimônia, foram TV e TV Globo, além do tempo de dos alunos pelas universidades em anunciados os vencedores da com- Kober na TV Cultura.No final da tempos de intensa interatividade. petição que contou com 853 traba- conversa, os palestrantes deixaram A jornalista vê que o futuro da co- lhos inscritos. Entre os ganhadores, ao público, formado em sua maioria municação são os alunos que saem Hipertexto esteve representado pela por jovens em formação, uma per- hoje das universidades e questiona o editora Lidiana de Moraes, primeiro gunta: onde vocês estarão daqui a 20 quanto está sendo investido para que lugar em reportagem com “Literatu- anos? Com esta indagação terminou estes possam sair capacitados para o ra atual relê os clássicos”, publicada um ciclo de duas décadas, onde os mercado de trabalho da comunica- Marcelo Dantas, designer e curador, participou do RBS Debates na edição de junho. ex-alunos da PUCRS, Carlos Kober e ção interativa.

Fernanda Fell/Hiper Assim se desfaz um mito: Diogo Mainardi

Por Natasha Centenaro figuras, uma temática totalmente ele é assim mesmo? E a polêmica, o desinteressante. Ele acha que o voto deboche, a ironia? E para completar Segundo fontes astrológicas, ele é não deveria ser obrigatório e não se a cena idílica, ele pediu para escovar virginiano, nascido em 22 de setem- considera responsável pelos políticos os dentes antes de uma entrevista. É bro. Superorganizado, é uma pessoa eleitos no Brasil por que ele não vota, sério? Não, só pode ser gozação. sincera, mas tem um jeito sério de- disse “estar isento de votar no Bra- Chegou a hora da verdade, da mais. Seu maior problema é quando sil”. Mas foi para isso que ele aterri- revelação. Diogo Mainardi é gentil, sua seriedade é confundida com sou em Porto Alegre, falar sobre as paciente e, sem falsas impressões, frieza. No entanto, é só aparência e “relações incestuosas entre a mídia bem educado. E a imagem de rude e quem se deixa levar pelas aparências, e o poder”, muito mais atrativo que implicante, cadê? Aqui, cabe um re- se engana e muito. Ele também se os últimos lançamentos do Caderno levante parênteses, antes de qualquer emociona, ri, chora, sofre, ama e es- de Cultura. Falar o que ele pensa e processo contra minha pessoa por cova os dentes. Outro defeito de sua retrata nas suas colunas semanais da dizer esses impropérios, na palestra personalidade é que tem certa mania Revista Veja e no programa domi- não foi bem assim. Durante uma de analisar tudo o que acontece e nical do canal por assinatura GNT, hora e meia de profunda troca de elo- quem está ao seu redor. Manhattan Connection. gios entre o palestrante e o mediador, Apesar de revelar todos esses Como já era esperado e anun- renomado jornalista e professor da traços de personalidade, ainda o con- ciado, o colunista Diogo Mainardi Famecos, Juremir Machado da Silva, sideram rude, rabugento, implicante estaria na cidade para palestrar na seu aguçado e mordaz censo crítico e insuportável. Tudo por causa do PUCRS, nada além disso. Nada de ressurgiu das entranhas sensoriais seu trabalho, árduo, escrever o que conversas com a imprensa e muito e estratégicas desse provocador e bem entende e sobre quem define. menos, com aprendizes de imprensa. instigante escritor. Mainardi voltou Normalmente são personalidades ou Aí, entram as aparências. Serena- a ser Mainardi, odiado, rejeitado e fatos conhecidos do cenário político, mente, Diogo caminhava no saguão repudiado, inclusive por um grupo econômico, casual. Mas ele também da Famecos. Diogo Mainardi, cami- de estudantes presente no Centro já falou de livros, música e filmes, nhando pela Famecos? Uma reali- de Eventos. Aos gritos e com uma aliás, ele já foi roteirista de cinema. dade improvável, que só quando foi faixa em letras garrafais, eles acusa- Bom, livros, também já os fez. Toda- vista e conferida se tornou realidade. vam: “Diogo Mainardi: o Traíra da via, desde uma recente safra de au- Com uma paciência inimaginável, América Latina”. Sem titubear, ele tores e cineastas, considera a cultura ele concedeu entrevistas, conversou só respondeu: “Vou levar o cartaz monótona e medíocre. Realmente, com estudantes e professores e, o para pendurar em minha casa.” cultura não é mais seu alvo preferido. ápice da gentileza, aguardou o gra- Ainda bem, ele voltou a ser esse Não é passível de escândalos, cor- vador dessa repórter em desespero personagem tão verossímil que só rupções, promiscuidades, polêmicas funcionar. O momento da reflexão: ele sabe fazer. Pequeno grupo compareceu só para vaiar o polêmico Diogo Mainardi hipertexto Porto Alegre, setembro de 2007 cultura 7

Oprimido pela Qualidade consolida bom realidade, público quer momento do teatro local ver comédia As pessoas machucadas pela realidade em que vivem preferem, Sucesso do Porto Alegre Em Cena comprova a força da dramaturgia, na hora de lazer, desopilar, diver- tir-se, optando por programas apesar das falhas estruturais (falta de palco, recursos limitados) que não provoquem mais dor. Por isso, o público “de televisão”, Fotos Tamara Carvalho/Hiper ou seja, o que não vai ao teatro Por Patrícia Lima díssima, também reivindica. Para ela, habitualmente, prefere espetá- o teatro está cada vez melhor. Porém culos em que possa rir. Os que A qualidade dos espetáculos o sucesso e o público seriam maiores estão acostumados com o teatro produzidos e a resposta do público se houvesse mais apoio por parte da já entenderam que a emoção da que prestigia com intensidade são as imprensa. Existem bons textos, ape- obra teatral eleva a alma e produz provas do momento positivo que se sar de poucas pessoas escreverem o mesmo efeito de renovação na encontra o teatro no Rio Grande do peças teatrais no Estado. A identida- pessoa. Bernardi diz que há uma Sul. “O Porto Alegre em Cena está de do teatro também é regionalizada, parcela do público que gosta de aí para se fazer a comparação. Artis- buscando se aprimorar ainda mais teatro bem feito, sendo comédia ticamente, estamos bem, obrigado, para concorrer em festivais fora ou drama. É exigente. Outra par- com ótimos diretores, atores, novos do Rio Grande do Sul. Renata, que cela, bem maior, ainda faz papel e velhos dramaturgos e um time de concluiu o curso de Jornalismo na do colonizado, prestigia o que técnicos de excelente qualidade”, Famecos em julho passado, também vem de fora. afirma o ator da peçaHomens de Perto, lamenta o investimento reduzido O ator Hermes Bernardi Jr. Artur José Pinto. dos brasileiros em cultura, tanto no Falta de divulgação ainda prejudica o sucesso de público do teatro gaúcho sustenta que comédia também é Os caminhos da dramaturgia teatro como em outras artes como drama. Os dois gêneros do drama gaúcha contemporânea foram ob- cinema. Ela acredita que, muitas ve- são a tragédia e a comédia, que jetos de debate em um evento que zes, as pessoas não vão ao teatro até têm na estrutura os mesmos ele- reuniu, no mês de agosto, alguns por medo de não entender a história mentos: a situação inicial, o con- dos principais representantes da e sentir-se ignorante. flito e o desenlace, apresentados dramaturgia gaúcha. O Seminário O valor dos ingressos também de forma diferenciada em um ou de Dramaturgia Contemporânea foi afasta o público das salas, segundo outro. No teatro contemporâneo, realizado no Teatro de Arena. Bernardi Jr. O público local quer esses elementos não se apre- A cada ano, algumas produções ingressos a preços populares quando sentam necessariamente nesta se destacam. Há grupos profissio- se trata de artistas gaúchos em cena. ordem. A investigação permeia a nais e alguns amadores que ainda O contrário acontece quando produ- construção, desconstrução e re- mantém o desejo de pesquisa, in- ções do eixo Rio-São Paulo desem- construção. O que os diferencia vestigação de linguagem, tentando barcam em Porto Alegre e ocupam é a via de comunicação com seus dar consistência ao fazer teatral. “A os melhores teatros. Atendem uma públicos, ou seja, a dor, o humor, grande maioria não tem subsídios classe que pode pagar para lotar as a tristeza, a profundidade da para manter seus espetáculos por casas de espetáculos e, por vezes, vai abordagem dos temas. Existem longo tempo em cartaz”, lastima ao teatro mais pelo status, procuran- ainda os dramas cômicos e as co- Hermes Bernardi Jr., que atua na do ser vista do que exatamente pelo médias dramáticas, que utilizam peça A Tempestade. De outra forma, espetáculo em si. ambos intercaladamente a fim de com a velocidade das coisas e o uma determinada comunicação. instinto de sobrevivência falando Drama ou comédia Em se tratando de texto teatral, mais alto, não permitem que pessoas A função do teatro é provocar As produções nos palcos do Estado investem na comédia e no drama se reúnam e aprofundem alguma uma reação em quem assiste. Emo- linguagem, o que acaba por abortar cionar. Ao fazer rir, o encenador bons projetos e a continuidade de toca nas referências do público pesquisas relevantes na área. acerca do tema apresentado e, de Entre os problemas da classe uma forma lúdica, posicionando-se teatral, é fácil apontar os princi- artisticamente. Não tem como com- pais: faltam salas de espetáculo, os parar os gêneros tragédia e comédia. recursos de patrocínio são poucos Ambos são teatro. A diferença que e os espaços de divulgação cultural deve ser feita é entre trabalhos bons reduzidos. O público que freqüenta e ruins. as salas cresce, mas, como em todo Muitas pessoas fazem compa- o país, é pequeno se comparado à rações e reduzem a importância do Argentina, por exemplo. gênero comédia, esquecendo suas Mais divulgação por parte da origens. Textos cômicos foram mídia é o que Renata Peppl, autora escritos pelos mesmos drama- e atriz das peças Solteiríssima e Casa- turgos clássicos que formaram a dramaturgia mundial. Aristófanes, Plauto, Sófocles, Molière, Maquiavel, Shakespeare, e tantos outros erigi- ram uma obra cheia de significados com seus textos cômicos. “No perí- odo do golpe militar muita gente se posicionou politicamente e tentou comunicar suas idéias por meio de textos cômicos cheios de sinais a serem decodificados. Ainda hoje tem muita gente que utiliza o humor para atingir o público com arte e bom Produções se destacam nos palcos gosto”, argumenta Artur Pinto. 8 natureza Porto Alegre, setembro de 2007 hipertexto

Fotos Karol Denardin/ Hiper Abelhas perdem o rumo de casa Formicidas, radiação, monoculturas e raios ultravioleta desorientam e matam

Por Tatiana Feldens do Brasil. “O que temos aí, e que é bem característico, são mortandades “Adeus e obrigado pelos pei- grandes, nos últimos anos, com xes!” Essa foi a mensagem deixada agrotóxico”, diz. pelos golfinhos ao desaparecerem Segundo Satler, quando as abe- do planeta na comédia literária do lhas são intoxicadas, a perda é total, inglês Douglas Adams. A obra, parte tanto no caso da pequena proprie- da série O Guia do Mochileiro das dade como das empresas. “A abelha Galáxias, narra o desaparecimento que é contaminada e não morre no súbito da espécie, que teria aban- campo, traz o produto para dentro donado o planeta ao descobrir que da colméia, onde contamina as ele seria destruído. Em proporções operárias que estão trabalhando reduzidas, ainda que impressionan- junto”. Aroni alerta ainda para um tes, a vida imitou a arte no Brasil e possível aumento da intoxicação no mundo. das abelhas com a expansão das Apicultores denunciam o desaparecimento das abelhas de colméias do Rio Grande do Sul O desaparecimento das abelhas culturas de girassol e canola para a – fenômeno apelidado pelos norte- produção de biocombustível. “Isso não há estudos aprofundados sobre lado, minimizam o problema. O americanos de desordem de colapso tem uma tendência a aumentar ainda o impacto das lavouras transgênicas professor emérito de entomologia de colônias, ou CCD – é motivo de mais, porque com os monocultivos no ecossistema. Outro provável da Oregon State University, Mi- A advertência preocupação principalmente entre destinados ao biodiesel, principal- motivo apontado pelo pesquisador chael Burgett, disse, ao jornal The apicultores do Rio Grande do Sul mente de girassol e de canola, são é o aquecimento global. O sistema New York Times, que as grandes de Einstein e de Santa Catarina. O fenômeno muito atrativas para as abelhas. Se de orientação das abelhas funciona baixas em abelhas em algumas re- registrado particularmente no início não houver um bom controle disso, por meio dos olhos. As abelhas de- giões poderiam ser reflexo de picos deste ano pode causar graves dese- um trabalho de conscientização dos pendem da luz solar para encontrar populacionais superiores à taxa quilíbrios ambientais, uma vez que produtores e dos apicultores, esse o caminho de volta para as colméias. normal de mortalidade em décadas as abelhas são responsáveis por mais prejuízo vai ficar maior ainda”, diz. Assim, o aumento da incidência de recentes. Segundo ele, no final dos de 90% da polinização (fecundação raios ultravioletas poderia ser uma anos 70 houve um fenômeno similar das plantas através do transporte do Suspeitas das causas do fenômeno. a este, que, na época, foi chamado de grão de pólen) e, de forma direta Entre as possíveis causas do O jornal inglês The Independent “doença do desaparecimento”. Não ou indireta, por 65% dos alimentos fenômeno, são citadas, além do publicou uma matéria afirmando foi encontrada uma causa específica consumidos pelos seres humanos. uso indiscriminado de herbicidas, a que a radiação dos celulares poderia para o desaparecimento. O engenheiro agrônomo da radiação de telefones celulares e o estar interferindo no sistema de na- O desaparecimento das abelhas O físico Albert Einstein Universidade Federal do Rio Grande uso de transgênicos, em especial os vegação das abelhas, provocando a começou a ser tema na mídia em disse que se as abelhas desa- do Sul (UFRGS) Aroni Satler conta do milho Bt (com gene resistente a desorientação, que não conseguiriam 2006, nos Estados Unidos e no parecessem, a humanidade que é comum as abelhas deixarem insetos; contém pedaços do DNA da mais voltar para suas colméias. O Canadá..A redução das colônias seguiria o mesmo rumo em a colméia devido a um mau manejo bactéria Bacillus thuringiensis). periódico também citou pesquisas de abelhas no país vem ocorrendo, um período de quatro anos. ou por falta de comida. No entanto, Jair Barbosa Júnior, do Instituto alemãs que apontaram mudanças pelo menos, desde 1980. A morte A razão é muito simples: sem ele ressalta que neste caso as abelhas de Estudos Socioeconômicos de de comportamento dos insetos nas repentina de abelhas também já foi abelhas não há polinização, estão morrendo intoxicadas por Brasília, em entrevista à revista Carta proximidades de linhas de transmis- registrada em países como Alema- e sem polinização não há ali- formicidas e venenos utilizados para Maior, confirma uma das possíveis são de alta tensão. nha, Suíça, Espanha, Portugal, Itália mentos. matar pragas nas lavouras do sul causas. No Brasil, lembrou Barbosa, Alguns cientistas, por outro e Grécia. Peruanos reconstroem região atingida pelo terremoto Eitan Abramovich/AFP Por Bruna Weis Scirea para a família no Brasil: “Nós como Amazonas. No sul brasileiro, já mil pessoas morreram. Desta vez, população e o governo percebemos foram sentidas pequenas vibrações segundo autoridades do Peru, foram Quarta-feira, 15 de agosto, que não estamos preparados para decorrentes de um terremoto na mais de 500 mortos e mil feridos, 18h40min. Habitantes da costa e da estas emergências, mesmo sendo o Cordilheira dos Andes, há anos. O números que, apesar de menores região noroeste do Peru voltavam Peru um país que muito sofre com professor garante que as chances de em relação aos de 1970, carregam para seus lares após mais um dia de os abalos sísmicos”. acontecer abalos sísmicos no Brasil o mesmo sofrimento. Nas palavras trabalho. De repente tudo tremeu, “O Peru fica na costa oeste são bastante remotas pelo fato de de Elsa: “A vida continua e o desejo a terra cedeu e casas e estradas do continente sul americano onde estar situado no centro de uma placa de todos os peruanos é que em desabaram. O país foi atingido por é a margem de colisões de placas tectônica, portanto não sujeito às poucos anos estejam restabelecidas um terremoto de 8 graus na escala tectônicas”, explica o doutor em oscilações. O geocientista relembra as cidades e os povoados que desa- Richter. Geociências, Jorge Alberto Villwo- que, desta vez, o aquecimento global pareceram com o terremoto” “A ajuda internacional foi rápida. ck, professor da PUCRS e diretor do não é o vilão da história: os terre- O terremoto e suas conseqüên- Chegam aviões de vários países tra- Instituto de Meio Ambiente. “Estas motos têm sua fonte de energia no cias comoveram povos de várias re- zendo alimentos e ajuda profissional. colisões, no caso entre as placas da interior da terra, diferentemente dos giões. O Brasil, por exemplo, enviou Temos medo porque a terra ainda América do Sul e a Nazca, liberam furacões, ligados à energia solar que, ajuda humanitária, alimentos não treme e, mesmo sendo em menor 500 mortos nos escombros uma grande quantidade de energia, sendo superficial, relaciona-se com perecíveis, tendas e medicamentos. intensidade, há construções do do epicentro do terremoto, afirma que é manifestada na forma de as mudanças climáticas. A ONU e a União européia arreca- século passado que continuam des- que o governo está cadastrando as vibrações sísmicas”, complementa O abalo do dia 15 de agosto foi daram e disponibilizaram milhões moronando”, relata Elsa de Leyton, pessoas afetadas para que possam Villwock. Os tremores menos inten- o pior desde 1970, quando o país de dólares para as áreas afetadas. 58 anos, duas semanas após o ocor- fazer empréstimos sem pagar juros. sos, reflexos dos grandes terremo- foi atingido por avalanches de gelo e A memória histórica do país e dos rido. Moradora da cidade de Piúra, A peruana, que é avó de uma brasi- tos, podem ser notados em regiões deslizamentos de terra ocasionados habitantes, entretanto, só o Peru será que se localiza a 1300 km ao norte leira, explicou no e-mail que enviou distantes, como recentemente no por um tremor. Naquele ano, 50 capaz de recuperar. hipertexto Porto Alegre, setembro de 2007 memória 9 Tradição contestada RBS: 50 anos em exposição Clarissa Leite Caum é muito relativo, mas vejo que as pessoas se fascinam com os objetos provoca debate O estilo e o casamento entre expostos, com os programas de rádio conforto, criatividade e interativi- que ouvem”, comenta. Ele percebeu dade são marcas da exposição que que alguns até choram ao relembra- Manifesto Contra o Tradicionalismo quer revisar MTG celebra os 50 anos da Rede Brasil rem de épocas passadas. Sul (RBS). Na Usina do Gasômetro, Cátia Silveira Krieger, que foi Foto Raissa Genro /Hiper estão expostos o passado e presente à exposição com o pai, Osvaldo, Luciana Birck de uma empresa que há 50 anos faz relatou que a visita foi essencial para parte da vida dos gaúchos e mais conhecer a época e os costumes pa- O tradicionalismo gaúcho, re- recentemente também dos catari- ternos. “Eu me encantei quando o presentado pelo Movimento Tra- nenses. vi sentado naquela cadeira, animado, dicionalista Gaúcho (MTG), foi A exposição destaca a maneira ouvindo algumas programações do criticado em manifesto liderado como as pessoas recebem, em casa, rádio. Só quem viveu aquela época pelo professor de História Luiz as notícias anunciadas pelo rádio, pode sentir essa emoção”. Carlos Tau Golin, da Universidade jornal e televisão. O público tem à Há também jornais dispostos de Passo Fundo. “Somos contra o disposição elementos que buscam numa mesa retangular, visíveis como MTG devido a sua ação de controle reproduzir o ambiente doméstico e uma imagem, onde o leitor pode cultural, uso das verbas públicas, in- familiar dos ouvintes e telespectado- acessar a capa do ano, mês e dia terferência nos currículos escolares, res, como o sofá, a cama, o armário que escolher. Nela, são encontradas vigilância sobre os meios de comu- e a geladeira. as manchetes do que foi notícia no nicação, imposição manipulatória de Os principais momentos da passado, desde o surgimento da Zero uma idéia de ‘história’ que converteu história da comunicação no Brasil e Hora, em 1964. A interatividade é em ‘heróis’ senhores de escravos”, o mundo são retratados no evento, marca da exposição. O público toca, protestam professores, estudantes que relembra notícias, telenovelas, experimenta, ouve. que assinam o manifesto lançado programações de rádio e a história A idéia da exposição partiu do em março passado. da Fundação Mauricio Sirotsky diretor-presidente do grupo Nelson Ainda na véspera da Semana Sobrinho (FMSS). Os utensílios Sirotsky que, visitando o Museu da Farroupilha, o MCT provocou ultrapassados e as técnicas de trans- Língua Portuguesa em São Paulo, reações, como a do patrão do 35 missão de informação mexem com chamou Marcelo Dantas, seu criador, CTG, Luiz Clóvis Fernandes, que a memória de quem vai ao encontro para ajudá-lo neste projeto aqui, no diz ser lamentável o ato: “Tau Go- das décadas contadas pelos veículos Rio Grande do Sul. lin analisa a evolução dos tempos da RBS, a partir de 1957. No site www.noar50anosdevida. com os olhos de hoje, ele não se Para orientar os visitantes, 54 com.br os interessados encontram reporta ao passado para analisar os facilitadores que, como o próprio dicas de tudo que os aguardam, fatos na sua época, com as leis que nome diz são pessoas que dão in- vídeos em geral e interatividade. existiam e com as necessidades que formações e conduzem o público ao Na entrada, um guia de exposição a época apresentava para que fossem encontro das descobertas. O facili- é destinado ao visitante, que toma julgadas”. tador Jaques Machado explicou que conhecimento do que verá no inte- Para eles, o MTG não é uma o principal objetivo da promoção é rior da Usina. A exposição fica, na forma de cultura legítima, pois Academia tem dificuldade em reconhecer como legítimo o culto ao gaúcho comover o público. “A importância Usina, até 18 de novembro, de terça não representa a diversidade do da exposição é justamente a emoção. a domingo, das 9h às 21 horas e a povo do Rio Grande. Ele seria o como aconteceu em outros lugares. incluem o comportamento da pren- Eu não posso generalizar, pois isso entrada é franca. principal instrumento de negação Mas não concordo que o MTG te- da e do peão nos concursos, a Carta e destruição dos traços culturais e nha se juntado ao governo, porque de Princípios, entre outros. Lucas Constanzi/Hiper direitos fundamentais do povo rio- o Tradicionalismo é um movimento A revisão proposta pelos autores grandense. O patrão do 35 CTG cultural que tem o firme propósito do manifesto sugere rever as normas rebate: “Tau Golin critica o MTG de congregar o povo em benefício e conceitos da cultura tradicionalista. porque não teve a oportunidade de de uma cultura própria que forma Os manifestantes também reclamam estar junto quando foi criado e nem seres humanos diferentes e indepen- da arrecadação das verbas públicas teve a brilhante idéia que os outros dentes”, sustenta Fernandes. usadas no “imenso calendário de tiveram. Ele é uma das pessoas que Fundado em 27 de novembro eventos, onde, nem sempre, se mais admira o movimento, só não de 1967, o MTG surgiu como distingue a cultura do turismo e do quer admitir”. órgão orientador e coordenador lazer”. Pedem audiências públicas no A declaração também aponta das entidades tradicionalistas, para Conselho de Cultura para debater a uma espécie de aliança entre MTG preservar, resgatar e desenvolver a destinação dos recursos e também e ditadura militar no golpe de 1964. cultura gaúcha. Os mais de 1.400 sugerem à Assembléia Legislativa a “Até pode ter havido um aproveita- CTGs e piquetes filiados ao MTG instalação de uma Comissão Parla- mento por parte do governo, assim devem seguir os regulamentos que mentar de Inquérito (CPI).

Em defesa da inclusão das culturas Trechos do manifesto em muitos casos como uma mal- tradicionalistas, o que caracteriza dição, como uma ameaça punitiva, flagrantemente uma usurpação do • O MTG é doutrinador desclassificativa daqueles que não patrimônio público. e usurpador do direito individual, ideologizam as pilchas ou não se en- • Alertamos e igualmente impõe modelos de comportamen- quadram nos modelos “humanos”, reivindicamos audiências públicas to fora de seu espaço privado, se geralmente caricaturais, decretados ao Conselho de Educação, para auto-elegendo como arquétipo de pelo MTG. discutir a deturpação dos currícu- uma moralidade para toda a socie- • Em defesa da cultura los e dos princípios de Educação dade. rio-grandense, postulamos pela Pública, em conseqüência da infes- • Somos contra o MTG, instalação de uma CPI na Assem- tação, da usurpação e da distorção porque seu controle e patrulha- bléia Legislativa, para investigar a pedagógica representada pela mento vigora sobre a sociedade transferência de verbas e infra-es- invasão tradicionalista nas escolas como um espectro opressivo, truturas públicas para as atividades de todo o Estado. Exposição da RBS na Usina do Gasômetro comove o público 10 esporte Porto Alegre, setembro de 2007 hipertexto

Fotos Vinícius Carvalho/Hiper Futebol de cegos Eles jogam começou nos anos 60 futsal com o O futebol de cegos surgiu no Brasil na década de 60, e está se ampliando pelo cenário esporti- vo mundial. É daqui que saem subconsciente as bolas oficiais para competi- ção internacional, distribuídas gratuitamente para o mundo Atletas brasileiros com deficiência todo. São fabricadas por presi- visual dão exemplos de superação, diários no programa “Pintando a liberdade”, do Ministério colocam a alma em quadra do Esporte. O próximo passo brasileiro são os Jogos Para- Por Maurício Círio existem três pessoas que enxergam pan-americanos de Pequim, normalmente e influenciam na parti- em 2008, para o qual a Seleção A bola é igual à de futsal, com a da. O goleiro (que além de defender, Brasileira garantiu vaga com única diferença de possuir um guizo tem a função de orientar a defesa), a vitória na competição deste para a orientação dos atletas, o que a o chamador (fica atrás da goleira do ano. deixa mais pesada do que o normal. adversário com o objetivo de orien- Esse e outros detalhes constituem tar o ataque do seu time), e o técnico as regras do futebol de 5, adaptado (que só pode dar suas instruções para pessoas com deficiência visual. para os jogadores que estiverem no Poucos sabem, mas o Rio Grande do meio da quadra). Para não atrapalhar Sul tem uma tradição vitoriosa nesta a concentração dos atletas, as torci- modalidade. das devem permanecer em silêncio Atletas gaúchos têm participado durante as partidas, com exceção da de para competições nacionais e in- hora do gol, quando podem gritar e ternacionais. Eles estavam presentes comemorar a vontade. O gaúcho Ricardinho, goleador da Seleção Brasileira de futebol para cegos, é considerado o “melhor do mundo” nos recentes Jogos Parapan-Ame- Ricardinho perdeu a visão aos ricanos do Rio de Janeiro, quando oito anos e dois anos depois come- Presenciar um jogo desta mo- visitá-los e dar sempre o apoio que outras categorias, como goalball e 100 a Seleção Brasileira de futebol de çou a jogar no Instituto Santa Luzia, dalidade impressiona. Eles jogam for preciso. Com eles aprendi a dar metros rasos. Agora, com 47 anos, cegos conquistou a medalha de ouro escola da Capital para pessoas com todos vendados, devido às diferen- valor às coisas simples, as quais orgulha-se de sua trajetória de vitó- em cima da Argentina, com o placar deficiência visual. Com 15 anos, o ças de grau na deficiência visual de passam despercebidas pela maioria rias e explica um pouco a emoção de 1 a 0. O artilheiro da competição garoto encontrou a Acergs e parti- cada um. Porém, tal limitação não das pessoas.” de competir. “Mesmo sem a visão, foi o porto-alegrense de 18 anos, cipou, desde então, de campeonatos atrapalha a emoção das partidas, O veterano do time, Pedro Be- enxergo o gol, vejo quando driblo o Ricardo Alves, o Ricardinho, com pelo time gaúcho e pela seleção que têm um ritmo acelerado e com- ber, conhecido como Pedrão, tem zagueiro e chuto, vejo onde a bola nove gols marcados. brasileira. Hoje ele é considerado petitivo. O estudante de educação uma história de garra e perseverança. entra”. Como teve visão normal por Em Porto Alegre, o time da o melhor jogador do mundo na física João César Nunes Tortorella Ele parou de enxergar aos 22 anos, 22 anos, ele diz “enxergar com a Associação de Cegos do Rio Gran- categoria, mas, humilde, divide seu foi por dois anos chamador e au- pois sofre de glaucoma, doença que ajuda do seu subconsciente”. Hoje, o de do Sul (Acergs) reúne atletas de sucesso na Seleção Brasileira: “Sem- xiliar técnico do time gaúcho. Ele afeta a pressão dos olhos. Entrou em atleta não encontra mais problemas diferentes idades, porém com algo pre que faço gol, costumo dizer, afirma que construiu, ao longo deste depressão, mas a superou quando por causa da cegueira. Ao contrário, em comum: a busca no esporte de que metade dele pertence a mim período, uma amizade com Ricar- encontrou no esporte a força para depois que ficou cego, aprendeu a uma qualidade de vida melhor, de e a outra ao chamador do time. É dinho e os outros atletas do time. reerguer sua auto-estima. sentir novos prazeres e a apreciar forma autônoma e saudável. Nesta ele quem diz para onde tenho que “Aqui fiz muitas amizades, por isso, Além do futebol de 5, Pedrão novos cheiros e gostos, que nunca adaptação do futsal convencional, driblar e chutar”. mesmo com a minha saída, procuro disputou e venceu campeonatos em tinha reparado antes.

Fotos Pedro Revillion/Hiper Querência dos treinadores de futebol

Por Thiago Oliveira peu do que para o jeito do Centro do neiro. Em nível de Seleção Brasileira, peggiani, campeão da Libertadores e país, que é muito ‘festeiro’”, analisa cinco gaúchos (Scolari, Cláudio do Mundo em 81 com o Flamengo, Quando se fala em treinadores o apresentador e repórter da Rádio Coutinho, João Saldanha, Sylvio e Espinoza. O mais recente, Mano de futebol, nomes gaúchos são e TV Pampa, Marinho Saldanha. Pirillo e o atual ) já estiveram Menezes, também tem chamado a lembrados instantaneamente. São “Os técnicos do Rio Grande não à frente da “Canarinha”, número atenção da mídia nacional por ter vários os comandantes de destaque aceitam indisciplina. Além de serem, inferior apenas ao de cariocas. levado o Tricolor gaúcho da Série nascidos no Rio Grande do Sul. O sim, bons na parte técnica e tática”, Além disso, a representatividade B do Campeonato Brasileiro ao legado que os técnicos de grande su- comenta Gabriel Cardoso, da Rádio dos números não é menor do que terceiro lugar na Série A e à final da cesso nas décadas de 70 e 80, como Bandeirantes. Ele ainda defende a o sucesso dos técnicos gaúchos no Libertadores em aproximadamente Ênio Andrade, três vezes campeão tese de que os gaúchos são coman- futebol. Nomes como o de “Feli- dois anos de trabalho. brasileiro, por Internacional, Grê- dantes na acepção da palavra. pão”, multicampeão por Criciúma, O crescente apelo por coman- mio e Coritiba, e Valdir Espinoza, Na Série A do Campeonato Bra- Grêmio, Palmeiras e Cruzeiro e de dantes gaúchos ficou caracterizado , do Grêmio campeão da Libertadores e mundial sileiro, na 22ª rodada, por exemplo, grandes vitórias em Portugal, o de na convocação do técnico Dunga, pelo Grêmio, em 83, deixaram é o Rio Grande do Sul conta com sete Adenor “” Bacchi, campeão escolhido em 24 de julho do ano aproveitado por seguidores de uma treinadores, dos 20 clubes que dispu- da Copa do Brasil pelo Grêmio em passado. Após o fracasso de Carlos escola de futebol única. tam o torneio, sendo o Estado que 2001 e com passagens por gran- Alberto Parreira, carioca, na Copa Mas a que se deve tantos talentos mais possui técnicos neste certame. des clubes do Centro do país, são do Mundo daquele ano, a Confede- surgirem no Estado gaúcho, tão cri- Na da América, cada vez mais constantes. Renato ração Brasileira de Futebol deu uma ticado por abrigar o “futebol força e dos nove comandantes brasileiros “Gaúcho” Portaluppi, Paulo Bona- ordem expressa a Carlos Caetano retranqueiro”? Apenas coincidência que já dirigiram um time campeão, migo, Ivo Wortmann e Celso Roth Bledorn Verri: recuperar a extinta ou qualidade da terra? “Acho que a quatro eram cariocas, três eram também dão continuidade a um motivação dos jogadores brasileiros. qualidade dos treinadores gaúchos gaúchos – Luís Felipe Scolari, Valdir trabalho na escola gaúcha de futebol Algo que só o símbolo da raça e da está na disciplina tática. Os técnicos Espinoza e Paulo César Carpeggiani começado no final da década de 70 vibração na conquista do Tetra em Celso Roth, do Vasco da Gama daqui estão mais para o estilo euro- – um era paulista e o outro era mi- por Ênio e início da de 80, por Car- 94 poderia fazer. hipertexto Porto Alegre, setembro de 2007 mundo 11

Arquivo Pessoal CRÔNICAS DA CHINA

O intercâmbio entre a PUCRS e a Universidade de Comunicação da China já promoveu a ida de brasileiros para estudar em Pequim. O aluno do curso de Jornalismo da Famecos Rafael Codonho morou por 11 meses na cidade de Pequim, de onde enviou alguns relatos ao Hipertexto. De volta a Porto Alegre, o repórter começa publicar aqui histórias da vida cotidiana naquele país. Nas noites de Pequim, a babel de estrangeiros “Chegamos a Xangai. hora de pousar para a fotografia. Sorria! Lá estou eu, em pé, de blusão preto”

Rafael Codonho nigeriano de fachada especializado bolas gigantes na entrada. Convidam caminhar com a perna esquerda pra guinte, ninguém se lembrava quem no que Al Pacino construiu seu o estrangeiro ao escape da realidade. um lado, a perna direita pro outro, tinha pago a conta. Do restaurante Pequim é uma cidade turística império em Scarface. Espetinhos de Não se está na China mais. São dois barriga pra frente, inclinação cor- muçulmano, íamos a um bar insta- por sua história milenar, provocando carne de ovelha preparados por andares, o primeiro com diversas poral de 115 graus, simulando uma lado numa rua estreita e suja, onde curiosidade imediata de se conhecer. migrantes da província muçulmana mesas; o de cima, uma pista de dança mancada. A patota sueca malandra habitavam os moradores antigos. Em uma semana se busca no mapa o de Xinjiang trazem recordações. com mais luzes do que o usual e uma formava pares com as adolescentes Ao lado do Lele Bar, uma casa próximo destino. Não que a cidade Livrarias especializadas em best-sel- ilha onde se preparam drinks caros. chinesas e subiam no palco, ensaian- de massagem encerrava o expediente seja desagradável, mas o espetacular lers em inglês, lojas de DVD piratas Um shooter, nome pomposo para do danças sensuais. de madrugada. É certo que ninguém vai da primeira impressão à rotina e e uma multidão de estrangeiros é designar uma pequena quantidade Um amigo iraniano encontrava a batia à porta na madrugada para fa- cansa. É hora de conhecer Xangai, abordada por moradores de rua, de bebida, uma espécie de cachaça, liberdade que não tinha no seu país. zer massagem. Mulheres com roupas Xi’an (dos famosos guerreiros de vistos diariamente no mesmo lugar. custou o equivalente a seis garrafas Vez ou outra aparecia na aula, já que incomuns, maquiagens exageradas Terracota), Hong Kong, Sichuan A deputada federal Manuela D’Ávila, de cerveja. dominava o idioma como poucos e davam boas-vindas lembrando a (terra dos ursos pandas), Yunnan a convite do Partido Comunista da usava isto como ferramenta para o famosa Ópera de Pequim. No bar- (paraíso natural) ou dezenas de China, esteve por 15 dias na China Danças sensuais que realmente gostava. Saía quase zinho, os próprios donos serviam os outras cidades. e declarou a revista Voto de agosto todos os dias e se apresentava como clientes. As bebidas eram caras, mas A capital chinesa é veloz, oferece último: “Para não falar que não há A primeira vez que fui ao famoso italiano para atrair as meninas, num o local bastante simples. Uma vez oportunidades ótimas para estran- pobreza, vi três mendigos em Shan- bairro noturno optei pela danceteria profissionalismo invejável. Aos 18 por semana todos os drinks custa- geiros e para quem busca o recesso. ghai. Os três estavam com obras de Vics, avaliada como um must nos anos se voltasse ao Irã seria obrigado vam 10 yuans. Muitas das melhores Dá para se levar uma vida de es- literatura nas mãos”. A deputada guias na internet. Na porta do local, a participar do treinamento militar e lembranças que tenho remetem a trangeiro no país de Mao Tsé-Tung. precisa andar uma vez no metrô de uma Ferrari e uma BMW conversível seguir a Lei Seca, aplicada no país. esses encontros. Partíamos um a um Ao laowai (expressão pejorativa para Pequim, descer em qualquer parada e atraíam a atenção. A entrada era 50 No dia-a-dia, nosso batalhão de sem perceber, rumando ao fim da designar estrangeiro, em especial os observar se os mendigos que pedem yuans (R$ 13). Havia dois ambientes amigos, todos estrangeiros, se reunia noite que celebrava as boas amizades europeus: lao significa velho,wai, de esmolas lêem Gustave Flaubert ou principais, um destinado ao hip- perto da faculdade. Mesas e cadeiras e momentos. Personagens curiosos fora) disposto a pagar caro e que George Orwell. hop e outro à música eletrônica. O de plástico ao ar livre, chope chinês , circulavam por lá, inclusive um chi- não quer molhos, frituras e pimentas Os bares agora ocupam a pai- primeiro estava lotado e parecia ter espetinhos de ovelha apimentados e nês, sempre de boné, que o francês em excesso, a cidade oferece um sagem com danceterias, entre elas a recebido uma caravana de suecos. o refrão: “zai lai yige” (traz mais um). Eric temia, devido a uma aventura de roteiro gastronômico que deixaria moderna China Doll. Meninas apa- Um rapper contratado acompanhava A “torre de Babel” só se desfazia acompanhá-lo em trajeto etílico. O um paulistano espantado. Salames, rentando 15 anos de idade, de pernas as músicas. Empunhava um micro- quando havia comprometimento parisiense saiu cambaleando e toda presuntos, bolachas brasileiras, finas, saias curtíssimas, perucas e de- fone e desfilava com os clichês que de se falar apenas uma língua. As vez que o chinês aparecia no bar, ele vinhos e espumantes franceses e cotes chupam pirulitos, sentadas em pedem o estilo: aquele característico rodadas iam e vinham e, no dia se- solicitava nossa proteção. chilenos, chocolates belgas, artigos provenientes de todos os lados que possibilitam uma saída fácil para quem não está disposto a comer Mais chineses chegam ao campus da PUCRS como os chineses. Assim, tem uma vida estrangeira mesmo que depois afirme ter morado no país onde se Rafael Codonho Conforme acordo firmado em 2005 leste chinês, diferente da primeira, colegas chineses. A saudade de casa comem grilos e escorpiões. e renovado em 2007, entre a PUCRS que permaneceu os dois primeiros ainda é pequena, mas seus pais se Para completar a vida laowai, Tem tourada no Brasil”, per- e a Universidade de Comunicação anos em Macau, o terceiro em Porto preocupam com eles. Na cerimônia vai-se ao bairro noturno Sanlitun. O guntou a estudante chinesa Cristina da China (CUC), a segunda turma Alegre e o último em Pequim, onde de recepção à nova turma, ocorrida olho fecha e abre de novo. Estranha- (Zha Yingying), ao responder sobre de estudantes ficará 10 meses no se graduaram. Alguns trabalham na em 31 de agosto, despertou atenção mento ou motivo para celebração? o que conhecia do país. Estava em Brasil. Neste semestre e no próximo, China, outros em Angola. Ambas dos presentes os nomes. Cada estu- Talvez os dois. Pode-se caminhar sala de aula esperando a professora em 2008, eles estudarão nas Facul- as turmas aprenderam o Português dante foi ao microfone se apresentar, por vários minutos e a impressão chegar, acompanhada da colega dades de Letras e de Comunicação de Portugal, acrescentando essa dizendo o nome adotado. Entre de não estar na China continua. Nelis (Shan Yijian), ambas comen- Social. De acordo com o programa dificuldade na chegada ao Brasil. nomes incomuns como Leven e Nas mesmas portas fora dos bares, do cachorro-quente que disseram de estudos, está inclusa também uma “Nós não fomos a Portugal, porque Egéria, um dos três rapazes da turma os estrangeiros se deliciam em bom ser “muito gostoso”. O que mais aula de língua estrangeira. o visto é muito difícil de tirar”, reve- se destacou: Lisinho (Li Nan). Li inglês, tomam chopes alemães e fu- sabiam sobre o país em que haviam Em agosto de 2005, a primeira lou Cristina. Ela avalia que a maior questionava onde ficavam as qua- mam narguilé. Garçons se aproximam chegado há sete dias? “Futebol, turma proveniente do país asiático dificuldade do Português são os dras de basquete da Universidade. e com muita insistência oferecem samba, praias, mulheres bonitas, estreou o intercâmbio. Por dois verbos e completa que no mandarim Revelou que a intenção da escolha um women’s club. Estrangeiros de biquíni, produtos de couro e chur- semestres freqüentaram aulas de não há conjugação. era se aproximar do nome chinês na meia-idade, chineses da high society se rasco”, intercalava Nelis nas línguas português e disciplinas do Jorna- Nestes primeiros dias em Porto sonoridade. “Se eu voltasse à China espalham por uma rua de bares com de Eça de Queiroz e Lao She. lismo. A segunda turma estudou Alegre, muitos sorrisos e poucas amanhã, a primeira coisa que eu faria música ao vivo. O grupo de 18 chineses chegou Língua Portuguesa por dois anos queixas. Entre estas, Cristina de- seria comer huoguo (fondue chinês)”, Um pouco adiante, há um bar a Porto Alegre no dia 29 de agosto. na sede da CUC em Nanquim, no monstrava insatisfação de ter apenas brincou Lisinho. 12 ponto final Porto Alegre, julho-agosto de 2007 hipertexto

Lucas Constanzi/ Hiper Ficam os troféus, faltam verbas

Coreógrafos criticam que o uso oferecem emprego a bailarinos do dinheiro dos eventos não é inves- pagando além de um cachê por tido para a desenvolver da dança no apresentação, um salário condizente Estado. Os troféus que uma acade- com o teto da categoria. Entre elas mia leva para a estante ficam como se destacam as companhias Quasar mérito, mas não agregam valor ao (GO), o Grupo Corpo (MG), Balé esporte, já que o festival tem pouca da Cidade de São Paulo (SP), Balé projeção nacional. Para o diretor do Stagium (SP), Cisne Negro Cia de Centro Meme, o valor das inscrições Dança (SP), Deborah Colker (RJ) deve ser utilizado para a capacitação e o Theatro Municipal do Rio de dos bailarinos e a criação de um pú- Janeiro (RJ). Este último é a única blico para a arte: “Os organizadores instituição cultural brasileira a man- poderiam oferecer bolsas, fazer as ter simultaneamente um coro, uma apresentações a preços bem popu- orquestra sinfônica e uma compa- lares ou então gratuitos”, explica nhia de balé. Paulo Guimarães. Nas bilheterias, os Tantos estados e cadê o Rio ingressos eram vendidos entre R$ 12 Grande do Sul? Porto Alegre tem e R$ 15. Apesar de informados sobre bons bailarinos e capacidade de as críticas, os promotores preferiram manter a sua própria companhia de não se manifestar. dança. Enquanto os talentos gaúchos Do jeito que as coisas estão o que sobem em direção ao eixo Rio/São vem acontecendo é uma deserção Paulo a dança por aqui desce. Os Espetáculo no Centro de Eventos da PUCRS durante o festival de dança da cidade dos bailarinos gaúchos para outros dados sobre as últimas participações locais do país e mesmo para o exte- no Em Dança comprovam. Na 9º rior. Um recente caso é o de Norton edição, participaram 177 escolas, já Ramos Fantinel, aluno da Escola neste ano, 120 grupos nacionais e de Ballet Vera Bublitz, que recebeu três internacionais. uma bolsa de aprofundamento e Espaços para dançar, a província Os calos da dança hoje dança na companhia americana tem; bailarinos qualificados, também Washington Ballet. A explicação para há; o que falta então para que os Na comemoração dos dez anos do Porto Alegre este fato vem da própria professora artistas divulguem seu trabalho du- da Escola, Rosane Novoa Barbosa: rante o ano todo? Letícia já prevê o em Dança, bailarinos questionam a promoção “Um bailarino em Porto Alegre não futuro: “O que se fala muito é criar tem como sobreviver da dança, eu já uma companhia de dança aqui do

Gabriela Oliveira/Hiper fui bailarina. É complicado porque Rio Grande do Sul, seria um come- por Camila Rinaldi não tem uma companhia estável que ço”. Sem saber ela segue as palavras dê o valor ao bailarino, onde o baila- de um excelente bailarino: “Não ten- Nos bastidores de um grande rino possa se profissionalizar.” to dançar melhor do que ninguém. evento como o Porto Alegre em No Brasil, atualmente existem Tento apenas dançar melhor do que Dança, realizado de 31 de agosto grandes companhias de dança que eu mesmo”, Mikhail Baryshnikov. a 9 de setembro, era evidente a an- Gabriela Oliveira/Hiper siedade e a excitação no rosto dos bailarinos. Pessoas que ensaiaram o ano inteiro tiveram a oportunidade de mostrar em até seis minutos o motivo dos pés calejados. Mas nem tudo era o que parecia. A alegria com que deixavam o palco após a apre- sentação escondia uma preocupa- ção: sobrará gás para mais um ano de dedicação sem reconhecimento? É preciso calejar os pés para chegar a um lugar de destaque Existe muita reclamação por parte dos dançarinos gaúchos em devem pagar para participar. devem ser controlados e acom- relação à profissionalização desta Em 2007, a aquisição de verba panhados por quem entenda do arte. O Estado não possui uma para a competição não contou com assunto. Mas para que isso ocorra se companhia que absorva a demanda, os recursos da LIC, Lei de Incentivo faz necessário investimento, não só pois não há uma sede que ofereça a Cultura, assim, o espetáculo foi físico como financeiro. Um bailarino um salário aos seus bailarinos. Pelo realizado com a ajuda de patroci- clássico, por exemplo, tem gastos contrário, quem mantém as escolas nadores, apoiadores e o dinheiro com ensaios e trajes – uma sapatilha e academias são os próprios dan- arrecadado com as inscrições. En- de ponta chega a mais de 40 reais. çarinos. tretanto, a premiação usufruiu da Sem a ajuda de custo devida, eles O POA em Dança é dado como LIC em edições anteriores e carrega tem que fazer escolhas, como tra- o maior evento do gênero no Estado o peso de conseguir esse patrocínio balhar ou estudar em outras áreas, e e alvo de criticas por professores, e ainda cobrar valores que não con- a dedicação à dança diminui ou pára coreógrafos e diretores de centros diziam com o formato do projeto. A por completo. e escolas. Para Paulo Guimarães, estrutura do evento é a mesma com Mas há quem defenda o paga- ex-bailarino da companhia Quasar e ou sem o auxilio das leis captadas. mento das inscrições. O professor atual diretor do Centro de Pesquisa A bailarina Letícia Krenzinger, de dança do Centro de Arte Aldo do Movimento (Meme), o festival que dança há 20 anos, não vê uma Gonçalves classifica o evento como é questionável: “Não sou contra o evolução da dança na Capital, pelo competitivo, igual a outros pelo Porto Alegre em Dança, sou contra contrário, além de pagar para par- mundo: “As pessoas pagam inscrição a estrutura dele, a forma como ele ticipar dos festivais, ela acredita e se preparam para uma competi- é abordado. Para mim é um caça haver uma queda na qualidade das ção”. Além de troféus e medalhas, níquel, pois não está promovendo apresentações. “O festival está cres- recentemente existem os prêmios a dança enquanto arte e educação”. cendo, mas a qualidade técnica dos em dinheiro, que são dados aos O desabafo do bailarino vem em bailarinos não acompanha”. Bem trabalhos de maior destaque em 5 ca- forma de repudio à maneira como é como nos esportes, o bailarino é um tegorias: melhor bailarino e bailarina, realizado o evento. Escolas e alunos atleta. Os ensaios e a alimentação melhor duo, conjunto e grupo. Norton se apresentou em Porto Alegre e segue para os Estados Unidos