Resenha de 13 DEZ 2014

Resenha de 1º JAN 2015

Resenha de 24 DEZ 2014

Resenha Diária 1º/01/15 2

MINISTÉRIO DA DEFESA 1º JAN 15 EXÉRCITO BRASILEIRO Resenha GABINETE DO COMANDANTE Diária Quinta-feira CCOMSEX

DESTAQUES O GLOBO - Em 'Dia do Fico', Dilma conclui Ministério FOLHA DE S. PAULO - Dilma usa festa da posse para defender ajuste na economia O ESTADO DE S. PAULO - Cerimônia será vista por 70 delegações estrangeiras CORREIO BRAZILIENSE - Mandato novo, velhos problemas

Em 'Dia do Fico', Dilma conclui Ministério Entre 14 nomes anunciados ontem, 13 serão hoje reconduzidos ao cargo; chanceler será Luiza Damé, Catarina Alencastro, Isabel Braga e Simone Iglesias

Brasília-. Na véspera de tomar posse, a presidente anunciou ontem, num clima de "Dia do Fico"," os últimos 14 nomes da equipe ministerial do segundo mandato. Desses, 13 foram de ministros confirmados nos cargos que já ocupavam até agora no primeiro governo de Dilma. O único que deixa a Esplanada dos Ministérios é o chanceler Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 3

Luiz Figueiredo. Para o seu lugar, foi indicado o embaixador Mauro Vieira, atualmente na embaixada do Brasil em Washington. Figueiredo será deslocado para esse posto. Algumas decisões ficaram para o último instante e outras nem são definitivas. Por conta da indefinição sobre o destino das verbas publicitárias, se ficam vinculadas à Secretaria de Comunicação Social (Secom) ou vão para o Ministério das Comunicações, a presidente convenceu o ministro Thomas Traumann a ficar no cargo até que a questão seja resolvida. Dois petistas foram cogitados para a Secom nas últimas semanas — o deputado Alessandro Molon (PT- RJ) e o tesoureiro da campanha petista, Edinho Silva (PT-SP). Luís Inácio Adams ficará na Advocacia Geral da União, mas a ideia é que seja indicado nos próximos meses para uma vaga de ministro no Supremo Tribunal Federal (STF). Marcelo Neri (Assuntos Estratégicos) também estava de saída do governo e a pasta vinha sendo negociada pela presidente com o PMDB e com o PT, mas as negociações não avançaram. A saída de Figueiredo do Itamaraty também foi decidida em cima da hora. Até anteontem, setores do governo se dividiam em relação à sua permanência. Em nota oficial divulgada no fim da manhã de ontem, a presidente confirmou nos cargos — além de Adams, Neri e Traumann —, os ministros (Casa Civil), (Saúde), (Políticas para as Mulheres), Guilherme Afif Domingos (Micro e Pequena Empresa), Ideli Salvatti (Direitos Humanos), Izabella Teixeira (Meio Ambiente), José Eduardo Cardozo (Justiça), José Elito Carvalho Siqueira (Segurança Institucional), Manoel Dias (Trabalho) e (Desenvolvimento Social).

ENTRE 39, NENHUMA PASTA PARA O RIO Terceiro colégio eleitoral pais, o estado do Rio não terá nenhum ministro político entre os 39 escolhidos pela presidente Dilma Rousseff para governar em seu segundo mandato. Embora cinco dos ministros que tomarão posse hoje tenham nascido no estado, entre eles o ministro da Fazenda, , nenhum deles teve atuação política. No primeiro mandato de Dilma, três ministros políticos do Rio — (PDT), (PMDB) e Luiz Sérgio (PT) — foram empossados já em primeiro de janeiro de 2011, além de outros quatro que nasceram no estado. Na avaliação de aliados, o maior problema encontrado por Dilma para contemplar o Rio foi o fato de os partidos da base mais fortes no estado terem se dividido na eleição. Com isso, neste segundo mandato, além de Joaquim Levy, os outros quatro ministros que também nasceram no Rio não tem qualquer relação política na cidade — Marcelo Neri (SAE), (Planejamento), (Defesa) e Mauro Vieira (Relações Exteriores). Embora seja político e nascido no Rio, Wagner fez carreira político-partidária na Bahia.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 4

Recomeço em águas turvas Dilma inicia 2° mandato com a missão de reorganizar a economia e controlar crise na Petrobras Fernanda Krakovics

Brasília- "Não permitiremos, sob nenhuma hipótese, que essa praga (inflação) volte a corroer nosso tecido econômico e a castigar as famílias mais pobres". Essa frase fez parte do discurso de posse da presidente Dilma Rousseff em 2011, mas poderia ser repetida por ela hoje, ao iniciar seu segundo mandato. Domar a inflação, organizar as contas públicas e retomar o crescimento sem prejudicar as conquistas sociais estão entre os principais desafios da petista para os próximos quatro anos. Há duas semanas, a presidente, de 67 anos, disse que usaria o discurso de posse para detalhar as medidas econômicas. Não se sabe se Dilma tratará do tema corrupção em seu discurso. Mas o assunto também concentrará as atenções da presidente na largada de seu segundo mandato. Em meio ao escândalo detonado com descoberta de um cartel para fatiar as obras da Petrobras, e a quase certeza de que ele atingirá em breve figuras importantes de sua base no Congresso, a petista terá de se desdobrar para manter a governabilidade. Não por acaso distribuiu ministérios a partidos aliados como nunca, desagradando ao PT. A posse de Dilma, a partir das 14h30m de hoje, em Brasília, marcará o início do oitavo mandato presidencial desde que foram retomadas as eleições livres no país. Ao seu fim, o PT terá permanecido 16 anos à frente do governo, no qual chegou em 2002, com Luiz Inácio Lula da Silva. Após as eleições mais acirradas da história brasileira, o PT pretende levar 50 mil pessoas para a Esplanada dos Ministérios, como uma demonstração de força.

ESCOLHA DE LEVY CONTRARIOU ESQUERDA DO PT Para a ira das alas mais à esquerda do PT, Dilma escalou para o comando do Ministério da Fazenda Joaquim Levy, economista de perfil mais liberal. Mais afeito ao modelo econômico defendido pelo candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves (MG), — de cuja campanha foi colaborador — Levy é a principal sinalização de que haverá um cavalo de pau na política econômica. Talvez a economia seja a área onde se encaixe melhor o slogan da campanha petista: "Governo novo, ideias novas". — O grande desafio da presidente será deixar a nova equipe econômica trabalhar. Como ela é economista, a vontade dela de participar é muito grande — afirmou o cientista político Ricardo Caldas, da Universidade de Brasília (UnB). Além de domar o cenário econômico ruim, o governo terá que se esmerar na articulação política para evitar crises no Congresso que paralisem seu governo. O cenário que se avizinha é de uma oposição mais aguerrida; uma base aliada pouco fiel; a perspectiva real de eleição do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de perfil mais independente, para a presidência da Câmara. Emparedada pela revelação do esquema na Petrobras, Dilma se comprometeu com a aprovação de projetos de combate à corrupção, como tornar crime a prática de caixa dois e punir agentes públicos que apresentem enriquecimento sem justificativa. Também disse querer negociar com o Judiciário a agilização do julgamento de processos relativos a desvio de dinheiro público. Ao ser reeleita, Dilma disse estar ciente de que o sentimento de mudança pautou a campanha e prometeu fazer as reformas que o Brasil precisa. Citou especificamente a reforma política, que se arrasta há anos no Congresso.

SEM MAIORIA PARA APROVAR REFORMA POLÍTICA O modelo de reforma política defendido pelo PT (voto em lista pré-ordenada, financiamento público de campanha, Constituinte exclusiva e a realização de um plebiscito) não tem maioria para ser aprovado. Após o escândalo do mensalão, o PT passou a usar a defesa da reforma política como uma bandeira ética. Para completar, a relação entre Dilma e o PT promete ser explosiva. O partido queria influir mais a partir de agora, até porque depende do sucesso do governo para se manter no poder a partir de 2018. Mas Dilma escanteou o grupo do ex-presidente Lula e a corrente majoritária do partido na montagem de sua nova equipe. Apesar de ter prometido não cortar direitos trabalhistas, "nem que a vaca tussa", a redução de gastos do segundo mandato começou com restrições no acesso ao seguro-desemprego, abono salarial (PIS) e auxílio-doença. Se, por um lado, 2015 deve ser de corte de gastos, Dilma traçou metas ambiciosas para programas que foram a vitrine do primeiro mandato, como oferecer mais 12 milhões de vagas no Pronatec, de ensino profissionalizante, e construir 3 milhões de unidades no Minha Casa Minha Vida.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 5

Equipe equivocada Merval Pereira

Para ampliar a base aliada no Congresso em termos nunca antes vistos, a presidente Dilma aumentou para 39 o número de ministérios em seu primeiro mandato. Havia uma explicação nunca explicitada para tamanho despautério, a montagem de uma maioria defensiva que impedisse a criação de CPIs e, principalmente, qualquer tentativa de impeachment por parte da oposição, uma preocupação obsessiva do ex-presidente Lula desde que escapou por pouco no episódio do mensalão. Lula passou para 35 os 21 ministérios que recebeu do governo Fernando Henrique Cardoso, e Dilma Rousseff os ampliou para 39. Mantendo boa parte dos ministros da primeira leva, e ainda mudando alguns de posto sem a menor lógica, a presidente Dilma revela em seu Ministério do segundo mandato a mesma mediocridade que marcou o governo que terminou ontem. Com exceção da equipe econômica — que sinaliza mudanças importantes, mesmo que mantido o presidente do Banco Central e trazendo de volta ao governo o ministro Nelson Barbosa —, as demais mudanças não trazem consigo nenhuma alteração de diretriz, mas apenas a necessidade de arranjar lugar para representantes do grupo de partidos aliados que formam sua base defensiva. Até mesmo a mudança nas Relações Exteriores, que poderia indicar uma inovação de rumos com a volta de , acabou se transformando na troca de seis por meia dúzia. A chegada a contragosto de na Educação não significa nada além de abrir espaço para o PROS, enfraquecendo o PT. E o grande vitorioso das eleições regionais, o governador da Bahia, Jaques Wagner, acabou isolado num Ministério da Defesa anódino. Somente a indicação de para o Ministério das Comunicações pode querer dizer alguma mudança importante na definição de políticas governamentais, se realmente significar que a presidente Dilma sucumbiu finalmente às pressões de setores radicais petistas para realizar o tão sonhado controle social da mídia. Mesmo que seja essa a intenção, e não apenas acalmar esses setores com a simples indicação, vai ser uma disputa tão grande no Congresso para concretizar a tentativa de controle do jornalismo profissional que dificilmente a Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 6 presidente Dilma terá suporte político para enfrentá-la em meio aos problemas econômicos com que o país se defrontará. Uma questão intrigante é como a presidente conseguiu montar um quebra-cabeça tão complicado como a formação de um megaministério desagradando a seus dois grandes partidos de apoio, o PT e o PMDB. Digamos que o desgaste com o PT não tenha grande importância, porque na hora da definição o partido estará sempre ao lado da presidente, mesmo a contragosto. Mas e o PMDB, que já começou dividido na campanha presidencial e prossegue assim, sem que a presidente tenha tentado unificar as tendências? Ela pode ter dado um passo equivocado ao fortalecer a influência do presidente do Senado, Renan Calheiros, em detrimento da do vice . Renan Calheiros pode ficar impossibilitado de continuar na presidência do Senado quando sair a lista oficial de parlamentares envolvidos na Operação Lava-Jato, e, mesmo que consiga permanecer no cargo, o exercerá fragilizado enquanto as investigações prosseguirem. Ao mesmo tempo, o deputado Eduardo Cunha provavelmente vencerá a disputa pela presidência da Câmara contra uma candidatura petista que parece não ter chance. O PMDB estará no comando do Congresso nos primeiros anos do segundo mandato de Dilma, quando se decidirão questões cruciais para a governabilidade. Não é bom sinal para o governo que ele saia da formação ministerial desiludido.

Os pontos-chave 1 - Com exceção da equipe econômica, que sinaliza mudanças importantes, as demais mudanças não trazem consigo nenhuma alteração de diretriz. 2 - Intrigante é como Dilma conseguiu montar um quebra-cabeça tão complicado como a formação de um megaministério desagradando aos 2 grandes aliados, PT e PMDB. 3 - O PMDB estará no comando do Congresso nos primeiros anos do segundo mandato de Dilma, quando se decidirão questões cruciais para a governabilidade.

Aliados terão recorde de verba desde que o PT chegou ao poder Para tentar domar Congresso, Dilma reduz espaço petista no Ministério Alexandre Rodrigues e Marcelo Remígio

Prestes a iniciar um novo mandato em meio à crise provocada pelas investigações de corrupção na Petrobras, a presidente Dilma Rousseff repetiu a fórmula usada por seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, para consolidar a maioria no Congresso após o escândalo do mensalão: sacrificou o PT para abrir mais espaço aos aliados em sua equipe. A partir de hoje, o PT terá a menor participação no governo desde que chegou ao poder com Lula, em 2003, tanto em número de ministérios como no volume de recursos para investimentos que seus indicados vão administrar. Em relação à equipe que tomou posse com Dilma em 2011, os outros partidos governistas avançaram no alto escalão, passando de 12 para 15 indicados. Já o PT perdeu quatro cadeiras em relação a 2011, caindo de 17 para 13 entre 39 pastas. Em 2003, petistas controlavam 18 de 35 ministérios. A ampliação da base parlamentar obrigou o partido a reduzir sua presença no Executivo para 16 no segundo governo Lula, em 2007. Dil-ma voltou a privilegiar o PT elevando a cota do partido para 17 pastas em 2011, mas a partir de hoje terá a companhia de apenas 13 correligionários, de acordo com a lista final do novo gabinete divulgada ontem pelo Palácio do Planalto. Numa arquitetura desenhada a conta-gotas, uma marca de seu processo de decisão, Dilma destinou ao seu partido a administração de pouco mais de um quarto dos gastos discricionários do Orçamento da União, a fatia que mais interessa aos políticos. São os recursos não obrigatórios, que permitem aos ministros decidir como gastá-los. Já os outros partidos governistas — PMDB, PP, PR, PROS, PSD, PTB, PDT, PRB e PCdoB — ficaram com 56,8% dessas verbas: o equivalente a cerca de R$ 106 bilhões, de acordo com a proposta orçamentária de 2015, que ainda não foi aprovada pelo Congresso.

PT TERÁ MENOS RECURSOS Dados da plataforma Mosaico Orçamentário, da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV-DAPP), mostram que o PT controlava quase metade dessas verbas no início do mandato de Dilma, em 2011: 43,6%. Os partidos aliados tinham parcela pouco inferior, de 43,3%. Agora, enquanto os aliados ficam com mais da metade, o PT passa a administrar apenas 28% dos recursos livres. Contribui para isso a perda da Educação para o PROS de Cid Gomes, que tem 20,1% dos gastos discricionários do governo. Essa distribuição retoma o movimento do início do segundo mandato de Lula, quando ele entregou aos indicados de outras legendas ministérios que concentravam 55,7% das verbas discricionárias do governo, deixando ao PT 30,3%. Dilma agora supera essa marca, retrocedendo em relação ao desenho de 2011 — que havia voltado a concentrar recursos para investimentos no PT, inaugurando um mandato de muitas tensões com a base parlamentar. Mais do que o número de pastas, a distribuição da fatia discricionária do Orçamento administrada pelos ministérios é o que melhor expressa como cada legenda foi contemplada por Dilma na negociação que envolve seu apoio no Congresso. Segundo os dados da DAPP-FGV, o total de gastos da União autorizados em 2014 superou R$ 1,7 trilhão, mas apenas 10% disso são verbas não carimbadas. Isso explica o fato de o Ministério da Previdência Social, o maior orçamento da Esplanada, ter virado um patinho feio. Rejeitado por PMDB e PDT, terminou com o PT.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 7

PMDB SE LIVRA DE "ABACAXI" Em 2014, a Previdência teve um orçamento total de R$ 402 bilhões, 22,7% de tudo o que o governo tinha para gastar. No entanto, apenas 0,5% era verba não obrigatória. Como pagar pensões não gera dividendos políticos, a pasta foi definida como um "abacaxi" pelo último ministro, Garibaldi Alves (PMDB). Por isso, a troca dela por outras duas cadeiras no primeiro escalão foi vista como um avanço do PMDB. Ainda que tenham orçamentos bem menores, as secretarias de Pesca e de Portos têm mais de 80% de verbas livres para investimentos. Primeira mulher a assumir a Presidência da República, Dilma inicia seu novo mandato na companhia de mais homens. O número de mulheres na equipe caiu de 9 em 2011 para 6 em 2015. Já o de técnicos subiu, principalmente na área econômica. Joaquim Levy e Nelson Barbosa substituem petistas na Fazenda e no Planejamento. Eram 8 sem indicação partidária em 2011, e agora são 11. — No Brasil, e em outros países, nem sempre as alianças são respeitadas na composição de um Ministério. A preocupação maior é o relacionamento com o Legislativo, por isso essa distribuição de pastas. No exterior, muitos governos chamam essa divisão de governo de coalização. Dilma fez o mesmo. E não foi diferente com Lula e Fernando Henrique — analisa o cientista político e pesquisador da UFRJ Paulo Baía.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 8

Presente para 2 milhões Espetáculo pirotécnico encanta na orla de Copacabana e lembra os 450 anos da cidade

Dois milhões de pessoas celebraram ontem a chegada do Ano Novo na Praia de Copacabana. Alguns segundos antes da meianoite, uma surpresa: fogos desenharam no céu ―Rio 450‖ em alusão ao aniversário de fundação da cidade. 2015, que traz desafios e promete grandes transformações, às vésperas das Olimpíadas, chegou brilhando, em clima de paz e, apesar da multidão na orla, não foram registrados casos de violência. O show de fogos durou 16 minutos e deixou o público extasiado. Houve um incêndio numa balsa que carregava 3 mil bombas, assustando as pessoas que assistiam ao espetáculo na areia, mas ninguém se feriu. Os técnicos que trabalhavam na embarcação se protegeram das chamas num contêiner e foram resgatados pelos bombeiros. Com os olhares vidrados no céu de Copacabana, mais de dois milhões de pessoas presenciaram, na passagem de ontem para hoje, um momento especial e único para o Rio. Segundos antes da virada, a imagem do número 450, que apareceu em duas queimas de fogos, remetia ao 2015 que marca o aniversário de fundação da cidade. Mas o novo ano também será de renascimento, de um Rio que se enche de esperança na reta final da preparação para sediar o maior evento esportivo do mundo: as Olimpíadas de 2016. Num adeus mais do que especial a 2014, o Papa Francisco apareceu por um minuto nos telões espalhados pelos três palcos da orla: ―Querido povo brasileiro. É com grande alegria que me dirijo a vocês às vésperas do ano novo, que marcará o início das comemorações dos 450 anos de fundação da cidade de São Sebastião do , para saudar, numa circunstância tão feliz, o amado povo carioca‖, disse o Pontífice.

INCÊNDIO SEM VÍTIMAS Apesar da grande festa, houve um momento de apreensão: uma das balsas usadas na queima de fogos, localizada na altura do palco principal, pegou fogo pouco antes do fim do espetáculo. O incêndio só foi contido pouco antes de meia-noite e meia, com a intervenção de embarcações que lançaram jatos d’água. De acordo com o Corpo de Bombeiros, não houve vítimas. Apesar de o acionamento ter sido feito por controle remoto, havia quatro pessoas a bordo, que se refugiaram num contêiner, chamado de célula de segurança, até serem resgatadas por barcos que estavam a postos. Durante a madrugada, elas passaram por avaliação médica, e ficou constatado que não sofreram intoxicação devido à fumaça. O uso de balsas no réveillon foi adotado no Rio após um acidente, na passagem de 2000 para 2001, ter provocado a morte de uma pessoa, deixando 49 feridas. Na época, os fogos eram disparados da areia. O show pirotécnico em Copacabana contou ao todo com 34 mil bombas espalhadas por 11 balsas, 31% a mais do que as 26 mil da virada de 2013 para 2014, apesar de o tempo do espetáculo ter sido o mesmo: 16 minutos. A queima de fogos teve o acompanhamento de uma trilha sonora feita especialmente para o evento, misturando canções de MPB remixadas com músicas de orquestra, sempre relacionadas com a cidade, como ―Aquele abraço‖, de Gilberto Gil, e ―Do Leme ao Pontal‖, eternizada na voz de Tim Maia. Os efeitos de cascata foram os que mais chamaram a atenção, arrancando aplausos do público. A festa reuniu cariocas e turistas dos quatro cantos do Brasil e do mundo. Um deles foi o pequeno Davy, de apenas 5 meses. Ele assistiu a tudo no colo da mãe, a empresária Keli Cristina Favani, de Birigui, no interior de São Paulo, que estendeu uma canga sob uma das árvores em frente ao Copacabana Palace para garantir seu espaço. — É uma festa democrática, que acolhe pessoas de todas as idades. Estamos nos divertindo, e de camarote! — brincou ela. Apesar do forte calor, o público começou a lotar a orla ainda com a luz do dia. A partir das 18h, começaram os shows nos palcos montados ao longo da orla, com bandas como Titãs e Detonautas. A partir das 22h, o movimento de chegada pelo metrô foi grande. Para aguentar horas e horas na areia, não foram raros os casos de quem até levou malas para Copacabana, como os recém- casados Fabiano Lima, de 31 anos, e a mulher Adriana Silva, de 36, que se encontraram à noite com o resto da família já acampada no Posto 3 de Copacabana. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 9

— Nós nos casamos no dia 21. Ela fez aniversário no dia 29. Brincamos dizendo que a nossa noite de núpcias vai acontecer hoje — contou Fabiano.

EMOÇÃO AO SOM DE “IMAGINE” A multidão em frente ao palco principal já começou a se emocionar quando, às 23h30m, o jovem Vinícius Gomes, de 15 anos, tocou num piano branco uma versão de ―Imagine‖, de John Lennon, numa apresentação promovida pelo Unicef para convidar as pessoas a imaginarem um mundo melhor para as crianças em 2015. No telão, foram passadas imagens de Londres e da Cidade do Cabo, que também participaram da mesma ação. A virada foi sem chuva: apenas por volta das 22h30m houve um leve chuvisco, com algumas pessoas tirando capas das bolsas. Uma verdadeira febre na areia foram as selfies com o fundo privilegiado da orla de Copacabana. Famílias, como a da estudante Paloma Goes, posavam abraçadas em busca do melhor clique para saudar a chegada de 2015. — Estamos aqui há um tempão tentando uma foto que fique ótima para postar! O cenário ajuda bastante, é a selfie numa das festas mais famosas do mundo — disse a estudante, que chegou a Copacabana com os pais, o irmão e a cunhada às 14h. O esquema de segurança montado pela PM contou com 1.729 policiais, 33% a mais que o número empregado no réveillon passado. Além do aumento de efetivo, o esquema especial de patrulhamento também teve reforço tecnológico: três helicópteros equipados com câmeras de última geração, entre elas as térmicas, capazes de identificar fontes de calor como, por exemplo, o disparo de uma arma de fogo em meio à multidão. Houve alguns tumultos, principalmente próximo ao palco principal: o cantor Seu Jorge, que fez um show logo após a virada, chegou a interromper a apresentação por um minuto por causa de uma briga. Ele seguiu pedindo paz ao público. Houve diversas queixas de furtos, principalmente de celulares. Durante a noite, um menor foi apreendido pela polícia com sete aparelhos. A volta para casa começou sem problemas no metrô, sem longas filas.

400 MIL PESSOAS NO FLAMENGO Para quem não quis ficar em Copacabana, uma das opções foi o réveillon na Praia do Flamengo, que, segundo os organizadores, superou as expectativas e reuniu cerca de 400 mil pessoas para acompanhar a queima de fogos, também com 16 minutos de duração. Houve shows como o do cantor Silvinho Blau Blau e de ritmistas das escolas de samba São Clemente e Beija-Flor. — É claro que a festa em Copacabana é melhor. Mas lá fica muito cheio — argumentou a dona de casa Valéria Lourenço, moradora de Madureira. Participaram da cobertura: Alessandro Lo-Bianco, Fábio Teixeira, Gabriela Leal, Leandra Lima, Leonardo Sodré, Marco Stamm, Rodolfo Mageste e Thalita Pessoa

Depois da ressaca O desafio das decisões econômicas do ano que se inicia após o turbulento 2014

O ano de 2014, com eleições acirradas, foi marcado por turbulências econômicas, com fortes alterações no dólar, no petróleo, na Bolsa, denúncias de corrupção na Petrobras e alta na inflação, afetando as expectativas de famílias, empresários e investidores. E 2015 também promete fortes emoções. A economia brasileira tem pela frente grandes desafios: reorganização das contas públicas, atividade econômica fraca, confiança do empresário e do consumidor em níveis baixos, o que compromete os investimentos, e uma inflação que terá de absorver pressões represadas, como das tarifas de energia e do reajuste de combustíveis. Até o mercado de trabalho, que vinha se mantendo resguardado da desaceleração, deve sofrer uma piora: espera-se que a taxa de desemprego, ainda que permaneça em um patamar relativamente baixo, registre um aumento gradual. Em meio à crise de corrupção da Petrobras, o governo precisa, urgentemente, retomar a credibilidade fiscal, sob o risco de perder o tão estimado grau de investimento das agências de classificação de risco, que garante ao Brasil o título de bom pagador e acesso aos mercados internacionais com juros mais baixos e melhores condições de financiamento. Neste esforço, duas ações são fundamentais: um forte ajuste fiscal, para que o país volte a fazer superávits primários para reduzir sua dívida líquida, e um combate mais austero da inflação, o que demanda um Banco Central mais independente das questões políticas. Neste cenário, a queda dos preços dos principais produtos exportados pelo país e a recente alta da cotação do dólar — que tende a se manter em 2015 — são problemas extras. Depois de recuarem em 2014, os investimentos devem reagir em 2015, mas ainda será uma recuperação modesta, sem condições de compensar a queda registrada no ano que terminou ontem. Um dos principais obstáculos será a confiança dos empresários, que permanece baixa. Também dificultam a decisão de investimento os estoques elevados e a capacidade ociosa na indústria. Há alguma expectativa, no entanto, de continuidade no programa de concessões, o que poderá estimular investimentos em infraestrutura: — Quem vai sustentar o investimento é a infraestrutura. Vemos uma retomada do programa de concessões em 2015. As concessões de rodovias foram bem, e há outros lotes. Ainda há as ferrovias e os portos — afirma o economista-chefe da LCA Consultores, Bráulio Borges. No entanto, em um contexto de desaceleração da atividade econômica, não há como o mercado de trabalho se manter intacto. A deterioração observada no segundo semestre, com menor geração de vagas, especialmente as formais, deve permanecer em 2015. A taxa de desemprego, por sua vez, deve subir, ainda que tenda a continuar em níveis baixos, considerando-se a série histórica. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 10

Os 12 trabalhos de 2015 Os assuntos que devem garantir espaço no noticiário internacional até dezembro

PRIMEIROS PASSOS DO DEGELO A reaproximação entre Washington e Havana anunciada pelos presidentes americano, Barack Obama, e cubano, Raúl Castro, prevê como passo inicial a reabertura das embaixadas após meio século de relações diplomáticas mínimas entre os países. Uma das maiores expectativas trata da saída de Cuba da lista de países patrocinadores do terrorismo, o que facilitaria ainda mais a reaproximação entre os países. Até o meio deste ano o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, deve apresentar um relatório sobre o tema. Segundo o Council for Foreign Relations, um think tank, o Congresso dos EUA, dominado por Republicanos , não deve aprovar o fim do bloqueio econômico.

MÉXICO NA BERLINDA O massacre de 43 estudantes, no Sul do país, durante ação conjunta da polícia e de narcotraficantes causou uma comoção sem precedentes, obrigando o presidente Enrique Peña Nieto a fazer reformas urgentes em sua política de segurança pública. A revolta da população se voltou contra as autoridades, derrubando o governador do estado de Guerrero, e pôs Peña Nieto na berlinda, com alguns casos suspeitos de corrupção envolvendo a ele e sua mulher vindo à tona. Para Antonio Mazziteli, do escritório da ONU no México, o bárbaro crime impactou negativamente a imagem do país no exterior e deve obrigar o governo a cuidar mais dos problemas internos se quiser atrair investimentos estrangeiros.

CRISTINA SAI DE CENA Em outubro, os argentinos vão às urnas escolher um novo presidente. Será o fim da era que começou em 2003 com a eleição de Néstor Kirchner, seguida de dois mandatos de sua mulher, Cristina Kirchner, que assumiu em 2007. Se os primeiros anos foram marcados pela retomada do crescimento econômico após a pesada crise da virada do século, nos últimos anos o cenário piorou muito, com novo risco de calote por conta de credores que se recusaram a aceitar o acordo de pagamento da dívida e buscaram a Justiça americana. A grande dúvida é quem sucederá Cristina: o governo deve apostar no governador de , Daniel Scioli, mas a baixa popularidade da presidente e a crise podem impulsionar a oposição.

POSSÍVEL PAZ NA COLÔMBIA No 50º aniversário da insurreição da guerrilha Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o diálogo em andamento com o governo Juan Manuel Santos, em Havana, criou uma verdadeira possibilidade de acordo entre os dois lados. Especialistas, no entanto, apontam que a paz a partir de 2015 depende de desafios e concessões dos dois lados. Entre pendências, estão cessar-fogo definitivo, com entrega de armas, e acordos para anistias, prisões e ressocialização, além de uma via jurídica para a implementação do acordo. — Acredito que o acordo saia em 2015. Os dois lados cumpriram a agenda. Lideranças devem ser condenadas por crimes contra a humanidade e narcotráfico — avalia o especialista Jairo Libreros.

VENEZUELA EM QUEDA LIVRE Assolada por uma persistente crise econômica, a Venezuela pode enfrentar tempos ainda mais sombrios este ano. O cenário de escassez de produtos, inflação nas alturas, violência crescente e protestos antigoverno deverá se agravar em 2015, provocando uma queda ainda maior da popularidade do presidente Nicolás Maduro num ano decisivo de eleições parlamentares. — Será um ano muito difícil. Para enfrentar a crise, é preciso tomar medidas impopulares como cortes de gastos e aumento da gasolina. Ações como essas afetariam a popularidade do presidente que lidera um governo ineficiente e improdutivo. Se ajustes não forem feitos, a economia entrará em colapso — diz o analista político Luis Vicente León.

CONGRESSO OPOSITOR NOS EUA O novo Congresso com as duas Casas de maioria republicana tomará posse nos EUA, desafiando a capacidade de Barack Obama de impor sua agenda. Nos últimos anos, os dois lados da polarizada política americana mostraram pouca disposição de diálogo, e a expectativa é que Obama volte a testar os limites de seus poderes de agir via decreto, como fez no fim de 2014 na questão da imigração e do reatamento com Cuba. Os republicanos, por sua vez, também tentarão mostrar serviço na largada da corrida presidencial de 2016. — A liderança de ambas as Casas vai acarretar uma enorme pressão sobre eles para cumprir algumas promessas — diz Anita McBride, da American University, em Washington.

EM CLIMA DE GUERRA FRIA Depois de um ano de impasses, ameaças e retaliações após a queda do governo ucraniano pós-Moscou e a tomada da península da Crimeia por Vladimir Putin, a relação entre Rússia e Ocidente pode se deteriorar ainda mais. Analistas políticos desenham um quadro pessimista, com o Leste da Ucrânia, pivô da atual disputa, podendo tornar-se um conflito congelado, sem a perspectiva de uma solução em curto prazo. Mark Adomanis, analista russo e colaborador da ―Forbes‖, não enxerga possibilidade de uma reaproximação num futuro próximo e prevê um aumento das sanções econômicas contra Moscou em decorrência da crise ucraniana.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 11

O AVANÇO DO ESTADO ISLÂMICO Usando diferentes nomes, o grupo terrorista Estado Islâmico existe desde meados de 1999. Mas foi em 2014 que tornou-se mundialmente conhecido, principalmente por seus métodos cruéis, o avanço devastador pelo Iraque e Síria e as decapitações de estrangeiros, divulgadas na internet. Especialistas, no entanto, divergem sobre o que pode acontecer com o grupo — alvo nos últimos meses de uma campanha de ataques aéreos liderada pelos EUA — este ano: enquanto alguns acreditam que eles continuarão ganhando espaço, outros acham que suas vulnerabilidades e o esforço gasto na tentativa de conquistar a cidade síria de Kobani, acabem o enfraquecendo.

DIÁLOGO NUCLEAR COM O IRÃ Negociadores do Irã e do P5+1 (China, França, EUA, Reino Unido, Rússia e Alemanha) iniciam o ano correndo contra o relógio para fechar um acordo até julho, quando se esgota o terceiro prazo para as negociações iniciadas em 2013 para permitir ao país manter um programa nuclear sem se sujeitar a sanções. — Apesar das muitas rodadas de negociações, os dois lados ainda têm questões a resolver — afirma Kambiz Foroohar, jornalista iraniano radicado no Reino Unido. — Eles estão perto, mas para chegar a um acordo, um dos lados precisa fazer concessões, o que não será bem visto internamente. Caso deixem passar mais uma vez o prazo, é provável que o Congresso dos EUA comece a falar sobre a aplicação de novas sanções.

IMPASSES NA TERRA SANTA Ativista palestino discute com soldado israelense Um ano após a guerra entre o Hamas — à frente do governo de Gaza — e Israel que matou dezenas de israelenses e mais de dois mil palestinos, a paz entre os dois lados parece ainda mais distante. O premier israelense, Benjamin Netanyahu, convocou eleições antecipadas para 17 março — após 18 meses de governo — que podem polarizar ainda mais o país. Sua atual coalizão, mais à direita do que a anterior, deve enfrentar a chapa liderada por sua ex-ministra de Justiça Tzipi Livni, de centro. Enquanto isso, os palestinos devem continuar sua bem-sucedida ofensiva diplomática para ganhar apoio e reconhecimento ao seu Estado, sobretudo na Europa, onde sua causa ganha terreno.

RISCOS NA ROTA DA IMIGRAÇÃO Imigrantes tentam cruzar cerca em Melilla O ano de 2014 foi marcado por recordes de fluxos migratórios forçados a partir de regiões com confrontos bélicos, catástrofes e aumento nos índices de criminalidade. Mais de 70 mil mulheres e crianças tentaram entrar nos EUA, e 3.400 pessoas morreram atravessando o Mediterrâneo em busca de refúgio na Europa. Para 2015, o cenário em países como Síria, Sudão do Sul e Honduras não desperta otimismo, e novos recordes de imigração são esperados. — Ao mesmo tempo em que a necessidade de refúgio aumenta, mais Estados fecham as portas. Com isso, o deslocado segue outras rotas, às vezes mortais — avalia Andrés Ramirez, do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur).

EXTREMISMO À ESPREITA Após avançar nas urnas nas eleições para o Parlamento Europeu e em disputas locais em 2014, a extrema-direita espera continuar ganhando força este ano, impulsionada pelo pessimismo econômico. —Eu diria que o problema em toda a Europa é o avanço de partidos menores e a redução do apelo de partidos de centro em face da recessão econômica e do fluxo de migrantes — diz Philip Towle, do Departamento de Política e Estudos Internacionais da Universidade de Cambridge. Na França, a Frente Nacional espera obter ganhos em eleições regionais, enquanto o britânico Ukip, que em 2014 elegeu seus primeiros deputados, ameaça os partidos tradicionais em ano de eleições parlamentares.

EUA põem fim oficial à campanha afegã Após 13 anos, país muda escopo de intervenção para assessoria militar FLÁVIA BARBOSA Correspondente

WASHINGTON - Os EUA encerraram à meia- noite de ontem sua mais longa guerra, com o fim oficial de seu engajamento em combates no Afeganistão, iniciados em outubro de 2001. O confronto — que chegou a mobilizar 150 mil soldados simultaneamente e éo símbolo máximo da ofensiva antiterror após o 11 de Setembro — será substituído por atividades de treinamento e contraterrorismo nos próximos dois anos, com contingentes cada vez menores, até a retirada completa de tropas em 31 de dezembro de 2016. Com o cronograma, o presidente Barack Obama cumpre a promessa de terminar a sangrenta campanha, que custou a vida de quase 2.200 americanos. Mas os EUA iniciam agora outra missão, mais complicada: impedir que o Afeganistão repita a experiência do Iraque, ou seja, se desestabilize sem presença militar estrangeira, sucumba ao Talibã e volte a ser porto seguro a terroristas da al-Qaeda. Os primeiros sinais do tamanho do desafio ficaram evidentes nos meses que antecederam o encerramento da missão de combate. Desde novembro, o Talibã realiza ataques em Cabul, que passou boa parte dos 13 anos de guerra isolada dos conflitos no Sul e no Leste do Afeganistão, regiões onde o grupo domina vastas áreas.

BOA RELAÇÃO COM NOVO LÍDER Cidades do interior também estão sob ofensiva dos terroristas. O Talibã retomou nos últimos meses bases e regiões e volta a aterrorizar a extensa fronteira entre Afeganistão e Paquistão. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 12

Também preocupa analistas o atraso na formação do governo de coalizão do presidente Ashraf Ghani, que sucedeu a Hamid Karzai em setembro. Os EUA, que tinham péssima relação com Karzai, veem um recomeço promissor com Ghani, capaz de fortalecer institucionalmente o Afeganistão e fomentar parcerias de longo prazo com a comunidade internacional. Porém, sem ministros de Defesa e Interior, o governo permanece frágil para combater o Talibã e pode acabar fragmentado. Completa o quadro a falta de estrutura militar do país. Por isso, para especialistas, Obama precisa ouvir com atenção as avaliações do Pentágono, redimensionar a promessa de pôr fim à guerra até seu último dia de mandato e revisar o plano de retirada completa das tropas ao fim de 2016, sob pena de ver revertidos os ganhos — para os EUA e a sociedade civil afegã — obtidos em 13 anos de conflito. — O medo é que se repita o desastre do Iraque, no qual o Exército desmoronou sem apoio americano e perdeu Mossul para o Estado Islâmico. Isso fortaleceu o grupo terrorista e forçou Obama a mandar tropas a Bagdá novamente. Washington precisa deixar as condições no campo de batalha determinarem a política e a presença americanas, não o calendário eleitoral — afirma Bruce Reidel, do Centro para Políticas do Oriente Médio. A Casa Branca sabe o risco que corre e já autorizou maior escopo para os militares que continuarão em solo afegão. Elevou de 9.800 para 10.800 o número de soldados americanos na primeira etapa da nova missão. E avalizou que a operação ataque diretamente o Talibã em caso de ameaça às forças dos EUA e da Otan ou de contraofensiva afegã.

OBAMA: “UM LUGAR PERIGOSO” No último domingo, quando ocorreu a cerimônia de encerramento oficial da missão de combate em Cabul, Obama divulgou nota na qual reconhece que ―o Afeganistão continua um lugar perigoso‖ e, por este motivo, o contingente militar americano também conduzirá ―operações de contraterrorismo contra os remanescentes da al- Qaeda‖, em respeito ao compromisso ―com um Afeganistão unido, seguro e soberano, que nunca mais seja usado como base de ataques contra os EUA‖. O problema, porém, continua sendo o tempo hábil para completar o treinamento e a estruturação das forças afegãs. Se não evitar ―o grande erro‖ de uma retirada completa em 2016, Obama põe em risco seu próprio objetivo, afirma Michael O’Hanlon, diretor de Pesquisa do Programa de Política Externa da Brookings Institution: — Além de ameaçar o esforço americano de estabilizar e fomentar a democracia, esse cronograma tira dos EUA as bases para lançamento de e baterias aéreas contra alvos da al-Qaeda, sacrificando a capacidade americana de se defender de inimigos perigosos.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 13

Dilma usa festa da posse para defender ajuste na economia Presidente dirá que medidas são necessárias para retomada do crescimento Petista assume segundo mandato com economia estagnada, crise na Petrobras e discurso de campanha em xeque ANDRÉIA SADI VALDO CRUZ MARIANA HAUBERT DE BRASÍLIA

Dilma Vana Rousseff, 67, assumirá seu segundo mandato como presidente da República nesta quinta-feira (1º) com um discurso em que planeja defender os ajustes iniciados em sua política econômica como necessários para fazer o país voltar a crescer. Primeira mulher a governar o Brasil, reeleita em outubro após a eleição presidencial mais acirrada desde a redemocratização, Dilma será empossada na Câmara e fará seu discurso logo em seguida, por volta das 15h30. Dilma assume seu segundo mandato com a economia estagnada e o discurso que adotou na campanha eleitoral em xeque, por causa das medidas que ela começou a tomar para arrumar as contas do governo, que devem fechar este ano no vermelho. A presidente escolheu um economista de perfil conservador para ser seu próximo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Ele tem defendido mudanças para reequilibrar as finanças públicas e conter a expansão dos gastos do governo federal. Na semana passada, Dilma autorizou medidas que restringem o acesso a benefícios sociais como seguro- desemprego e pensão por morte, embora tenha prometido durante a campanha que não mexeria em direitos trabalhistas. Em seu discurso de posse, conforme o rascunho discutido nos últimos dias com seus auxiliares, a presidente deverá apontar como prioridades o combate à inflação, a preservação do emprego e a redução das desigualdades. Dilma também fará acenos aos empresários, mostrando-se aberta ao diálogo e interessada em parcerias, num esforço para se distanciar dos atritos que marcaram sua relação com o meio empresarial no primeiro mandato. Ela pretende convidar a iniciativa privada a investir em projetos de infraestrutura e aproveitar as oportunidades oferecidas por concessões de rodovias, aeroportos, portos e ferrovias controlados pelo governo federal. Depois do fraco desempenho da atividade econômica em 2014, e com a perspectiva de outro ano difícil pela frente, Dilma prometerá menos burocracia, mais previsibilidade para as decisões econômicas e medidas para estimular o setor privado a investir. O discurso da presidente deverá durar cerca de 30 minutos. Após a solenidade na Câmara, ela se dirigirá ao parlatório do Palácio do Planalto e fará uma breve saudação às pessoas presentes na Praça dos Três Poderes. Em seguida, Dilma dará posse ao seu novo ministério, cuja configuração completa foi anunciada nesta quarta-feira (31).

CORRUPÇÃO A presidente também pretende falar de corrupção em seu discurso, numa tentativa de oferecer respostas às revelações da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga um vasto esquema de corrupção na Petrobras. De acordo com o rascunho do seu discurso, a presidente planeja dizer que não tolera malfeitos e vai propor ao Congresso um pacote de medidas de combate à corrupção, como prometeu durante a campanha eleitoral. Com a crise na Petrobras e a economia estagnada, Dilma governará um país em situação diferente da que herdou de seu antecessor e mentor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010). Em 2010, quando ela foi eleita pela primeira vez, o país cresceu 7,5% e a inflação anual atingiu 5,9%. Em 2014, o ano em que foi reeleita, o crescimento deve ficar em 0,2% e a inflação, perto do teto da meta oficial, de 6,5%.

Novos governadores devem frear investimento Ajuste federal pode resultar em menos empréstimos para obras e compras dos Estados GUSTAVO PATU DE BRASÍLIA

Pressionada pela paralisia econômica do país e pelos ajustes anunciados na administração federal, a nova safra de governadores enfrentará o risco de interrupção da trajetória de expansão dos investimentos observada nos últimos oito anos. Como de hábito, investimentos, que englobam obras de infraestrutura e compras de equipamentos, são vítimas preferenciais em momentos de cortes de despesas. Nos Estados, o impacto tende a ser especialmente agudo nessas situações. Estudo elaborado pela consultoria Macroplan mostra que os governos estaduais têm se tornado cada vez mais dependentes de dinheiro emprestado --em geral, pela União-- para investir. Em valores corrigidos pela inflação, esses gastos saltaram de R$ 41,2 bilhões, em 2006, para R$ 67,7 bilhões em 2013, o que representa elevação de 64% no período. Ainda não totalizados, os números de 2014 devem ser maiores, como é tradição em anos eleitorais. No período analisado pelo trabalho da consultoria, a parcela dos desembolsos bancada por financiamentos tomados pelos Estados aumentou de 10,9% para 48,4% --praticamente a metade. Dito de outra maneira, os Estados dispõem de menos recursos próprios para as obras públicas, e a alta dos investimentos tem sido sustentada pelo crédito federal, que agora tende a escassear. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 14

Essa tendência foi radicalizada a partir de 2012, quando a freada do crescimento econômico do país encerrou a era de alta acelerada da receita tributária em todos os níveis de governo. Entre várias tentativas de reverter o quadro de estagnação econômica, o governo da presidente Dilma Rousseff (PT) lançou naquele ano um programa do BNDES, banco oficial de fomento, destinado especificamente a financiar investimentos estaduais e do Distrito Federal. Além disso, o governo federal se tornou mais generoso e flexível na concessão dos necessários avais para a tomada de empréstimos em organismos internacionais, além de permitir o afrouxamento das metas de controle de gastos dos Estados. As operações do BNDES, porém, devem ser moderadas daqui para a frente, conforme a orientação manifestada pelo futuro ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Nos últimos anos, o banco de fomento precisou de injeções de recursos por meio da venda de títulos da dívida federal, cuja expansão terá de ser contida neste mandato que se inicia.

ORÇAMENTO ENGESSADO Os orçamentos estaduais são ainda mais engessados que o da União. A maior parcela das verbas está comprometida com a folha de salários --principalmente nas áreas de educação, saúde e segurança pública-- e o pagamento de dívidas. Como suas finanças são frágeis, os Estados têm pouco acesso ao crédito bancário privado. Assim, os recursos para grandes obras e compras são minguados, mesmo entre os mais ricos.

EXPANSÃO EM SP Em São Paulo, por exemplo, a expansão dos investimentos iniciada na gestão do tucano José Serra (2007-2010) foi bancada por receitas extraordinárias, como a da venda da Nossa Caixa para o Banco do Brasil. No atual mandato do também tucano Geraldo Alckmin, reeleito para seu quarto mandado, o governo paulista aderiu ao aumento dos financiamentos tomados, que passaram de R$ 1,3 bilhão, em 2011, para R$ 4,6 bilhões no ano passado. Nesse período, os investimentos do Estado subiram de R$ 10,9 bilhões para R$ 13,3 bilhões.

Relações premiadas O 'presidencialismo de coalizão' faz muito mal ao país, mas os presidentes conseguem torná-lo ainda pior Janio de Freitas

Mesmo incompleta, por força de indecisões presidenciais e de voracidades partidárias insatisfeitas, a montagem do ministério para o segundo governo Dilma Rousseff é uma demonstração de que os problemas de governo e de sistema político são, no Brasil, mais complexos e mais típicos do que em geral se admite. As más composições do conjunto de ministérios, tornadas norma desde o início da redemocratização, estão explicadas como consequência forçosa do "presidencialismo de coalizão". Na primeira delas, o governo foi aberto para a oposição à ditadura, sob o estandarte do PMDB, e para o segmento de apoiadores da ditadura que por fim a abandonaram, reunidos no que seria o PFL. A multiplicação dos partidos, hoje mais de 30, instaurou a desordem. Na consequente divisão do Congresso entre múltiplas representações partidárias, várias bancadas não têm expressão política, mas todas são votos na Câmara e no Senado. Votos de que os governos precisam. A obtenção circunstancial desses votos é feita pelo sistema "é dando que se recebe", uma combinação de cinismo e corrupção que já serviu até para dar um segundo mandato de presidente. A maneira dos governantes obterem apoio com alguma permanência é a compra paga com participação no governo: o presidencialismo de coalizão --e de imoralidade e ineficiência. Uma desgraceira, mas com explicação possível. E não completada em si mesma: há o acréscimo inexplicável. É, consumada a coalizão, a parte presidencial, da sua escolha ou aceitação do nome para representar o partido coligado. Esta segunda etapa é pior do que a primeira. Não só por ser agravante da anterior, mas por não ter sequer a desculpa do sistema viciado que a exige. Sua causa é pessoal: está em cada presidente, inescrutável, no máximo presumida, às vezes. Só para exemplificar (no entanto, sem os pontos de exclamação merecidos): Renan Calheiros ministro da Justiça de Fernando Henrique; Geddel Vieira Lima, do grupo dos "anões da Câmara" que assaltavam o Orçamento, ministro da Integração Nacional de Lula, quando destinou à Bahia 90% das verbas para uso em todos os Estados (nem assim os baianos o elegeram governador). Incompleto embora, o novo ministério de Dilma é pródigo no inexplicável. O pastor George Hilton em Esporte, em Ciência e Tecnologia e Jaques Wagner na Defesa podem revelar-se admiráveis nas suas áreas, a vida cria surpresas. Mas a escolha de seus nomes não pode ter partido dessa expectativa de Mega-Sena com cartão simples. Na ausência total de qualificação para a Defesa, quando o Brasil precisa repensar suas ideias militares obsoletas, Jaques Wagner talvez se explique por suas relações especiais com Dilma. Diante da aberração que é o atraso científico do Brasil, não há como entender que Ciência e Tecnologia não fique com um cientista, em vez de usado como quebra- galho para agrado ao PC do B. Consta que, para evitar problemas, a supervisão dos preparativos da Olimpíada-16 ficará na Casa Civil da Presidência com Aloizio Mercadante. É uma confissão da escolha descabida para Esporte. E um modo de causar dano mútuo à Olimpíada e à Casa Civil. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 15

Baixa compreensão do que é política, conceitos errados de administração pública, escassa noção de responsabilidade, desinteresse funcional, presunção em excesso, confusão entre relações pessoais e instâncias públicas --seja algo por aí ou seja o que for, o "presidencialismo de coalizão" faz muito mal ao Brasil, mas os presidentes conseguem torná-lo ainda pior.

ANO NOVO Se você está no lado garantido na vida, aproveite-o bem em 2015. Se está no outro, que a sorte não lhe falte.

Inflação, ajuste e PIB fraco devem afetar mercado de trabalho em 2015 Expectativa de analistas e de setores é que taxa de desemprego aumente e que renda caia Avaliação é que serviços e comércio sentirão mais os efeitos da crise, com a queda no consumo das famílias CLAUDIA ROLLI DE SÃO PAULO

De um lado, um cenário de inflação em alta, crescimento fraco e dificuldade de caixa. De outro, a expectativa de um ajuste fiscal "firme", com corte de gasto e menos dinheiro para investir --no setor privado ou no público. Resultado: um mercado de trabalho mais enfraquecido em 2015, com elevação do desemprego, queda na renda e reestruturação nas empresas com ajustes mais intensos na produção e mais demissões. A avaliação é de economistas e representantes de entidades da indústria, do comércio e do setor de serviços consultados pela Folha. Para os mais otimistas, a taxa de desemprego deve subir para 5,2% neste ano. Na previsão dos mais pessimistas, chegará a 6%. Os dados mais atualizados do IBGE para 2014, até novembro, mostram que o desemprego para seis regiões metropolitanas é de 4,8%. Desde janeiro, o saldo de novos empregos (trabalhadores admitidos menos demitidos) foi de 938 mil --e deve fechar o ano em 700 mil, segundo a previsão do governo. Metade do que o Brasil criava há poucos anos. A deterioração no mercado formal de trabalho fica mais evidente ao observar os dados de novembro, quando foram criadas 8.400 vagas com carteira assinada --queda de 82% ante novembro de 2013, quando se registrou a geração de 47,5 mil vagas. "Como os salários estão evoluindo em um ritmo mais fraco e sofrem o impacto da inflação mais alta, a tendência é que mais pessoas voltem a procurar emprego para elevar a renda familiar", diz Rafael Bacciotti, economista da consultoria Tendências. "Como a geração de vagas é baixa e" insuficiente para absorver toda a força de trabalho, a taxa de desemprego sofre" essa" pressão. Não vimos esse movimento em 2014, mas devemos ver em 2015."

IMPACTO NO BOLSO Se o desemprego sobe, o efeito é imediato no bolso do trabalhador. "O poder de barganha nas negociações salariais fica reduzido em um cenário mais adverso para o emprego. Com isso, a renda deve crescer menos", diz o economista Fábio Romão, da LCA. Na previsão da consultoria, o rendimento médio real do trabalhador deve crescer 1,5% em 2015, patamar mais baixo desde 2005. Em 2014, a alta deve ter sido de 2,7%.

AJUSTE PESADO A indústria deve ainda perder força no emprego, mas o ajuste mais "pesado" já ocorreu, avaliam os economistas. Com férias coletivas, licença remunerada, cortes e programas de demissão voluntária, a indústria automobilística é uma das que mais se reestruturaram em 2014. Em 2015, o setor industrial deve continuar encolhendo --o corte deve chegar a 65 mil vagas, na projeção da LCA. O número corresponde a um terço do previsto para 2014, quando o setor deve fechar 188 mil empregos formais. "Para ter a dimensão do que isso significa, em 2013, a indústria fechou o ano com criação de 91 mil vagas", ressalta Romão. O comércio e o setor de serviços devem sentir mais, nos próximos meses, os efeitos do enfraquecimento da economia --uma vez que o consumo das famílias deve continuar em queda. Fábio Pina, economista da Fecomercio-SP, projeta desaceleração brusca na abertura de vagas no comércio. "No máximo, 50 mil vagas em 2015, o que corresponde a um terço dos empregos gerados no setor em 2013." Não à toa as centrais sindicais querem implementar com o governo um programa de proteção do emprego. A principal medida é a redução da jornada de trabalho em até 30%, com diminuição de salários, nas empresas afetadas pela crise econômica.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 16

Dilma vai vetar correção de 6,5% no IR Presidente irá editar nova medida provisória com ajuste perto de 4,5% na tabela do imposto para efeito neste ano Índice fora aprovado pelo Congresso em dezembro; IPI para veículos sobe a partir desta quinta (1º) DE BRASÍLIA

A presidente Dilma Rousseff irá vetar nos próximos dias a correção de 6,5% da tabela de Imposto de Renda, índice aprovado pelo Congresso Nacional no dia 17 do mês passado. De acordo com auxiliares da presidente, o governo irá editar uma nova medida provisória com uma correção perto de 4,5%, para efeito neste ano. Na campanha eleitoral, Dilma havia prometido corrigir a tabela em 4,5%. O governo editou uma medida provisória com esse reajuste, mas o Congresso Nacional acabou aprovando correção superior. Na época da votação, o Palácio do Planalto tentou convencer a sua base de apoio a adiar a votação para este ano sob o argumento de que o cenário econômico estaria mais claro, mas o Congresso Nacional optou por realizá-la na última sessão com votações de 2014. Durante a votação do ajuste na tabela na Câmara, a bancada do PT ficou isolada. Vislumbrando que seria derrotado, o partido voltou atrás e acabou votando pela correção em 6,5%.

CARROS Ainda em decorrência do cenário de tentativa de ajuste das contas públicas, o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para veículos volta a subir nesta quinta-feira (1º), conforme anunciado pelo governo em novembro. Para carros populares, a alíquota do imposto subirá de 3% para 7%, que era o seu valor original antes da desoneração promovida em 2012. Para os demais veículos, a alíquota subirá de 9% para 11%, no caso dos carros flex, e de 9% para 13% para os modelos movidos a gasolina. Caberá a cada empresa a decisão sobre quando repassar a recomposição do imposto para o preço ao consumidor, de acordo com a Anfavea (associação que representa as montadoras). A desoneração tinha previsão de acabar nesta quarta (31), e o governo optou por não prorrogá-la. A decisão faz parte das medidas de cortes de gasto e aumento de receita anunciadas pela nova equipe econômica do governo.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 17

Cerimônia será vista por 70 delegações estrangeiras Solenidade de posse vai ser acompanhada pelo vice-presidente dos EUA, Joe Biden, e dezenas de autoridades; 300 homens da PF farão a segurança Lisandra Paraguassu BRASÍLIA

A segunda posse da presidente Dilma Rousseff irá reunir em Brasília 70 delegações estrangeiras, entre chefes de Estado, chefes de governo, vices e chanceleres. O convidado mais esperado, o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, será o último a chegar. Quando seu avião aterrissar em Brasília, às 15h20, Dilma já estará na cerimônia de posse no Congresso Nacional. O vice- presidente participa dos cumprimentos no Palácio do Planalto e do coquetel no Itamaraty, e deve ir embora logo depois. A curta visita, no entanto, não diminui a importância de mais um encontro entre Biden e Dilma. É o sinal mais claro da reaproximação entre o Brasil e os Estados Unidos e pode marcar a retomada da relação entre os dois países, abalada desde a descoberta de que a National Security Agency (NSA) espionou o governo brasileiro. Da presença de Biden pode sair a autorização para que a visita de Dilma a Washington seja finalmente remarcada. Caças. A lista inclui ainda o primeiro- ministro da Suécia, Stefan Lofven, que vem como forma de agradecimento pelo contrato celebrado pelo Brasil com a sueca Saab para construção de caças para Força Aérea Brasileira. Entre os parceiros dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), a representação será feita por vice- presidentes. No Mercosul, apenas a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, não virá. A informação oficial é de que teria machucado o tornozelo em uma queda, mas antes mesmo disso a previsão era que o país seria representado por Amado Boudou, vice-presidente, porque a presidente não tem se sentido bem. Da região estão confirmados, ainda, o presidente da Bolívia, Evo Morales, e a presidente do Chile, Michele Bachelet. As delegações começaram a chegar ao Brasil na noite do último domingo. Até a meia-noite de ontem, 20 autoridades estrangeiras já tinham sido recebidas, incluindo chefes de Estado, vices, ministros e embaixadores não- residentes – aqueles de países que não tem representação no Brasil. Outras 37 devem chegar durante o dia de hoje, inclusive a do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e do presidente eleito do Uruguai, Tabaré Vasquez, que vem acompanhando o atual presidente, José Mujica. As delegações serão acompanhadas por 300 homens da Polícia Federal. A exceção é a segurança de Joe Biden que, além da PF, traz seguranças e homens do serviço secreto americano. Os Estados Unidos foi o único a requerer o porte provisório de armamento para os seguranças do vice-presidente. Foram 91 pistolas e 15 armas longas – uma delas de precisão, usada por atiradores de elite para longas distâncias. O esquema de segurança da posse contará com 4 mil militares e 3,6 mil agentes da polícia, sob a chefia do Comando Militar do Planalto, do Exército.

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 18

Dilma toma posse prometendo ajuste sem traumas e combate à corrupção Novo governo. Na solenidade de hoje, em que assume o 2º mandato, presidente vai defender a necessidade de medidas ortodoxas para recuperar os fundamentos econômicos, sem ameaças às conquistas sociais, e reiterar proposta de pacto contra desvios de recursos públicos Tânia Monteiro / BRASÍLIA

Pelo menos seis quilos mais magra e energizada pela retomada das caminhadas, a presidente Dilma Rousseff assume hoje seu 2.º mandato enfrentando um cenário político e econômico bem diferente e bem mais desfavorável em relação àquele que recebeu das mãos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 1.º de janeiro de 2011. Com um governo mais Dilma e menos Lula, que estará presente para avalizar a ―afilhada‖, a presidente reeleita fará no discurso de posse uma defesa do ajuste fiscal e vai reiterar sua disposição de combater ininterruptamente a corrupção, pedindo empenho conjunto de todos contra os malfeitos e as irregularidades. Dilma também vai, segundo assessores do Planalto, prometer mais crescimento da economia, muito antes do que os ―pessimistas imaginam‖. Vai argumentar que os ajustes são necessários em 2015, mas que tudo será feito sem traumas, sem se afastar ―um milímetro‖ da promessa de assegurar e ampliar as conquistas sociais obtidas nos últimos 12 anos. Dilma fará dois discursos hoje. O primeiro, no Congresso, após o juramento de posse. Este será mais extenso e mais detalhado, mas não menos político. O segundo, no Parlatório, de frente ao público que estará prestigiando sua posse na Praça dos Três Poderes, será uma espécie de mensagem à população sobre seu 2º mandato. Os dois textos, no entanto, ainda estavam sendo ajustados e alterados pela própria presidente, que só deverá finalizá-los a poucas horas da cerimônia, que terá início às 14h40. Nos discursos, a presidente quer deixar claro que vai governar para todos e que quero bem estar da população, ressaltando que pretende ampliar e avançar as conquistas do seu governo. Dilma vai lembrar a sua condição de mulher, agora reeleita, e exaltará a ―sólida democracia‖ do País. Além de se referir à importância da estabilidade econômica e política e de reiterar promessa de levar adiante a reforma política, Dilma falará da luta renovada por justiça social, igualdade de oportunidades e compromisso com a ética. Petrobrás. Ainda não estava definido como e se haverá referência à Petrobrás, que mereceu destaque em seu discurso de diplomação dia 18 de dezembro, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em 2011, Dilma usou parte de sua fala no discurso de posse para exaltar a estatal na descoberta do pré-sal, quando chamou a companhia, hoje alvo de denúncias na Operação Lava Jato, de ―símbolo histórico da soberania brasileira na produção energética e do petróleo‖. Na posse anterior, Lula esteve ao lado de Dilma e lhe entregou a faixa. Desta vez, um lugar no salão nobre foi destacado para ele, entre o novo governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg (PSB), e o ex-presidente José Sarney, na primeira fila dos convidados especiais. Só que, no Planalto, as apostas são de quebra de cerimonial, com Lula tendo lugar de destaque ao lado de Dilma, em muitos momentos da cerimônia no Palácio. Apesar de estar no 2.º mandato reduzindo o espaço dos lulistas e prestigiando os dilmistas, a presidente reeleita terá, mais uma vez, de conviver com seu mentor e padrinho político, que demonstra disposição de querer voltar em 2018. Convidados. Depois de desfilar em carro aberto na Esplanada dos Ministérios e fazer o juramento no Congresso, Dilma subirá a rampa do Planalto e será recebida por 800 convidados que estarão no salão nobre, prestigiando a solenidade de posse. Entre as autoridades presentes estarão dezenas de chefes ou vice-chefes de Estado, como o vice- presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, além de presidentes da América Latina. No interior do Planalto, no entanto, estarão três mil convidados prestigiando a segunda posse de Dilma. O cerimonial do Planalto destacou 48 cadeiras especiais para as ―Donzelas da Torre‖, amigas da presidente Dilma Rousseff que estiveram presas, a exemplo dela, durante quase três anos, no presídio Tiradentes, em São Paulo. O local recebeu o nome por abrigar presas políticas do regime militar. Dilma, a exemplodaposseno1.ºmandato, quis local de destaque para as antigas companheiras.

País tem 1 ano para colocar na escola 2,9 milhões de crianças e adolescentes Educação. Por lei, universalização do ensino entre 4 e 17 anos deveria ser alcançada gradualmente até 2016; números do déficit são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) tabulados pelo Movimento Todos Pela Educação, a pedido do „Estado‟ Paulo Saldaña

O Brasil tem este ano para colocar na escola 2,9 milhões de crianças e adolescentes de 4a 17 anos. Esse é o número de jovens – em volume próximo ao da população do Uruguai – que estão fora das salas de aula nessa faixa etária, cuja obrigatoriedade de matrícula passa a valer a partir de 2016. Vencer esses desafios envolve uma multiplicidade de ações, que vão da ampliação dos investimentos e reformulações pedagógicas ao esforço de inclusão dos mais pobres. Apesar de o direito à educação ser celebrado na Constituição e na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), a obrigatoriedade da matrícula – como dever da família e do Estado – só era definida para jovens entre 6 e 14 anos. Em 2009, uma Emenda Constitucional ampliou essa garantia para as crianças de 4 e 5 anos e para os jovens de 15 a 17 anos. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 19

Os números do déficit de matrículas são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), tabulados pelo Movimento Todos Pela Educação, a pedido do Estado. O novo texto constitucional de 2009 indicou que a universalização desse atendimento fosse alcançada gradualmente até 2016. Entretanto, dados mais atuais, de 2013, revelam que ainda falta muito a ser feito em todo País. A taxa de atendimento escolar de 4 a 17 anos passou de 92,6%, em 2009, para 93,6%, o que representa praticamente uma estagnação no período. A situação é pior exatamente nas faixas etárias mais baixas e altas, em que ainda não há a obrigatoriedade da matrícula. Em 2013, segundo a Pnad, 12% das crianças entre 4 e 5 anos estavam fora da escola. São mais de 686 mil sem estudar. Já entre os adolescentes de 15 a 17 anos, que deveriam estar no ensino médio, há 1,6 milhão longe da sala de aula – o que representa 17% do total de jovens dessa faixa etária. Mesmo na faixa de 6 a 14 anos, etapa em que se fala de uma universalização do acesso, o Brasil ainda registra uma exclusão de 503 mil crianças (2% do total). ―Em termos quantitativos, o Brasil ainda tem um grande desafio‖, diz o gerente de conteúdo do Todos Pela Educação, Ricardo Falzetta. Essas faixas etárias não apresentam só diferenças porcentuais de atendimento, mas também as motivações do problema são diversas. ―Quando olhamos quem está fora da escola, a maioria é formada pelos menos favorecidos‖, diz Falzetta. Lacunas de infraestrutura são evidentes na pré-escola, etapa em que não há vagas para todos. Nos anos seguintes, outros fatores têm mais influência do que a falta de vagas, como a pressão do mercado de trabalho. Pressão. A maioria das pesquisas mostra que o trabalho infanto juvenil é um dos principais fatores que afastam os jovens da escola, principalmente entre 16 e 17 anos, como mostra o estudo ―Fora da Escola não Pode‖, do Unicef e da Campanha Nacional Pelo Direito à Educação. Nos anos mais recentes, o Ministério da Educação (MEC) e as secretarias estaduais têm debatido uma reformulação do currículo do ensino médio, de forma que o torne mais atraente ao jovem. Mas ainda não houve grandes transformações. O trabalho infantil também influencia a exclusão dos mais novos. Segundo o estudo, mais de 15% dos meninos e meninas entre 11 e 14 anos, que estavam sem estudar, trabalhavam. Segundo o advogado Salomão Ximenes, da Ação Educativa, a questão socioeconômica explica em grande medida os níveis de exclusão. ―Na educação infantil, quem pode comprar o direito consegue o acesso‖, diz ele. ―Há uma pressão econômica do mundo do trabalho sobre as famílias. O avanço da universalização só funciona se houver políticas públicas.‖ Ximenes cita a implementação do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério (Fundef), em 1998, como fator de promoção para avanço na taxa de escolaridade do ensino fundamental. Os recursos, destinados de acordo com o número de alunos, não abrangiam a educação infantil e o ensino médio. Só em 2007, com o Fundeb, essas etapas passaram a ser contabilizadas na partilha do dinheiro. As matrículas da educação básica são de responsabilidade das redes municipais e estaduais. Mas a própria Emenda Constitucional de 2009 impõe o apoio técnico e financeiro da União para cumprir a meta. O Plano Nacional de Educação (PNE) ainda impõe maior atribuição do governo federal no financiamento da educação, além de definir padrões de qualidade de atendimento.

Olimpíada de 2016 será na Guanabara ainda poluída A 19 meses do início dos Jogos do Rio, nem metade da meta para a coleta e o tratamento dos esgotos jogados na baía foi alcançada Felipe Werneck / RIO

A promessa do governo do Rio de ―coletar e tratar 80% de todos os esgotos‖ lançados na Baía de Guanabara até 2016 não será cumprida. Seis anos se passaram desde a apresentação do compromisso ao Comitê Olímpico Internacional (COI). A 19 meses do início dos Jogos no Rio, nem metade da meta foi alcançada. Os primeiros navegantes portugueses chegaram à baía em 1.º de janeiro de 1502, 63 anos antes da fundação da cidade, que completa 450 anos em março. Depois disso, ela já perdeu mais de 90 quilômetros quadrados em sucessivos aterros e pelo menos 68% da cobertura original de manguezais, conforme estudo do geógrafo Elmo Amador, morto em 2010. Do grande conjunto de ilhas e praias, poucas mantêm as características originais que lhe conferiam, no passado, o título de paraíso tropical. Cartas náuticas do século 16 mostram baleias, aldeias indígenas e o pau-brasil explorado pelos colonizadores. A segunda maior região metropolitana do País cresceu às margens da Guanabara. Hoje, cerca de 4,2 milhões de pessoas ainda vivem sem saneamento básico nos 15 municípios do entorno da baía, que recebe em média 10 mil litros por segundo de esgotos em tratamento. O volume diário equivale a 346 piscinas olímpicas cheias. A promessa da atual gestão do PMDB não foi a primeira a naufragar. Anunciado durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92), o Programa de Despoluição da Baía de Guanabara (PDBG) começou a ser executado em 1995 e foi prorrogado oficialmente sete vezes. Consumiu mais de US$1,2 bilhão e continua inacabado até hoje. Quatro grandes estações de tratamento foram construídas, mas faltaram as redes de esgoto, que ficam escondidas debaixo da terra. ―Não é um projeto que teve boa reputação‖, reconheceu o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que financiou a obra. Um novo financiamento de R$ 1 bilhão foi aprovado pelo BID em 2012. O governo estadual afirma que estão em andamento obras e licitações para concluir as ligações entre as redes e construir uma nova estação, em Alcântara. A conta para resolver o problema do esgoto na região metropolitana, porém, seria de pelo menos R$ 8 bilhões, estima o Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 20 coordenador do Programa de Saneamento Ambiental do Entorno da Baía de Guanabara (Psam), Gelson Serva. O PDBG estava tão queimado que mudou de nome. ―Estamos avançando no planejamento. Concluímos este ano planos de água e esgoto para 8 dos 15 municípios, e os outros estão em curso‖, diz Serva. O engenheiro florestal Axel Grael, vice-prefeito de Niterói, critica a falta de coordenação. Vários órgãos governamentais respondem por partes do problema na baía. Ele cita como exemplo a experiência realizada na Baía de Chesapeake, nos Estados Unidos, com a criação de sistemas de monitoramento e a definição de metas a serem cumpridas. ―Nosso problema não é falta de dinheiro. Além do planejamento, precisamos de uma política clara de regulação. Se não tiver quem cobre, as metas não serão cumpridas‖, diz Grael, lembrando que até hoje a Companhia de Águas e Esgotos do Estado (Cedae) não é regulada por uma agência externa – a previsão é de que isso ocorra a partir de agosto. ―Portugal tinha uma situação igual ou pior que a do Brasil na área de saneamento e em dez anos se igualou à realidade europeia.‖ Na Olimpíada, a baía receberá as provas de iatismo. Em janeiro, a velejadora e campeã mundial Martine Grael, sobrinha de Axel, postou uma foto em que aparecia sentada na prancha de frente a uma TV encontrada no local de competição. Fez sucesso nas redes sociais e chamou a atenção para o problema do lixo flutuante. As estações de tratamento do Rio têm capacidade instalada para receber 49% da carga produzida, mas o esgoto coletado e tratado representa hoje cerca de 39% do total, segundo técnicos da Secretaria do Ambiente. O deputado estadual e líder do governo da Assembleia, André Corrêa (PSD), que vai assumir a pasta, foi procurado pela reportagem, mas não deu entrevista. A estação de São Gonçalo já foi inaugurada quatro vezes e a de Paquetá se tornou um símbolo dos erros do programa: fora de uso durante longo tempo, ficou deteriorada e o governo desistiu de colocá-la em funcionamento. Carioca. ―O Rio Carioca, que dá nome a quem nasce na cidade e deságua na baía, é uma cloaca‖, diz o urbanista e historiador Nireu Cavalcanti. Ele cita o caso do Rio Tâmisa, na Inglaterra, que ficou contaminado por mais de um século e hoje é um dos mais limpos do mundo. ―Enquanto governo e sociedade aceitarem que isso aconteça com um rio de 4 km de valor tão simbólico para a cidade, todo o restante é demagogia.‖ Para Cavalcanti, a despoluição do Rio Carioca é ―um ponto de honra‖. Um dos vencedores da premiação anual do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), em dezembro, foi o trabalho ―Entre Rios: proposta de reestruturação do ciclo das águas urbanas de Botafogo‖, de Romulo Guina. Prevê um sistema biológico para despoluir o Rio Carioca, hoje canalizado, que seria aberto na Enseada de Botafogo. O presidente do IAB- RJ, Pedro da Luz Moreira, critica o andamento das obras de despoluição da baía e diz que é importante dar visibilidade para o problema. ―Na medida em que se amplia a visibilidade, tornando a baía e os rios mais próximos, a população vai passar a cobrar mais.‖

Crise de energia deve piorar em 2015 Mesmo com chuva acima da média, o que não está na previsão, situação será difícil André Borges / BRASÍLIA

As dificuldades de abastecimento de água e de geração de energia enfrentadas ao longo de 2014 tendem a se intensificar neste ano. Dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que, mesmo que as chuvas deste verão fiquem muito acima da média histórica – o que não está previsto –, o País terá em 2015 um cenário muito pior que há 12 meses. O ano começa com os reservatórios da Região Sudeste/Centro-Oeste com apenas 19% do total de suas capacidades. E menos da metade da quantidade de agua que esses reservatórios tinham um ano atrás, quando registravam 43% de armazenamento em 1. ˚ de janeiro de 2014. No Nordeste, os dados reconstroem o cenário preocupante de 2014, com 33% do volume útil ―guardado‖ nas principais bacias hidrográficas da região. O governo contava com um volume de chuvas superior a média histórica para tentar recompor, minimamente, as condições dos reservatórios das principais regiões consumidoras. O histórico registrado até agora, no entanto, apresenta chuvas dentro da média, situação que tende a se repetir neste mês, segundo informações meteorológicas analisadas pelo ONS. A previsão para o Sudeste e que chova, em janeiro e fevereiro, 90% da média. A estimativa se baseia em histórico dos últimos 83 anos. Para o Nordeste, a média esperada para os dois meses é de 63%. As Regiões Norte e Sul do País terão bons volumes de chuva e, mais uma vez, não tem riscos ao abastecimento. O ano de 2014 entra para a história do setor elétrico como o pior dos últimos 83 anos (a medição do volume de chuvas pelo governo teve início em 1931) para algumas das principais bacias hidrográficas do País, como Rio Grande e São Francisco, responsáveis por abastecer 25% e 96%, respectivamente, das Regiões Sudeste/Centro e Nordeste. A situação nessas bacias só não foi pior por conta de reduções de vazão de água determinadas pelo ONS ao longo do ano para garantir o uso da agua para abastecimento humano e geração de energia. Obras. Sem previsão de ter obras estruturais prontas em 2015 para garantir a oferta de água nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, como a interligação dos reservatórios de Jaguari e Atibainha, prevista para 2016, cresce o risco de que medidas de racionamento tenham de ser tomadas para essas regiões. O governo garante não haver razoes para preocupação. O ONS estima que, até o fim de marco, ha condições de fechar o verão com 34% do volume útil nos reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste. Com essa quantidade de água, diz o presidente do operador, Hermes Chipp, á possível Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 21 atravessar mais um ano de estiagem severa sem necessidade de tomar medidas de racionamento de energia. Em marco, o Sudeste/Centro- Oeste tinha 36% do volume máximo de armazenamento. Térmicas. Na pratica, o setor elétrico coloca todas as suas fichas nas chuvas dos próximos três meses, dado que não poderá contar com grande expansão do parque gerador de usinas térmicas em 2015. Novos projetos de geração térmicas devem entrar em operação apenas nos anos seguintes. Hoje, a capacidade total dessas usinas está em torno de 20 mil megawatts (MW). Há pelo menos cinco meses, o governo tem utilizado a capacidade máxima dessas geradoras, algo em torno de 16 mil MW, já que uma média de 4 mil a 5 mil MW passa mensalmente por processos de manutenção. De acordo com as orientações técnicas do ONS, o uso intensivo das térmicas deve prosseguir neste início de 2015, bem como o acionamento das grandes hidrelétricas das Regiões Sul e Norte do País, como Itaipu e Tucuruí, principalmente. O proposito e armazenar a maior quantidade possível de agua no Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. O que deve ajudar a aliviar a situação e a entrada em operação de novas turbinas das hidrelétricas de Jirau e Santo Antonio, no Rio Madeira (RO). As duas usinas estão numa região onde há grande volume de agua, principalmente no período seco das Regiões Sudeste e Nordeste.

Indonésia resgata 7 corpos e confirma ter encontrado Airbus no fundo do mar Tragédia. Navio determina com precisão localização do avião da AirAsia que caiu no Índico com 162 pessoas a bordo; aeronave está a 3 quilômetros de onde foram retirados os primeiros destroços, na terça-feira, mas buscas tiveram de ser suspensas em razão do mau tempo JACARTA

As autoridades da Indonésia confirmaram ontem que um navio localizou com precisão a localização do Airbus da AirAsia, desaparecido desde domingo com 162 pessoas a bordo. Ele está a 3 quilômetros de onde foram encontrados os primeiros destroços na terça-feira. O mau tempo no Mar de Java, no entanto, causou a suspensão das buscas. Por isso, apenas sete corpos foram retirados da água até agora. As autoridades indonésias não informaram se a aeronave está intacta ou acabou se partindo com o impacto. Especialistas em aviação acreditam que a fuselagem pode ser facilmente encontrada por mergulhadores, já que a aeronave está a cerca de 40 metros de profundidade e, provavelmente, só se desfez quando atingiu a água. Alguns jornais locais afirmam que o avião está de cabeça para baixo, fato que não foi confirmado pela Agência Nacional de Busca e Resgate da Indonésia (Basarnas). Segundo o chefe da Basarnas, Fransiskus Bambang Soelistyo, uma das vítimas localizadas ontem era um comissário de bordo que ainda estava vestido com o uniforme da AirAsia. Soelistyo desmentiu a notícia de um dos corpos estivesse vestido com colete salva-vidas, como havia sido divulgado ontem. No entanto, o fato de os corpos resgatados até agora estarem vestidos aponta, de acordo com especialistas em aviação, que o Airbus, provavelmente, não se partiu no ar. O argumento é reforçado pelo fato de os destroços não estarem espalhados por uma área muito extensa. Legistas indonésios temem, no entanto, que os restos mortais não possam ser identificados após mais de três dias na água, por isso solicitaram amostras de DNA a familiares dos passageiros e tripulantes. As equipes de resgate tentam também localizar e recuperar as caixas-pretas do avião para saber o que causou o acidente. Os dois primeiros corpos recuperados na terça-feira – uma mulher e uma criança – chegaram ontem ao aeroporto de Surabaya, de onde o voo QZ-8501 partiu, no domingo, com destino a Cingapura – os controladores de voo perderam contato com a cabine de comando 42 minutos após a decolagem. Ainda não está claro o que aconteceu com o Airbus da AirAsia, mas a última comunicação da tripulação foi um pedido para o controle de tráfego aéreo para elevar a altitude da aeronave de 32 mil para 38 mil pés para evitar o mau tempo. Após receber permissão para voar a 34 mil pés, o piloto não respondeu. O mau tempo continua na região do acidente. Ontem, autoridades indonésias foram obrigadas a suspender as operações de busca em razão da chuva, dos ventos fortes e de ondas de até 3 metros. O canal TVOne, da Indonésia, que transmitiu ao vivo imagens de corpos de vítimas do acidente, pediu desculpas aos parentes dos mortos. Na terça-feira, quando aguardavam informações no aeroporto de Surabaya, eles entraram em desespero e ficaram em estado de choque depois de ver na TV as imagens de um corpo boiando no Mar de Java. Houve pânico e muitos precisaram de atendimento médico. O proprietário da AirAsia, o bilionário malaio Tony Fernandes, também pediu desculpas e enviou condolências ontem aos parentes das vítimas. ―Meu coração está cheio de tristeza por todas as famílias envolvidas no QZ-8501‖, escreveu Fernandes em sua conta no Twitter. ―Em nome da AirAsia, minhas condolências a todos. Palavras não podem expressar o quanto estou triste.‖ Cerca de 30 navios e 21 aviões de Indonésia, Austrália, Nova Zelândia, Malásia, Cingapura, Coreia do Sul, China e EUA continuarão as buscas hoje em uma área de cerca de 60 mil quilômetros quadrados. O objetivo é acelerar as operações de busca para evitar que as correntes espalhem ainda mais os destroços. De acordo com a Basarnas, aproximadamente 90 mergulhadores, a maioria indonésios, estão de prontidão para retomar as buscas assim que o tempo permitir. / REUTERS, AP. AFP e NYT

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 22

Mandato novo, velhos problemas Dilma recebe a faixa presidencial pela segunda vez com desafios que permearam os primeiros quatro anos à frente do Planalto: domar o Congresso, recolocar o país na trilha do desenvolvimento econômico e enfrentar o fantasma da Lava-Jato JOÃO VALADARES e AMANDA ALMEIDA

A presidente Dilma Vana Rousseff (PT), 66 anos, que se reelegeu após travar a disputa eleitoral mais acirrada desde a redemocratização, recebe, hoje à tarde, das próprias mãos, um país ainda dividido pelo conturbado processo eleitoral e com desafios redobrados pela frente. O governo é novo, mas os problemas são antigos. Ao receber a faixa presidencial pela segunda vez, a petista montou um ministério questionável do ponto de vista ético para enfrentar a guerra política que se anuncia em razão dos desdobramentos da Operação Lava-Jato. Na segunda gestão, a presidente se veste de pragmatismo político na tentativa de superar obstáculos proporcionais aos 54 milhões de votos recebidos. A tarefa de casa é gigantesca. Reconquistar o empresariado, recolocar o Brasil no trilho do crescimento, ouvir os movimentos sociais, conter o fantasma da inflação e domar o Congresso para evitar derrotas em temas essenciais, a exemplo da reforma política. Mais do que contar com os aliados escolhidos a dedo na balança do fisiologismo, a presidente sabe que, com base na postura centralizadora do primeiro período de governo, terá que mudar o estilo pessoal de governar para vencer as batalhas que a aguardam. A própria petista sinalizou o que observa como desafios do segundo mandato ao escalar os novos ministros. A montagem da equipe começou pela área econômica. O gesto presidencial indica que a leitura econômica dos próximos quatro anos será feita com os olhos do mercado financeiro. Na primeira gestão, os banqueiros não gostaram das sucessivas baixas de juros realizadas entre 2010 e 2014. Durante a campanha, com as críticas de Dilma ao setor, a relação piorou de vez. Agora, é hora de retomar o diálogo. Na outra ponta, os movimentos sociais, sobretudo os que lutam pela terra, devem pressionar a petista para destravar a reforma agrária. Em meio ao escândalo da Operação Lava-Jato, que investiga o pagamento de propina por grandes empreiteiras a políticos em troca de contratos com a Petrobras, o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, diz que o principal desafio de Dilma será a ―questão ética‖. ―A presidente tem de tomar uma série de atitudes concretas, como a regulamentação da Lei Anticorrupção. É o que espera a população. Ela tem que caminhar no sentido de uma transparência efetiva na gestão, sem escamotear a questão ética, que hoje é a principal carência do governo‖, afirma Baía.

Articulação política O professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro cita a área econômica entre os principais obstáculos. ―Ao correr para anunciar a equipe econômica, como fez, ela já está tenta enfrentar esse desafio‖, diz. Para o professor, a composição dos ministérios mostra ainda que Dilma está bastante preocupada com a articulação política no Congresso. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 23

―E vai ser difícil lidar com o parlamento. Ao acomodar aliados, ela tenta fortalecer sua base de apoio‖, afirma. O professor ressalta também, entre os desafios presidenciais, a interlocução com os movimentos sociais. ―Ela tem dificuldade de conversar com os novos movimentos e, para isso, precisa de mais de um interlocutor.‖ Dilma ainda precisará reinventar a relação com o PT, essencial para a sua vitória, e com o próprio ex-presidente Lula. Padrinho e afilhada, criador e criatura que se aproximaram, se complementaram e se estranharam ao longo do primeiro mandato, ambos conseguiram administrar as pressões da legenda pelo ―volta, Lula‖. Mas, agora, é diferente. O ex-presidente é candidatíssimo ao Planalto em 2018 e seu sucesso nas urnas depende de um bom segundo governo Dilma. O resumo é que a presidente deve ser pressionada ainda mais pela maior estrela petista, que já demonstrou insatisfação com as escolhas dos novos ministros. Dilma já afirmou, em entrevista à imprensa, que apoiará Lula ―no que ele quiser ser‖. O presidente do PT, Rui Falcão, reforçou que o ex-presidente terá um protagonismo maior no próximo período — o que, em tese, diminui a margem de autonomia da petista para governar o país. Além do fantasma da inflação, Dilma tem pela frente uma ―assombração‖ chamada Eduardo Cunha. Domá-lo é essencial para aprovar temas vitais para o governo. Na primeira gestão, principalmente em 2013, o então líder do PMDB comandou várias rebeliões na Casa e armou sucessivas pautas-bombas contra os interesses da gestão.

Os 10 desafios Confira quais são os principais problemas que Dilma terá que enfrentar no mandato que se inicia hoje

Lava-Jato - Administrar os desdobramentos da operação que vai atingir em cheio dezenas de políticos da base de sustentação do governo. Em fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve começar a autorizar a abertura de inquérito contra deputados, senadores, ministros e ex-ministros

Eduardo Cunha - Domar o deputado do PMDB do Rio de Janeiro, provável presidente da Câmara, para evitar derrotas governistas no Congresso em temas essenciais. Na primeira gestão, principalmente em 2013, o então líder peemedebista comandou várias rebeliões na Casa e armou sucessivas pautas-bombas contra os interesses da gestão

PIB - Reconquistar a confiança do empresariado para aumentar a capacidade de investimento no país e, desta maneira, espantar o ―pibinho‖. O objetivo é recolocar o Brasil no trilho do crescimento. A balança comercial negativa e o deficit nas contas públicas são alguns dos indicativos de que o Brasil vai mal nesta área, travando o desenvolvimento.

Inflação - Conter o fantasma da inflação que amedronta os cidadãos brasileiros e buscar saídas para que as famílias, 46% delas endividadas, consigam retomar o poder de compra

Movimentos sociais - Atender demandas específicas dos mais diversos segmentos de movimentos sociais. A exemplo dos sindicatos, os movimentos sentiram-se escanteados do poder nos primeiros quatro anos. Há reclamações especialmente na questão agrária

Olimpíadas de 2016 - Repetir o sucesso de organização da Copa do Mundo realizada no Brasil e conseguir dobrar atletas brasileiros que já demonstram insatisfação com a escolha de George Hilton para comandar o Ministério do Esporte. Em carta, assinada por alguns medalhistas olímpicos, esportistas afirmaram que se sentem ―envergonhados e desprestigiados‖ com a escolha

Setor financeiro - Os banqueiros não gostaram das sucessivas baixas de juros realizadas entre 2010 e 2014. O clima entre a petista e o setor financeiro azedou de vez com as críticas de Dilma aos banqueiros durante a campanha. Retomar o diálogo é uma das prioridades do novo governo

Lula - Apesar do movimento ―volta, Lula‖, o ex-presidente defendeu o direito de Dilma disputar a reeleição. Mas agora já fala em concorrer em 2018, e não quer entrar em campo com o atual governo mal avaliado. Por isso, deve aumentar a pressão sobre Dilma até o próximo pleito

PT - Domar as várias tendências do Partido dos Trabalhadores. Egressa do PDT, a presidente precisou da legenda e da militância na reta final para se reeleger. A sigla deve cobrar essa fatura à altura

Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 24

Servidores públicos - Afagar o funcionalismo público. O desafio é complexo. Com a economia fragilizada, os servidores sabem que dificilmente conseguirão aumento nos salários pelos próximos quatro anos, apesar do recente reajuste de 15,8%

Mudança apenas no Itamaraty Dilma finaliza a reforma ministerial e anuncia os 14 titulares que faltavam ser definidos para o segundo mandato. Mauro Vieira assume as Relações Exteriores GRASIELLE CASTRO

A presidente Dilma Rousseff deixou para o último dia do ano o anúncio de que mudará o comando do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e manterá os demais 13 ministros (veja quadro) que faltavam ser nomeados para o próximo governo. O novo titular do Itamaraty será o embaixador Mauro Luiz Iecker Vieira. Em nota oficial publicada ontem pela a Secretaria de Imprensa da Presidência (SIP), a presidente confirmou a mudança no MRE, agradeceu a dedicação dos demais ministros e os convidou para continuarem nos ministérios que atuam. A posse dos novos integrantes do primeiro escalão ocorre hoje. A decisão foi empurrada para a última hora por causa de impasses, principalmente no Itamaraty. A reclamação de servidores de que falta autonomia e orçamento ao ministério já evidenciava as fragilidades da pasta. A indicação de Mauro Vieira também sinaliza uma mudança no rumo da política externa brasileira, com uma reaproximação aos Estados Unidos. O ex-chanceler Celso Amorim, que deixa hoje o Ministério da Defesa, chegou a ser cotado para o cargo. Na nota, a presidente agradeceu a dedicação do embaixador Machado, que deixa hoje o Itamaraty. Figueiredo trocará de cargo com o Vieira, que deixará a embaixada brasileira nos EUA. Embora tenham sido confirmados ontem para o segundo mandato de Dilma, alguns dos novos ministros já entram em caráter temporário. Há, ainda, uma indefinição em relação a quem assumirá o controle da Secretaria de Comunicação Social. O ministro da pasta, Thomas Traumann, já manifestou interesse em deixar o cargo. Assim como ele, a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, demonstrou vontade de deixar a pasta. A manutenção da ministra Ideli Salvatti na Secretaria de Direitos Humanos enfrenta restrições de setores do Partidos dos Trabalhadores. Integrantes da legenda reclamam que ela não tem afinidade com a área. Dentro do Planalto, entretanto, há a avaliação de que ela tem feito um bom trabalho. O futuro da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) também está indefinido. Apesar de o titular da pasta, Marcelo Neri, ter sido confirmado para o cargo em maio do ano passado, depois de mais de um ano como interino, há a expectativa de que ele deixe o posto e que a presidente acomode na SAE o ex-chefe de gabinete Giles Azevedo. Fiel escudeiro da presidente, Giles deixou o governo no início do ano passado para integrar o núcleo da campanha de reeleição da presidente. Os anúncios da composição da nova Esplanada de Dilma foram feitos em cinco etapas. A primeira, no fim de novembro, com a nova equipe econômica, e a penúltima na terça-feira, com a indicação de Juca Ferreira para o Ministério da Cultura.

Madrinha Entre as novidades na composição da Esplanada para o próximo governo, está a senadora Kátia Abreu (PMDB- TO), que assume hoje o Ministério da Agricultura. A amizade entre ela e a presidente Dilma Rousseff será evidenciada fora do ambiente de trabalho em 1º de fevereiro. Um mês após o início do segundo mandato, a presidente será uma das madrinhas de casamento da ministra. Ela se casará com o engenheiro agrônomo Moisés Pinto Gomes, em Brasília.

Confira quem são os 14 ministros anunciados por Dilma ontem Advocacia-Geral da União — Luís Inácio Adams Casa Civil — Aloizio Mercadante Desenvolvimento Social e Combate à Fome — Tereza Campello Direitos Humanos — Ideli Salvatti Gabinete de Segurança Institucional — José Elito Justiça — José Eduardo Cardozo Meio Ambiente — Izabella Teixeira Micro e Pequena Empresa — Guilherme Afif Domingos Políticas para as Mulheres — Eleonora Menicucci Relações Exteriores — Mauro Vieira Saúde — Arthur Chioro Secretaria de Assuntos Estratégicos — Marcelo Neri Secretaria de Comunicação Social — Thomas Trauman Trabalho e Emprego — Manoel Dias

Lula estará na posse O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença na solenidade de posse do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, hoje. Ele participará do evento no Palácio do Planalto, mas não foi informado se o petista Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 25 também acompanhará a cerimônia no Congresso Nacional, onde Dilma fará a leitura do termo de compromisso de posse na tarde desta quinta-feira.

Rebeliões e violência às vésperas do réveillon Detentos no Paraná, em motim desde a última segunda-feira, exigem melhores assistência médica, jurídica e alimentação. Ano ficou marcado por ações criminosas nas cadeias do Sul

No fechamento de um ano turbulento para os sistemas penitenciários do Paraná e de Santa Catarina, mais uma rebelião foi deflagrada, dessa vez na Casa de Custódia de Maringá, no norte do Paraná. Cerca de 90 detentos começaram um motim desde segunda-feira no Bloco 3 da unidade. As negociações com os presos foram retomadas às 5h30 de ontem, por equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), da Polícia Militar e, até o fechamento desta edição, não tinham se encerrado. Os presos exigiam a presença de um advogado. O novo secretário de Segurança Pública do estado, o deputado federal Fernando Francischini, tomou posse no último dia 15 e, antes da virada do ano, enfrenta a primeira crise. Na última terça-feira, ele acompanhou as negociações no local. No início da rebelião, sete agentes penitenciários foram feitos reféns no momento em que os presos retornavam do pátio da unidade prisional. Desses, dois deles foram liberados ainda no primeiro dia, sendo que um deles precisou ser levado para o Hospital de Sarandi com ferimentos nas costas. Na terça-feira, outros dois agentes foram soltos e, ontem, mais um foi liberado. De acordo com a Secretaria de Segurança, as negociações haviam sido suspensas após a libertação do quarto agente. Até então, o Pelotão de Choque deu seguimento às conversas com os amotinados. O Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen) informou que os profissionais liberados passam bem. Desde terça-feira, a Secretaria de Segurança assumiu o Departamento Penitenciário (Depen) no lugar da Secretaria da Justiça, Cidadania e Direitos Humanos (Seju). Os presos exigem o fim do uso de algemas nas movimentações internas, melhorias na assessoria jurídica, na assistência médica e na alimentação. A ala onde os presos se rebelaram foi isolada. O setor onde estão os rebelados abriga 120 detentos, de acordo com informações da Seju. A Casa de Custódia foi projetada para abrigar 654 pessoas e, atualmente, recebe 636 detentos. A rebelião acontece semanas depois de parte de a unidade ter sido reconstruída, após uma rebelião ocorrida em setembro de 2011.

Casos frequentes Em agosto deste ano, cinco pessoas morreram durante uma rebelião na Penitenciária Estadual de Cascavel, no oeste do estado. Dois detentos foram decapitados, dois jogados de cima do telhado do prédio e quatro ficaram feridos. A ação fez dois agentes e seis presos como reféns. Os detentos pediam relaxamento nas visitas, mais diálogo com a direção da unidade e melhoria na qualidade das refeições. Também existia a suspeita de que uma briga de facções rivais teria motivado o movimento. O ato durou 45 horas. Parte da estrutura do prédio ficou danificada e 800 detentos precisaram ser transferidos. A Seju informou que, desde o início do ano, os presos do estado se rebelaram 23 vezes e 53 agentes foram feitos reféns. O período mais complicado ocorreu entre agosto e outubro. Em 13 de outubro, uma rebelião na Penitenciária Industrial de Guarapuava, na região central, durou 48 horas. Vários presos e 13 agentes foram feitos reféns. No total, oito pessoas ficaram feridas, sendo três delas agentes penitenciários.

Atentados Em setembro, o estado vizinho, Santa Catarina registrou uma onda de violência, com ataques a residências, postos e viaturas policiais, homicídios. O número de ataques ultrapassou uma centena e atingiu 37 municípios. Em dois anos, foram quatro sequências de atentados. A Força Nacional de Segurança Pública foi chamada e especulava-se que os crimes fossem orquestrados de dentro dos presídios do estado. Dias antes do início dos ataques, uma gravação de áudio e uma carta foram divulgados por presos da Penitenciária de São Pedro de Alcântara, na Grande Florianópolis, tida como quartel-general do Primeiro Grupo Catarinense (PGC).

Memória Pedrinhas: vítimas até fora do presídio Há um ano, no fim de 2013, eclodiu a crise vivenciada no Complexo Penitenciário de Pedrinhas, em São Luís. A morte de pelo menos 60 detentos nas celas superlotadas do cárcere levou o Conselho Nacional de Justiça a fazer uma inspeção no local, em 20 de dezembro daquele ano. Brigas entre facções, entrada de drogas e armas, e pagamento de dívidas por meio de sexo com irmãs e mães de detentos foram práticas relatadas à época. Em 11 anos, a unidade já havia registrado cerca de 260 mortes. Em 2014, foram pelo menos 17. Em janeiro do ano passado, a crise extrapolou os limites do presídio e fez vítimas nas ruas da cidade. Em um incêndio a um ônibus na região metropolitana de São Luís, cinco pessoas ficaram feridas e uma menina de 6 anos morreu em decorrência dos ferimentos. O bisavô de Ana Clara morreu após sofrer um infarto ao receber a notícia de que a criança estava no ônibus atacado. O caos repercutiu internacionalmente, levando a Organização das Nações Unidas (ONU) a pedir que o Brasil tomasse providências. Uma força-tarefa federal, com homens da Força Nacional, foi enviada ao Maranhão. Mesmo assim, as rebeliões em Pedrinhas continuaram, além dos ataques a ônibus ordenados de dentro dos presídios. Em outubro, com o problema da segurança pública se agravando, a permanência da Força Nacional foi renovada em mais 90 dias. As autoridades Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 26 locais fizeram mutirões carcerários para tentar resolver a crise prisional, mas poucos foram os resultados obtidos até agora.

Um Estado aparelhado Estudo mostra que 23,5% da elite do funcionalismo público federal são filiados a partidos políticos. Desse total 82% são ligados ao PT BÁRBARA NASCIMENTO e ANTONIO TEMÓTEO

No alto escalão da burocracia federal, o mérito conta pouco. Sem um padrinho, a escalada para esses postos raramente acontece. Quase 100 mil cargos comissionados que deveriam ser preenchidos por critérios de competência são hoje ocupados com base em conveniências políticas ou interesses privados. De cada quatro integrantes da elite do funcionalismo, um é ligado a partido. Mesmo os servidores efetivos só chegam a um desses postos por meio de indicação. O resultado é uma máquina inchada, ineficiente e muito onerosa. Nos últimos quatro anos, o gasto do governo com pessoal e encargos sociais saltou quase 22%. O retorno dos serviços públicos, contudo, é motivo antigo de reclamações da sociedade. O alto nível de aparelhamento do Estado agrava velhos problema de gestão. ―Caminhamos na contramão do ideal. Temos pessoas sem preparo caindo de paraquedas na administração, sem compromisso com o interesse público, já que sabem que ficarão no governo apenas por uma temporada. E, pior, vão embora levando conhecimento acumulado, que não é repassado‖, analisa o secretário-geral da ONG Contas Abertas, Gil Castello Branco. Mesmo os postos de direção e assessoramento superior (DAS) ocupados por servidores efetivos são decididos mais por barganha política do que por mérito. Estudo realizado pela cientista política Maria Celina D’Araújo mostra que 23,5% dos integrantes da elite do funcionalismo brasileiro, à frente de ministérios, agências reguladoras e estatais, são filiados a legendas políticas. Desse total, 82% estão vinculados ao Partido dos Trabalhadores (PT) da presidente Dilma Rousseff e 18% às legendas aliadas. O número vem crescendo. Na administração Fernando Henrique Cardoso, 18% dos ocupantes de cargos de chefia tinham ligação formal com partidos políticos e metade deles tinha registro na legenda governista. Para o diretor executivo do Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, o poder do presidente da República e dos ministros de nomearem qualquer pessoa para cargos de confiança permite o loteamento da administração pública. Cada partido, diz ele, cria um feudo e coloca ali colaboradores sem qualquer preparo para melhorar a qualidade dos serviços prestados à população.

Retrocesso Na opinião de Abramo, o Congresso Nacional precisa aprovar uma emenda constitucional que restrinja o poder de nomeação conferido aos governantes. ―O loteamento de ministérios e cargos é a principal porta de entrada para a corrupção no Brasil. Não há um programa de desenvolvimento de lideranças, ou que analise a qualidade da atividade dos gestores. Isso precisa mudar‖, comenta. Estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) atesta a deterioração do nível da administração pública brasileira. Na última década, o indicador de eficiência da máquina pública do Brasil caiu cinco pontos, de 55 para 50, num ranking para avaliar as nações da América Latina. Não é preciso ir muito longe para ver o quanto estamos atrasados. O Chile promove, desde 2003, profundas reformas no modelo de gestão pública. Além de criar uma lei de compras governamentais considerada modelo pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), o país vizinho desenvolveu o Sistema de Alta Direção Pública, um conselho que seleciona, por capacidade técnica, candidatos aos cargos mais altos dos órgãos de Estado. Dessa forma, a nota do Chile no estudo do BID saltou de 65, em 2004, para 85. No Brasil, o critério é o oposto do chileno. Levantamento feito pelo Correio mostra que pelo menos 149 dos postos de alto escalão das principais empresas públicas, que envolvem salários de até R$ 62,3 mil, dependem de indicação da União (veja arte). Isso sem contar vagas internas de direção e gerência, que acabam sofrendo influência política na hora de serem preenchidas. O critério está longe de ser técnico. Muitos dos ocupantes desses cargos acabaram, ao longo dos últimos anos, no centro de grandes escândalos de corrupção, como Paulo Roberto Costa, na Petrobras, e Henrique Pizzolato, no Banco do Brasil. De 2003 a 2008, 2.058 servidores perderam a aposentadoria ou foram demitidos da administração pública federal por corrupção, acúmulo ilícito de cargos, participação em empresas privadas ou abandono de posto de trabalho. Entre 2009 e novembro de 2014, o número disparou: foram 3.009 desligamentos.

Comissionados Longe de caminhar na direção de aperfeiçoar a gestão da máquina pública e enxugar custos, o governo abarca cada vez mais apadrinhados. Conforme o Boletim Estatístico de Pessoal do Ministério do Planejamento, o número de funções comissionadas vem crescendo desde 2003. Naquele ano, havia 67,7 mil ocupantes de cargos de confiança ou funções gratificadas no Executivo Federal. Em 2014, até novembro, eram mais de 98 mil. Somente entre 2011 e 2013, quase 8,3 mil postos desse tipo foram criados. As vagas de confiança são ocupadas por servidores da casa ou por pessoas de fora, sem concurso público. Nos cargos de DAS 5 e 6, que têm os maiores salários, não há obrigação do preenchimento ser feito por funcionários efetivos. As distorções relacionadas ao aparelhamento do Estado são ainda mais evidentes quando se compara a realidade brasileira com a de outros países. O professor do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília (UnB) David Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 27

Verge Fleischer detalha que o presidente dos Estados Unidos nomeia apenas 3 mil comissionados, metade deles obrigatoriamente sabatinados pelo Senado. Já no governo federal brasileiro existem 22.912 cargos de DAS que dependem apenas de nomeação no Diário Oficial da União para a posse efetiva. ―Aqui, são poucas as indicações que precisam passar pelo Senado e, quando ocorre rejeição, há algum interesse por trás‖, diz .

Inflação ameaça as famílias Carestia abrirá 2015 próxima de 7%. É possível que, neste ano, a renda dos lares tenha a primeira queda real desde 2003 VICENTE NUNES e DIEGO AMORIM

A dona de casa Eliana de Araújo Santos, 38 anos, sabe muito bem o quanto a inflação é perversa, sobretudo com os mais pobres. Pouco antes do Natal de 2014, ela decidiu preparar um frango para o almoço, a fim de fugir dos sucessivos reajustes da carne bovina, que havia subido 20% desde janeiro. Saiu de casa com R$ 10, imaginando voltar com o produto e, se possível, o troco para o pão do dia seguinte. ―Escolhi o frango mais descongelado, para não pesar tanto, e, ainda assim, deu R$ 13. Não me esqueço do susto que tomei‖, conta. Para não deixar os filhos, Gabriel, 4, e André Felipe, 2, sem uma refeição ―decente‖, recorreu a um mexido. ―É de assustar‖, diz o marido, Ednaldo, 41. Eliana não entende por que o governo deixou a inflação ficar tão alta. ―Quem vai ao supermercado sabe que o discurso da presidente Dilma Rousseff, de que tudo está sob controle, não é verdade‖, afirma. A dona de casa sabe do que fala. Desde que a petista tomou posse, em 2011, a carestia não deu trégua, ficou sistematicamente no teto da meta, de 6,5%. Nos últimos quatro anos, o custo de vida acumulou alta de 27%. E não ficará muito distante disso no segundo mandato, que começa hoje. ―Não dá mais para conviver com aumentos tão fortes‖, reclama Eliana. ―Dinheiro não traz felicidade, acredito nisso. Mas arroz e feijão têm que ter na mesa. As crianças precisam comer‖, desabafa.

Cautela A dona de casa conta que os R$ 370 de tíquete-alimentação que Ednaldo recebe não são mais suficientes para a compra do principal do mês. Em seis meses, calcula ela, o carrinho com os mesmos produtos encareceu cerca de 30%. Para não afetar tanto o padrão de vida da família, os iogurtes da criançada estão ficando de fora e as marcas mais baratas passaram a ser priorizadas. O marido dela tem ido ao trabalho de ônibus para economizar combustível e evitar que o carro, ano 1996, quebre, demandando despesas extras. ―Paguei R$ 10 mil à vista pelo carro em 2012, dinheiro que poupei com sacrifício. Hoje, não consigo fazer sobrar R$ 1 do orçamento‖, reclama Ednaldo. Na avaliação de Carlos Thadeu de Freitas Gomes, economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), os brasileiros como Eliana e Ednaldo terão que ter muita cautela com os gastos em 2015. Tudo ficará mais caro — no primeiro trimestre, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) passará de 7% —, já que o governo decidiu cair na real e corrigir distorções que estavam levando o país para o atoleiro. A maior pancada no orçamento das famílias virá da energia elétrica, com aumento de 8% em janeiro e, na média, de 30% em todo o ano. ―O poder de compra das famílias ficará comprometido‖, complementa Evandro Buccini, economista-chefe da Rio Bravo Investimentos. Pelos cálculos dele, é possível que, neste ano, pela primeira vez desde 2003, a renda dos lares tenha queda real. Portanto, avisa o economista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) José Luiz Oreiro: ―Antes de melhorar, a situação vai piorar muito‖. Para ele, ainda que a nova equipe econômica tenha autonomia para fazer os ajustes necessários na economia, será tarde demais para evitar estragos nos orçamentos domésticos provocados pela perversa combinação de inflação persistente e pelos juros altos. ―O custo de derrubar a carestia de maneira rápida seria uma recessão sem precedentes‖, diz Oreiro. ―Então, veremos medidas graduais, que só mostrarão resultados efetivos a partir de 2016. Foram muitos os erros do governo. O maior deles, ter brincado com a inflação. Agora, mesmo com o crescimento próximo de zero da economia, a taxa básica de juros (Selic) — hoje, em 11,75% ao ano — terá que subir mais, talvez para 12,50% ou 13%‖, assinala. Diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo tenta minimizar a situação. E garante que, ao fim de 2016, a inflação estará no centro da meta, de 4,5%, coisa nunca vista no governo Dilma. ―Nossas estimativas acompanham a conjuntura do momento‖, justifica ele, sem grande convicção. O dado oficial do BC, por sinal, mostra inflação de 5% no encerramento do segundo ano do novo mandato da petista. Para Zeina Latif, economista-chefe da XP Investimentos, não há espaço para ilusões. ―Não vai ter jeito. Em 2015, mesmo que imaginemos o melhor dos mundos na política fiscal, teremos inflação alta, juros subindo, crédito caro e baixo crescimento‖, prevê. O jeito, destaca ela, será torcer para que o governo reconstrua a credibilidade da política econômica, para que o Brasil possa ter um 2016 melhor. ―Por ora, o que temos é um cenário tremendamente desafiador‖, reforça.

Angústia A família de Conceição Vaz do Santos, 25 anos, está apreensiva. Não sabe se, neste segundo mandato, Dilma conseguirá arrumar a casa, como se espera de uma governante comprometida com o bem-estar da população. ―A cada ida ao supermercado, a angústia só aumenta. Leite, feijão, carne, arroz, pão. Tudo está mais caro. Posso dar uma lista imensa de coisas cujos preços aumentaram‖, diz ela. A situação financeira complicou tanto, que o filho Miguel, 2, ficou sem presente no Natal passado. Faltou dinheiro. ―Não houve condições. Tivemos que definir prioridades e fazer renúncias‖, lamenta. O marido da jovem passou em um concurso público e aguarda a nomeação. A estabilidade do funcionalismo nunca foi tão desejada pela família. ―Antes, só ouvia meus pais falarem sobre inflação e não entendia nada. Hoje, estou Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 28 sentindo na pele e no bolso‖, afirma Conceição. Em um período como o atual, ela sabe a importância de poupar. Mas não consegue. ―Meu salário cai na conta e, no dia seguinte, some‖, ressalta. Se o dinheiro não sobra, para proteger a família, a dona de casa pensa em recorrer aos estoques de produtos não perecíveis, postura comum nos tempos de hiperinflação. ―Vamos ver o que será 2015 e o que a Dilma fará‖, acrescenta. A hiperinflação, por sinal, continua alimentando uma praga resistente: a indexação da economia, que dificulta o controle dos preços no país. Cerca de 30% dos produtos e serviços que compõem o IPCA são corrigidos pela inflação passada. Esse problema, em algum momento, terá de ser atacado. ―Mas, primeiro, o governo precisa derrubar a inflação. Essa é a prioridade do momento‖, insiste Zeina Latif.

Posse blindada ARI CUNHA

Para um governo que se autointitula popular, soa estranho, para dizer o mínimo, o fortíssimo e inusitado aparato armado em torno da presidente Dilma para mantê-la blindada e afastada das pessoas que irão à festa de posse na Esplanada dos Ministérios. Quilômetros de cercas de isolamento foram armadas ao longo de todo o trajeto da cerimônia. Além disso, 4 mil agentes de segurança, divididos entre Exército, Marinha, Aeronáutica e Fuzileiros Navais, Polícia Federal, Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, agentes do trânsito, e seguranças da própria Presidência, estarão a postos para manter a presidente reeleita sob constante vigilância e cobertura para qualquer eventualidade. As forças de segurança atuarão em terra e no ar não só nas áreas próximas à solenidade, mas também nas regiões que dão acesso ao cerimonial, onde serão montadas barreiras de controle rígidas. Além disso, durante todo o trajeto, Dilma será escoltada por motociclistas e agentes de segurança montados a cavalo. Com um esquema de proteção desse nível, quem for à solenidade pretendendo ver, ao vivo, a presidente em desfile de carro aberto, corre o risco de ficar, como se diz, ―a ver navios‖. O esquema de proteção, beirando à paranoia, tem uma explicação prosaica: o medo das manifestações e dos protestos que estariam sendo armados por núcleos oposicionistas. Para garantir que não haja manifestantes indesejados, o Partido dos Trabalhadores cuidou de reerguer a festa de passagem do ano, já cancelada pelo GDF, por motivos óbvios, providenciando, às pressas, shows com artistas populares. Também foi acertado, não se sabe a que custo, caravanas com centenas de ônibus lotados de militantes, arregimentados para a grande posse. A intenção dos organizadores da ―festa popular‖ é lotar a Esplanada e, com isso, espancar, digo espantar, qualquer manifestação contrária. Festa popular, nesses tempos bicudos, tem que ser assim mesmo, com gente paga e cassetetes por todo lado. Quem for insano de se dizer contra que entre num bailão deste.

Saídas para a guerra Brasil, México e Colômbia acompanham a experiência pioneira do Uruguai com a legalização da maconha, em busca de uma alternativa para conter a espiral de violência ligada ao crime organizado LUCAS FADUL

A família do famoso cantor de reggae Bob Marley decidiu emprestar o nome do músico jamaicano para a primeira marca internacional de maconha. Em breve, a Marley Natural adornará embalagens de produtos feitos da erva nos estados norte-americanos que implementaram recentemente medidas para despenalizar e legalizar o consumo e a venda de cannabis. ―Os Estados Unidos são o país mais avançado na regulação de todos os usos da maconha‖, afirmou ao Correio Ilona Szabó, diretora executiva e coordenadora do Programa de Políticas sobre Drogas do Instituto Igarapé. Na América Latina, os olhares se voltam para o Uruguai. Desde que aprovou a liberalização da erva, o país despontou na vanguarda de uma nova abordagem para a política de drogas na região. Espera-se que o caminho seja seguido, de alguma maneira, pelo México, pela Colômbia e pelo Brasil — todos em guerra contra o crime organizado e o narcotráfico. ―A principal função da legislação uruguaia será mostrar aos demais países latino-americanos que a reforma da política de drogas é possível, não é um tabu insuperável, não paralisará as instituições ou o país, e poderá ter efeitos muito positivos‖, defende Daniel Nicory, mestre em direito público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro da Rede Pense Livre. ―Ainda é cedo para dizer, afinal os processos de produção e venda ainda estão sendo regulamentados no país, e o modelo escolhido concentra excessivamente nas mãos do Estado a cadeia produtiva. Mas, sem dúvida, é um passo na direção certa‖, completa o jurista. Na avaliação de Szabó, o exemplo do Uruguai é ―muito inovador e corajoso‖ para a região. ―Uma vez que o país rompe a lógica de que apenas as nações desenvolvidas têm soberania para tomar esse tipo de decisão, está aberto o espaço para que a América Latina faça o mesmo.‖ Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado recentemente, revelou que a taxa de homicídios registrada no Brasil foi, em termos absolutos, a mais elevada entre todas as 133 nações pesquisadas pela entidade, em 2012. De acordo com o doutor em direito penal Cristiano Maronna, da Rede Pense Livre, ainda há muitos entraves para que o país leve à frente uma mudança na política de drogas. ―O campo mais conservador não concorda com a aplicação de uma regulação responsável, como é feito com o tabaco e com o álcool. O número de fumantes se reduziu nos últimos anos, o que prova que as políticas implementadas aqui foram vencedoras. Propagandas de cerveja também tiveram o horário de veiculação restrito‖, comenta. ―No Distrito Federal, uma ação civil pública foi proposta, em dezembro, para regular a importação de maconha com fins medicinais, mas a Anvisa ateve-se apenas ao cannabidiol‖, acrescenta Maronna. Continuação da Resenha Diária 1º/01/15 29

Crime organizado Perguntada pela reportagem sobre a importância do exemplo uruguaio para países em guerra contra o crime organizado — como Brasil, México e Colômbia —, Szabó foi categórica. ―Os três são países-chave. Traria um impacto, sem dúvida, uma revisão da política de drogas aliada ao entendimento de que a guerra só vai desencadear uma espiral de violência. Investimentos na área da saúde seriam, de fato, mais efetivos para lidar com a questão‖, explicou. Para a especialista, ―caso não alterem a política de drogas, Brasil, México e Colômbia não conseguirão se tornar desenvolvidos‖. ―Nosso país ainda não se juntou ao debate porque não quer admitir que é o lugar onde mais pessoas morrem no mundo‖, conclui. Daniel Nicory vê o Brasil atrasado em relação à Argentina nas reformas da política de drogas, já que a Suprema Corte argentina declarou inconstitucional, em 2009, a punição a usuários, seguindo os passos da Corte Constitucional colombiana. ―Enquanto isso, por aqui, o assunto ainda aguarda o julgamento do Supremo Tribunal Federal (STF), embora a Corte já tenha reconhecido, desde 2012, a repercussão geral do tema e a necessidade de pautá-lo‖, opina o professor da UFBA. Maronna concorda, e acrescenta que também a legislação paraguaia, ―sem dúvida, está à frente da brasileira‖.

Pontos de vista Avanço nos EUA Por Daniel Nicory

―O lugar onde a legislação está mais avançada na questão da liberalização da maconha é o estado norte- americano do Colorado, que já disponibilizou lojas em funcionamento, desde o início de 2014, e tem produzido resultados encorajadores. O sucesso foi tamanho que, em novembro, Alasca, Distrito de Colúmbia e Oregon aprovaram a legalização da erva para fins recreativos. Como o Uruguai é um país de população e território pequenos, com bom grau de instrução e alta qualidade de vida, se comparada à dos vizinhos, e com relativa homogeneidade cultural, é o local ideal para a experimentação de novas políticas, exercendo papel semelhante ao de alguns estados norte- americanos.‖ Mestre em direito público pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e membro da Rede Pense Livre

Política articulada Por Ilona Szabó ―Desde que o governo uruguaio colocou o tema das drogas com muita honestidade, articulado com uma política de segurança, outros líderes foram encorajados a debater o tema. O presidente José Mujica é muito carismático, o que inspira a juventude em toda a América Latina a discutir a questão. Entretanto, há décadas, a Europa registra experimentos muito bem-sucedidos na área de prevenção e redução das drogas e no tratamento de dependentes. São modelos a serem observados. A Suíça, por exemplo, tem uma política incrível de quatro pilares, baseada em prevenção, repressão qualificada, tratamento e danos. Nos Estados Unidos e na América Latina, o debate está mais restrito à maconha. Na minha opinião, a Europa trata do problema das drogas de maneira mais ampla.‖ Diretora executiva e coordenadora do Programa de Políticas sobre Drogas do Instituto Igarapé

Monopólio quebrado Por Cristiano Maronna ―O caso do Uruguai é bastante interessante, porque representa uma regulação responsável. Foram criados mecanismos para tirar do crime organizado o monopólio desse mercado. No Brasil, o tema está na pauta do dia, mas antevejo muitas dificuldades. Tanto no México quanto na Colômbia, a legislação é mais avançada. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, integra um grupo internacional de líderes que apoiam uma revisão da política de drogas latino-americana. Na Argentina, onde o consumo não é considerado crime, há um movimento mais organizado. Apesar de a Europa ter exemplos bem-sucedidos, acredito que as iniciativas definitivas para a América Latina estão nos Estados Unidos e no Uruguai, ambos na vanguarda para uma revisão da política regional de drogas.‖ Doutor em direito penal e membro da Rede Pense Livre