OS BORDÕES TELEVISIVOS E SUA INFLUÊNCIA

Roberta de Moraes Jesus de Souza 1

RESUMO: O presente trabalho é o resultado de uma breve reflexão sobre um influente e importante meio comunicativo em nossa sociedade: a televisão. A TV está presente em mais de 90% dos lares brasileiros. Existem muitos estudiosos que são contra ela por afirmarem que esta traz más influências aos alunos, todavia, com uma abrangência tão grande não é possível deixá-la de lado nas práticas didático-pedagógicas escolares. Vale ressaltar que o papel da escola diante da TV passa a ser de despertar os alunos para que estes se tornem cidadãos críticos e reflexivos e saibam escolher programas televisivos adequados e sigam tendências televisivas sadias. E dentre as diversas influências deste meio de comunicação estão os bordões, os quais estão literalmente na “boca do povo” e podem ser explorados nas aulas de Língua Portuguesa. PALAVRAS-CHAVE: Televisão. Influência. Ensino. Bordões.

Justificativa

A televisão faz parte do dia-a-dia de grande parte das pessoas. Neste contexto, é imprescindível que o professor a utilize em sala de aula, mas levando os seus alunos a verem-na de forma crítica e reflexiva. E dentre as diversas utilidades deste meio de comunicação tão abrangente estão os bordões, os quais influenciam a comunicação de crianças e adultos.

Objetivos

- Pesquisar a questão da televisão enquanto influência inegável na vida da população brasileira; - Dialogar sobre a televisão enquanto recurso didático a ser utilizado em sala de aula; - Mostrar como os bordões, típicos da mídia televisiva, estão presentes na vida do brasileiro. Sendo assim, necessitam ser explorados pelo professor de Língua Portuguesa.

1 Aluna do programa Stricto Sensu em Educação da UCG (Universidade Católica de Goiás).

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Metodologia

Emprego de estudo bibliográfico e de fontes da internet e respostas de 60 alunos do 6º ano do ensino fundamental de uma escola estadual em Rio Verde/GO, os quais foram questionados sobre o bordão (com explicação do termo) que eles estavam mais utilizando ultimamente.

Discussão Teórica

Consoante Napolitano (2007, p. 15), o professor não deve reproduzir preconceitos e críticas rápidas sobre a televisão. A televisão é um fenômeno social de diversas faces. O que vem acontecendo com mais frequência na escola é ver a televisão como “manipuladora de consciências e veiculadora de um conteúdo de baixo nível cultural, informativo e estético.”. Muitos professores iniciam seu trabalho partindo deste pressuposto. A questão é que a escola pouco contribui para fazer com que os seus alunos se tornem críticos diante da TV. Não obstante, as instituições escolares também perdem a oportunidade de incorporar o que passa na televisão em sala de aula como fonte de conhecimento. Libâneo (2004) em seu livro “Adeus Professor, Adeus Professora? Novas exigências educacionais e a profissão docente” diz que educação e comunicação não podem ser separadas, já que toda comunicação é educativa, pois através das trocas de experiências no convívio social o indivíduo adquire conhecimento. De acordo com Gentile (2006, p. 44), a televisão se utiliza da ação, imagens e sons bem escolhidos com o intuito de prender a atenção das pessoas, especialmente das crianças. Como a TV ajuda a formar memórias de longa duração, desenvolve a imaginação e faz com que as pessoas a assistam algumas horas por dia não pode ser desprezada na escola. Sabe-se que a televisão não é perfeita, todavia, a escola precisa utilizar este recurso para desenvolver nos alunos um olhar crítico. Os alunos precisam desenvolver uma postura para dar suas opiniões e aprender a analisar os programas televisivos. Girardello (2006, p. 01) afirma que os julgamentos de modalidade sobre quais mensagens são veiculadas pela televisão deveria ser uma grande preocupação dos professores, pela sua importância no processo de fazer com que os alunos lidem com “a enxurrada de mensagens com as quais serão confrontados enquanto cidadãos numa sociedade atravessada pelos meios de comunicação.”. “Os processos de produção de comunicação, como parte do conhecimento necessário de um sistema de modalidade dos meios, deveria ser parte do conhecimento escolar de todos.”. Pensando na televisão enquanto ferramenta de ensino, os professores de todas as disciplinas têm um “arsenal” de programas, filmes, desenhos, seriados, etc. que eles podem

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aproveitar em sala de aula. Dentre as inúmeras possibilidades existentes, um conteúdo pode e deve ser trabalhado em sala de aula: os bordões. De acordo com Sá; Pereira Jr. (2009)

Há no país mais de 2 milhões de casas de gente que prefere ter televisor a geladeira. Um veículo tão importante para as pessoas exerce uma influência que ultrapassa a dos costumes, invade outras situações sociais e econômicas. A televisão define nossa hora de dormir, a disposição dos nossos móveis, pauta nossas conversas e, principalmente, o falar cotidiano. Ela é fértil, por exemplo, em criações de linguagem que viram hábitos muitas vezes duradouros na sociedade, os aparentemente inofensivos bordões. Quando uma expressão curiosa surge num dado programa de televisão e passa a fazer parte da vida do telespectador, ela adapta-se à sua maneira de agir. Especialistas já sacramentaram estudos sobre o prazer específico de usar um bordão do momento, na presunção de que as pessoas à volta estão de alguma forma familiarizadas ou identificadas com o personagem que o popularizou. Essa forma de empatia linguística assume uma importância social que, dado o peso da TV no cotidiano, está longe de ser desprezível.

Carvalho apud Sá; Pereira Jr. (2009) mostra que a linguagem, os bordões expressos na televisão se tornam parte do jeito de falar do brasileiro. Alguns são passageiros, mas outros são incorporados na comunicação coloquial da população. Sá; Pereira (2009) ainda dizem que “o bordão humaniza e estabelece o lugar social em que ele se impõe.”. As várias maneiras de falar de um grupo dão origem a uma variedade de expressões linguísticas e estas são consequências de distinções de comunicação, de divergências e de conflitos nas mais variadas situações. “Os neologismos formais se tornaram, assim, menos um adereço linguístico do que um elemento integrante do negócio.”. Eles têm a óbvia missão de “permitir melhor identificação com os tipos que surgem no vídeo e de facilitar a compreensão dos diálogos por parte dos telespectadores. São, por isso, estimulados pela indústria.”. Consoante Sá; Pereira Jr. (2009), os bordões estão em diversos tipos de programas, todavia, estão predominantemente nas . Eles são criados pelos autores ou até mesmo pelos atores, pois os próprios atores têm relativa liberdade em escolher bordões coerentes com os seus personagens. Os bordões podem ser considerados clichês, chavões ou até mesmo jargão da mídia. (SÁ; PEREIRA JR., 2009).

O conceito de jargão sofreu alterações desde a Idade Média. No início, a palavra descrevia o gorjeio das aves e também a fala incompreensível, um gargarejo: jargon , em francês, e gargle , em inglês, saem da mesma raiz. Ao se espalhar de uma língua para outra, o termo ganhou o sentido de gíria de submundo e só passou a designar as linguagens técnicas a partir do século 19, com o surgimento de profissões, quando grupos de novos especialistas começaram a marcar seus territórios temáticos, criando jeitos próprios de falar. Antigamente, jargão era a gíria dos marginais, mas, até hoje, há estudos nos quais a palavra é usada como sinônimo de gíria. O bordão das novelas é uma espécie de jargão, porque ajuda a reverberar a linguagem de uma indústria.

Vale a pena lembrar que os bordões não surgiram na televisão, mas na época de ouro do rádio na década de 40. Eles se fixaram nos anos 70, mais especificamente em 1973, com a novela O

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Bem-Amado com o personagem Odorico Paraguaçu (Paulo Gracindo) ao dizer "Vamos deixar de lado os entretantos e vamos passar aos finalmentes", criado por Dias Gomes. (SÁ; PEREIRA JR., 2009). Sá (2009) diz que as falas não são homogêneas e variam de acordo com a época, região, classe social, etc. “O comportamento determinado quando uma expressão curiosa surge num dado programa de televisão é exemplo claro dessa situação.”, pois ela começa a ser parte do dia-a-dia do telespectador “e se adapta facilmente a sua maneira de agir a partir do prazer que demonstrado, o que implica numa importância social.”. A língua e a fala são essenciais para que haja comunicação. “A língua é a estrutura que compreende as convenções adotadas por determinado grupo social. A fala está sujeita a modificações regionais, gírias e jargões, relacionados à forma como os indivíduos utilizam essas convenções.”. Mais recentemente o bordão “É a treva” da personagem Bianca (Isabelle Drummond) da novela “Caras e Bocas” tem conquistado o público. Segue abaixo uma lista de jargões compilados por SÁ; PEREIRA JR. (2009):

Expressão Personagem Intérprete Programa (ano) Tereziiiinha! Chacrinha Abelardo Barbosa Buzina do Chacrinha (1962) Tempo bom não volta mais! Lilico Olívio Fortes A Praça da Alegria (1965) Aquele abraço! Lilico Olívio Fortes A Praça da Alegria (1967) Ô psit! Ô da poltrona! Didi Renato Aragão Os Trapalhões (1970) É bestial! Machadinho Toni Corrêa (1977) Tô certo ou tô errado? Sinhozinho Malta (1985) É vapt-vupt! Professor Raimundo Chico Anysio Escolhinha do Professor Raimundo (1987) Minha Deusa! Tony Carrado Nuno Leal Maia Mandala (1987) Minha vingança será maligna! Vampiro Brasileiro Chico Anysio Chico Anysio Show (1988) Nos trinques! Timóteo Paulo Betti Tieta (1989) Mistéééério! Dona Milu Míriam Pires Tieta (1989) Meninos, eu vi! Juca Pirama Luís Gustavo O Salvador da Pátria (1989) Na chom! Dona Armênia (1990) Translumbrante! Kika Jordão Arlete Salles Lua Cheia de Amor (1990) Justo, muito justo, justíssimo! Belarmino José Wilker (1993) Me poupe, Salgadinho! Lucineide Regina Dourado Explode Coração (1995) Vamos nhanhar! Scarlet Luísa Tomé (1997) Não é brinquedo, não! Dona Jura Solange Couto (2001) Bom te ver! Ligeiro Eri Johnson O Clone (2001) Ô coitado! Filó Gorete Milagres A Praça é Nossa (2002) Minha boca é um túmbalo! Dona Vamércia Maria Tereza Zorra Total (2004) É felomenal! Giovanni Improtta José Wilker (2005) Copiou? Seu Gomes Walter Breda América (2005)

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Sendo o número de bordões tão grande e a cada dia atualizado, um projeto sobre eles poderia ser feito nas aulas de Língua Portuguesa, por exemplo. O professor pediria aos alunos para fazerem uma lista de bordões com pesquisa em casa com familiares e na internet se necessário, separando-os de acordo com os locais que apareceram/aparecem: filmes, seriados, novelas, desenhos, etc. Não obstante, os alunos poderiam trazer cenas televisas onde tais bordões aparecem. Também seria plausível fazer uma lista com os bordões antigos que são utilizados atualmente. Além do mais, o professor poderia comentar com os seus alunos a opinião deles sobre os bordões e perguntar em que situações eles são utilizados (formais ou informais). Também poderiam discutir ao final a influência da mídia televisiva na vida do povo brasileiro. Como não é possível separar televisão do homem, o projeto acima é apenas uma sugestão, mas há inúmeras possibilidades de se aproveitar os bordões em sala de aula, na verdade, a televisão em sala de aula.

Resultados

A aplicação da pergunta sobre o bordão (com explicação sobre o termo) mais conhecido pelos 60 alunos do 6º ano de uma escola estadual da cidade de Rio Verde/GO mostra que “É a treva” da personagem Bianca (Isabelle Drummond) da novela “Caras e Bocas” é o bordão do momento. Observa-se assim que as telenovelas ditam a moda dos bordões enquanto são transmitidas.

Referências

GENTILLE, Paola. Liguem a TV: Vamos estudar! Nova Escola. São Paulo, Ano XXI, n. 189, p. 44-49, jan.-fev. 2006.

GIRARDELLO, Gilka. Resenha: Dez teses sobre as crianças e a TV . 1986. Disponível em: . Acesso em: ago. 2009.

LIBÂNEO, José Carlos . Adeus Professor, Adeus Professora? Novas Exigências Educacionais e a profissão docente . São Paulo: Cortez, 2004.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar a televisão na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2007.

SÁ, Edmilson José de. “Não é brinquedo, não!” – A sociedade televisiva dos bordões: jargões da mídia ou artifícios sem valor? Disponível em: . Acesso em: ago. 2009.

SÁ, Edmilson José de; PEREIRA JR, Luiz Costa. A sociedade dos bordões. Disponível em: . Acesso em: ago. 2009.

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