Observando os Rios
O retrato da qualidade da água nas bacias dos rios Paraopeba e Alto São Francisco um ano após o rompimento da barragem Córrego do Feijão – Minas Gerais
JANEIRO DE 2020 Observando os Rios
O retrato da qualidade da água nas bacias dos rios Paraopeba e Alto São Francisco um ano após o rompimento da barragem Córrego do Feijão – Minas Gerais
JANEIRO DE 2020
Realização: Patrocínio: Presidência Valorização dos Parque e Reservas Pedro Luiz Barreiros Passos Monica Fonseca* Vice-Presidência Água Limpa Roberto Luiz Leme Klabin Maria Luisa Ribeiro*, Romilda Roncatti, Cesar Pegoraro*, Gustavo Vice-Presidência de Finanças Veronesi, Marcelo Naufal* Morris Safdié Proteção do Mar CONSELHOS Camila Takahashi, Diego Martinez Conselho Administrativo Clayton Ferreira Lino, Fernando Reinach, Gustavo Martinelli, Jean EXPEDIENTE Paul Metzger, José Olympio da Veiga Observando os Rios 2020 | O A Fundação SOS Mata Atlântica Pereira, Luciano Huck, Marcelo Leite, retrato da qualidade da água nas Sonia Racy é uma ONG ambiental brasileira bacias dos rios Paraopeba e Alto São Francisco um ano após o Conselho Fiscal criada em 1986 para inspirar a rompimento da barragem Córrego Daniela Gallucci Tarneaud, Ilan Ryfer, do Feijão sociedade na defesa da floresta Sylvio Ricardo Pereira de Castro mais ameaçada do Brasil. Redação e Coordenação Técnica DIRETORIAS índice Atua na promoção de políticas Maria Luisa Ribeiro Diretoria Executiva públicas para a conservação Projeto Gráfico e Diagramação Marcia Hirota 1. Introdução da Mata Atlântica por meio Rodrigo Masuda/Multitude 6 Diretoria de Finanças e Negócios do monitoramento do bioma, Revisão Olavo Garrido 2. Resumo da Expedição – Vozes do Rio produção de estudos, projetos Ana Cíntia Guazzelli 10 Diretoria de Políticas Públicas demonstrativos, diálogo com Mario Mantovani 3. Metodologia de Monitoramento 20 setores públicos e privados, Responsáveis pelas coletas Diretoria de Comunicação e Marketing aprimoramento da legislação Maria Luisa Ribeiro, Marcelo Naufal Afra Balazina 3.1. Coleta, Preservação e Transporte das Amostras ambiental, comunicação e e Marta Angela Marcondes. 23 DEPARTAMENTOS engajamento da sociedade em Equipe Técnica do Projeto Administrativo/Financeiro/ 3.2. Análises prol da restauração da floresta, Observando os Rios 23 Recursos Humanos Romilda Roncatti, Gustavo Veronesi, valorização dos parques e Valdeilton de Sousa, Aislan Silva, César Pegoraro, Marcelo Naufal. 4. A Qualidade da Água na Bacia dos Rios Paraopeba e reservas, água limpa e proteção Débora Severo, Elaine Calixto, Parceiro para análises 26 Ítalo Sorrilha, Jonas Morais, Leticia Alto São Francisco – Minas Gerais do mar. Os projetos e campanhas Universidade Municipal de São Mattos, Patrícia Galluzzi, Rosana da ONG dependem da ajuda Caetano do Sul (USCS) – Projeto Cinturião 4.1. Resultados por Categoria de pessoas e empresas para IPH (Índice de Poluentes Hídricos) 27 Comunicação e Marketing e Policontrol Instrumentos Controle continuar a existir. Andrea Herrera, Jessica Rampazo, Ambiental Indústria e Comércio Ltda. 4.2. Análises Físico-químicas Joice Veiga, Luiz Soares, Yuri Menezes 32 Responsável Técnica a a Negócios Prof . Dr Marta Angela Marcondes, 4.3. Microbiologia Ana Paula Santos, Carlos Abras, Bióloga e Pesquisadora 36 Lucas Oliveira, Tamiris do Carmo Equipe Técnica do Laboratório de www.sosma.org.br Políticas Públicas Análises Ambientais da USCS 4.4. Metais Pesados 37 facebook.com/SOSMataAtlantica Beloyanis Monteiro, Lídia Parente* Pesquisadores: Fernanda Amate Lopes, Paula Simone da Costa twitter.com/sosma Tecnologia da Informação 5. Vegetação e Paisagem 44 Larizzatti e Jaqueline Cosmo; Kleber Santana youtube.com/sosmata Estagiários: Angela Maria Manfreda instagram.com/sosmataatlantica CAUSAS Villalobos, Alda Joys Maia de 6. Conclusão 46 Restauração da Floresta Oliveira Beatriz e Denise Silva Rafael Fernandes, Ana Paula Guido, Santos; Assessoriaa de Imprensa: 7. Referências Bibliográficas Aretha Medina, Berlânia dos Santos, Ana Paula Lazzari. 50 Celso da Cruz, Cícero de Melo Jr., Fernanda dos Santos, Filipe Lindo, Ismael da Rocha, Joaquim Prates, Joveni de Jesus, Kelly De Marchi, Loan Barbosa, Marcelo de Souza, Maria de Jesus, Mariana Martineli, Reginaldo Américo, Ricardo Ruiz Jr., Roberto da Silva, Wilson de Souza *consultor(a) 6 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 7 ©SOS Mata Atlântica
INTRODUÇÃO Brumadinho (MG).
A Fundação SOS Mata Atlântica maior tragédia socioambiental como seguem suas vidas após a que está feito não esconde as apresenta neste relatório o retrato decorrente de atividade minerária brusca mudança de realidade. feridas abertas pelos rejeitos que da qualidade da água nas bacias do mundo. Em todo o trecho enterraram nascentes, cursos No município de Brumadinho, 1hidrográficas dos rios Paraopeba analisado, a qualidade da água do d’água, ceifaram vidas humanas, na chamada zona quente do e Alto São Francisco, um ano rio Paraopeba está imprópria, com fauna e flora, devastaram Mata dano ambiental, é intensa a após o impacto provocado índices que variam de péssimo a Atlântica e a vegetação nativa movimentação de máquinas, pelo rompimento da barragem ruim, em desconformidade com e ainda mantém tingido de obras de reconstrução de estradas de rejeitos da mineradora Vale os padrões definidos na legislação cor de sangue um dos mais e pontes para acessos de bairros S.A., no complexo minerário brasileira para usos múltiplos. importantes mananciais da Região que ficaram isolados por rejeitos. do Córrego do Feijão, em Metropolitana de Belo Horizonte, o As cicatrizes profundas ainda O ambiente ainda é bastante Brumadinho, Minas Gerais. rio Paraopeba, formador da bacia estão abertas na geografia, hostil e desolador, com muitas hidrográfica do rio São Francisco. Os dados que apontam a condição no rio, nas pessoas e no meio propriedades desocupadas e ambiental do rio foram elaborados ambiente. A Expedição - Vozes do atividades econômicas cessadas A amplitude do impacto é ainda com base no Índice de Qualidade Rio percorreu aproximadamente para darem lugar às ações de mais perversa e silenciosa na da Água (IQA) apurado em 21 2.000 km por estradas rurais redesenho da paisagem. medida em que se desce o rio, pontos de coleta, distribuídos ao e rodovias, passando por 21 isolado de suas comunidades O trabalho de remediação que a longo de 356 quilômetros do rio municípios, para coletar e analisar por cercas instaladas pela Vale. empresa Vale vem fazendo nas Paraopeba. O trecho compreende a qualidade da água, ouvir os Já distante das máquinas, microbacias do córrego Ferro a extensão afetada pela onda de ribeirinhos e as comunidades dos seguranças contratados Carvão e do córrego Casa Branca rejeitos e pluma de contaminantes afetadas e apresentar, neste para impedir acesso às áreas - onde um sistema de tratamento carreados, desde o Córrego relatório, os impactos que as contaminadas e em obras, da água desses afluentes busca Ferro Carvão, na região rural bacias hidrográficas dos rios constata-se que muito pouco diminuir o carreamento de rejeitos denominada Córrego do Feijão, Paraopeba e Alto São Francisco e vem sendo feito para o ambiente e os impactos contínuos ao rio no município de Brumadinho a sua gente estão sofrendo. e aos afetados. A água chega Paraopeba - contribuiu para a (MG), até Felixlândia, na formação às propriedades rurais, ilhas e Assim como em 2019, o objetivo diminuição da turbidez da água do do lago de Três Marias, a jusante comunidades ribeirinhas por deste trabalho é levantar dados córrego Ferro Carvão, mas ainda do Reservatório de Retiro Baixo, caminhões-pipa e em grandes independentes sobre a condição não trouxe resultados positivos ao no Alto São Francisco. cargas de água mineral envasada. da qualidade da água na região Paraopeba. Neste período, chuvas Pelo rio, a condição ambiental A equipe técnica da Fundação e avaliar o impacto do dano intensas têm atingido a região e vai ficando gradativamente mais SOS Mata Atlântica percorreu o aos ecossistemas, à cobertura consequentemente aumentado o prejudicada com o carreamento mesmo trecho do deslocamento florestal nativa da Mata Atlântica carreamento de rejeitos por todo dos rejeitos e contaminantes que dos rejeitos sobre o rio Paraopeba, e aos rios; ouvir comunidades o trecho da bacia hidrográfica impactam a região para áreas do dia 07 a 17 de janeiro de ribeirinhas e famílias atingidas impactado. distantes do núcleo da tragédia. 2020 – quase um ano após a desde o crime ambiental e levantar O redesenho da paisagem 8 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 9
Falta informação para ribeirinhos de Bacias Hidrográficas dos e proprietários de terras. E os rios Paraopeba, Velhas e São sentimentos de impunidade e Francisco a dedicar atenção dor imperam e se somam às especial à região, diante do ©SOS Mata Atlântica incertezas sobre o futuro da região rebaixamento do nível d’água e à insegurança hídrica. provocado pela intensa atividade minerária. As variações climáticas, de temperatura, do regime de Vários instrumentos de gestão chuvas, volume e vazões dos e governança voltados à saúde rios, além dos usos do solo, da bacia hidrográfica vêm sendo interferem de forma direta na implementados e devem ser quantidade e na qualidade da fortalecidos para que a sociedade água doce superficial. A região participe ativamente da tomada do Alto Paraopeba, estratégica de decisão e da definição para a manutenção dos recursos das medidas punitivas, de hídricos da bacia e do rio remediação, recuperação da bacia São Francisco, foi altamente do Paraopeba e monitoramento. impactada com o despejo de Nesse sentido, este retrato da 14 mil toneladas de rejeitos de qualidade da água nas bacias do minério sobre as áreas, até então Paraopeba e Alto São Francisco, preservadas por unidades de elaborado pela Fundação conservação, como a Área de SOS Mata Atlântica, visa Proteção Ambiental (APA) Sul da contribuir com as comunidades Região Metropolitana de Belo locais, organismos de bacias Horizonte (Decreto nº 35.624, hidrográficas, instituições de 8 de junho de 1994, que e órgãos gestores de meio declara como Área de Proteção ambiente, Ministérios Públicos, Ambiental a região situada nos organizações da sociedade civil, municípios de Belo Horizonte, governos das esferas federal, Barão de Cocais, Brumadinho, estadual e municipal em ações de Caeté, Catas Altas, Ibirité, recuperação desse terrível dano, Itabirito, Mário Campos, Nova de imensurável prejuízo social, Lima, Raposos, Rio Acima, Santa ambiental, cultural e econômico Bárbara e Sarzedo), em razão do para as atuais e futuras gerações. imenso potencial hídrico, da rica biodiversidade e dos aspectos É fundamental, em respeito às socioculturais e econômicos que vítimas e ao rio, a quem buscamos reúne. dar voz por meio deste relatório, que a legislação ambiental Embora a região enfrente brasileira seja valorizada e forte pressão imobiliária e fortalecida por meio de órgãos de mineradoras, a demanda técnicos e instrumentos de por água para abastecimento gestão eficientes, participativos, público, agricultura e a atuação modernos e livres de ingerência de organizações da sociedade política. civil têm levado os Comitês
Rio Paraopeba,Mário Campos, (MG 10 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 11
de muitas vidas e famílias foram e, de quebra, nosso passado e relatadas em conversas durante nossa identidade. Olhem bem as RESUMO DA EXPEDIÇÃO as análises da água e encontros montanhas. Elas são de Minas. que antecederam as coletas. Elas são nossa ancestralidade. – VOZES DO RIO Estavam aqui muito antes de nós. A equipe técnica se reuniu com Não deveria haver dinheiro que parceiros locais – organizações comprasse o que faz parte da da sociedade civil que atuam alma de um povo. E nenhum povo A segunda expedição aos Rio na bacia do rio Paraopeba – e deveria vender sua alma”. Paraopeba e Alto São Francisco com integrantes de grupos de foi realizada pela Fundação monitoramento do programa A Associação Comunitária da SOS Mata Atlântica em parceria ©SOS Mata Atlântica 2 Observando os Rios, de Minas Jangada pretende proteger com o Laboratório de Análises Gerais. a área da nascente junto à Ambientais da Universidade de captação de água que abastece Na terça-feira, dia 07 de janeiro, São Caetano do Sul, e contou o distrito, criando uma unidade de foi formado um novo grupo com a participação especial conservação, pois as nascentes de monitoramento, com a de voluntários dos grupos de estão cercadas por mineradoras comunidade da Associação monitoramento do programa e ameaçadas. Durante a Comunitária de Jangada, em Casa Observando os Rios de Minas capacitação do grupo e a primeira Branca, distrito de Brumadinho. Gerais. análise da água junto à captação Esse grupo de voluntários da Jangada, seguranças privados O roteiro traçado após realizará monitoramentos mensais da Vale abordaram a equipe mapeamento da bacia da qualidade da água em dois técnica e a comunidade. Esses hidrográfica, com imagens de alta pontos de coleta: no manancial seguranças estão orientados a resolução, permitiu retornar aos de abastecimento de água do impedir acessos da sociedade aos mesmos pontos de coleta de água distrito de Casa Branca e no rio riachos, córregos e nascentes. monitorados em 2019, quando Paraopeba, em Brumadinho. foram avaliados 27 pontos, de Para o novo grupo de A coordenadora do novo grupo Brumadinho até Três Marias. monitoramento, que há anos zela de monitoramento, Carolina de por esses mananciais, esse tipo Nesta fase, as análises foram Moura, é uma das organizadoras de abordagem é outra forma de planejadas para 23 pontos de da campanha Janeiro Marrom, violência que as comunidades coletas e realizadas em 21 pontos, uma articulação de movimentos vêm enfrentando. A mudança em virtude da dificuldade de sociais e organizações que alerta cultural provocada pela restrição acesso ao rio em áreas isoladas sobre os impactos da mineração de uso dos seus territórios e modo por cercas e alteradas por no Brasil. crescimento de vegetação em de vida agravam o sentimento de razão do não uso. O poema da escritora Elisa perda. Cachoeiras e “regos”, como Santana, que abre a campanha pequenos riachos são chamados Além das análises da qualidade Janeiro Marrom, evidencia o por essas comunidades, eram da água, a expedição buscou sentimento dessas comunidades: áreas de lazer, recreação e levantar, por meio da escuta “Levaram primeiro o ouro e não Rio Paraopeba, São bem-estar. Agora estão cercados ativa, como o impacto ambiental fizemos nada, depois, as pedras José da Varginha em áreas privadas pertencentes a afeta a vida das pessoas e (MG). preciosas, e também não fizemos mineradoras. comunidades na bacia do rio nada. Agora levaram nosso minério Paraopeba. As rotas alteradas 12 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 13 ©SOS Mata Atlântica
Recado Rimado, de Maíra do Páginas e páginas de Nascimento processos ©Gaspar Nóbrega/ SOS Mata Atlântica ©Gaspar Nóbrega/ Brumadinho, janeiro de 2020 Estudadas por olhos atentos Geólogos, biólogos, advogados Escutando o choro das águas Leis, decretos e documentos E o grito ecoado nas serras Germinou no seio da Jangada Até que um dia a barragem estourou União em defesa de nossa terra Nosso alerta ninguém escutou Mortos e desaparecidos a lama Fecundado em várias reuniões deixou Embrionado em várias mentes O rio Paraopeba também Gestado em nossos corações sepultou Com propósitos convergentes Desde então seguimos lutando Nascemos chorando Pela nossa memória e pela verdade Emoção que emergia Para que reparem todos os Com lágrimas pintadas danos Era o Dia da Alegria A cada um, ao ecossistema e à sociedade Um tanto de gente boa Veio se chegando pra cá E de uma vez por todas Caminhada, audiência Escutem nosso grito que não é em vão Em tudo a gente tava lá Não queremos mineração na Jangada A verdade escondida E no Rola Moça também não! Levamos pra comunidade Palestras, seminários Somos todos Brumadinho! Cada hora uma atividade Temos dez anos de memória! Somos todos atingidos! Muitos shows e música boa, Respeitem nossa história!!! Café com Tinta, Tarde Festiva, Cinema, leitura no ônibus, Participação coletiva
Doamos para as brigadas, Pintamos a maior faixa de pedestres do mundo, Acendemos velas, erguemos cartazes, Córrego Ferro Carvão, Não desistimos nem um segundo Brumadinho (MG) 14 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 15 ©SOS Mata Atlântica
Objetivo da Expedição Entre os objetivos da expedição realizada pela SOS Mata Atlântica, Participação especial do João Paulo Marques, destacamos: voluntário do Observando, nas coletas.
Vários relatos, choros e Em vários pontos de coleta, poemas como esses, foram segundo relato dos proprietários >> Levantar dados independentes sobre a condição da qualidade da acompanhando a equipe ao e ribeirinhos, outros grupos de água e avaliar os impactos um ano após o dano ambiental para longo do rio. Questionamentos, pesquisadores e técnicos fazem subsidiar autoridades e a sociedade na definição de medidas e ações protestos, revoltas e esperança, coletas, mas não deixam os socioambientais de remediação, recuperação e ressarcimento. todos esperam por justiça. Na resultados. Em locais turísticos e >> Apresentar as informações em linguagem de fácil compreensão, região do baixo Paraopeba as de recreação, alguns pescadores valorizando indicadores de percepção e bioindicadores que apontam cercas e água de caminhão pipa em férias continuam visitando o a presença ou ausência de vida na água e os impactos à saúde e garrafas plásticas chegaram, rio apenas para constatar o que decorrentes da perda da biodiversidade. mas, a informação e a atenção já sabem: a água não está para >> Contribuir com o aprimoramento de políticas públicas no sentido de esperada não. peixe. evitar que eventos trágicos como esse se repitam, tendo como base Auditores independentes do Revoltados, alguns pescadores o fortalecimento do arcabouço legal e institucional brasileiro, com Ministério Público de Minas dizem que o Paraopeba, desde participação da sociedade na tomada de decisões. Gerais afirmaram que os relatórios quando eram meninos, ficava e informações são públicos e que tingido pelas mineradoras e estão disponíveis na internet. que toda vez que mexiam nas Porém, para as comunidades barragens ocorriam mortandades Expedição Paraopeba – O levantamento ribeirinhas e muitos proprietários de peixes. de terras na bacia, os dados e da Qualidade da Água Outros relatam que, no tempo relatórios não são conhecidos “Toda essa gente seco, antes das chuvas, o rio e achá-los, segundo eles, é um estava com sua cor verdadeira. sempre comeu os verdadeiro garimpo cibernético. peixes com sujeira Verdinho e clarinho como deve Junto com as cercas no rio ser. Já as mulheres sabem que as de minério e até vieram as buscas por água de roupas que voltam tingidas de cor hoje sobrevive. Não boa qualidade para o gado, de barro, enferrujadas, não ficam 356 23 adianta cercar e irrigação e usos domésticos. mais limpas. E que nos tempos quilômetros de rios pontos de coleta Em propriedades junto aos de chuva, antes do rompimento virem dizer que não pontos de coleta, na região do da barragem, mesmo com a cor podemos pescar, não baixo Paraopeba, poços foram barrenta, era só enxaguar e pronto: 07 a vamos desistir do rio” perfurados e a água “boa” foi a roupa ficava limpa. Agora, nem encontrada, mas as bombas para com o melhor produto de limpeza; 17/jan. Pescador na região da 21 que possam ser utilizadas ainda nem se deixar quarando nesse sol municípios / período Cachoeira do Choro, (MG) não foram instaladas. da região, vai limpar. É tinta de distritos percorridos ferro. 16 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 17
PontosPonto sde M Monitoramentoonitoramento - -R Rioio P Paraopeba/MGaraopebas/MG BRUMADINHO/MG ' 0 5 ° 8 1 - (! Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo ' 5
Reservatório de Retiro Baixo 5 ° 8 1 - °
Curvelo, meio do reservatório Felixlândia, MG 9 (! 1 Curvelo, Cachoeira do Choro(! - ' 5 ° 9 1 (! Pompéu, Condomínio Recanto das Águas - ' 0 1 °
Curvelo, MG, Ponte Rodovia(! 9 1 - Pompéu ' 5 1 °
Paraopeba 9 1 Caetanópolis - ' 0 2 Caetanópolis – Ilha do Cabo Elói / Paraopeba(! ° 9 1 - ' 5 2 °
Caetanópolis – Ponto JK(! 9 1 - Cachoeira da Prata / Maravilhas Fazenda Chaparral(!
Inhaúma ' 0 3 °
Cachoeira da Prata 9 Os pontos de coleta foram e Felixlândia, os indicadores de 1 - Fortuna de Minas distribuídos ao longo do curso qualidade da água aferidos não ' 5 3
° do rio Paraopeba, com distâncias revelaram água em condições de 9 1 Pequi (! Fortuna de Minas - que variaram de 40 a 50 uso. '
0 quilômetros. Para seguir o rio, a 4 São José da Varginha / Urucaia(! ° O impacto dos rejeitos da Vale 9 1
- equipe técnica percorreu mais de Pará de Minas – captação de água(! sobre a qualidade da água
(! ' 2.000 quilômetros por caminhos, 5
Pará de Minas – a montante das barreiras 4 do rio Paraopeba foi medido
Esmeraldas ° 9 picadas e estradas rurais, rodovias Condomínio Paraopeba 1 - de duas formas: por meio de federais e estaduais, fazendas e '
0 amostras de superfície, com 5 ° comunidades, acompanhando Pará de MinasFlorestal / Esmeraldas(! 9 1
- medições realizadas a 30 Florestal o carreamento dos rejeitos e centímetros da lâmina d’água, ' 5
5 contaminantes. Contagem °
9 onde as concentrações de 1 (!Juatuba - Juatuba – Pontilhão Betim Juatuba – jusante da Usina Termoelétrica(! O trecho monitorado abrange os oxigênio dissolvido registraram °
(! Betim / Parque Ecológico Vale Verde 0 municípios ribeirinhos diretamente maiores valores, por conta da
Montante da Usina de Ibirité(! 2 fazenda haras - São Joaquim de Bicas Sarzedo afetados: Brumadinho, Ibirité, movimentação natural do rio e
Mario Campos(! Mário Campos ' 5 Mário Campos, São Joaquim de das trocas com o ar; e a segunda °
São João de Bicas – Solo sagrado Pataxó(! 0 2 - Bicas, Igarapé, Betim, Juatuba, medição ocorreu na coluna Inhotim (! Brumadinho ' Esmeraldas, Florestal, Pará de d’água, a partir de 2 metros 0
(! 1 Tejuco – Brumadinho Estrada (! Brumadinho, Marco Zero ° 0
2 Minas, São José da Varginha, de profundidade. Os valores Alberto Flores, trecho interditado da Lama no Paraopeba - Pequi, Fortuna de Minas, indicados na tabela resumo do
-45°5' -45° -44°55' -44°50' -44°45' -44°40' -44°35' -44°30' -44°25' -44°20' -44°15' -44°10' -44°5' -44° -43°55' -43°50' Cachoeira da Prata, Maravilhas, IQA foram medidos nas amostras Realização: Papagaios, Paraopeba, da coluna d’água. Rio afetado Caetanópolis, Pompéu, Curvelo e Área devastada As amostras coletadas em Felixlândia. Pontos de Monitoramento ¯ áreas de remansos e próximo (! Ruim 1:700.000 Por toda a extensão afetada do às ilhas ao longo do curso do rio Patrocínio: Execução Técnica: (! Péssimo km 0 5 10 15 rio Paraopeba, desde o bairro apresentaram maior concentração Remanescente florestal Projeção Policônica Área Mínima Mapeada 3ha. SIRGAS 2000 rural de Córrego do Feijão, em de poluentes e de turbidez. Nas Área natural não florestal Agradecemos a gentileza da comunicação de Área urbana falhas ou omissões verificadas nesta carta. Fundação SOS Mata Atlântica Brumadinho, até a jusante do amostras de superfície afetadas Lei 11.428/06 da Mata Atlântica email: [email protected] Reservatório de Retiro Baixo, pela pluma com rejeitos e entre os municípios de Curvelo contaminantes diversos carreados 18 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 19 ©Gaspar Nóbrega/ SOS Mata Atlântica ©Gaspar Nóbrega/
ao rio, a qualidade da água foi Os moradores ribeirinhos, sendo afetada de maneira lenta irrigantes, comunidades e gradativa, porém, intensa logo quilombolas, indígenas, após as chuvas que atingiram a agricultores e técnicos ambientais região. das prefeituras encontrados pela expedição relatam o mesmos No trecho inicial da expedição sentimentos de pesar e de pelo rio Paraopeba, entre incertezas sobre a capacidade de Brumadinho e São Joaquim de regeneração do rio. Bicas, a turbidez extremamente elevada e os baixos níveis de Lugares turísticos, colônias oxigênio dissolvido medidos na de pescadores, condomínios coluna d’água, a partir de 2 metros residenciais e de áreas de lazer de profundidade, ultrapassaram ao longo do rio, que em finais de limites máximos definidos na semana de calor estariam lotados, legislação nacional e internacional continuam vazios. Sem banhistas, para qualidade da água. Nesse sem pescadores, sem peixes e trecho, constatou-se que o rio sem aves pescadoras. ainda não apresenta condições A equipe técnica não conseguiu para vida aquática. ver o rio Paraopeba com sua cor A grande quantidade de sólidos verdadeira em nenhum trecho em suspensão, a turbidez elevada ao longo da expedição. Por e a cor intensa da água mantêm o toda extensão percorrida até rio com aspecto de massa de bolo o Reservatório de Retiro Baixo de chocolate – como moradores e a jusante, no município de ribeirinhos descreveram, entre os Felixlândia, as águas estão turvas municípios de Brumadinho, Mário e em desconformidade com os Campos, São Joaquim de Bicas e padrões de qualidade. Betim. Na área da prainha de São Joaquim de Bicas, local escolhido como solo sagrado para os índios Monitoramento em Pataxó, que há três anos se ponto de coleta fixaram ali, a qualidade da água no município de se mantém péssima. Juatuba (MG). 20 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 21
METODOLOGIA DE
MONITORAMENTO totais, oxigênio dissolvido (OD), vigente no país. Para análise da demanda bioquímica de oxigênio turbidez foram utilizados métodos Os dados do Índice de Qualidade e, dessa forma, possa se engajar (DBO), potencial hidrogeniônico nefelométricos com turbidímetro e da Água (IQA), as análises na gestão da água e do meio (pH), fosfato (PO4) e nitrato (NO3). espectrofotométrico. microbiológicas e de metais ambiente. Em virtude das especificidades Os limites definidos na legislação pesados reunidos neste relatório O Índice de Qualidade da Água do dano provocado pelo vigente para os parâmetros que foram elaborados com base na 3 (IQA), adaptado do índice rompimento da barragem, compõem o IQA variam de acordo legislação vigente e em seus desenvolvido pela National análises reunidas neste com a classe do corpo d’água. respectivos protocolos de coleta Sanitation Foundation, dos relatório foram realizadas com Cada classe é definida com base e medição. Estados Unidos, é obtido por equipamentos especiais, sondas no uso preponderante da água e Os parâmetros do IQA foram meio da soma de parâmetros eletrônicas multiparâmetros e no grau de restrição ou permissão escolhidos por especialistas e físicos, químicos e biológicos protocolos específicos para as de lançamento e de concentração ÓTIMA técnicos como os mais relevantes encontrados nas amostras de coletas e medições em campo de substâncias presentes na água. acima de 40 para serem incluídos na avaliação água. Esse índice começou a ser e para as amostras analisadas No Brasil, esses padrões variam das águas doces brutas, utilizado no Brasil, em 1974, pela em laboratório, incluídos os de acordo com a classificação BOA destinadas ao abastecimento Companhia Ambiental do Estado índices de Condutividade das águas interiores fixadas na entre 35 e 40 público e aos usos múltiplos. de São Paulo (Cetesb) para avaliar Elétrica do Meio Aquático, Total Resolução CONAMA nº 357/2005, A totalização dos indicadores a condição ambiental das águas de Sólidos Dissolvidos (TDS) , da seguinte forma: REGULAR medidos resulta na classificação doces superficiais no estado. Dureza, Cobre (Cu), Alumínio (Al), entre 26 e 35 Segundo a norma legal, o da qualidade da água, em uma Nas décadas seguintes, outros Magnésio (Mg2+), Manganês enquadramento nas classes não escala que varia entre: ótima, boa, estados brasileiros adotaram o (Mn2+), Ferro (Fe3+) e indicadores RUIM significa a qualidade da água que regular, ruim e péssima. IQA, que até hoje representa o microbiológicos. entre 20 e 26 o rio apresenta, mas sim aquela principal índice de qualidade da Parte das coletas e análises Durante todo o processo de coleta que se busca alcançar ou manter água utilizado no país. PÉSSIMA reunidas neste relatório segue a e análises foram considerados ao longo do tempo. menor que 20 metodologia de monitoramento por A metodologia do Observando os protocolos específicos e As águas do rio Paraopeba são de percepção da qualidade da água, os Rios agrega aos indicadores os parâmetros de referência classe 2, portanto destinadas: especialmente elaborada para a físicos, químicos e biológicos, estabelecidos na legislação Fundação SOS Mata Atlântica, parâmetros de percepção que 1 por Samuel Murgel Branco e permitem que a sociedade realize >> ao abastecimento para consumo humano, após tratamento 2 Aristides Almeida Rocha . Desde o levantamento, de acordo com a convencional; 1993, essa metodologia vem legislação vigente, utilizando 16 sendo aplicada e aprimorada parâmetros do IQA: temperatura >> à proteção das comunidades aquáticas; pelo projeto Observando os Rios da água, temperatura do >> à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático com o objetivo de proporcionar ambiente, turbidez, espumas, e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; 1 Professor de Hidrobiologia e Saúde condições e instrumentos para lixo flutuante, odor, material Ambiental da Faculdade de Saúde >> à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, que a sociedade compreenda sedimentável, peixes, larvas Pública da Universidade de São Paulo. campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter 2 e identifique os fatores que e vermes vermelhos, larvas e Professor titular da Faculdade de Saúde contato direto; à aquicultura e à atividade de pesca. Pública da Universidade de São Paulo. interferem na qualidade da água vermes brancos, coliformes 22 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 23
CLASSES DE ENQUADRAMENTO pelo Standard Methods For 3.1 – Coleta, the Examination of Water and USOS DAS ÁGUAS DOCES ESPECIAL 1 2 3 4 Wastewater, 23nd edition (2017). Preservação do equilíbrio natu- Classe mandatória em unidades de Preservação e ral das comunidades aquáticas conservação de proteção integral Parte das medições foram
Proteção das Classe mandatória realizadas em campo e parte em terras indígenas Transporte das comunidades aquáticas no Laboratório de Análise Recreação de contato primário Amostras Ambiental do Projeto IPH - Índice de Poluentes Hídricos, da Aquicultura A metodologia utilizada para a coleta foi de amostragem simples, Universidade Municipal de São Após tratamento Abastecimento para Após tratamento Após tratamento Após desinfecção convencional ou Caetano do Sul - USCS. consumo humano simplificado convencional avançado coletada em uma única tomada, Recreação de em volume de 5 litros. As coletas Em campo, foram realizadas contato secundário superficiais que, de acordo o Guia análises de temperatura com Pesca Nacional de Coleta e Preservação termômetro tipo espeto Simpla-
Hortaliças consumidas cruas e frutas Hortaliças, frutíferas, de Amostras, para água superficial Culturas arbóreas, TE 07; Turbidez, turbidímetro que se desenvolvam rentes ao solo parques, jardins, cerealíferas e Irrigação e que sejam ingeridas cruas sem campos de esporte forrageiras são consideradas aquelas que Lovibond, TurbiCheck SN remoção de película e lazer se encontram nos primeiros Dessedentação 13/39540; pH e Temperatura da de animais 30 cm da lâmina de água; e de Água, multiparâmetro Lovibond
Navegação profundidade, realizadas com a Senso Direct 150. Para o oxigênio Garrafa de Van Dorn (garrafa de dissolvido, foi utilizado Pro ODO, Harmonia paisagística coleta de fundo) em aço inox um microprocessador de leitura 316 polido (Vertical)/ LTC64- direta, da marca PoliControl. LIMNOTEC, sendo determinada a Vale salientar que os aparelhos profundidade de 2 metros. foram devidamente calibrados As amostras foram armazenadas antes das coletas e, quando em tubos Falcon com tampa necessário, em campo. rosqueável lisa em polietileno Os dados foram inseridos em de alta densidade (estéreis) à planilha de campo específica. Classes prova de vazamento, graduados. Foram realizadas análises de Parâmetros Cada amostra foi identificada de Especial 1 2 3 4 Amônia/Nitrato, Sulfetos e Fosfato acordo com o ponto de coleta. com o multiparâmetro Lovibond OD mg/l 7 a 10 6 5 4 2 Para cada ponto foram coletados MD 600 SN 16/8888, aparelho quatro tubos e, para o transporte DBO mg/l - 3 5 10 - também calibrado para esse fim e e armazenamento, as amostras com Kit de Análise da Qualidade Nitrogênio Nitrato - 10 10 10 - foram mantidas em caixa de da Água do programa Observando Fósforo* - 0,025 0,025 0,025 - transporte térmica, com gel. os Rios, da Fundação SOS Mata Turbidez (UNT) - 40 100 100 - Atlântica. Coliformes Fecais ausentes 200 1.000 4.000 - Para determinar o Manganês, 3.2 – Análises Ferro, Cobre e Cromo, as *Os limites de fósforo variam nas Classes 2 e 3 para águas de ambientes lênticos, intermediários e As análises da qualidade da análises seguiram os protocolos lóticos. As concentrações máximas de coliformes termotolerantes também variam na Classe 3, de acordo com o uso. Para recreação de contato secundário não deverá ser excedido o limite de 2.500; água foram realizadas seguindo estabelecidos pelo Standard para dessedentação de animais criados confinados, não deverá ser excedido o limite de 1.000 e para os protocolos estabelecidos Methods for the Examination os demais usos, não deverá ser excedido o limite de 4.000 coliformes termotolerantes. 24 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 25 ©SOS Mata Atlântica
of Water and Wastewater, 23nd VBB - Brilliant Green Agar (Kasvi edition (2017). - K25-610009 - LOT 082917501) e EMB - Levine Agar ( Kasvi - Para as análises microbiológicas, K25-61001 - LOT 071216504) as amostras foram diluídas em com o uso da alça bacteriológica, água de diluição em triplicata realizando estriações, em (10-1, 10-2 e 10-3) e inoculadas no câmara de fluxo laminar. Em meio líquido LST - Lauryl Tryotise seguida foram colocadas em Broth (Kasvi - K25-610085 - LOT estufa bacteriológica por 48 082417504), e em meio sólido PCA horas. As placas positivas foram - Plate Count Agar (Kasvi - K25- identificadas pela coloração e tipo 610040 - LOT 102717501) dentro de colônias. Foi feita coloração de do fluxo laminar TROX TECHNIK. Gram para confirmações (APHA, Depois foram incubadas na estufa 2017). bacteriológica QUIMIS, no período de 48 horas. As unidades que Quando houve dúvidas sobre obtiveram resultados positivos, os grupos, as colônias foram quando o meio se encontra turvo transferidas para o meio Rugai e com formação de gás no tubo com Lisina (NewProv- Lote: de Duran invertido, para o meio 18901), para identificação de LST, foram transferidas com alça enterobactérias e confirmação bacteriológica para o meio de dos grupos específicos. cultura líquido VBB Brilliant Green Broth (Kasvi - K25-610010 - LOT 082317507), em câmara de fluxo laminar e colocadas em estufa bacteriológica por 48 horas. Após a comprovação, as Rio Paraopeba, colônias foram isoladas em Caetanópolis (MG placas divididas entre o ágar 26 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 27
9 Juatuba – jusante da Usina Termoelétrica -19.964739 -44.281474 A QUALIDADE DA ÁGUA 10 Florestal / Esmeraldas -19.841340 -44.385800 NA BACIA DOS RIOS 11 São José da Varginha / Urucaia -19.666268 -44.479087 12 Fortuna de Minas -19.605498 -44.479087 PARAOPEBA E ALTO SÃO Pará de Minas – a montante das barreiras Con- 13 -19.726970 -44.463180 FRANCISCO – MINAS domínio Paraopeba GERAIS 14 Pará de Minas – captação de água -19.709463 -44.498377 15 Caetanópolis – Ponto JK -19.422930 -44.548540 16 Caetanópolis – Ilha do Cabo Elói / Paraopeba -19.332966 -44.542108 os metais pesados, em valores superiores aos que estabelece a Nos 21 pontos de coleta 17 Cachoeira da Prata / Maravilhas Fazenda Chaparral -19.455202 -44.582555 legislação. monitorados, o resultado das 4 análises de qualidade da água Os indicadores obtidos 18 Pompéu, Condomínio Recanto das Águas -19.111597 -44.708927 apontam desconformidade com demonstram que água do rio a norma legal vigente para rios de Paraopeba continua imprópria 19 Curvelo, Cachoeira do Choro -19.023246 -44.732034 classe 2. O índice de qualidade da para usos ao longo dos 365 20 Curvelo, MG, Ponte Rodovia -19.172162 -44.700984 água obtido em 11 pontos foi ruim quilômetros impactados por e em nove pontos foi péssimo. rejeitos de minério provenientes Usina Hidrelétrica de Retiro Baixo Reservatório de 21 -18.884633 -44.783192 Somente em um ponto, junto à do rompimento da barragem B1, Retiro Baixo barragem de Retiro Baixo, na do complexo da Mina do Córrego margem direita, o índice obtido foi do Feijão da Mineradora Vale/ 22 Curvelo, meio do Reservatório Felixlândia, MG -19.005002 -44.744854 regular, porém, este ponto também SA, no município de Brumadinho, Felixlândia, Areial, rio Paraopeba, a jusante de 23 -18.851878 -44.851878 apresenta desconformidade para Minas Gerais. Retiro Baixo
Pontos de Coleta e Monitoramento: 4.1 Resultados PONTO DE COLETA COORDENADA COORDENADA por Categoria 1 Brumadinho, Marco Zero da Lama no Paraopeba -20.158284 -44.157444 Tejuco – Brumadinho Estrada Alberto Flores , tre- 2 -20.156858 -44.157872 ÓTIMA BOA REGULAR RUIM PÉSSIMA cho interditado 0 0 1 11 9
3 Inhotim -20.128946 -44.212364 TOTAL: 100%
4 Mário Campos -20.062695 -44.209999 Pontos monitorados: 21 5 São João de Bicas – Solo sagrado Pataxó -20.083019 -44.208760 6 Betim / Parque Ecológico Vale Verde, Fazenda Haras -20.000077 -44.266344 7 Montante da Usina de Ibirité -20.001395 -44.263200 8 Juatuba – Pontilhão -19.937526 -44.337496 28 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 29
Ni- Temp. Temp. Turbidez PONTOS DATA MUNICÍPIO Espumas Lixos Odor Mat. Sed. Peixes Coliformes OD pH trato IQA Amb. oC H2O oC (NTU) ppm
1 7-jan. Brumadinho - Marco Zero 27.4 26.6 215 poucas rejeito mofo muito alto nenhum positivo 5.69 5.2 48 Péssimo
nublado 1 2 1 2 1 1 1 2 2 1 19.09
2 8-jan. Alberto Flores 29.1 31.2 54.3 ausente rejeito mofo muito alto nenhum NV 7.09 6.4 39 Ruim
Córrego Ferro Carvão nublado 2 3 1 2 1 1 3 3 1 25,45
3 8-jan. Brumadinho, caminho Inhotim 24.9 25.3 582 poucas rejeito mofo muito alto nenhum positivo 5.73 6.09 47 Péssimo
nublado 1 2 1 2 1 1 1 2 3 1 20.36
4 8-jan. Mário Campos 24.1 25.2 513 poucas rejeito mofo muito alto nenhum positivo 7.15 6.5 25 Ruim
nublado 1 2 1 2 1 1 1 3 3 1 21.63
5 9-jan. São Joaquim de Bicas 30.5 25.7 585 poucas rejeito/lixo mofo muito alto nenhum positivo 3.63 6.48 38 Péssimo
área Pataxó sol 1 2 1 2 1 1 1 1 3 1 19.09
6 9-jan. Betim/Parque Eco Vale 30.6 26.2 594 poucas rejeito mofo muito alto nenhum positivo 5,7 6.8 34 Péssimo
sol 1 2 1 2 1 1 1 2 3 1 20.36
7 9-jan. Montante da Usina de Ibirité 29.2 26.1 675 grande quant. rejeito/lixo mofo muito alto nenhum positivo 1.96 6.8 23 Péssimo
sol 1 1 1 2 1 1 1 1 3 1 17.81
8 10-jan. Juatuba - Pontilhão 30.9 26.2 634 poucas rejeito/lixo mofo muito alto nenhum positivo 4.67 6.6 52 Péssimo
sol 1 2 1 2 1 1 1 2 3 1 20.36
9 10-jan. Juatuba - Sítio Esmeralda 29.4 26.5 573 grande quant. rejeito mofo muito alto nenhum positivo 5.43 6.46 33 Péssimo
nublado 1 1 2 2 1 1 1 2 3 1 20.36
10 11-jan. Esmeraldas/Florestal 29.1 26.9 512 poucas rejeito mofo muito alto nenhum positivo 5.73 6.7 21 Ruim
sol 1 2 2 2 1 1 1 2 3 1 21.63
11 11-jan. São José da Varginha 35.2 29.7 446 poucas rejeito mofo muito alto nenhum positivo 5.39 7 17 Ruim
sol 1 2 2 2 1 1 1 2 2 2 21.63
12 11-jan. Fortuna de Minas 33.7 27.09 466 poucas rejeito/lixo mofo muito alto nenhum positivo 6.45 6.9 23 Ruim
sol 1 2 2 2 1 1 1 2 3 1 21.63
13 12-jan. Paraopeba, montante da captação de água 33.6 29.4 1.380 poucas rejeito mofo/capim muito alto nenhum positivo 4.61 6.5 48 Ruim
1 2 2 2 1 1 1 2 3 1 21.63
14 12-jan. Pará de Minas, jusante da captação de água NR 30 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 31
Ni- Temp. Temp. Turbidez PONTOS DATA MUNICÍPIO Espumas Lixos Odor Mat. Sed. Peixes Coliformes OD pH trato IQA Amb. oC H2O oC (NTU) ppm
NR
15 13-jan. Caetanópolis - Ponte JK 31.5 28.7 286 poucas rejeito/lixo mofo muito alto nenhum positivo 5.78 6.7 12 Ruim
sol 1 2 2 2 1 1 1 2 3 2 22.9
16 14-jan. Ilha do Cabo Elói - Caetanópolis 32.3 30.2 257 poucas rejeito mofo muito alto nenhum Positivo 6.70 6.7 15 Ruim
1 2 2 2 1 1 1 2 3 2 22.9
Cachoeria de Minas /Maravilhas, fazenda 17 NR NR Chaparral
1 2 2 3 1 1 1 1 2 3
18 15-jan. Pompéu, Cond Recanto das Águas 32,2 30.3 726 poucas rejeito/lixo mofo muito alto nenhum positivo 6.58 7.4 21 Péssimo
1 2 1 2 1 1 1 2 2 1 19.09
19 15-jan. Curvelo, Cachoeira do Choro 32.1 31.1 167 poucas muito mofo muito alto poucos positivo 7.19 6.8 41 Ruim
nublado 1 2 1 2 1 2 1 2 3 1 21.63
20 14-jan. Pompéu/Curvelo, ponte rodovia 31.3 30.1 1.240 poucas rejeito/lixo mofo muito alto nenhum positivo 2.53 5.7 62 Péssimo
sol 1 2 2 2 1 1 1 1 2 1 19.09
Pompéu -reservatório da Hidrelétrica de Retiro 21 16-jan. 36 32.9 110 ausente rejeito mofo baixo obser nenhum positivo 7.10 8.7 35 Ruim Baixo
sol 1 3 2 2 2 1 1 3 2 1 24.18
22 16-jan. Curvelo - Reservatório de Retiro Baixo 37.1 33 27.6 poucas nenhum mofo baixo obser alevinos positivo 7.33 6.6 38 Regular
3 2 3 2 2 2 1 3 3 1 29.27
23 16/jan Felixlandia, areial 32.7 30.1 172 poucas nenhum mofo baixo obser poucos positivo 6.62 7 28 Ruim
1 2 3 2 2 2 1 2 2 1 24,18 32 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 33
esquerda do Reservatório de 4.2 – Análise físico- PONTOS DATA PONTO DE COLETA IQA - 2019 IQA Retiro Baixo, o índice saiu de ruim químicas para regular. Em cinco pontos 9 10-jan. Juatuba - Sitio Esmeralda Péssimo Péssimo praticamente não houve alteração nas condições de qualidade da 20.36 20.36 A análise comparativa dos água. índices obtidos em cada ponto 10 11-jan. Esmeraldas/Florestal Péssimo Ruim de coleta revelam que houve A evolução desses indicadores 17.5 21.63 comprometimento, com perda ao longo do ano demonstra que, por enquanto, o rio Paraopeba da qualidade da água, em nove 11 11-jan. São José da Varginha Péssimo Ruim pontos de coleta analisados. apresenta pouca condição de regeneração, especialmente 18.3 21.63 Em apenas seis pontos há uma em virtude das movimentações leve tendência de melhoria, com 12 11-jan. Fortuna de Minas Péssimo Ruim realizadas por dragagens na região os índices saindo da condição inicial do dano, por manutenção péssima para ruim e, em um único 19.83 21.63 de rejeitos na calha e leitos do rio ponto, localizado na margem e das condições climáticas. 13 12-jan. Paraopeba, montante da captação de água Ruim Ruim
21.63 21.63
14 12-jan. Pará de Minas, jusante da captação de água Péssimo NR
20.36 NR
15 13-jan. Caetanópolis - Ponte JK Péssimo Ruim PONTOS DATA PONTO DE COLETA IQA - 2019 IQA 19.09 22.9 1 7-jan. Brumadinho - Marco Zero Ruim Péssimo 16 14-jan. Ilha do Cabo Elói - Caetanópolis Ruim Ruim
21.63 19.09 22.9 22.9 2 8-jan. Alberto Flores Péssimo Ruim 17 Cachoeria de Minas /Maravilhas, Fazenda Ruim NR Córrego Ferro Carvão Chaparral 18.66 25.45 23.69 3 8-jan. Brumadinho, caminho Inhotim Péssimo Péssimo 18 15-jan. Pompéu, Cond. Recanto das Águas Ruim Péssimo
14 20.36 25.84 19.09 4 8-jan. Mario Campos Péssimo Ruim 19 15-jan. Curvelo, Cachoeira do Choro Ruim Ruim
14 21.63 23.69 21.63 São Joaquim de Bicas Péssimo Péssimo 5 9-jan. Pompéu/Curvelo, ponte rodovia Péssimo Péssimo área Pataxó 20 14-jan. 18.22 19.09 19.25 19.09 6 9-jan. Betim/Parque Eco Vale Péssimo Péssimo 21 16-jan. Pompéu - reservatório da Hidrelétrica de Ruim Ruim Retiro Baixo 19.25 20.36 25.84 24.18 7 9-jan. Montante da Usina de Ibirité Ruim Péssimo 22 16-jan. Curvelo - Reservatório de Retiro Baixo Ruim Regular
22.61 17.81 21.53 29.27 8 10-jan. Juatuba - Pontilhão Ruim Péssimo 23 16/jan. Felixlândia, areial Ruim Ruim
23.69 20.36 24.18 24.18 34 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 35
no Córrego Ferro Carvão, Turbidez voltadas à retenção dos rejeitos e A turbidez elevada, em contaminantes. desconformidade com o padrão A partir do último reservatório, as legal de 100 UNT (Unidades águas estão sendo bombeadas Nefelométricas de Turbidez), para uma estação de tratamento medida a 90º no corpo d’água, e lançadas no Córrego Casa indica a dificuldade de um Branca, outro afluente do rio feixe de luz atravessar a água, Paraopeba que tem maior volume prejudicando a fotossíntese, e melhor capacidade de diluição, aumentando a absorção de calor localizado a montante, próximo e a temperatura da camada do Ponto 1 de coleta. superficial da água, com impacto direto na vida aquática. Apesar dessas intervenções, o Turbidez - UNT índice de turbidez aferido no Ponto Os valores em desconformidade 1 do rio Paraopeba continua duas encontrados na água bruta vezes e meia acima do limite superficial impedem a captação máximo permitido e com valores para fins de abastecimento superiores aos que foram obtidos público, irrigação de alimentos e uma semana após ao rompimento dessedentação de animais. da barragem. E, em nove pontos Os índices de turbidez aferidos de coleta analisados, os índices neste ano continuam em níveis de turbidez estão acima dos elevados, ainda muito acima dos valores medidos em 2019. padrões definidos na legislação. Essa alteração nos indicadores Em 18 pontos de coleta no rio de turbidez demonstra que o Paraopeba, os índices variam de comprometimento da qualidade cinco a 13 vezes acima dos limites da água no rio Paraopeba aumenta máximos permitidos. rio abaixo, especialmente com No Córrego Ferro Carvão (ponto o retorno do ciclo de chuvas. 2), afluente diretamente impactado Os rejeitos carreados ao longo 2020 dos últimos 12 meses, desde o e completamente alterado a partir 2019 do rompimento da barragem, os crime ambiental, só estão sendo índices de turbidez chegaram retirados da calha do rio na região v à conformidade legal, de 54.3 do Córrego Feijão, no município UNT, em virtude das ações de de Brumadinho. O Reservatório remediação que vêm sendo de Retiro Baixo continua sendo implementadas pela Vale. Para utilizado como principal barreira obtenção dessa condição, foram de contenção dos rejeitos implementadas 26 barragens Os baixos índices de oxigênio 36 FUNDAÇÃO SOS MATA ATLÂNTICA OBSERVANDO OS RIOS 37
Oxigênio Dissolvido