No País De Mccain
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Cedê Silva No país de McCAIN No país de McCAIN Cedê Silva No país de McCAIN Copyright © 2010 by Cedê Silva Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Comuni- cação Social, habilitação em Jornalismo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Minas Gerais. Julho de 2010. Autor: Frederico de Faria e Silva (2004027090) Orientadora: Profa. Miriam Christus de Melo Silva Todas as fotos © 2008 by Cedê Silva exceto quando notado. Ver índice de imagens. As idades dos personagens são dadas como em outubro de 2008. [email protected] Este livro e bônus adicionais como a trilha sonora oficial e um mapa interativo podem ser encontrados em nopaisdemccain.wordpress.com Os direitos imorais do autor foram exercidos. À minha Karolina do Norte, do Sul, do Leste, do Oeste. “A educação nacional, hoje em dia, só se distingue do crime organizado porque o crime é organizado”. - Olavo de Carvalho, outubro de 2007 SUMÁRIO PRÓLOGO ............................................................................................15 AS ELEIÇÕES EXPLICADAS ............................................................17 FOREWORD - por Frederico Bartels ................................................19 1. A CASA BRANCA É NOSSA ........................................................24 2. COMO VIREI UM REAÇA ...........................................................28 3. NA CASA DO CAPITÃO HADDOCK ........................................38 4. DOMINGO É ÚLTIMA-FEIRA ....................................................46 5. O LADO OFICIAL ..........................................................................50 6. OS DESAFIANTES ..........................................................................58 7. O CAMPO DE BATALHA .............................................................60 8. SIM, NÓS ESTÁVAMOS LÁ ..........................................................68 9. O DIA DAS BRUXAS ......................................................................78 10. MEET THE HANKS .....................................................................86 11. ONLY IN AMERICA ....................................................................92 12. COMO É SER A ZEBRA ............................................................106 13. “THANK YOU, OHIO!” .............................................................116 14. A CAPITAL DO MUNDO LIVRE ...........................................122 15. AIR FORCE OBAMA .................................................................126 EPÍLOGO ...........................................................................................131 AGRADECIMENTOS ......................................................................135 NOTAS & REFERÊNCIAS ...............................................................141 ÍNDICE DE IMAGENS ....................................................................147 “A ÚNICA COISA QUE realmente não suporto nos liberais”, ela me disse, “é sua posição sobre homossexuais”. E fez uma carinha de nojo, fechando os olhos por trás dos óculos e pondo a língua pra fora. O nome dela era Nicole Rector e ela tinha nove anos. Nos últimos dias, eu tinha ficado sem palavras várias vezes. Agora era a primeira vez em que ficava assim por um mau motivo. Atrás de Nicole havia uma grande passarela, e ao fundo uma imensa bandeira dos Estados Unidos. Cartazes de “Country First” (o País Primeiro) se espalhavam por todos os lados. Ao nosso redor uma multidão de seis mil pessoas¹ disputava cada metro quadrado de uma espécie de ginásio – lá fora, outros milhares acompanhariam o comício de um telão. Dali a algumas horas, com grande atraso, a governadora do Alasca iria falar à multidão. Sarah Palin caminhou na passarela até o púlpito com a canção Redneck Woman, da cantora country Gretchen Wilson, estourando nas caixas de som. Urros e aplausos receberam aquela que, dali a três dias, poderia ser eleita a primeira mulher vice- -presidente dos Estados Unidos. Homens, mulheres, crianças e até um democrata, Wayne Chew, agitavam bandeirinhas dos EUA e da Carolina do Norte previamente distribuídas pela organização. Mi- lhares de pessoas estavam ali, dispostas a apostar na continuidade de um governo impopular, não pela teimosia ou pelo medo, mas prin- cipalmente pela insistência em seus valores. Era um momento quin- tessencialmente americano. Não tinha como ficar mais americano que aquilo. Não tinh... Ah, sim. A noite anterior tinha sido Halloween. **** NO COMEÇO DE 2009 o repórter da TV Globo Rodrigo Alvarez publicou No País de Obama (Nova Fronteira). O livro narra algumas de suas aventuras em 18 dias trabalhando de São Francisco a Nova Orleans para o Jornal da Globo, três meses antes das eleições. Este trabalho não é paralelo, nem uma resposta. É apenas diferente. Mostra um pouco do país que eu vi quando estive lá à mesma época: o país de McCain. A Embaixada dos Estados Unidos selecionou vinte universi- tários de todo o Brasil para acompanhar as eleições por duas sema- nas – dez dias em Raleigh, a capital da Carolina do Norte; mais qua- tro dias em Washington, D.C. Eu fui um dos selecionados. De uma turma entusiasticamente pró-Obama, eu era o único torcendo pelo candidato republicano. Não por ser do contra, mas por acreditar (até hoje) que era o candidato mais interessante pro Brasil. Até escrevi um artigo de jornal sobre isso, que também se encontra aqui. Nessas duas semanas, vivi várias histórias. Algumas, sozinho; outras, com os colegas brasileiros (nos chamamos de Observadores Sortudos, ou apenas Observadores); outras ainda, sem eles, mas com nossos anfitriões. Aqui estão algumas das mais interessantes. As eleições explicadas UM Podem concorrer os cidadãos nascidos no País maiores de 35 anos. Como no Brasil. Como há apenas dois partidos fortes, quem quer ser can- didato participa das primárias - o processo interno ao partido que define quem será o candidato do partido na eleição geral. No dia da eleição geral contabilizam-se os votos em cada es- tado. Como no Brasil. Mas os votos não são levados para um Tribu- nal Superior Eleitoral de uma vez. São contados em cada estado de acordo com seu próprio processo. DOIS Além do voto popular, existe o Colégio Eleitoral. O Colégio Eleitoral é simples. Cada estado vale um número de votos igual a sua bancada no Congresso (deputados + senadores). Os menores estados valem 3 votos (1 deputado + 2 senadores). A Califórnia vale 55 votos (53 deputados + 2 senadores). Para vencer, o candidado precisa de 270 votos no Colégio Eleitoral. Em 48 dos 50 estados, o candidato que obtiver mais votos, MESMO QUE NÃO SEJA MAIS DE 50%, leva TODOS OS VOTOS DO ESTADO NO COLÉGIO ELEITORAL. Não importa se ele ven- ceu com 48%, 55% ou 70% dos votos. O resultado é o mesmo. O Maine e o Nebraska podem dividir os votos dependendo do resultado, mas como o Maine vale 4 votos e o Nebraska 5, isso não importa muito. TRÊS O sistema do Colégio Eleitoral foi criado para garantir que os estados pequenos tenham voz nas eleições. Do contrário, bastaria aos candidatos fazer campanha apenas nas grandes cidades. Dos 50 estados, os 11 mais populosos já concentram metade da população. Num sistema de voto direto, os outros 39 estados poderiam acabar sendo ignorados. Na prática, o sistema do do Colégio Eleitoral faz com que candidatos dêem menos atenção aos estados com maiorias expressi- vas para qualquer um dos dois partidos, e dediquem quase toda a a energia aos estados com mais indecisos ou com eleitores que mudam o partido em que votam a cada quatro anos. Foreword por Frederico Bartels O texto de Frederico “Cedê” Silva, meu xará e amigo desde os idos dos meu primeiros semestres na Pontifícia Universidade Ca- tólica de Minas Gerais, deixa em evidência parte do caráter político brasileiro e do americano. São raros os momentos e indivíduos que se afastam das picuinhas que compõem a rotina política para ver o sentido dos elementos sociais que nos formam. Hoje mesmo, 9 de junho de 2010, tive contato com um texto libertário que funciona na mesma linha que muitos textos do Ola- vo de Carvalho funcionaram desde 2002 para mim. Lew Rockwell, do Instituto Ludwig Von Mises, escreve defendendo o fim da cri- minalização do ato de dirigir embriagado¹. A princípio, a maioria das pessoas vai pensar "que diabos é isso? esse cara não sabe que dirigir bêbado é simplesmente perigoso?". O argumento que apóia a criminalização da operação de veículos por pessoas com qualquer nível de álcool no sangue assume que a presença dessa substância na corrente sangüínea de alguem é suficiente para ela ser responsá- vel pelo potencial danoso. No limite, está-se punindo uma pessoa porque ela tem uma certa substância em seu corpo. O Leviatã julga que você não pode ingerir esta substância e operar veículos. O pre- cedente é extremamente perigoso porque nos diz que o Estado pode regular o conteúdo de nosso sangue. Sem mencionar que somente o Estado possui bafômetros para julgar se um cidadão está cometendo um crime ou não, mesmo que este não esteja colocando em risco a segurança de ninguém. Em resumo, a lei, aqui nos Estados Unidos e aí no Brasil, pune a possibilidade aumentada de alguém causar um acidente. Próximo passo lógico é proibir homens de dirigir, uma vez que estatiscamente mulheres se envolvem em menos acidentes com vítimas do que homens, nos informa o Leviatã². Posteriormente, pode-se também proibir a operação de veículos automotores por in- divíduos míopes, afinal a possibilidade de que seus óculos ou lentes de contato saiam de seus lugares aumentando a possibilidade deles se envolverem em um acidente