Um Diletante Na Universidade: História E Crítica Literária Em Alexandre Eulalio

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Um Diletante Na Universidade: História E Crítica Literária Em Alexandre Eulalio FÁBIO DELLA PASCHOA RODRIGUES UM DILETANTE NA UNIVERSIDADE: HISTÓRIA E CRÍTICA LITERÁRIA EM ALEXANDRE EULALIO Campinas 2008 FÁBIO DELLA PASCHOA RODRIGUES UM DILETANTE NA UNIVERSIDADE: HISTÓRIA E CRÍTICA LITERÁRIA EM ALEXANDRE EULALIO Dissertação apresentada ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas, para obtenção do título de Mestre em Teoria e História Literária. Orientador: Prof. Dr. Antonio Arnoni Prado Campinas 2008 i Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca do IEL - Unicamp Rodrigues, Fábio Della Paschoa. R618d Um diletante na universidade : história e crítica literária em Alexandre Eulalio / Fábio Della Paschoa Rodrigues. -- Campinas, SP : [s.n.], 2008. Orientador : Antonio Arnoni Prado. Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem. 1. Eulalio, Alexandre, 1932-1988 - Crítica e interpretação. 2. Crítica literária. 3. Literatura - História e crítica. 4. Ensaios brasileiros - História e crítica. I. Prado, Antonio Arnoni. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título. oe/iel Título em inglês: A dilettante at the university: Alexandre Eulalio’s criticism and literary history. Palavras-chaves em inglês (Keywords): Alexandre Eulálio, 1932-1988 - Criticism and interpretation; Literary criticism; Literature - History and criticism; Brazilian essays - History and criticism. Área de concentração: Teoria e Crítica Literária. Titulação: Mestre em Teoria e História Literária. Banca examinadora: Prof. Dr. Antonio Arnoni Prado (orientador), Prof. Dra. Márcia Marques de Morais, Prof. Dra. Vera Maria Chalmers. Suplentes: Prof. Dr. Roberto Akira Goto e Prof. Dr. Francisco Foot Hardman. Data da defesa: 28/02/2008. Programa de Pós-Graduação: Programa de Mestrado em Teoria e História Literária. ii À memória de Eulyta Della Paschoa e Geraldo Carvalho Rodrigues iii AGRADECIMENTOS Às professoras Maria Eugenia da Gama Alves Boaventura Dias, Suzi Frankl Sperber, Márcia Marques de Morais, Vera Maria Chalmers e aos professores Antonio Arnoni Prado, Roberto Akira Goto e Francisco Foot Hardman. A Creuza Aparecida Dias e Alexandria Maria Carmo Sant’Ana Leme, da Secretaria de Pesquisas e Projetos do IEL/Unicamp. A Cláudio Pereira Platero, Rosemeire Aparecida de Almeida Marcelino e Miguel Leonel dos Santos, da Secretaria de Pós-Graduação do IEL/Unicamp. A Belkis Aparecida Donato, Maria Madalena Silva Brito, Aparecida Maria Domingues e Maria Lavinia Turazzi, da Biblioteca do IEL/Unicamp. A Cristiano Diniz, Priscila Soares Garcia e Flávia Carneiro Leão, do Centro de Documentação Cultural Alexandre Eulalio. Aos amigos Cida Sepulveda e Luiz Roberto Curia. À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. iv RESUMO O presente trabalho examina a crítica literária produzida por Alexandre Eulalio (1932-1988), percorrendo sua trajetória intelectual, de jovem estudante iniciando sua contribuição em jornais e revistas, passando pela função de redator da Revista do Livro, até ingressar, como professor convidado, na Universidade Estadual de Campinas. Com formação conduzida, sobretudo, pelo autodidatismo, numa época em que a figura do diletante não era bem vista, será na universidade que a atividade crítica tomará a maior parte do tempo desse intelectual múltiplo, que atuou como editor, historiador, crítico, professor e pesquisador. A pesquisa procura mostrar que o trabalho do crítico era contido pelo do jornalista, do editor e do historiador, encontrando ambiente favorável ao desenvolvimento de sua atividade crítica, depois, no âmbito universitário, onde Eulalio ingressa primeiro como professor convidado em instituições estrangeiras e depois como professor notório saber na Unicamp. O estudo analisa ainda como a crítica de Eulalio, que alia o saber histórico à análise formal, é movida pela paixão e pela identificação do crítico com o objeto contemplado, que interfere na seleção dos nomes, no tratamento dado e na própria composição do texto crítico, que espelha as características da obra ou do autor analisado. v ABSTRACT This dissertation examines the literary criticism produced by Alexandre Eulalio (1932-1988), tracing his intellectual trajectory from the beginning of his contribution to newspapers and magazines as a young student, going through his work as editor of Revista do Livro, until he joins Campinas State University as a guest professor. With a formation especially marked by autodidacticism, at a time when the figure of dilettante was not well regarded, it would be at university that criticism should take most of the multiskilled intellectual’s time, who worked as editor, historian, critic, teacher and researcher. This research seeks to support the claim that his work as critic was constricted by that as journalist, editor and historian, finding shelter for its later development, in a university environment, where Eulalio comes first as a visiting professor at foreign universities and afterwards as a professor of notorious knowledge at Unicamp. This study also examines how the criticism of Eulalio, which gathers historical knowledge and formal analysis, is moved by the passion and identification of the critic with the contemplated object, something that interferes in his selection of authors, in his treatment of the subject, and in the composition of criticism itself, reflecting features of the work or author under analysis. vi SUMÁRIO INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................1 1 OS ANOS DE FORMAÇÃO DO CRÍTICO .....................................................................................................7 2 AS AFINIDADES DA CRÍTICA EULALIANA.............................................................................................23 3 O HISTORIADOR E O CRÍTICO LITERÁRIO ..........................................................................................37 4 A VOZ MITIGADA DE UM CRÍTICO..........................................................................................................55 5 UM CRÍTICO NO ESPELHO..........................................................................................................................68 6 UM DILETANTE NA UNIVERSIDADE........................................................................................................86 CONCLUSÃO............................................................................................................................................................102 REFERÊNCIAS.........................................................................................................................................................106 vii INTRODUÇÃO Intelectual múltiplo, Alexandre Eulalio enveredou-se pelos vários campos das artes: arriscou-se na ficção; fez história e crítica de literatura, de artes plásticas, de música; conhecedor de história, escreveu sobre a monarquia; produziu e dirigiu filmes de curta-metragem. Profissionalmente, foi cronista e crítico de jornal; entrou na importante Revista do Livro, para ser redator, de 1956 a 1965; ocupou cargos públicos, antes de se dedicar, de vez, à licenciatura e à pesquisa dentro da universidade. A imagem de Eulalio com a qual ficamos – imagem parcial, é bom que se diga, formada após a leitura de depoimentos que deixaram aqueles que o conheceram1 – é a do preletor erudito, despejando freneticamente história, literatura e cultura sobre os ouvidos de seu público, fossem alunos, amigos ou colegas de lida. Também a do excêntrico, fiel às suas manias – Diamantina, Joaquim Felício dos Santos, Brito Broca, a monarquia, o perfeccionismo, o apego a minudências. Ainda, a do crítico exigente, diletante e autodidata, que se esquivou da publicação em livro. Vinicius Dantas, em seu “Retratinho de Alexandre” (1993), assim debuxa os contornos da figura do nosso crítico: Era uma influência feita de presença, ritmo, fôlego, de uma gulodice pelo mundo que chegava a ser comovedora – sua pessoa impregnava. Estar com Alexandre era ganhar dias de leitura com muitas gerações, outras mais vivas e melhores. Na fala e na prosa dele a pátina do mundo reluzia: os objetos tinham existência, nome, história, origem, haviam sido fabricados nesta ou naquela cidade, por tais ou tais famílias de artesãos, através de uma técnica inventada por fulano, cujo primo emigrou para Verona, onde tal romântico inglês descobriu num afresco uma figura feminina que reaparecerá naquele poeta menor do Serro, cuja obra continua dispersa e por falar nisso precisa urgentemente ser editada. (DANTAS, 1993: 333) Com os amigos, era sempre generoso, apesar da timidez – certamente atribuída às origens mineiras, que lhe fazia parecer “enfurnado na couraça de uma personalidade afetada, algo distante” (Ibid.: 333), percepção logo desfeita numa primeira palestra. Silviano Santiago (1993) relembra que teve acesso ao manuscrito de Les faux-monnayers, de André Gide, por obra de Alexandre, fato que acabaria por consumar os rumos de sua vida acadêmica; na defesa de seu doutoramento, na Sorbonne, Eulalio – que se encontrava então em Veneza como leitor brasileiro – foi a Paris, como havia prometido em carta ao amigo. Jean-Michel Massa, vindo ao Brasil 1 Cf. “Retratos sem imagens” In: EULALIO, 1993b: 290-335. 1 estudar o período da juventude na formação de Machado de Assis, revela que Eulalio foi seu primeiro amigo brasileiro, apresentando o estudioso francês a seus melhores amigos (MASSA, 1993). Benedito Nunes confirma a opinião dos colegas:
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