A Crônica Visual De Michelangelo Antonioni
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – ÁREA DE FILOSOFIA A CRÔNICA VISUAL DE MICHELANGELO ANTONIONI YANET AGUILERA VIRUEZ FRANKLIN DE MATOS ORIENTADORA: OLGÁRIA CHAIN FERES MATOS SÃO PAULO 2007 1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO – ÁREA DE FILOSOFIA A CRÔNICA VISUAL DE MICHELANGELO ANTONIONI YANET AGUILERA VIRUEZ FRANKLIN DE MATOS Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, para a obtenção do título de Doutor em Filosofia. ORIENTADORA: OLGÁRIA CHAIN FERES MATOS SÃO PAULO 2007 2 AGRADECIMENTOS À professora Olgária Chain Feres Matos, pela confiança e imensa generosidade. À Luiz Fernando pela paciência e companheirismo À FAPESP por ter me outorgado a bolsa e possibilitado a realização desta tese 3 SUMARIO Índice............................................................................................ 5 Resumo/Abstract......................................................................... 6 Introdução A crônica visual de Michelangelo Antonioni............................ 7 Capítulo 1 – L´automobile che arriva........................................9 Capitulo 2 – La línea bianca astratta.......................................36 Capitulo 3 – Crimes d´alma......................................................70 Capitulo 4 – O deserto vermelho..............................................93 Conclusão.................................................................................112 Anexo Decupagem Crimes d´alma.....................................................115 Decupagem O deserto vermelho.............................................161 Filmografia...............................................................................229 Referência bibliográfica.........................................................234 4 ÍNDICE Introdução A crônica visual de Michelangelo Antonioni.................... 7 I. L´automobile che arriva...................................................9 II. La linea bianca astratta.................................................36 III. Crimes d´alma..............................................................70 IV. O deserto vermelho......................................................93 Conclusão..........................................................................112 Anexo Decupagem Crimes d´alma.............................................115 Decupagem O deserto vermelho.....................................161 Filmografia.......................................................................229 Bibliografia......................................................................234 5 RESUMO / ABSTRACT Palavras chaves – Key Words: Antonioni, cinema, estética, política Antonioni, cinema, aesthetics, politics Resumo: A análise procura entender a inversão que Antonioni realiza na relação entre imagem e texto no cinema. A ficção já não é suficiente para fazer uma abordagem efetivamente política do mundo contemporâneo. Apenas a imagem polissêmica é capaz de criar uma espécie de “dês-enredo” que, ao não se deixar reduzir a um sentido único, traz a luz outra dimensão da relação entre figura e fundo do quadro cinematográfico. Abstract This study attempts to understand the inversion of what Antonioni makes in the relation between image and text in the cinema. The fiction is no longer enough to approach politically the contemporaneous world. Only the image polissemic is able to create a sort of “disembroil” that does not let to reduce to just one sense, and for consequence lightens another dimension of the relations between character and scenery in the cinematographic picture. 6 A CRÔNICA VISUAL DE MICHELANGELO ANTONIONI La linea bianca astratta, che irrompe nell´inquadratura all´inizio della sequenza con la stradina grigia, me interessa molto piu dell´automobile che arriva1. De acordo com Gilda de Mello e Souza, Michelangelo Antonioni aplicou-se a redescobrir o cinema, testando os recursos específicos da imagem, sem pretender revigorá- lo com injeções artificiais de outras artes 2. Ned Rifkin, por sua vez, afirma que - exclusivamente via imagens - o cineasta comunica informações substantivas ao espectador3. Para Francis Vanoye, na obra de Antonioni a plástica é outra maneira de ver o mundo que, ao desligar-se da história e das personagens, de certo modo renuncia ao domínio das coisas 4. Seymour Chatman acredita que o diretor italiano “não é apenas um dos grandes mestres da composição visual que podemos alinhar com Eisenstein, von Sternberg, Kurosawa e Welles, mas elevou o componente cinematográfico da imagem a um novo nível 5”. Como se vê, vários comentadores fundamentais não hesitam em afirmar que Michelangelo Antonioni é um cineasta que privilegia a imagem. A questão é saber o que isso quer dizer exatamente. Significaria apenas, conforme sugere Rifkin, que, ao transmitir informações substanciais, as imagens em seus filmes contribuem para desenvolver a história? Ou significaria, segundo Vanoye, que a obra de Antonioni expõe o mundo de forma diferente? Mesmo admitindo a equiparação entre elementos visuais e texto, em que os primeiros não são considerados simples ilustração da intriga, creio que todos esses 1 Antonioni, Michelangelo. Fare un film è per me vivere – Scritti sul cinema. Editora Marsilio, Venecia, 1994, pg. 260. 2 De Mello e Souza, Gilda. “Variações sobre Michelangelo Antonioni”, in A idéia e o figurado. Editora 34 e Livraria Duas Cidades, São Paulo, 2005, pg. 148. 3 Rifkin, Ned. Antonioni´s Visual Langage. Editora Uni Research Press, Michigan, 1982, pg. 14. 4 Vanoye. F. Profission: reporter Michelangelo Antonioni. Editora Nathan. França, 1993, pg. 86. 5 Embora Chatman considere assim as obras de Antonioni, continua a ver os elementos visuais submetidos à narrativa, pois na imagem se unem atmosfera e trama. Chatman, Seymour. Ver: Antonioni or the Surface of the World. Editora University of California Press, Berkeley, 1985, pg. 16. 7 críticos, em última instância, acabam reafirmando o enredo como horizonte que dirige a leitura de Antonioni. Quanto ao próprio cineasta, porém, ele jamais se cansou de repetir que seus filmes sempre atribuíram mais importância à imagem do que à trama6. Certa vez afirmou até mesmo que, numa cena que mostra um carro avançando por uma estrada, aquilo que viria em seguida não passaria de mero pretexto para a câmera demorar-se sobre o que realmente importa: as linhas da estrada, as cores, a luz7. Com isto não quereria ele dizer que seus filmes transformam a fábula apenas num meio para a construção plástica? Visto que em geral os críticos praticamente ignoram a inversão entre imagem e texto, não estaria Antonioni sugerindo muito mais do que eles próprios sobre o papel da imagem em seu cinema? Creio que as imagens cinematográficas de Antonioni pedem uma leitura que lhes atribua uma importância especial e, por isso, o objetivo deste trabalho será aprofundar o estudo sobre os elementos visuais de seus filmes, tendo em vista a inversão acima. Em resumo, farei esta investigação mediante um exame das relações entre plástica e literatura, examinando a construção do enredo e a estruturação das imagens. Em conseqüência, como se verá, este trabalho será levado a reavaliar a ruptura que, em geral, os críticos situam entre a primeira e a segunda fase do cinema de Antonioni. 6 Antonioni, Michelangelo. Fare un film è per me vivere – Scritti sul cinema. Op. Cit., pg. 260 8 L´AUTOMOBILE CHE ARRIVA L´idea (del tema) mi viene atraverso le immagini.8 Antonioni relata em suas histórias poucos acontecimentos. É comum ouvir dizer que em suas fitas quase não acontece nada. Como esta impressão não se deve apenas à falta de ação, mas à maneira como ele estrutura seus enredos, trata-se de saber quais recursos estilísticos da composição da imagem e da montagem constroem a fábula. Antonioni usa a objetiva grande-angular mesmo nos primeiros planos a fim de obter o máximo de profundidade de campo, principalmente nos filmes iniciais9. Segundo alguns críticos, o espaço criado pela perspectiva permite que ele desloque as personagens para o fundo e para fora do quadro, impedindo que elas ocupem o centro da cena10. Outro estudioso ainda acrescentou que as longas perspectivas absorvem as personagens e acabam por mostrar “as coisas e os seres humanos envoltos em um halo de desfocamento, de achatamento ..., criam uma ambigüidade nos significados das suas imagens, pois as coisas assumem um aspecto longínquo e vago11”. Como se pode ver, tanto para uns quanto para outros, os elementos visuais não cumprem a contento a função de ilustração que em geral lhes é atribuída, pois não permitem que os acontecimentos sejam apresentados de forma clara para o espectador. Ou seja, a composição plástica não é adorno ou elucidação de um texto. Quanto à montagem, Antonioni é conhecido pela forma elíptica de narrar. As elipses são tão freqüentes que acabam se tornando independentes do papel que habitualmente tinham no cinema: “acelerar o ritmo da ação ou obter um acréscimo de tensão12”. As elipses não permitem que se estabeleçam verdadeiros raccords entre os 7 Ver nota da epígrafe. 8 Antonioni Michelangelo. Fare un film è per me vivere. Op. Cit.Pg. 129. 9Ferzetti, Fabrizio. “La fotografia nei film di Antonioni”. In Identificazione di un Autore. Pratiche Editrice, Parma, pg. 57. 10Francesco Casetti está falando dos protagonistas de Crimes d´alma.”Altre storie. La narrazione come problema in “Cronaca