Caminhando E Cantando
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Caminhando e Cantando História Fazendo Música e Música Cantando História Marco Antonio Gonçalves 2 Caminhando e Cantando Caminhando e Cantando História Fazendo Música e Música Cantando História MARCO ANTONIO GONÇALVES 3 Marco Antonio Gonçalves 4 Caminhando e Cantando “Dedico este livro primeiro à Deus, como tudo em minha vida, e depois à memória de Fernando Gil Feichas, a primeira pessoa a conceder entrevista para este trabalho, à Heloisa Feichas, por ter, de todas as formas possíveis e imagináveis, contribuído para que este projeto tivesse êxito, a todos que de alguma forma contribuíram para a realização deste livro e à toda a minha família, em especial à minha mãe, Francisca Maria da Silva, simplesmente por ser a melhor pessoa do mundo, que me ensinou tudo o que sei e a qual devo tudo o que sou” 5 Marco Antonio Gonçalves 6 Caminhando e Cantando “A única coisa melhor que música, é falar de música” Gabriel García Marques “Estou pensando Nos mistérios das letras de música Tão frágeis quando escritas Tão fortes quando cantadas” Augusto de Campos 7 Marco Antonio Gonçalves 8 Caminhando e Cantando --- Sumário Apresentação...............................................................11 Prefácio........................................................................17 Capítulo 1 – Período Pré-Bossa Nova.........................23 Capítulo 2 – A Bossa Nova..........................................29 Capítulo 3 – Início da Repressão ................................54 Capítulo 4 – Afirmação e Renovação..........................99 Capítulo 5 – A Década do Rock..................................126 Capítulo 6 – Fim de uma Era.......................................142 Epílogo.........................................................................155 9 Marco Antonio Gonçalves 10 Caminhando e Cantando Apresentação A música brasileira já foi tema de vários livros, reportagens, séries, filmes e documentários nacionais e estrangeiros. Ela também já serviu como trilha sonora de vários sucessos do cinema e até Walt Disney a usou em suas animações. É admirada nos quatro cantos do mundo. Em todo lugar que se vá alguém vai cantar, pelo menos cantarolar, “Garota de Ipanema”, “Aquarela do Brasil”, “Tico-Tico no Fubá” ou então, quem sabe, alguma coisa do Sepultura ou do Cansei de Ser Sexy. Mas é claro, nem todos gostam de música brasileira, mas negar que no Brasil surgiram gênios da música como Pixinguinha, Tom Jobim, João Gilberto e Chico Buarque é extrema ignorância. Desde o início da bossa nova em 1958 à era dos Festivais e início da rotulada MPB na década de 1960 até a explosão do rock Brasil em 1982, a música tupiniquim sempre contou a história do país em suas letras e melodias. A canção brasileira nos últimos 50 anos passou por várias transformações. Participou da luta contra a ditadura e da volta à democracia. Apesar das chuvas e tempestades, a boa música nacional continua aí, seja com os cantores antigos que se reinventam cada vez mais. Seja com aqueles que só com as músicas que fizeram no passado não precisam fazer mais nada (pois já estão no inconsciente popular), ou com a nova geração que surge para dar um sopro de vida nessa tão fascinante forma de expressão. Gente que sabe que fazer boa música independe de mídia ou repercussão. Depende de talento, dom, carisma... Desde a explosão do rock Brasil pouca coisa nova e com qualidade surgiu no canário musical brasileiro. O saudoso nordestino Chico Science e seu Mangue Beat é uma delas, o outro exemplo que me vem à memória é a banda de heavy metal 11 Marco Antonio Gonçalves mineira Sepultura, que cantando em inglês levantou platéias no mundo inteiro. Outras coisas boas podem ter surgido aqui e ali, mas nenhuma teve repercussão nacional ou até tiveram, mas não merecendo os créditos deste exigente escriba. Claro que alguns grupos, bandas e cantores depois dessa época (década de 1980) são bons e vão ser citados ao longo desta história, mas eles vêm inspirados pelos antigos roqueiros, pelos emepebistas e pelos bossa-novistas então não inovaram; mas repito merecem todos os créditos. Uma das bandas de qualidade que surgiram na pobre década de 1990 foi a mineira Pato Fu. Aliás, a música de Minas Gerais veio com tudo na última década do milênio. Vocalista da banda, a simpaticíssima Fernanda Takai, talvez tenha sido a minha maior inspiração para começar esse trabalho. A encontrei pela primeira vez no ‘Festival da Mantiqueira – Diálogos com a Literatura’ em São Francisco Xavier, charmoso distrito de São José dos Campos, em 2008. Estava no segundo ano da faculdade. Naquela época tinha que fazer uma grande reportagem e a minha pauta era o cinquentenário da bossa nova, que se completaria em agosto daquele ano. Entrei na fila dos autógrafos com a esperança de conseguir gravar pelo menos algumas palavras suas. Ela havia gravado um CD em homenagem à bossa-novista Nara Leão. Como se não bastasse ao seu lado estava o jornalista, escritor, produtor, o multifacetado Nelson Motta, grande conhecedor da música nacional e que vivenciou de perto os principais fatos que vão ser narrados neste livro. Cheguei tímido ao lado de Fernanda e fiz algumas perguntas. Ela foi de uma simpatia singular, com um sorriso e uma voz doce que me fez ficar encantado ainda mais pela sua música e pela de Nara Leão, motivo da entrevista. Nelson Motta também foi gentil e me respondeu às perguntas (que certamente estava 12 Caminhando e Cantando cansado de responder) com a autoridade de um juiz de futebol quando apita uma falta clara a meio metro distância. Fiz uma excelente reportagem, a melhor que eu já havia feito (é claro que eu não havia feito muitas antes daquela), mas por uma dessas coisas que às vezes acontecem, o áudio da entrevista foi apagado e a voz doce da Fernanda Takai e a grossa e meio anasalada de Nelson Motta conversando comigo se perderam para sempre. Já tinha decupado toda a entrevistam então dos males, o menor. Sem maiores problemas e sem ressentimentos com o professor que apagou a entrevista. Alguns meses depois as professoras Vânia Braz e Celeste Marinho me sugeriram continuar a reportagem no meu trabalho de conclusão de curso e aceitei o desafio, que aumentei ao ter a pretensão de falar da música brasileira depois da criação da bossa nova por João Gilberto. Sempre gostei de música, quando pequeno ouvia Roberto Carlos, Chico Buarque e outras coisas assim por tabela, já que minha mãe é fã desses cantores. Por outro lado, meu pai, como bom mineiro nascido na roça, tinha vários LPs de duplas caipiras dos mais variados e esquisitos nomes. Para a minha sorte puxei o gosto musical de minha mãe, mas confesso que nutro um certo carinho pela música caipira. Isso vem de berço. Tinha então genes necessários para gostar de boa música. E assim foi. História, no sentido real da palavra, é uma coisa pela qual sempre me interessei. Sempre achei fascinante saber o que aconteceu no passado e que pode ter influenciado o que vivemos hoje e o que virá pela frente. Até hoje me fascino quando descubro algo que não conhecia ou imaginava. A História tem esse poder, pelo menos sobre mim. A música e a história estão sempre ligadas quando contamos a história recente do Brasil. Chico Buarque e os seus criticando 13 Marco Antonio Gonçalves a ditadura, Os Incríveis ressaltando o Brasil dos anos de chumbo, o rock e a redemocratização. Falar da música brasileira é um trabalho árduo e complicado. A criatividade do nosso povo e a mistura de raças faz com tenhamos vários tipos de manifestações através da música em todo o país; Algumas consideradas de bom gosto e que nos representam em todo o mundo. Outras podem até nos representar, mas são de gosto duvidoso e letras sem conteúdo, ao menos histórico. O escritor Jairo Severiano, um dos maiores conhecedores de nossa música, autor de “Uma história da música popular brasileira – das origens à modernidade”, uma das obras de referência deste livro, dividiu a história da música brasileira em quatro partes distintas: Formação (1770-1928), consolidação (1929-1945), transição (1946-1957) e modernização (de 1958 até os dias atuais). Este livro, portanto, vai tratar da moderna música brasileira, segundo definição de Severiano, no final do período de transição até o final do século. Esse é um livro sobre a história da música brasileira desde os anos 50. Obviamente, aqui estão algumas histórias, das mais curiosas, compiladas nos mais diversos livros sobre música, biografias de artistas, compositores, artigos de revista, jornais, vídeos e documentários e também em entrevistas com nomes que fizeram parte da história da música brasileira, como Nelson Motta e Gilberto Gil. Este livro, como não poderia deixar de ser, tenta mostrar como a História do Brasil (política, social e econômica) e a História da música sempre caminharam lado a lado nos últimos sessenta anos. Elas estão sempre andando juntas e se cruzam em diversos pontos. Durantes alguns anos elas formaram uma só linha, em outros se distanciaram, mas sempre se encontram. São algumas dessas 14 Caminhando e Cantando convergências que estão reunidas aqui. Esse livro tem os mais diversos livros, dos mais variados autores, (que constam na sua bibliografia) como fontes de histórias e curiosidades. Talvez, o livro que mais tenha inspirado este trabalho seja “Noites Tropicais – Solos, Improvisos e Memórias Musicais” de Nelson Motta, um retrato auto-biográfico do autor, que presenciou de perto os mais importantes acontecimentos da moderna música brasileira. A criação da bossa-nova, a Jovem Guarda, a MPB dos Festivais e o rock da geração 80. Os Gêneros que são tratados nessa história. Vamos ver como um baiano de jeito tímido e pouca fala modernizou e mudou para sempre a história da música brasileira. Como quatro amigos adolescentes do subúrbio do Rio de Janeiro se transformaram em ícones de nossa música. Também saberemos a importância de programas de televisão para toda uma geração de artistas e como esses programas reuniram os mais celebres compositores de nossa música na década de 1960.