Novas Tecnologias Reprodutivas Conceptivas: Fabricando a Vida, Fabricando O Futuro
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Martha Celia Ramírez-Gálvez NOVAS TECNOLOGIAS REPRODUTIVAS CONCEPTIVAS: FABRICANDO A VIDA, FABRICANDO O FUTURO Campinas, SP 2003 ii Universidade Estadual de Campinas Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Martha Celia Ramírez-Gálvez Novas Tecnologias Reprodutivas Conceptivas: Fabricando a vida, fabricando o futuro Tese de Doutorado em Ciências Sociais, apresentada ao Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, sob orientação da Profa. Dra. Mariza Corrêa Este exemplar corresponde à versão final da tese defendida e aprovada pela Comissão Julgadora em 11 de Setembro de 2003 Banca Examinadora: Profa. Dra. Mariza Corrêa (Orientadora) Profa. Dra. Marilena Villela Corrêa Profa. Dra. Claudia Fonseca Prof. Dr. Laymert Garcia dos Santos Profa. Dra. Maria Filomena Gregori Profa. Dra. Maria Coleta F.A. de Oliveira (Suplente) Profa. Dra. Alejandra Rotania (Suplente) iii FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO IFCH - UNICAMP Ramírez-Gálvez, Martha Celia R145n Novas tecnologias reprodutivas conceptivas : fabricando a vida, fabricando o futuro / Martha Celia Ramírez. - - Campinas, SP : [s. n.], 2003. Orientador: Mariza Corrêa. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. 1. Reprodução humana – Inovações tecnológicas. 2. Inseminação artificial humana. 3. Parentesco. 4. Antropologia. 5. Gênero. 6. Consumo. 7. Biotecnologia. I. Corrêa, Mariza. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Filosofia e Ciências Humanas. III. Título. iv Para Alberto, em memória, e Andrés ; Para aqueles com os quais partilho o desejo e a tentativa de inventar relações. v vi AGRADECIMENTOS Este trabalho só foi possível com o carinho, apoio e colaboração de muitas pessoas, num período que não se restringe aos anos do doutorado. Dificilmente posso mencionar todas elas, mas sou grata pelas contribuições à tese e pelos bons momentos. Agradeço a todas/os, em especial, Ao Cemicamp, onde se iniciou meu ciclo no Brasil. À Mariza, minha Mestra, pela acolhida, generosidade, carinho, por promover a autonomia, confiança, enfim... pelas orientações que vão muito além dos trabalhos de mestrado e doutorado. À Maria Coleta F.A. de Oliveira e Adriana Piscitelli pela participação e valiosas sugestões na banca de qualificação. Ao Laymert, Marilena, Bibia e Cláudia com o/as que mantive um diálogo, nas diversas perspectivas desta pesquisa, diretamente ou através de seus textos. Às/os entrevistadas/os, Luis Bahamondes, Jorge Hallak, Patricia Pietri, Rose Melamet, Edson Borges, Arlette Modelli, ao vendedor-propagandista e às psicólogas e assistentes sociais da Vara da Infância de Campinas: Amália, Isabel, Lorena, Betty, Hilka. Às/aos professoras/es do IFCH, especialmente à Guita Grin Debert, Suely Kofes, Vanessa Lea, Tom Dwyer, Heloisa Ponte e ao Plínio Prado Júnior, professor visitante em 2002. Ao pessoal da secretaria do IFCH, Lourdinha, Cristina, Júnior e, especialmente, Gilvani. Às colegas da Área de Família e Gênero. Sou especialmente grata à Rosely, Érica, Gabriela, Elisiane, Anna Paula, Carla e à sensibilidade de Flávia Motta e Heloísa Buarque de Almeida, em sintonia para além das teorias. À animada turma do doutorado, em especial ao Osvaldo, Gustavo e à amizade da Gláucia e Fátima. Às colegas estudiosas das biotecnologias e às debatedoras deste trabalho em vários eventos: Miriam Grossi, Fabíola Rohden e Débora Diniz. À Daniela Manica e Vera Menegon pela prazerosa troca de figurinhas e, de maneira muito especial, à Alejandra Rotânia pela cumplicidade, consonância e pela força..... Ao Núcleo de Estudos de Gênero Pagu pelo apoio logístico em diversos momentos, especialmente à Luciana, Jadison e Regiane. Agradeço às pessoas que estiveram antenadas com o universo desta pesquisa e me ajudaram na coleta de informação e às que contribuíram para restabelecer o ânimo nos momentos de desmotivação. vii Ao Jairo, Mario, Ana Maria e João pelo cotidiano, pela amizade e por tomarem conta dos assuntos domésticos nos momentos de tensão, entrega de relatórios e final de tese. À Ana Maria e ao João pelas instigantes discussões, escuta atenciosa e pelas tantas correções do português. Na edição final da tese agradeço à inestimável disposição e contribuição do Ricardo pelo belo tratamento das imagens e pela força nos momentos de pane informático; do Mauro pela ajuda nos assuntos técnicos e impressão da tese e por se dispor, da mesma forma que o Paulo, a ficar de plantão. Ao Mané pelo Abstract e à Iara pela generosidade, prontidão e disposição para corrigir os originais. À minha família pela torcida. Sou sensivelmente grata ao Hernán por segurar as pontas nos assuntos familiares. Também agradeço o carinho das famílias de escolha, Fernandez Varón e Fernandes de Souza. Às/aos várias/os amigas/os com os quais tentamos fazer nosso cotidiano em Campinas mais grato: Amélia, Eliana, Elisa, Zé, Ruth e Adilson, Sofia e Javier, Patrícia e Victor, Camilo, Humberto, Gisele.... Às/aos amigas/os “históricas/os” Érico e Esperanza, Fer, Wanda, Carmencita, Bea, Victória. Ao Andrés e Luis pela constância e incondicionalidade. À FAPESP pelo financiamento desta pesquisa. viii RESUMO Esta tese discute a configuração e consolidação da Reprodução Assistida (RA) no Brasil, identificando os agentes de socialização e os mecanismos de produção de sentido dos novos modos de geração da vida. A análise está centrada na ressignificação da ausência involuntária de filhos, atentando para a construção do desejo de filho biológico, passível de realização médico-tecnológica, que extrapola as relações heterossexuais. Partindo da hipótese que RA amplia ou implode o modelo de sexualidade heterossexual e reprodutiva, analisamos as implicações da ruptura do modelo de causalidade entre cópula e procriação nas relações de parentesco e gênero. No deslocamento da reprodução da alcova para o laboratório, a concepção deixa de ser um ato privado, de práticas erótico/amorosas, para se constituir em um evento público com a participação de terceiros (equipe, clínica, doador/a) e com mediações profissionais e econômicas. Dados iniciais levaram à necessidade de contextualizar esse campo na inter-relação entre ciência, tecnologia e capital, na qual o progresso científico é incorporado na figura do tecno-embrião, como empreendimento contemporâneo de mercantilização e consumo biotecnológico atrelado à fetichização do gene, que afirma valores tradicionais associados à família consangüínea. A composição desse campo se realizou a partir de várias fontes de informação: mídia escrita e eletrônica; congressos de especialistas em RA; páginas eletrônicas, folhetos publicitários de clínicas, medicamentos e equipamentos para RA; livros de divulgação; boletins de agremiações de especialistas e pareceres dos Conselhos Federal e Regional de Medicina. A divulgação de narrativas do desejo de filho biológico apresenta uma linguagem mercantilista, ofuscando a centralidade das mulheres na RA, que se tornaram agentes passivos de habilitação médico tecnológica. A ressignificação de modelos de sexualidade e reprodução é reapropriada pela tecno-medicina, que os submete às suas regras e à lógica do capitalismo contemporâneo, transformando “o que faz bater o coração mais rápido” em commodities. Refinadas formas de controle operam nesse campo mediante a reprodução seletiva, que descarta os aspectos indesejáveis da humanidade numa manipulação sem limites do saber e do poder tecnológico, diluindo as fronteiras entre clínicas de RA e laboratórios e a responsabilidade pelo futuro da humanidade. ix ABSTRACT This work discusses the formation and the consolidation of assisted reproduction (AR) in Brazil, identifying socialization agents and mechanisms of production of meaning of the new forms of life generation. More specifically the “re-signification” (new meanings) of involuntary childlessness was studied with special attention to the construction of a desire for a biological child which goes beyond heterosexual relationships in the context of Assisted Reproduction. The hypothesis was that AR could either enlarge or implode the model of heterosexual and reproductive sexuality within and for which the new technologies have been developed. In this sense, the implications of the rupture of the cause and effect model between intercourse and procreation in the family and gender relationships were analysed. As a result of the moving of the reproduction site from the bedroom to the laboratory, conception ceases to be a private act of erotic and love practices to become a public event which adds the participation of a medical team, a clinic and a donor with professional and economic interests. Initial data led to the necessity of contextualizing this field in the relationship among science, technology, and capital in which scientific progress is embodied in the figure of the techno-embryo as a contemporary enterprise of biotechnological mercantilization and consumption linked to a fetish of the gene which reinforces traditional values associated to family blood ties. Several information sources contributed to the construction of this field: the media; congresses of AR experts; home-pages; clinic flyers; AR drugs and equipment; information manuals; journals and regulations set by the Federal and Regional Medicine Councils. Besides a rapid expansion of this field in Brazil, narratives of the desire for a biological child in a businesslike language, and the loss by women of the main role in AR were observed. Women have become passive agents of technological