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LISTA VERMELHA DA FLORA DO VALE E BACIA DO PARAÍBA DO SUL FLUMINENSE: UM LEVANTAMENTO BASEADO NA OBRA DE MARTIUS, “FLORA BRASILIENSIS”

Thayná Ribeiro Bromana1, 3 & Michaele Alvim Milward-de-Azevedo2

Resumo: O Brasil é reconhecido por sua considerável riqueza florística, que despertou interesse em vários naturalistas europeus, levando-os a iniciarem expedições afim de estudar e representar a flora da região. Um desses naturalistas foi Carl Friedrich Philipp von Martius, idealizador da Flora Brasiliensis, obra que descreveu toda a abundância de espécies presentes no país, inclusive a extensão da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, uma das áreas mais impactadas do domínio atlântico presente no Rio de Janeiro. Na extensão da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, foram verificadas 135 espécies pertencentes a 113 gêneros e 55 famílias publicadas na Flora Brasiliensis, destas cerca de 36% são endêmicas da Mata Atlântica e quatro endêmicas do Rio de Janeiro. Doze espécies foram encontradas sob algum tipo de ameaça e cinco oficialmente ameaçadas de extinção, sendo elas: macrocarpa Barb. Rodr., Hypericum mutilum L., Cariniana legalis (Mart.) Kuntze, Cattleya labiata Lindl. e Carapichea ipecacuanha (Brot.) L. Andersson. Atualmente, destas doze espécies publicadas na Flora Brasiliensis, duas não possuem registro nos herbários virtuais para a área da Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul, e apenas quatro ainda são encontradas no Vale do Paraíba. Apesar da redução de habitats e biodiversidade, a Mata Atlântica apresenta ainda uma alta riqueza florística, com elevadas taxas de endemismo. Logo, é necessário ações voltadas a conservação das espécies ainda presentes. Palavras-chaves: Espécies ameaçadas; biodiversidade; levantamento histórico.

Abstract: Brazil is recognized for its considerable floristic wealth, which has aroused interest in several European naturalists, leading them to begin expeditions, in order to study and represent the flora of the region. One of these naturalists was Carl Friedrich Philipp von Martius, creator of Flora Brasiliensis, a work that described all the abundance of species present in the country, including the extension of the Paraíba do Sul River Basin, one of the most impacted areas of the present Atlantic domain in Rio de Janeiro. The extent of the Hydrographic Basin of the Paraíba do Sul River, were found 135 species belonging to 113 genera and 55 families published in Flora brasiliensis, of these about 36% are endemic to the Atlantic Forest endemic and four of Rio de Janeiro. Twelve species were found under some kind of threat and five officially endangered species, Syagrus macrocarpa Barb. Rodr., Hypericum mutilum L., Cariniana legalis (Mart.) Kuntze, Cattleya labiata Lindl. and Carapichea ipecacuanha (Brot.) L. Andersson. Currently, of these twelve species published in Flora Brasiliensis, two are not registered in the virtual herbarium for the area of the Paraíba do Sul basin, and only four are still found in the Paraíba Valley. Despite the reduction of habitats and biodiversity, the Atlantic Forest still has a high floristic richness, with high rates of endemism. Therefore, actions aimed at conserving the species still present are necessary. Key-words: Threatened species; biodiversity; historical survey.

Introdução A revolução industrial no século XVIII, trouxe consigo inúmeras modificações no ambiente, dentre elas a instalação crescente de indústrias, o desflorestamento e a expansão urbana desordenada em nível mundial. O aumento populacional e o consumo desenfreado de produtos manufaturados fizeram com que as indústrias tivessem uma elevada taxa de desenvolvimento. No entanto, a gestão e a responsabilidade ambiental não acompanharam o andamento e crescimento das instalações das fábricas, levando a impactos ambientais de grandes dimensões, dentre eles a diminuição da cobertura florestal, perda de habitats e o elevado decréscimo da biodiversidade (Leal et al. 2008, Milward-de-Azevedo 2017). Umas das crises mais recorrentes atualmente no âmbito ambiental é a perda da biodiversidade, e a dificuldade encontrada para sua conservação (Peres et al. 2011). A

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Campus Três Rios, Avenida Prefeito Alberto da Silva Lavinas 1847, Centro, CEP: 25802-100, Três Rios, RJ, Brasil. 1ORCID: 0000-0002-9038-8939 2ORCID: 0000-0001-8076-5561 3Autor de correspondência: [email protected] Recebido em 16 de junho de 2019. Aceito em 21 de agosto de 2019. Publicado em 11 de setembro de 2019.

13 Diversidade e Gestão 3(1): 13-22. 2019 e-ISSN: 2527-0044 http://itr.ufrrj.br/diversidadeegestao/ diversidade biológica é essencial para a permanência humana na Terra visto que para o funcionamento de todo ciclo e para as necessidades básicas humanas é fundamental a presença dos serviços ecossistêmicos (Santos 2014, Peres et al. 2011). Com o passar do tempo, o conhecimento de toda sua abrangência e importância para o Brasil fizeram com que a biodiversidade fosse reconhecida mundialmente, conduzindo a população e as esferas governamentais a repensarem seu uso e propor medidas de recuperação e conservação das espécies (Peres et al. 2011). Nesse intuito, o país tem participado de várias convenções internacionais dentre elas, a Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) e a Estratégia Global para a Conservação de Plantas (GSPC) e criado diversas ferramentas para ampliar o conhecimento e identificação dos táxons, como os programas de Flora do Brasil e as listas vermelhas. Estes chamam atenção das autoridades governamentais e da sociedade civil sobre a necessidade de ações rápidas visando a conservação das espécies nativas, endêmicas e ameaçadas de extinção (Peixoto & Thomas 2005). As espécies da flora com algum grau de ameaça de extinção precisam ser constantemente estudadas devido as crescentes variações das temperaturas globais. A sensibilidade das mesmas as alterações climáticas levam a um estresse reprodutivo, causando oscilações no período de floração e frutificação das plantas, o que consequentemente afeta a biota dependente destes recursos (Milward-de-Azevedo 2017). O Brasil é classificado como um dos países mais biodiversos do mundo, sendo reconhecido por sua considerável riqueza florística (Giulietti & Forero 1990). De acordo com Mori (1989), a Floresta Atlântica apresenta quatro regiões de elevado endemismo, sendo uma delas localizada aos arredores do estado do Rio de Janeiro. Apesar de apresentar uma grande biodiversidade, o domínio atlântico juntamente com o Cerrado é apontado como um dos biomas mais devastados e comprometidos do território brasileiro (Cardoso et al. 2016, Zipparro et al. 2005), e atualmente é encontrado apenas 7% de remanescentes vegetacionais conservados (MMA 2007). Sendo assim, a Floresta Atlântica é considerada um dos domínios fitogeográficos de maior prioridade na conservação da biodiversidade do planeta (Loyola et al. 2014) e para que essa proteção ocorra, o primeiro passo é na criação de listas de espécies ameaçadas de extinção (Peres et al. 2011). O Vale do Paraíba Fluminense possivelmente é uma das áreas mais afetadas da Floresta Atlântica, por se tratar de uma região com sucessivos e diferentes ciclos econômicos, agrícola e industrial. Atualmente, estas florestas são pouco representativas em relação a sua formação original, onde os grandes impactos ocorridos, provocaram transformações locais, nos meios de vida e ambientais, levando ao quadro encontrado atualmente na localidade (Devide 2013). Além disso, o vale fluminense é abastecido em toda sua extensão pela bacia do Rio Paraíba do Sul, que compreende cerca de 57 municípios do estado carioca (CEIVAP 2019). Os efeitos antrópicos, causados sobretudo pelo desenvolvimento econômico e verificados nesse território, colocaram em risco também esse curso d’água, provocando a erosão e o assoreamento do mesmo em consequência da retirada vegetacional do seu entorno (Silva 2002), que posteriormente culminou no desaparecimento de espécies endêmicas do seu domínio fitogeográfico. A Flora Brasiliensis, considerado o estudo da flora mais completo do Brasil, foi dirigida especialmente por Carl Friedrich Philipp von Martius entre os anos de 1840 e 1906. No entanto, o projeto contou com mais de 65 especialistas convidados, e ao longo de 66 anos de coletas, estudos e edições, foram publicados 15 volumes, subdivididos em 40 segmentos, englobando 22.767 espécies de embriófitas, pertencentes a 2.253 gêneros, onde cerca de 5.690 espécies e 160 gêneros foram classificados como novos para a ciência (Peixoto & Thomas 2005, Chiquieri et al. 2004). Todo o estudo foi realizado abrangendo espécies de

14 Diversidade e Gestão 3(1): 13-22. 2019 e-ISSN: 2527-0044 http://itr.ufrrj.br/diversidadeegestao/ todas regiões brasileiras, inclusive o Vale do Paraíba fluminense e a extensão do Rio Paraíba do Sul. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi investigar o estado de conservação das espécies de ocorrência no Vale do Paraíba Fluminense e na Bacia do Rio Paraíba do Sul, verificadas na Flora Brasiliensis e realizar a listagem e distribuição geográfica das espécies em estado de ameaça. Contribuindo com informações que poderão ser utilizadas em medidas públicas para a conservação e recuperação da área degradada.

Material e Métodos Localizado ao sul do estado do Rio de Janeiro, a Bacia Hidrográfica do Paraíba do Sul está situada entre a Serra da Mantiqueira, ao Norte, e a Serra do Mar, ao sul, além de estar inserida no interior de um triângulo formado pelos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (Figura 1.) (Gonçalves et al. 2015, Bentes 2017, Costa et al. 2012).

Figura 1. Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, região Sudeste, Brasil. Fonte: AGEVAP (2014).

A Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, no estado do Rio de Janeiro é subdividida em duas sub-bacias (Figura 2), sendo estas, a do Muriaé/Pomba representada por uma pequena parcela do estado e a do baixo Paraíba do Sul que engloba quase todo território fluminense (ANA- Agência Nacional das águas 2011). A vegetação da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul fluminense é caracterizada por uma grande diversidade biológica, evidenciada em um dos principais domínios brasileiros, a Floresta Atlântica, que nessa área é representada pela Floresta Estacional Semidecidual. O clima subtropical predominante da região, é marcado por verões chuvosos e invernos secos, com temperatura média de 21°C ao ano (Devide 2013). O relevo circundante das serras no entorno, influência também em seu alto índice pluviométrico, onde o impulsionamento do ar leva a uma queda de temperatura e posteriormente a um condensamento do vapor de água, ocasionando a chuva (Costa et al. 2012).

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Figura 2. Sub-bacias pertencentes a Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul, região Sudeste, Brasil. Fonte: ANA (2011).

O levantamento das espécies ocorrentes na flora do Vale Paraíba fluminense e da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul fluminense foi realizado na Flora Brasiliensis, disponível no sítio eletrônico do Biodiversity Heritage Library (https://www.biodiversitylibrary.org/). A nomenclatura das espécies encontradas foi atualizada de acordo com o sistema de classificação atual APG IV (2016) e também foi realizada a atualização dos nomes na Flora do Brasil 2020 (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/), The International Names Index (IPNI) (https://www.ipni.org/ik_blurb.html) e (http://www.theplantlist.org/). Com base nas informações disponíveis na Flora do Brasil 2020 em construção (2019), foi obtido o tipo de hábito, assim como o domínio fitogeográfico de ocorrência das espécies e seu endemismo. Para avaliar o estado de conservação das espécies foi utilizado os dados disponíveis nos sítios eletrônicos do Centro Nacional de Conservação da Flora – CNCFlora (2012.2), Flora do Brasil 2020 (http://floradobrasil.jbrj.gov.br/) e o Catálogo da Flora do Estado do Rio de Janeiro (https://florariojaneiro.jbrj.gov.br/consulta.php), sendo estes baseados nos critérios estabelecidos pela IUCN - International Union for Conservation of Nature nas seguintes categorias: Extinta (EX), Extinta da natureza (EW), Regionalmente extinta (RE), Criticamente em perigo (CR), Em perigo (EN), Vulnerável (VU), Quase ameaçada (NT), Menos preocupante (LC), Dados insuficientes (DD) e Não aplicável (NA). Além do mais, foi realizada a conferência dos nomes no Anexo I da Instrução Normativa nº 6, de 23 de setembro de 2008 (MMA 2008) e na Lista Oficial de Espécies da

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Flora Ameaçadas de Extinção, publicada pela Portaria MMA nº443, de 17 de dezembro de 2014 (MMA 2014). Por fim, os pontos de ocorrência das espécies publicadas na “Flora Brasiliensis” foram obtidos nos herbários virtuais do Species Link (http://www.splink.org.br/) e no JABOT (http://jabot.jbrj.gov.br), além do auxílio do Catálogo da Flora do Estado do Rio de Janeiro (https://florariojaneiro.jbrj.gov.br/consulta.php). Os dados de ocorrências adquiridos foram organizados em planilhas e plotados em mapas utilizando o software Arcgis 10.2.1.

Resultados e Discussão Após o levantamento realizado, foram encontradas 135 espécies pertencentes a 113 gêneros e 55 famílias botânicas para a localidade do Vale do Paraíba fluminense e Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul fluminense. Do total de espécies levantadas cerca de 36% são endêmicas da Mata Atlântica e apenas quatro espécies são endêmicas do estado do Rio de Janeiro: Campomanesia transalpina (Vell.) O. Berg. (Myrtaceae), Dalechampia granadilla Baill. (Euphorbiaceae), Faramea heteromera Müll.Arg. (Rubiaceae) e Kielmeyera excelsa Cambess. (Calophyllaceae). Das 135 espécies, 12 foram verificadas sob algum tipo de ameaça e tiveram seu estado de conservação avaliado. Destas, cinco são oficialmente ameaçadas de extinção, oito são endêmicas da Floresta Atlântica e nenhuma é endêmica do Rio de Janeiro (Tabela 1). Warczewiczella wailesiana (Lindl.) Rchb.f. ex E. Morren (Orchidaceae) foi encontrada com dados insuficientes (DD), segundo o CNCFlora (2012.2), e Brunfelsia uniflora (Pohl) D.Don (Solanaceae), Dalechampia granadilla Baill. (Euphorbiaceae), Solanum mauritianum Scop. e Solanum hexandrum Vell. (Solanaceae), com informações insuficientes (DD), segundo o Catálogo da Flora do Estado do Rio de Janeiro (2014). Vale ainda ressaltar que a Lista Oficial de espécies da Flora Ameaçada de Extinção publicada pela Portaria MMA nº443, de 17 de dezembro de 2014, não leva em consideração as espécies classificadas como quase ameaçadas (NT). Observando as espécies em estado de risco de extinção, somente três ocorrem em Unidades de Conservação (UC’s), Mollinedia glabra (Spreng.) Perkins (Monimiaceae), que ocorre na Área de Proteção Ambiental do Cairuçu, na Área de Proteção Ambiental Estadual de Grumari e no Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba, a espécie Justicia carnea Lindl. (Acanthaceae), no Parque Estadual da Chacrinha e na Reserva Particular do Patrimônio Natural de Rio das Pedras, e por fim, Gymnanthes schottiana Müll.Arg. (Euphorbiaceae), na Área de Proteção Ambiental da Região Serrana de Petrópolis e no Parque Nacional do Itatiaia (Catálogo da Flora do Rio de Janeiro 2014). Das espécies encontradas, as que obtiveram um elevado grau de ameaça foram, Cariniana legalis (Mart.) Kuntze (Lecythidaceae), conhecida popularmente como jequitibá- rosa (CNCFlora 2012.2), avaliada como “Em Perigo”, de acordo com os critérios de classificação da IUCN e presente na Lista Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção. É uma espécie arbórea de alto potencial para o uso em programas de restauração florestal em Unidades de Conservação estaduais do Rio de Janeiro (CNCFlora 2018). Contudo, não é aconselhável o plantio desta em locais com alta exposição a luz solar, principalmente nos estágios iniciais de desenvolvimento da plântula, devido sua alta sensibilidade, como foi mencionado por Vieira et al. (2011). A exposição solar poderia deixar o projeto de recuperação ainda mais custoso, devido a necessidade de irrigação diária da espécie. Sendo assim, a fragmentação dos habitats nativos do jequitibá-rosa, pode ter provocado a exposição da espécie a incidência solar, causando a fotoinibição, fenômeno que impede a planta de realizar o processo de fotossíntese devido ao excesso de luz que atinge o vegetal (Vieira et al. 2011).

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Tabela 1. Espécies presentes na Flora Brasiliensis ocorrentes para o Vale do Paraíba Fluminense e Bacia do Rio Paraíba do Sul e que apresentam algum critério de ameaça. Legenda: Status: CR= Criticamente em Perigo de Extinção, EN= Em Perigo de Extinção, VU= Vulnerável à Extinção, NT= Quase Ameaçada, NE= Espécie não avaliada quanto ao estado de conservação, LC= Menor Preocupação; Status RJ: Status considerado pelo Catálogo da Flora do Estado do Rio de Janeiro; Hábito: AR= arbóreo, HE= Herbáceo, AB= arbustivo e SB= subarbustivo; AI: Anexo I da Instrução Normativa nº 6, de 23 de setembro de 2008 (MMA, 2008) e LO: Lista Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção, publicada pela Portaria MMA nº443, de 17 de dezembro de 2014 (MMA 2014). Endemismo avaliado segundo a Flora do Brasil 2020 em construção (2019). Status Família Espécie Hábito AI LO Status Endêmica Endêmica CNC RJ Mata Brasil Flora Atlântica NE Acanthaceae Justicia carnea Lindl. AB/SB VU X X NE Acanthaceae Justicia parahyba P.L.R. Moraes SB EN X X EN Syagrus macrocarpa Barb. Rodr. AR X EN X X NE Euphorbiaceae Gymnanthes schottiana Müll. Arg. AB/AR VU NE Fabaceae Bauhinia fusconervis (Bong.) Steud. AB EN X X NE Fabaceae Exostyles glabra Vogel AR CR X X VU Hypericaceae Hypericum mutilum L. HE X EN Lecythidaceae Cariniana legalis (Mart.) Kuntze AR X X X LC Monimiaceae Mollinedia glabra (Spreng.) Perkins AB/AR X VU X X NT Meliaceae Trichilia pseudostipularis (A. Juss.) AB NT X X C. DC. VU Orchidaceae Cattleya labiata Lindl. HE X X X VU Rubiaceae Carapichea ipecacuanha (Brot.) L. SB X Andersson

Syagrus macrocarpa Barb. Rodr. (Arecaceae) conhecida popularmente como maria- rosa (CNCFlora 2012.2), é classificada como “Em Perigo” pelo CNCFlora, avaliação que corrobora com a encontrada no Catálogo da Flora do Estado do Rio de Janeiro, e está protegida na Lista Oficial de Espécies da Flora Ameaçadas de Extinção (MMA 2014). A espécie apresenta distribuição restrita, com indivíduos isolados em pequenas populações, no leste de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espirito Santo (Flora do Brasil 2020 em construção 2019). Possui grande valor ornamental, econômico e nutricional, além de ser um dos principais componentes da Mata Atlântica, no entanto, as espécies de palmeiras são pouco estudadas, tornando-as mais vulneráveis a extinção (Alves et al. 2011, Bauermann et al. 2010). As espécies Justicia parahyba P.L.R.Moraes (Acanthaceae) e Bauhinia fusconervis (Bong.) Steud. (Fabaceae) ambas são consideradas como “Em Perigo” conforme Baumgratz et al. (2014) no Catálogo da Flora do Estado do Rio de Janeiro (2014). São espécies com baixo registro de ocorrências, sendo encontradas somente na Região Sudeste e sob o domínio fitogeográfico da Mata Atlântica (Flora do Brasil 2020 em construção 2019).

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Outra espécie com um grau elevado de risco de extinção no estado do Rio de Janeiro foi Exostyles glabra Vogel (Fabaceae), classificada como “Criticamente em Perigo” conforme o Catálogo da Flora do Estado do Rio de Janeiro (2014). É uma espécie arbórea, restrita a Mata Atlântica, considerada rara e possivelmente ameaçada no Brasil devido ao reduzido número de coleções presentes nos herbários (Flora do Brasil 2020 em construção 2019). De acordo com Mansano & Lewis (2004), essa espécie não é coletada há mais de 100 anos. Um longo tempo sem coletas, provoca falta de conhecimento da espécie, levando-a a riscos emergentes de extinção (Milward-de-Azevedo 2017). Com base nas coordenadas geográficas encontradas, foi possível observar que as espécies Exostyles glabra Vogel e Justicia parahyba P.L.R. Moraes não possuem registros nos herbários virtuais para a área delimitada da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul fluminense, sendo encontradas nessa área somente as dez espécies restantes (Figura 3). Apenas Cariniana legalis (Mart.) Kuntze (Lecythidaceae), Gymnanthes schottiana Müll. Arg. (Euphorbiaceae), Hypericum mutilum L. (Hypericaceae) e Justicia carnea Lindl. (Acanthaceae) foram encontradas na região do Vale do Paraíba fluminense (Figura 4). Além do mais, foi possível verificar que uma considerável quantidade de espécies ocorrem na sub-bacia do Baixo Paraíba do Sul e somente três espécies: Carapichea ipecacuanha (Brot.) L. Andersson (Rubiaceae), Cariniana legalis (Mart.) Kuntze (Lecythidaceae) e Trichilia pseudostipularis (A. Juss.) C. DC. (Meliaceae) são encontradas na sub-bacia do Muriaé/Pomba sendo Trichilia pseudostipularis a espécie de maior distribuição geográfica nessa região (Figura 3).

Figura 3. Mapa de distribuição geográfica das espécies pertencentes à Lista Vermelha ocorrentes na extensão da Bacia do Rio Paraíba do Sul fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.

Apesar da redução de habitats e da biodiversidade, a Mata Atlântica apresenta ainda uma grande riqueza florística, com altas taxas de endemismo já supracitadas. No entanto, a conservação da mesma é dificultada, devido ao tamanho reduzido de muitos dos fragmentos

19 Diversidade e Gestão 3(1): 13-22. 2019 e-ISSN: 2527-0044 http://itr.ufrrj.br/diversidadeegestao/ onde as espécies ocorrem, deixando-as ainda mais vulneráveis a perda da variedade biológica e a extinção. Como citado por Pinto et al. (2006), espécies ameaçadas e endêmicas, apresentam um papel essencial ao ecossistema por serem atribuídas como espécies indicadoras do estado de conservação do local nos quais pertencem. Sendo possível a partir delas, priorizar a proteção de determinado território e consequentemente das espécies nativas.

Figura 4. Mapa com a distribuição geográfica das espécies ocorrentes na região do Vale do Paraíba Fluminense, Rio de Janeiro, Brasil.

Conclusão Os levantamentos florísticos e as listas vermelhas são fundamentais para a conservação da biodiversidade, a partir deles são atualizados e descritos dados indispensáveis de proteção que auxiliam nas condutas públicas de defesa das espécies nativas, endêmicas ou ameaçadas de extinção. Além de aprimorar o conhecimento social a respeito da biodiversidade. Atualmente, mesmo com a reduzida taxa vegetacional de Mata Atlântica, o domínio continua sendo explorado e devastado pelo homem, levando as espécies a expressivas ameaças como citado anteriormente. A partir do resultado alcançado, foi possível observar que grande parte das espécies encontradas com alguma categoria de risco de extinção não ocorrem em áreas protegidas, deixando-as ainda mais susceptíveis, além de dificultar sua conservação. Sendo assim, são citadas como sugestões que os pesquisadores e gestores de UC’s onde há espécies em estado de extinção, desenvolvam ainda mais estudos direcionados aos levantamentos florísticos e as listas vermelhas. Afim de enriquecer os bancos de dados das espécies e posteriormente contribuir na recuperação dessas áreas, além de precaver e prevenir espécies suscetíveis ao desaparecimento. Recomenda-se também que os órgãos ambientais promovam ações de educação ambiental demonstrando a importância da biodiversidade

20 Diversidade e Gestão 3(1): 13-22. 2019 e-ISSN: 2527-0044 http://itr.ufrrj.br/diversidadeegestao/ existente e catalogada na região do Vale e do Rio Paraíba do Sul. Também, seria fundamental a criação de UC’s em áreas de ocorrência dessas espécies, ou então, a reintrodução destas nas áreas protegidas. Além do mais, ao reintroduzir espécies em seus habitats originais através dos meios de recuperação de áreas degradadas, será possível ligar fragmentos próximos, harmonizando o local e favorecendo o reaparecimento da fauna nativa.

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