Max Bill, a Crítica E O Ensino De Arquitetura No Brasil, 1948-1962
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MAX BILL, A CRÍTICA E O ENSINO DE ARQUITETURA NO BRASIL, 1948-1962 joão bittar fiammenghi orientação: josé lira tfg / fau-usp UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO MAX BILL, A CRÍTICA E O ENSINO DE ARQUITETURA NO BRASIL, 1948-1962 JOÃO BITTAR FIAMMENGHI ORIENTADOR: JOSÉ TAVARES CORREIA DE LIRA SÃO PAULO, JULHO DE 2020 Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte. e-mail: [email protected] << Imagem da capa: “Superfície hexagonal composta de 280 quadrados”, Max Bill, 1948- 1952. Adquirida pelo MAM-RJ em 1952, destruída no incêncio de 1978. Fonte: CORREIO DA MANHÃ. Artes Plásticas; Exposição de arte abstrata em Quitandinha. In: Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 21 fev.1953.; A obra de Bill ilustra o anúncio (sem título) da exposição permanente do MAM carioca. >> Imagem após a introdução: Conjunto Residencial Marquês de São Vincente, Gávea, Rio de Janeiro-RJ. Projeto do Departamento de Habitação Popular da Prefeitura do Distrito Federal- DHP, Affonso Eduardo Reidy (arq.), Carmem Portinho (eng.), 1952 - 1965. Fonte: VERONESI, Giulia. Affonso Eduardo Reidy. In: Zodiac, Milão, nº6, mai.1960, pp.76-77. (sem atribuição de autoria da foto na fonte) ao meu avô, Hermelindo operário e artista Agradeço ao José Lira, por estar sempre presente na orientação, ampliando meus horizontes, me instigando a dar um passo a mais, circunscrever questões, recuar um pouco; À Nilce Aravecchia, pela sugestão para me aproximar dos muitos temas que tocam Max Bill e sua crítica à arquitetura brasileira, e pela interlocução na sala de aula e no grupo de estudos, que trarei sempre comigo como base de formação; À Mônica Junqueira, pelos comentários e questionamentos feitos durante a disciplina de TFG, me ajudando a dar forma para este trabalho; Ao Victor Oliveira e à Clara Chahin pelas longas conversas e pela constante troca de inquietações; Ao Luca Fuser, pelo apoio à escrita e colocação de questionamentos fundamentais para este texto; À Dalva Thomaz, pelos apontamentos e observações valiosas; Ao Caco Neves, pelo apoio na concepção gráfica; Ao Juraj Kosturik, pela ajuda como poliglota; Aos companheiros de FAU e de vida, Bárbara Mühle, Bernard Tjabbes, Bianca Brigati, Bruna Oliveira, Clara Bartholomeu, Felipe Suzuki, Luisa Capalbo, Matheus Lima, Paula Ferreira, Pedro Fentanes, Pedro Sambrano, Tomás Milan, Tomas Vannucchi, Victor Maitino, Victoria Imasaki e Yumy Pompéia, pela presença e carinho. Este trabalho nasceu também da convivência com Alexandre Delijaicov, Ana Barone, Ana Castro, Ana Lanna, Dalva Thomaz, Joana Mello e Luciana Royer, como resultado da acumulação lenta de questões postas durante minha formação junto a estes professores, cuja generosidade intelectual e engajamento político me inspiram cotidianamente, mostrando que o conhecimento é construção coletiva e libertadora. Agradeço aos meus pais, Valeria Bittar e Luiz Fiaminghi pelo apoio incondicional e inspiração constante, porto seguro e norte. SUMÁRIO PREÂMBULO 12 INTRODUÇÃO 13 1 A QUERELA 1.1 “(...) NUMA FESTA DE INTELIGÊNCIA E BOM GOSTO” 24 1.2 “(…) BOMBAS ARRASA-QUARTEIRÃO NO ARRAIAL DOS NOSSOS ARQUITETOS” 28 1.3 A QUESTÃO (DE) MAX BILL 33 1.4 RESPOSTAS BRASILEIRAS, OU DEPOIS DA “DUCHA FRIA” 40 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO 55 2 PASSADO IMEDIATO 2.1 INTERMEZZO: DE DESSAU À ULM, BREVE TRAJETÓRIA DE MAX BILL 60 2.2 CONEXÕES ENTRE ZURIQUE, A RUA SETE DE ABRIL E O BELVEDERE DO TRIANON 71 2.3 O CENÁRIO CONTEMPORÂNEO DA CRÍTICA INTERNACIONAL 94 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO 104 3 RESSONÂNCIAS 3.1 DE NIEMEYER A ARTIGAS: DESCAMINHOS DA ARQUITETURA MODERNA 110 3.2 ENTRE O REAL E O CONCRETO 125 3.3 DE VOLTA A ULM: DILEMAS DA BOA FORMA 145 3.4 DE VOLTA A SÃO PAULO: DILEMAS DE UMA ESCOLA 150 3.5 A FAU-USP E O NOVO PERFIL DO ARQUITETO 160 3.6 BAUHAUS, ULM E OS GERMES DO ENSINO DE DESIGN NO BRASIL 172 3.7 DESIGN E PROJETO NA FAU-USP 185 REFERÊNCIAS DO CAPÍTULO 193 CONSIDERAÇÕES FINAIS 201 PREÂMBULO decisão em fazer esse TFG dessa forma, olhando para o passado, é um primeiro passo, como uma mise en place de ideias antes de me formar. Contar história Meu maior medo ao iniciar o Trabalho Final de Graduação (TFG) era pode ser também um ato propositivo, de se posicionar criticamente no mundo. me ver, depois de quase um ano de pesquisa e escrita, numa investigação demasiadamente pessoal, hermética, sem razão de ser numa universidade INTRODUÇÃO pública. Por outro lado, sob a orientação de José Lira, busquei colocar em questão qual seria a relevância do tema aqui explorado para uma finalização Para um trabalho final de graduação de um estudante da FAU-USP qual de graduação, o que sempre envolve, inevitavelmente, questões muito seria a atualidade das crises da arquitetura moderna brasileira dos anos 50? Por pessoais. Não se trata de uma dissertação, muito menos de uma tese, nem que nos debruçarmos sobre esse tema hoje, numa FAU tão diversa daquela de de uma corriqueira monografia de disciplina. Por que então fazer um TFG 1948, quando fundada, ou de 1962, ano de uma importante reforma de ensino? teórico, como dizem por aí? Parece que tenho que trazer certa justificativa, Por que a celeuma gerada pela crítica de Max Bill à então internacionalmente pois o estranhamento não vem só de colegas graduandos, mas também de celebrada arquitetura moderna brasileira nos interessaria numa reflexão sobre docentes. Escutei na própria disciplina de TFG que nessa altura da graduação, as questões do ensino de arquitetura em São Paulo e do chamado papel social para finalizá-la, deveríamos pela última vez, sem os constrangimentos do do arquiteto? É claro que sempre que iluminamos um acontecimento do mercado, nos entregar à atividade projetual e com esmero e liberdade em passado, o fazemos do presente, com olhos do presente, indagações atuais, projetar. Escutei de uma respeitada e veterana professora, que “não devemos do aqui-agora, FAU-USP, 2019-2020. Localizarei, assim, a vinda do arquiteto, ficar contando história”. Discordo. Vim aqui “contar história”, como aliás não designer, pintor e escultor suíço ao Brasil em 1953 como ponto de partida é assim tão incomum, nem inútil, na história dos TFGs na FAU. Nos últimos para estruturar reflexões que iniciei na disciplina de História da Arquitetura semestres da minha graduação minha inquietação foi historiográfica e não IV ministrada pela professora Nilce Aravecchia e no grupo de estudos CACAL projetual, portanto, decidi fazer um “TFG teórico”. Vou contar história, para o (Cultura, arquitetura e cidade na América Latina) e que dei continuidade na descontentamento daquela professora. optativa Historiografia crítica e projeto social, ministrada pelo professor José Hoje, em meio aos caos político e social de nosso país — com um Lira, orientador deste trabalho. macabro governo genocida-autoritário que nos espanta todos os dias Quando Nilce me convidou para participar do grupo de estudos, demonstrando que o pior sempre pode piorar — sinto que “contar uma já tínhamos lido em sua disciplina um texto do historiador da arquitetura história” que remonta a um período de otimismo no Brasil, o interregno argentino, Jorge Francisco Liernur1, que me fascinara profundamente. Pela democrático da grande década que durou 19 anos (1945-1964), tem seu motivo primeira vez, fui instigado a pensar a arquitetura moderna brasileira de de ser. Demarcada por dois regimes ditatoriais, a experiência cultural neste outro ponto de vista que não o norteatlântico ou que não se aproximaria período da democracia brasileira no qual se desdobram os acontecimentos da reação, mais ou menos rancorosa, ao “esquema de Lucio Costa”, como aqui narrados, foi para mim uma espécie de amuleto ou lembrete para seguir diria Otília Arantes. No CACAL, Nilce e Ana Castro trouxeram outros textos pensando, como arquiteto e urbanista recém-formado, que não nos faltam fundamentais para o amadurecimento da ideia que nos estimulava a olhar a ferramentas intelectuais e sensíveis para (re) construir, projetar, um Brasil ou um história da arquitetura como narrativa que vem de um determinado lugar. Essa mundo já muito imaginado pelos personagens desta trama. Hoje, parece que geografia epistemológica foi ganhando corpo nas discussões do grupo, ao ler o ciclo histórico onde cresci e iniciei minha formação na FAU se encerra. Os os trabalhos dos colegas, suas pesquisas, escutar questionamentos, entrar em sonhos otimistas da nova democracia brasileira revelaram-se espantosamente contato com autores, não só do campo disciplinar da arquitetura, como Said, efêmeros (ou na verdade não quisemos ver a sua fragilidade?) e se eclipsam Wallerstein, Grosfoguel, Quijano, Gorelik, entre tantos outros. Em conjunto com em meio a um cenário que não poderia ser mais trágico ou desanimador que a participação no grupo, cursei, primeiro como aluno e depois como monitor, o do primeiro semestre de 2020. A realidade é outra, a crise é evidente. Como a disciplina optativa sobre historiografia da arquitetura moderna. Nela, José atuar? E aqui lembro de Artigas: “Surge afinal a questão: onde ficamos? ou que Lira traçava um amplo panorama das correntes historiográficas da arquitetura, fazer? Esperar por um nova sociedade e continuar fazendo o que fazemos, ou abandonar os misteres de arquiteto, já que eles se orientam numa direção 1 LIERNUR, Jorge Francisco. Es el punto de vista, estúpido!. In: Arquitectura en teoria. hostil ao povo, e nos lançarmos na luta revolucionária completamente?” A 12 13 Escritos 1986-2010. Buenos Aires: Nobuko, 2010, pp. 273-288. partindo do século XIX chegando até as tendências e pesquisas mais recentes. Isso foi ressaltado inúmeras vezes durante a sequência de disciplinas de Recuperando as narrativas constitutivas do movimento moderno europeu história da arquitetura, de fundamentos sociais da arquitetura e do urbanismo e também brasileiro, entrei em contato, agora de maneira mais detida, com e de estudos da urbanização na FAU, ministradas pelas professoras Nilce textos de Banham, Zevi e Tafuri, além de Lucio Costa, da pioneira leitura Aravecchia, Joana Mello, Ana Lanna e Ana Castro.