INSPER Instituto De Ensino E Pesquisa Pedro Henrique De Oliveira Freitas Estudo Da Viabilidade Econômica Do Calendário Propost
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
INSPER Instituto de Ensino e Pesquisa Pedro Henrique de Oliveira Freitas Estudo da viabilidade econômica do calendário proposto pelo Bom Senso FC para a Série A do Campeonato Brasileiro São Paulo 2015 Pedro Henrique de Oliveira Freitas Estudo da viabilidade econômica do calendário proposto pelo Bom Senso FC para a Série A do Campeonato Brasileiro Monografia, para conclusão de curso em Economia; Insper: Instituto de Ensino e pesquisa; São Paulo Orientador: Nelson Mendes Cantarino São Paulo 2015 1 Resumo O seguinte estudo tem por objetivo analisar se o calendário proposto pelo Bom Senso FC é viável economicamente para os clubes da Série A do futebol brasileiro. Foram cruzados dados que explicam as receitas e despesas atuais dos clubes, buscando prever como as mesmas se comportariam na presença do calendário hipotético. Para fundamentar a análise, utilizou-se o racional microeconômico do indivíduo racional que aloca tempo entre lazer e trabalho. Abstract The following study has the objective of analyzing if the calendar proposed by Bom Senso FC for First Division Brazilian football has economic feasibility. Data explaining present clubs’ revenues and expenses were used, and the analysis tried to forecast how these data would behave if a hypothetic calendar was adopted. To fundament the analysis this study adopts microeconomic consumption theory of time allocation between leisure and work. 2 1. Introdução O futebol movimenta cerca de 36 bilhões de reais anuais no Brasil, o equivalente ao PIB do Paraguai (Pluri, 2012). Contudo, é também uma das únicas indústrias do país onde entre 80 e 85% dos seus trabalhadores ficam desempregados entre 6 e 9 meses ao ano. Isso acontece porque a grande maioria dos clubes profissionais do país não possui um calendário anual de competições, o que os força a cessar suas atividades durante um largo período do ano, normalmente após o término dos campeonatos estaduais. Dentro desse cenário, o Bom Senso FC surgiu como um grupo fundado por representantes da elite dos jogadores brasileiros. O Bom Senso visa primeiramente uma melhora das condições de trabalho de sua classe, a dos jogadores, mas acredita que suas propostas têm potencial de melhorar o futebol brasileiro como um todo. São duas principais propostas de mudança apresentadas pelo movimento. A primeira, de Fair Play Financeiro, está em negociação com a esfera legislativa do governo e com a CBF, e o regulamento do Campeonato Brasileiro de 2015 já conta com alguns aspectos demandados pelo Bom Senso FC. A segunda proposta é um calendário alternativo para o futebol brasileiro, que, na visão do movimento, atacaria ao mesmo tempo problemas apresentados nas duas extremidades econômicas do futebol. Para os clubes das Séries A e B, haveria uma redução no número de jogos por temporada, o que segundo o movimento poderia acarretar em uma melhora de qualidade nos jogos, com menor risco de lesões musculares, por exemplo. Já para os clubes que não disputam uma divisão nacional, haveria um calendário anual. Assim, os jogadores destes clubes, que ao término dos campeonatos estaduais hoje têm de deixar o futebol profissional até o ano seguinte, teriam emprego o ano inteiro. Nesse calendário, os estaduais deixariam de se fazer presentes no começo da temporada, e seriam disputados em julho, num formato mais enxuto, de copa, ocupando apenas 6 ou 7 datas, ao invés das quase 20 atuais. Sendo em julho, eles aconteceriam durante o tempo em que normalmente as seleções disputam suas competições, e com o campeonato brasileiro interrompido durante esse período, os 3 tradicionais desfalques de selecionáveis com os quais os times sofrem ocorreriam apenas em campeonatos de teoricamente menor importância, como são os estaduais. Além disso, a redução de datas dos estaduais reduziria o elevado número de jogos por temporada que os times grandes atualmente fazem. A segunda mudança seria a criação da quinta divisão nacional, abrangendo todos os times menores que hoje não possuem calendário anual. Essa quinta divisão seria regionalizada e, segundo o Bom Senso FC, possibilitaria os times pequenos a jogarem no mínimo 32 jogos na temporada, distribuídos durante todo o ano. Além disso, o formato das séries C e D sofreria algumas mudanças, seriam criadas as classificatórias para as “Copas Estaduais”, jogadas pelos clubes menores, e a Supercopa do Brasil, jogada entre o campeão do Campeonato Brasileiro e o da Copa do Brasil. Enquanto isso, a Copa do Brasil, a Sul Americana e a Copa Libertadores se manteriam com a mesma forma de disputa, não sendo variáveis que alteram o número de datas da temporada brasileira. Para que as propostas do Bom Senso FC sejam consideradas viáveis economicamente, as duas extremidades econômicas do futebol brasileiro teriam que se deparar com um novo cenário que as beneficie. Ou seja, tanto os clubes da primeira divisão quanto os que hoje jogam apenas quinze jogos na temporada precisam enxergar um cenário de provável melhora econômica. O problema dos grandes é saber se jogando menos jogos por temporada haverá recurso para manter os caros custos praticados. Seria necessária uma maior atratividade média por jogo. Para os clubes menores, que hoje jogam quinze jogos em três meses, seriam necessárias receitas o bastante para cobrir custos durante doze meses, jogando trinta e dois jogos. Com quatro vezes mais tempo de atividade e apenas o dobro de jogos, os menores teriam que também conseguir maior atratividade média nos jogos. Essa atratividade maior teria de vir do aumento das receitas que Silva e Filho (2006) chamam de alternativas, ou seja, que fogem da receita que era considerada principal antes da Lei Pelé, vinda da venda do passe de jogadores. Um aumento da bilheteria média para os grandes, dado que todos os jogos do Brasileirão seriam aos finais de semana, além de uma maior audiência de televisão, possibilitando margem para negociação de maiores direitos de TV e patrocínios, seriam exemplos claros para os clubes grandes. Para os clubes pequenos, o Bom Senso propõe que 4 atividades anuais levariam a uma maior confiança e estabilidade dos patrocinadores locais, levando também a receitas mais estáveis e abrindo a possibilidade de maior planejamento. Esse estudo propõe uma análise focada na Série A do Campeonato Brasileiro, onde informações, apesar de não serem abundantes, estão pelo menos parcialmente disponíveis. Propõe-se uma análise com enfoque microeconômico, analisando componentes relevantes da receita dos clubes e seu provável comportamento perante um calendário hipotético. A forma de análise será discutida em maior detalhe na metodologia. Na próxima seção, será discutida a revisão de literatura. 5 2. Revisão de literatura O Bom Senso FC nasceu da revolta de jogadores com experiência na Europa que, em sua volta ao futebol brasileiro sentiram necessidades de mudanças. Em seu livreto estão expostas suas propostas, já citadas na introdução, e lá estão nomeados os diretores, contratados pelos próprios jogadores, responsáveis pelo projeto. As propostas datam de 2014, e aqui focaremos na análise do calendário por eles proposto. Em suas propostas, o Bom Senso FC busca explicar porque uma mudança de calendário é importante, se baseando principalmente na baixa empregabilidade dos jogadores de futebol dos menores clubes, aliado ao que a entidade considera um excesso de jogos dos times da elite. Segundo eles, um clube de série A brasileira joga mais jogos na média do que clubes das principais ligas europeias. Esse excesso prejudica o alto rendimento, aumentando o risco de lesões. Segundo Fernandes (2011), o “excesso de treinamento e a grande quantidade de jogos têm, comprovadamente, influenciado no acontecimento das lesões nos jogadores de futebol”. Na nova fórmula, os estaduais deixariam de começar em fevereiro, no começo da temporada, quando começariam os campeonatos brasileiros de todas as divisões. Eles seriam recolocados em junho e julho com uma fórmula mais enxuta, num formato parecido ao da Copa do Mundo da FIFA. Esses dois meses, aliás, normalmente formam o período onde se dão as competições por seleções, como a Copa América, a Copa das Confederações e a Copa do Mundo. Passa a ser interessante, portanto, pausar o brasileiro, colocado pelo Bom Senso FC como “Produto Premium” Bom Senso (2014, p. 16), para a disputa daquelas que seriam denominadas Copas Estaduais. O Campeonato Brasileiro das séries A e B não teriam sua fórmula alterada, com vinte clubes disputando o título por pontos corridos em turno e returno. As séries C e D seriam modificadas, começando regionalizadas e dai partindo para um afunilamento nacional. Além dessas existentes, seria criada a série E, que englobaria todos os outros clubes profissionais do país e daria a possibilidade de um calendário anual para todos os clubes. Ela começaria ainda mais regionalizada, 6 buscando diminuir os custos de viagem dos clubes. O resultado de quantos jogos um clube de cada divisão joga atualmente e passaria a jogar pode ser visto na Figura 1 do Anexo, retirado do livreto de propostas do Bom Senso FC (2014). A segunda proposta do Bom Senso FC que não será aqui analisada, porém será tomada como se já em curso, é a do Fair Play Financeiro, onde um clube basicamente não pode gastar mais do que arrecada em um dado horizonte. Aceitando o Fair Play, será possível estruturar um modelo de viabilidade onde os clubes não aumentam sua dívida de maneira irresponsável, o que além de ser perigoso financeiramente, traria evidentes complicações para os modelos. Nesse tema, o estudo realizado durante os campeonatos brasileiros de 2001 e 2002 por Pereira et al (2004) mostra via uma regressão entre os balanços dos clubes e seu resultado em campo que não houve uma correlação significativa entre as despesas (salários e transferências) de um clube com seu futebol profissional e sua colocação na tabela. Ainda, a hipótese de que os primeiros colocados apresentam resultado satisfatório (superávit) foi rejeitada. Ainda que não sejam exatamente recentes, esses resultados mostram o quanto o fair play financeiro é importante para conter o ímpeto de dirigentes, muitas vezes descontrolado do ponto de vista contábil, em busca de títulos.