COVID-19: Evidências Da Segurança Das Competições De Futebol No Brasil
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COVID-19: Evidências da Segurança das Competições de Futebol no Brasil Jorge Pagura, Clovis Arns da Cunha, Roberto Nishimura, Sergio Wey, André Pedrinelli, Sergio Cimeman, Andreia Picanço, Sérgio Freire, André Guerreiro, Edilson Thiele, Carlos EF Starling, Braulio Couto Comissão Médica Especial da CBF A CBF - Confederação Brasileira de Futebol desenvolveu protocolo para o início das atividades do futebol no Brasil desde abril do ano corrente (CBF, Comissão Médica Especial, 2020). As inúmeras recomendações apresentadas têm respaldo nas mais confiáveis entidades científicas mundiais bem como das mais conceituadas Instituições brasileiras e internacionais. Com o principal objetivo de proteger todos os participantes do esporte mais popular no Brasil, a CBF não só divulgou, orientou todos os clubes de futebol a seguirem as práticas protetivas recomendadas, mas também mantém atualização constante dessas medidas fundamentais para a prevenção da doença. O Protocolo da CBF (Guia Médico de Sugestões Protetivas para o Retorno às Atividades do Futebol Brasileiro) é orientado por cinco pilares fundamentais: 1. Monitoramento clínico por meio de inquérito epidemiológico e testagem de todos os atletas elegíveis para uma partida para detecção do vírus SARS-CoV-2 por Reação em Cadeia da Polimerase com Transcriptase Reversa com reação de amplificação em tempo real (PCR em tempo real). 2. Isolamento de indivíduo RT-PCR+ por pelo menos 10 dias (CDC, 2020a; CDC, 2020b): a. Pessoas com RT-PCR+ e assintomáticas: 10 dias de isolamento, contando o 1º dia o dia do RT-PCR+ b. Indivíduo com sintomas, mesmo que leves, pelo menos 10 dias de isolamento, contando o 1º dia de sintomas com liberação às atividades se pelo menos 72 horas se passaram desde a recuperação (sem febre sem o uso de medicamentos e melhora de sintomas respiratórios) e, pelo menos 10 dias se passaram desde quando os primeiros sintomas apareceram. 3. Liberação para participar de jogos de atletas e comissão técnica, contactantes próximos de atletas RT-PCR+. 4. Reforço de medidas preventivas: higienização frequente de mãos com água e sabão ou álcool 70%, etiqueta respiratória, etiqueta de cumprimento, uso de máscaras e/ou protetores faciais de uso individual, limpeza frequente de superfícies e equipamentos, priorização por uso de áreas livres e ventiladas, distanciamento social. 5. Cumprimento rigoroso das normas contidas no Protocolo da CBF, no que diz respeito aos Centros de Treinamentos e outras estruturas do Clube e Concentração. Este estudo descreve a infectividade e o estado imunológico de atletas profissionais de futebol ao longo de temporadas completas (masculino, feminino e com idade inferior a 23, 20, 17 e 16) durante a pandemia de COVID-19 no Brasil, um país com alta taxa de transmissão comunitária. No país do futebol, 79% dos 361 dias após o primeiro caso de COVID-19 estavam acima da taxa de risco moderado e 53%, 191 dos 361 dias estavam acima do risco muito alto de transmissão comunitária de COVID-19 (Figura 1). Nesse cenário, é seguro manter partidas de futebol, campeonatos de futebol podem ser realizados? Figura 1 – Transmissão comunitária de COVID-19 no Brasil: taxa de incidência acumulada de novos casos em 14 dias, Fev/2020-Fev/2021. Resultados Após seis meses (Ago/2020-Fev/2021), um total de 13.237 atletas de futebol masculino e feminino foram monitorados e analisados: 10.498 ainda então suscetíveis a SARS-CoV-2 (79%), 752 IgG+ (6%) e 1.987 SARS- CoV-2 positivos (15%; Figura 2). Nesse período, foram realizadas e analisadas 2.423 partidas de futebol, o equivalente a 3.635 horas de jogo: 89.052 testes RT-PCR foram realizados com resultados de 1.987 SARS- CoV-2 (+) (2,2%; Quadro I e Tabela 1). A taxa de SARS-CoV-2 positiva é fortemente afetada pelo número de testes por jogador (Figura 3). Foram analisadas 67 interações entre equipes com pelo menos três jogadores RT-PCR (+): nenhum atleta infectado após 3 semanas na equipe adversária (Tabela 2). Em uma partida com um participante SARS-CoV-2 (+) jogando durante metade do tempo de jogo, nenhum jogador foi infectado após o incidente em ambas as equipes (Tabela 3). Figura 2 – Perfil sorológico dos atletas profissionais de futebol do Brasil: dados coletados entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021. Quadro I – Resumo dos dados coletados entre Ago/2020 e Fev/2021. DIVISÃO/CATEGORIA Clubes Clubes coorte Partidas Atletas Coorte Testes Positivos Sorologias Planilhas de jogo Inquéritos Série A (M) 20 20 380 1.037 11.514 359 124 760 18.874 Série B (M) 20 20 380 901 11.788 327 89 760 17.470 Série C (M) 20 20 206 827 7.504 178 96 412 9.786 Série D (M) 68 68 518 2.589 22.173 502 105 1.036 25.476 Copa do Brasil (M) 31 0 50 0 1.582 5 0 100 2.378 Copa do Nordeste (M) 14 0 15 0 966 18 0 44 966 Pré Copa do Nordeste (M) 8 8 16 276 292 1 0 32 368 Copa Verde (M) 24 24 30 710 919 28 0 60 1.379 Brasileiro Aspirantes (M) 16 16 94 679 3.422 93 59 188 4.373 Copa do Nordeste Sub 20 (M) 18 18 33 407 943 25 0 66 1.360 Brasileiro Sub 20 (M) 20 20 204 1.272 8.578 215 123 408 11.246 Copa do Brasil Sub 20 (M) 32 22 46 614 2.011 28 7 92 2.392 Supercopa do Brasil Sub 20 (M) 2 0 1 0 16 0 0 2 42 Brasileiro Sub 17 (M) 20 20 94 963 4.403 80 76 188 5.282 Copa do Brasil Sub 17 (M) 32 23 46 614 1.851 8 1 92 2.270 Supercopa do Brasil Sub 17 (M) 2 0 1 0 34 0 0 2 47 Brasileiro A1 (F) 16 16 94 501 4.016 40 50 188 4.633 Brasileiro A2 (F) 36 36 103 1.060 4.317 53 20 206 4.493 Brasileiro Sub 16 (F) 12 12 22 229 502 9 2 44 820 Brasileiro Sub 18 (F) 24 24 90 558 2.221 18 0 180 3.304 Total 435 367 2.423 13.237 89.052 1.987 752 4.860 116.959 Tabela 1 – Resumo dos resultados por campeonato: dados coletados entre Agosto/2020 Fevereiro/2021. Média de testes #testes RT-PCR para Número de (RT-PCR) por Taxa de SARs- Campeonato SARS-CoV-2 atletas jogador #SARs-Cov-2 (+) Cov-2 (+) Série A (M) 11.514 1.037 11 359 3,1% Série B (M) 11.788 901 13 327 2,8% Série C (M) 7.504 827 9 178 2,4% Série D (M) 22.173 2.589 9 502 2,3% Copa do Brasil (M) 1.582 1.531 1 5 0,3% Copa do Nordeste (M) 966 345 3 18 1,9% Pré Copa do Nordeste (M) 292 276 1 1 0,3% Copa Verde (M) 919 710 1 28 3,0% Brasileiro Aspirantes (M) 3.422 679 5 93 2,7% Copa do Nordeste Sub 20 (M) 943 407 2 25 2,7% Brasileiro Sub 20 (M) 8.578 1.272 7 215 2,5% Copa do Brasil Sub 20 (M) 2.011 1.140 2 28 1,4% Supercopa do Brasil Sub 20 (M) 16 201 0 0 0,0% Brasileiro Sub 17 (M) 4.403 963 5 80 1,8% Copa do Brasil Sub 17 (M) 1.851 1.070 2 8 0,4% Supercopa do Brasil Sub 17 (M) 34 128 0 0 0,0% Brasileiro A1 (F) 4.016 501 8 40 1,0% Brasileiro A2 (F) 4.317 1.060 4 53 1,2% Brasileiro Sub 16 (F) 502 229 2 9 1,8% Brasileiro Sub 18 (F) 2.221 558 4 18 0,8% Total 89.052 - - 1.987 2,2% Obs.: M = masculino; F = feminino. Figura 3 – Relação entre número médio de teste e taxa de positividade para SARs-CoV-2: há uma forte correlação positiva entre o número de testes realizados nos atletas de uma competição e a taxa de positividade da divisão/categoria de competição. Tabela 2 – Resumo das interações em partidas em que o time adversário apresentou jogador afastado com RT-PCR+ nos testes pré-jogo: os resultados indicam que não há transmissão de COVID-19 durante a realização do jogo, em campo. Total de PCR+ Total de testes PCR+ nos Taxa de PCR+ nos previamente realizados nos próximos próximos 10 dias no Série Jogo à partida próximos 10 dias 10 dias time adversário A Atlético GO X Flamengo (12/Ago) 7 36 0 0,0% A Goiás X Fortaleza (19/Ago) 3 40 0 0,0% A Athlético X Fluminense (22/Ago) 6 40 0 0,0% A Flamengo X Palmeiras (27/Set) 15 17 0 0,0% A Fluminense X Coritiba (28/Set) 8 43 0 0,0% A Grêmio X Internacional (03/Out) 3 43 0 0,0% B CSA X Guarani (08/Ago) 10 65 0 0,0% B Chapecoense X Oeste (9/Ago) 11 53 3 5,7% B Oeste X Chapecoense (9/Ago) 11 41 2 4,9% B CSA X Chapecoense (11/Ago) 10 33 1 3,0% B Náutico X Operário (11/Ago) 3 45 0 0,0% B Oeste X CRB (12/Ago) 3 56 0 0,0% B Juventude X Paraná (14/Ago) 3 39 0 0,0% B Sampaio Correa X Chapecoense (16/Ago) 6 29 0 0,0% B Sampaio Correa X Figueirense (19/Ago) 4 40 0 0,0% B Sampaio Correa X Ponte Preta (29/Ago) 6 37 0 0,0% B Confiança X Juventude (8/Set) 5 17 0 0,0% B Confiança X Ponte Preta (27/Set) 6 58 0 0,0% B Figueirense X Oeste (2/Out) 4 37 0 0,0% B América MG X Guarani (3/Out) 3 73 0 0,0% B Avaí X CSA (13/Out) 4 21 0 0,0% B Figueirense X Sampaio Correa (14/Out) 6 13 0 0,0% B Sampaio Correa X Brasil de Pelotas (3/Nov) 5 55 1 1,8% C Imperatriz X Treze (8/Ago) 13 22 0 0,0% C Ypiranga X Brusque (8/Ago) 7 44 0 0,0% C Vila Nova X Manaus (8/Ago) 3 15 0 0,0% C Santa Cruz X Vila Nova (7/Nov) 5 17 0 0,0% C Criciúma X Londrina (10/Ago) 4 22 0 0,0% C Imperatriz X Jacuipense (15/Ago) 5 19 0 0,0% C Ypiranga X Londrina (16/Ago) 6 24 0 0,0% C Imperatriz X Botagofo PB (5/Set) 3 20 0 0,0% C Criciúma X São José (25/Set) 4 18 0 0,0% C Remo X Ferroviário (17/Out) 4 13 0 0,0% C Jacuipense X Imperatriz (18/Out) 3 4 0 0,0% C São Bento X Criciúma (26/Out) 14 19 0 0,0% D Goiânia X Real Noroeste (19/Set) 9 24 0 0,0% D Vitória da Conquista X ABC (1/Out) 9 38 0 0,0% D Central Caruauru - PE X Jaciobá (19/Set) 8 22 0 0,0% D Villa Nova MG X Tupynambas (7/Nov) 8 21 0 0,0% D Santos AP X Baré (1/11) 10 20 1 5,0% D Palmas X Villa Nova (20/Set) 8 42 0 0,0% D Cabofriense X Cascavel (20/Set) 7 34 0 0,0% D Caldense - MG X Brasiliense (20/Set) 6 26 0 0,0% D Bahia de Feira - BA X Gama (17/Out) 6 56 2 3,6% D Vitória da Conquista X Potiguar (4/Out) 6 28 0 0,0% D Central Caruauru - PE X Itabaiana (27/Set) 5 54 0 0,0% D Bahia de Feira - BA X Gama (21/Out) 6 59 1 1,7% Aspirantes Juventude Aspirantes X Sampaio Correa (18/Out) 3 17 0 0,0% Aspirantes Fluminense Aspirantes X Avaí (17/Out) 2 18 0 0,0% Sub 17 São Paulo Sub 17 X Santos (18/Out) 5 37 0 0,0% Sub 17 Cruzeiro Sub 17 X Goiás (7/Nov) 2 13 0 0,0% Sub 17 Goiás Sub 17 X Fluminense (11/Out) 2 35 0 0,0% Sub 20 Vitória Sub 20 X Ceará (11/Out) 6 72 0 0,0% Sub 20 Fluminense Sub 20 X Cruzeiro (14/Out) 5 19 0 0,0% Sub 20 Vitória Sub 20 X Bahia (14/Out) 5 39 0 0,0% Sub 20 Vasco da Gama Sub 20 X Santos (15/Out) 6 33 0 0,0% Tabela 3 – Resumo das interações em partidas em que o time adversário apresentou jogador em campo RT-PCR+ (o atleta atuou durante o 1º tempo do jogo): os resultados indicam que não há transmissão de COVID-19 durante a realização do jogo, em campo, mesmo neste cenário.