CONTRIBUTO PARA A HIGIENE ORAL DE UMA POPULAÇÃO PORTUGUESA COM FENDA LÁBIO-PALATINA

2018

Carla Rita Rodrigues Mendes

CONTRIBUTO PARA A HIGIENE ORAL DE UMA POPULAÇÃO PORTUGUESA COM FENDA LÁBIO-PALATINA

Tese apresentada na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto para obtenção do grau de Doutor em Medicina Dentária

Orientador Professora Doutora Maria Helena Raposo Fernandes Professora Catedrática da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto

Coorientadores Professora Doutora Maria da Conceição Antas de Barros Menéres Manso Professora Associada da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade Fernando Pessoa

Dr. António Manuel Martins Bessa Monteiro Médico Especialista em Cirurgia Pediátrica

Conflito de interesses Declaro que os indivíduos com fenda lábio-palatina envolvidos neste estudo não auferiram nem virão a auferir de benefícios materiais de qualquer espécie, obtidos diretamente ou por interposta pessoa ou entidade. Declaro também que no âmbito do presente estudo, não recebi qualquer espécie de remuneração ou outro benefício material, obtido diretamente ou através de qualquer interposta entidade.

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Resumo

Introdução: As fendas lábio-palatinas – FL/P, (fenda labial superior – FL; fenda do lábio e do palato – FLP ou fenda palatina isolada – FP) são as malformações congénitas major mais comuns da face e podem ocorrer isoladamente ou com síndromes polimalformativas. Clinicamente, observa-se uma alteração anátomo-funcional de uma ou de várias estruturas – lábio, processo alveolar e palato. Devido às anomalias ósseas e dentárias, a remoção da placa bacteriana é muito dificultada e a sua acumulação está na origem de diversos problemas de saúde oral, como a elevada incidência de cárie dentária e doença periodontal. Para manter a saúde oral é necessário atuar precocemente e tendo como foco a prevenção. A lacuna existente, no que respeita à higienização da área da FL/P, está na base deste trabalho de investigação.

Objetivos: Desenvolver um dispositivo de fácil adaptação a uma escova de dentes convencional – cleft toothbrush – para melhor higienização da área da FL/P e avaliar a respetiva eficácia na remoção da placa bacteriana bem como os efeitos da escovagem na microbiota oral na área da fenda.

Métodos: A metodologia incluiu várias fases: – caracterização de uma população de 240 indivíduos com FL/P através de um estudo transversal descritivo e consulta dos registos clínicos para recolha da informação. – realização de uma revisão sistemática relativa à higienização oral de crianças com FL/P, para o conhecimento do estado da arte. – desenvolvimento de um dispositivo para a higienização da área da FL/P – cleft toothbrush. Incluiu as fases de desenho e planeamento do dispositivo; de projeção do modelo 3D no SOLIDWORKS®; de análise por simulação de elementos finitos no SOLIDWORKS®Simulation e de construção de um protótipo por uma técnica de modelagem de deposição por fusão 3D. – avaliação da eficácia da cleft toothbrush na remoção da placa bacteriana na área da FL/P e dos efeitos da escovagem na microbiota local, numa amostra de 45 e 60 crianças, respetivamente (selecionada aleatoriamente da amostra inicial de 240 indivíduos). Efetuou-se um estudo do tipo quasi-experimental, com a duração de 60 dias e 4 momentos de avaliação, em que se analisou (i) placa bacteriana através de um índice de

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placa bacteriana adaptado e (ii) a microbiota, que incluiu a determinação da diversidade bacteriana por sequenciação de nova geração do gene 16S rRNA de zaragatoas orais da área da fenda e a contagem total de bactérias Gram-positivo e Gram-negativo.

Resultados: A caracterização da amostra evidenciou que a FLP e a FP são os grupos mais prevalentes na população Portuguesa. As fendas unilaterais são mais comuns do que as bilaterais e ocorrem com mais frequência no lado esquerdo. As FP são mais frequentemente encontradas em entidades sindrómicas. A FL/P é mais diagnosticada nos exames de diagnóstico ecográficos pré-natais nas décadas mais recentes, sendo a FP a menos diagnosticada in utero. Na revisão sistemática relativa à higienização oral de crianças com FL/P constatou-se que são poucos os estudos que endereçam aspetos relacionados com a prevenção da cárie dentária e a higienização da área da fenda. A cleft toothbrush (Registo Provisório de Patente Portuguesa nº 110683 W, Anexo 9) é um dispositivo que se adapta a uma escova de dentes convencional. Possui uma angulação entre o cabo e a ponta, tendo esta forma em chama com cerdas em 360°. A cleft toothbrush mostrou elevada eficácia na remoção da placa bacteriana na área da fenda. A caracterização da microbiota oral revelou uma grande diversidade de bactérias Gram-negativo e Gram-positivo na placa bacteriana na área da fenda. Com a utilização da cleft toothbrush verificou-se uma diminuição significativa da contagem total de bactérias Gram-negativo e Gram-positivo habitualmente associadas com a doença periodontal e cárie dentária, respetivamente.

Conclusões: A cleft toothbrush melhora a higienização da área da fenda e obteve uma excelente aceitação por parte das crianças e dos seus cuidadores. A introdução no mercado deste dispositivo poderá contribuir para a melhoria significativa da higiene e condição dos tecidos da área da FL/P, ou seja, da manutenção da saúde oral dos indivíduos com FL/P.

Palavras-chave: fenda lábio-palatina; classificação de Spina; higiene oral; escova de dentes; cleft toothbrush; remoção de placa bacteriana; índice de placa bacteriana; microbiota oral.

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Abstract

Introduction: Cleft lip and palate – CL/P, (upper cleft lip – CL; cleft lip and palate – CLP or isolated cleft palate – CP) are the most common major congenital malformations of the face and may occur alone or with polymorphic syndromes. Clinically, an anatomic-functional alteration of one or several structures - lip, alveolar process and secondary palate is observed. Due to bone and dental anomalies, removal of dental plaque is very difficult, and its accumulation is responsible for several oral health problems, such as the high incidence of dental caries and periodontal diseases. To preserve the oral health, it is necessary to act early and focusing on prevention. The gap in this area, on the oral hygiene of the FL/P, is the basis of this research work.

Objectives: To develop a device easily adaptable to a conventional toothbrush – “cleft toothbrush”, to improve the cleaning of the CL/P area; to evaluate its efficacy in the removal of bacterial plaque and the effects on the oral microbiota of the cleft area.

Methods: The methodology included several phases: – characterization of a population of 240 individuals with CL/P through a cross- sectional descriptive study and consultation of the clinical records for information collection. – a systematic review regarding the oral hygiene of children with CL/P, for the knowledge of the state of the art. – development of a device for the hygiene of the CL/P area – “cleft toothbrush”. It included the design and planning of the device, 3D modeling in SOLIDWORKS®, finite element simulation analysis in SOLIDWORKS®Simulation and construction of a prototype by a 3D fusion deposition modeling technique. – evaluation of the efficacy of the “cleft toothbrush” in the removal of bacterial plaque in the CL/P area and the effects of brushing on the local microbiota, using a sample of 45 and 60 children, respectively (randomly selected from the initial sample of 240 individuals). A quasi-experimental study was conducted, lasting 60 days and with 4 evaluation moments, namely (i) assessment of the dental plaque through an adapted plaque index, and (ii) analysis of the microbiota in swabs of the cleft area, which included the evaluation of the bacterial diversity using Next-generation Sequencing of

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16S rRNA gene and the total count of Gram-positive and Gram-negative . Results: Characterization of the sample population showed that CLP and CP, respectively, are the most prevalent in the Portuguese population. Unilateral clefts are more common than bilateral clefts and occur more frequently on the left side. CP is most frequently found in syndromic entities. CL/P is increasingly diagnosed in the pre- natal ultrasound diagnostic exams in recent decades, with CP being the least diagnosed in utero. In the systematic review on the oral hygiene of children with CL/P, it was found that few studies address aspects related to dental caries prevention and hygiene of the cleft area. The “cleft toothbrush” (Patent request nº 110683 W, Annex 9), is an add-on device to a conventional toothbrush. It has an angulation between the handle and the tip, and this has a flame shape with 360° bristles. The “cleft toothbrush” presented high efficacy in removing the dental plaque from the cleft area. The characterization of the oral microbiota showed a great diversity of Gram-negative bacteria and Gram-positive bacteria in the cleft area. The use of the “cleft toothbrush” showed a significant decrease on the total counts of Gram-negative and Gram-positive bacteria usually associated with periodontal disease and dental carie, respectively.

Conclusions: The “cleft toothbrush” improves the hygiene of the cleft area and has been well accepted by children and caregivers. The marketing of this device may contribute to a significant improvement in the hygiene and condition of the tissues in the CL/P area, that is, in the maintenance of the oral health of individuals with CL/P.

Keywords: cleft lip and palate; Spina classification; oral hygiene; conventional toothbrush; “cleft toothbrush”; removal of dental plaque; bacterial plaque index; oral microbiota.

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Agradecimentos

É imperativo enaltecer o especial apoio prestado ao desenvolvimento deste trabalho de investigação a:

Professora Doutora Maria Helena Fernandes, FMDUP; Professora Doutora Conceição Manso, UFP; Dr. Bessa Monteiro, Hospital Lusíadas; Dr. Rowney Furfuro, Clinica Compor; Dr. Miguel Leão, Hospital São João; Professor Doutor Joaquim Gabriel, FEUP; Pequenos heróis, Grupo Lipi.

“Há homens que lutam um dia e são bons, há outros que lutam um ano e são melhores, há os que lutam muitos anos e são muito bons. Mas há os que lutam toda a vida e estes são os imprescindíveis”. Bertolt Brecht

Obrigada

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Membros do Conselho Científico da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto

Doutor Afonso Manuel Pinhão Ferreira, Professor Catedrático Doutora Ana Paula Macedo Coelho Augusto, Professora Auxiliar Doutor António Cabral de Campos Felino, Professor Catedrático Doutor António Marcelo de Azevedo Miranda, Professor Auxiliar Doutor César Fernando Coelho Leal da Silva, Professor Associado com Agregação Doutor Filipe Poças de Almeida Coimbra, Professor Auxiliar com Agregação Doutor Germano Neves Pinto da Rocha, Professor Associado Doutora Inês Alexandra Costa Morais Caldas, Professora Associada com Agregação Doutora Irene Graça Azevedo Pina Vaz, Professora Associada com Agregação Doutor João Carlos Antunes Sampaio Fernandes, Professor Catedrático Doutor Jorge Manuel de Carvalho Dias Lopes, Professor Catedrático Doutor José António Ferreira Lobo Pereira, Professor Auxiliar Doutor José António Macedo de Carvalho Capelas, Professor Associado com Agregação Doutora Maria Benedita Almeida Garrett Sampaio Maia Marques, Professora Auxiliar com Agregação Doutora Maria Cristina Pinto Coelho Mendonça de Figueiredo Pollmann, Professora Associada com Agregação Doutora Maria de Lurdes Ferreira Lobo Pereira, Professora Auxiliar Doutora Maria Helena Guimarães Figueiral da Silva, Professora Catedrática Doutora Maria Helena Raposo Fernandes, Professora Catedrática Doutor Mário Jorge Rebolho Fernandes da Silva, Professor Catedrático Doutor Mário Ramalho de Vasconcelos, Professor Associado com Agregação Doutor Miguel Fernando da Silva Gonçalves Pinto, Professor Catedrático Doutor Paulo Rui Galrão Ribeiro de Melo, Professor Associado com Agregação Doutor Pedro de Sousa Gomes, Professor Associado

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Lista de abreviaturas

DNA Deoxyribonucleic acid Ácido Desoxirribonucleico DPN Diagnóstico pré-natal FL Fenda labial, grupo I de Spina FL/P Fenda lábio e/ou palatina FLP Fenda do lábio e do palato, grupo II de Spina FP Fenda palatina, grupo III de Spina IP Índice de placa bacteriana IPa Índice de placa bacteriana adaptado IPa-F Índice de placa bacteriana adaptado da fenda IPa-SF Índice de placa bacteriana adaptado sem os dentes adjacentes à fenda NUTS Nomenclatura portuguesa de unidades territoriais para fins estatísticos Operational taxonomic unit OTU Unidade taxonómica operacional Palato I Palato primário Palato II Palato secundário Polymerase Chain Reaction PCR Reação em cadeia da polimerase Ribosomal RNA rRNA ARN ribossómico Ribossomal Database Project RDP Banco de dados ribossómico

Índice de anexos

página 1 Autorização para utilização de figuras e registos iconográficos ...... 153 2 Parecer da comissão de ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto 159 3 Consentimento informado ...... 163 4 Explicação do estudo ...... 167 5 Ficha clínica de observação intraoral – Índice de placa bacteriana ...... 171 6 Autorização da clínica para a realização do estudo ...... 175 7 Questionário 1 ...... 179 8 Questionário 2 ...... 183 9 Registo de Patente ...... 187 10 Convite para produção de um vídeo de divulgação da cleft toothbrush ……………...... 193

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Índice de figuras página Figura 1 Desenvolvimento do lábio superior ...... 10 Figura 2 Fusão das cristas palatinas ...... 11 Figura 3 Distribuição segundo a década: os casos de fenda lábio-palatina (FL/P) e o diagnóstico pré-natal (DPN) (S/I; detetado; não detetado e total de 33 casos) ...... Figura 4 Distribuição segundo a década: os grupos de fenda lábio-palatina (FL/P) (grupo I; 34 II; III e IV) e o diagnóstico pré-natal (DPN) (detetado; não detetado) ...... Figura 5 Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo I incompleta; a) e b) unilateral esquerda, extra-oral e intra-oral, respetivamente; c) e d) unilateral 41 direita, extra-oral e intra-oral, respetivamente ...... Figura 6 Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo I incompleta bilateral; 41 a) e b) extra-oral e intra-oral, respetivamente ...... Figura 7 Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo I completa unilateral 42 esquerda; a) e b) extra-oral e intra-oral, respetivamente ...... Figura 8 Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo II; a) e b) unilateral direita, extra-oral e intra-oral, respetivamente; c) e d) unilateral esquerda, extra- 42 oral e intra-oral, respetivamente ...... Figura 9 Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo III; a) incompleta; b) 43 completa ...... Figura 10 Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo IIa – classificação de 45 Spina, grupo I completo e grupo III incompleto ...... Figura 11 Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo IIa – classificação de 45 Spina, grupo I incompleto e grupo III completo ...... Figura 12 Fluxo de informação com as diferentes fases da revisão sistemática ...... 51 Figura 13 Fotografias intra-orais de uma criança com FL/P do grupo II da classificação de Spina (fenda do lábio e do palato completa do lado esquerdo): (a) colapso dos segmentos laterais da maxila (a linha tracejada corresponde ao plano sagital medial), a seta aponta para um dente supranumerário que se localiza na zona da 71 fenda; (b) fotografia frontal e (c) fotografia lateral esquerda - espaço de forma triangular, com vértice dirigido para oclusal e a base em direção à fenda; e (c) a forma triangular da fenda é semelhante à forma das ameias interdentárias (triângulo tracejado) ...... Figura 14 (a) cleft toothbrush – modelo 3D; (b) elementos finitos malha sólida; (c) resultados da tensão na cleft toothbrush devido à carga aplicada (máximo de 74 14,20MPa na conexão entre a haste e o corpo); e (d) o deslocamento máximo do dispositivo devido à carga aplicada – 0,663mm atingido na ponta (área vermelha)

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Figura 15 Fotografias intra-orais de uma criança com FL/P do grupo I da classificação de Spina (fenda labial completa do lado esquerdo); (a) os dentes foram corados para evidenciar a placa bacteriana, 1 – alimento na área profunda da fenda, 2 – observa-se que o dente supranumerário é o dente com mais placa bacteriana na superfície vestibular; (b) escovagem com a cleft toothbrush – as cerdas do topo da 78 escova foram usadas para entrar na cavidade da fenda e realizados movimentos combinados de rotação e translação; e (c) a boca, após a escovagem, onde é possível observar a elevada eficácia da cleft toothbrush na remoção da placa bacteriana ...... Figura 16 Comparação da higiene oral (IPa-F) no momento final do estudo em crianças que usaram a escova de dentes convencional (n=7) ou a cleft toothbrush + escova de 95 dentes convencional (n=38) ...... Figura 17 Avaliação das crianças em relação ao uso da cleft toothbrush. No final do estudo, após o uso da escova de dentes convencional ou da cleft toothbrush + escova de 96 dentes convencional, as crianças responderam à seguinte questão: “A cleft toothbrush facilita a escovagem?” resposta: Não (n=3) ou Sim (n=4+38) ...... Figura 18 Contagem total de microrganismos nos 4 momentos de avaliação: a) 113 Gram-negativo, b) Gram-positivo ...... Figura 19 Contagem total de microrganismos nos 4 momentos de avaliação: a) Gram-negativo associadas à doença periodontal, b) Gram-positivo associadas à 114 cárie dentária ......

Índice de tabelas

página Tabela 1 Caracterização de 240 indivíduos com fenda lábio-palatina (FL/P) ...... 28 Tabela 2 Síndromes/malformações identificadas na amostra em estudo ...... 29 Tabela 3 Relação entre grupo de fenda lábio-palatina (FL/P), género, diagnóstico pré-natal 30 (DPN), história familiar de FL/P e presença de síndromes/malformações ...... Tabela 4 Distribuição da fenda lábio-palatina (FL/P) segundo a extensão e diagnóstico 31 pré-natal (DPN), para 133 indivíduos com DPN conhecido ...... Tabela 5 Distribuição da fenda lábio-palatina (FL/P) segundo síndromes/malformações e 32 diagnóstico pré-natal (DPN) (n = 104) ...... Tabela 6 Caracterização dos estudos incluídos na revisão sistemática, apresentados por 56 ordem cronológica decrescente da data da publicação ...... Tabela 7 Comparação (n e %) dos hábitos de higiene oral no início (dia 0) e no final (dia 92 60) do estudo ......

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Índice de tabelas

página Tabela 8 Comparação da higiene oral, utilizando o índice de placa bacteriana adaptado (IPa) para todos os dentes e para todos os dentes exceto os que estão adjacentes à 93 fenda (IPa-SF), entre os momentos inicial e final da observação, considerando todas as crianças e subdivididas por faixa etária ...... Tabela 9 Comparação da higiene oral, utilizando o índice de placa bacteriana adaptado da fenda (IPa-F), entre os quatro momentos de observação, considerando todas as 93 crianças e subdivididas por faixa etária ...... Tabela 10 Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-negativo, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, considerando as crianças como um 116 conjunto e subdivididas por faixa etária ...... Tabela 11 Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-positivo, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, considerando as crianças como um 116 conjunto e subdivididas por faixa etária ...... Tabela 12 Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-negativo associadas à doença periodontal, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, 117 considerando as crianças como um conjunto e subdivididas por faixa etária ...... Tabela 13 Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-positivo associadas à cárie dentária, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, 118 considerando as crianças como um conjunto e subdivididas por faixa etária ...... Tabela 14 Comparação das contagens de bactérias Gram-negativo, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, considerando os grupos por tipo de escova 119 usada ...... Tabela 15 Comparação das contagens de bactérias Gram-positivo, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, considerando os grupos por tipo de escova 120 usada ...... Tabela 16 Comparação das contagens de bactérias Gram-negativo associadas à doença periodontal, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, 121 considerando os grupos por tipo de escova usada ...... Tabela 17 Comparação das contagens de bactérias Gram-positivo associadas à cárie dentária, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, 122 considerando os grupos por tipo de escova usada ......

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Índice geral

página Lista de abreviaturas ...... xiii Índice de anexos ...... xiii Índice de figuras ...... xiv Índice de tabelas ...... xv

I Introdução 1.1 – Motivação ...... 3 1.2 – Objetivos ...... 5 1.3 – Estrutura da tese ...... 6 II Contextualização teórica Fenda lábio-palatina – considerações gerais ...... 9 III Caracterização da amostra 3.1 – Introdução ...... 25 3.2 – Materiais e métodos ...... 26 3.2.1 Tipo de estudo ...... 26 3.2.2 Local do estudo ...... 26 3.2.3 Amostra ...... 26 3.2.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais ... 27 3.2.5 Análise estatística ...... 27 3.3 – Resultados ...... 28 3.4 – Discussão ...... 34 3.5 – Conclusão ...... 36 Fenda lábio-palatina segundo a classificação de Spina – uma proposta IV de aditamento 4.1 – Introdução ...... 39 4.2 – Classificação de Spina ...... 40 4.3 – Aditamento à classificação de Spina ...... 43

Existem soluções para melhorar a higiene da área da fenda em V crianças com fenda lábio-palatina? – revisão sistemática

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5.1 – Introdução ...... 49 5.2 – Materiais e métodos ...... 49 5.2.1 Estratégia de pesquisa ...... 49 5.2.2 Elegibilidade e diagnóstico ...... 50 5.2.3 Resultados da pesquisa bibliográfica ...... 52 5.3 – Características do estudo ...... 52 5.4 – Discussão ...... 53 5.5 – Conclusão ...... 55 Um novo dispositivo para a higiene oral de crianças com fenda VI lábio-palatina – cleft toothbrush 6.1 – Introdução ...... 71 6.2 – Desenho e planeamento – cleft toothbrush ...... 72 6.3 – A eficácia da cleft toothbrush ...... 75 6.4 – Materiais e métodos ...... 75 6.4.1 Tipo de estudo ...... 75 6.4.2 Local do estudo ...... 75 6.4.3 Amostra ...... 75 6.4.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais .. 76 6.4.5 Desenho de estudo ...... 76 6.4.6 Avaliação do índice de placa bacteriana ...... 77 6.5 – Resultados ...... 77 6.6 – Discussão ...... 78 6.7 – Conclusão ...... 79 6.8 – Registo de Patente ...... 79 Higiene oral das crianças com fenda lábio-palatina: eficácia da cleft VII toothbrush 7.1 – Introdução ...... 83 7.2 – Materiais e métodos ...... 84 7.2.1 Tipo de estudo ...... 84 7.2.2 Local do estudo ...... 84 7.2.3 Amostra ...... 84 7.2.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais ... 85

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7.2.5 Critérios de inclusão e exclusão ...... 85 7.2.6 Desenho do estudo ...... 86 7.2.7 Avaliação do índice de placa bacteriana ...... 86 7.2.8 Condições de observação clínica ...... 88 7.2.9 Fases do estudo – protocolo experimental ...... 89 7.2.10 Análise estatística ...... 91 7.3 – Resultados ...... 91 7.4 – Discussão ...... 96 7.5 – Conclusão ...... 99 Variação da microbiota oral em crianças com fenda lábio-palatina VIII após a escovagem com a cleft toothbrush 8.1 – Introdução ...... 103 8.2 – Materiais e métodos ...... 104 8.2.1 Tipo de estudo ...... 104 8.2.2 Local do estudo ...... 104 8.2.3 Amostra ...... 105 8.2.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais ... 105 8.2.5 Critérios de inclusão e exclusão ...... 105 8.2.6 Desenho do estudo ...... 106 8.2.7 Condições de observação clínica ...... 107 8.2.8 Fases do estudo – protocolo experimental ...... 107 8.2.9 Extração do DNA ...... 108 8.2.10 Amplificação para sequenciação do gene 16S rRNA ...... 108 8.2.11 Pipeline bioinformática ...... 110 8.2.12 Análise estatística ...... 110 8.3 – Resultados ...... 111 8.4 – Discussão ...... 123 8.5 – Conclusão ...... 125 IX Conclusões ...... 129 X Limitações do estudo e perspetivas futuras ...... 133 Bibliografia ...... 137 Anexos 153

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CAPÍTULO I

– Introdução

CAPÍTULO I - Introdução

I – Introdução

1.1 – Motivação

As crianças com fenda lábio-palatina (FL/P) estão presentes no nosso dia a dia, são parte integrante do nosso quotidiano pessoal e profissional e, por vezes, familiar.

A prevalência ao nascimento de FL/P é cerca de 1/700 (1). Em Portugal, existe uma prevalência ao nascimento de FL/P de 0,77/1000, de acordo com o último relatório, do Registo Nacional de Anomalias Congénitas relativo ao período 2014-2015 (2).

As FL/Ps são as malformações congénitas major mais comuns da face. Embora não se defina uma causa específica, sabe-se, contudo, como surgem do ponto de vista embrionário (3-6).

As ecografias pré-natais permitem diagnosticar uma grande variedade de defeitos congénitos, entre os quais as FL/Ps. O diagnóstico pré-natal é extremamente importante para caracterizar o tipo de malformação e o planeamento dos tratamentos que se possam iniciar após o nascimento (7).

As crianças com FL/P requerem cuidados mais específicos e mais frequentes do que a generalidade da população infantil e, por isso, é necessário que os profissionais de saúde tenham um conhecimento aprofundado sobre esta área tão complexa.

Os problemas dentários que mais afetam estas crianças são as má-oclusões, as dismorfias e as malformações dentárias, a cárie dentária e os problemas periodontais (1, 8-10). Devido às anomalias ósseas e dentárias, a remoção da placa bacteriana em crianças com FL/P está muito dificultada, estando na origem de muitos problemas de saúde oral. A cárie dentária é considerada como uma das patologias mais frequentes em crianças a nível mundial e embora minimizada por programas de prevenção e controlo fundamentais ao desenvolvimento físico, comportamental e emocional destas crianças, continua a ser um problema de saúde pública, sobre o qual é necessário intervir o mais cedo possível!

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CAPÍTULO I - Introdução

As crianças (e os pais ou outros cuidadores) têm dificuldade em higienizar corretamente a área da fenda devido a vários fatores: à anatomia da fenda; à perda de elasticidade do lábio cirurgicamente corrigido; ao facto de a escova de dentes convencional que utilizam não alcançar a área mais profunda da fenda; ou por lesionar o palato e consequentemente a área da fenda ou, simplesmente, por receio em higienizar a área da fenda (9, 11-13). Devido a estas dificuldades de higienização, há acumulação de placa bacteriana (14). Sabe-se que a cavidade oral contém mais de 500 espécies bacterianas, sendo a maioria delas comensais, mas há um pequeno número de agentes patogénicos oportunistas que podem causar várias doenças sistémicas, bem como doenças orais (8, 15-20).

As crianças com FL/P necessitam de ter uma excelente higiene oral, porque os tecidos precisam de permanecer saudáveis, assim como o dente que pode estar na área da fenda (pré-canino ou incisivo lateral). Além disso, a saúde tecidular da área da fenda é de suma importância para os procedimentos cirúrgicos corretivos.

O uso de escovas de dentes convencionais, imperfeitas para estes indivíduos, não permite, ou dificulta, a manutenção de tecidos saudáveis, conduzindo a processos inflamatórios na área da fenda, que comprometem a eficácia dos tratamentos previstos no que se refere a diversas estruturas como o dente, o osso ou o enxerto ósseo.

A maioria da literatura disponível aborda os problemas relacionados com a placa bacteriana, as lesões de cárie dentária, os hábitos de escovagem, o tipo de alimentação e a supervisão parental (11, 21, 22). Existe ainda bibliografia sobre os cuidados e orientações de prevenção, de rotina e de prioridade de escovagem (13, 23). No entanto, apenas um estudo aborda a necessidade de estas crianças usarem também uma escova de tamanho para lactente para uma melhor higienização da área da fenda (12). Verifica-se, assim, que embora muito se discuta, principalmente sobre os problemas orais associados à FL/P, não existem muitas iniciativas para a resolução dos mesmos.

Perante esta lacuna, há uma necessidade de melhorar os cuidados de higiene oral destas crianças. Esta urgente indispensabilidade em apresentar uma solução, tem como base a necessidade de manutenção da saúde oral.

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CAPÍTULO I - Introdução

Neste âmbito, um dos objetivos da odontopediatria será promover e praticar medidas de prevenção, consciencializando a população de que a saúde oral constitui um fator relevante no bem-estar geral, nomeadamente em crianças com FL/P.

1.2 – Objetivos

A lacuna existente na área da saúde oral dos indivíduos com FL/P e a possibilidade de contribuir para a melhoria da qualidade de vida destas crianças estão na base deste trabalho de investigação.

O estudo tem como principais objetivos:

– desenvolver um dispositivo que se adapte a uma escova convencional, viabilizando uma melhor higienização da zona da FL/P; – avaliar a eficácia do novo dispositivo relativamente à remoção da placa bacteriana e os efeitos na microbiota oral da área da fenda.

Para cumprir estes objetivos, o estudo incluiu as seguintes fases:

– seleção de uma amostra alargada de indivíduos com FL/P e sua caracterização; – realização de uma revisão sistemática relativa à higienização oral de crianças com FL/P; – desenvolvimento de um dispositivo apropriado para a higienização da zona da FL/P – cleft toothbrush; – avaliação da eficácia da cleft toothbrush na remoção da placa bacteriana na zona da FL/P; – avaliação dos efeitos da escovagem com a cleft toothbrush na microbiota oral na área da FL/P.

Pretende-se com este trabalho contribuir para a manutenção da saúde oral das crianças com FL/P pela utilização de um dispositivo de elevada eficácia na remoção da placa bacteriana e boa aceitação por parte das crianças e seus cuidadores.

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CAPÍTULO I - Introdução

1.3 – Estrutura da tese

Esta tese inclui vários capítulos.

No capítulo I apresenta-se a motivação do autor para a realização deste trabalho de investigação e os objetivos a que se propôs.

A contextualização teórica do tema é objetivo do capítulo II, onde são abordadas as considerações gerais da FL/P – definição; embriologia; etiologia; epidemiologia; diagnóstico pré-natal; higiene oral e microbiota oral.

No capítulo III descrevem-se os aspetos relacionados com os critérios utilizados na seleção de uma amostra alargada de indivíduos com FL/P e efetua-se uma caracterização muito completa da amostra: idade do indivíduo no momento do estudo; género; região de residência; classificação da FL/P segundo Spina; extensão e lateralidade da fenda; história familiar de FL/P; deteção da malformação durante o diagnóstico pré-natal, assim como, a presença ou não de síndrome polimalformativa.

Tendo-se verificado, após a caracterização da amostra selecionada, que havia uma lacuna na classificação deste tipo de malformação, segundo Spina, sugere-se, no capítulo IV, um aditamento à classificação utilizada.

No capítulo V, apresenta-se uma revisão sistemática do estado da arte, no que respeita à higiene oral destes indivíduos.

O desenvolvimento de um novo dispositivo com melhor eficácia na remoção da placa bacteriana – cleft toothbrush – está descrito no capítulo VI.

Nos capítulos VII e VIII apresentam-se, respetivamente, os resultados relativos à eficácia da cleft toothbrush no que concerne à remoção da placa bacteriana e aos efeitos da escovagem na microbiota da área da fenda lábio-palatina.

A tese inclui ainda as conclusões gerais – capítulo IX e as limitações do estudo e perspetivas futuras – capítulo X.

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CAPÍTULO II

– Contextualização teórica

CAPÍTULO II – Contextualização teórica

II – Contextualização teórica

Fenda lábio-palatina – considerações gerais

Definição

As FL/P são as malformações congénitas major mais comuns da face, que se podem manifestar isoladamente ou associadas a síndromes polimalformativas. Resultam da falta de fusão de diversas estruturas embrionárias, entre a 4.ª e a 12.ª semana de vida intrauterina (24). Clinicamente, observa-se uma alteração anátomo-funcional de uma ou várias estruturas (lábio superior e inferior, processo alveolar, palato duro e palato mole). As fendas do lábio (FL) ou do palato (FP) podem ocorrer isoladamente, podem ser completas ou incompletas, uni ou bilaterais, ou a combinação de ambas. Embora mais raros, podem surgir casos de fendas da linha média (3, 25-27).

Embriologia

A formação da face e da cavidade oral ocorre logo no início da fase embrionária. Esse momento é dominado por uma intensa proliferação e migração celulares, muito em particular do ectomesênquima que migra preferencialmente para a região cefálica permitindo o rápido crescimento e expansão dos processos faciais e a sua posterior fusão que decorre numa sequência espaço/temporal extremamente precisa (24).

No final da quarta semana, a região medial da face é formada pelo estomodeu (boca primitiva) limitado pelos cinco processos faciais: a proeminência frontal (cefálica ao estomodeu), duas proeminências maxilares, laterais ao estomodeu (porção dorsal do 1.º arco faríngeo), e duas proeminências mandibulares, ventrais ao estomodeu (porção ventral do 1.º arco faríngeo). Por volta do 28.º dia de vida intrauterina, desenvolvem-se espessamentos da ectoderme na proeminência frontal formando os placódios olfativos. A rápida proliferação do mesênquima subjacente converte os placódios em fossetas nasais, cada uma limitada por uma saliência em forma de ferradura e composta por uma

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porção lateral, designada por processo nasal lateral, e uma porção medial, o processo nasal medial. Entre os dois processos nasais mediais surge numa nova área, o processo frontonasal (28).

Durante as duas semanas seguintes decorre o crescimento medial dos processos maxilares, o que contribui para a sua aproximação na linha média, bem como a expansão dos dois processos nasais mediais que acabam por se fundir com a sua contraparte anatómica, do lado oposto, eliminando o processo frontonasal. A fusão dos dois processos nasais mediais na linha média resulta na formação da porção média do nariz, parte do lábio (filtro), parte da maxila (segmento intermaxilar, onde se irão desenvolver os dentes incisivos) e palato primário (I). O lábio superior resulta dos contributos dos dois processos nasais mediais bem como do crescimento dos processos maxilares (Figura 1) (28).

Figura 1 – Desenvolvimento do lábio superior. Adaptado de (29) (Anexo 1).

A formação do palato secundário (II) tem início na sétima-oitava semana de gestação e resulta da fusão das cristas palatinas formadas a partir de cada um dos processos maxilares. As cristas palatinas desenvolvem-se lateralmente à linha média, sendo inicialmente direcionadas para baixo e para cada lado da língua em desenvolvimento. O processo de desenvolvimento das cristas palatinas implica a sua elevação, aproximação da linha média, fusão medial e fusão anterior com o palato I, triangular, já formado. Fica assim constituído o foramen dos incisivos que constitui o registo anatómico dos limites do palato I (seu vértice posterior) e do palato II (Figura 2). O processo de fusão das cristas palatinas prossegue gradualmente a partir do palato I (foramen incisivo) no

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sentido posterior (úvula) e decorre entre a nona e a décima segunda semana de gestação (24, 28).

Figura 2 – Fusão das cristas palatinas. Adaptado de (29) (Anexo 1).

As malformações pré-foramen incisivo (palato I) e pós-foramen incisivo (palato II) são assim embriologicamente distintas, pois envolvem alterações na expansão e fusão de processos distintos (processo nasal medial e processo maxilar, respetivamente) e por ocorrerem em diferentes momentos. O período mais crítico para a ocorrência das malformações do palato acontece entre a 6.ª e o início da 9.ª semana (24, 28).

A insuficiência do desenvolvimento dos processos nasais mediais e dos processos maxilares resulta na sua fusão incompleta que – em função da extensão da não fusão – poderá conduzir a uma fenda labial (uni ou bilateral) e/ou fenda palatina (24, 28).

Epidemiologia

O estudo da prevalência FL/P é complexo, uma vez que os vários autores utilizam diversas metodologias, que são fatores explicativos para os diferentes valores de prevalência (26). Os estudos que incluem FL/P associada a outras malformações congénitas também modificam os valores da sua prevalência (26).

A média da prevalência mundial de FL/P é 1/700 (1), mas varia entre as diferentes etnias (há maior prevalência nos Asiáticos, depois nos Caucasianos e Afro-americanos) (30-32), áreas geográficas (Ásia: 1,05 a 2,36/1000; América do Norte: 0,6 a 3,92/1000; Europa:

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1,02 a 1,94/1000; Oceânia: 1,21 a 1,73/1000; América do Sul: 0,99 a 1/1000; África: 0,3 a 1,65/1000) (33) e nível socioeconómico (5, 27, 34-39).

Em Portugal, de acordo com as estatísticas realizadas por Braz, 2017, referenciadas no Registro Nacional de Anomalias Congénitas – RENAC – existe uma prevalência FL/P de 0,77/1000 (2). Foram publicados poucos estudos que descrevem a prevalência da FL/P em Portugal apontando resultados da mesma ordem de magnitude (40, 41).

Etiologia

No que respeita à etiologia, as FL/P podem dividir-se, genericamente, em três grupos: teratogénica, genética ou multifatorial.

São considerados, ainda que não de forma absolutamente consensual, fatores teratogénicos predisponentes para a ocorrência de FL/Ps: o consumo de tabaco e de etanol (5, 34, 42-45), a administração de fármacos (6), nomeadamente benzodiazepinas (46), corticoides (46-49) e antiepiléticos, tais como o ácido valpróico (45, 50), a fenitoína (45) e o ácido retinóico (45, 48) ou a carência de nutrientes, tal como o ácido fólico (34, 45, 51, 52).

No caso de etiologia genética, as FL/Ps podem ser isoladas, isto é, não sindrómicas causadas por vários genes, segundo o OMIM – Online Mendelian Inheritance in Man (53), nomeadamente: MSX1 (54); IRF6 (55); PVRL1 (56); TP63 (57); SUMO1 (58); BMP4 (59) e DLX4 (60).

Ainda no grupo de FL/P de causa genética sindrómicas podem incluir-se aquelas que são resultantes de anomalias cromossómicas identificáveis por cariótipos de bandas de alta resolução ou por arrays de hibridização genómica comparativa, como é o caso, por exemplo, da trissomia 13 (61) ou da síndrome de DiGeorge (62).

O terceiro grupo de FL/P de causa genética é constituído por um conjunto de síndromes polimalformativas de causa monogénica resultante de variantes patogénicas de mais de uma centena de genes, segundo o OMIM (53, 57), designadamente: síndrome de Apert (gene FGFR2); síndrome Charge (gene CHD7); síndrome Crouzon (gene FGFR2); síndrome DiGeorge (gene TBX1); síndrome Kabuki (genes KMT2D e KDM6A);

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síndrome Loeys-Dietz (genes TGFBR1, TGFBR2, SMAD3, TGFB2 e TGFB3); síndrome Opitz (genes MID1 e SPECC1L); síndrome Stickler (genes COL2A1 e COL11A1); síndrome Treacher Collins (genes TCOF1, POLR1D e POLR1C) e síndrome Van der Woude (genes IRF6 e GRHL3).

Finalmente, e tendo em conta os dados epidemiológicos presentemente disponíveis, a maioria dos casos de FL/P tem causa multifatorial (46) (isto é, resultante da conjunção de fatores ambientais e genéticos não conhecidos), entre os quais se podem incluir a idade avançada dos progenitores (47, 63), a hipoxia relacionada com a ocorrência de gravidez em zonas de elevada altitude (>2000 metros) (64, 65). O baixo nível socioeconómico, assim como a consanguinidade (6) são, segundo alguns autores, fatores de risco para esta malformação (27, 42, 66).

A relevância dos fatores genéticos nas FL/Ps, sem causa teratogénica ou genética conhecida, está demonstrada pelo risco de recorrência mais elevado em familiares de indivíduos com FL/P (3, 4, 6, 67). A existência de história familiar para FL/P é um dos fatores de risco mais significativo (68, 69), implicando um risco de recorrência cerca de 30 a 40 vezes maior, comparativamente com os casos sem história familiar (45, 69). É observado um risco maior de desenvolvimento da FL ou da FLP entre descendentes de portadores com a mesma malformação e um risco menor para as FP isoladas (70), quando comparadas com as sindrómicas (69).

A sequência de Pierre Robin foi a anomalia mais comumente encontrada (40, 71, 72). A FP, por ser mais frequentemente sindrómica (73), está mais vezes associada à presença de outras malformações (47), seguida da FLP e, por fim, da FL (41, 72-77).

A identificação de defeitos estruturais associados à FL/P combinando uma abordagem epidemiológica e clínica pode melhorar a compreensão da etiologia das malformações congénitas e pode ser útil para a saúde pública, para o tratamento e para a implementação de estratégias preventivas (41, 78, 79).

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Diagnóstico pré-natal

As ecografias realizadas durante a gravidez permitem diagnosticar uma grande variedade de malformações congénitas, entre as quais a FL/P.

Os primeiros casos citados na literatura de diagnóstico pr -natal (DPN) de FL/P foram descritos por volta de 1980 por Christ e Meininger (cit. in (80, 81)) (82).

No primeiro trimestre, entre a 10.ª e a 13.ª semana de gestação, é possível avaliar as características anatómicas do feto de forma segura (80, 82, 83). Essa avaliação pode, por vezes, ser difícil de executar devido a vários fatores, nomeadamente, uma posição desfavorável do feto, da mão do feto ou da posição do cordão umbilical, da obesidade materna, da ocorrência de gravidezes múltiplas e oligoâmnios, ou da experiência do observador e da capacidade de resolução dos ecógrafos. Estes são alguns dos fatores que podem contribuir para um diagnóstico incorreto ou incompleto (80, 84).

As FP isoladas, tanto completas como incompletas, são as mais difíceis de diagnosticar pela ecografia, mas em percentagem significativamente superior quando são incompletas. Com a evolução da tecnologia, o modelo de reconstrução 3D do rosto pode ser rodado de forma a visualizar o palato, ou por doppler, pois permite identificar uma FP registando o movimento do líquido amniótico através da malformação (83).

A taxa de diagnóstico de FL/P durante os exames de DPN é mais elevada quando há uma malformação associada, sendo as FLP as que se conseguem diagnosticar mais facilmente in utero (73, 80, 85, 86).

O DPN de FL/P é extremamente importante, não só para saber qual o tipo de malformação, mas também para que os pais sejam aconselhados, preparados para o nascimento de um filho com uma malformação major. Se, por um lado, o diagnóstico precoce de FL/P pode causar ansiedade aos pais, por outro lado, permite um planeamento dos cuidados neonatais necessários que começam logo após o nascimento (83, 87, 88).

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Patologias orais

As patologias orais são um dos principais problemas dos indivíduos com FL/P. Esses problemas podem ser uma consequência desta malformação ou das intervenções cirúrgicas corretivas (89).

As patologias orais são mais prevalentes nos indivíduos com FL/P do que na população em geral (90, 91), e as mais frequentes estão relacionadas com os problemas de desenvolvimento dento-alveolar, ou seja, as má-oclusões (11, 12, 92), assim como as anomalias dentárias, entre várias, as de número, de dimensão, de forma, de estrutura (9, 10, 12, 18, 92, 93) e os problemas periodontais (11). Estas anomalias são habitualmente homolaterais à fenda (94-96).

As má-oclusões decorrem de discrepâncias esqueléticas de tamanho, de forma e de posição dos maxilares. É observado um prognatismo mandibular causado mais pela retrusão maxilar do que pela protusão da mandíbula. A má-oclusão mais frequente é a mordida cruzada (12).

A alteração dentária mais comum é a alteração de número – hipodontia (96) sendo o dente mais comumente afetado o incisivo lateral superior em ambas as dentições (95-97). As causas mais comuns desta alteração são a proximidade à fenda ou consequentes a cirurgia de correção da fenda lesiva da formação dos germens destes dentes (98).

A existência de um dente supranumerário, designado canino rudimentar ou pré-canino, também é muito frequente (95, 99). Esta alteração pode levar à presença de um diastema, ao desvio da erupção e/ou à impactação dentária. Os dentes supranumerários ocorrem devido a distúrbios durante a fase de desenvolvimento dentário da morfodiferenciação, e da histodiferenciação (100).

Relativamente às anomalias dentárias de dimensão, a mais comum é a microdontia (90, 96, 101). Algumas anomalias menos frequentes, como o taurodontismo, também têm sido associadas às FL/P (102), assim como outras anomalias de forma (fusão, geminação e dentes conoides) (9, 93). Estas alterações, bem como a anomalia de estrutura mais frequente – a hipoplasia do esmalte –, têm maior incidência nos incisivos do lado da fenda do que nos contralaterais, em ambas as dentições (103). A hipoplasia pode ter

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origem nos processos patológicos que causam a fenda (104) ou, por vezes, estar associada à realização de queiloplastia ou de palatoplastia (100). A queiloplastia está associada à hipoplasia do esmalte nos incisivos decíduos e nos bordos incisais dos incisivos permanentes, enquanto a palatoplastia está associada a alguns defeitos nas coroas dos incisivos permanentes (103).

Alguns estudos demonstram uma alta prevalência de erupções ectópicas, principalmente dos incisivos laterais e dos caninos superiores, que muitas vezes erupcionam no fundo de sulco vestibular, no palato ou na cavidade nasal (90, 102). Esta alteração de erupção dentária é, por vezes, consequência das cirurgias realizadas para o encerramento das fendas (102).

Os indivíduos portadores de FL/P também apresentam problemas periodontais, que são reflexo de um conjunto de situações. Por exemplo, poder-se-ia destacar a má-oclusão devido ao colapso das arcadas dentárias maxilares, enquanto fator agravante da dificuldade na remoção da placa bacteriana, que será objeto de discussão posterior. Este é um fator prejudicial para a saúde periodontal (11).

Em muitos estudos é possível verificar que os problemas periodontais são mais prevalentes nestes indivíduos quando comparados com os que não têm FL/P (11, 20, 105- 108). Os indivíduos com FL e FLP apresentam piores condições periodontais do que os indivíduos com FP (109, 110).

É de extrema importância o conhecimento e a caracterização das anomalias dentárias existentes em indivíduos com FL/P, pois é essencial a realização de um diagnóstico precoce, uma vez que estas anomalias podem estar na origem de inúmeros problemas de oclusão, estéticos ou de saúde oral.

Higiene oral

Os indivíduos com FL/P têm um maior risco de apresentar patologias orais infeciosas como, por exemplo, a cárie dentária (1, 8, 9, 11, 92, 93) ou os problemas periodontais (1, 8-10). As discrepâncias esqueléticas que estão na origem da má-oclusão dificultam a remoção

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da placa bacteriana (11, 12, 21, 92) e podem favorecer a colonização microbiana (93). Fatores adicionais relevantes poderão ser os problemas respiratórios, devido ao desvio do septo nasal ou a uma estenose do vestíbulo nasal; as fístulas cicatriciais e as fibroses, devido à correção cirúrgica; ou o uso de placas obturadoras do palato ou de aparelhos ortodônticos. Estas alterações anatómicas dificultam a obtenção de uma higiene oral adequada, fazendo com que estas crianças tenham um risco mais elevado de cárie dentária comparativamente com a população em geral 2-4.

Os fatores predisponentes para a cárie dentária em crianças com FL/P estão associados à microbiota cariogénica (8, 18-20), à alimentação (tipo e frequência) (8, 21, 92, 93, 111), à respiração oral (93), à escolaridade da mãe (8, 112) e ao género (1, 113). A preocupação dos cuidadores com as diversas cirurgias com prejuízo do tratamento da cárie dentária (9, 21, 92, 93) parece ser ou é também um fator predisponente. Outros fatores são o receio de higienizar a área da fenda ou o facto de os tecidos cicatriciais da zona da fenda dificultarem a técnica de higienização (9). Desta conjunção de fatores resulta maior retenção e/ou dificuldade de controlo da placa bacteriana. Assim, estas crianças têm um índice de placa bacteriana mais elevado (19, 114), que pode servir como habitat para agentes patogénicos e, consequentemente, ser um fator de risco da doença periodontal (109), principalmente na área adjacente à fenda (20, 106, 107, 110) e particularmente em indivíduos com uma comunicação oro-nasal (9, 18).

Problemas associados à higiene oral

É de extrema importância corrigir ou minimizar as consequências das alterações anatómicas associadas à FL/P de forma a implementar uma correta higiene oral, da responsabilidade primária dos cuidadores, para que o hábito se torne rotina (115, 116). O objetivo é que haja uma diminuição da quantidade de placa bacteriana e consequentemente uma menor incidência dos problemas orais, principalmente dos que resultam de uma dificuldade de higienização.

Estas dificuldades, tanto das crianças como dos seus cuidadores, devem-se ao facto de a escova de dentes convencional não alcançar a área mais profunda da fenda, ou seja,

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quando se move a escova, as cerdas não higienizam corretamente a fenda. Outros fatores relevantes incluem o receio em escovar a área da fenda, a preocupação com a hemorragia gengival ou ainda a apreensão em lesionar o palato e consequentemente a área da fenda (11), (117, 118).

Em vários estudos é possível verificar que os hábitos de higiene oral das crianças com FL/P não diferem dos das crianças sem esta malformação congénita e, por vezes, as rotinas até são mais controladas: alguns estudos mostram que as crianças com FL/P escovam os dentes com mais frequência diária (106, 119), têm um acompanhamento médico-dentário mais regular (113), realizam mais aplicações de fluoretos (20, 23, 106, 110, 113, 119) e são mais supervisionadas pelos seus cuidadores no que respeita à escovagem dentária (113). Nestes estudos, verifica-se em particular que, embora os hábitos de higiene oral das crianças com FL/P sejam mais reforçados do que na população sem FL/P, o índice de cárie dentária não é significativamente menor (20, 23, 106, 110, 113, 119).

Recursos para melhorar a higiene oral

A importância de higienizar a zona da fenda de forma a manter a saúde oral é destacada em vários estudos (12, 13, 21, 117). No entanto, há diversos motivos que explicam as dificuldades em realizar uma higienização apropriada nestas crianças, como já foi visto anteriormente. Mesmo assim, pouca atenção foi dada à questão-chave – a escova de dentes. Apenas um estudo refere que o uso de uma escova de dentes de tamanho para lactente e de um escovilhão melhorariam a higiene da fenda em algumas situações (12).

Neste contexto, existe uma clara necessidade de desenvolver métodos aperfeiçoados de simples acesso e higienização de áreas de alta retenção de placa bacteriana, seja pela morfologia da fenda ou pela sensibilidade dos tecidos circundantes, devido às frequentes condições inflamatórias locais.

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Microbioma oral

Atualmente, assume-se que, em condições normais, o desenvolvimento fetal intra-uterino ocorre num ambiente asséptico. No entanto, estudos recentes descrevem a colonização do ambiente intra-uterino, especificamente o líquido amniótico, por microrganismos orais, em especial pelo Fusobacterium nucleatum, em cerca de 70% das grávidas (120, 121). Tendo em conta que este microrganismo é uma espécie associada à doença periodontal, é lícito concluir-se a relação entre esta e o parto prematuro, comprovando a necessidade de um acompanhamento da saúde oral durante a gravidez (122, 123).

Durante e após o nascimento, o recém-nascido entra em contato com uma grande variedade de microrganismos. No entanto, apenas um subgrupo desses microrganismos é capaz de colonizar permanentemente o indivíduo (124).

Uma parte significativa da microbiota oral tem origem através de transmissão vertical. O tipo de parto, eutócito ou distócito, pode influenciar o tipo de microrganismo ao qual o recém-nascido é exposto. No caso de um parto eutócito a população transitória é predominantemente formada por bactérias vaginais/intestinais, Lactobacillus, Prevotella e Sneathia spp. No caso de um parto distócito as populações bacterianas são semelhantes às existentes na pele da mãe, predominantemente Staphylococcus, Corynebacterium e Propionibacterium spp. (14, 125-127).

Formação da placa bacteriana

Logo após o nascimento inicia-se o processo de colonização microbiana da cavidade oral do recém-nascido, devido à respiração, à amamentação e ao contato com terceiros. Nesta fase, os colonizadores mais frequentes são os cocos Gram-positivo, incluindo Streptococcus e Staphylococcus (120). Estes microrganismos podem potenciar o crescimento de outras espécies, como é o caso do Streptococcus salivarius, que tem a capacidade de aderir às células epiteliais. A produção de polímeros extracelulares a partir da sacarose por este tipo de Streptococcus permite a proliferação de outras bactérias, como é o caso dos Actinomyces spp. (120). Este processo de multiplicação

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CAPÍTULO II – Contextualização teórica

microbiana diversificada resulta numa eventual formação de uma comunidade mais complexa e estável (120, 126).

Por volta dos cinco meses, os lactentes já apresentam uma microbiota oral distinta da mãe, devido, por exemplo, à ingestão de alimentos, ao contato com outros adultos e crianças, ao contato com animais domésticos ou aos hábitos de higiene (128). Esta microbiota oral é constituída principalmente por , , , , e , sendo os géneros mais prevalentes os Streptococcus, Haemophilus, Neisseria e Veillonella (120, 128). Muitos desses microrganismos, como S. mitis ou S. oralis, produzem proteases de imunoglobulina A (IgA) que degradam especificamente a IgA salivar segregada, o que parece ser uma vantagem para a sobrevivência dessas espécies num ambiente rico em IgA, que é segregada pelo leite materno (129).

Com a erupção dos primeiros dentes, fase designada por "janela de infetividade" (130), surgem novas superfícies de adesão dentária. A adesão é um fator determinante para a manutenção da população bacteriana oral (131). Nas mucosas, devido ao processo de descamação, a carga bacteriana é menor do que na superfície dentária, onde não ocorre este processo, pelo que se verifica maior crescimento da placa bacteriana na superfície do dente(14).

Estudos prévios indicavam que algumas espécies de Streptococcus cariogénicas, como o S. mutans, só iniciavam a colonização nesta fase, devido ao fato de as suas superfícies de adesão preferíveis serem os dentes (132). No entanto, estudos recentes demonstraram a presença dessa espécie em crianças edêntulas, sugerindo que as mucosas podem desempenhar um papel de reservatório de microrganismos patogénicos orais (120, 128, 133). Daí a importância da higienização oral mesmo antes da erupção dentária decídua.

A microbiota oral das crianças varia ao longo do desenvolvimento da dentição decídua, mista ou permanente. A microbiota oral de crianças com dentição decídua em relação a outros grupos apresenta maior prevalência de bactérias pertencentes à classe Gammaproteobacteria, particularmente as famílias de Pseudomonaceae do género Pseudomonas; Moraxellaceae dos géneros Acinetobacter, Moraxella e Enhydrobacter; Enterobacteriaceae e Pasteurellaceae do género Aggregatibacter. À medida que a

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CAPÍTULO II – Contextualização teórica

dentição evolui para permanente, a população de bactérias pertencentes à família Veillonellaceae do género Veillonella e Selenomonas e ao género Prevotella aumenta, enquanto as bactérias da família Carnobacteriaceae do género Granulicatella diminuem (134).

Fenda lábio-palatina e placa bacteriana

Sabe-se que a cavidade oral contém mais de 500 espécies bacterianas. A maioria é comensal, mas há um pequeno número de patogénicos oportunistas que pode causar várias doenças orais e sistémicas (8, 15-20).

Uma anomalia congénita, como a fenda lábio-palatina, está associada a alterações orais muito marcantes. A remoção da placa bacteriana nesta situação está muito dificultada devido às alterações ósseas e dentárias, que estão na origem dos problemas de saúde oral. Os problemas dentários que mais afetam as crianças com fenda lábio-palatina são a cárie dentária e as doenças periodontais (1, 8-10).

As superfícies dentárias lisas estão mais expostas ao meio ambiente, sendo, por isso, colonizadas apenas por um número limitado de espécies bacterianas. Contrariamente, as fossas e as fissuras proporcionam alguma proteção do ambiente e, além disso, são suscetíveis à impactação alimentar. Os nutrientes que mais afetam a microbiota oral são os hidratos de carbono fermentáveis, pois produzem ácidos que inibem a maioria das espécies associadas à saúde do esmalte, sendo estes sensíveis às condições ambientais ácidas. O microambiente ácido promove o crescimento de bactérias anaeróbicas facultativas Gram-positivo, como Streptococcus mutans e espécies de Lactobacillus sp. (14, 126), antes que a capacidade tampão da saliva normalize o pH, de forma a proteger o esmalte, predispondo a superfície dentária a uma lesão de cárie dentária.

Em contraste, as doenças periodontais, tal como a gengivite e a periodontite, estão associadas a um aumento da placa bacteriana circundante ao sulco gengival, provocando uma resposta inflamatória do hospedeiro. A colonização por bactérias anaeróbias estritas, incluindo espécies proteolíticas Gram-negativo pertencentes aos

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CAPÍTULO II – Contextualização teórica

géneros Prevotella, Porphyromonas, Fusobacterium e Treponema, está associada a problemas periodontais (14).

A bibliografia analisada permite concluir que a cárie dentária e os problemas periodontais são doenças orais muito prevalentes nos indivíduos com FL/P. Esta elevada prevalência poderá ser minimizada pela colmatação de uma das dificuldades inerentes à higienização correta da área da fenda resultante do facto de não ser utilizado um dispositivo de escovagem adequado.

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CAPÍTULO III

– Caracterização da amostra

CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

III – Caracterização da amostra

3.1 Introdução

É difícil precisar o momento, em que a FL/P foi descrita pela primeira vez, embora o seu registo date da segunda metade do século XVI, tendo sido definida através de diversos termos – lábio leporino, lábio cortado, dentes de mentiroso – e por diversos autores (135). No entanto, sabe-se que desde então, têm sido efetuados numerosos estudos no sentido de tentar definir a sua etiologia, de prever a sua prevalência e de prevenir a sua incidência. Atualmente, os estudos nesta área consideram a FL/P como tendo, na maioria, uma etiologia multifatorial (3-6).

O diagnóstico pré-natal da FL/P é de extrema importância, uma vez que o tratamento se inicia pouco tempo após o nascimento (7), permitindo um planeamento adequado de todos os cuidados necessários (87, 88).

Muitos autores são consensuais relativamente à relevância do fator hereditariedade na incidência da FL/P (3, 4, 6, 67). Além da presença de alguns genes (3, 34, 42), o consumo de tabaco e de bebidas alcoólicas durante a gravidez (5, 34, 42-44), a idade avançada dos pais (63), assim como a consanguinidade (6), a hipoxia, a administração de medicamentos na fase da morfogénese (6, 34, 49, 67), a carência de nutrientes (34, 51), as infeções e o baixo nível socioeconómico são fatores de risco para esta malformação(27, 42, 66). Estes podem ser fatores etiológicos de FL/P não sindrómicas, mas estas malformações podem estar associadas a algumas síndromes. Não se define uma causa específica para as FL/P, mas sabe-se como surgem do ponto de vista embrionário (3-6).

Este estudo teve como objetivo caracterizar uma amostra portuguesa de indivíduos com FL/P, relativamente a vários aspetos: classificação da fenda (grupo I; II; III e IV segundo Spina (136)); deteção da malformação durante o diagnóstico pré-natal, assim como, presença ou não de síndrome polimalformativa. Devido à sua relevância, deu-se especial atenção ao diagnóstico pré-natal, o qual foi analisado em três décadas (1990; 2000 e 2010).

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

3.2 Materiais e métodos

3.2.1 Tipo de estudo

Foi realizado um estudo transversal descritivo.

3.2.2 Local do estudo

O estudo foi desenvolvido numa clínica de medicina dentária, no Porto, que se dedica ao atendimento de indivíduos com FL/P.

3.2.3 Amostra

A amostra incluiu 240 indivíduos com FL/P (registos clínicos). Desta amostra fizeram parte a totalidade de registos clínicos de indivíduos, residentes em Portugal, sujeitos a pelo menos uma observação clínica por parte de um dos investigadores do grupo entre janeiro de 1990 e dezembro de 2016 e, embora sejam provenientes de todo o território, não foram contabilizados todos os casos existentes em Portugal durante este período.

Os dados obtidos pela consulta dos registos clínicos foram compilados para análise estatística. O diagnóstico inicial da fenda, presente nestes registos, foi realizado com base em inspeção visual, realizada sempre pelos mesmos dois especialistas, dedicadas à investigação e tratamento de indivíduos com FL/P (Dr. Bessa Monteiro – especialista em cirurgia pediátrica e Dr. Rowney Furfuro – médico dentista). Nenhum dos casos necessitou de exames complementares de diagnóstico (ressonância magnética ou nasofibroscopia). A revisão dos registos foi realizada pela investigadora, usando as fotografias faciais e intra-orais dos indivíduos, confirmando um grau de concordância quantificado por Kappa de Cohen e mostrando uma concordância interavaliadores de 1. A concordância obtida através do coeficiente Kappa de Cohen foi interpretada de acordo com Byrt (137): Kappa ≥0 a 0,20, pobre; >0,20 a 0,40, ligeira; >0,40 a 0,60, razoável; >0,60 a 0,80, boa; >0,80 to 0,92, muito boa; e >0,92, excelente.

As variáveis em estudo foram: data de nascimento; o género (feminino ou masculino); região de residência, posteriormente reclassificada segundo NUTS-II (Nomenclatura

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

Portuguesa de Unidades Territoriais para Fins Estatísticos); classificação da FL/P segundo Spina (grupo I, II, III ou IV); extensão (completa ou incompleta) e lateralidade (esquerda, direita, bilateral) da FL/P; história familiar de FL/P (sim ou não); deteção da FL/P durante o DPN (sim ou não); existência de diagnóstico sindrómico segundo critérios clínicos e/ou moleculares (sim ou não). A recolha destes dados foi realizada entre agosto e novembro de 2016.

3.2.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (Anexo 2).

Ao longo do estudo não foram registados dados relativos à identificação nominal dos participantes para garantir o anonimato. O acesso aos dados obtidos ficou limitado aos investigadores responsáveis. Foi criada uma tabela de dados para tratamento estatístico, segundo um sistema de codificação preestabelecido, que impossibilita a identificação da identidade da pessoa nesse documento, de forma a analisar cada variável.

3.2.5 Análise estatística

A análise estatística foi desenvolvida no software IBM(c) SPSS(c) Statistics vs 23.0 (IBM™, USA). A descrição de variáveis contínuas (idade) foi feita através da indicação do mínimo e máximo e da mediana e respetiva amplitude interquartílica (P25 a P75), dada a não normalidade de distribuição observada. Para as variáveis categóricas calculou-se, para cada categoria, a contagem e respetiva percentagem. A associação entre variáveis categóricas foi realizada com recurso ao teste qui-quadrado ou teste Exato de Fisher, conforme apropriado. A comparação de percentagens para variáveis dicotómicas foi feita com o teste binomial.

As diferenças foram consideradas estatisticamente significativas para p < 0,05.

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

3.3 Resultados

Caracterização geral da amostra

Este estudo incluiu um total de 240 registos clínicos de FL/P disponíveis. A Tabela 1 apresenta a distribuição dos indivíduos com FL/P de acordo com o género, a classificação de Spina, a extensão, a lateralidade, o DPN, as malformações associadas e a história familiar de FL/P.

Tabela 1 – Caracterização de 240 indivíduos com fenda lábio-palatina (FL/P).

Variáveis Estatística Valores Me (P25-P75) 13 (8-20) Idade (anos) min-max 0-56 Masculino n (%) 135 (56,3%) Género Feminino n (%) 105 (43,7%) I n (%) 52 (21,7%) II n (%) 93 (38,8%) Grupo FL/P * III n (%) 92 (38,3%) IV n (%) 3 (1,3%) Extensão da FL/P Completa n (%) 154 (70%) (n=220) Incompleta n (%) 66 (30%) Esquerda n (%) 69 (47,9%) Lateralidade Direita n (%) 36 (25%) (n=144) Bilateral n (%) 39 (27,1%) Ausência de DPN ecográfico n (%) 4 (1,7%) Diagnóstico na altura da gravidez Pré-natal S/I n (%) 100 (41,7%) (n=136) Não n (%) 92 (38,3%) 92 (67,6%) Sim n (%) 44 (18,3%) 44 (32,4%) S/I n (%) 5 (3,3%) Malformações Não n (%) 108 (70,6%) 108 (73,0%) associadas (n=153) Sim n (%) 40 (26,1%) 40 (27,0%) História familiar S/I n (%) 68 (28,3%) de FL/P Não n (%) 118 (49,2%) 118 (68,6%) (n=172) Sim n (%) 54 (22,5%) 54 (31,4%) * I – FL; II – FLP; III – FP; IV – fendas raras da face; S/I – Sem informação; Me – Mediana.

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

Quanto à região de habitação, segundo NUTS-II, a distribuição dos indivíduos foi a seguinte: 177 (73,6%) Norte, 31 (13%) Centro, 20 (8,3%) Lisboa, 4 (1,7%) Alentejo, 3 (1,3%) Algarve, 1 (0,4%) da R. A. dos Açores, 1 (0,4%) da R. A. da Madeira, e 3 (1,3%) S/I (informação não presente em tabela).

A amostra é constituída por 56,3% de indivíduos do género masculino, com idades entre 0 dias e 56 anos, que apresentam uma mediana de 13 anos, e metade dos indivíduos está na faixa etária entre 8 e 20 anos (Tabela 1).

As FL/P do grupo II e III de Spina são as mais prevalentes (38,8% e 38,3%, respetivamente) assim como a fenda completa (70%) e a lateralidade esquerda (47,9%). Do total de DPN realizados, 67,6% não revelaram a existência de FL/P. Nesta amostra, para casos com informação presente no processo clínico, 73% dos indivíduos não têm síndromes associadas e 68,6% não têm familiares com FL/P (Tabela 1).

Tabela 2 – Síndromes/malformações identificadas na amostra em estudo.

% de indivíduos % de indivíduos com Sindromes/malformação n com malformação malformação na (n=40) amostra (n=240) Sequência de Pierre Robin 20 50,0% 8,33% Síndrome de DiGeorge 8 20,0% 3,33% Síndrome de Stickler 3 7,5% 1,25% Síndrome de Goldenhar 2 5,0% 0,83% Síndrome de Loeys Dietz 2 5,0% 0,83% Síndrome de Aicardi 1 2,5% 0,42% Síndrome de Apert 1 2,5% 0,42% Síndrome de Kabuki 1 2,5% 0,42% Síndrome da Metafêmea 1 2,5% 0,42% Síndrome de Patau 1 2,5% 0,42%

As anomalias detetadas com mais frequência nesta amostra (Tabela 2) foram a sequência de Pierre Robin (50%), a síndrome de DiGeorge (20%), síndrome de Stickler (7,5%) e com igual prevalência a síndrome de Goldenhar e a síndrome de Loeys Dietz (5%).

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

Tabela 3 – Relação entre grupo de fenda lábio-palatina (FL/P) e género, diagnóstico pré-natal (DPN), história familiar de FL/P e presença de síndromes/malformações.

Grupo de FL/P*

Variáveis I II III IV p n (%) n (%) n (%) n (%)

Género (n=240) Masculino 34a (66,7%) 58a (63,0%) 41b (44,0%) 2a.b (50,0%) <0,001 Feminino 17b (33,3%) 34b (37,0%) 52a (56,0%) 2a.b (50,0%)

FL/P (n=220) Completa 22b (46,8%) 92a (100%) 39b (48,1%) - <0,001 Incompleta 25a (53,2%) 0 b (0%) 42a (51,9%) - Esquerda 27a (51,9%) 42a (45,6%) - - Lateralidade Direita 20a (38,5%) 16 a (17,4%) - - <0,001 (n=144) Bilateral 5b (9,6%) 34a (37,0%) - -

Diagnóstico Não detetada 13b,c (52,0%) 20c (40,0%) 56a (98,2%) 3a,b (100%) <0,001 pré-natal (n=135) Detetada 12a,b (48,0%) 30a (60,0%) 1c (1,8%) 0c (0%)

História familiar Não 25 (71,4%) 46 (64,0%) 45 (71,4%) 1 (50,0%) 0,468 de FL/P (n=172) Sim 10 (28,5%) 26 (36,0%) 18 (28,6%) 1 (50,0%)

Malformações Não 19a (90,5%) 63a (91,3%) 25b (45,5%) 1b (33,3%) <0,001 (n=148) Sim 2b (9,5%) 6b (8,7%) 30a (54,5%) 2a (66,7%) a,b,c – letras diferentes indicam diferenças significativas em relação às características das covariáveis; * I – FL; II – FLP; III – FP; IV – fendas raras da face.

Como se pode observar na Tabela 3, existe uma associação significativa (p <0,001) entre a classificação FL/P e o género, sendo a FL/P do grupo I (66,7%) e II (63%) mais prevalente no sexo masculino e a do grupo III (56%) no sexo feminino. O grupo IV não pode ser significativamente associado a qualquer género devido ao baixo número de casos observados.

Observou-se uma associação significativa entre a classificação de FL/P e a fenda completa (p <0,001), em virtude de todos os casos do grupo II (FLP) serem completos.

Na lateralidade, o lado esquerdo predomina no grupo I (FL) e no grupo II (FLP) (51,9% e 45,6%, respetivamente), e foi encontrada uma associação estatisticamente significativa (teste do Qui-quadrado, p = 0,001) entre FL/P do grupo II e a bilateralidade (Tabela 3).

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

Há uma associação significativa (p <0,001) entre FL/P do grupo II e a existência de DPN positivo (60%) e existe uma associação significativa (p <0,001) entre FL/P do grupo III e a existência de DPN negativo (98,2%).

Não foi detetada associação significativa entre a classificação da FL/P e a existência de história familiar de FL/P (p = 0,468).

A presença de uma síndrome associada está significativamente relacionada (p <0,001) com FL/P do grupo III (FP) e IV (fendas raras da face) (54,5% e 66,7%, respetivamente), enquanto que a ausência de diagnóstico sindrómico se associa significativamente a FL/P do grupo I (FL) e II (FLP) (90,5% e 91,3%, respetivamente).

Diagnóstico pré-natal

Os resultados do DPN foram analisados detalhadamente.

Tabela 4 – Distribuição da fenda lábio-palatina (FL/P) segundo a extensão e o diagnóstico pré-natal (DPN), para 133 indivíduos com DPN conhecido.

DPN FL/P * I II III p

bB aA b Não detetado Completa 4 (30,8%) 20 (100%) 24 (42,9%) <0,001 (n=89) Incompleta 9aA (69,2%) 0B (0%) 32a (57,1%) p (binomial) 0,024 <0,001 0,133

Completa 7b (58,3%) 30aA (100%) 1b (50,0%) Detetado(n=44) <0,001 Incompleta 5a (41,7%) 0B (0%) 1a (50,0%) p (binomial) 0,572 <0,001 1,000 a,b – letras diferentes indicam diferenças significativas em relação às características das covariáveis; A,B – letras diferentes indicam diferenças significativas por grupo FL/P; * I – FL; II – FLP; III – FP; IV – fendas raras da face.

Relativamente aos casos de FL/P não detetados por DPN e a extensão da fenda (Tabela 4), no grupo I (FL), a maioria das fendas era incompleta. No grupo III (FP), não se verificou diferença estatisticamente significativa relativamente à extensão da fenda

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

(completa ou incompleta) (Tabela 4). Nos diferentes grupos, as fendas não detetadas por DPN são maioritariamente incompletas e as detetadas completas (Tabela 4).

Tabela 5 – Distribuição da fenda lábio-palatina (FL/P) segundo síndromes/malformações e diagnóstico pré-natal (DPN) (n = 104). Grupo FL/P * Malformações DPN I II III IV p FL/P não 7b (43,8%) 14bB (36,8%) 21aA (100%) 1a,b (100%) detetada Não (n=75) <0,001 FL/P 9a (56,3%) 24aA (63,2%) 0bB (0%) 0a,b (0%) detetada p (binomial) 0,618 0,029 <0,001 n.a. FL/P não 1b (50,0%) 1b (50,0%) 22aA (95,7%) 2a,b (100%) detetada Sim (n=29) <0,001 FL/P 1a (50,0%) 1a (50,0%) 1bB (4,3%) 0a,b (0%) detetada p (binomial) 1.,000 0,625 <0,001 0,063 a,b – letras diferentes indicam diferenças significativas em relação às características das covariáveis; A,B – letras diferentes indicam diferenças significativas por grupo FL/P; * I – FL; II – FLP; III – FP; IV – fendas raras da face.

Quando não existem síndromes ou malformações associadas (Tabela 5), foi encontrada uma relação significativa (p<0,001) entre DPN positivo e grupo II (63,2%; p=0,029). Nenhuma fenda do grupo III foi detetada por DPN (100%; p<0,001).

Quando existem síndromes ou malformações associadas, mantém-se a relação estatisticamente significativa (p<0,001), mas apenas para o grupo III. No DPN raramente foram detetadas FL/P grupo III, i.e., 95,7% (p<0,001).

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

Figura 3 – Distribuição segundo a década: os casos de fenda lábio-palatina (FL/P) e o diagnóstico pré-natal (DPN) (S/I; detetado; não detetado e total de casos).

Os resultados relativos ao DPN observado nos indivíduos nascidos depois de 1990 foram analisados por décadas (Figura 3). Os indivíduos que nasceram antes da data acima referida foram excluídos desta análise uma vez que os exames de diagnóstico ecográficos pré-natais apenas começaram a ser realizados neste ano (41).

Ao dividir a amostra dos indivíduos nascidos depois de 1990 por décadas verifica-se que desde a década de 90 à década de 2010 há uma diminuição dos casos clínicos sem informação (S/I) no que respeita à variável DPN: 66,2%; 40,7% e 5,11%, respetivamente. Relativamente aos casos detetados verifica-se um aumento gradual ao longo das três décadas 3,4%; 18,2% e 46,6%, respetivamente, mas ainda se observa um elevado número de casos não detetados (Figura 3).

Ao analisar os grupos da classificação de Spina ao longo das três décadas (Figura 4) observa-se que há um aumento diagnóstico por DPN em todos os grupos: no grupo I (1, 11 e 16 casos detetados, correspondente a 16,7%, 44% e 61,5%, respetivamente); no grupo II (4, 32 e 30 casos detetados, correspondente a 21,1%, 65,3% e 81,1%, respetivamente); e no grupo III (0, 1 e 2 casos detetados, correspondente a 0%, 1,6% e 5,9%, respetivamente).

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

nº de indi vídu os

Figura 4 – Distribuição segundo a década: os grupos de fenda lábio-palatina (FL/P) (grupo I; II; III e IV) e o diagnóstico pré-natal (DPN) (detetado; não detetado).

3.4 Discussão

Este capítulo descreve a caracterização de uma amostra Portuguesa de 240 indivíduos com FLP. Nesta amostra, observa-se que o grupo II (FLP) é o mais frequente, seguido do grupo III (FP) e do grupo I (FL). Este tipo de resultados é encontrado em alguns artigos (37, 138-141), mas em outros estudos verifica-se que a FL é mais comum do que a FP (38, 142-145).

Quanto à relação entre classificação e género, o grupo I e o grupo II são mais frequentes nos homens e o grupo III nas mulheres. Estes resultados são semelhantes aos já publicados (37, 39, 47, 146) e também aos encontrados em dois estudos realizados em indivíduos portugueses (40, 41). A causa da relação entre género e classificação FL/P ainda não é bem compreendida.

O grupo I e II são frequentemente unilaterais e mais comuns no lado esquerdo (35, 36, 141, 144). As fendas bilaterais são mais frequentes no grupo II (37%) do que no grupo I (9,6%), em concordância com outra investigação similar (147).

Com a evolução da tecnologia, no modelo de reconstrução 3D, o rosto pode ser rodado para visualizar o palato e assim efetuar um diagnóstico mais precoce (87, 88).

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

Nas últimas três décadas (1990-, 2000- e 2010-) observa-se que os dados de registos clínicos dos indivíduos com FL/P estão mais completos no que respeita ao DPN (Figura 3).

Não havendo prova de maior incidência de FL/P, o aumento da percentagem de casos detetados, ao longo destas três décadas, pode ser devido a um aumento da procura do DPN, aumento da sensibilidade dos profissionais para o DPN desta malformação, melhoria da capacidade de resolução dos meios tecnológicos ou melhoria dos registos clínicos.

Os resultados deste estudo vão ao encontro da informação disponível (80, 83, 148, 149), no que diz respeito ao DPN de FL/P. As fendas isoladas do palato, ou seja, do grupo III, completas ou incompletas, são mais difíceis de diagnosticar pela ecografia (98,2%), mas em percentagem significativamente superior quando a fenda é incompleta. No entanto, quando se analisa a amostra relativa a indivíduos nascidos após 1990 (41), ano em que se iniciam as ecografias para DPN em Portugal, e se divide a amostra por décadas, verifica-se que há uma maior deteção pré-natal de casos para qualquer grupo de fenda (Figura 3).

As fendas do grupo II são as que apresentam maior índice de diagnóstico in utero, assim como quando há uma malformação associada, o que está de acordo com estudos anteriores (73, 80, 85, 86).

As FL/P podem ser malformações isoladas ou estarem associadas a outras malformações congénitas (80, 85, 88, 150, 151), podendo constituir uma associação, ou uma entidade sindrómica de etiologia teratogénica, génica, cromossómica ou de etiologia desconhecida, mas provavelmente multifatorial. Estes resultados são também observados no presente estudo, onde há uma maior percentagem de FL/P não associada a síndromes ou malformações (73%). É necessário ter em conta que este diagnóstico foi baseado em experiência clínica. Para se confirmar os tipos de síndromes é necessária a realização de um estudo cromossómico.

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CAPÍTULO III – Caracterização da amostra

Também se verifica neste estudo, em concordância com o relatado por outros autores, que as FL/P do grupo III estão mais significativamente associadas a síndromes polimalformativas do que as FL/P dos grupos I ou II (73-76).

A sequência de Pierre Robin foi a anomalia mais comumente associada à presença de FL/P, o que está de acordo com o observado em outros estudos (40, 71, 72).

É conhecida a agregação familiar de vários tipos de malformações congénitas, nomeadamente de FL/P (152). A história familiar é um dos fatores de risco mais relevantes para a ocorrência de FL/P (68, 69), cerca de 30 a 40 vezes superior do que na população em geral, sendo observado um risco maior de desenvolvimento da FL ou FLP entre descendentes de portadores com estas malformações e um risco menor no caso de descendentes de indivíduos com FP isoladas (70), embora alguns autores relatem um maior risco de recorrência para as fendas do grupo III (FP) (153, 154).

Um estudo anterior realizado em Portugal demostrou que a distribuição dos indivíduos envolvidos era maior em Lisboa e Vale do Tejo (40), mas neste estudo verifica-se que há um maior número de indivíduos com FL/P do norte de Portugal. Esta distribuição pode não ser representativa da realidade por NUTS, apenas descritiva, pois está potencialmente enviesada pelo facto de a sede do grupo de investigadores de FL/P deste estudo se localizar no norte do País.

3.5 Conclusão

Neste estudo, verifica-se que a FLP e a FP, grupos II e III de Spina, respetivamente, são os mais prevalentes na população Portuguesa. As fendas unilaterais são mais comuns do que as fendas bilaterais e ocorrem com mais frequência no lado esquerdo do que no lado direito.

As FP, grupo III de Spina, são mais frequentemente encontradas em entidades sindrómicas. Cada vez mais a FL/P é diagnosticada no rastreio pré-natal, sendo o grupo III de Spina o menos diagnosticado in utero.

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CAPÍTULO IV

– Fenda lábio-palatina segundo a classificação de Spina – uma proposta de aditamento

CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

IV – Fenda lábio-palatina segundo a classificação de Spina – uma proposta de aditamento

4.1 Introdução

A classificação padronizada das patologias serve de orientação para que os profissionais de áreas afins possam comunicar entre si, identificando e qualificando o nível ou o grau de afetação de uma determinada patologia usando metodologias comuns. O mesmo ocorre na classificação das malformações congénitas e em especial na classificação das malformações congénitas da face. As referências utilizadas nas várias classificações são diversas e procuram, de uma forma unânime, encontrar um fio condutor que permita que os profissionais consigam transmitir informação relevante, utilizando a nomenclatura da referida classificação.

De forma geral, as classificações podem ser divididas entre amplas e complexas ou restritas e simples. As classificações amplas, por serem naturalmente mais abrangentes, tornam-se mais complexas, implicando uma utilização menos consensual. As classificações mais redutoras e consequentemente mais simples, acabam por alcançar grande adesão nos diversos meios científicos e académicos. Alguns exemplos dessas situações podem ser aqui reportados. Por exemplo, no caso das má-oclusões dentárias, a classificação de E. Angle, definida em 1899 e publicada no jornal Dental Cosmos (155), dividia as má-oclusões em apenas 3 grupos: classe I, classe II e classe III. Na classe I ficavam abrangidas todas as má-oclusões dentárias em ortognatia; na classe II todas as má-oclusões dentárias de endognatia ou retrognatia; e na classe III as má-oclusões dentárias de prognatia. Essa classificação sofreu evoluções ao longo do tempo subdividindo-se em outros elementos classificativos para abranger um maior número de má-oclusões. Todavia, o meio académico e científico adotou a classificação de Angle que é, ainda hoje, a classificação mais unanimemente utilizada, que permite aos ortodontistas consigam definir um padrão da má-oclusão a partir da simples informação de que o indivíduo é portador de uma classe I, de uma classe II ou de uma classe III (156).

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CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

Ao longo dos anos, desde 1922, têm sido propostas várias classificações para as FL/Ps (70, 136, 157-160), que utilizam referências variadas.

Atualmente, este tema continua a ser ainda bastante discutido, como é ilustrado em artigos recentes (135, 161). As atualizações procuram introduzir algumas informações complementares visando classificações mais abrangentes e explicativas.

4.2 Classificação de Spina

A classificação de Spina, em 1973 (136) foi a que alcançou maior abrangência e adesão pela sua simplicidade. Esta classificação, assim como as de outros autores (70, 159), utiliza o foramen incisivo como referência para tipificar as diversas incidências da fenda. O foramen incisivo é na verdade um vestígio embrionário resultante da fusão da pré-maxila com os processos maxilares.

Nas classificações das fendas da face, e em especial na classificação de Spina, procura-se um ponto de referência que possa ser orientador, para que os profissionais consigam, a partir desse ponto de referência, deduzir um modelo indicativo do grau de gravidade da fenda.

A classificação de Spina contempla uma divisão das malformações congénitas da face em quatro grupos: I, II, III e IV. Neste caso, os vários grupos referem-se ao tipo de fenda, nomeadamente: grupo I – pré-foramen; grupo II – trans-foramen; grupo III – pós-foramen; o grupo IV engloba fendas raras da face não relacionadas com o foramen incisivo (136).

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CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

Fenda do grupo I

A fenda do grupo I, ou fenda pré-foramen incisivo ou também designada fenda-labial, ocorre anteriormente ao foramen incisivo. É uma fenda do lábio que pode ou não abranger o processo alveolar. Pode ser classificada como incompleta (Figuras 5 e 6) ou completa (Figura 7), e dependendo se atinge ou não o foramen incisivo, pode ser unilateral, bilateral ou mediana.

Figura 5 – Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo I incompleta; a) e b) unilateral esquerda, extra-oral e intra-oral, respetivamente; c) e d) unilateral direita, extra-oral e intra-oral, respetivamente (Anexo 1).

Figura 6 – Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo I incompleta bilateral; a) e b) extra-oral e intra-oral, respetivamente, (Anexo 1).

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CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

Figura 7 – Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina: grupo I completa unilateral esquerda; a) e b) extra-oral e intra-oral, respetivamente, (Anexo 1).

Fenda do grupo II

A fenda do grupo II, ou fenda trans-foramen incisivo ou também designada fenda do lábio e palato, é uma fenda do lábio que atinge o processo alveolar e o palato. É classificada como completa uma vez que atinge sempre o foramen incisivo e pode ser unilateral (Figura 8) ou bilateral.

Figura 8 – Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo II; a) e b) unilateral direita, extra-oral e intra-oral, respetivamente; c) e d) unilateral esquerda, extra-oral e intra-oral, respetivamente, (Anexo 1).

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CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

Fenda do grupo III

Este tipo de fenda, fenda pós-foramen incisivo ou também designada fenda palatina ocorre posteriormente ao foramen incisivo, ou seja, é uma fenda do palato. Pode ser classificada como incompleta ou completa (Figura 9), dependendo se atinge ou não o foramen incisivo.

Figura 9 – Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo III; a) incompleta; b) completa (Anexo 1).

Fenda do grupo IV

As fendas do grupo IV também designadas fendas faciais raras, incluem as fendas oblíquas (oro-orbital), fendas transversais (oro-auriculares), fendas do lábio inferior e da mandíbula.

4.3 Aditamento à classificação de Spina

A utilização do foramen incisivo como referência de classificação, deixa em aberto algumas possibilidades de combinação das distintas apresentações anatómicas das fendas faciais.

Quando uma fenda pré- e pós-foramen surge no mesmo indivíduo, sendo ambas completas, recebe a classificação de grupo II ou trans-foramen. Neste caso a classificação de Spina define a fenda pelas estruturas envolvidas, a despeito da sua

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CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

ocorrência em momentos embrionários distintos, mas com enfâse claro na configuração anatómica.

Em alguns casos, mesmo que raros, a manifestação morfológica da fenda surge em simultâneo pré-foramen e pós-foramen, mas de forma isolada entre si. Nesse caso apenas uma das fendas é completa e a outra incompleta ou ambas são incompletas. Este facto mostra a existência de dois defeitos estruturais distintos, o grupo I de Spina (pré-foramen) e o grupo III de Spina (pós-foramen), em momentos embrionários diferenciados (47).

Se a fenda não envolve o foramen de forma comunicante I-III (podendo o foramen estar encerrado ou não), também não será menos verdade que esta se manifesta nas extremidades de estruturas com desenvolvimento embrionário temporalmente sequencial, que culmina como deficiência de fusão dos processos maxilares. Seguindo o mesmo padrão de raciocínio que norteia as demais classificações, conclui-se estar perante uma situação de união parcial ou incompleta das estruturas e, por isso, de uma fenda incompleta. O grupo II da classificação de Spina não contempla a divisão quanto a ser completa ou incompleta.

Sendo uma classificação, a distribuição por classes, categorias ou grupos com características semelhantes, de acordo com um determinado critério, deve possibilitar que as classes e as categorias sejam explicativas e agregadoras na sua essência, procurando evitar a duplicação ou ambiguidade.

No caso das fendas que acontecem pré- e pós-foramen isoladamente, mas em simultâneo, a classificação com a associação dupla (grupo I e III) não cumpre parte dos requisitos da classificação de Spina.

Para colmatar essa lacuna, os autores propõem estabelecer um aditamento a esta classificação, tornando-a mais abrangente e esclarecedora, sem com isso descaracterizar a simplicidade e a acessibilidade da classificação original.

Numa primeira abordagem do problema, considerou-se agregar apenas à classificação original a subclassificação “incompleta”. Esta opção foi excluída por se entender que, se os processos patogénicos ocorrem em momentos embrionários distintos, em estruturas

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CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

anatómicas distintas e culminando no facto de o foramen poder não ser afetado, esta proposta seria academicamente discutível e anatomicamente incorreta.

Considerando que as fendas isoladas do palato primário são do grupo I e as fendas isoladas do palato secundário são do grupo III, propõe-se a classificação de grupo IIa quando se verifica a associação destas duas ocorrências no mesmo indivíduo, numa alusão ao facto de associar duas classificações. Mantém-se a estrutura original proposta por Spina, tornando-a mais completa – Classificação de Spina-A, atualizada. Nas Figuras 10 e 11 exemplifica-se o aditamento proposto à classificação de Spina.

Figura 10 – Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo IIa – classificação da Spina, grupo I completo e grupo III incompleto (Anexo 1).

Figura 11 – Criança com FL/P, segundo a classificação de Spina grupo IIa – classificação de Spina, grupo I incompleto e grupo III completo (Anexo 1).

A classificação de uma patologia permite a aplicação prática e científica de uma estrutura de pensamento racional, com ampla aplicabilidade. Uma melhor

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CAPÍTULO IV – Proposta de aditamento à classificação de Spina

comunicabilidade e a manutenção essencial de uma classificação já estabelecida e amplamente utilizada justificam essa proposta.

Com a atual proposta, acredita-se estar a colmatar uma lacuna de uma classificação que se tornou uma ferramenta extremamente importante na comunicação e organização científica no que concerne às malformações congénitas da face.

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CAPÍTULO V

– Existem soluções para melhorar a higiene da área da fenda em indivíduos com fenda lábio-palatina? – revisão sistemática

CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

V – Existem soluções para melhorar a higiene da área da fenda em indivíduos com fenda lábio-palatina? – revisão sistemática

5.1 Introdução

As crianças com FL/P estão presentes no nosso dia a dia, fazem parte de nosso quotidiano, pessoal e profissional e, por vezes, familiar. Requerem cuidados mais específicos e mais frequentes do que a generalidade da população infantil e, por isso, é necessário que os profissionais de saúde tenham um conhecimento aprofundado nesta área complexa.

Os problemas dentários que mais afetam estas crianças são as má-oclusões, a cárie dentária, as anomalias dentárias e as doenças periodontais (1, 8-10). A cárie dentária continua a ser um problema de saúde pública, considerada como uma das patologias mais frequentes em crianças a nível mundial, embora minimizada pelos programas de prevenção e controlo fundamentais ao desenvolvimento físico, comportamental e emocional destas crianças.

A FL/P constitui um problema de saúde pública de relevo na infância. Por conseguinte, a difusão de medidas de prevenção que consciencializem a população da importância da saúde oral no bem-estar geral da criança é um imperativo em odontopediatria.

Os estudos epidemiológicos são escassos e não existe nenhum sobre a higienização da cavidade oral de crianças com FL/P.

Neste capítulo pretende-se responder à pergunta: “Existem soluções para melhorar a higiene da área da fenda em indivíduos com fendas?”

5.2 Materiais e método

5.2.1 Estratégia de pesquisa

A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados eletrónicas: PubMed, Web of

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Science, Cochrane Library e Scopus, em novembro de 2017.

Foram usados os termos MeSH: cleft lip; cleft palate; harelip; oral hygiene e toothbrush. Foram aplicados os marcadores booleanos “AND” e “OR” para combinar as palavras-chave: ((CLEFT LIP AND PALATE) OR HARELIP) AND (ORAL HYGIENE); ((CLEFT LIP AND PALATE) OR HARELIP) AND TOOTHBRUSH). A escolha das palavras-chave foi feita para ser simples e como cleft lip and palate e harelip são sinónimos, e na maioria das vezes eram usadas como uma alternativa uma da outra, os dois termos foram incluídos na pesquisa, utilizando o marcador booleano OR, em associação com a palavra principal cleft lip and palate. Não foi feita nenhuma restrição temporal.

5.2.2 Elegibilidade e diagnóstico

Inicialmente, os artigos foram selecionados pelo título e resumo, tendo sido excluídos os relatos de casos, séries de casos, estudos descritivos, artigos de opinião, cartas ao Editor, respostas a cartas ao Editor, e artigos que não se referiam à higiene oral em indivíduos com FL/P.

O primeiro critério de elegibilidade consistiu na seleção de artigos referentes à realização de higiene oral da FL/P. É importante mencionar que existem artigos que incluem indivíduos que estão em tratamento com aparelho ortodôntico fixo, o que comprova que a higiene oral está a ser estudada nos diferentes períodos do tratamento do indivíduo; contudo, esses artigos não foram considerados, porque esta revisão foi focada na escovagem da fenda.

O segundo e o terceiro critérios de elegibilidade consistiram, respetivamente, na exclusão de casos de enxerto ósseo e de casos sindrómicos isolados.

Como esta revisão não teve como foco as anomalias dentárias morfológicas nem a saúde nutricional, os artigos relativos a estes aspetos também foram excluídos, constituindo o quarto critério de elegibilidade.

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

O quinto critério de elegibilidade consistiu em incluir apenas os artigos escritos em língua inglesa.

Os artigos selecionados para revisão sistemática através da leitura do texto integral foram divididos em três categorias: higiene oral, índice de placa bacteriana e monitoração da escovagem.

As instruções do PRISMA para revisões sistemáticas foram seguidas ao longo do processo. O diagrama de fluxo PRISMA descrevendo a metodologia é apresentado na Figura 12.

o

ã Artigos identificados nas bases de Artigos adicionais identificados

ç a

c dados eletrónicas noutras bases de dados eletrónicas

i

f i

t (n = 275) (n = 3)

n

e

d I

Artigos repetidos excluídos

(n = 119)

o

ã

ç

e

l e S Artigos selecionados Artigos excluídos (n = 159) (n = 95)

Artigos completos excluídos e

d Não totalmente acessíveis n=10

a Artigos completos avaliados d

i 1º crtério de elegibilidade n=2 l

i para elegibilidade b

i 4º crtério de elegibilidade n=6

g (n = 63) e

l (n = 18)

E

s o

d Artigos incluídos na

í u

l revisão sistemática

c n

I (n=46)

Figura 12 – Fluxo de informação com as diferentes fases da revisão sistemática.

Os artigos foram analisados independentemente por dois revisores (RR, MCM). O risco de viés não foi aplicado neste tipo de estudo. O desacordo relativo à revisão foi resolvido por um terceiro revisor (CCS).

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

5.2.3 Resultados da pesquisa bibliográfica

A pesquisa bibliográfica resultou na seleção de 278 artigos potencialmente relevantes. As publicações duplicadas foram eliminadas (n = 119). Dos 159 artigos resultantes da seleção pelo título e pelo resumo foram excluídos 95 artigos por não estarem relacionados com o objetivo desta revisão sistemática.

Um artigo de revisão que incluía cinco estudos foi substituído por dois estudos, pois dois artigos não estavam acessíveis e um era duplicado.

Dos artigos selecionados nesta fase foram excluídos dez artigos que não estavam acessíveis em texto integral, dois que não cumpriam os primeiros critérios de elegibilidade e seis que não cumpriam o quinto critério de elegibilidade.

No final, foram selecionados 46 artigos que se incluíram nesta revisão sistemática: 24 estudos transversais (8, 10, 18, 106-112, 114, 119, 162-172); 12 casos controlos (9, 19-21, 92, 93, 113, 117, 173-176); 2 meta análises (1, 177); 2 estudos epidemiológicos (23, 118); 1 estudo descritivo quantitativo retrospetivo (178); 1 estudo observacional-transversal (179); 1 estudo prospetivo (180); 1 pesquisa qualitativa (13) e 2 revisões narrativas (12, 22).

5.3 Características do estudo

O conteúdo dos artigos em análise é apresentado na Tabela 6 (no final deste capítulo). Inicialmente foram analisados os resultados relativos a: (i) prevalência da placa bacteriana avaliada por um índice quantitativo; (ii) cpod/cpos e/ou CPOD/CPOS e (iii) os hábitos de escovagem e o uso de suplementos de flúor. Seguidamente analisaram-se as principais conclusões e questionaram-se os aspetos de artigos não conclusivos ou omissos relativamente à melhoria da higiene oral da área da fenda.

Os artigos em análise envolveram um total de 9759 indivíduos com FL/P e 80.356 indivíduos controlo. A faixa etária variou de 0 a 28 anos. Por vezes, a informação não estava completa. Por exemplo, a maioria dos estudos não identificou o período exato do estudo, e alguns não referiram o país onde o estudo foi realizado. Apesar de abordarem a saúde oral, alguns estudos focaram apenas as lesões de cárie dentária, outros incidiram

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

na placa bacteriana e há ainda estudos que endereçaram ambas as variáveis.

Verificou-se que há uma grande preocupação no estudo das alterações inevitavelmente associadas a crianças com piores índices de placa e maior prevalência de lesões de cárie dentária.

As informações presentes nos artigos em análise mostram indivíduos em diferentes fases do desenvolvimento oral, isto é, com dentições decíduas, mistas e permanentes, o que sugere que persiste o risco aumentado de problemas orais (9, 112, 163, 168-170, 174, 178-180).

5.4 Discussão

O processo de seleção dos artigos foi rigoroso e extenso. Os estudos mais relevantes foram incluídos, embora os artigos que não estavam totalmente acessíveis ou os de outros idiomas pudessem, eventualmente, ter acrescentado alguma informação específica e relevante sobre este assunto.

Pela revisão da literatura, constata-se que a maioria dos autores que investiga a FL/P apresenta sobretudo dados relacionados com aspetos etiológicos, epidemiológicos e ortodônticos. São poucos, porém, aqueles que descrevem aspetos relacionados com a higiene oral, nomeadamente a prevenção da cárie dentária e a higienização da zona da fenda.

As má-oclusões são comuns em indivíduos com FL/P, que podem apresentar discrepâncias esqueléticas de tamanho, forma e posição dos maxilares (11, 12, 21, 92). As anomalias ósseas e dentárias dificultam a remoção da placa bacteriana em crianças com FL/P, o que está na base da alta incidência de problemas de saúde oral.

Um dos primeiros estudos sobre cárie dentária em crianças com FL/P foi realizado por Lauterstein e Mendelsohn em 1964 e, já nessa altura, os investigadores observaram o aparecimento de cárie dentária relacionada com os diferentes tipos de fenda e a sua distribuição nos maxilares (176).

A maioria dos autores é unânime em relatar a alta prevalência de cárie dentária em

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

crianças com FL/P (1, 8, 9, 11, 92, 93, 172, 173) independentemente do tipo de fenda. Há estudos que relacionam o tipo de fenda com a incidência de cárie dentária (1, 10, 11, 21, 92, 109) e outros que relatam (21, 163), cit. in (1) uma relação direta entre a gravidade da fenda e a cárie dentária.

Este elevado risco de cárie dentária pode estar relacionado com a anatomia da região, porquanto pode facilitar a retenção de alimentos na fenda (22, 92), assim como com a má- oclusão (11, 92, 110). A incidência das anomalias dentárias é maior em portadores de FL/P do que na população em geral e, entre as mais observadas, estão as anomalias de forma (fusão dentária, geminações e conoides) (9, 93), as anomalias dentárias de estrutura do esmalte (hipoplasia dentária) (10, 12, 19, 92) e as anomalias de número (agenesias dentárias ou supranumerários) (9).

Os fatores predisponentes para a ocorrência de cárie dentária em crianças com FL/P estão associados à microbiota cariogénica (8, 18-20), ao tipo (8, 21, 92, 93, 111) e frequência de alimentação (113), à respiração (93), à escolaridade da mãe (8, 112), ao género (1, 113), à maior preocupação com as diversas cirurgias corretivas (9, 21, 92, 93) e ao receio de higienização da área da fenda (9). O facto de os tecidos cicatriciais da zona da fenda dificultarem a técnica de higienização favorece uma maior retenção e/ou dificulta o controlo da placa bacteriana, resultando um IP mais elevado (19, 114). Alguns tecidos podem servir como habitat para agentes patogénicos e, consequentemente, aumentar o risco de doença periodontal (109), principalmente na zona adjacente à fenda (20, 106, 107, 110) e em particular em indivíduos com comunicação oro-nasal (9, 18).

A maioria dos estudos (11, 21, 22) aborda os problemas relacionados com a placa bacteriana, as lesões de cárie dentária, os hábitos de escovagem e tipo de alimentação e a supervisão parental. Existe ainda bibliografia sobre os cuidados e orientações de prevenção, rotina e prioridade de escovagem (13, 23) e apenas um estudo fala no tipo de escova a utilizar (escova de tamanho para lactente) (12).

Da bibliografia analisada, verifica-se que as crianças e os seus pais têm dificuldade em higienizar corretamente a área da fenda. Os aspetos relacionados com a escovagem são de particular relevância. A escova de dentes convencional não apresenta características que permitam alcançar a área mais profunda da fenda e pode também lesionar o palato e

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

consequentemente a área da fenda. Há ainda, frequentemente, o receio em escovar a área da fenda.

A escovagem imperfeita predispõe ao aparecimento de processos inflamatórios na área da fenda, comprometendo as estruturas orais, nomeadamente o dente, o osso e o enxerto.

Embora muito se discuta sobre os problemas orais associados à FL/P, existe pouca preocupação na resolução dos mesmos, como se comprova pelo número escasso de artigos publicados (12).

Perante esta lacuna, há uma necessidade de melhorar os cuidados de higiene oral destas crianças. Torna-se assim urgente apresentar uma solução deve ter como base a manutenção de uma saúde oral ao longo de todo o desenvolvimento, contribuindo assim para num melhor prognóstico nas diversas intervenções cirúrgicas corretivas.

5.5 Conclusão

Considerando a revisão sistemática realizada que teve como objetivo a procura de soluções para a manutenção da higiene oral em crianças com FL/P, é importante salientar que existem poucos estudos sobre os métodos de prevenção de problemas orais nessas crianças. Há assim a necessidade de orientar cuidadosamente a prevenção de complicações associadas à deficiente higiene oral. Sugere-se, por este facto, a idealização de um projeto que possa contribuir para a eficácia da higiene oral nos indivíduos com FL/P.

Posto isto, o empenho dos profissionais de odontopediatria na divulgação contínua das medidas de prevenção e dos benefícios associados é, sem dúvida, um desafio a seguir, contribuindo para a melhoria significativa dos cuidados das crianças com FL/P.

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Tabela 6- Caracterização dos estudos incluídos na revisão sistemática, apresentados por ordem cronológica decrescente da data da publicação.

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período Diversos TE: revisão sistemática Estratificado por dentição: países, Indivíduos com FL/P têm e meta-análise. CPOD=0,28 (95%CI: 0,22- (1)2017 FL/P: maior prevalência de S/I Analisar a experiência S/I 0,34) S/I Até 2016 4768 cárie na dentição decídua de cárie nas crianças cpod/CPOD=0,26 (95%CI: Controlo: e permanente. com FL/P 0,20-0,32) 79318 Os cuidadores de crianças TE: qualitativo. com FL/P precisam de Reino Relatórios dos cuidadores Verificar a experiência apoio para realizar e Unido, 22 (13)2017 Crianças: da manutenção da manter a escovagem familiares S/I S/I - supervisão, motivação, S/I 5-11 anos escovagem dentária regular e priorizar a + crianças importância e dificuldade na entre crianças FL/P e os escovagem dentro do FL/P:16 escovagem dentária. seus cuidadores contexto exigente e de vida familiar dinâmica. Os cuidadores de crianças FL/P devem estar mais TE: epidemiológico. HO =presença/ausência. 80,6% dos casos de cárie nos motivados fazer uma Avaliação da extensão e Frequência de escovagem Roménia, incisivos centrais decíduos correta HO. (23)2017 Crianças: incidência das lesões de 2x/dia = 39% 64 Índice de HO 1=22,7% superiores causam cárie nos Necessidade de S/I 3-6 anos cárie em dentição Devidamente escovado=59% 54,5% ♂ Índice de HO 2=31,8% incisivos laterais decíduos programas de saúde oral decídua de crianças com Programas de fluor= 27,3% Índice de HO 3=45,5% superiores e intervenções para FL/P. controlo da placa dentária na dentição decídua. TE: transversal IP O’Leary É essencial incluir a Avaliar o estado avaliação periodontal e o (106)2017 Polónia, Crianças: periodontal, parâmetros IC=49,5% tratamento preventivo julho a nov S/I S/I 15 6-18 anos mucogengivais e HO em IL=38,5% para uma abordagem 2015 crianças C=43,5% abrangente o mais cedo com BFL/P. 1ºPM=37% possível Malformações dos TE: transversal. FL/P vs Controlo tecidos moles causadas Crianças: Avaliar diferenças nos IC =55%vs 43,3% (108)2017 Polónia, pelas fendas e os 10-18 parâmetros periodontais IL =67,5% vs 35,7% S/I S/I S/I 15 procedimentos cirúrgicos anos e de HO em C =50% vs 48,2% prévios têm influência UFLP vs Controlo 1ºPM=39,3% vs 33,3% negativa nos parâmetros

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período periodontais no lado da fenda. É necessário uma avaliação periodontal numa abordagem abrangente em crianças FL/P para controlar a doença periodontal. TE: caso-controlo. Avaliar a viabilidade da implementação do CAMBRA durante a Pasta fluoretada 1x/dia (174)2017 Crianças: consulta médica num =98%, E.U.A., cárie vs alto risco de cárie julho 2011 0-5a, n=78 centro de terceira idade, verniz de flúor nos últimos 6 161 S/I 0-5 anos: 45% vs 31% S/I a outubro 6-18a, que acompanha crianças meses=92% 91♂, 69♀ 6-18 anos: 69% vs 45% 2012 n=83 com anomalias crânio- Pasta fluoretada 2x/dia faciais. = 81% Avaliar a prevalên-cia e fatores de risco de cárie; e conhecimento de HO TE: retrospetivo cpod/CPOD >prevalência de cárie em quantitativo descritivo. 2-5 vs 10-12 crianças FL/P > índice de Conhecer a prevalência 11,80±6,05 vs cárie com a idade. (178)2017 de cárie dentária e os 3,40±2,72/8,80±4,12 Filipinas, Crianças: A falta de HO e a 2009 até resultados do índice de S/I p<0,0001 S/I 332 2-12 anos presença de outros fatores 2012 cárie em crianças 6-9 vs 10-12 predisponentes aumentam Noordhoff Craniofacial 11,98±4,46/3,39±1,91 vs a sua suscetibilidade para Foundation Philippines, 3,40±2,72/8,80±4,12 lesões de cárie. Incorporated (NCFPI). p<0,0001 Crianças com FL/P > TE: caso-controlo. Elevado risco de cárie grupo, FL/P IP Quigley-Hein riscos de cárie, (altos Comparar os perfis de p>0,05 5a, n= 77; modificado níveis de placa Suécia, risco de cárie FL/P vs cpos 10a, n=56 bacteriana.), com má HO (9)2015 FL/P:133 Controlo, com a mesma FL/P vs Controlo Rotina de HO, hábitos Controlo FL/P vs Controlo e elevada contagem de S/I Controlo: idade utilizando um 5 anos nutricionais e flúor 5a, n=133 Baixo=45% vs 57% Lactobacilos salivares. 297 modelo computacional 1,2(2,5) vs 1,0(3,0) 10a, Médio=51% vs 42% Necessidade de um de avaliação de risco de 10 anos n=164 Alto=4% vs 1% modelo de avaliação do cárie. 1,6(2,3) vs 3,2(4,1) risco de cárie como rotina

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período dos cuidados, e a implementação de cuidados preventivos.

TE: caso-controlo. Índia, 73 Avaliar a hipótese de FL/P:23; que não há diferenças Não foram observadas Controlo: nos vários fatores de FL/P vs Controlo com diferenças significativas entre Os fatores de risco da 50 (25 (92)2015 Crianças: risco de cárie dentária elevado risco de cárie os três grupos em relação à cárie dentária > FL/P vs elevado S/I S/I 4-9 anos entre crianças com 8,65±5,80 vs 12,64±3,43 frequência de escovagem, % Controlo, com ou sem risco FL/P vs Controlo sem p<0,01 que usa pasta fluoretada e a risco de cárie. cárie; 25 FL/P com alto risco de frequência/dia sem cárie e sem risco de cárie) cárie. TE: transversal. Comparar os resultados de audição e de saúde Sem PB=69,2% No geral, a centralização Reino Idade oral dos estudos do <1/3 do dente com CCUK vs CSAG dos serviços de FL/P no (162)2015 Unido, mediana Clinical Standards PB=28,8% cpod=0 S/I Reino Unido teve pouco S/I 264 5,5 anos Advisory Group >1/3 do dente com 47,7% vs 45,2% p>0,05 impacto na saúde oral das 67,4% ♂ (CSAG, 1998) e do PB=2% crianças com UFLP. Cleft Care UK (CCUK, 2013). TE: transversal. A presença de FL/P em Estudo sobre cárie indivíduos de 12 anos dentária e qualidade de teve impacto negativo na (167)2015 Brasil, 50 Crianças: Sem cárie 26% vida relacionada com a S/I S/I QV e esse impacto foi S/I 33♂, 17♀ 12 anos CPOD=1,70, p>0,05 saúde oral (QV) em significativo para a perda indivíduos Brasileiros dentária por cárie com FL/P dentária. TE: transversal. FL/P vs Controlo: FL/P vs Controlo: Tailândia, Determinar os níveis de prevalência de cárie Escovagem com outros FL/P:68 As crianças FL/P: níveis Crianças: cárie dentária, doença FL/P vs Controlo: 48,5% vs 20,3% métodos (114)2014 34♂, 34♀ mais altos de cárie 10-14 periodontal e saúde oral 0,99±0,47 vs 0,85±0,55, p<0,01 85,3% vs 78,8% p>0,05 S/I Controlo: dentária e de gengivite, e anos - relacionada com p=0,02 CPOD: Frequência de escovagem >2 118 pior HO. qualidade de vida em 0,82±1,23 vs 0,38±0,93 p<0,01 vezes/dia 48♂; 70♀ crianças com FL/P. cpod: 60,3% vs 68,6% p>0,05

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período 0,66±1,38 vs1,05±1,72 p=0,08 TE: transversal. Necessidade da Avaliar a viabilidade da implementação de implementação do protocolos como o Crianças: CAMBRA (“Caries CAMBRA. Os resultados FL/P vs Controlo Pasta fluoretada pelo menos (166)2014 1-18 anos Management By Risk podem auxiliar os Cárie dentária=57% 2x/dia julho 2011 E.U.A., Assessment”) durante profissionais de saúde de S/I 0-5a vs 6-18a a outubro 161 0-5a, n=78 uma consulta médica centros craniofaciais e 0-5 anos vs 6-18 anos risco de cárie: OR= 1,10 2012 6-18a, num lar de 3ªidade hospitais pediátricos a 45% vs 69%, p<0,01 (p>0,05) vs OR= 0,91 (p>0,05) n=83 institucional, que melhorar a compreensão acompanha crianças da HO e dos cuidados com anomalias dentários dos indivíduos craniofaciais. com anomalias. FL/P vs Controlo Frequência de escovagem Brasil, TE: caso-controlo. ≥3x/dia: 80% vs 70% IP Ainamo e Bay (93)2013 FL/P: 30 Comparar a incidência (p=0,552) FL/P vs Controlo março a Controlo: 12-21 de cárie em FL/P=100% pasta com flúor 100% vs 96,7% A experiência de cárie 75,60±22,08 vs dezembro 30 anos adolescentes e adultos Controlo=86,67% (p=1,000) FL/P > Controlos. 50,09±24,71 2010 36,7%♂, jovens com FL/P vs bochechos com flúor: 10% vs p<0.001 63,3%♀ Controlo. 20% (p=0,471) fio dentário diário: 33,3% vs 43,3% p=0,596)

TE: Meta-análise A experiência de cárie CPOD Diversos Avaliar a prevalência de FL/P não sindrómicos > (177)2013 1,5–29 1,38 (95%CI: 0,48-2,28) países, cárie em indivíduos não S/I S/I Controlos. tanto na N/A anos cpod FLP:474 sindrômicos com FL/P dentição decídua como na 1,51 (95%CI: 0,19-2,83) vs Controlo permanente.

TE: caso-controlo. FL/P vs Controlo Prevalência de cárie, Jordânia, Idade Avaliar e comparar a IP Silness e Löe cpod cumulação de placa FL/P:98 (21)2011 média saúde oral e o estado de BCLP vs UCLP 4,28±4,19 vs 1,66±1,440 bacteriana e gengivite: Controlo: S/I S/I 11,7 ± 6.3 HO de indivíduos com 1,89±0,73 vs 1,56±0,65, p<0,001 FL/P > Controlos, em 98 anos FL/P unilateral e p=0,02. CPOD dentes permanentes e 51♂, 47♀ bilateral. 4,58±5,37 vs 2,25±2,04 decíduos.

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período p<0,001 experiência de cárie ♀ > ♂ Cárie em dentes permanentes=15,9% TE: prospetivo. Excluído/restauração na Avaliar o estado de HO (180)2011 dentição permanente= 0 O estado de saúde oral de Nigéria, saúde oral destes Boa=38,6% abril a S/I Cárie: S/I indivíduos com FL/P é 52 indivíduos com Aceitável=45,5% junho 2007 <5 anos=0,006 mau. malformações em Má=15,9% 11-15 anos=0,5 Lagos-Nigéria. 26-30 anos =0,7 6-10 + 21-25 anos sem cárie Indivíduos com FL/P são mais propensos à doença Índice de higiene oral periodontal devido à TE: transversal S/I, 60 simplificado (IHO-S) retenção de alimentos na epidemiológico. (11)2010 (FL/P:20; HO baixa: fenda e incapacidade de S/I Analisar o estado S/I S/I S/I FL:20; FLP=75% manter uma boa HO. periodontal de FP:20) FP=30% > gravidade da doença indivíduos com FL/P. FL=20% periodontal se o defeito for extenso (lábio, alvéolo e palato) Índia, 120 TE: transversal. (109)2010 UFL/P: Analisar e comparar a Crianças: IP Silness e Löe problemas periodontais e julho 2008 60 HO e o estado 12-18 HO má, IP elevado. S/I S/I pior HO: a julho 40♂, 20♀ periodontal em anos UFLP > FP. FL/P > FP 2009 FP:60 indivíduos com FP e 41♂, 19♀ UFLP. TE: Revisão epidemiológica. Existe apoio aos Avaliar as atitudes dos cuidadores para a cuidadores de crianças Instruções de escovagem avaliação e tratamento (118)2010 Crianças: Índia, 100 com FL/P relativamente S/I S/I dentária=16% médico-dentário. A S/I 3-8 anos à prestação de cuidados Tratamentos restauradores=4% maioria pretende um dentários, odontopediatra no centro odontopediátricos vs das fendas. generalista.

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período FL/P vs Controlo Grécia, Suplementos de flúor grupo FL/P: > número de IP Silness e Löe FL/P:41 29% vs 5%, p<0,05 lesões de cárie iniciais + FL/P vs Controlo: Lesões de cárie cavitadas foram 23♂, 18♀ TE: caso-controlo. flúor aplicado no consultório má HO leva a > risco de Toda a dentição semelhantes nos dois grupos. UFL/P: Avaliaro perfil de saúde dentário cárie cavitada. A maioria 1,03±0,35 vs 0,76±0,29, (19)2009 26 Crianças: oral e a prevalência de 80,4% vs 90,2%, p>0,05 dos indivíduos estava em p=0,0003 Lesões iniciais / manchas S/I BFL/P: 4-18 anos lesões de cárie em escovagem supervisionada tratamento ortodôntico. É dentes adjacentes à brancas, 10 crianças e adolescentes 53,7% vs 39% imprescindível um fenda > incisivos superiores FP:5 com FL/P. programa preventivo 1,11±0,52 vs 0,82±0,40, FLP=85% p<0,001 Controlo: ≈ 50% das crianças e individualizado e p=0,0027 41 responsáveis intensivo de saúde oral. escovam os dentes =2x/dia FL/P vs Controlo TE: caso-controlo. p<0,005 Grécia, Avaliar a HO e a IP dentes anteriores (20)2009 FL/P:41 Crianças: pior HO (IP >) condição periodontal de 1,16 vs 0,82 S/I S/I S/I Controlo: 4-18 anos FL/P > Controlo. crianças e adolescentes IP Ramfjord 1,03 vs 41 com FL/P 0,76

IP Silness e Löe TE: transversal. ausência de placa Avaliar se os dentes bacteriana =2,60%; A doença periodontal em próximos à área da valor 2= 48,95%; indivíduos FL/P é fenda apresentam uma valor 3=40,50% Muita semelhante à observada (165)2009 Brasil, 15-49 maior prevalência e placa bacteriana S/I S/I noutras populações. A S/I 400 anos gravidade da doença =7,95%. presença daFL/P não periodontal Não há diferença parece aumentar a comparativamente aos significativa por arcadas prevalência da doença. dentes de outras áreas. dentárias, sextantes e género. TE: transversal. FL/P vs Controlo FL/P vs Controlo Incidência de cáries: Sul Avaliar se os cuidados FL/P > Controlo. O Tailândia, Crianças: de saúde oral ou o tipo CPOD Frequência de escovagem/dia ≥ estado da fenda não foi (111)2008 138: 18-36 de fenda oral têm S/I 9,19±6,04 vs 6,46±4,53 2 significante para CPI, e o S/I FL/P:69 meses influência nas CPI em p<0,001 50,7% vs 47,8%, p> 0.05 hábito alimentar noturno Controlo: crianças FL/P sem cárie Flúor foi o fator mais 69 8,7% vs 10,1% 23,2% vs 2,9%, p<0,001 importante para CPI nas

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período crianças FL/P. TE: transversal. Avaliar e comparar a HO ótima (API≤40%) saúde oral e os cuidados DMF=2,175±2,986; Alemanha, Frequência de escovagem ≥ de saúde oral entre dmf=1,500±2,640 100 2=74,2% (10)2007 Crianças: Polacos e Alemães com Insuficiente (70%>API>40%) DMF=3,917±2,74 Prevalência de cárie: (Polacos: 2004 a 3,5-18 FL/P acompanhados em dmf=4,000±2,944 FL/P > Controlo 37; Consulta de medicina dentária 2005 anos Łódz´ e Erlangen. Insatisfatória (API>70%) Alemães: ≥ Avaliação do nível de DMF=5,257±3,898 63) 1x/6 meses=84,5% realização de dmf=2,063±3,255 procedimentos de dmf p<0,001 e DMF p<0,001 cuidados orais. Os programas de prevenção dentária são importante em indivíduos com FL/P. TE: revisão narrativa Indivíduos com FL/P têm Avaliar os fatores pior HO e maior (22)2007 predisponentes que Incidência de cárie FL/P vs N/A N/A S/I S/I suscetibilidade à cárie por S/I contribuem para a cárie Controlo dificuldade em obter dentária em indivíduos controlo adequado da com FL/P. placa bacteriana associado a alterações dentárias e defeitos do lábio ou palato. HO ótima - API≤40%: Os resultados de HO na Alemães: 60% Alemanha e na Polónia TE: transversal. Polacos: 19% não são comparáveis, Avaliar e comparar a HO má pois há mais placa Polónia, HO e o estado Crianças: Alemãe e Polacos:57% bacteriana na população (164)2007 37 periodontal em crianças 3,5-18 Insatisfatoria 70% S/I S/I polaca. A acumulação de S/I Alemanha com UFLP e BFLP anos >API>40% ou placa bacteriana parece 63 acompanhados em insuficiente API>70% não ser um fator chave Łódz, na Polônia, e em Alemãe: 47% para causar destruição Erlangen, na Alemanha. Polacos: 91%; periodontal na área da p<0,001 fenda.

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período TE: transversal. Necessidade de Avaliar os Escovagem dentária realizada informação continua e a conhecimentos de saúde Brasil, 77,7% FLP completa: média pelas mães: 32% aplicação de métodos oral de mães de crianças Mães + cpod=5,60 Escovagem dentária para a prevenção de cárie (18)2006 Crianças: com FL/P, analisando a FL/P S/I 22.3% FLP incompleta: supervisionada pelas mães: dentária, porque uma 6 meses 3-5 anos aplicação prática dessas crianças: média cpod =6,45 68% saúde oral é fundamental informações com base 300 p>0,05 Fio dentário:14,6% bochechos para a reabilitação bem- na HO das crianças e na com flúor: 4,3% sucedida de indivíduos da prevalência de cárie FL/P das mães e das crianças. cpod grupo 2 anos vs 3 anos 6,57±5,59 vs 3,95±4,36 p>0,05 grupo 4 anos vs 5 anos 4,05±5,43 vs 6,27±3,80 p>0,05 TE: descritivo e grupo 3 anos vs 4 anos Não escovam 59,03% transversal. 3,95±4,36 vs 4,05±5,43 p>0,05 Escova e pasta dentífrica Avaliar o estado da (112)2005 Índia, 83, Crianças: Alimentação ao peito vs 16,86% Prevalência de cárie dentição decídua e as S/I S/I 46♂, 37♀ 2-5 anos biberão ou colher Escova manual e elétrica FL < FP ou FLP. necessidades de 5,11±5,19 vs 5,67±4,36, 14,45% tratamento em crianças p>0,05 Dedeiras ou outros 9,63% com FL, FLP e FP. FLvs FP 2,40±1,24 vs 5,67±4,66, p<0,05 FP vs FLP 5,67±4,66 vs 5,63±5,45 p>0,05 IP Silness e Löe FL/P vs Controlo TE: observational, FL/P vs Controlo Jordania, transversal 10-15 anos de idade 10-15 anos: Risco aumentado para (179)2005 FL/P:32 10-28 Determinar os níveis de 1,79±0,57 vs 1,28±0,38, CPOD=4,76±5,11 vs cárie dentária e doença S/I S/I Controlo: anos doença periodontal e p=0,016 2,08±1,12, p=0,04 periodontal: 32 cárie dentária 16-28 anos de idade 16-28 anos: FL/P > Controlos. FL/P vs Controlo 1,73±0,59 vs 0,96±0,30, CPOD=5,42±5,94 vs p=0 2,11±1,10, p =0,008 (168)2004 TE: transversal. 1-5 anos: A condição dentária e Brasil, 77 1-32 anos S/I S/I S/I Avaliar a saúde oral de cpod=2,91±3,99 periodontal:

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período indivíduos com FL/P. 6-12 anos: FL/P ≈ Controlos. cpod=2,77±3,15 Para as crianças de 1 a 5 6-12 anos: anos, existe uma elevada CPOD=1,87±1,78 necessidade de 13-18 anos: tratamento, bem como a CPOD=6,46±3,11 falta de um estilo de vida 19-32 anos: saudável. CPOD=13,62±6,51 FP vs Controlo Níveis de cárie Reino TE: caso-controlo. FL/P > Controlo cpod significativamente mais Unido, Verificar os níveis FP - HO má 2,38±0,28 vs 0,62±0,17 p Indivíduos que bochecham ou elevados em crianças (117)2004 Crianças: FP:81 microrganismos 2 = 48,58; p <0,001 <0,001 ingerem gotas de flúor FP vs com FP, associado a S/I 6-16 anos Controlo: associados à cárie FP vs Resultados: CPOD Controlo=10vs0 níveis mais baixos de HO 61 Controlo 2 = 63,44; p < 0,001 1,56±0,18 vs 0,48±0,17 p e níveis altos de <0,001 microbiota cariogénica. 4-6 anos: cpod=11,20±6,45 Crianças Vietnamitas idade Vietnam, TE: transversal. 6-12 anos: com FL/P > número de (anos) (170)2004 154 Avaliar a prevalência de cpod=2,77±3,15 dentes cariados. 4-6; S/I S/I S/I 54% ♂ cárie em crianças com 11-13 anos: Necessidade de uma 11-13, e 46%♀ FL/P CPOD=5,06±3,34 atenção especial para a 14-16 14-16 anos: saúde oral. CPOD=7,07±3,99 China, TE: transversal. cpod: FL/P:104 verificar os riscos de Frequência de escovagem (8)2001 Crianças: FL/P= 75%/3,7± 3,3 Prevalência de cárie: (FL:25; cárie em crianças de 3 a 6 S/I ≥1x/dia= 53% S/I 3-6 anos FL= 68%/2,7±2,5 FLP > FL ou FP. FP:79) anos p>0,05 FP= 77%/4,1±3,8 66♂, 38♀ FL vs FLP TE: transversal. 4 anos: cpod=1,3 A cárie é prevalente em Avaliar a prevalência de sem cárie: 63% indivíduos FL/P. Há Crianças: (169)2001 Reino cárie dentária e defeitos 8 anos: CPOD= 1,8 necessidade de uma 4, 8 e 12 S/I S/I S/I Unido, 91 de desenvolvimento do sem cárie: 36% abordagem mais assertiva anos esmalte em crianças 12 anos: CPOD= 1,8 para a prevenção da com FL/P sem cárie: 34% doença oral. Necessidade de (12)2000 TE: revisão narrativa. S/I S/I S/I S/I S/I acompanhamento e S/I S/I instruções HO.

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período Recomendação de escova com cabeça pequena API UFLP: HO má=73% Áustria, 80 TE: transversal. BCLP: (110)1999 (UFL/P:30 17-24 Analisar a situação Problemas periodontais: HO tendência para S/I S/I S/I FP:30 anos periodontal de UFL/P e FP ≈ Controlos. baixa=69% BFL/P:20) indivíduos com FL/P FP: OH na média, tendência para baixa HO=65% TE: transversal. Verificar a prevalência Crianças com FL/P de cárie em crianças alimentadas com biberão FL/P > 2 anos. Avaliar Cáries de biberão: biberão: na cama: > cárie. Falta de Taiwan, Cuidadores não mostram (119)1999 Crianças: o comportamento dos 25% motivação dos cuidadores 123 S/I diferenças no conhecimento S/I 2 anos cuidadores em relação Sem biberão: 10,3% para realizar cuidados 68♂, 55♀ sobre saúde oral (p>0,05) aos cuida-dos dentários, p=0,019 regulares de HO à alimentação por preventivos em casa nas biberão e à cárie suas crianças. dentária. Sem cárie=53,5% Indice de HO (Green e Cárie ativa=20% Vermillion) Cpos=2,3±5,1 CPOS=0,9±1,7 IP-S=0,9±0,7. Dentição decídua: Reino FLP=1,1±0,8 3-5 anos: 20% das crianças sem TE: transversal. Unido, IP-S:FL=0,7±0,7 cpos=1,9±6,5 cáries. A HO piora nos (163)1998 Crianças: Verificar o estado de 114 IP-S:FP=0,7±0,7 6-12 anos: S/I dentes anteriores S/I 3-18 anos saúde oral de crianças 61,4% ♂ IP-S anterior vs IP-S cpos=2,8±3,7 superiores após a com FL/P. 38,6% ♀ posterior p <0,001, Dentição permanente: cirurgia. IP-S superior e inferior 6-12 anos: p<0,005. CPOS=0,4±0,9 IP-S:BFLP vs UFLP 13-18 anos: p<0,05. CPOS=1,9±2,2 De acordo com o tipo de

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período fenda: Sem cárie FP=61,4%, FL=63,7%, FLP=45,8% CPOS vs tipo ou lateralidade da fenda p>0,05 A indisponibilidade geral de produtos de higiene dentária e o seu elevado TE: transversal. Sem cárie=6% custo podem contribuir HO Avaliar a saúde oral de Índice de cárie baixo=2% para a alta % de má HO e Rússia, excelente=6% (172)1998 idade: crianças Russas Índice de cárie moderado=37% de cárie dentária. 89, boa=28% S/I S/I 5-9 anos submetidas à Índice de cárie elevado=45% Compreensão limitada 62♂, 27♀ aceitável=44% palatoplastia primária cod=7,31±1,70 dos cuidadores sobre a má=22% Frolova COD=1,45±3,69 importância da HO e de uma dieta adequada na prevenção de problemas dentários. Alemanha TE: caso-controlo. 158 50% cárie FL/P: incisivos Avaliar a incidência de HO má FL/P:81 superiores, dentes adjacentes à FL/P vs Controlo (173)1997 cárie dentária na FL/P vs Controlo Indivíduos com FL/P > 49♂, 31♀ fenda e molares decíduos Flúor: 23,5% vs 19,5% não S/I dentição decídua em 59,3% vs 37,7% risco de cárie dentária Controlo: FL/P vs Controlo desde o nascimento (p>0,05) crianças com FL/P vs (p<0,05) 77 30,9% vs 6,5% (p<0,05) Controlo 35♂, 42♀ FL/P vs Controlo Crianças FL/P têm risco Cárie inicial para cárie dentária. A Holanda TE: caso-controlo. 17,1% vs 4% melhoria da HO é um FL/P vs Controlo 151; Analisar a prevalência FL/P vs Controlo p=0,0087 objetivo evidente para Cárie cavitada (113)1996 FL/P:76; Crianças: de cárie dentária Manifestação de cárie lesão de cárie diminuir este risco. Flúor S/I Controlo: 2,5 anos determinada HO baixa 26,3% vs 5,3% Crianças FL/P devem ser 90% vs 100% p>0,05 75; clinicamente 80% vs 100%, p<0,05 p=0,0005 submetidas o mais cedo

44♂, 32♀ FL/P vs Controlo cárie inicial ou cavitada possível a um programa 43,4% vs 9,3% preventivo que visa p< 0,0001 preservar uma dentição

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

Referência, País e ano Adultos/ Tipo de estudo (TE) e Tamanho Índice de Placa (IP) Cárie dentária Questionário Conclusão publicação, crianças objetivo amostra Período cárie inicial e cavitada decídua saudável. 10,5% vs 2,7%, p=0,0049 O dentista responsável pela prevenção deve ser incluído na equipa FL/P As cáries iniciais devem ser vistas como um sinal de alto risco. Pasta fluoretada – todas as FL/P vs Controlo crianças com FL/P: Necessidade um Suécia, TE: caso-controlo. Frequência de escovagem médico dentista para (175)1989 FL/P:49 Avaliar a prevalência e Sem cárie Crianças: ≥2x/dia = 75% iniciar o programa 1980 a 28♂, 21♀ atividade de cárie e S/I 22% vs 39% 4-5 anos Pelo menos 1x/dia=25% preventivo e fazer parte 1981 Controlo: condição gengival em Comprimidos de flúor da equipa 49 crianças com FL/P. cos (valor médio) FL/P vs Controlo multidisciplinar. 7,0 vs 3,9 43% vs 18% p<0,05 TE: transversal. IP O’Leary, Avaliar os hábitos de % de faces com placa (107)1985 Suiça, 80 adultos: > HO e a condição bacteriana: S/I S/I Inadequada HO S/I 40♂, 40♀ 18 anos periodontal de crianças FL=64,6% com FL/P FP=76,8% TE: transversal. Incisivos decíduos com cárie Avaliar as lesões de Crianças: FL/P > outros anomalias (171)1984 cárie nos incisivos Cárie nos incisivos E.U.A.,64 18 meses- S/I craniofaciais S/I S/I decíduos em crianças decíduos: > FLP 4 anos 2=5,45; p <0,05 com FL/P. Exame BFLP > UFLP > FP clínico visual. Não há diferença entre o TE: caso-controlo. Indivíduos de áreas fluoretadas número de lesões de E.U.A., Crianças Estudar a prevalência de (176)1964; FL/P vs Controlo com uma média de 2,01 de cárie nos dentes FL/P:285 média de lesões de cárie, 1980 a S/I dentes cariados comparado superiores do lado Controlo: idade: 8,5 distribuição óssea e 1981 CPO= 8,01 vs 7,54 com os pares de áreas não esquerdo ou direito da 300 anos tratamento em fluoretadas FP ou entre os dentes indivíduos com FL/P. maxilares/mandibulares. API – Índice de placa; BFLP – fenda lábio-palatina bilateral; C – canino; COD – cariado, obturado/dente permanente; cod – cariado, obturado/dente decíduo; cos – cariado, obturado/superfície; CPOD – cariado, perdido, obturado/dente permanente; cpod – cariado, perdido, obturado/dente decíduo; CPOS – cariado, perdido, obturado/superfície permanente; cpos – cariado, perdido, obturado/superfície decíduo; IC – incisivo central; IP-S – índice de placa simplificado; CPI – cárie precoce da infância; IL – incisivo lateral; HO – higiene oral; IP – índice de placa; PB – placa bacteriana; QV – qualidade de vida; S/I – Sem informação; TE – tipo de estudo; UFLP – fenda lábio-palatina unilateral; 1.º PM - primeiro pré-molar; % – percentagem.

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CAPÍTULO V – Higiene Oral – revisão sistemática

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CAPÍTULO VI

– Um novo dispositivo para a higiene oral de crianças com fenda lábio-palatina – cleft toothbrush

CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

VI – Um novo dispositivo para a higiene oral de crianças com fenda lábio-palatina – cleft toothbrush

6.1 Introdução

As FL/P (isoladas ou sindrómicas) são as malformações congénitas major mais comuns da face. Resultam de um defeito de fusão de diversos processos embrionários, entre a 4.ª e a 12.ª semana de vida intrauterina. Clinicamente, é observada uma alteração anátomo-funcional de uma ou de várias estruturas (lábio, processo alveolar, palato duro e mole). A fenda labial ou a fenda palatina e podem ser completas ou incompletas, uni ou bilaterais (24, 181).

A morfologia do espaço da fenda da cavidade oral, apesar de variável, apresenta elementos comuns, sendo originada pelo colapso dos segmentos laterais da maxila em direção ao plano sagital medial. As extremidades das cristas alveolares originam uma estrutura triangular, com vértice dirigido para oclusal e a base na direção à fenda. Esta forma triangular é semelhante à forma das ameias interdentárias (Figura 13).

Figura 13 – Fotografias intra-orais de uma criança com FL/P do grupo II da classificação de Spina (fenda do lábio e do palato completa do lado esquerdo): (a) colapso dos segmentos laterais da maxila (a linha tracejada corresponde ao plano sagital medial), a seta aponta para um dente supranumerário que se localiza na zona da fenda; (b) fotografia frontal e (c) fotografia lateral esquerda – espaço de forma triangular, com vértice dirigido para oclusal e a base em direção à fenda; e (c) a forma triangular da fenda é semelhante à forma das ameias interdentárias (triângulo tracejado) (Anexo 1).

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

As alterações ósseas e dentárias dificultam a remoção da placa bacteriana em crianças com FL/P, o que está na base da alta incidência de problemas de saúde oral (20, 21, 168). As alterações anatómicas e morfológicas contribuem para a acumulação de placa bacteriana e, consequentemente, dificultam a sua remoção. Assim, a alta prevalência de cárie dentária nestas crianças está bem documentada (1, 22, 92, 117, 177). Embora as medidas preventivas relacionadas com o aconselhamento dietético e a associação de um antissético oral à escovagem ajudem a minimizar o problema, não há um substituto para uma boa escovagem e uma efetiva remoção da placa bacteriana (12).

A importância de higienizar a zona da fenda de forma a manter uma boa saúde oral é destacada em vários estudos (12, 13, 21, 117). No entanto, vários motivos explicam as dificuldades das crianças e dos seus pais em realizar uma escovagem apropriada, principalmente o receio de lesionar os tecidos moles durante a escovagem, a preocupação com a hemorragia da gengiva inflamada e a dificuldade de acesso aos dentes e à área mais profunda da fenda (117, 118). Mesmo assim, pouca atenção foi dada à questão-chave – a escova de dentes. Encontrou-se apenas um estudo que refere que o uso de uma escova de dentes de tamanho para lactente e um escovilhão melhorariam a higiene da fenda em algumas situações (12).

Neste contexto, existe uma clara necessidade de desenvolver métodos aperfeiçoados de fácil acesso e higienização das áreas de alta retenção de placa bacteriana, seja pela morfologia da fenda ou pela sensibilidade dos tecidos circundantes devido às condições inflamatórias locais.

O objetivo deste estudo foi desenvolver uma escova especialmente projetada para melhorar a higiene da área da fenda.

6.2 Desenho e planeamento – cleft toothbrush

No desenho e planeamento da escova, decidiu-se criar um dispositivo que pudesse ser facilmente usado em conjunto com as escovas de dentes CURAPROX.

Dada a morfologia da fenda, o desenho de um novo dispositivo de higiene oral deve ter em consideração aspetos como a adaptabilidade ao contorno da fenda e o material da

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

escova. Além disso, partindo do pressuposto de que as crianças usam o novo dispositivo, o grau de dificuldade de utilização deve ser o menor possível.

Sendo os escovilhões interdentários indicados para uma melhor higienização entre os dentes, o desenho e planeamento da cleft toothbrush inspiraram-se na forma de um escovilhão, a qual foi adaptada para atender às especificidades de um espaço maior e mais complexo. Enquanto o escovilhão pode exercer a sua função com movimentos simples de vai-e-vem, a adaptação da escova para o espaço da fenda não pode ter o mesmo tipo de ação. O movimento semicircular de rotação sobre o próprio eixo foi determinado como o mais indicado para a obtenção dos resultados pretendidos. Assim, a introdução de uma ponta ativa na escova de forma a ajustar-se ao espaço foi determinante na conceção da forma em chama. O uso de cerdas nos 360° permite ao utilizador atuar sobre o cabo da escova com movimentos amplos e produzir um efeito de fricção por rotação, sem com isto produzir traumatismo nas mucosas.

A angulação entre o cabo e a ponta foi projetada para facilitar a aproximação e o acesso ao espaço. Com esta pequena angulação, o movimento de rotação da escova é obtido não pela rotação do cabo sobre o seu próprio eixo longitudinal, mas pela deslocação em semicircunferência do cabo da escova.

Este movimento é muito semelhante ao da escovagem com uma escova convencional, o que é um fator de maior adesão e facilidade de implementação na rotina da higiene oral. Esta ponta atua como uma mola, facilitando a manutenção de uma força de contacto durante a escovagem e o diâmetro é suficientemente pequeno para facilitar o acesso à fenda.

As cerdas não podem ser longas, pois ficariam demasiado flexíveis e não seriam eficazes na remoção da placa bacteriana. Por outro lado, se fossem demasiado curtas, não teriam a flexibilidade desejada e lesionariam os tecidos circundantes à fenda. A solução foi usar cerdas de diferentes comprimentos ao longo do eixo, permitindo uma melhor acostagem do novo dispositivo à fenda, aumentando o contacto com a zona a higienizar, contribuindo assim para uma maior remoção da placa bacteriana existente ao longo da zona da fenda.

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

Com base nas referidas ideias e requisitos, o modelo 3D foi projetado no SOLIDWORKS®, apresentado na Figura 14. Este modelo será analisado detalhadamente em seguida.

Figura 14 – (a) cleft toothbrush - modelo 3D; (b) elementos finitos malha sólida; (c) resultados da tensão na cleft toothbrush devido à carga aplicada (máximo de 14,20 MPa na conexão entre a haste e o corpo); e (d) o deslocamento máximo do dispositivo devido à carga aplicada – 0,663 mm atingido na ponta (área vermelha).

Simulação de elementos finitos

A análise por elementos finitos foi aplicada ao modelo 3D da cleft toothbrush para validar a resistência mecânica. Para este propósito, foi aplicada uma força de 3N (182-184) na ponta, na zona da haste, perpendicularmente ao seu eixo. O material escolhido para o corpo da escova de dentes foi o acrilonitrilo-butadieno-estireno, uma vez que este garante um bom acabamento superficial, impacto e resistência à tração (30 MPa).

A simulação foi feita no SOLIDWORKS®Simulation, assumindo um comportamento não linear do material. A malha foi gerada usando uma estrutura sólida com tamanho variável, 26.000 nós. As Figuras 14b e 14c apresentam a simulação do modelo de escova de dentes, onde as cores representam o nível de tensão mecânica alcançado ao aplicar uma força de 3N. Note-se que o local mais tenso é a conexão entre as duas

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

partes (o corpo do novo dispositivo e a zona da haste), que corresponde à área vermelha. Aquela tensão corresponde, sensivelmente, a metade da tensão máxima que o material pode suportar, ou seja, estando acautelado o seu uso. A Figura 14d mostra o deslocamento da superfície do modelo como consequência da força aplicada, que foi de cerca de 0,7mm na ponta, correspondendo à cor vermelha.

6.3 A eficácia da cleft toothbrush

Um protótipo da cleft toothbrush foi fabricado pela empresa CURAPROX usando, para o efeito, uma técnica de modelagem de deposição por fusão 3D. O corpo foi construído em acrilonitrilo-butadieno-estireno e as cerdas em nylon.

A eficácia da cleft toothbrush foi avaliada num estudo preliminar em que se comparou o desempenho da cleft toothbrush na remoção da placa bacteriana com o de uma escova de dentes convencional.

6.4 Material e métodos

6.4.1 Tipo de estudo

Foi realizado um estudo do tipo quasi-experimental.

6.4.2 Local do estudo

A avaliação da placa bacteriana foi realizada na clínica de medicina dentária da cidade do Porto – Compor (Anexo 6).

6.4.3 Amostra

O estudo preliminar foi realizado numa criança com FL/P do grupo I da classificação de Spina (136) completa unilateral esquerda, com quatro anos de idade, do género masculino.

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

6.4.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais

O protocolo usado foi aprovado pela Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, Portugal (Anexo 2). Foram respeitados todos os princípios éticos e legais e, neste sentido, a eficácia da cleft toothbrush foi avaliada após o consentimento informado obtido por escrito (Anexo 3), junto dos responsáveis legais da criança. Este documento foi assinado em duplicado, ficando um exemplar na posse do representante legal da criança e o outro na posse da investigadora (Anexo 4).

Ao longo do estudo não foram registados dados relativos à identificação nominal do participante para garantir o anonimato. O acesso aos dados obtidos ficou limitado aos investigadores responsáveis.

6.4.5 Desenho de estudo

A eficácia da cleft toothbrush na remoção da placa bacteriana foi comparada, usando o mesmo protocolo, com a de uma escova de dentes convencional (escova de cabeça pequena, cerdas de dureza média, todas do mesmo tamanho, que estavam presentes apenas num lado da escova).

A criança envolvida no estudo foi simultaneamente caso e controlo dadas as condições inerentes à condição da FL/P e outras variáveis potenciais (higiene oral e alimentação).

Devido à idade da criança e de acordo com a Academia Americana de Odontopediatria (115), a higienização oral da criança ficou a cargo dos pais.

A área da fenda a ser avaliada foi claramente definida, incluindo as faces vestibulares dos dentes adjacentes, à esquerda (canino supranumerário) e à direita (incisivo central) (Figura 15a).

O estudo teve a duração de 15 dias e dois momentos de avaliação.

O procedimento de escovagem foi efectuado com a cleft toothbrush ou com a escova de dentes convencional, durante 15 dias, seguindo um protocolo bem definido: escovagem

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

após o pequeno-almoço e após o jantar, com uma duração de 2 minutos (185). A avaliação da eficácia da escovagem com a cleft toothbrush ou com a escova de dentes convencional foi realizada pela determinação do índice de placa bacteriana em dois momentos diferentes (dia 1 e dia 15). Como a mesma criança foi simultaneamente caso e controlo, o protocolo de escovagem com cada uma das escovas foi espaçado por um período de 30 dias.

6.4.6 Avaliação do índice de placa bacteriana

A avaliação da quantidade de placa bacteriana na superfície vestibular dos dentes adjacentes à fenda, ou na fenda, foi realizada com um Índice de Placa bacteriana adaptado da Fenda (IPa-F). Inicialmente, para evidenciar a placa bacteriana, foi utilizada uma solução de eritrosina a 2%, conforme Índice de Greene and Vermillion (186). O IPa-F foi calculado dividindo a soma da extensão de superfície dentária corada de cada dente pelo número de dentes observados para se obter um valor médio. O IPa-F pode ter um resultado que varia entre 0 e 3, o que corresponde à extensão de superfície dentária corada com eritrosina 2% (0: sem coloração; 1: coloração <1/3; 2: coloração entre 1/3 e 2/3; 3: coloração> 2/3).

Um IPa-F de 3 foi o valor observado no dia 1 do estudo, quando se iniciou o protocolo da avaliação da eficácia da escovagem com a cleft toothbrush ou com a escova de dentes convencional. Imediatamente após o último procedimento de escovagem (dia 15 do estudo, após o jantar), o índice de placa bacteriana foi novamente avaliado, utilizando o IPa-F, para analisar a eficácia na remoção da placa bacteriana.

6.5 Resultados

Com a utilização da cleft toothbrush durante os 15 dias de estudo, o IPa-F diminuiu de 3 (dia 1, momento inicial) para 1 (dia 15, momento final), enquanto que com a escova convencional a redução observada foi de 3 (dia 1, momento inicial) para 2 (dia 15, momento final). Além disso, a cleft toothbrush teve uma aceitação muito boa por parte

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

da criança e dos seus representantes legais. Pode afirmar-se que a cleft toothbrush foi mais eficaz na escovagem e na higienização de áreas mais profundas da fenda, quando comparada com a escova de dentes convencional. Estes procedimentos revelaram ainda que a cleft toothbrush foi usada com mais segurança nos tecidos sensíveis da área da fenda, como foi relatado pelos pais/responsáveis. A Figura 15b ilustra o procedimento de higienização da fenda utilizando a cleft toothbrush.

Figura 15 – Fotografias intra-orais de uma criança com FL/P do grupo I da classificação de Spina (fenda labial completa do lado esquerdo); (a) os dentes foram corados para evidenciar a placa bacteriana, 1 – alimento na área profunda da fenda, 2 – observa-se que o dente supranumerário é o dente com mais placa bacteriana na superfície vestibular; (b) escovagem com a cleft toothbrush – as cerdas do topo da escova foram usadas para entrar na cavidade da fenda e realizados movimentos combinados de rotação e translação; e (c) a cavidade oral, após a escovagem, onde é possível observar a elevada eficácia da cleft toothbrush na remoção da placa bacteriana.

6.6 Discussão

Este estudo descreve o desenvolvimento e a avaliação de um dispositivo optimizado para a realização da escovagem na zona da FL/P – cleft toothbrush.

No desenho e planeamento da escova, decidiu-se não desenvolver uma escova completa, mas sim criar um dispositivo que pudesse ser facilmente usado em conjunto com as escovas de dentes CURAPROX. Esta abordagem destina-se a facilitar o transporte e a diminuir o custo da escova, uma vez que o desgaste das cerdas da escova convencional usada para a escovagem dos dentes não associados à fenda e da cleft toothbrush pode ser diferente. Esta metodologia permite otimizar o uso de cada uma das partes, mantendo a efetividade de ambas, pelo tempo em que cada uma é eficaz.

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CAPÍTULO VI – cleft toothbrush

A motivação para o desenho desta escova baseou-se numa necessidade clínica, devido à presença constante de um alto índice de placa bacteriana nos dentes adjacentes às fendas. A cleft toothbrush desenvolvida possui características que facilitam a higienização da fenda, além de aumentar o conforto da criança, permitindo que os tecidos adjacentes à fenda se mantenham saudáveis. Este novo dispositivo pode ser facilmente utilizado por crianças, auxiliadas ou não por adultos, contribuindo para uma melhoria da sua higiene oral.

6.7 Conclusão

A cleft toothbrush apresentou maior eficácia na remoção da placa bacteriana quando comparada com a de uma escova convencional, além de uma boa aceitação na rotina de escovagem. Devido aos resultados encorajadores deste estudo preliminar, a cleft toothbrush será testada num amostra apropriada de crianças com FL/P, de modo a comprovar estes resultados.

Estes resultados, sugerem que este dispositivo será certamente de grande ajuda para a higiene oral e para a saúde das crianças com FL/P.

6.8 Registo de Patente

Foi realizado o registo provisório de patente Portuguesa com nº 110683 W (Anexo 9) da cleft toothbrush.

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CAPÍTULO VII

– Higiene oral das crianças com fenda lábio-palatina: eficácia da cleft toothbrush

CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

VII – Higiene oral das crianças com fenda lábio-palatina: eficácia da cleft toothbrush

7.1 Introdução

A FL/P é a malformação congénita orofacial major mais prevalente, aproximadamente 1/700 (1). As alterações anatómicas e morfológicas associadas à FL/P favorecem a acumulação de placa bacteriana e dificultam muito a sua remoção. A alta prevalência de cárie dentária nestas crianças está bem documentada (1, 23, 174, 178, 187, 188). As medidas preventivas (189) relacionadas com o aconselhamento dietético e o uso de antisséticos orais ajudam a minimizar o problema, mas não há um bom substituto para uma boa escovagem que efetivamente remova a placa bacteriana (9, 13, 18, 19). As crianças e os pais têm dificuldade em higienizar corretamente a área da fenda devido a vários fatores: anatomia da fenda; perda de elasticidade do lábio cirurgicamente corrigido; facto da escova de dentes convencional não alcançar a área mais profunda da fenda e receio de lesionar os tecidos locais durante a higienização da área da fenda (9, 11-13). Estes fatores dificultam a manutenção de uma boa higiene do local. Além disso, um ou mais dentes, incisivo lateral, supranumerário ou pré-canino, podem erupcionar na área da fenda. Esses dentes não estão no plano oclusal do arco alveolar, mas precisam de ser mantidos com uma boa higiene para que o periodonto e a mucosa se conservem sãos. Esses tecidos são importantes para que o enxerto ósseo seja bem-sucedido, técnica e fisiologicamente. A inflamação periodontal promove alterações de diversos fatores, locais e sistémicos, que podem comprometer a osteointegração. Uma remodelação óssea negativa é uma ameaça constante para qualquer enxerto ósseo. Uma mucosa inflamada tem características de fragilidade estrutural do próprio tecido, que compromete a técnica de descolamento e de sutura, essenciais na manutenção, encerramento e cobertura do leito do enxerto.

A relevância da higienização da área da fenda é destacada em muitos estudos (12, 13, 21, 117). A má higiene oral favorece o desenvolvimento de processos inflamatórios locais que comprometem o dente que está na área da fenda, o osso e o enxerto ósseo. Claramente, uma escova de dentes convencional não apresenta as características

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

apropriadas para resolver os problemas decorrentes da existência da FL/P. Reconhecendo essa necessidade clínica, a investigadora descreveu recentemente o desenvolvimento de um dispositivo (capítulo VI) especialmente projetado para realizar a higiene da área da fenda – a cleft toothbrush (190), que é um complemento para uma escova de dentes convencional, e tem como objetivo higienizar as áreas que não são acessíveis quando se usa uma escova de dentes convencional. O projeto foi feito em SOLIDWORKS® (Waltham, MA, EUA) 3D e as amostras foram produzidas pela CURAPROX (Kriens, Suíça). Em comparação com uma escova de dentes convencional, a cleft toothbrush tem uma cabeça redonda rodeada por cerdas e uma haste que ajuda a higiene dentro da fenda. Realizou-se um estudo preliminar numa criança de quatro anos de idade com FL/P que mostrou uma maior redução da placa bacteriana em comparação com o uso de uma escova de dentes convencional e uma excelente aceitação por parte da criança e dos seus pais (190). Devido aos resultados promissores, o objetivo deste estudo foi verificar a eficácia da cleft toothbrush na remoção da placa bacteriana numa amostra apropriada de crianças com FL/P. Os resultados, em termos de um índice de placa bacteriana adaptado, foram comparados com os obtidos com uma escova de dentes convencional.

7.2 Material e métodos

7.2.1 Tipo de estudo

Foi realizado um estudo do tipo quasi-experimental.

7.2.2 Local do estudo

Os procedimentos experimentais e de observação das crianças foram realizados no seu domicílio.

7.2.3 Amostra

A determinação da dimensão da amostra foi calculada para o erro de α fixado em 5% e o erro de β fixado em 20%, considerando uma diferença m dia de índice de placa bacteriana hipotética de 0,7 e desvio padrão 0,8, resultando num mínimo de 42 crianças.

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

De uma população total de 240 indivíduos com FL/P, residentes em Portugal, foram sorteados, aleatoriamente, 45 que preenchessem os critérios de inclusão. Estes foram contactados e convidados a participar no estudo. Dois responsáveis legais recusaram o convite e por isso foram selecionados aleatoriamente outros dois, que aceitaram, de modo a perfazer a dimensão amostral estipulada para o estudo.

Este estudo decorreu entre novembro de 2016 e maio de 2017.

7.2.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (Anexo 2). Foram respeitados os princípios éticos e legais e, neste sentido, foi entregue aos representantes legais das crianças um consentimento informado escrito (Anexo 3), o qual foi acompanhado por uma explicação verbal. Este documento foi assinado em duplicado, ficando um exemplar para o responsável do participante no estudo e o outro na posse da investigadora (Anexo 4).

Ao longo do estudo não foram registados dados relativos à identificação nominal dos participantes para garantir o anonimato. O acesso aos dados obtidos ficou limitado aos investigadores responsáveis. Foi criada uma tabela de dados para tratamento estatístico, segundo um sistema de codificação preestabelecido, que impossibilita a identificação da identidade da pessoa nesse documento, de forma a analisar cada variável.

7.2.5 Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram considerados para inclusão todos os casos de crianças com FL/P que:

– tivessem entre 2 e 12 anos; – fossem do grupo I completa, de Spina (fenda completa do lábio) ou do grupo II de Spina, devido às características morfológicas da fenda.

Foram excluídos todos os casos de crianças com FL/P que:

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

– não tivessem entre 2 e 12 anos de idade; – tivessem aparelho ortodôntico fixo ou em que estivesse planeada a sua colocação entre os diversos momentos da investigação; – fossem do grupo I de Spina apenas com afetação do lábio (fenda incompleta do lábio) ou do grupo III de Spina; – estivesse planeada a realização de uma intervenção cirúrgica da FL/P que pudesse modificar de forma significativa as condições orais entre os diversos momentos da investigação; – não fossem colaborantes.

7.2.6 Desenho do estudo

As crianças selecionadas foram simultaneamente casos e controlos (não sendo a exposição à intervenção preventiva randomizada em 2 grupos distintos), dadas as condições inerentes à condição da FL/P e outras variáveis potenciais (higiene oral e alimentação).

Esta amostra foi dividida em dois grupos etários:

Grupo A: constituído por 26 crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 6 anos: neste grupo a higiene oral foi realizada pelos cuidadores das crianças.

Grupo B: constituído por 19 crianças de 7 a 12 anos de idade com autonomia para realizar a sua higiene oral, sendo supervisionadas apenas pelos seus cuidadores.

O estudo teve a duração de 60 dias e quatro momentos de avaliação.

7.2.7 Avaliação do índice de placa bacteriana

Todos os procedimentos incluídos no estudo, nomeadamente, a escovagem e a avaliação da placa bacteriana, foram realizados no domicílio dos participantes. Nesse contexto, foi necessário proceder a alguns ajustes para minimizar as limitações inerentes à

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

metodologia do protocolo. Assim, o índice de placa bacteriana (191) não foi considerado o melhor método a ser aplicado, uma vez que este pressupõe a avaliação da placa bacteriana após a sua remoção da superfície dentária com uma sonda exploratória. No entanto, no presente estudo, as condições de observação não eram comparáveis às disponíveis num consultório dentário, no que diz respeito ao uso de uma luz adequada. Um procedimento alternativo poderia ter sido o uso de um corante para revelar a placa, como o usado no Índice de Greene and Vermillion (186). Por outro lado, este índice também não seria a melhor opção, uma vez que recomenda a avaliação da placa bacteriana, mas também do tártaro, que neste estudo não foi objetivado.

Optou-se, então, por associar os dois índices de forma a colmatar as dificuldades e a evidenciar a placa bacteriana existente de uma forma simples, que permitisse a sua identificação sem necessidade de apoio instrumental. Este método foi projetado especialmente para estas crianças com FL/P e adequadamente adaptado para que a avaliação de um índice de placa bacteriana, o qual se designou de Índice de Placa bacteriana Adaptado (IPa), decorresse no domicílio das crianças.

O IPa utilizou eritrosina a 2% para corar a placa bacteriana, como no Índice de Greene and Vermillion (186). A identificação foi feita por observação visual, descrita na secção de condições de observação clínica – § 7.2.8.

Neste estudo, foram avaliados índices de placa bacteriana adaptados que compreendem 3 zonas diferentes.

Índice de placa bacteriana adaptado (IPa) – Foram avaliadas as faces vestibulares de todos os dentes maxilares. Nas crianças com dentição mista foram avaliados todos os dentes maxilares, ou seja, os dentes de 16 a 26, e nas crianças que ainda tinham dentição decídua, foram avaliadas as faces vestibulares dos dentes de 55 ao 65.

Índice de placa bacteriana adaptado sem análise dos dentes adjacentes à fenda (IPa-SF) – Foram avaliadas as faces vestibulares dos dentes maxilares, tal como no índice de placa bacteriana adaptado, mas não foram contabilizados os dentes adjacentes à fenda.

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

Índice de placa bacteriana adaptado da fenda (IPa-F) (como referido no capítulo VI). Foram avaliadas as faces vestibulares dos dentes adjacentes à fenda. No caso de existir um dente na fenda esse dente também foi contabilizado.

No cálculo dos índices de placa adaptados, para cada criança, a soma da extensão de superfície dentária corada de cada dente foi dividida pelo número de dentes observados. Os índices de placa bacteriana adaptados podem ter uma pontuação que varia de 0 a 3, que se relaciona com a extensão da superfície dentária corada com eritrosina a 2% (0: sem depósitos; 1: se <1/3; 2: se entre 1/3 e 2/3; 3: se > 2/3), como no Índice de Greene and Vermillion (186). Os resultados foram posteriormente categorizados: Excelente (0); Bom (0,1 a 0,6); Razoável (0,7 a 1,8) e Mau (1,9 a 3,0) (192). No entanto, ressalta-se que, neste estudo, o objetivo não foi avaliar o grau de higiene oral da criança, mas apenas a variação da quantidade de placa bacteriana na superfície dentária.

7.2.8 Condições de observação clínica

As observações foram todas realizadas pela investigadora, que fez uma prévia calibração embora tendo prática clínica de contabilização de placa bacteriana assim como experiência de participação em estudos práticos com objetivos semelhantes de recolha de dados. Nesta calibração foram tiradas fotografias intra-orais dos dentes após coloração com eritrosina, a 10% das crianças, e foi contabilizado o índice de placa bacteriana em dois momentos distintos num intervalo de tempo de 15 dias. A concordância obtida através do coeficiente Kappa de Cohen ponderado (e respetivo Intervalo de confiança a 95%) foi interpretada de acordo com Altman (193): Kappa ≥0 a 0,40, pobre; >0,40 a 0,60, moderada; >0,60 a 0,80, boa; >0,80, excelente.

Para a realização do estudo foi necessário, para cada criança examinada, um kit de observação, composto por uma escova convencional, o novo dispositivo cleft toothbrush, um espelho dentário descartável, luvas de látex, máscara de exame, cotonetes para colocação de corante e copos de plástico descartáveis. Foi ainda necessário um corante de placa bacteriana (eritrosina a 2%) e uma ficha clínica (Anexo

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

5), onde foram anotados os dados obtidos e os resultados das observações efectuadas nos 4 momentos de observação das crianças em estudo.

Para evidenciar a placa bacteriana foram colocadas duas gotas do corante na língua da criança, que o distribuiu por todas as superfícies dentárias maxilares, durante 30 segundos. Nas crianças que tinham dificuldade em bochechar, a solução foi aplicada com o auxílio de um cotonete embebido no corante que foi colocado junto ao sulco cervical, e a placa bacteriana foi evidenciada ao ser impregnada pelo corante. Em seguida, a criança efetuou dois bochechos com água corrente e a presença ou ausência de placa bacteriana foi verificada por exame visual. A quantidade de placa bacteriana foi avaliada usando uma adaptação do índice de placa bacteriana, anteriormente descrito.

7.2.9 Fases do estudo – protocolo experimental

1.º momento – dia 0

No primeiro dia do estudo (que se convencionou ser o dia 0), foram efectuados os seguintes procedimentos:

– Um questionário (Anexo 7) aplicado pela responsável do projeto. Os dados obtidos foram inseridos numa base de dados para posterior análise estatística.

– Avaliação da escovagem realizada em casa, sem saber se a escova que a criança usava era ou não nova, ou se tinha acabado ou não de escovar os seus dentes. O IPa foi avaliado e registado na ficha clínica (Anexo 5). O IPa e o IPA-SF foram realizados com o objetivo de visualizar a placa bacteriana inicialmente existente.

Seguidamente, disponibilizou-se uma escova de dentes convencional e instruiu-se a criança para efetuar a higiene oral de forma habitual, mas utilizando apenas a escova de dentes convencional que lhe foi facultada.

2.º momento – dia 15

O 2.º momento decorreu 15 dias após o 1.º momento, dia 15 do estudo. As crianças foram observadas e realizaram a sua higiene oral com a escova de dentes convencional,

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

anteriormente fornecida. Seguidamente, efetuou-se a avaliação do do IPa-F e seu registo na ficha clínica (Anexo 5).

Neste dia, disponibilizou-se o novo dispositivo de escovagem – cleft toothbrush – e a criança foi instruída para realizar a sua higiene oral com a cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional anteriormente fornecida.

3.º momento – dia 30

O 3.º momento decorreu 15 dias após o 2.º momento, no dia 30 do estudo. No 3.º momento, foi adotada a mesma metodologia do 2.º momento, mas a higiene oral foi efetuada com a cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional fornecida no 2.º momento, seguida de avaliação do IPa-F e seu registo na ficha clínica (Anexo 5).

Seguidamente, do dia 30 ao dia 60, a criança teve liberdade para escolher a escova a utilizar na sua higiene oral – a escova de dentes convencional ou a cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional. Uma vez feita a opção (escolhida a escova), a criança foi instruída a mantê-la durante esse período.

4.º momento – dia 60

No 4.º momento, 30 dias após o 3.º momento, dia 60 do estudo, foi realizado um segundo questionário ao representante legal da criança (Anexo 8). Este foi individualmente aplicado e adaptado aos objetivos da investigação. Foi efetuado pela responsável do projeto e os dados obtidos foram inseridos numa base de dados para posterior análise estatística.

No 4.º momento, utilizou-se a mesma metodologia do 3.º momento, mas a higiene oral foi efetuada com a opção de escova selecionada no 3.º momento (cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional ou apenas a escova de dentes convencional), seguida de avaliação do IPa, do IPa-SF, do IPa-F e registo na ficha clínica (Anexo 5).

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

7.2.10 Análise estatística

A análise estatística foi desenvolvida no software IBM(c) SPSS(c) Statistics vs 24.0 (IBM™, USA), considerando um nível de significância de 0,05 para todas as situações de inferência estatística.

As variáveis categóricas (hábitos de escovagem, escovagem após pequeno almoço, escovagem após o almoço, escovagem após o jantar, frequência de escovagem diária, tipo de escova e faixa etária) foram descritas como contagens e percentagens (n, %) (Tabela 7).

O IPa (para as três situações representadas: Tabelas 8 e 9) foi descrito como mediana e os seus 1.º e 3.º quartis, mas também como média e desvio padrão (o IPa não foi normalmente distribuído e, portanto, a média e o desvio padrão são estatísticas pouco fiáveis para descrever a variável. No entanto, a maioria da literatura mostra essas estatísticas e por isso, são apresentadas para permitir futuras comparações).

A comparação das variáveis categóricas para os vários grupos foi realizada pelo teste Qui-quadrado ou teste de Fisher e as comparações das variáveis quantitativas foram realizadas pelo teste de Mann-Whitney (comparação da mediana para dois grupos independentes) ou teste de Wilcoxon para momentos repetidos (dois momentos repetidos) e o teste de Friedman (comparação da mediana repetida para mais de dois grupos).

7.3 Resultados

A calibração intra-observador de avaliação do índice de placa bacteriana revelou um valor excelente, resultado de um Kappa de Cohen ponderado de 0.93 (IC95%: 0.87- 0.99).

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

Tabela 7 – Comparação (n e %) dos hábitos de higiene oral no início (dia 0) e no final (dia 60) do estudo. início fim significância Total 45 (100%) 45 (100%) Hábitos de escovagem Todos os dias 36 (80%) 40 (88,9%) Qui2= 2,879; g.l.=2; Alguns dias 8 (17,8%) 5 (11,1%) p=0,237 Raramente 1 (2,2%) - Escovagem após pequeno almoço

Não 16 (35,6%) 17 (37.8%) Qui2= 0,096; g.l.=1; Sim 29 (64,4%) 28 (62.2%) p=0,756 Escovagem após almoço

Não 36 (80%) 36 (80%) Qui2= 0,000; g.l.=1; Sim 9 (20%) 9 (20%) p=1,000 Escovagem após jantar

Não 3 (6,7%) 3 (6,7%) Qui2= 0,000; g.l.=1; Sim 42 (93,3%) 42 (93,3%) p=1,000 Frequência diária de escovagem 0 1 (2,2%) - 1 17 (37,8%) 18 (40%) Qui2= 20,323; g.l.=3; 2 20 (44,4%) 20 (44,4%) p<0,001 3 7 (15,6%) 7 (15,6%) Tipo de escova de dentes

Convencional 45 (100) 7 (15,6) Qui2= 3943; g.l.=1; Convencional+cleft toothbrush - 38 (84,4) p<0,001 g.l. graus de liberdade

A Tabela 7 compara os hábitos de higiene oral das crianças no início (dia 0) e no final (dia 60) do estudo, com base no questionário que foi realizado nesses momentos. Os hábitos de escovagem e o momento da escovagem (após o pequeno almoço, almoço ou jantar) não se alteraram significativamente no final do estudo. A frequência diária de escovagem altera-se significativamente (p <0,001), embora isso se deva à alteração do padrão de apenas uma criança, de zero para uma vez por dia, pelo que esse resultado não foi objeto de valorização estatística. No dia 60 (momento final), a percentagem de crianças que começaram a usar a cleft toothbrush (38; 84,4%) é significativamente maior (p <0,001) do que aquelas que continuaram a utilizar apenas a escova de dentes convencional (7; 15,6%).

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

Tabela 8 – Comparação da higiene oral, utilizando o índice de placa bacteriana adaptado (IPa) para todos os dentes e para todos os dentes exceto os que estão adjacentes à fenda (IPa-SF), entre os momentos inicial e final da observação, considerando todas as crianças e subdivididas por faixa etária. total Grupo 1 (idade ≤6a) Grupo 2 (idade ≥7a)

p início p Final Início Final p Início Final p Início Final p (≤6a; (≤6a;

≥7a) ≥7a) n 45 45 26 26 19 19

IPa Me (Q1-Q3) 2a (1,4-2,4) 0,8b (0,3-1,4) <0,001 2,1aA (1,6-2,4) 0,8b (0,3-1,2) <0,001 1,8aB (0,4-2,2) 0,8b (0,2-1,4) 0,001 0,036 0,963 média (SD) 1,8 (0,8) 0,9 (0,7) 2,0 (0,6) 0,9 (0,7) 1,5 (0,9) 0,9 (0,7)

n 45 45 27 27 18 18

IPa-SF Me (Q1-Q3) 2a (1,2-2,3) 0,9b (0,2-1,3) <0,001 2a (1,5-2,5) 0,9b (0,3-1,5) <0,001 1,8a (1-2) 0,8b (0,2-1,3) 0,011 0,068 0,530 média (SD) 1,7 (0,8) 0,9 (0,7) 1,9 (0,9) 0,9 (0,7) 1,4 (0,7) 0,8 (0,7) a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o o teste de Friedman com comparações múltiplas ajustadas pelo método de Bonferroni; A,B– letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre faixa etária no momento inicial, de acordo com o teste de Mann-Whitney, n=dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

Tabela 9 – Comparação da higiene oral, utilizando o índice de placa bacteriana adaptado da fenda (IPa-F), entre os quatro momentos de observação, considerando todas as crianças e subdivididas por faixa etária. Momento final (dia 60) Início (dia 0) 3º momento (dia 30) 2º momento (dia 15) escova convencional OU Escovagem antes do início do cleft toothbrush + escova p escova convencional cleft toothbrush + escova estudo convencional convencional n 45 45 45 45 Me (Q1-Q3) 2a (1,7-2,6) 1,5a (1-2) 0,7b (0,5-1,5) 1b (0,2-1,4) <0,001 média(DP) 2,0 (0,8) 1,5 (0,8) 0,9 (0,8) 0,9 (0,8) Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a p (≤6a) p (≥7a) n 27 18 27 18 27 18 27 18 Me (Q1-Q3) 2,0a (1,8-2,7) 2,2a (1,0-2,5) 1,7a (1-2) 1,0a (0,5-2,1) 1,0b (0,5-1,5) 0,5b (0,4-1) 1,0b (0-1,3) 1b (0,4-1,7) <0,001 <0,001 média (DP) 2,1 (0,8) 1,9 (0,9) 1,7 (0,8) 1,3 (0,9) 1,1 (0,8) 0,7 (0,6) 0,9 (0,7) 1,0 (0,9) p 0,558 0,159 0,117 0,655 a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o o teste de Friedman com comparações múltiplas ajustadas pelo método de Bonferroni; n=dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

Por outro lado, os resultados da Tabela 8 mostram que existem diferenças significativas em relação à higiene oral, medida pelo IPa, tanto para todos os dentes como para todos os outros exceto os adjacentes à fenda, no início e no final do estudo, sendo significativamente melhor (índice mais baixo) no momento final (p <0,001). O mesmo se aplica nos dois grupos definidos por faixa etária (Tabela 8).

No mesmo momento de observação, os grupos ≤ 6 anos e ≥ 7 anos não diferiram significativamente em relação ao IPa para todos os dentes exceto os adjacentes à fenda (IPa-SF), nem no início (p = 0,068) nem no final (p = 0,530) do estudo. A exceção é a diferença significativa detetada no início do estudo para o IPa de todos os dentes observados, onde o grupo de crianças com idades entre os 7 e 12 anos apresenta uma higiene oral significativamente melhor, ou seja, valores medianos de IPa significativamente menores (Me = 2,1 vs Me = 1,8; p = 0,036) (Tabela 8).

Relativamente à eficácia da cleft toothbrush para higienizar a área da fenda (Tabela 9), que foi utilizada por todas as crianças entre o dia 15 e o dia 30, é possível detetar uma melhoria significativa da higiene oral, ou seja, o IPa-F (dentes próximos à fenda) diminui significativamente (p <0,001) do 2.º momento (dia 15 do estudo) para o 3.º momento (dia 30 do estudo). O mesmo ocorre quando se comparam estes dois momentos nos dois grupos etários (idade ≤ 6 anos, p = 0,001; idade ≥ 7 anos, p = 0,002) (Tabela 9).

Em cada momento de observação, não foi detetada, por faixa etária, uma diferença estatisticamente significativa na higiene oral dos dentes adjacentes à fenda (IPa-F) (Tabela 9) (p> 0,05), pelo que os resultados não precisam de ser analisados segundo este critério.

Do dia 30 ao dia 60, as crianças tiveram a possibilidade de escolher a escova de dentes convencional ou a cleft toothbrush para realizar a sua higiene oral. A Figura 16 mostra os resultados para o IPa-F avaliado no momento final. As crianças que não usaram a cleft toothbrush têm significativamente pior higiene oral na área da fenda (p = 0,031).

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

Teste Mann-Whitney p=0,031

IPa- F

Escova convencional cleft toothbrush + escova convencional Higienização no momento final

Figura 16 – Comparação da higiene oral (IPa-F) no momento final do estudo em crianças que usaram a escova de dentes convencional (n=7) ou a cleft toothbrush + escova de dentes convencional (n=38).

No dia 60 (momento final), a última pergunta do questionário foi relativa à avaliação das crianças quanto ao uso da cleft toothbrush acoplada a uma escova de dentes convencional. Os resultados apresentados na Figura 17 mostram que todos os que usaram a cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional (100%) confirmaram que a cleft toothbrush facilitou a escovagem (100%). Constata-se ainda que a maioria das crianças que apenas usaram a escova de dentes convencional também respondeu do mesmo modo (8,9% vs 6,7%).

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

Teste Fisher nº de p=0,002 crian ças Sim n=38 Sim 84,4% n=4 Não 8,9% n=3

6,7%

Escova convencional cleft toothbrush + escova convencional Higienização no momento final

Figura 17 – Avaliação das crianças em relação ao uso da cleft toothbrush. No final do estudo, após o uso da escova de dentes convencional ou da cleft toothbrush + escova de dentes convencional, as crianças responderam à seguinte questão: “A cleft toothbrush facilita a escovagem?” resposta: Não (n=3) ou Sim (n=4+38).

7.4 Discussão

Este estudo testou a eficácia da cleft toothbrush, um complemento para escovas de dentes convencionais, na remoção da placa bacteriana em crianças com FL/P. Este dispositivo foi criado recentemente e foi especialmente projetado tendo em conta as alterações anatómicas e morfológicas locais da área da fenda (190), de forma a melhorar a higiene oral dessas crianças.

O estudo envolveu quarenta e cinco crianças, divididas em dois grupos etários (de 2 a 6 anos e de 7 a 12 anos). Teve uma duração de 60 dias e quatro momentos de avaliação (dias 0, 15, 30 e 60). O protocolo foi cuidadosamente projetado para minimizar a ansiedade durante os vários momentos do estudo. As crianças mantiveram a rotina da sua higiene oral e os procedimentos de avaliação foram realizados no seu domicílio.

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

Assim, durante os primeiros 15 dias as crianças efetuaram a sua higiene oral com uma escova de dentes convencional; do dia 15 ao dia 30, todas as crianças usaram a cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional; e do dia 30 ao dia 60 as crianças tiveram a liberdade de escolher uma das duas opções.

Em cada momento, a placa bacteriana foi avaliada por meio de um Índice de Placa bacteriana adaptado (IPa), conforme explicado na §7.2.7 deste capítulo. Foram realizados vários IPa(s) para recolher informações apropriadas e abrangentes. O IPa avaliou as superfícies vestibulares de todos os dentes maxilares. Para evitar que a cleft toothbrush mascarasse as eventuais alterações na quantidade de placa bacteriana, um IPa-SF (IPa-SF 1 e IPa-SF 4) também foi realizado. Adicionalmente, a fim de avaliar a eficácia da cleft toothbrush na alteração da quantidade de placa bacteriana na área da fenda, foi avaliado o Índice de Placa bacteriana adaptado da fenda (IPa-F), referente apenas aos dentes adjacentes à fenda.

Os hábitos de higiene oral foram avaliados no início (dia 0) e no final (dia 60) do estudo com o recurso a um questionário. Os resultados (Tabela 7) mostram que não existem diferenças significativas relativamente à frequência de escovagem. Este resultado seria o esperado, pois as crianças e os seus cuidadores foram instruídos para não alterarem as suas rotinas de higiene oral, para que estas variáveis não interferissem nos resultados. A maioria das crianças escovava os dentes pelo menos 2 vezes por dia, o que está de acordo com a literatura (8, 10, 19, 111, 114). Do dia 30 ao dia 60, as crianças tiveram liberdade de escolha entre as duas opções. Curiosamente, 38 crianças usaram a cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional, enquanto apenas 7 crianças optaram por usar a escova de dentes convencional. Neste caso, as 7 crianças que não continuaram a escovagem com a cleft toothbrush tinham idades entre 6 e 8 anos. Esta opção poderá ser explicada pelo receio de escovar (ou dos cuidadores escovarem) uma área onde está a decorrer uma esfoliação dos dentes decíduos, com consequente desconforto e auto perceção de falta de segurança.

A avaliação da placa dentária no 1.º momento e no momento final (Tabela 7) mostrou que a higiene oral melhorou bastante no final do estudo, evidenciada pela diminuição significativa do IPa e do IPa-SF, nas duas faixas etárias. Cabe ressaltar que essa redução se verificou sem a introdução de alterações nas rotinas de higiene oral das crianças

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

(Tabela 7). Verifica-se que a cleft toothbrush tem uma ação direta na remoção da quantidade de placa bacteriana na área da FL/P. Contudo, não pode concluir-se que houve uma melhoria da higiene oral do dia 0 (início) para o dia 60 (fim) apenas pela evolução dos resultados do índice de placa bacteriana adaptado. Como se observa uma redução da carga bacteriana na maxila, é possível que o mesmo ocorra na mandíbula, o que evidenciaria uma melhoria da higiene oral. A confirmação desta hipótese necessitará de estudos adicionais.

A Tabela 8 descreve os resultados referentes ao índice de placa bacteriana para os dentes adjacentes da fenda (IPa-F) ao longo do estudo considerando todas as crianças e subdivididas nos dois grupos etários. A cleft toothbrush foi usada por todas as crianças do dia 15 ao dia 30. Houve uma diminuição significativa do IPa-F avaliado no dia 30, em ambos os grupos. Do dia 30 ao dia 60, as crianças selecionaram uma das opções de escovagem. Como já foi referido anteriormente, 7 crianças continuaram a utilizar apenas a escova de dentes convencional ao invés da associação ao novo dispositivo. Verificou-se que o valor do IPa-F no momento final foi mais elevado para as 7 crianças, evidenciando, significativamente, maior quantidade de placa bacteriana na fenda. Este resultado vem reforçar a vantagem da utilização deste novo dispositivo para uma maior eficácia na redução da placa bacteriana

No final do estudo, a maior parte da amostra referiu uma maior facilidade da higiene oral com este novo dispositivo (Figura 17). Esta afirmação foi feita por todas as crianças que optaram pelo uso da cleft toothbrush até ao final do estudo. A maioria das crianças que escolhem a escova de dentes convencional durante a última fase do estudo, também foi da mesma opinião, sugerindo que a introdução do novo dispositivo não foi feita, provavelmente, na fase mais adequada, devido a uma combinação de fatores específicos.

Este estudo mostrou que a cleft toothbrush diminuiu significativamente a carga bacteriana na área da fenda, o que representa uma mais valia deste dispositivo. Este facto é de grande relevância, conforme salientado por vários estudos (12, 13, 22, 23). Uma melhor higiene local melhora a saúde oral dos tecidos duros e moles adjacentes à fenda. Esta é uma questão fundamental para uma equipa transdisciplinar que se dedique ao

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CAPÍTULO VII – Eficácia da cleft toothbrush

tratamento destas crianças, porque a ausência de inflamação é essencial para o sucesso dos procedimentos cirúrgicos corretivos.

7.5 Conclusão

A cleft toothbrush, um dispositivo para adaptação a escovas de dentes convencionais, mostrou uma elevada eficácia na remoção da placa bacteriana na área da fenda. Espera-se que este dispositivo contribua para que os tecidos adjacentes à fenda se mantenham saudáveis e, assim, para um maior sucesso na sua reabilitação.

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CAPÍTULO VIII

– Variação da microbiota oral em crianças com fenda lábio-palatina

após a escovagem com a cleft toothbrush

CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

VIII – Variação da microbiota oral em crianças com fenda lábio-palatina após a escovagem com a cleft toothbrush

8.1 Introdução

A cavidade oral contém 500 – 700 espécies bacterianas. A maioria da microbiota é comensal, mas há algumas espécies patogénias oportunistas que podem causar várias doenças orais e sistémicas (8, 15-20). O perfil da microbiota oral é influenciado por fatores como alimentação, co-agregação, genética e estilo de vida (194). As especificidades anatómicas e morfológicas da cavidade oral têm também um papel relevante no perfil qualitativo e quantitativo da microbiota oral (126, 133).

A fenda lábio-palatina (FL/P) é a malformação congénita orofacial major de maior prevalência, atingindo cerca de 1/700 indivíduos (1). As alterações ósseas e dentárias associadas com a FL/P favorecem a acumulação de placa bacteriana e dificultam a sua remoção. A acumulação de placa bacteriana está na origem de problemas de saúde oral, como a cárie dentária (1, 8, 9, 11, 92, 93) – devido à presença de bactérias anaeróbias facultativas Gram-positivo, como Streptococcus mutans e Lactobacillus sp. (14, 126) ou doenças periodontais (1, 8-10, 109), principalmente devido a espécies proteolíticas Gram-negativo, do género Prevotella, Porphyromonas, Fusobacterium e Treponema (26), especialmente na área da fenda (20, 106, 107, 110). Estes problemas orais resultam principalmente da falta de eficácia na higienização da área da fenda.

Após uma revisão sistemática da literatura (descrita no capítulo V), verificou-se que as crianças e os seus cuidadores têm dificuldade em higienizar corretamente a zona da fenda devido a múltiplos fatores. A relevância da higienização da área da fenda para a manutenção de uma boa saúde oral é destacada em vários estudos (12, 13, 21, 117). No entanto, pouca atenção tem sido dada a uma questão-chave – a escova de dentes. Encontrou-se apenas um estudo que refere que a utilização de uma escova de dentes para lactente e de um escovilhão poderiam melhorar a higienização da área da fenda em algumas situações (12).

Claramente, a escova de dentes convencional não está adequada às características

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

anatómicas e morfológicas da fenda, e existe uma evidente necessidade de desenvolver métodos aperfeiçoados de fácil acesso e higienização de áreas de elevada retenção de placa bacteriana. Neste contexto, descreveu-se recentemente o desenvolvimento de um dispositivo especialmente desenhado para a higienização da área da fenda (190), e descrito com maior detalhe no capítulo VI. Este dispositivo – cleft toothbrush – constitui um complemento facilmente adaptável a uma escova de dentes convencional e a sua eficácia na remoção da placa bacteriana foi avaliada num grupo alargado de crianças com FL/P. Os resultados deste estudo, descritos no capítulo VII, mostram uma eficácia superior comparativamente a uma escova de dentes convencional.

O objetivo do estudo descrito neste capítulo consistiu em analisar o efeito da escovagem com a cleft toothbrush na microbiota oral em crianças com FL/P. Este estudo envolveu crianças de dois grupos etários – 2 a 6 anos e 7 a 12 anos. Teve a duração de 60 dias e incluiu quatro momentos de avaliação. Avaliou-se a diversidade da microbiota da placa bacteriana na área da fenda através da sequenciação do gene 16S rRNA e efetuou-se a contagem total de bactérias Gram-positivo e Gram-negativo ao longo do período do estudo.

8.2 Material e métodos

8.2.1 Tipo de estudo

Foi realizado um estudo do tipo quasi-experimental.

8.2.2 Local do estudo

A recolha da placa bacteriana para a avaliação da microbiota oral foi realizada no domicílio dos participantes. Nesse contexto, foram necessários alguns ajustes para minimizar as limitações inerentes a esta configuração de estudo.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

8.2.3 Amostra

A determinação da dimensão da amostra foi calculada para o erro de α fixado em 5% e o erro de β fixado em 20%, considerando uma diferença m dia de índice de placa bacteriana hipotético de 0,7 e desvio padrão 0,8, resultando num mínimo de 42 crianças.

De uma população total de 240 indivíduos com FL/P, residentes em Portugal, foram sorteados, aleatoriamente, 60 que preenchessem os critérios de inclusão. Estes indivíduos foram contatados e convidados a participar no estudo. Os representantes legais de duas crianças recusaram integrar o estudo e por isso foram selecionadas aleatoriamente outras duas, de modo a obter a dimensão amostral estipulada.

Este estudo decorreu entre novembro de 2016 e maio de 2017.

8.2.4 Consentimento informado, aspetos éticos e médico-legais

O estudo foi aprovado pela Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto (Anexo 2). Foram respeitados os princípios éticos e legais e, neste sentido, foi entregue aos representantes legais das crianças um consentimento informado escrito (Anexo 3), o qual foi acompanhado por uma explicação verbal. Este documento foi assinado em duplicado, ficando um exemplar para o responsável do participante no estudo e o outro na posse da investigadora (Anexo 4).

Ao longo do estudo não foram registados dados relativos à identificação nominal dos participantes. O acesso aos dados obtidos ficou limitado aos investigadores responsáveis. Foi criada uma base de dados para tratamento estatístico, segundo um sistema de codificação preestabelecido, de forma a fazer o tratamento estatístico dos dados.

8.2.5 Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram considerados para inclusão todos os casos de crianças com FL/P que:

– tivessem entre 2 e 12 anos;

105

CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

– fossem do grupo I completa, de Spina (fenda completa do lábio) ou do grupo II de Spina, devido às características morfológicas da fenda.

Foram excluídos todos os casos de crianças com FL/P que:

– não tivessem entre 2 e 12 anos de idade; – tivessem aparelho ortodôntico fixo ou em que estivesse planeada a sua colocação entre os diversos momentos da investigação; – fossem do grupo I de Spina apenas com afetação do lábio (fenda incompleta do lábio) ou do grupo III de Spina; – estivesse planeada a realização de uma intervenção cirúrgica da FL/P que pudesse modificar de forma significativa as condições orais entre os diversos momentos da investigação; – não fossem colaborantes.

8.2.6 Desenho do estudo

As crianças selecionadas foram simultaneamente casos e controlos (não sendo a exposição à intervenção preventiva randomizada em 2 grupos distintos) dadas as condições inerentes à condição da FL/P e outras potenciais variáveis (higiene oral e alimentação).

Esta amostra foi dividida em dois grupos etários:

Grupo A: constituído por 30 crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 6 anos. Neste grupo, a higiene oral foi realizada pelos cuidadores das crianças.

Grupo B: constituído por 30 crianças de 7 a 12 anos de idade. Neste grupo, as crianças tinham autonomia para realizar a sua higiene oral, sendo apenas supervisionadas pelos seus cuidadores.

O estudo teve a duração de 60 dias e quatro momentos de avaliação.

106

CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

8.2.7 Condições de observação clínica

Para a realização do estudo foi necessário, para cada criança examinada, um kit de observação composto por uma escova convencional, o dispositivo cleft toothbrush, um espelho dentário descartável, luvas de látex, máscara de exame, zaragatoas (COPAN’s FLOQSwabs™) para a recolha de placa bacteriana e copos de plástico descartáveis.

Para a recolha da placa bacteriana na área da fenda, foi utilizada uma zaragatoa COPAN’s FLOQSwabs™. A zaragatoa foi utilizada sempre pela mesma investigadora, para minimizar eventuais variações no método de recolha e exame. Para a recolha da placa bacteriana efetuaram-se 3 passagens da zaragatoa ao longo da área mais profunda da fenda e num perímetro de 0,5cm ao seu redor, utilizando o mesmo procedimento de cada lado da fenda. As zaragatoas foram devidamente acondicionadas e posteriormente armazenadas a -20°C até à extração de DNA.

8.2.8 Fases do estudo – protocolo experimental

1.º momento – dia 0

Efetuou-se a recolha da placa bacteriana da área da FL/P com uma zaragatoa.

Disponibilizou-se uma escova de dentes convencional e solicitou-se à criança/cuidador que a higiene oral fosse realizada de forma habitual, mas apenas com a escova de dentes convencional disponibilizada.

2.º momento – dia 15

Este momento decorreu 15 dias após o 1.º momento. As crianças foram observadas e após realização da sua higiene oral com a escova de dentes convencional, anteriormente fornecida, efetuou-se a recolha da placa bacteriana da área da FL/P com uma zaragatoa.

Disponibilizou-se o novo dispositivo de escovagem – cleft toothbrush – e solicitou-se à criança/cuidador para realizar a higiene oral da fenda com a cleft toothbrush adaptada à escova de dentes convencional anteriormente fornecida.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

3.º momento – dia 30

Este momento decorreu 15 dias após o 2.º momento. No 3.º momento, foi utilizada a mesma metodologia do 2.º momento, mas a higienização foi efetuada com a cleft toothbrush acoplada à escova de dentes convencional fornecida no 2.º momento. Foi recolhida a placa bacteriana da área da FL/P com uma zaragatoa.

A partir do dia 30 e até ao dia 60, as crianças tiveram a possibilidade de escolher uma das duas opções para a higienização da área da fenda: a escova de dentes convencional ou a cleft toothbrush adaptada à escova de dentes convencional. A opção selecionada foi mantida durante esse período.

4.º momento – dia 60

No 4.º momento, 30 dias após o 3.º momento, foi utilizada a mesma metodologia do 3.º momento. Após a realização da escovagem com a opção que tinha sido selecionada pela criança no 3.º momento, foi recolhida a placa bacteriana da área da FL/P com uma zaragatoa.

8.2.9 Extração do DNA

A ponta da zaragatoa foi submersa em 1 mL de água de grau molecular (W4502, Sigma, Reino Unido) e os microrganismos foram libertados da zaragatoa por agitação manual durante 10 segundos. A extração do DNA foi realizada em 200 µl da suspensão anterior e usou-se o kit NucleoSpin® 96 solo (740787, Macherey-Nagel, Alemanha), seguindo o protocolo recomendado pelo fabricante.

8.2.10 Amplificação para sequenciação do gene 16S rRNA

O procedimento de amplificação do gene 16S rRNA foi dividido em duas etapas de reação em cadeia da polimerase (PCR). Na primeira reação de PCR, a região V3-V4 hipervariável do gene 16S rRNA foi amplificada usando os primers de amplo espectro

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

modificados Uni341F (5'-CCTAYGGGRBGCASCAG-3') e Uni806R (5'- GGACTACHVGGGTWTCTAAT-3') (Klindworth et al., 2013 (195). A amplificação foi realizada em placas de microtitulação de 96 poços, utilizando PCRBIO HiFi Polymerase (PB10.41, PCRBIOSYSTEMS, UK) em reações de 25 µL (molde de 2 µL, 5 µL de reação tampão, 1 µL de primer direto, 1 µL de iniciador reverso, 0,12 µL de polimerase 15,88 µL de água de grau molecular (W4502, Sigma, UK)).

As reações foram realizadas num termociclador 2720 (Applied Biosystems, Life Technologies, CA, EUA) de acordo com o seguinte programa: 1 minuto de desnaturação a 95°C, seguido por 30 ciclos de 15 segundos a 95°C (desnaturante), 15 segundos a 56°C (emparelhamento) e 30 segundos a 72°C (alongamento), extensão final a 72°C durante 5 minutos e depois armazenamento a 10°C. Para cada placa, incluiu-se um controlo negativo isento de moldes e um controlo positivo contendo 2,0 µL de DNA de uma comunidade simulada bacteriana conhecida (1,0 ng/µL; HM-782D, BEI Resources, VA, EUA). Os produtos de PCR foram purificados utilizando o PCR Clean Up System HighPrep™ (AC-60500, MagBio Genomics Inc., EUA), utilizando 0,65 µL de esferas por 1 µL de produto de amplificação.

Os primers e adaptadores de sequenciação foram adicionados aos produtos de amplificação num segundo passo de PCR. Nesta etapa, utilizaram-se primers desenvolvidos internamente, que contém adaptadores sequenciadores e combinações únicas de índices direto e reverso (196). As reações foram executadas usando o mesmo programa que na primeira etapa da PCR, exceto o número de ciclos que foi reduzido para 15. Os produtos de PCR foram purificados utilizando o PCR Clean Up System HighPrep™ (AC-60500, MagBio Genomics Inc., EUA), utilizando 0,65 µL de esferas por 1 µL de produto de amplificação. As amostras foram normalizadas usando o kit SequalPrep Normalization Plate (96) (Invitrogen, Maryland, MD, EUA), concentradas usando o kit de DNA Clean e Concentrator™ -5 (Zymo Research, Irvine, CA, EUA). A concentração das bibliotecas reunidas foi determinada utilizando o kit de ensaio de DNA de alta sensibilidade Quant-iTTM (Life Technologies) seguindo as especificações do fabricante e ajustado para 1,65 ng/mL (4 nM). A sequenciação de amplificação foi realizada no Illuimina MiSeq Desktop Sequencer (Illumina Inc., CA, EUA), com as bibliotecas desnaturadas ajustadas para uma concentração final de 16 pM. Por cada

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

corrida, foi incluído um controlo interno de PhiX de 5,0%. Todos os reagentes utilizados foram dos kits de reagentes MiSeq v2 (Illumina Inc., CA, EUA). Foi realizada a geração automatizada de clusters e a sequenciação emparelhada de 250 finalizações com leituras de índice duplo. Os resultados foram gerados como arquivos fastq desmultiplexados diretamente no instrumento MiSeq. Por cada corrida foram sequenciadas até 192 amostras, incluindo os controlos.

8.2.11 Pipeline Bioinformática

O BioDSL – linguagem específica para criar fluxos de análise bioinformática, foi usado para ajustar espaçadores de diversidade e adaptadores de sequenciação, emparelhamento de sequências, remoção de leituras curtas (<100 pb), desreplicação de sequências remanescentes e remoção de sequências singleton. O agrupamento de unidade taxonómica operacional (OTU) foi realizado a 97% de similaridade de sequência usando USEARCH v7.0.1090 (197). A verificação e remoção da quimera foram realizadas usando o algoritmo UCHIME (198).

As sequências representativas foram definidas para cada OTU com um limiar de 0,8 usando Mothur v.1.25.0 (199). As sequências representativas foram classificadas contra o banco de dados trainset9 do projeto de Banco de Dados Ribossómico (RDP) (032012) (200) e criaram uma árvore filogenética usando FastTree (201). Tabelas de contingência de sequência foram exportadas ao nível de OTU, com classificação taxonómica até nível de género, se disponível.

8.2.12 Análise estatística

A análise estatística foi desenvolvida no software IBM(c) SPSS(c) Statistics vs 25.0 (IBM™, USA), considerando um nível de significância de 0,05 para todas as situações de inferência estatística.

A contagem total microbiana para Gram-negativo, Gram-positivo, Gram-negativo associados a doença periodontal, e Gram-positivo associados à cárie dentária foi

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

descrita como mediana e os seus 1.º e 3.º quartis, mas também como média e desvio padrão (a contagem microbiana não foi normalmente distribuída (teste de Shapiro-Wilks e, portanto, a média e o desvio padrão são estatísticas pouco fiáveis para descrever a variável. No entanto, a maioria da literatura mostra essas estatísticas e, por isso, são apresentadas para permitir futuras comparações).

A comparação da evolução da contagem microbiana nos quatro momentos avaliados foi realizada pelo teste de Friedman (medidas repetidas, comparação da mediana para mais de dois grupos) ou pelo teste de Wilcoxon (dois momentos repetidos), e a comparação por grupos independentes (faixa etária e tipo de escova) foi avaliada pelo teste de Mann-Whitney.

8.3 Resultados

A análise dos resultados decorre da contagem global de bactérias Gram-negativo ou Gram-positivo e, de entre estas, as associadas à doença periodontal ou à cárie dentária. Os microrganismos identificados no conjunto dos quatro momentos de avaliação, recolhidos após a passagem da zaragatoa na área da fenda, na totalidade da amostra (60 crianças) foram:

Bactérias Gram-negativo: Acinetobacter lwoffii, Brevundimonas diminuta, Brevundimonas vesicularis, Capnocytophaga granulosa, Capnocytophaga ochracea. Comamonas testosteroni, Haemophilus haemolyticus, Haemophilus influenzae, Moraxella bovoculi, Pseudomonas aeruginosa, Pseudomonas oryzihabitans, Pseudomonas stutzeri, Sphingobacterium multivorum, Sphingomonas paucimobilis, Stenotrophomonas rhizophila, Sphingobacterium spiritivorum e Treponema denticola.

Bactérias Gram-negativo habitualmente associadas ao desenvolvimento da doença periodontal: Alloprevotella tannerae, Leptotrichia goodfellowii, Prevotella denticola, Prevotella melaninogenica, da família Prevotellaceae, e do género Actinobacillus, Aggregatibacter, Alloprevotella, Bacteroides, Campylobacter, Capnocytophaga, Eikenella, Fusobacterium, Leptotrichia, Parabacteroides, Porphyromonas, Prevotella, Streptobacillus, Tannerella, e Treponema.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

Bactérias Gram-positivo: Actinomyces naeslundii, Brachybacterium paraconglomeratum, Eubacterium brachy, Eubacterium coprostanoligenes, Eubacterium eligens, Eubacterium hallii, Eubacterium nodatum, Eubacterium ruminantium, Eubacterium yurii, Lactobacillus crispatus, Lactobacillus delbrueckii, Lactococcus lactis, Leuconostoc mesenteroides, Leuconostoc mesenteroides subsp mesenteroides, Kocuria palustris, Rhodococcus erythropolis, Rothia dentocariosa, Staphylococcus equorum, Staphylococcus saprophyticus subsp saprophyticus, Staphylococcus sciuri, Streptococcus anginosus subsp anginosus, Streptococcus pneumoniae, Streptococcus pyogenes, Streptococcus salivarius subsp salivarius, Streptococcus salivarius subsp thermophilus, do género: Abiotrophia, Acidipropionibacterium, Acidothermus, Actinomycetaceae, Actinomycetospora, Aerococcus, Aestuariimicrobium, Agathobacter, Alloiococcus, Alloscardovia, Anaerococcus, Anaerostipes, Anoxybacillus, Arthrobacter, Atopobium, Bacillus, Bifidobacterium, Blautia, Brachybacterium, Brevibacterium, Brochothrix, Butyricicoccus, Butyrivibrio, Carnobacterium, Christensenellaceae, Conexibacter, Coprococcus, Corynebacterium, Defluviitaleaceae, Deinococcus, Desemzia, Dolosigranulum, Dorea, Enterococcus, Erysipelotrichaceae, Erysipelotrichaceae, Ezakiella, Facklamia, Faecalibacterium, Filifactor, Finegoldia, Flavonifractor, Fusicatenibacter, Gaiella, Gemella, Glutamicibacter, Gordonia, Granulicatella, Holdemanella, Iamia, Ilumatobacteraceae, Intestinibacter, Kocuria, Kurthia, Lachnoanaerobaculum, Lachnoclostridium, Lachnospira, Lachnospiraceae, Lactococcus, Lawsonella, Leifsonia, Leucobacter, Leuconostoc, Lysinibacillus, Marmoricola, metagenome, Microbacterium, Micrococcus, Microlunatus, Micromonospora, Mobiluncus, Mogibacterium, Mycobacterium, Nakamurella, Nocardioides, Olsenella, Oribacterium, Ornithinimicrobium, Paenibacillus, Parvimonas, Peptoanaerobacter, Peptococcus, Peptoniphilus, Peptostreptococcus, Propionibacterium, Pseudonocardia, Pseudopropionibacterium, Quadrisphaera, Rhodococcus, Romboutsia, Roseburia, Rothia, Rubrobacter, Ruminococcus, Salinicoccus, Sanguibacter, Scardovia, Senegalimassilia, Shuttleworthia, Slackia, Solirubrobacter, Solobacterium, Staphylococcus, Stomatobaculum, Streptomyces, Subdoligranulum, Syntrophomonas, Tessaracoccus, Turicella, Tyzzerella.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

Bactérias Gram-positivo habitualmente associadas ao desenvolvimento de cárie dentária: Streptococcus mutans, Streptococcus oralis subsp oralis, Lactobacillus brevis, Lactobacillus casei, Lactobacillus fermentum, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus reuteri, e Lactobacillus rhamnosus.

Apesar da recolha de amostra microbiana ter sido realizada nos quatro momentos para as 60 crianças, devido a contratempos com algumas das amostras, apenas se obteve resultados para 49 crianças no momento inicial (dia 0), 46 crianças no 2.º momento (dia 15), 44 crianças no 3.º momento (dia 30) e 40 crianças no momento final (dia 60). Os resultados, relativos às contagens totais de Gram-negativo, Gram-positivo, Gram-negativo associados à doença periodontal, e Gram-positivo associados à cárie dentária são visíveis nas Figuras 18 e 19.

n=49 n=46 n=44 n=40 n=49 n=46 n=44 n=40

a) b) Figura 18 – Contagem total de microrganismos nos 4 momentos de avaliação: a) Gram-negativo, b) Gram-positivo.

Observa-se uma tendência de diminuição da quantidade de bactérias Gram-negativo e Gram-positivo, ao longo dos 4 momentos, sendo mais notória do 3.º momento para o 4.º momento (Figuras 18 e 19).

Verificou-se ainda que apenas para 37 crianças se obtiveram resultados para os 4 momentos, e é para esta amostra (n=37) que a comparação da evolução de resultados se realizou (Tabelas 11 a 14).

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

n=49 n=46 n=44 n=40

n=49 n=46 n=44 n=40

a) b) Figura 19 – Contagem total de microrganismos nos 4 momentos de avaliação: a) Gram-negativo associadas à doença periodontal), b) Gram-positivo associadas à cárie dentária.

O valor mediano de microrganismos Gram-negativo (Tabela 10) e o de Gram-positivo (Tabela 11) difere significativamente nos 4 momentos (p=0,035 e p<0,001). Para os

Gram-negativo, o 4.º momento apresenta uma contagem significativamente inferior (p(0-

60dias)=0,048; p(15-60dias)=0,049; p(30-60dias)=0,041) à dos 3 momentos iniciais (que não diferem entre si, p>0,05). Do mesmo modo, para os Gram-positivo, no 4.º momento, observa-se um valor mediano significativamente inferior aos momentos anteriores (p(0-

60dias)=0,007; p(15-60dias)<0,001; p(30-60dias)=0,013).

No que respeita à evolução/comparação nos 4 momentos, por faixa etária, para microrganismos Gram-negativo (Tabela 10), não se detetam diferenças significativas no valor mediano nas crianças com 6 ou menos anos, e observam-se diferenças significativas nas crianças com 7 ou mais anos (p=0,001), sendo que no 4.º momento observa-se uma contagem significativamente inferior (p(0-60dias)=0,001; p(15-60dias)=0,035; p(30-60dias)=0,002) ao dos 3 momentos iniciais (que não diferem entre si, p>0,05).

Para a evolução/comparação nos 4 momentos, por faixa etária, de microrganismos Gram-positivo (Tabela 11), detetam-se diferenças significativas nas crianças com 6 ou menos anos (p=0,005) e com 7 ou mais anos (p=0,001), sendo para ambos os casos que o 4.º momento apresenta contagem significativamente inferior (p(0-60dias)=0,001; p(15-

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

60dias)=0,035; p(30-60dias)=0,002) ao dos 3 momentos iniciais (que não diferem entre si, p>0,05).

O valor mediano de microrganismos Gram-negativo habitualmente associados a doença periodontal (Tabela 12) difere significativamente nos 4 momentos (p<0,001), sendo que para estes, o valor mediano medido no 4.º momento apresenta contagem significativamente inferior (p(0-60dias)<0,001; p(15-60dias)=0,008; p(30-60dias)=0,042) ao dos 3 momentos iniciais (que não diferem entre si, p>0,05). O mesmo padrão foi obtido no caso de microrganismos Gram-positivo associados a cárie dentária (Tabela 13), em que o valor mediano medido no 4.º momento apresenta contagem significativamente inferior (p<0,001 para as 3 comparações) ao dos 3 momentos iniciais (que não diferem entre si, p>0,05).

No que respeita à evolução/comparação nos 4 momentos, por faixa etária, para microrganismos Gram-negativo habitualmente associados à doença periodontal (Tabela 12), não se detetam diferenças significativas no valor mediano nas crianças com 7 ou mais anos (p=0,092), e observam-se diferenças significativas nas crianças com 6 ou menos anos (p=0,002), sendo que o 4.º momento apresenta uma contagem mediana significativamente inferior (p(0-60dias)=0,003; p(15-60dias)=0,016; p(30-60dias)=0,020) ao dos 3 momentos iniciais (que não diferem entre si, p>0,05).

Para a evolução/comparação nos 4 momentos, por faixa etária, de microrganismos Gram-positivo associados a cárie dentária (Tabela 13), detetam-se diferenças significativas nas crianças com 6 ou menos anos (p<0,001) e com 7 ou mais anos (p=0,012), sendo para ambos os casos que o 4º momento apresenta contagem significativamente inferior (p(0-60dias)<0,001; p(15-60dias)=0,011; p(30-60dias)=0,017 para 6 ou menos anos; e p(0-60dias)=0,010; p(15-60dias)=0,020; p(30-60dias)=0,028 para 7 ou mais anos) ao dos 3 momentos iniciais (que não diferem entre si, p>0,05).

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

Tabela 10 – Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-negativo, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, considerando as crianças como um conjunto e subdivididas por faixa etária. 4.º momento (dia 60) Início (dia 0) 3.º momento (dia 30) 2.º momento (dia 15) escova convencional OU Gram-negativo Escovagem antes do início escova convencional p* escova convencional cleft toothbrush + escova do estudo + cleft toothbrush convencional n 37 37 37 37 Me (Q1-Q3) 9865a (5628-15128) 11906a (4040-16709) 9105a (4328-16989) 2862b (1008-8643) 0,035 média (DP) 10522 (6671) 11111 (7650) 10315 (6823) 6750 (10324) Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a p (≤6a) p (≥7a) n 21 16 21 16 21 16 21 16 10774a 7725 11906 10240a 8521 9724a 7351A 1321bB Me (Q1-Q3) (7789- 0,271 0,001 (4293-13354) (6529-16709) (1031-16958) (3906-17315) (5006-16467) (2212-13381) (763-2760) 18611) média (DP) 8859 (5500) 12706 (7584) 12279 (7581) 9578 (7709) 10422 (7206) 10173 (6517) 10455 (12511) 1888 (1633) p** 0,108 0,308 0,940 0,002 * Teste de Friedman; ** Teste de Mann-Whitney; a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o teste de Friedman com comparações múltiplas ajustadas pelo método de Bonferroni; A,B–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre faixa etária no momento inicial, de acordo com o teste de Mann-Whitney; DP – doença periodontal; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

Tabela 11 – Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-positivo, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, considerando as crianças como um conjunto e subdivididas por faixa etária. 4.º momento (dia 60) Início (dia 0) 3.º momento (dia 30) 2.º momento (dia 15) escova convencional OU Gram-positivo Escovagem antes do início cleft toothbrush + escova p* escova convencional cleft toothbrush + escova do estudo convencional convencional n 37 37 37 37 Me (Q1-Q3) 13000 b (8228-17273) 18151a (10409-27078) 14563b (6704-21752,5) 6408c (2758-12394) <0,001 média (DP) 13168 (7349) 19950 (11644) 14386 (8381) 7737 (6212)

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

4.º momento (dia 60) Início (dia 0) 3.º momento (dia 30) 2.º momento (dia 15) escova convencional OU Gram-positivo Escovagem antes do início cleft toothbrush + escova p* escova convencional cleft toothbrush + escova do estudo convencional convencional Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a p (≤6a) p (≥7a) n 21 16 21 16 21 16 21 16 15201a 4881b 10730a 18151a 19458a 14878a 13705a 6870b Me (Q1-Q3) (8750- (2022- 0,005 0,004 (8013-14218) (10409-21773) (10152-32091) (8003-21273) (6237-22954) (2875-14938) 22005) 10470) média (DP) 11552 (6482) 15289 (8070) 18242 (9207) 22192 (14246) 14416 (8401) 14347 (8630) 9023 (7053) 6050 (4574) p** 0,123 0,534 0,999 0,267 * Teste de Friedman; ** Teste de Mann-Whitney; a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o teste de Friedman com comparações múltiplas ajustadas pelo método de Bonferroni; A,B–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre faixa etária no momento inicial, de acordo com o teste de Mann-Whitney; DP – doença periodontal; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

Tabela 12 – Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-negativo associadas à doença periodontal, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, considerando as crianças como um conjunto e subdivididas por faixa etária. 4.º momento (dia 60) Gram-negativo, Início (dia 0) 3º momento (dia 30) 2.º momento (dia 15) escova convencional OU doença Escovagem antes do início cleft toothbrush + escova p* escova convencional cleft toothbrush + escova periodontal do estudo convencional convencional n 37 37 37 37

Me (Q1-Q3) 3614a (940-5979) 3352a (96-6655) 3462a (12-4967) 48b (0-332) <0,001 média (DP) 4394 (4332) 3946 (3747) 3551 (3949) 171 (246)

Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a p (≤6a) p (≥7a) n 21 16 21 16 21 16 21 16

3545a 4408 3352a 3308 3486a 2751 (9 11b 78 Me (Q1-Q3) 0,002 0,092 (1003-5831) (148-8443) (77-7067) (115-6138) (44-6043) -4249) (0-293) (0-362) média (DP) 3919 (3901) 5016 (4901) 4190 (4010) 3626 (3474) 4135 (4485) 2784 (3084) 154 (228) 194 (274)

p** 0,683 0,797 0,495 0,660

* Teste de Friedman; ** Teste de Mann-Whitney; a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o teste de Friedman com comparações múltiplas ajustadas pelo método de Bonferroni; A,B–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre faixa etária no momento inicial, de acordo com o teste de Mann-Whitney; DP – doemça periodontal; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

Tabela 13 – Comparação da contagem microbiana total de bactérias Gram-positivo associadas à cárie dentária, na área da FL/P, nos quatro momentos de observação, considerando as crianças como um conjunto e subdivididas por faixa etária. 4.º momento (dia 60) Início (dia 0) 3.º momento (dia 30) Gram-positivo, 2.º momento (dia 15) escova convencional OU Escovagem antes do início cleft toothbrush + escova p* cárie dentária escova convencional cleft toothbrush + escova do estudo convencional convencional n 37 37 37 37 Me (Q1-Q3) 7537a (3431,5-10016,5) 9408a (2837-14056,5) 5720a (1496-10481,5) 1235b (191,5-2501) <0,001 média (DP) 7539 (5575) 9767 (7986) 6873 (5454) 1761 (2042) Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a Idade ≤6a Idade ≥7a p (≤6a) p (≥7a) n 21 16 21 16 21 16 21 16 9329 a 6257 a 6944 a 9784 a 5720 a 5961 a 1598b 1155b Me (Q1-Q3) (3507- <0,001 0,012 (2896-8804) (4296-13240) (2217-16668) (1249-14704) (1987-9036) (99-2666) (221-2526) 12394) média (DP) 6814 (5719) 8491 (5410) 8701 (5431) 11165 (10492) 7615 (6260) 5899 (4167) 1830 (2246) 1671 (1808) p** 0,229 0,844 0,596 0,797 * Teste de Friedman; ** Teste de Mann-Whitney; a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o teste de Friedman com comparações múltiplas ajustadas pelo método de Bonferroni; A,B–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre faixa etária no momento inicial, de acordo com o teste de Mann-Whitney; DP – doença periodontal; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

Tabela 14 – Comparação das contagens de bactérias Gram-negativo, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, considerando o tipo de escova usada.

Grupo que no 3.º momento 4.º momento fim do 3.º 2.º momento (dia 30) (dia 60) momento (dia 15) cleft toothbrush escova convencional OU p* decidiu usar escova + escova cleft toothbrush + escova até ao 4.º convencional convencional convencional momento: n 7 7 7 escova 11316 4822 1043 Me (Q1-Q3) 0,072 convencional (2418-19850) (983-10572) (503-4956) média (DP) 10963 (8495) 6173 (5897) 2585 (3037) n 30 30 30 cleft toothbrush 11906 9955 3011 + escova Me (Q1-Q3) 0,061 (5392-16332) (5908-18072) (1266-10130) convencional média (DP) 11152 (7563) 11457 (6702) 7900 (11332) * Teste de Friedman; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

As Tabelas 14 a 18 apresentam as contagens bacterianas, na área da FL/P, dividindo a amostra em dois grupos, segundo o tipo de escova usada do dia 15 ao dia 60.

Não se detetou diferenças significativas ao longo dos 3 momentos de avaliação (2.º, 3.º e 4.º) no grupo de crianças que preferiu usar escova convencional do dia 30 ao dia 60 (n=7, T. Friedman, p=0,072), nem no grupo que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional no mesmo período (n=30, T. Friedman, p=0,061) (Tabela 14). Quando avaliado o efeito da introdução da cleft toothbrush, 2.º momento vs 3.º momento, em ambos os grupos, o que na última fase do estudo preferiu usar a escova convencional e o que utilizou cleft toothbrush + escova convencional, não foi possível detetar diferenças significativas (T. Wilcoxon, p=0,123 e p=0,658, respetivamente). No entanto, quando comparada a evolução entre o 3.º e o 4.º momento, foi possível verificar uma diminuição da mediana significativa (contagens de 9955 para 3011), T. Wilcoxon, p=0,027) na contagem de bactérias Gram-negativo para o grupo que utilizou cleft toothbrush + escova convencional (Tabela 14).

Relativamente às contagens de bactérias Gram-positivo, Tabela 15, não se detetou diferenças significativas ao longo dos 3 momentos de avaliação (2.º, 3.º, 4.º) no grupo que do dia 30 ao dia 60 preferiu usar escova convencional (n=7, T. Friedman, p=0,072), mas é detetada diferença/diminuição significativa, entre pelo menos dois momentos, para o grupo que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional no mesmo período (n=30, T. Friedman, p<0,001).

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

Tabela 15 – Comparação das contagens de bactérias Gram-positivo, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, considerando o tipo de escova usada.

Grupo que no 3.º momento 4.º momento fim do 3.º 2.º momento (dia 30) (dia 60) momento.º (dia 15) cleft toothbrush escova convencional OU p* decidiu usar escova + escova cleft toothbrush + escova até ao 4.º convencional convencional convencional momento: n 7 7 7 escova 19842 9520 9562.5 Me (Q1-Q3) 0.072 convencional (6256-26425) (6725-14065) (5710-13612) média (DP) 19505 (15366) 10888 (5805) 9434 (5031) n 30 30 30 cleft toothbrush 18003a 14879a 5250b + escova Me (Q1-Q3) <0,001 (12548-27078) (6525-22958) (2032-12010) convencional média (DP) 20073 (10735) 15351 (8799) 7269 (6499) * Teste de Friedman; a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o teste de Friedman com comparações múltiplas de Wilcoxon ajustadas pelo método de Bonferroni; DP – doença periodontal; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

Quando avaliado o efeito da introdução da cleft toothbrush, 2.º momento vs 3.ºmomento, em ambos os grupos, o que na última fase do estudo preferiu usar escova convencional e o que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional, não foi possível detetar diferenças significativas (T. Wilcoxon, p=0,069 e p=0,112, respetivamente). No entanto, quando comparada a evolução entre o 3.º e o 4.º momento, no grupo que no fim preferiu usar escova convencional até ao final do estudo não apresentou diferença significativa (p=0,484), mas no que utilizou o adaptador na escova convencional foi possível verificar uma diminuição significativa mediana (contagens de 14879 para 5250 T. Wilcoxon, p=0,003) na contagem de bactérias Gram-positivo. No grupo o que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional também se pode observar uma diminuição significativa entre o 2.º e o 4.º momento (p<0,001) (Tabela 15).

Na Tabela 16, relativa às contagens de bactérias Gram-negativo associadas à doença periodontal, não se deteta diferenças significativas ao longo dos 3 momentos de avaliação (2.º, 3.º, 4.º) no grupo que até ao final do estudo preferiu usar escova convencional (n=7, T. Friedman, p=0,798), mas é detetada diferença/diminuição significativa, entre pelo menos dois momentos, para o grupo que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional (n=30, T. Friedman, p=0,003).

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

Tabela 16 – Comparação das contagens de bactérias Gram-negativo associadas à doença periodontal, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, considerando o tipo de escova usada.

Grupo que no 3.º momento 4.º momento fim do 3.º 2.º momento (dia 30) (dia 60) momento.º (dia 15) cleft toothbrush escova convencional OU p* decidiu usar escova + escova cleft toothbrush + escova até ao 4.º convencional convencional convencional momento: n 7 7 7 escova 326 177 71 Me (Q1-Q3) 0,798 convencional (17-8131.5) (1-3124) (3-373) média (DP) 3246 (4409) 1280 (1784) 157 (207) n 30 30 30 cleft toothbrush 3695a 3931a 32b + escova Me (Q1-Q3) 0,003 (230-6655) (127-6050) (0-332) convencional média (DP) 4139 (3608) 4177 (4169) 175 (259) * Teste de Friedman; a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o teste de Friedman com comparações múltiplas de Wilcoxon ajustadas pelo método de Bonferroni; DP – doença periodontal; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

Quando avaliado o efeito da introdução da cleft toothbrush, 2.º momento vs 3.º momento, em ambos os grupos, o que na última fase do estudo preferiu usar escova convencional e o que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional, não foi possível detetar diferenças significativas (T. Wilcoxon, p=0,091 e p=0,929, respetivamente). No entanto, quando comparada a evolução entre o 3.º e o 4.º momento, o grupo que preferiu usar escova convencional, no último período do estudo, não apresenta diferença significativa (p=0,263), mas no grupo que utilizou a cleft toothbrush + a escova convencional verificou-se uma diminuição significativa da mediana (contagens de 3921 para 32, T. Wilcoxon, p<0,001). No grupo o que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional não se detetou alteração diminuição significativa entre o 2.º e o 4.º momento (p=0,112) (Tabela 16).

Na Tabela 17, relativa à contagem de bactérias Gram-positivo associadas à cárie dentária, foram detetadas diferenças significativas na em pelo menos 2 dos 3 momentos de avaliação (2.º, 3.º, 4.º), tanto no grupo que preferiu usar escova convencional no último período do estudo (n=7, T. Friedman, p=0,10), como no grupo que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional, no mesmo periodo (n=30, T. Friedman, p<0,001).

Quando avaliado o efeito da introdução da cleft toothbrush, 2.º momento vs 3.º momento, em ambos os grupos, o que optou pela escova convencional e o que optou

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

pela cleft toothbrush + escova convencional, o que na última fase do estudo, não foi possível detetar diferenças significativas (T. Wilcoxon, p=0,803 e p=0,881, respetivamente). Quando comparada a evolução entre o 3.º e o 4.º momento, observou- se que o grupo que utilizou a escova convencional apresentou uma diferença significativa (p=0,037), tal como o grupo que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional em que se verifica uma diminuição significativa da mediana (T. Wilcoxon, p=0,008) na contagem de bactérias Gram-positivo associadas à cárie dentária.

A comparação entre o 2.º e o 4.º momento mostra uma diminuição significativa nas contagens bacterianas nos dois grupos (Tabela 17). No entanto, no grupo que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional o grau de significância é maior (p<0,001) que no grupo que utilizou a escova convencional (p<0,010).

Tabela 17 – Comparação das contagens de bactérias Gram-positivo associadas à cárie dentária, na área da FL/P, nos 2.º, 3.º e 4.º momentos de observação, considerando o tipo de escova usada.

Grupo que no 3.º momento 4.º momento fim do 3.º 2.º momento (dia 30) (dia 60) momento (dia 15) cleft toothbrush escova convencional OU p* decidiu usar escova + escova cleft toothbrush + escova até ao 4.º convencional convencional convencional momento: n 7 7 7 escova 9693 a 4871 a 1230 b Me (Q1-Q3) 0,010 convencional (2217-16983) (3075-7794) (306-2479) média (DP) 10829 (9455) 5382 (3182) 1746 (1963) n 30 30 30 cleft toothbrush 9408a 7318a 1235b + escova Me (Q1-Q3) <0,001 (3382-12481) (1240-12336) (139-2674) convencional média (DP) 9474 (7697) 7285 (5908) 1765 (2098) * Teste de Friedman; a,b–letras diferentes mostram diferenças significativas medianas entre os momentos inicial e final, de acordo com o teste de Friedman com comparações múltiplas de Wilcoxon ajustadas pelo método de Bonferroni; DP – doença periodontal; n – dimensão do grupo/amostra; Me – mediana.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

8.4 Discussão

As crianças com FL/P apresentam várias alterações anatómicas, como descrito na secção – capítulo II § problemas orais, que dificultam a remoção da placa bacteriana (11, 12, 21, 92), o que pode favorecer a colonização microbiana (93) e, deste modo, o desenvolvimento de problemas orais.

Este estudo avaliou a diversidade da microbiota oral em crianças com FL/P através da sequenciação do gene 16S rRNA. Determinou-se também o efeito da escovagem com a cleft toothbrush na microbiota oral, na área da FL/P, relativamente às contagens totais de bactérias Gram-negativo e bactérias Gram-positivo, incluindo as associadas à presença de doença periodontal e de cárie dentária, respetivamente. O estudo teve a duração de 60 dias e 4 momentos de avaliação (dias 0, 15, 30 e 60).

Os resultados de sequenciação do gene 16S rRNA mostram que a microbiota oral das crianças com FL/P apresenta uma elevada diversidade, o que está de acordo com estudos prévios (126, 202). Observa-se também que há um grande número de bactérias Gram-negativo que estão associadas à doença periodontal, como por exemplo a Porphyromonas, a Tannerella e a Treponema (203, 204) e de bactérias Gram-positivo que estão associadas à cárie dentária, como o Streptococcus mutans e os Lactobacillus (205, 206).

Nas Figuras 18 e 19, considerando a totalidade das crianças (60), observa-se uma redução da contagem total de bactérias Gram-negativo e Gram-positivo, incluindo as que estão associadas à doença periodontal e à cárie dentária, respetivamente, ao longo do estudo. Quando se analisam os resultados referentes às 37 crianças com avaliações nos 4 momentos do estudo, verifica-se uma correlação estatisticamente significativa na redução da quantidade destes microrganismos no 4.º momento relativamente aos momentos anteriores. Demonstra-se assim, uma redução de microrganismos patogénicos etiologicamente relacionados com os processos inflamatórios e infecciosos dos tecidos da área da fenda (Tabelas 10 a 13).

Observa-se uma redução, ainda que não estatisticamente significativa, entre o 2.º e o 3.º momentos, isto é, durante o período de utilização da cleft toothbrush + escova

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

convencional. No entanto, essa variação é estatisticamente significativa 1 mês após a utilização, no 4.º momento. Poderá considera-se como hipótese explicativa que o aumento de confiança e segurança na higienização da área da fenda tenha sido percetível apenas ao fim de 45 dias de utilização (desde o final do 2.º momento até ao 4.º momento), tendo em conta que muitas das crianças/cuidadores nunca tinham higienizado a área da fenda anteriormente.

A análise das contagens bacterianas observada nas 37 crianças ao longo do estudo mostra que no final do estudo (4.º momento, dia 60), não se observam diferenças estatisticamente significativas na diminuição da contagem bacteriana, com a utilização dos dois protocolos de escovagem entre o dia 30 e o dia 60 – escova convencional ou cleft toothbrush.

No entanto, quando se analisam detalhadamente as contagens bacterianas, separando os dois grupos de crianças que usaram opções diferentes de escovagem do dia 30 ao dia 60 – escova convencional (7 crianças) e cleft toothbrush + escova convencional (30 crianças) há algumas observações interessantes (Tabelas 14 a 17).

No grupo das crianças que optou pela escova convencional, não se detetaram diferenças significativas relativamente às contagens totais de bactérias Gram-negativo e Gram-positivo (Tabela 14 e 15). Contudo, no grupo de crianças que optou pela cleft toothbrush + escova convencional houve uma diminuição estatisticamente significativa nas contagens totais de bactérias Gram-positivos (p<0,001) (Tabela 15).

Relativamente às contagens de bactérias Gram-negativo associadas à presença de doença periodontal, apenas o grupo de crianças que optou pela cleft toothbrush + escova convencional, entre os dias 30 e 60, apresentou uma diminuição estatisticamente significativa (p=0,003) (Tabela 16). Este resultado é claramente uma mais valia que se deteta nas diferentes opções de escovagem.

Relativamente às contagem de bactérias Gram-positivo associadas à presença de cárie dentária, ambos os grupos de crianças apresentaram um diminuição significativa no fim do estudo (Tabela 17). No entanto, o nível de significância foi superior no grupo de

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

crianças que utilizou a cleft toothbrush + escova convencional vs escova convencional (Tabela 17) (p=0,001 e p=0,010, respetivamente).

Estas observações sugerem uma maior eficácia da cleft toothbrush na remoção de bactérias Gram-negativo e Gram-positivo associadas à presença de doença periodontal e de cárie dentária, respetivamente.

De evidenciar que algumas das diminuições não significativas deste estudo podem estar relacionadas a erros tipo II (e essa suspeita fica no ar para p menor que 0,200, ie, a probabilidade de ausência de diferença ser inferior a 20%), ou seja, há de facto uma diminuição da contagem bacteriana, mas não é possível a sua deteção por, entre outras razões, ter uma amostra diminuta e uma variabilidade elevada.

8.5 Conclusão

A utilização da cleft toothbrush leva a uma diminuição da quantidade de microrganismos patogénicos na área da fenda. Nas condições deste estudo, estes resultados são observados ao fim de 45 dias de utilização. Há necessidade de um estudo com uma amostra mais alargada e um tempo mais prolongado para confirmação da eficácia da cleft toothbrush.

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CAPÍTULO VIII – Microbiota da fenda lábio-palatina

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CAPÍTULO IX

– Conclusões

CAPÍTULO IX – Conclusões

IX – Conclusões

As fendas lábio-palatinas (FL/P) são as malformações congénitas major mais comuns da face e podem ocorrer isoladamente ou com síndromes polimalformativas. Devido às anomalias ósseas e dentárias, a remoção da placa bacteriana está muito dificultada, e a sua acumulação está na origem de diversos problemas de saúde oral, como a elevada incidência de cárie dentária e a doença periodontal.

Este estudo teve como objetivo o desenvolvimento de um dispositivo de fácil adaptação a uma escova convencional – cleft toothbrush, para uma melhor higienização da área da FL/P, e a avaliação da sua eficácia na remoção da placa bacteriana bem como os efeitos da escovagem na microbiota oral na área da fenda.

A primeira fase deste trabalho consistiu na caracterização de uma amostra de 240 indivíduos com FL/P com o objetivo de validar uma amostra apropriada para a realização deste estudo, tendo por critério a comparação com a informação disponível na literatura. A amostra estudada apresentou um perfil consensual com o descrito na maioria dos estudos efetuados em diferentes áreas geográficas: uma maior prevalência da FLP e FP; as fendas unilaterais são mais comuns do que as bilaterais e ocorrem com mais frequência no lado esquerdo; as FP são mais frequentemente encontradas em entidades sindrómicas; os exames de diagnóstico ecográficos pré-natais nas décadas mais recentes, sendo a FP a menos diagnosticada in utero.

Para a concretização do objetivo principal e da sua relevância, foi necessário ter um conhecimento do estado da arte relativamente aos cuidados de higiene oral em crianças com FL/P. A revisão sistemática efetuada mostrou que há poucos estudos que focam a higienização da área da fenda.

O desenvolvimento de um dispositivo para a higienização da área da FL/P – cleft toothbrush, permitiu a concretização do propósito principal deste trabalho. O desenho e planeamento deste dispositivo tiveram em consideração as características anatómicas e morfológicas da área da fenda, os requisitos de higienização desta área, a comodidade e conforto na utilização, e a fácil adaptação a uma escova de dentes convencional. Esta

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CAPÍTULO IX – Conclusões

fase culminou com a construção de um protótipo por uma técnica de modelagem de deposição por fusão 3D.

A última fase do estudo foi dedicada à validação da eficácia da cleft toothbrush, numa amostra relativamente alargada de crianças com FL/P, que foi seleccionada aleatoriamente da amostra inicial dos 240 indivíduos, na faixa etária dos 2 aos 12 anos e com fendas do grupo I completas e grupo II. A cleft toothbrush apresentou uma elevada eficácia na remoção da placa bacteriana na área da fenda. A caracterização da microbiota oral mostrou uma grande diversidade de bactérias Gram-negativo e bactérias Gram-positivo na placa bacteriana da área da fenda. A escovagem com a cleft toothbrush resultou numa diminuição da carga microbiana total e, também, da população de bactérias Gram-negativo e Gram-positivo habitualmente associadas com a doença periodontal e a cárie dentária, respetivamente.

Os indivíduos com fenda lábio-palatina necessitam de um acompanhamento muito rigoroso no que diz respeito aos cuidados com a higiene oral. É necessário atuar precocemente e tendo como foco a prevenção. Há uma grande variedade de estudos que endereça esta população, mas escassa informação sobre a resolução/minimização dos aspetos associados com a dificuldade de higienização da área da fenda. O dispositivo desenvolvido neste trabalho - a cleft toothbrush apresentou elevada eficácia na remoção da placa bacteriana na área da fenda e excelente aceitação por parte das crianças e cuidadores. A introdução no mercado deste dispositivo poderá contribuir para a melhoria significativa da higiene e condição dos tecidos da área da FL/P, ou seja, da manutenção da saúde oral dos indivíduos com FL/P.

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Capítulo X

– Limitações do estudo e perspetivas futuras

CAPÍTULO X – Limitações do estudo e perspetivas futuras

X – Limitações do estudo e perspetivas futuras

Este estudo incluiu uma amostra relativamente alargada de indivíduos com FL/P. Contudo, não abrange a totalidade dos casos de FL/P existentes em Portugal, devido à impossibilidade de acesso a todos os dados disponíveis em entidades (hospitais, centros) envolvidos no tratamento destes indivíduos. No entanto, constitui um complemento para a caracterização dos registos já existentes sobre esta temática em Portugal.

A caracterização da amostra pretendeu ser exaustiva relativamente aos parâmetros analisados. Contudo, os registos clínicos dos casos de indivíduos nascidos sobretudo antes da década de 1990 apresentavam informação bastante incompleta.

O estudo clínico relativo à eficácia da cleft toothbrush envolveu crianças residentes em todo o País. Este facto constitui uma limitação devido a vários aspectos, salientando-se a impossibilidade de efetuar o estudo num único local de observação. A execução do protocolo estabelecido dependeu da dedicação das crianças e cuidadores na realização da higiene oral nos períodos entre as avaliações de placa bacteriana e de colheita de amostras para análise do microbioma oral na área da fenda.

Na análise da avaliação da quantidade de placa bacteriana consideram-se como limitações os seguintes aspectos: a logística entre as residências das crianças em estudo; os horários disponibilizados pelos pais; o local de observação não clínico; a dificuldade das crianças em bochechar; e a aprendizagem da higienização da área da fenda.

Como trabalho futuro propõe-se a realização de um estudo sobre a eficácia da cleft toothbrush que envolva uma amostra mais abrangente de crianças com FL/P, alguns ajustamentos no protocolo de estudo e condições optimizadas de observação clínica, para confirmação dos resultados observados no âmbito desta tese.

Apesar das limitações apontadas, este estudo permitiu valorizar a saúde oral dos indivíduos com FL/P. Assim, no que concerne aos problemas orais resultantes da acumulação de placa bacteriana, espera-se que o desenvolvimento da cleft toothbrush permita uma diminuição significativa da sua incidência. A informação/educação deve estar na base dos tratamentos orais e a prevenção é a palavra de ordem.

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CAPÍTULO X – Limitações do estudo e perspetivas futuras

A cleft toothbrush foi objecto do Registo de uma Patente (Registo Provisório de Patente Portuguesa nº 110683 W).

A Universidade do Porto (U.Porto Inovação) mostrou grande interesse neste dispositivo, tendo dirigido um convite aos inventores para a realização de um vídeo de divulgação/promoção. A definição do conteúdo e estrutura do vídeo foi discutida numa reunião realizada no dia 5 de julho de 2018. A realização do vídeo está agendada para o mês de agosto.

A divulgação deste vídeo enquadra-se no âmbito do projeto U.Norte Inova, desenvolvido em co-promoção com a Universidade do Porto, a Universidade do Minho, a TECMINHO e a UTAD, que visa promover a inovação junto das empresas e indústrias portuguesas e aproximar a oferta da procura de conhecimento potenciando a inovação.

Em termos de perspetivas futuras, a possibilidade de comercialização da cleft toothbrush permitiria a sua total disponibilização aos indivíduos com FL/P, certamente com resultados positivos na sua saúde oral..

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CAPÍTULO XI

– Bibliografia

CAPÍTULO XI – Bibliografia

XI – Bibliografia

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149

CAPÍTULO XI – Bibliografia

150

CAPÍTULO XII

– Anexos

Anexo 1

– Autorização para utilização de Figuras

Anexo 1

153

Anexo 1

154

Anexo 1

155

Anexo 2

– Parecer da comissão de ética da FMDUP

Anexo 2

159

Anexo 3

– Consentimento informado

Anexo 3

DECLARAÇÃO DE CONSENTIM ENTO INFORMADO

Eu______representante legal do menor sob a minha guarda______, compreendi a explicação que me foi fornecida, por escrito e verbalmente, acerca da investigação com o título “Contributo para a Higiene Oral de uma População Portuguesa com Fenda Lábio Palatina” conduzida pela investigadora Carla Rita Rodrigues Mendes na Faculdade de Medicina Dentária da Universidade do Porto, para a qual é pedida a minha participação. Foi-me dada oportunidade de fazer as perguntas que julguei necessárias, e para todas obtive resposta satisfatória.

Tomei conhecimento de que, de acordo com as recomendações da Declaração de Helsínquia, a informação que me foi prestada versou os objetivos, os métodos, os benefícios previstos, os riscos potenciais e o eventual desconforto. Além disso, foi-me afirmado que tenho o direito de decidir livremente aceitar ou recusar a todo o tempo a participação no estudo. Sei que posso abandonar o estudo e que não terei que suportar qualquer penalização, nem quaisquer despesas pela participação neste estudo.

Foi-me dado todo o tempo de que necessitei para refletir sobre esta proposta de participação.

Nestas circunstâncias, consinto que a/o minha/meu filha(o) participe neste projeto de investigação, tal como me foi apresentado pela investigadora responsável sabendo que a confidencialidade dos participantes e dos dados a eles referentes se encontra assegurada.

Mais autorizo que os dados deste estudo sejam utilizados para este e outros trabalhos científicos, desde que irreversivelmente anonimizados.

Data: ____/____/_____ Assinatura do representante legal do paciente: ______

A Investigadora: Dra. Carla Rita Rodrigues Mendes Dados de contacto: (9 17360624; [email protected]) O Orientador: Doutor David Casimiro de Andrade Dados de contacto: (225098574; [email protected])

A Coorientadora: Doutora Conceição Manso Dados de contacto: (225071300; [email protected])

O Coorientador: Dr. Bessa Monteiro Dados de contacto: (800201000; [email protected])

163

Anexo 4

– Explicação do estudo

Anexo 4

PROJETO DE INVESTIGAÇÃO – Explicação do Estudo

TÍTULO Contributo para a Higiene Oral de uma População Portuguesa com Fenda Lábio Palatina

OBJETIVOS As crianças e jovens com Fenda Lábio Palatina apresentam dificuldades de higienização relacionadas com a anatomia do problema, não conseguindo limpar facilmente as reentrâncias dos tecidos alterados. No sentido de melhorar este aspeto foi idealizado um novo instrumento que facilite a remoção dos detritos acumulados nas áreas retentivas de modo a diminuir a proliferação bacteriana e controlando de uma forma eficiente a inflamação que estes tecidos apresentam. Para verificar a eficácia do novo instrumento será estudada a variação da população microbiana em quatro momentos, aquando da utilização de uma escova convencional vs. o novo instrumento. Será também caracterizada a população em estudo de modo a verificar os seus principais problemas e sugerir possíveis soluções, sensibilizando a sociedade em geral para as dificuldades inerentes a esta população.

METODOLOGIA Serão realizados dois questionários ao responsável pela criança (um antes e outro após a investigação). As crianças serão avaliadas em 4 fases: Fase 1 – recolha de placa bacteriana (esta colheita é indolor e não provoca qualquer incomodo à criança) e aplicação de um corante para evidenciar a placa bacteriana existente. Fase 2 – será realizada a higienização com uma escova convencional e corada a placa bacteriana. Fase 3 – será realizada a higienização com um novo instrumento e corada a placa bacteriana. Fase 4 – recolha de placa bacteriana e aplicação de um corante para evidenciar a placa bacteriana existente.

RESULTADOS ESPERADOS E SUA RELEVÂNCI A Espera-se que com a quantificação de bactérias que existem na boca se faça uma comparação da influência deste novo instrumento no resultado comprovando-se que existe benefício da sua utilização. Obtendo este método melhores resultados, o seu uso será incentivado de forma a melhorar a saúde oral destas crianças.

RISCO/DESCONFORTO A realização deste trabalho de investigação não acresce para o participante qualquer risco ou desconforto.

CARACTERÍSTICAS ÉTICAS

Neste estudo salvaguarda-se o anonimato dos dados recolhidos assim como é assegurado que a intervenção no âmbito desta investigação não coloca em risco bem-estar do participante.

Declaro que recebi, li e compreendi a explicação do estudo

O/A representante legal

167

Anexo 5

– Ficha clínica de observação intraoral – Índice de placa bacteriana

Anexo 5

OBSERVAÇÃO I NTRA ORAL - Índice de placa bacteriana

Tipo e lateralidade da fenda:

Primeira fase - Índice de placa bacteriana data: ___/___/_____

Pré Pré 16 15/55 14/54 13/53 12/52 11/51 21/61 22/62 23/63 24/64 25/65 26 canino canino

Segunda fase - Índice de placa bacteriana adaptado data: ___/___/_____

53 Pré canino 52 51 61 62 Pré canino 63

Terceira fase - Índice de placa bacteriana adaptado data: ___/___/_____

53 Pré canino 52 51 61 62 Pré canino 63

Quarta fase - Índice de placa bacteriana data: ___/___/_____

Pré Pré 16 15/55 14/54 13/53 12/52 11/51 21/61 22/62 23/63 24/64 25/65 26 canino canino

0 – dente não corado

1 – 1/3 do dente corado

2 – 2/3 do dente corado

3 – 3/3 do dente corado

X – sem dente 1

171

Anexo 6

– Autorização da clínica para a realização do estudo

Anexo 6

175

176

Anexo 7

– Questionário 1

Anexo 7

179

Anexo 8

– Questionário 2

Anexo 8

183

Anexo 9

– Registo de Patente

185

Anexo 9

187

188

Anexo 9

189

190

Anexo 10

– Convite para produçãoo de um vídeo de divulgação da cleft toothbrush

Anexo 10

193

Anexo 10

194