O CONTO DAS QUATRO MIL ALMAS: Uma Etnografia Do Confronto De Indígenas E Quilombolas Com a Central Nuclear Do Nordeste
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA E MUSEOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA WHODSON ROBSON DA SILVA O CONTO DAS QUATRO MIL ALMAS: uma etnografia do confronto de Indígenas e Quilombolas com a Central Nuclear do Nordeste Recife 2019 WHODSON ROBSON DA SILVA O CONTO DAS QUATRO MIL ALMAS: uma etnografia do confronto de Indígenas e Quilombolas com a Central Nuclear do Nordeste Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Antropologia da Universidade Federal de Pernambuco (PPGA/UFPE) para obtenção do título de Mestre em Antropologia. Área de Concentração: Antropologia Orientadora: Profª Dra. Vânia Fialho Recife 2019 Catalogação na fonte Bibliotecária Maria do Carmo de Paiva, CRB4-1291 S586c Silva, Whodson Robson da. O conto das quatro mil almas : uma etnografia do confronto de Indígenas e Quilombolas com a Central Nuclear do Nordeste / Whodson Robson da Silva. – 2019. 155 f. : il. ; 30 cm. Orientadora: Profª. Drª. Vania Fialho. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco, CFCH. Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Recife, 2019. Inclui referências. 1. Antropologia. 2. Índios. 3. Quilombolas. 4. Usinas nucleares. 5. Central Nuclear do Nordeste. 6. Itacuruba (PE). I. Fialho, Vania (Orientadora). II. Título. 301 CDD (22. ed.) UFPE (BCFCH2020-092) WHODSON ROBSON DA SILVA O CONTO DAS QUATRO MIL ALMAS: uma etnografia do confronto de Indígenas e Quilombolas com a Central Nuclear do Nordeste Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Antropologia como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Antropologia. Aprovada em: 14/08/2019. BANCA EXAMINADORA: Profª Dra. Vânia Rocha Fialho de Paiva e Souza (Orientadora) Universidade Federal de Pernambuco Prof. Dr. Russel Parry Scott (Examinador Interno) Universidade Federal de Pernambuco Prof. Dr. Alfredo Wagner Berno de Almeida (Examinador Externo) Universidade do Estado do Amazonas SUZANA no banho, 1966/ Xilogravura Gilvan Samico Em memória de Suzana, minha saudosa mãe. AGRADECIMENTOS O sonho de cursar uma pós-graduação e vivenciar experiências tão incríveis reforça a certeza de que o conhecimento só tem sentido se é compartilhado. Seguramente, não fazemos nada sozinhos, as reflexões aqui contidas expressam um caminho coletivo, com várias mãos, distintos sentimentos e um único propósito, tornar o conhecimento algo democrático, para todas e todos. Quero, nessa direção, primeiramente agradecer o financiamento público que tornou a pesquisa possível, meus sinceros agradecimentos a CAPES. Em um contexto de sucateamento das universidades brasileiras, temos que reforçar o sentido da educação pública. Uma educação emancipadora, que faz com que hoje um jovem negro, LGBTQI+, da periferia de Sucupira, seja mestre em Antropologia e ocupe lugares que historicamente foram negados a mim e aos meus. Gratidão aos que vieram e lutaram antes de mim, nada disso seria possível hoje se não houvesse enfrentamentos que subverteram e que até hoje subvertem as estruturas racistas e preconceituosas nas universidades. Gratidão a minha mãe e a meu pai, que mesmo nunca tendo acesso à universidade, se esforçaram sobremaneira para que eu fosse o primeiro mestre da família. Minha mãe partiu durante esse trajeto, fato que mudara minha vida significativamente. Sonhava com o dia que iria comemorar esse feito ao seu lado, que mesmo não entendendo e, muitas vezes discordando de minhas peraltagens no mundo da Antropologia, apostava em mim e na minha potência. Na impossibilidade material de tal celebração, deixo meu registro saudoso e a dedicação desta e das muitas outras conquistas que virão. Ao meu pai, Robson, obrigado pelo apoio emocional e cuidado, mesmo eu estando e me fazendo tão longe, sua sapiência e motivação me acompanha e me torna feliz. A minha irmã, Estefani, e minha sobrinha, Cecília, gratidão pelo amor, carinho e atenção. Vânia Fialho, minha professora, amiga e orientadora, meu mais profundo agradecimento. Sabemos o qual difícil foi à realização deste trabalho, obrigado pela paciência, afeto e o longo tempo dedicado à minha formação. Não teria conseguido sem o seu apoio estrutural. Aos amigos do Laboratório de Estudos sobre Ação Coletiva e Cultura: Poliana, Flávia, Tiane, Andreza, Hosana, Jaidene, Sávio, Sandra Simone, Rita, Luan, Ilana. Essa pesquisa é um resultado coletivo vivenciado intensamente por todas e todos nós. Obrigado a cada uma e a cada um pelas trocas que foram substanciais para minha formação. Flavinha, com quem dividi a vida e a casa em Floresta durante a pesquisa, um agradecimento especial pela amizade e apoio nos mais variados momentos da pesquisa e da vida. Agradeço à Poliana, por esse mesmo apoio, nossa amizade foi um presente nesse processo. As amigas e amigos do Programa de Pós-Graduação em Antropologia, obrigado pelos vários momentos de interação e aprendizagens. Eloah, em especial, muito obrigado pelos sorrisos e abraços arrancados. Aos professores desse programa, em especial, Russel Parry Scott, Alex Vailati e Josefa Salete Cavalcanti, meu agradecimento à formação no campo de uma antropologia ética e reflexiva. Reforço meus agradecimentos a Parry Scott, que durante todo o trajeto da pesquisa provocou-me a refletir o campo social que me inseri enquanto etnógrafo. De maneira especial agradeço também ao professor Alfredo Wagner, que me apresentou questões substanciais para um fazer etnográfico reflexivo a partir da “nova” cartografia social. As amigas e amigos com quem dividi os meus variados e impetuosos momentos de oscilação de humor, pessoas que certamente não vão querer mais ouvir as histórias de Itacuruba, dos indígenas e quilombolas, bem como da usina nuclear. Obrigado por terem me suportado e desprendido tanto afeto e compreensão. Não conseguiria sem vocês: Uilma, Cinthia e Natália com quem divido a vida e as emoções diárias, e a Maria, Cássio e Viola que fazem parte de uma extensão de nossa casa. Vocês foram fundamentais em todo esse processo. Nesse mesmo plano, agradeço a Rafa Ragner, você, o seu apoio e a sua amizade me inspira, o seu carinho foi imprescindível do começo ao fim dessa jornada. Agradeço a Letícia, com quem certamente dividi as mais divertidas experiências no Sertão e as mais delicadas na vida, te amo! A conformação de nossa amizade foi fundamental para que esse e tantos outros sonhos fossem possíveis. Aos amigos e amigas, parceiros e parceiras, que fiz durante esse mestrado: Edivania Granja, Edson Silva, Gabriella Santos, João Paulo Medeiros, José Júnior Karajá, Clarissa Marques e todas as pessoas que contribuíram para que eu ampliasse o meu campo de atuação nessa região. Aos amigos e amigas que fiz em Floresta: Padre Luciano Aguiar, Cláudia Leal, Pedro Nunes e tantos outros que me acolheram e fizeram de minha estadia no Sertão um momento singular de minha vida. Rosângela, minha mãe de Floresta, sem seu apoio e afeto essa dissertação não seria possível, obrigado por me receber com tanto amor num momento tão difícil e delicado, o da perda de minha mãe, te amo, muito obrigado! As comunidades tradicionais em Itacuruba, suas e seus integrantes, pessoas com quem construí relações tão intensas e significativas para a minha formação enquanto antropólogo e, sobretudo, enquanto gente, meu mais profundo agradecimento. Obrigado a Valdeci, a Evani e família, a Adriano Pajeú, a Evanildo, a Cícera, a Lucélia, a Jorge, a Sandriane e tantas outras pessoas que abriram suas casas, vidas e amizades para um ser tão esquisito como eu. Obrigado pela confiança, respeito e credibilidade. A Deus, aos encantamentos e a todas as energias outras que permitem que tudo isso seja possível, Obrigado! Obrigado! Obrigado! Enfim, a todas e todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho, meu feliz agradecimento. RESUMO O presente trabalho busca problematizar o campo sociopolítico em que se dá a instalação da Central Nuclear do Nordeste em Itacuruba, Sertão de Pernambuco – Brasil. Nossa análise considera o lugar que os povos tradicionais ocupam nessa arena de conflitos socioambientais, já que estes, reconhecidos como grupos étnicos, dispõem de instrumentos normativos, regulatórios e recomendatórios que impõem a necessidade de consulta prévia e informada sobre os interesses nas áreas a serem ocupadas e atingidas pelo empreendimento. O município em que se situam as seis populações tradicionais estudadas, fora inundado para a construção da Usina Hidrelétrica de Itaparica, em 1988, e reconstruído para abrigar todo o coletivo realocado compulsoriamente pelo empreendimento. Em 2019, o Estado brasileiro confirma que na “nova” Itacuruba se instalará um complexo energético com envergadura para 06 reatores nucleares e capacidade total de 6.600 MWe. A projeção de uma central nuclear no Nordeste brasileiro não é um fato isolado e localizado, pelo contrário, envolve uma série de elementos, atores, instituições e conflitos que permeiam diferentes níveis e contextos de poder, do local ao global. O cenário atual aponta para a consolidação de uma política nuclear que a apresenta como a fonte de energia do futuro, considerando fatores como a importância militar da tecnologia nuclear e a sua sofisticação. Tais parâmetros explicam a consolidação de um setor nuclear no país e a preferência por essa fonte energética. Diante desse contexto, os povos tradicionais de Itacuruba têm elencado uma série de enfrentamentos no intuito de assegurar a proteção de suas territorialidades específicas frente à instalação do complexo nuclear no Rio São Francisco, configurando