Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – VIRTUAL – 1º a 10/12/2020

Anitta: o branding e o co-branding aplicados. Da estabilidade brasileira aos mercados internacionais1

Flavia LA GRECA2 Marcos SILVA3 Thiago OLIVEIRA4 Luana INOCÊNCIO5 Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ

Resumo

Este artigo visa compreender os aspectos de fortalecimento da marca Anitta no Brasil e a entrada do branding atrelado à cantora nos mercados internacionais, sobretudo a partir da imagem explorada em seus videoclipes, enquanto produtos midiáticos de caráter mercadológico. Busca-se pautar as estratégias e ações no âmbito comunicacional realizadas por Anitta e sua equipe, com o objetivo de mostrar como estratégias de branding e co-branding podem ser pontuais para o impacto social e ganho de influência no mercado da música popular massiva. Foram utilizadas abordagens da pesquisa exploratória para coleta e análise de conteúdo, focando-se especialmente em extratos midiáticos de notícias e videoclipes oficiais da artista, sobretudo nos últimos anos de sua carreira.

Palavras-chave: Anitta; música; branding; co-branding; videoclipe.

Introdução

É possível identificar diversos agentes que atuam no processo de construção de subjetividade e no processo de sociabilidade de qualquer ser humano incluso em um meio social. Objetos culturais como a música, por exemplo, conforme Frith (1998) destaca, são

1 Trabalho apresentado no IJ02 – Publicidade e Propaganda, da Intercom Júnior – XVI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do 43º Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2 Estudante de graduação do 2º semestre do curso de Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) da Universidade Federal Fluminense. E-mail: [email protected].

3 Estudante de graduação do 2º semestre do curso de Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) da Universidade Federal Fluminense. E-mail: [email protected].

4 Estudante de graduação do 2º semestre do curso de Comunicação Social (Publicidade e Propaganda) da Universidade Federal Fluminense. E-mail: [email protected].

5 Orientadora do trabalho. Professora de Comunicação Social - Publicidade e Propaganda da Universidade Federal Fluminense. Doutoranda em Comunicação pela mesma instituição. Coordenadora do Laboratório de Comunicação, Criação Digital e Inovação - LACCRI. E-mail: [email protected].

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carregadas de ideologias que evocam diversos aspectos sociais, sejam eles presentes em sua estrutura (letra e/ou sonoridade) ou em seu processo de criação. Ao evocar uma preferência pessoal de cada interlocutor, é possível identificar posicionamentos sociais baseados nestes aspectos da performance de gosto (HENNION, 2005) destes atores, associados aos processos de construção social de suas identidades (INOCÊNCIO; REBOUÇAS, 2019). Partindo desse pressuposto, é possível identificar a criação, mesmo que inconsciente, de comunidades, que não necessariamente têm contato direto entre si, baseado no consumo de gêneros musicais específicos, que trazem à tona certas atividades culturais muitas vezes associadas a tais gêneros. Para artistas musicais, como Anitta, por exemplo, estas comunidades são ainda mais presentes devido à utilização da internet para criação de fandoms (grupos de fãs) e aglomerações afetivas nos mais diversos sites de redes sociais para acompanhar a vida de tais artistas. Mas o que de fato faz com que o “produto Anitta” seja tão interessante de ser consumido e transmitido em diversas plataformas? Aponta-se aqui a marca, como algo “que se instala na mente dos consumidores. Trata-se de uma entidade perceptiva que tem origem na realidade, mas reflete as percepções e talvez até as idiossincrasias dos consumidores” (KOTLER; KELLER, 2013, p. 259). Torna-se difícil falar de Anitta e não notar o estrondoso marketing e todo o branding produzido em torno desse nome: a própria artista diz ficar feliz quando vê que as pessoas acreditam que ela seja um caso de marketing, por ser ela a diretora dos seus próprios projetos de marketing6. Estar posicionada de forma sólida na mente de diversos públicos e segmentações é o sonho de toda empresa, e não existe uma fórmula que traga estes resultados, mas Anitta conquistou um posicionamento único no mercado fonográfico brasileiro. Ao analisar a estrutura do mercado fonográfico brasileiro desde quando a cantora entrou no mercado, em 2010, nota-se uma mudança constante de artistas que dominam o topo das paradas musicais. Estes não conseguem se manter com a mesma grandeza por muito tempo, surgem e desaparecem o tempo todo, enquanto o nome de Anitta está sempre presente, seja nas paradas emplacando sucessos consecutivos ou na forma de notícia. Sua marca está enraizada e fomentando todo um público consumidor, que entrega fidelidade e grandes números a ela.

6 Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/brasil-40748587 >. Acesso em: 10 out. 2020.

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A grande questão a ser abordada é como esse branding utilizado pela cantora conseguiu fazer com que ela obtivesse essa distinta estabilidade e ainda superasse o número de ouvintes de grandes ícones da música, como Shakira, e se tornasse a latina mais ouvida do mundo em 20197. A princípio, tudo começou no Brasil, onde Anitta foi dominando o país gradativamente, investindo em sua imagem e explorando diversos estilos musicais visto que o funk, no período do início de sua carreira, ainda era muito mais marginalizado que atualmente. Tem-se ainda como hipótese que a tática de parcerias feitas pela cantora, com variadas marcas que vão de bebidas a outros cantores, foi e é essencial para seu fortalecimento na indústria. Com toda a movimentação de co-branding, Anitta expandiu sua imagem e a associou a empresas já fortes, seguras e com valores compatíveis aos que ela passa, solidificando ainda mais seu posicionamento de marca.

Branding e Anitta

Na definição de Kotler e Keller (2006, p. 270) “o branding diz respeito a criar estruturas mentais e ajudar o consumidor a organizar seu conhecimento sobre produtos e serviços, de forma que torne sua tomada de decisão mais esclarecida e, (...) gere valor.” Nesta pesquisa, serão analisadas as estratégias de marketing durante o período de início de carreira até a recente performance no Palco Mundo do Rock in Rio 2019. Larissa de Macedo Machado nasceu dia 30 de março de 1993, criada no bairro de Honório Gurgel, , iniciou sua vida artística ao cantar na igreja quando pequena e aprendeu a dançar durante sua adolescência8. Por outro lado, Anitta nasceu ao fazer uma audição na Furacão 2000 e ser contratada por essa, com isso, lançou seus primeiros trabalhos voltados para o funk carioca e, de pronto, dominou esse nicho e tornou-se um grande nome no Rio de Janeiro, principalmente no subúrbio. Em seguida, de acordo com a própria, ficou conhecida fora do Rio com o “”, tendo agora uma projeção e conhecimento nacional ao quebrar inúmeros recordes com a música,

7 Disponível em: < https://rollingstone.uol.com.br/noticia/anitta-supera-shakira-como-a-artista-latina-mais-ouvida-no- mundo/ >. Acesso em: 10 out. 2020. 8 Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2020.

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foi a que mais vendeu no ano de 2013 no iTtunes Brasil, fazendo de Anitta a artista do ano9 . Após se tornar conhecida no Brasil, era necessário se solidificar. Para se tornar mais forte no país, além de lançar músicas que conquistavam o público, Anitta construiu sua marca envolvendo uma série sequencial de etapas como presença (familiaridade ativa baseada em experiência passada), relevância, desempenho (crença de que oferece um desempenho aceitável e está na lista de pré-selecionados do consumidor), vantagem (emocional ou racional sobre os concorrentes) e vínculo (ligações racionais e emocionais), etapas essas criadas pelo modelo BRANDZ, desenvolvido pela consultoria de marketing Millward Brown (KOTLER; KELLER, 2013). Kellner (2001, p. 9) ressalta que

Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo de lazer, modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade. O rádio, a televisão, o cinema e os outros produtos da indústria cultural fornecem os modelos daquilo que significa ser homem ou mulher, bem sucedido ou fracassado, poderoso ou impotente.

Compreensões que relacionam o consumo midiático da música à definição de identidades e estilos de vida no atual contexto social sinalizam um processo de vinculação da vida cotidiana a padrões culturais. Esse imaginário “estabelece formas de fruição e consumo que permeiam um certo senso de comunidade, pertencimento ou compartilhamento de afinidades que situam indivíduos dentro de um sentido transnacional e globalizante” (SOARES, 2013, p. 2).

Conquistando o Brasil

A princípio, Anitta iniciou seus trabalhos com músicas funk no Rio de Janeiro e tornou-se conhecida no estado fazendo shows na Furacão 2000, garantindo reconhecimento nas rádios, mas, na época, as músicas desse estilo musical ficavam muito

9 Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2020.

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concentradas no Rio e não atingiam ouvintes de outros estados. Como resposta a isso, Anitta, mesmo com sua origem no funk, sempre experimentou e lançou trabalhos de diversos gêneros, idiomas e ritmos, sendo considerada como uma cantora versátil, e essa versatilidade a tornou mais popular, principalmente ao explorar estilos musicais mais populares e mais aceitos pelas rádios de todo o país como o Pop de “Meiga e Abusada” e o reggae “Zen”, indicado ao Grammy Latino como melhor canção brasileira e também a música mais tocada em rádios no Brasil em 201410. Todas essas conquistas foram realizadas por músicas do seu álbum de estreia que levava como título o nome artístico da cantora, foi um sucesso e vendeu mais de 170 mil cópias, rendendo discos de ouro e platina certificados pela Associação Brasileira dos Produtores de Discos. Depois dele, Anitta já lançou mais quatro discos, dentre eles está o “Bang!” (figura 1), o álbum que de fato consolidou a cantora como a maior do país. A consolidação dada à Anitta por conta desse álbum se deu por músicas que rapidamente foram aderidas pelas grandes massas, dentre elas a faixa-título “Bang!” que viralizou no período de seu lançamento, atingindo números grandiosos, ficando no topo tanto nos streams como nas rádios.

Figura 1 – Anitta no clipe “Bang!”, que já supera 380 milhões de visualizações.

Fonte: . Acesso em: 10 out. 2020.

O viral em si se deu pelo impacto do videoclipe oficial da música, que possui uma estética marcante e uma coreografia chiclete, responsável por revolucionar completamente a indústria brasileira desde seu lançamento e até hoje é tido como

10 Disponível em: < http://www.joaoalberto.com/2014/09/02/confira-as-10-musicas-mais-tocadas-nas-radios-do- brasil/ >. Acesso em: 10 out. 2020.

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referência. Nota-se que se destacar e fazer diferente foi benéfico para sua marca e mesmo com os altos custos de uma superprodução, o investimento foi e, para ela, continua sendo pertinente. Se por um lado o consumo de música estimula, através de sua sonoridade, a criação de tendências culturais e comunitárias baseado nas mensagens que elas passam, os videoclipes, além dos sonoros, dispõem também de estímulos visuais, que podem ser utilizados para o mesmo fim, de forma a reforçar a influência que a música exerce sobre um indivíduo. A utilização de videoclipes pelos artistas como forma de divulgação de seu trabalho ganhou forças com o aparecimento de canais televisivos que exibiam esses videoclipes, como a MTV, ou pelo surgimento de plataformas de reprodução de vídeos como o YouTube. Essa expansão não alterou somente a forma como a música é consumida, trouxe também um novo potencial comercial através de estímulos visuais. Para Janotti Junior e Alcantara, (2018, p. 5),

as articulações entre gêneros musicais e videoclipes envolvem agenciamentos mercadológicos (direcionamentos e embalagens), textuais (estratégias de produção de sentido inscritas nos produtos musicais), estéticos (possibilidades de experiências atreladas às expressões audiovisuais da música), técnico-formais (produções, rotulações e endereçamentos de circulação) e sociais (interpelações, recepções, recomendações e apropriações).

Para artistas que utilizam sua própria imagem como marca, como é o caso da Anitta, só a sua aparição já configura como publicidade, transformando os fãs não só em consumidores de sua música, como também consumidores de sua marca. Além da aparição, as histórias que envolvem os videoclipes também auxiliam na publicidade do artista.

(...) apesar de ainda ser vivenciado como um formato audiovisual de produtos musicais, o rótulo ‘videoclipe’ pode ser mais bem compreendido por entradas múltiplas tal como parecem ser as inúmeras formas de circulação acopladas a esta experiência audiovisual (...) nos permite perceber o modo como os videoclipes atuais acionam escutas conexas, ou seja, um conjunto de heterogeneidades que integram música, audiovisual, entrevistas, participação em filmes e novelas dentre outros materiais, pressupondo tessituras de intrigas (narrações) que podem até ter o videoclipe (ou sua forma tradicionalmente

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conhecida) como elemento basilar, mas que não se esgotam nele (JANOTTI JUNIOR; ALCANTARA, 2018, p. 2).

É possível, neste cenário descrito pelos autores de grande atenção dos artistas para a proeminência deste formato midiático (e mercadológico), exemplificar com o caso dos conflitos midiatizados entre as cantoras Anitta e Pabllo Vittar referentes aos gastos com transporte e produção para a gravação do videoclipe de , parceria das cantoras com o grupo Major Lazer em 201711 (INOCÊNCIO, 2018).

A internet (e as muitas possibilidades por ela trazidas) possibilita também que a audiência-internauta possa interferir diretamente no processo, postando videoclipes já existentes, recriando-os partir de gravações feitas amadoristicamente em shows dos artistas, assim como criando seus próprios vídeos das músicas de seus artistas a partir da colagem e montagem de imagens por ele produzidas ou coletadas na rede (NERCOLINI; HOLZBACH, 2009, p. 54-55).

Além do trabalho com a música e shows em si, acredita-se que a cantora conquistou o Brasil também com seus aparecimentos e participações especiais em outros meios de comunicação e propagação de mídia no país, exibindo mais sua imagem, carisma, características, estilo e opiniões próprias, o que contribuiu para o posicionamento da marca “Anitta”. Anitta sempre esteve presente em diferentes meios, trazendo toda uma exposição para sua figura e essa questão de visibilidade impulsionou a marca. A intensa presença “alternativa” da cantora pode ser caracterizada por participações em talk shows (figura 2), entrevistas, revistas, por possuir seu próprio programa semanal na rede fechada e por sua força na Internet, sendo eleita pela Billboard como uma das 50 artistas mais influentes nas redes sociais. Somente no , acumula 42,2 milhões de seguidores.

11 Disponível em: < https://bit.ly/3oKFQuD >. Acesso em: 10 out. 2020.

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Figura 2 - Conversa com Bial – Entrevistada: Anitta.

Fonte: . Acesso em: 10 out. 2020.

O uso do co-branding

Co-branding ocorre quando dois nomes de marcas já estabelecidos de empresas diferentes aparecem em um mesmo produto. A combinação de marcas oferece muitas vantagens, como cada uma delas é determinante em categorias diferentes, o co-branding cria um apelo ampliado ao consumidor e maior brand equity. E também possibilita que um fabricante estenda o alcance de sua marca a uma categoria na qual teria dificuldade de entrar sozinho (KOTLER, 1998, p.213).

Após se tornar uma marca forte por si no Brasil, Anitta adotou a prática de colaborações musicais com outros artistas, geralmente de sua magnitude, para que com isso conseguisse atingir mais públicos ao realizar um tipo de troca de públicos. Por exemplo, os consumidores de “Anitta” não são, em sua grande parte, os mesmos consumidores de “Wesley Safadão” e vice-versa. Uma parceria musical entre os dois, como no caso de “Romance com Safadeza”, dá a visibilidade de um ao público do outro, rendendo novos consumidores para os dois. Houve também um grande investimento nos clipes por parte da cantora nas colaborações, popularmente chamadas de featurings ou feats. (PEREIRA DE SÁ, 2019) que permitiam o domínio não só das plataformas sonoras, mas também das audiovisuais, o clipe de “Loka”, em parceria com Simone & Simaria se tornou, em poucos meses, o videoclipe feminino mais visto da história no Brasil e o clipe brasileiro mais visto na plataforma Vevo em 201712.

12 Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2020.

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Anitta utilizou muito do co-branding para conquistar novos públicos, a partir da colaboração com Pabllo Vittar, por exemplo, a aproximou do público LGBT e proporcionou uma verdadeira quebra na internet13. Por sua vez, ter uma participação especial de Caetano Veloso em uma música, a colocou em contato com um público mais adulto da MPB, o que traz à tona o remetimento ao conceito de apadrinhamento, muito conhecido dentro do Samba. São objetivos deste tipo de estratégia de branding:

O primeiro é o de dar visibilidade a um novo talento – um cantor ou grupo musical – através do apadrinhamento desse por um cantor ou músico já consagrado, cuja participação num show ou gravação agrega valor e legitimidade, mediando a chegada do novo membro na comunidade de sentidos daquela cena musical e confirmando a sua linhagem.O segundo, complementar ao primeiro, é o de ampliar a audiência de um artista veterano, reposicionando-o no mercado para um outro segmento, tal como uma outra faixa etária de público - mais jovem, mais elitizado, etc. (PEREIRA DE SÁ, 2019, p.13).

Entretanto, uma colaboração não significa apenas conquista da variação do público de um mesmo lugar, pois também pode trazer a conquista de territórios. Anitta utilizou o método do featuring para conquista de um novo território ao fazer uma música cantando em português com o cantor colombiano Maluma, que colocava a brasileira de caminho ao mercado musical estrangeiro, mas que também direcionava os olhos do público brasileiro ao cantor estrangeiro. Pode-se inferir que, a partir desse ponto, Anitta deixa de ser negociada apenas entre sonoridades e públicos brasileiros e começa a ser ampliada para a conquista de novos territórios e mercados consumidores, o latino e o global.

Adentrando no mercado internacional

Ao encontrar-se no topo das paradas brasileiras e se tornar a mais requisitada, comentada e reproduzida no país, a marca se viu no seu ápice no Brasil por conta da aquisição da fidelidade do mercado brasileiro. Por conta disso, Anitta resolve dar entrada

13 De acordo com os registros da Wikipédia, o clipe atingiu 2,7 milhões de visualizações em uma hora. E conquistou o título de sexto clipe mais visto em 24 horas da história, atrás de gigantes da indústria como Psy (38 milhões), Adele (27 milhões), Taylor Swift (20,1 milhões), Nicki Minaj (19,6 milhões) e Miley Cyrus (19,3 milhões). Disponível em: . Acesso em: 10 out. 2020.

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em novos mercados, mesmo com todos os possíveis riscos, ao lançar uma música em espanhol chamada “Paradinha”, que ficou em 8.º lugar no ranking das "10 melhores músicas pop latinas de 2017" realizado pelo site norte-americano Idolator. Após dar os primeiros passos com seu lançamento voltado para o mercado latino falante da língua espanhola, Anitta, pela primeira vez, teve um material concreto internacional que a apresentou para o público estrangeiro e também atraiu olhares de produtores, cantores e empresários internacionais, que ficaram entusiasmados não só com o estilo da cantora, mas também com seus números grandiosos em todas as plataformas e redes sociais. Com isso, para planejar os próximos passos de investida nesse novo mercado, Anitta expande sua equipe ao assinar com pessoas que ficariam encarregadas de gerenciar, representar e cuidar de sua carreira fora do Brasil. Com essa equipe, chamada Shots Studios, a cantora produziu um projeto que envolvia lançar uma música por mês durante setembro e dezembro de 2017 com músicas em inglês, espanhol e português, intitulado como projeto “Checkmate”. Após lançar músicas nas três línguas, com seu projeto cuidadosamente planejado “Checkmate”, Anitta começou a ter retorno do público estrangeiro nesse mercado inexplorado, principalmente com a música “Downtown”, canção em espanhol com participação especial do colombiano mundialmente conhecido , que foi seu primeiro grande hit internacional. A faixa foi nomeada como Melhor Canção Urbana no Grammy Latino de 2018 e foi a 29.ª faixa mais ouvida no em todo o mundo, a melhor colocação para um artista brasileiro no ranking. Com o sucesso de “Downtown” e o saldo extremamente positivo do projeto Checkmate para sua carreira14 (PEREIRA DE SÁ, 2019), Anitta atingiu uma maior posição internacionalmente, adquirindo uma maior relevância e credibilidade, o que trouxe mais oportunidades para a expansão da marca no âmbito nacional, agora que era reconhecida e aclamada pela grande crítica especializada e também por grandes nomes da música. A partir disso, Anitta aplicou as mesmas estratégias de co-branding com artistas de fora do Brasil, com o interesse de conquistar e de se estabilizar no público novo que esses cantores internacionais já estavam estáveis em troca da tentativa de serem

14 Disponível em: < https://portalpopline.com.br/checkmate-o-saldo-projeto-da-anitta-em-numeros-e-conquistas/>. Acesso em: 10 out. 2020.

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reconhecidos e conquistarem o fiel público brasileiro, responsável pelos grandes números da cantora. Além de sua música estar sendo exportada e consumida no mercado internacional, a marca “Anitta” precisava ser vista. Logo, Anitta começou a fazer presença em programas de TV, rádio, revistas, jornais, premiações, realities, talk shows e performances ao vivo em diversos países, chegando a ser, até mesmo, jurada principal da versão mexicana do programa “The Voice”, “La Voz: Mexico” (figura 3), onde ficou nesse posto durante uma temporada inteira, ao lado de gigantes da música. O programa ajudou a propagar sua imagem e adquiriu a fidelidade do seu maior público de ouvintes mensais estrangeiros atualmente, o mexicano.

Figura 3 - Anitta como técnica do “La Voz Mexico”.

Fonte: . Acesso em: 10 out. 2020.

Após conquistar o reconhecimento para sua marca, “Anitta” colheu grandes frutos, como uma parceria musical com Madonna cantando em português, foi convidada para participar em grandes premiações internacionais, como o Latin American Music Awards, na qual foi premiada. As conquistas internacionais também renderam à Anitta um maior status no Brasil, que por conta de sua magnitude, foi escalada para se apresentar no palco principal do Rock in Rio em 2019, tornando-se um dos nomes mais comentados do dia do festival, superando artistas importados especialmente para o dia.

Figura 4 - Anitta e Snoop Dog gravando o clipe de “Onda Diferente”.

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Fonte: . Acesso em: 10 out. 2020.

O mais recente álbum da cantora, o “Kisses”, solidifica a sua marca nos mercados internacionais, o CD traz nomes de peso na indústria musical, como Snoop Dog (figura 4), Becky G, Caetano Veloso e . O disco, que é um álbum visual lançado em abril de 2019, foi eleito disco de ouro no Brasil em menos de um mês de lançamento, quando o projeto já contava com mais de 200 milhões de streams15, rendeu uma turnê mundial chamada “Kisses World Tour” e uma indicação ao Grammy Latino de 2019, como melhor álbum urbano. Agora, resta esperar os próximos passos de Anitta para elevar sua marca ainda mais.

Considerações Finais

Vivemos em um mundo totalmente desigual e injusto, quando pautamos as oportunidades, e é de fato excepcional o jeito como Anitta, juntamente com sua equipe, conseguiu através do marketing e do investimento em branding e co-branding chegar tão longe, mesmo iniciando de baixo e com um investimento arriscado por não possuir uma grande condição financeira.

Kotler e Keller, apresentam em sua pesquisa o branding aplicado em um ambiente muito favorável e sob o olhar do mercado americano, o que nos pareceu uma zona de conforto dentro do próprio estudo, pois demonstrava ser algo somente palpável às empresas e pessoas já estabelecidas, bem conhecidas, com poder de investimento ou que vivam em países de “primeiro mundo”. Por isso, esta pesquisa conta com um cenário

15 Disponível em: < https://sitedosgeeks.com/kisses-album-de-anitta-completa-um-mes-e-bate-recordes-no-brasil/ >. Acesso em: 10 out. 2020.

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totalmente diferente do apresentado durante todo o capítulo nove de “Administração em Marketing”, estudou-se uma mulher empresária que iniciou sua marca na periferia do Rio de Janeiro, sem condições de injetar dinheiro para a promoção de sua marca inicialmente.

Os conceitos apresentados por Kotler e Keller dialogam e se reproduzem nas táticas e estratégias utilizadas por Anitta desde o início de sua carreira. Portanto, investir em branding e na imagem não é algo que deve ser feito só pelas grandes empresas e muito menos necessita de uma grande equipe de “marketeiros” para isso. O branding deve se popularizar e não ficar à mercê dos gigantes e Anitta é uma prova de que se pode crescer e garantir visibilidade à marca com estratégias bem pensadas.

Logo, o papel deste artigo é contribuir com a pesquisa existente de Kotler e Keller ao expandi-la no contexto Brasil e explicitar para a sociedade que, nesse caso, mesmo com todas as dificuldades a marca pôde ser trabalhada e se tornar um sucesso independentemente de seu tamanho e obstáculos, tudo demonstrado através da exposição das estratégias utilizadas pela cantora Anitta durante sua carreira.

Ademais, podemos perceber a importância da marca e de como ela deve ser valorizada, protegida e bem posicionada, pois ela pode se tornar mais valiosa que o produto em si. Anitta não tem a voz mais potente do mercado, não é a melhor dançarina do mercado, mas é a mais polida em relação às estratégias de marketing e de promoção da própria imagem e esse é o diferencial que pode alavancar uma empresa, um estabelecimento ou um artista.

Anitta deve ser vista como exemplo não somente aos outros cantores que buscam o sucesso e uma futura internacionalização, mas também a empresas e marcas. Pensar, planejar, ter seus objetivos materializados e executar uma tática de marketing de modo organizado e bem estudada são lições que a marca “Anitta” de fato passa a diante a todos que trabalham e estudam branding.

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REFERÊNCIAS

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