1 Aspectos populacionais e reprodutivos do cubil unimaculatus (Ordem: 2 ; Familia: Hemiodontidae) na região de Itacoatiara, AM

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8 SANTOS FILHO, M.O.M1*;TAKAHASHI, E. L. H.2 9 1Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Instituto de Ciências Exatas e 10 Tecnologia (ICET), CEP:69103-128, Itacoatiara, AM, Brasil. 11 *[email protected] 12

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15 16 17 As recomendações do parecerista foram acatadas. O relatório foi feito novamente.

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19 Aspectos populacionais e reprodutivos do cubil Hemiodus unimaculatus (Ordem: 20 Characiformes; Familia: Hemiodontidae) na região de Itacoatiara, AM

21 Resumo:

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23 O presente trabalho tem como objetivo descrever aspectos populacionais e reprodutivos 24 do peixe Hemiodus unimaculatus, popularmente chamado de cubiu. Amostragens com 25 redes de pesca foram realizadas mensalmente durante um ano no rio Carú próximo ao 26 município de Itacoatiara com redes de espera de malha 1,5 e 2,0 entre os nós. As redes 27 ficaram aproximadamente 5 horas na água, no fim do período vespertino e começo do 28 noturno. Os peixes coletados foram armazenados no gelo e levados ao laboratório de 29 Zoologia da UFAM de Itacoatiara. No laboratório foram realizadas biometrias, 30 dissecação e biometria dos órgãos internos. Foram coletados somente 36 exemplares de 31 Hemiodus unimaculatus. A média do peso foi de 64,4 g com valores mínimos e 32 máximos, respectivamente de 34,5 g e 106,4 g. O comprimento médio foi de 15,2 cm 33 com valores mínimos e máximos, respectivamente de 11,9 cm e 18,0 cm. A equação 34 ajustada da relação peso comprimento é Pt=0,091Ct2,405. O valor médio do índice 35 gonadossomático das fêmeas maduras foi de 2,41.

36 Palavra-Chave: Aspectos populacionais, reprodutivos - Hemiodus unimaculatus

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38 Introdução

39 O cubiu Hemiodus unimaculatus, pertence a ordem Characifomes sendo uma ordem 40 dominante entre os peixes de água doce da América do Sul, compreendendo formas 41 herbívoras, onívoras, iliófogas, carnívoras. É da família Hemiodontidae com 33 42 espécies, que são distribuídas em toda a bacia Amazônica, Paraná-Paraguai, rio Orinoco 43 e outros rios da Guiana, Venezuela, Guiana Francesa (Brandão et al., 2003). A família 44 Hemiodontidae possui 5 gêneros: , Micromischodus, , , 45 e Hemiodus. Apresentam a dentição reduzida, em geral possuem grande número dentes 46 cuspidados na maxila superior, mas a maioria das espécies não tem dentes na maxila 47 inferior. São peixes de corpos alongados, nadadeiras longas, boca terminal ou 48 subterminal, fenda bucal arrendondada vista ventralmente. Em várias espécies ocorre 49 uma mancha arredondada no flanco e uma faixa escura ao logo do lobo inferior da 50 caudal (Britiski et al., 1999).

51 O Hemiodus unimaculatus, conhecido também como cubiu, orana e flexeira, 52 apresenta o corpo alongado, fusiforme, roliço em forma de torpedo e recoberto por 53 pequenas escamas, sendo que as escamas do dorso são menores do que aquelas que 54 revestem a região ventral. Os olhos são grandes e a boca é pequena com dentes 55 multicuspidados fracamente inseridos na maxilar superior. A coloração é cinza prateada 56 uniforme. A nadadeira caudal apresenta faixa escura em formato de “v” com vértice 57 voltado para o pedúnculo caudal. Apresenta 10 raios na nadadeira dorsal e 9 na anal. 58 Possui na linha lateral de 65 a 71 escamas. Espécie de médio porte, alcança 25cm de 59 comprimento padrão ( Gery, 1977; Planquette et al., 1996; Santos et al., 2004). Segundo 60 Maquiaveli (2006) H. unimaculatus possui hábito alimentar diurno–crepuscular. De 61 acordo com Trindade (2012), no rio Araguari, estado do Amapá, a desova de H. 62 unimaculatus ocorreu entre os meses de novembro 2009 e janeiro 2010, o tipo de 63 desova é total e o tamanho de primeira, a maturação é a partir de 157.5 mm, a espécie 64 tem hábito alimentar iliófaga-detritívora com tendência a onivoria, a estratégia 65 alimentar é generalista, mas dominante para os itens fitoplâncton e detrito. A malha 60 66 mm foi a mais recomendada para a captura da espécie no rio Tocantins (Martins 2013).

67 Vários métodos são utilizados para estudar as populações de peixes. A relação 68 peso-comprimento é muito utilizada em estudos sobre crescimento, comparações 69 morfométricas entre populações, sendo ainda pré-requisito para estimar variações do 70 fator de condição (Bolger & Connolly, 1989). O fator de condição, muito utilizado no 71 estudo da biologia de peixes, fornece importantes informações sobre o estado de higidez 72 fisiológico desses animais (Santos, 1978; Vazzoler, 1996). Esse índice pode indicar 73 ainda o período reprodutivo, períodos de alterações alimentares, acúmulo de gordura e 74 mudanças sazonais nas populações. O Índice Gonadossomático (IGS) é um parâmetro 75 indicativo do grau de desenvolvimento das gônadas, pois representa a contribuição 76 percentual da massa das gônadas para a massa corpórea total do peixe (Mcadam et al., 77 1999).

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79 Material e Método.

80 Área de estudo. 81 Os exemplares de Hemiodus unimaculatus foi coletado mensalmente em 82 igarapés e lagos da região de Itacoatiara com redes de espera, com tamanho de malha: 83 1,5 e 2.0 cm. Os exemplares foram armazenados no gelo em uma caixa térmica 84 separados por tamanho de malha e transportados para o laboratório de Zoologia da 85 Ufam.

86 No laboratório cada exemplar foi mensurado o comprimento-padrão - Cp (mm) e 87 massa total -Pt (g). E também mensurada a massa das gônadas - Pg (g) e determinado o 88 sexo. Os estádios de maturação gonadal foram identificados através de observação da 89 coloração, transparência e a vascularização superficial das gônadas de acordo com 90 Vazzoler (1996):

91 ESTÁDIO A: Imaturo – Ovários de tamanho reduzido, ocupando menos de 1/3 92 da cavidade celomática. São filamentosos, translúcidos, sem sinais de vascularização. 93 Os ovócitos não são observados a olho nu.

94 ESTÁDIO B: Em maturação – Os ovários, ocupando de 1/3 a 2/3 da cavidade 95 celomática, intensamente vascularizada. A olho nu observam-se ovócitos opacos, 96 pequenos e médios.

97 ESTÁDIO C: Maduro – Ovários ocupam quase que totalmente a cavidade 98 celomática, apresentam-se túrgidos e a olho nu observam-se ovócitos grandes, opacos 99 e/ou translúcidos, cuja freqüência varia com o progresso de maturação.

100 ESTÁDIO D: Esgotado – Ovários apresentam-se em diferentes graus de 101 flacidez, com membranas distendidas e de aspecto hemorrágico, ocupando novamente, 102 menos de 1/3 da cavidade celomática. Observam-se poucos ovócitos.

103 A relação peso-comprimento e o fator de condição serão determinados segundo 104 Braga (1986) e Santos (1978). A relação peso-comprimento será estimada para machos, 105 fêmeas utilizando a expressão Pt = aCpb; onde Pt = peso total, Cp = comprimento- 106 padrão, a = intercepto e b = coeficiente angular (Le Cren, 1951); os parâmetros a e b 107 serão estimados após transformação logarítmica dos dados de peso e comprimento e 108 subseqüente ajuste de uma linha reta aos pontos, pelo método dos mínimos quadrados 109 (Vanzolini, 1993). O fator de condição alométrico (K = Pt/Cpb) será analisado por 110 período do ano para machos e fêmeas. Para analisar a variação sazonal do 111 desenvolvimento gonadal, o Índice Gonadossomático (IGS) será estimado para cada 112 fêmea, a partir da expressão IGS=100(Pg/Pt) (Mcadam et al., 1999). Os resultados 113 obtidos para as variáveis K, ao longo das quatro períodos serão submetidos à 114 comparação através do teste de Kruskal-Wallis, complementado pelo teste a posteriori 115 descrito por (Zar, 1999).

116 Resultados.

117 Foram coletados somente 36 exemplares de Hemiodus unimaculatus. A média 118 do peso foi de 64,4 g com valores mínimos e máximos, respectivamente de 34,5 g e 119 106,4 g. O comprimento médio foi de 15,2 cm com valores mínimos e máximos, 120 respectivamente de 11,9 cm e 18,0 cm. Vinte dois exemplares eram fêmeas e 11 eram 121 machos. Para cinco indivíduos não foi possível identificar o sexo. A tabela 1 mostra a 122 distribuição de estádios gonadais por sexo. A figura 1 mostra o gráfico da relação peso 123 comprimento em escala logarítmica. A equação ajustada é Pt=0,091Ct2,405. Devido a 124 pequena quantidade de indivíduos coletados não foi feita a análise do fator de condição 125 pois não houve número suficiente para realizar a análise por períodos. O valor médio do 126 índice gonadossomático das fêmeas maduras foi de 2,41.

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128 Discussão.

129 A quantidade de indivíduos coletados ficou muito abaixo do esperado. A maioria 130 dos exemplares foram coletados no período de grande cheia. Em coletas pilotos 131 realizados foi possível coletar uma grande quantidade de indivíduos na época de cheia e 132 em outras épocas. Possivelmente uma grande seca antes do período de cheia fez com 133 que a cheia não fosse muito grande no período de coletas, o que influenciando 134 negativamente a coleta dos peixes. A predominância de fêmeas maduras, e o maior 135 êxito de coleta na época de cheia sugere que o período de cheia é importante para a 136 reprodução e que a a grande seca no ano anterior influenciou na quantidade de peixes 137 coletados durante o trabalho.

138 O comprimento médios, mínimo e máximo observados estão de acordo com que 139 foi observado por Trindade (2012) com 19,4 cm de comprimento médio, 8,0 de 140 comprimento mínimo e 25,98 de comprimento máximo no rio Araguari, estado do 141 Amapá

142 Observa-se que para a equação estimada da relação peso-comprimento - 143 Pt=0,091Ct2,405, o valor do coeficiente angular (b) foi menor que 3, significando houve 144 crescimento alómétrico negativo. Trindade obteve para H. unimaculatus do rio 145 Araguari, estado do Amapá, a equação de PT = 0.0003CT2,3445, também com 146 crescimento alométrico negativo. 147 148

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150 .

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152 Tabela 1: Escala de maturidade gonadal de machos e fêmeas de Hemiodus 153 unimaculatus

Machos Fêmeas

A 1 2 B 1 6 C 9 14 D 0 0 total 11 22 154

155 156 5 4,5 4 3,5 3 2,5 2

log do peso do log (g) peso 1,5 y = 2,4025x - 2,3961 1 R² = 0,6855 0,5 0 2,4 2,5 2,6 2,7 2,8 2,9 3 log do comprimento (cm) 157 158 159 160 Figura 1: Mostra a relação peso-comprimento da população total de machos e fêmeas e a variação 161 da equação correspondente da espécie Hemiodus unimaculatus. 162 Referências. 163 Brandão, C. A. S.; Valentim, M. F. M.; Caramashi, E. P. 2003. Ovary Maturation stages 164 and oocytes features in three on the neotropical fish Hemiodus ( Muller 1842). 165 Brasilian Archives of Biology and Tecnology, 46 (3): 433-441.

166

167 Britski, A. H.; Slimon, K. Z. S.; Lopes, B. S. 1999. Peixes do Pantanal: Manual de 168 identificação. Empresa Brasileira de Pesquisas Agripecuária. Brasília, 9: 353-370.

169

170 BRAGA, F. M. S. Estudo entre fator de condição e relação peso-comprimento para 171 alguns peixes marinhos. . Revista Brasileira de Biologia, v. 46, n. 2, p. 339-346, 1986.

172

173 BOLGER, T.; CONNOLLY, P. L. The selection of suitable indices for the measurement 174 and analysis of fish condition. Journal of Fish Biology, v. 34, n. 2, p. 171-182, 1989.

175

176 MAQUIAVELI, Claudia do Carmo. Dieta e morfologia trófica de duas espécies 177 simpátricas de peixes voadores (Hemidous microlepis e Hemiodus unimaculatus) na 178 região do médio curso do rio Tocantins, na área de influência da UHE Luís Eduardo 179 Magalhães-TO. 2006

180

181 MCADAM, D. S. O.; LILEY, N. R.; TAN, E. S. P. Comparison of reproductive indicators 182 and analysis of the reproductive seasonality of the tinfoil barb, Puntius schwanenfeldii, 183 in the Perak River, Malaysia. Environmental Biology of Fishes, v. 55, p. 369-380, 1999.

184

185 MARTINS, Jeronimo Carvalho. Seletividade de captura, dinâmica populacional, análise 186 de estoque e sustentabilidade da pesca de Hemiodus unimaculatus (Bloch, 1794) a 187 montante da barragem de Tucuruí, Brasil. 2013.

188 189 SANTOS, E. P. Dinâmica de populações aplicada à pesca e piscicultura. São Paulo: 190 Edusp, 1978, p.

191

192 SANTOS, G. M.; FERREIRA, E. J. G.; ZUANON, J. A. S. Peixes Comerciais de Manaus. 193 Manaus: IBAMAAM, 2006, p.

194

195 TRINDADE, Paulo Arthur de Abreu. Biologia e ecologia trófica de Hemiodus 196 unimaculatus (Bloch, 1794) (Characiformes: Hemiodontidae) no Rio Araguari, na área 197 de influência da Usina Hidrelétrica Coaracy Nunes, Amapá, Brasil. 2012.

198

199 VANZOLINI, P. E. Métodos estatísticos elementares em sistemática zoológica. São 200 Paulo: Hucitec, 1993, p.

201

202 VAZZOLER, A. E. Biologia da reprodução de peixes teleósteos: teoria e prática. 203 Maringá: EDUEM/Nupélia, 1996, 169 p.

204 205 206

207 208 Área de Estudo 209 210 211 212

213 Colocando as redes na água. 214

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221 Exemplar de Hemiodus 222 unimaculatus

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