Cineclube Grupo Estaçãoecontracampo
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1966 Six Figures Getting Sick 1968 The Alphabet 1970 The Grandmother 1974 The Amputee 1977 Eraserhead apresenta 1980 O Homem-Elefante sessão (The Elephant Man) 1984 Duna (Dune) cineclube 1986 Veludo Azul (Blue Velvet) 1988 Les Français Vus par (série de TV - episódio "The Cowboy and the Frenchman") 1990 Twin Peaks (série e filme para TV) Coração Selvagem (Wild at Heart) American Chronicles (série de TV) Industrial Symphony Nº 1: The Dream of the Broken Hearted (TV) 1992 Twin Peaks: Os Últimos Dias de 9 de Junho de 2004 - Ano II – Edição nº 54 Laura Palmer (Twin Peaks: Fire Walk with Me) On the Air (série de TV) 1993 Quarto de Hotel (Hotel Room/ série de TV - episódiso "Blackout" A e "Tricks") I 1995 Lumière e Cia. (Lumière et F ) Compagnie/ episódio "Lumière") - 1997 A Estrada Perdida (Lost Highway) A 6 4 1999 História Real (The Straight Story) R 9 2001 Cidade dos Sonhos 1 ( (Mulholland Dr.) G h 2002 Darkened Room Rabbits c O n y L M d i L v I a F D sessão cineclube próxima sessão Mediação do Debate: 16/jun DEZ Eduardo Valente e Ruy Gardnier. de Abbas Kiarostami A ESTRADA PERDIDA Programação e Produção: 23/jun 24 HORAS DE SONHO Grupo Estação e Contracampo. de Chianca de Garcia de David Lynch 30/jun BARTON FINK de Joel e Ethan Coen Fred Madison é um saxofonista que desconfia da Lost Highway, EUA/França, 1997, cor, 135' Direção: David Lynch 07/jul O VENTO fidelidade de sua mulher, Renee. Sua atenção é Roteiro: David Lynch e Barry Gifford de Victor Sjostrom desviada quando ele começa a receber estranhas fitas Fotografia: Peter Deming Montagem: Mary de vídeo e nota que o interior de sua casa está sendo Sweeney Trilha Sonora Original: Angelo Badalamenti, com canções de Marilyn Manson, observado. Até que sua esposa é misteriosamente A Trent Reznor, Danny Lohner e Rammstein C assassinada e ele é acusado e preso. I Produção: Deepak Nayar, Tom Sternberg e realização colaboração N Mary Sweeney Elenco: Bill Pullman (Fred C É Madison), Patricia Arquette (Renee E T S Madison/Alice Wakefield), Balthazar Getty P A (Pete Dayton), Robert Blake, Natasha Gregson O H Wagner (Sheila), Richard Pryor (Arnie), Lucy N C I I Butler (Candace Dayton). S F www.estacaovirtual.com www.contracampo.com.br Existe um fator cultural muito forte e que, de uma maneira ou de outra, acaba vibrações na superfície dos objetos mostrados. É justamente sempre por vir à tona quando da exibição de alguns filmes de David Lynch. Esse isso que vemos em A Estrada Perdida, um filme em que tudo que fator é desdobramento do que Serge Daney, um dos grandes nomes da história interessa está na tela, mas sempre fazendo ecoar algo distante. da crítica cinematográfica, já apontava nos anos 70: a consolidação de sociedades Essa invasão do fora-da-tela, do desconhecido, do acaso, é uma cada vez mais eficazes na atitude de ler (e decifrar, dissecar estruturas de verdadeira invasão de privacidade, como nas fitas de vídeo que linguagem), mas cada vez menos capazes de ver. Quando se fala em "civilização Fred e Renne recebem, e que consistem em imagens feitas da imagem", por exemplo, não se leva em conta a distinção entre o visual e a dentro da sua própria casa por alguém que eles nem imagem, o primeiro correspondendo à "verificação óptica" de um procedimento desconfiam como pode ter entrado lá. A imagem, pornográfica de significação (leitura), enquanto a imagem seria o que ainda resguarda uma por excelência, é sempre (e em si mesma) invasiva: "roubar" o experiência para além do visual, uma forma de percepção que dribla a equação semblante de alguém e expô-lo em praça pública: a imagem é já mais comum. O próprio cinema, nos seus termos particulares, assim que abraçou a ob-cena (Daney). A Estrada Perdida vai plantando armadilhas, a narratividade ergueu todo um edifício de códigos que ultrapassa a simples vai seduzindo o espectador, mexendo com sua mente. Mas o analogia icônica. Em se tratando de A Estrada Perdida, entretanto, tudo cujo destino dessas pistas recolhidas já foi dado na primeira imagem modelo operacional é aferido nesse confuso acordo entre visão e cognição deve do filme: a estrada vazia, escura, e a câmera (e, por conseguinte, ser deixado de lado. São justamente os dois binômios-base da cultura visual nós) assumindo o ponto de vista do motorista, vendo a (causa-efeito e visão-cognição) o que pode impedir a fruição plena desse filme. interminável sucessão de listras amarelas, uma após a outra, parcelas cuja soma não fornece um resultado redondo. Cabe ao O grande tema de Lynch é a luz. Mesmo o som, perfeitamente trabalhado tanto filme apenas iluminar essas listras através do alcance limitado em A Estrada Perdida quanto em Veludo Azul ou História Real, é uma espécie de imposto pelo farol do carro – o resto é escuridão. cara-metade dos objetos reluzentes, um murmúrio da luz (se há uma imagem recorrente em Lynch, é a de uma lâmpada com defeito, ou com insetos dentro E há os momentos mágicos, como na cena em que Alice dela, acendendo e apagando ao som de um ruído incômodo). Até as aparece para Pete ao som de "This magic moment" (Lou Reed), extraordinárias trilhas sonoras de Angelo Badalamenti acompanham as curvas e isso basta para que ele se apaixone. Entrada em cena que de luminosidade dos filmes de Lynch para que são compostas. Em A Estrada lembra a primeira aparição de Sandy (Laura Dern) em Veludo Perdida, assim como em Cidade dos Sonhos, o diretor segue uma lógica de Azul: quando o amor surge no filme, este se enche de uma cor cinema-instalação; o que vale é atravessar o filme, passar pelo seu campo e de um brilho que até então não parecia ter. Se Lynch filma magnético. Nenhuma parede é mero anteparo, qualquer superfície tem cor, também coisas obscuras, é porque faz um cinema musical cujo tem estampa, reflete ou texturiza uma imagem ou uma luz. Além de duração e fraseado dificilmente entrega a nota seguinte; uma complexa força, a luz em Lynch tem motivo e forma – daí ele sempre frisar sua fonte e sua equalização que seus filmes acham entre a melodia e a incidência. Mas essa luz, esse clarão que cega possui também outro nome, dissonância, entre a beleza e a bizarrice. A resposta está no complementar à sua natureza física: o amor. O universo lynchiano é movido a final de Veludo Azul: "É um mundo estranho", Sandy diz paixão, é o lugar da efervescência, do irracional, da sensualidade, do sonho. E, calmamente, ao contemplar o passarinho que fisga um inseto sabemos, o que essa moeda traz no verso é o pesadelo da perda, o com o bico: o estranho alimenta o belo. G afundamento, a loucura, o destino trágico. Longe de uma defesa do refinamento estético e da leitura U A Estrada Perdida apanha Fred (Bill Pullman) e Renne (Patricia Arquette) numa fase difícil, o cinema de David Lynch é um arranjo experimental R difícil do casamento. Ele a está sentindo distante, como no sonho que resolve bastante atento a potencialidades – e indiferente a mensagens. contar: "você estava lá, mas não era você". O filme é exatamente sobre isso: estar Ele acrescenta fermento aos signos, mas não os desmonta D lá e não estar, ou ainda, estar com alguém e não saber quem é, não importando se (como muitos pensam); simplesmente lança-lhes luz. Lynch . acabou de conhecê-la ou se estão casados há anos. A angústia irredutível do amor constrói ambiência, dá ritmo ao espaço dos acontecimentos, r T J é igual àquela provocada pela imagem: mesmo a esposa, mesmo a pessoa com faz menos uma pesquisa formal do que uma provocação. Em C a quem se passa a maior parte da vida é sempre um "outro", guarda sempre um Twin Peaks ? Os Últimos Dias de Laura Palmer, vale lembrar que r i E mistério, o que remete a um dos princípios fundadores da imagem, qualquer nenhuma das drogas que a personagem principal consome e v F i imagem: a alteridade radical, o fato de que, por mais próxima que ela possa estar, consegue aluciná-la com a mesma eficácia da fotografia l O sempre haverá uma opacidade, uma intransponibilidade. "Você nunca irá me ter", singelamente assustadora que ela pendurou na parede do R s diz Alice (Patricia Arquette de novo, agora loira) a Pete, após transarem na areia do quarto (a imagem de uma porta que a conduz ao pesadelo o E l deserto, faróis do carro sobre eles, numa das cenas mais sensuais da história do noturno). Não percamos tempo com joguinhos de adivinhação, r a cinema. Esses personagens que se confundem (e nos confundem), esses rostos esqueçamos as engenhocas narrativas: produto da farmácia de P C que se misturam são projeções de qualquer relação amorosa. Lynch, A Estrada Perdida é alucinógeno dos melhores. z i E u Lynch é um dos poucos cineastas a ainda trazer para a tela o nunca visto – além de L H ressignificar o muito visto – e lidar com as ressonâncias do inexplorado, do r o ausente. Não há outra maneira de filmar a ausência senão através de suas T p.