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Como citar: VIANA, Claudis Gomes de Aragão. A Fábrica de cartuchos do Realengo (1898 - 1977). In: Revista Digital Simonsen. , n.4, Jun. 2016. Disponível em:

História

A FÁBRICA DE CARTUCHOS DO REALENGO (1898 - 1977)

Por: Claudius Gomes de Aragão Viana 1

Resumo: Este artigo narra a criação, a organização e o funcionamento da Fábrica de Cartuchos do Realengo, estabelecimento subordinado ao antigo Ministério da Guerra, que entre os anos de 1898 e 1977 esteve sediada no bairro de Realengo, subúrbio da Zona Oeste do município do Rio de Janeiro. Mantida sob administração militar, a fábrica foi criada, no final do século XIX, para produzir pólvora e cartuchos de pequeno calibre para o uso do Exército. Em 1899, ocorreu sua fusão com o Laboratório Pirotécnico do Campinho, quando passou a ser denominada Fábrica de Cartuchos e Artifícios de Guerra. Sucessivamente, essa denominação foi alterada para Fábrica de Cartuchos e Artefactos de Guerra (1911), Fábrica de Cartuchos de Infantaria (1933) e, finalmente, Fábrica do Realengo (1939).

Introdução destacar que após a extinção da fábrica suas

abe, inicialmente, uma explicação áreas permaneceram abandonadas durante sobre a pertinência do tema. Os quase três décadas, sofrendo um processo de C projetos de criação e funcionamento deterioração que atingiu seu patrimônio da Fábrica do Realengo ilustram objetivos e material e, consequentemente, sua memória projetos militares e políticos dos períodos histórica. Recentemente, parte das antigas imperial e republicano, refletindo ideais de instalações foi restaurada a fim de abrigar unidades escolares federais e estaduais, e a progresso e modernidade propostos para o Exército, e, por extensão, para a sociedade recuperação desse patrimônio, bem como seus brasileira naqueles períodos. Cabe também novos usos, torna relevante a apresentação de estudos que registrem de maneira sistemática

1 Doutorando do Programa de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil - Fundação Getúlio Vargas (PPHPBC-CPDOC-FGV). E-mail: .

Revista Digital Simonsen 48 os quase oitenta anos pregressos de sua história mais importante desses estabelecimentos. pouco explorada. Como objetivo secundário, Fundado em 1764, foi instalado junto à Casa desejamos que os elementos históricos aqui do Trem de Artilharia, na Ponta do apresentados possam subsidiar futuras análises Calabouço, região próxima à atual praça críticas do papel da Fábrica do Realengo no Mauá, em um prédio construído originalmente desenvolvimento da indústria bélica nacional. para abrigar material militar e que hoje faz Desejamos ainda, agora no contexto de suas parte do conjunto arquitetônico que constitui o relações com a sociedade local, que as Museu Histórico Nacional. informações ora oferecidas possam chegar ao Após a chegada da Corte Portuguesa, conhecimento dos novos atores - alunos, em 1808, foi anexada ao Arsenal de Guerra a mestres e funcionários - que atualmente Real Fábrica de Pólvora2, estabelecida no ocupam os espaços da antiga fábrica e recriam engenho de cana de açúcar de Rodrigo de a função social desse espaço. Freitas, nas proximidades da lagoa de mesmo nome, em área pertencente atualmente ao Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Em 1832, Primórdios a fábrica foi desligada da administração do Desde o século XVIII já funcionavam arsenal3 e transferida para os arredores da serra no Brasil estabelecimentos destinados à da Estrela, na região ocupada pelas fazendas fabricação de pólvora e artefatos bélicos. No Cordoaria, Mandioca e do Velasco, cujas terras Rio de Janeiro, o Arsenal de Guerra da Corte, foram desapropriadas e incorporadas aos bens a Real Fábrica de Pólvora, a Fábrica de Armas da Fazenda Nacional, mediante indenização de da Conceição e o Laboratório Pirotécnico do 12:857$240 ao seu proprietário, o coronel de Campinho foram exemplos de instituições milícias João Antonio da Silveira Albernaz4. dessa natureza, antecedentes da criação da Chamado posteriormente de Fábrica da Fábrica de Cartuchos do Realengo. Estrela, o estabelecimento funcionou nesse O Arsenal de Guerra da Corte, criado ainda durante o período colonial, era talvez o

2 Legislação relacionada: posse do engenho e terras denominadas da Lagoa - Decreto de 13 de maio de 1808. Cria uma fábrica de Rodrigo de Freitas. pólvora nesta cidade. - Decreto de 20 de setembro de 1808. Arbitra os - Decreto de 13 de junho de 1808. Manda contrair um ordenados do tesoureiro e escrivão da Real Fábrica empréstimo para estabelecimento da fábrica de de Pólvora. pólvora. 3 Decreto de 21 de fevereiro de 1832. Dá Regulamentos - Decreto de 13 de junho de 1808. Manda incorporar para o Arsenal de Guerra da Corte, Fábrica da Pólvora aos próprios da Coroa o engenho e terras da Lagoa da Estrela, Arsenais de Guerra e Armazéns de depósitos de Rodrigo de Freitas. de artigos bélicos. - Decreto de 13 de junho de 1808. Manda tomar 4 Decreto de 22 de setembro de 1825. Manda

Revista Digital Simonsen 49 local até meados da década de 1970, quando criação oficial data de 18606, mas o laboratório foi desativado. já funcionava em caráter experimental desde

A Fábrica de Armas do Rio de Janeiro, 1852. Foi instalado na antiga fortaleza de depois conhecida como Fábrica de Armas da Nossa Senhora da Conceição do Campinho, Conceição, foi criada em 1769, a partir de uma adaptada em 1861 para a fabricação de oficina de armeiros, e instalada nas munições e artefatos pirotécnicos, com a dependências da antiga fortaleza do morro da edificação de prédios e a instalação de 7 Conceição, no centro da cidade. Em 1811 foi encanamentos de água . Em 1865 suas posta sob a jurisdição do Arsenal de Guerra da instalações foram ampliadas, sendo adquiridas novas máquinas para atender ao aumento de Corte, sendo fechada em 1831 e reaberta em 1844. Apesar do título de “fábrica”, a produção demandado pela guerra contra o instituição nada fabricava, pois não estava Paraguai. Em 1868, as obras de ampliação aparelhada para isso (Figueira, 2001); apenas continuaram e o laboratório recebeu, entre se dedicava aos trabalhos de conserto e reparos outras melhorias, um ramal ferroviário e uma de material portátil. Mesmo assim, os trabalhos estação telegráfica. Nele trabalhavam, no final da instituição tiveram alguma relevância da década de 1860, entre quatrocentos e durante a guerra do Paraguai, destacando-se a quinhentos empregados, número que foi produção de armas brancas. A fábrica foi consideravelmente reduzido ao término do conflito com o Paraguai8. O laboratório se extinta em 1892, e suas funções foram 9 incorporadas como oficina do Arsenal de separou do arsenal em 1872 e foi extinto em Guerra, do qual passou a constituir a 3ª Seção5. 1900, quando seus serviços foram Em 1899, foi definitivamente removida para incorporados à Fábrica de Cartuchos do São Cristóvão, onde havia sido construída uma Realengo. nova sede para o arsenal. Na época da sua fundação, o Arsenal de

O Laboratório Pirotécnico do Guerra tinha a função de prestar serviços e Campinho também constituía uma fabricar objetos relacionados aos materiais de dependência do Arsenal de Guerra. Sua guerra. Mas a deficiência das manufaturas desapropriar a fazenda denominada - Cordoaria - para 1.114, de 27 de setembro de 1860. Fixa a despesa e orça ser nela edificada a nova fábrica de pólvora. a receita para o exercício de 1861/1862, aprovando a 5 Relatório do Ministro da Guerra Francisco Antônio de Moura, criação do laboratório. 1892, p. 35. 7 Relatório do Ministro da Guerra Luis Alves de Lima e Silva, 1861, p. 6. 5 Decreto nº 5.118, de 19 de outubro de 1872. Aprova o 8 Relatório do Ministro da Guerra José Maria da Silva Paranhos, 1870, p. regulamento que reorganiza os arsenais de guerra do 22. Império. 9 Decreto nº 5.118, de 19 de outubro de 1872. Aprova o 6 Regulamento para o Laboratório do Campinho, de 28 Regulamento que reorganiza os Arsenais de Guerra do de fevereiro de 1861, organizado em virtude da Lei nº Império.

Revista Digital Simonsen 50 particulares nacionais - herança da restrição estabelecimento a ressentir-se da falta de portuguesa ao estabelecimento de acomodações adequadas. 10 estabelecimentos fabris na colônia - havia Em 1873, as instalações da Ponta do motivado a criação, junto a ele, de oficinas que Calabouço foram consideradas "acanhadas", prestavam trabalhos diversificados. Nelas sendo projetadas as obras de um novo edifício deveriam ser fabricadas peças bélicas, como que deveria ser erguido no Realengo do reparos de ferro para canhões, coronhas, Campo Grande12. Para sua execução, foram espingardas e correias para equipamentos apresentados dois projetos: o primeiro militares, mas, além disso, era prestada uma organizado pela Diretoria de Obras Militares, grande diversidade de outros serviços: com previsão de custo de 1.751:003$945, e o carpintaria, torneiro, serralheria, sapataria, segundo por um grupo presidido pelo alfaiataria e outros, muitas vezes desviados das brigadeiro Galdino Justiniano da Silva finalidades militares. O arsenal também fazia Pimentel, orçado em 839:359$455. Designada vezes de instituição de ensino, abrigando uma uma comissão para informar qual deveria ter a Companhia de Aprendizes Artífices composta preferência para construção, decidiu-se pelo por crianças abandonadas na Santa Casa da primeiro. Segundo os planos originais, os Misericórdia, órfãos e filhos de pais pobres. Na edifícios do novo arsenal deveriam ocupar "um década de 1830, seu regulamento determinava retângulo de 366 metros de frente por 480 que o número desses aprendizes não passasse metros de fundo, com espaçosas acomodações de 100, mas em 1870 havia cerca de 250 que ocupariam uma área de 175.680 metros menores internos. Aos alunos eram ensinadas quadrados na região"13. A estrada de ferro D. técnicas de fabricação de materiais, além de Pedro II, que tornava fácil a comunicação de primeiras letras, desenho, geometria e música. Realengo com a região central da cidade, foi No mesmo edifício, funcionava ainda a considerada como um dos fatores de decisão 11 Diretoria da Intendência de Guerra , e esse para a escolha do local do novo edifício14. acúmulo de pessoal e de funções levava o O fator do custo dos terrenos também deve ser ponderado para se compreender a preferência de Realengo para instalação do arsenal, como explicado a seguir. As terras da

10 Cartas, provisões e alvarás. Lisboa, 5 de janeiro de 16. 1785. Junta da Fazenda da Província de São Paulo. 13 Relatório do Ministro da Guerra João José de Oliveira Junqueira, 1873, p Códice 439. 17 e seguintes. 11 Relatório do Ministro da Guerra João José de Oliveira Junqueira, 1874, 14 Relatório do Ministro da Guerra João José de Oliveira Junqueira, 1874, p. 34. p. 30. 12 Relatório do Ministro da Guerra João José de Oliveira Junqueira, 1873, p

Revista Digital Simonsen 51 localidade, atravessadas pela Estrada Real de próprio para instalação de uma linha de tiro, Santa Cruz - caminho que ligava duas que servisse de modo regular àqueles propriedades imperiais, a Quinta da Boa Vista exercícios. Definida a zona adequada, foi e a Fazenda Real no Curato de Santa Cruz - firmado um acordo, em 1857, no qual a haviam sido doadas como sesmaria, em 1805, Câmara Municipal cedeu parte das terras ao a Ildefonço de Oliveira Caldeira, o Visconde Ministério da Guerra, que manifestava o de Gericinó. Porém, poucos anos depois, foi interesse de estabelecer também uma escola constatado que para obtê-las Caldeira havia militar na localidade. Ainda no ano de 1857 ludibriado os oficiais da Corte responsáveis iniciaram-se obras para abertura de um campo pelas demarcações, além de realizar de tiro e adaptações para que um edifício negociações não autorizadas com as terras. Foi servisse como quartel para a recém criada então expedido pela Coroa o alvará datada de Escola Geral de Tiro do Campo Grande, que já 27 de junho de 1814, anulando a doação da se encontrava em funcionamento por ocasião sesmaria e concedendo-a à Câmara Municipal. da decisão de construção do arsenal na Após retomadas, as terras foram reservadas localidade. pela própria Câmara para criação de gado, O primeiro projeto de construção do preservando-se somente as propriedades de arsenal previa a utilização do campo limitado alguns antigos ocupantes, localizadas ao longo pela linha da escola de tiro, que a pedido do da Estrada Real. Ministério da Guerra, a Câmara Municipal já Após a Independência, o Ato Adicional reservara para exercícios e manobras; porém, de 1834 desvinculou a Cidade do Rio de foi considerado que a proximidade da linha, Janeiro da província que até então trazia o paralela a uma das faces do campo, poderia mesmo nome, tornando-a uma unidade distinta danificar os edifícios e por em risco a vida dos denominada Município Neutro. Assim, a empregados da fábrica, já que os testes ali Câmara do Município Neutro se tornou titular realizados, que envolviam a utilização de do patrimônio da cidade, que incluía as vastas explosivos e tiros de armas de grosso calibre, extensões de terras em Realengo. possuíam resultados incertos. Escolheu-se, então, o chamado campo do Piraquara, onde o Em 1852, os campos de Realengo foram utilizados para realização de testes com arsenal poderia ser construído com a frente foguetes fabricados no Laboratório para a estrada de Santa Cruz e próximo da Pirotécnico do Campinho, e, devido ao sucesso capela de Nossa Senhora da Conceição. Um das experiências, foi logo em seguida nomeada acordo entre o Ministério da Guerra e a uma comissão para escolher na região um local Câmara Municipal autorizou a desapropriação

Revista Digital Simonsen 52 de 64 terrenos que se achavam dentro da área apenas a quantia de 378:778$615, suficiente projetada. Os foreiros foram indenizados com somente para a construção dos alicerces e de a quantia de 15:687$500, estipulada pela paredes de cerca de um metro de altura. As própria Câmara. obras permaneceram estagnadas pelos anos

Demarcada a área da construção, foram seguintes, despertando nos militares a abertas três ruas laterais, de sessenta palmos15 preocupação com a possibilidade de de largura cada uma, e construídos os alicerces deterioração das estruturas que já haviam sido dos novos edifícios, prevendo-se a edificação iniciadas. Nesse período, as solicitações de de um prédio "que teria, em poucos anos, as crédito para retomada das obras ocuparam frequentemente os relatórios oficiais. Em proporções que reclamava o mais importante de tais estabelecimentos do Império"16. Em 17 1882, o Ministro da Guerra alertava à de maio de 1874, em uma cerimônia que Assembléia Geral Legislativa: "Já se tem gasto contou com a presença do próprio Imperador ali somas importantes, que ficarão D. Pedro II, foi assentada a primeira pedra para desaproveitadas se não habilitardes o governo o novo Arsenal de Guerra da Corte17. No dia com os recursos indispensáveis para dar seguinte foram iniciados os trabalhos de impulso aquela construção, que é sem dúvida 19 construção dos alicerces do edifício, que de alta conveniência pública" , apelo também 20 prosseguiram sob inspeção e fiscalização da repetido em 1885 , lembrando que a continuidade das obras do novo arsenal, Diretoria de Obras Militares. Para a execução dos trabalhos foi destinada a quantia mensal de julgadas o início de um grande melhoramento, 5:000$000, com a qual foi possível construir, era condição para que se evitasse a perda total de início, 1.202,26 metros lineares de das somas já aplicadas, uma vez que tais obras, alicerces, totalizando 3.813.331 metros começadas e paradas por falta de verba, cúbicos de alvenaria. exigiriam, mais tarde, dupla despesa. Sugeria- se ainda, como solução para evitar a completa As obras do edifício avançaram ruína e salvar o que já estava iniciado, que regularmente até 1878, quando, por motivo de fosse votada anualmente uma soma regular economia, o governo determinou sua dentro do orçamento: o andamento das obras, suspensão18. O orçamento inicial se elevara a deste modo, avançaria lentamente, o que seria 3.487:121$651, mas havia sido investida

15 Antiga medida linear, equivalente a 22 cm. Menezes Doria, 1881-1, p. 34. 16 Relatório do Ministro da Guerra João José de Oliveira Junqueira, 1873, 19 Relatório do Ministro da Guerra Carlos Affonso de p. 18. Assis Figueiredo, 1882, p. 28. 17 Relatório do Ministro da Guerra João José de Oliveira Junqueira, 1874, 20 Relatório do Ministro da Guerra João José de Oliveira p. 29. Junqueira, 1885, p. 28. 18 Relatório do Ministro da Guerra Franklin Américo de

Revista Digital Simonsen 53 preferível ao abandono em que se Guerra e os depósitos do material a ser encontravam. recebido e expedido21.

Os argumentos apresentados para defender a continuidade da construção do A Fábrica de Cartuchos do Realengo arsenal tinham como pontos principais a sua A chegada da República, no final de localização na Capital, a facilidade de 1889, ainda encontrou paralisadas as obras do escoamento da produção pelo ramal da estrada Realengo, mas, a julgar pela evolução do de ferro D. Pedro II, a relativa proximidade do patrimônio imobiliário do Exército na região oceano e a vizinhança da Escola de Tiro, que nos anos que se seguiram (Viana, 2010), pode- supriria seus meios de defesa. Esses se crer que a atuação dos militares no episódio argumentos procuravam demonstrar a rendeu dividendos para os projetos de necessidade de que não fosse abandonada a modernização e crescimento da instituição. No obra do estabelecimento, que além de produzir Realengo, duas consequências diretas foram artefatos militares, armamentos e peças de sentidas. Modificações no ensino militar, artilharia, disporia, na localidade, de uma promovidas em 1890, haviam levado à extensa área para teste desses equipamentos. O extinção da Escola-Geral de Tiro do Campo próprio diretor do Arsenal de Guerra, então Grande e à ocupação de suas instalações pela localizado na Ponta do Calabouço, também recém-criada Escola Preparatória e de Tática. tecia em seus relatórios considerações no E, finalmente, em 1894, as atenções se intuito de transferir o estabelecimento para um voltaram para as obras paralisadas do arsenal. ponto central da cidade, reconhecendo a Naquele ano, havia seguido para a Europa uma inconveniência da situação de um arsenal de comissão chefiada pelo general Miguel Maria guerra, com todas as suas máquinas, oficinas e Girard, a fim de realizar estudos sobre a depósitos, à beira-mar, em condições de fabricação de pólvora sem fumaça e tratar da vulnerabilidade. Em sua opinião, deveriam compra de material para a montagem de uma permanecer nos edifícios da Ponta do fábrica de cartuchos na Capital22. Inicialmente, Calabouço somente a sede da Intendência de havia sido cogitada a instalação dessa fábrica junto ao Laboratório Pirotécnico do Campinho, mas foi verificada a insuficiência de sua área para comportar as novas edificações. Decidiu-se, então, construí-la no

21 Relatório do Ministro da Guerra Bernardo Vasques, 22 Relatório do Ministro da Guerra Bernardo Vasques, 1894, p. 33. 1895, p. 93.

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Realengo, aproveitando o terreno e as obras esta produção foi de imediato empregada pelas iniciadas para o Arsenal de Guerra, que por sua forças que operavam na campanha de vez se apropriou de terrenos e instalações Canudos. No princípio do ano de 1897, as pertencentes à extinta fábrica de tecidos São obras foram dadas como concluídas, e se Lázaro, na ponta do Caju. Ao término do iniciou o funcionamento da Fábrica de mesmo ano foram votados recursos para a Cartuchos do Realengo, "montada com todos continuação das obras de Realengo. os aperfeiçoamentos modernos e instalada em

Finalmente, em 1896, foram retomadas vasto e apropriado edifício, iluminado à luz 24 as obras iniciadas vinte e dois anos antes23, elétrica" . com uma alteração substancial no projeto: no As atividades da fábrica foram lugar do novo edifício para o Arsenal de regulamentadas em 189825, mesmo ano em que Guerra, seria construída uma fábrica de foi posta em estudo a sua junção com o cartuchos Mauser. No princípio do ano, foram Laboratório Pirotécnico do Campinho, visando reiniciadas as construções e, em seguida, racionalizar a administração e economizar foram assentados os mecanismos de despesas com os serviços dos dois fabricação. Cinco edifícios ficaram prontos estabelecimentos, ligados pela semelhança de inicialmente: a secretaria, a "casa de ordem", suas atividades. Um acidente foi o fator uma estufa, a oficina de carregamento e a casa decisivo para essa união: em 5 de junho de da prensa hidráulica, além de quatro barracões 1897 uma poderosa explosão danificou todos de madeira para servirem de laboratório de os edifícios do laboratório, e sua reconstrução fulminato, paiol de pólvora, prensa de exigiria, segundo os orçamentos realizados, a fulminato e ensaio de tiro. Também foram volumosa quantia de 235:925$, além de assentadas caldeiras, fornos de recozimento, 899:420$000 para instalação das oficinas de duas máquinas para colocação de espoletas, munição comblain, girard e de espoletas de três máquinas de carregamento e outros artilharia. O custo para realização dos projetos pequenos acessórios para retirar cápsulas de foi fator de decisão: ainda que fosse necessário munições. Com essa estrutura, iniciaram-se os construir no Realengo as oficinas para os trabalhos de carregamento de cartuchos, com trabalhos que se realizavam no Campinho, as uma produção diária de cerca de 20.000 despesas não atingiriam a metade da prevista unidades em nove horas de trabalho - como destaque histórico, os registros informam que

23 Relatório do Ministro da Guerra Francisco de Paula Cantuária, 1897, p. 46. Argollo, 1896, p. 33. 25 Decreto nº 2.956, de 27 de julho de 1898. Aprova o 24 Relatório do Ministro da Guerra João Thomaz regulamento para a Fábrica de Cartuchos do Realengo.

Revista Digital Simonsen 55 para a reconstrução do Laboratório por compra amigável ou desapropriação. Pirotécnico, e a junção foi aprovada. Assim, a fusão entre a Fábrica de Cartuchos do

Além da redução dessas despesas, Realengo e o Laboratório Pirotécnico do também se imaginava obter outras vantagens: Campinho foi concretizada em 1899, um único estabelecimento, reunindo pessoal e marcando o início do funcionamento da material de ambos, ficaria aparelhado para Fábrica de Cartuchos e Artifícios de Guerra. maior e melhor produção, por menor custo do Os recursos necessários para a fusão que cada um isoladamente; seriam evitadas foram votados e incluídos na lei do orçamento duplicidades resultantes de gastos com anual do governo para o ano de 1900 sob o pessoal, principalmente nos serviços título obras militares, destinando ao Exército a administrativos e com a manutenção dos quantia de 1.070:000$000 para as despesas edifícios e do material; eventuais com a junção e para a aquisição de um terreno melhoramentos nas linhas de produção seriam adjacente à fábrica. A mesma lei autorizava o feitos em todas as munições e artefatos Poder Executivo, além de realizar a fusão, a pirotécnicos, sem importar em dupla despesa expedir um novo regulamento para a fábrica e para implantação das modificações; e, por fim, a aproveitar os trabalhadores dos dois a aprendizagem dos funcionários seria mais estabelecimentos, conforme as necessidades completa e eficaz. do serviço. Também autorizava a construção

Ponderada a conveniência da reunião de oficinas, armazéns e de outras dependências dos estabelecimentos, foi apontada a necessárias para que o serviço do necessidade da construção das edificações estabelecimento se fizesse em condições necessárias. Embora a área de que dispunha a satisfatórias e sem riscos para os edifícios, para fábrica fosse considerada insuficiente para os empregados ou para a população da 26 comportar as edificações exigidas pela localidade . reunião, via-se também a facilidade de ampliá- Embora autorizada por lei, a fusão foi la, anexando a ela os terrenos situados nos executada com lentidão, atribuída pela direção fundos e ao lado do estabelecimento; os da fábrica tanto à carência de recursos, quanto primeiros já pertenciam ao governo, por serem ao acúmulo de serviços. Com os valores dependências da Escola Preparatória e de recebidos foram acrescentados às estruturas já Tática; os outros precisariam ser adquiridos, existentes uma oficina de espoletas de

26 Lei nº 652, de 23 de fevereiro de 1899. Fixa a despeza geral da Republica dos Estados Unidos do para o exercicio de 1900, e dá outras providencias.

Revista Digital Simonsen 56 artilharia, um forno para fundir metais e um provisoriamente algumas máquinas para paiol de munições, e foi construído um muro fabricação de cartuchos Girard, estopilhas e gradeado, mas por falta de instalações espoletas, uma oficina para carregamento de adequadas, o material recebido do Campinho cápsulas do armamento Mauser, 25 máquinas ficou acondicionado em um barracão27. Para procedentes do Campinho e cinco moinhos possibilitar o funcionamento imediato da para a trituração de pólvora. Com esses fábrica, os próprios operários improvisaram equipamentos a fábrica produziu, já em 1900, muitos dos aparelhos e ferramentas das linhas os seguintes itens29: de produção28, restaurando e instalando

Tabela 1 - Produção da Fábrica de Cartuchos do Realengo, 1900.

ITEM PRODUÇÃO Cartuchos para armamento Mauser 532.000 Cartuchos de festim para armamento Mauser 1.375.000 Cartuchos de festim para mosquetão Comblain 9.000 Estopilhas 5.000 Fachos iluminativos de luz branca 12 Cartuchos para revólver Girard 50.000 Cunhetes de madeira para acondicionamento de munições 996 Caixetas de papelão 48.550 Produção da Fábrica de Cartuchos do Realengo em 1900. Fonte: Relatório do Ministro da Guerra João Nepomuceno de Medeiros Mallet, 1900, p. 226 e seguintes.

Cinco anos depois a linha de produção existente em Realengo, aproveitando sua já se apresentaria mais diversificada, sendo grande extensão31. registrada também a confecção de cartuchos Por ocasião da extinção do Laboratório Nagant e Winchester, além de espoletas e Pirotécnico do Campinho, seus operários 30 estopilhas . Para os testes da munição haviam recebido do governo a promessa de fabricada era utilizada a linha de tiro já inclusão nos quadros da fábrica de Realengo, o que ocorreria gradualmente, à medida que se abrissem vagas no novo estabelecimento32.

27 Relatório do Ministro da Guerra João Nepomuceno de 30 Relatório do Ministro da Guerra Francisco de Paula Medeiros Mallet, 1900, p. 179. Argolo, 1905, p. 102. 28 Relatório do Ministro da Guerra João Nepomuceno de 31 Relatório do Ministro da Guerra Francisco de Paula Medeiros Mallet, 1900, p. 227. Argolo, 1902, p. 62. 29 Relatório do Ministro da Guerra João Nepomuceno de 32 Anais da Câmara dos Deputados, v. 5, 1899. Medeiros Mallet, 1900, p. 226 e seguintes.

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Essas contratações foram limitadas pela reservados os trabalhos que exigissem "maior deficiência de verbas, e já nos primeiros anos força e educação profissional"33. de funcionamento da fábrica os diretores se Aparentemente, mesmo a adoção desse queixavam da insuficiência de funcionários, o último expediente não foi suficiente para o que apresentava consequentes reflexos na atendimento das demandas de produção. Com limitação da produção. Os cartuchos para o cerca de 150 máquinas instaladas, existiam em armamento Mauser, por exemplo, seriam o 1907 apenas 67 operários e 52 aprendizes para principal item das linhas de produção, mas até operá-las, e além da contratação de mão-de- 1906 a fábrica se limitava a carregar com obra feminina as diretorias adotaram um novo pólvora estojos trazidos da Europa. Somente a recurso, impensável nos dias atuais: a partir do ano seguinte os cartuchos começaram admissão de crianças de 8 a 10 anos como a ser completamente fabricados em Realengo, aprendizes, prática que só foi restrita com a mas o que poderia ser considerado um avanço edição de um novo regulamento, em 191434, acabou por agravar ainda mais a demanda pelo que exigia dos aprendizes a idade mínima de aumento do quadro de operários. A solução 15 anos, além da apresentação de um encontrada para esse problema e o argumento requerimento assinado pelos pais ou tutores. utilizado para justificá-la podem despertar Satisfeitas essas condições, os candidatos estranhamento em nossa mentalidade deveriam demonstrar saber ler, escrever e contemporânea: dado o menor custo da mão- contar, sendo então distribuídos pelas oficinas de-obra feminina, foi priorizada a contratação da fábrica. A jornada de um dia de trabalho de mulheres para operação das máquinas, com compreendia oito horas, com intervalo para a justificativa de que o manuseio dos almoço35. equipamentos "não exigia o mínimo de Além da produção de cartuchos, a emprego de força muscular, nem tão pouco fábrica recebia demandas para outras uma exagerada concentração de atenção". Aos atividades. Desde 1906 havia sido criado um operários homens, cujas diárias eram mais serviço de arborização, executado pelos altas, variando de 6$000 a 10$000, seriam operários, contando inicialmente com um viveiro de 200 mudas de árvores36. Os geradores de eletricidade, além do

33 Relatório do Ministro da Guerra Hermes da Fonseca, 35 Relatório do Ministro da Guerra Hermes da Fonseca 1907, p. 94. ,1907, p. 96 e 97. 34 Decreto nº 10.783, de 25 de fevereiro de 1914. Aprova 36 Relatório do Ministro da Guerra Francisco de Paula o regulamento para a Fábrica de Cartuchos e Artefatos Argolo, 1906, p. 106. de Guerra.

Revista Digital Simonsen 58 abastecimento de energia para seus próprios por 220 metros, com frente para o Campo de equipamentos e dependências, forneciam Marte, uma das principais praças da iluminação elétrica para a Escola localidade. Mas o projeto para construção das Preparatória37 e para a estação de Realengo da novas instalações contou com verbas escassas, Estrada de Ferro Central do Brasil38. Tal e as obras foram paralisadas. Máquinas para a situação perdurou até a chegada da energia fabricação de carregadores, que já haviam sido elétrica ao bairro, em 1914, quando foi lavrado adquiridas, ficaram abrigadas sob telheiros de um acordo com a The Rio de Janeiro Tramway zinco42. and Power Company Limited para o Os trabalhos foram reiniciados nos fornecimento de luz e força às oficinas, que últimos meses de 1912, quando foram deixaram de depender dos próprios concluídas as usinas de drenagem e de vapor, 39 geradores . Em 1908, as oficinas de fundição uma chaminé, a carvoaria, as oficinas de produziram o encanamento de chumbo para as laminação, de carpintaria, de carregadores e de obras de construção da de estopilhas, uma casa balística, dois paióis para 40 Deodoro . Também eram recebidas turmas de dez toneladas de pólvora, um edifício para alunos da vizinha Escola Militar, que guarda de materiais e ácidos, o escritório de realizavam estágios de instrução sob a direção engenharia e desenho, o gabinete para o de instrutores da própria escola e de oficiais da médico da fábrica, um forno para fundir fábrica41. chumbo e zinco, dois fornos para queimar No início da década de 1910, durante o espoletas e recozer dedais e estojos de fuzil, governo do da Fonseca, dois pequenos paióis e duas casas para abrigo foram elaborados planos de ampliação da dos guardas. As novas construções foram fábrica, com o projeto de criação de uma feitas em cimento armado de paredes duplas, oficina para montagem de cartuchos de com oficinas arejadas por grandes vãos. Para artilharia. Para instalá-la, foi comprada uma permitir o serviço de manobras dos vagões de grande cobertura com armação metálica, e carga e descarga do material foi aberta uma rua como não havia espaço suficiente para sua montagem, foi adquirido, pelo valor de 25:000$, um terreno contíguo, medindo 83,60

37 Relatório do Ministro da Guerra João Nepomuceno de 40 Relatório do Ministro da Guerra Carlos Eugênio de Medeiros Mallet, 1901, p. 106. Andrade Guimarães, 1909, p. 126. 38 Relatório do Ministro da Guerra Carlos Eugênio de 41 Decreto nº 10.783, de 25 de fevereiro de 1914. Aprova Andrade Guimarães, 1909, p. 127. o regulamento para a Fábrica de Cartuchos e Artefatos 39 Relatório do Ministro da Guerra Vespasiano de Guerra. Gonçalves de Albuquerque e Silva, 1914, p. 96. 42 Relatório do Ministro da Guerra Antônio Adolfo da Fontoura Mena Barreto, 1911, p. 65.

Revista Digital Simonsen 59 com dez metros de largura, atravessando a "único recurso para melhorar esse estado de parte central da fábrica. coisas" (Mc Cann, 2007).

Em 1911 foi aprovado um novo Para a direção do estabelecimento, regulamento43, que entre outras alterações eram outros os fatores que impediam seu modificou a denominação do estabelecimento desenvolvimento. Embora admitindo que a para Fábrica de Cartuchos e Artefatos de execução dos programas de produção era Guerra. Esse regulamento teve a duração de realmente lenta, os diretores atribuíam esse apenas três anos, pois em 1914 foi aprovado fato a outros motivos, principalmente a um outro44, definindo como finalidade da insuficiência das verbas concedidas para as fábrica a manufatura de munições para armas obras e a falta de ferramentas e mecanismos portáteis e metralhadoras, estojos, espoletas e apropriados para a produção. Acrescentava, estopilhas para artilharia, mistos, fulminatos e ainda, que se o estado do operariado era cápsulas para uso no Exército, na Marinha e precário, isso se devia ao fato de ser mal pago, nas forças estaduais. Para cumprir essas sem as garantias necessárias à subsistência e tarefas, foram adquiridas novas máquinas e manutenção de suas famílias. Como contratado um experiente diretor europeu. comparação, apontavam os baixos salários Mas, apesar desses investimentos, a pagos pelo governo: enquanto os torneiros na "manufatura" da maioria das munições indústria civil ganhavam de 16$ a 20$ diários, produzidas ainda se resumia à montagem de os da fábrica recebiam apenas 9$. Como invólucros importados, e a seção de artilharia consequência, a fábrica de cartuchos estava desativada. A lenta evolução nesses enfrentava a concorrência das metalurgias primeiros anos de funcionamento não atendia particulares, ficando desfalcada dos melhores ao que as correntes progressistas do Exército operários45. esperavam da fábrica, levando os oficiais O fato é que a evolução da produção editores da A Defesa Nacional a criticarem, em bélica nacional ainda se encontrava longe de 1914, sua organização e funcionamento, suprir as necessidades das forças armadas atribuindo a baixa produção como culpa dos nacionais, e as maiores aquisições desses operários "pagos para não fazer praticamente materiais continuavam sendo realizadas no nada" e propondo uma "limpeza radical" como exterior. Em 1902, 27:963$133 haviam sido

43 Decreto 8.586, de 6 de março de 1911. Aprova o 44 Decreto nº 10.783, de 25 de fevereiro de 1914. Aprova regulamento para a Fábrica de Cartuchos e Artefatos o regulamento para a Fábrica de Cartuchos e Artefatos de Guerra. de Guerra. 45 Relatório do Ministro da Guerra Alberto Cardoso de Aguiar, 1918, p. 115.

Revista Digital Simonsen 60 pagos à Société Anonyme des Anciens de controle da administração central do Etablissements Cail, de Paris, pelo Exército sobre a fábrica veio então pela fornecimento de munições para canhão Krupp passagem de sua subordinação diretamente à e para aquisição de artilharia de campanha46; Diretoria do Material Bélico, criada com a nos exercícios de 1914 e 1915, após mais de finalidade declarada de "assegurar a execução dez anos de funcionamento da fábrica de dos serviços relativos ao armamento e cartuchos, altas somas ainda eram paga a munições", por meio da "superintendência das fabricantes de armamentos e munições fábricas, arsenais e depósitos"48 alemães, como Fried Krupp A. G. Deutsch O ritmo de evolução da fábrica se Waffen und Munitionsfabriken e Dansk modificou substancialmente no período Rekylriffel Syndikat, fornecedores tradicionais imediato após a I Guerra Mundial. A partir do 47 de suprimentos bélicos ao Exército , que início da década de 1920, iniciou-se uma fase detinham contratos ainda mais lucrativos do de reorganização do Exército que abrangeu que o simples valor do material adquirido, pois uma melhor estruturação das suas unidades, envolviam também o ressarcimento de fretes e bem como o aumento das aquisições de armas seguros. Mas, se na tensão entre o operariado e automáticas e de artilharia, e o aparecimento os militares a simpatia da direção da fábrica das divisões de carros de combate e da aviação. tendia para os primeiros, o fato da fábrica Assim, a presidência de Epitácio Pessoa no permanecer sob gestão militar não podia evitar início da década de 1920 e a gestão de Pandiá que prevalecessem as opiniões dos segundos. Calógeras - primeiro civil a ocupar a pasta no E as críticas emergiam da geração formada por período republicano - no Ministério da Guerra, oficiais que haviam estagiado no exército foi marcada pela modernização e ampliação do alemão no início do século XX, e que Exército, tarefa que contou com a colaboração começavam a se fazer bastante atuantes, seja de uma missão militar francesa contratada pelo nas comissões assumidas, seja através da governo. Por um lado, as habilidades políticas própria revista A Defesa Nacional, espaço de Calógeras garantiram a concessão de verbas fundado em 1913 para discussão dos junto ao Congresso Nacional, sustentando as problemas da Instituição. O aumento do grau

46 Decreto nº 959, de 31 de dezembro de 1902. Autoriza 47 Decreto nº 2.930, de 6 de janeiro de 1915. Autoriza o o Governo a abrir ao Ministério da Guerra o crédito Presidente da República a abrir, pelo Ministério da extraordinário de 27:963$133 para ocorrer ao Guerra, os créditos especiais de 6.500:000$, para pagamento à “Société Anonyme des Anciens pagamento a Fried Krupp A. G. Deutsch Waffen und Etablissements Cail”, de Paris, pelo fornecimento de Munitionsfabriken e Dansk Rekylriffel Syndikat e munições para um canhão Krupp e das despesas feitas outros, por fornecimentos e para despesas com fretes e com a remessa de um canhão para o concurso efetuado seguro de material adquirido. em 1893. 48 Relatório do Ministro da Guerra Eurico José Caetano de Faria, 1915, p. 45.

Revista Digital Simonsen 61 reformas de modo duradouro; mas é preciso quintuplicou no segundo semestre de 1924 e frisar que a continuidade desses investimentos saltou, em 1925, para 12 milhões de balas se deu dentro de um quadro de interesses cilindro-ogivais. No mesmo ano, foram comerciais, políticos e estratégicos, no qual o carregados mais de 15 milhões de cartuchos desenvolvimento do Exército Brasileiro foi modelo 1895 e 1908, e fabricadas 2.751 encarado como a abertura de um novo mercado estopilhas de fricção de 80mm, 753.499 para artigos bélicos norte-americanos e estopilhas de percussão para canhão Krupp 75, europeus, e no qual a presença da missão e 2.156 espoletas de percussão de 25mm. militar francesa influenciou, em um primeiro As boas condições de produção momento, na preferência pela aquisição de atravessaram a década de 1920 e continuaram materiais produzidos naquele país (Neto, após a Revolução de 1930, acompanhando o 2007). movimento de industrialização promovido Nesse contexto, foram realizadas pelo governo Vargas, que também procurava grandes aquisições de material bélico, e a conferir ao país uma maior independência na Fábrica do Realengo também recebeu produção de equipamentos militares. Nesse investimentos. Novas oficinas foram criadas, contexto, iniciou-se a ampliação do incipiente as existentes foram remodeladas, e foram conjunto industrial constituído, além da enviadas à América do Norte e à Europa Fábrica do Realengo, tão somente por dois comissões que realizaram pedidos detalhados arsenais (Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul) de máquinas, ferramentas e acessórios. Sob e outras duas fábricas (Estrela e Piquete), impulso das verbas recebidas e das aquisições visando dotar o país de uma indústria bélica de novos materiais, o estabelecimento capaz de suprir as forças armadas nacionais. apresentou consideráveis melhoramentos, com Com esse objetivo, foi determinada o aumento da maquinaria, a construção de um pelo Ministro da Guerra49 a transferência para de refrigeração, a instalação de uma a recém criada Fábrica de Estojos e Espoletas prensa para preparação de fios de chumbo e a de Artilharia, instalada em Juiz de Fora, Minas construção de oficinas mecânica e pirotécnica. Gerais, de todo o maquinário de fabricação de Em 1923, a área da fábrica sofreu nova estojos e espoletas na Fábrica de Cartuchos de expansão, por meio da aquisição de diversos Realengo, que em contrapartida seria ampliada terrenos nas adjacências e de casas para e receberia novos equipamentos50, com a moradia dos oficiais. Assim, a produção abertura de um crédito especial de

49 Aviso nº 8 do Ministro da Guerra, de 18 de janeiro de 50 Aviso 65 do Ministro da Guerra, de 5 de outubro de 1934. 1932.

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2.000:000$000 para atender as despesas de expansão na indústria nacional de produção de reaparelhamento51. O resultado da década de artigos bélicos, às vésperas do início da II investimentos na criação de novas fábricas e na Guerra Mundial. Assim, no início da década de remodelação e ampliação das já existentes 1940 já se encontravam em funcionamento os permitiu uma considerável e oportuna seguintes estabelecimentos dessa natureza52:

Tabela 2 - Estabelecimentos fabris do Exército em 1940.

ESTABELECIMENTO FUNÇÃO / PRODUÇÃO LOCAL Arsenal de Guerra do Rio Manutenção do material bélico Rio de Janeiro Arsenal de Guerra da Margem Manutenção do material bélico Rio Grande do Sul Fábrica do Realengo Cartuchos de infantaria Rio de Janeiro Fábrica do Andaraí Projéteis de artilharia Rio de Janeiro Fábrica de Itajubá Canos e sabres para armas portáteis Minas Gerais Fábrica de Juiz de Fora Estojos e espoletas de artilharia Rio de Janeiro Fábrica de Piquete Pólvora e explosivos São Paulo Fábrica da Estrela Pólvora Rio de Janeiro Fábrica de Material contra gases Rio de Janeiro Fábrica de Curitiba Viaturas Paraná Relação dos estabelecimentos fabris sob administração do Exército Brasileiro em 1940. Referência: Decreto nº 4.461, de 31 de julho de 1939.

Em Realengo, os recursos recebidos metros quadrados, entre as ruas Junqueira e possibilitaram novas reformas na fábrica, com Oliveira Braga (atualmente, ruas General a introdução de melhorias no gabinete de Sezefredo e Carlos Wenceslau), onde também desenho, nas oficinas de têmpera e de estojos foram construídas algumas casas para de artilharia, na subestação transformadora e operários. nas oficinas de recozimento de estojos. O Essa estrutura sofreu poucos acréscimos pavilhão de carregamento das granadas de mão e modificações nas três décadas seguintes, nas foi ampliado, e foram construídos um forno de quais as linhas de produção da fábrica foram recozimento de estojos de artilharia, um forno progressivamente modificadas para que os elétrico e um pavilhão para depósito de artigos produzidos transitassem da 53 sucata . O serviço de metalurgia foi deslocado compatibilidade com os equipamentos para uma grande área de mais de 100.000

51 Decreto-Lei nº 691, de 15 de setembro de 1938. Abre, 52 Decreto nº 4.461, de 31 de julho de 1939. Modifica a ao Ministério da Guerra, o crédito especial de denominação dos estabelecimentos fabris do Ministério 2.000:000$000, para a Fábrica de Cartuchos de da Guerra. Infantaria. 53 Relatório do Ministro da Guerra Eurico Gaspar Dutra, 1937, p. 73.

Revista Digital Simonsen 63 alemães e franceses, dominantes nas décadas pelo lado direito confronta com a rua Doutor anteriores, para os modelos dos novos Lessa com 137,80 metros; pelo lado esquerdo, materiais bélicos oriundos dos Estados Unidos medindo 128,00 metros, confina com o prédio da América, tendência impulsionada pela nº 907 da avenida Santa Cruz e com os prédios crescente influência daquele país nas doutrinas nº 43, 45, 47, 49, 51 e 53, da rua Goulart de de emprego das forças armadas brasileiras Andrade; pelos fundos confronta com a rua (Rodrigues, 2008), reflexo da aproximação Paranaguá, com 221,50 metros; fechando um política e cultural entre o Brasil e os EUA no quadrilátero irregular com superfície de período. 28.329,00 metros quadrados.

3) Área ocupada por instalações da Fábrica do Realengo, situada à rua Oliveira Epílogo (...e um novo início) Braga, sem número, onde entesta com 371.00 Entre as décadas de 1940 e 1970 o metros; pelo lado direito confronta com a rua patrimônio da Fábrica do Realengo atingiria a General Raposo com 482,50 metros; pelo lado maior expansão de sua história. Em 1976, esquerdo confronta com a rua General estavam registrados em nome da União Sezefredo, com 483,00 metros; pelos fundos Federal e sob sua jurisdição os seguintes confronta com a rua Pedro Gomes, com imóveis, constituídos por terrenos e 366,00 metros; fechando um perímetro de benfeitorias: forma irregular, com superfície de 177.744,00 1) Fábrica do Realengo, situada à rua metros quadrados. Bernardo de Vasconcelos nº 941, onde entesta Mas foi também na década de 1970 que com 250,00 metros; pelo lado direito a mudança da estratégia brasileira de produção confronta com a rua Doutor Lessa, com de material de defesa levou à criação da 214,00 metros; pelo lado esquerdo confronta IMBEL - Indústria de Material Bélico do com a rua Goulart de Andrade, 205,00 metros; Brasil, que teria como finalidade principal a pelos fundos confronta com a avenida Santa fabricação de material bélico no país. O ano de Cruz com 260,00 metros, fechando um 1977 foi marcado então pela extinção da quadrilátero irregular com superfície de Fábrica do Realengo, juntamente com as 54.094,25 metros quadrados. fábricas do Andaraí (RJ), Curitiba (PR), 2) Área ocupada por instalações da Estrela (RJ), Itajubá (MG), Juiz de Fora (MG), Fábrica do Realengo e por Próprios Nacionais Fábrica de Material de Comunicações (RJ) e Residenciais, situada à avenida Santa Cruz Fábrica Presidente Vargas (SP), que tiveram sem número, onde entesta com 205,00 metros; seu patrimônio transferido para a IMBEL. Em

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Realengo, as grandes áreas da fábrica ferramentas das linhas de produção. Em permaneceram sob administração das virtude do momento de evolução tecnológica guarnições militares próximas, sem uso mais em que essa transição ocorreu, a história da específico do que, eventualmente, serem fábrica foi pontilhada pela necessidade de utilizadas como pequenos campos de importação de máquinas e de contratação de instrução. Apenas uma área edificada, no mão de obra estrangeira para ampliação da cruzamento da rua Doutor Lessa com a produção. Dada a sua natureza de instituição avenida Santa Cruz, passou a ser utilizada vinculada ao governo, o recebimento de como aquartelamento pela Companhia de recursos para esse desenvolvimento flutuava Material Bélico do 19º Batalhão Logístico. ao sabor das políticas centrais, e a cada surto

Com a extinção da fábrica do Realengo, de investimentos sua arquitetura original foi determinado pelo governo que o Ministério necessitava de adaptações e ampliações, do Exército regulasse a situação dos servidores elevando custos de produção. Soma-se a isso o civis estatutários e dos regidos pela fato de que a localização de uma fábrica de Consolidação das Leis do Trabalho54, explosivos e munições em uma localidade apresentando a opção de transferência para urbana e já densamente povoada preconizava a outras unidades, ou de aposentadoria para os possibilidade de graves acidentes, como o que já possuíam condições de solicitá-la; os ocorrido em 1959, quando a explosão de paióis do Depósito Central de Armamento e efetivos militares foram transferidos para outras unidades do Exército. Munições do Exército, localizado no Camboatá, causou extensos danos em Uma certa lógica econômica pode ser instalações militares e civis55. reconhecida na desativação da Fábrica do Realengo, cujos antecedentes a situavam em Em 1983, seis anos após a extinção da um momento histórico de transição dos Fábrica do Realengo, a mais antiga de suas processos de trabalho, de um modo de áreas, aquela localizada no campo do produção quase artesanal para a produção Piraquara e cuja pedra fundamental havia sido industrial - como visto, nos primeiros anos de lançada pelo imperador D. Pedro II, foi totalmente demolida para dar lugar à funcionamento ainda era possível aos operários improvisarem os aparelhos e construção do condomínio Parque Real, conjunto de seis blocos de apartamentos com

54 Decreto nº 79.659, de 5 de maio de 1977. Extingue Cr$ 49.980.567,00, para a execução das obras urgentes estabelecimentos fabris do Ministério do Exército, que se tornaram necessárias em virtude dos danos transfere bens para a IMBEL, e dá outras providências. causados pela explosão de paióis do Depósito de 55 Decreto nº 44.612, de 15 de outubro de 1958. Abre, Armamento e Munições do Exército. pelo Ministério da Guerra, o crédito extraordinário de

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432 unidades residenciais, construído por Gestão, a Gerência do Patrimônio da União no iniciativa da Fundação Habitacional do Rio de Janeiro e o Governo do Estado do Rio Exército. de Janeiro, que redistribuíram as antigas áreas,

As demais áreas da fábrica, com o passar propondo novos usos públicos para algumas do tempo, foram totalmente cercadas pelas delas ou simplesmente realizando sua venda construções civis, das quais se destacavam para grupos particulares. pelas suas dimensões, que ocupavam grande Os novos usos das áreas desocupadas parte do populoso bairro que se formou a sua pela fábrica foram implantados a partir da volta. Os antigos muros da fábrica foram alienação dos imóveis por parte do Comando cobertos por pichações e pela poeira erguida do Exército, que reverteu à Secretaria do pelo trânsito intenso de veículos; as calçadas Patrimônio da União as áreas localizadas na ao seu redor, sem conservação, passaram a ser rua Oliveira Braga n° 343 (denominada "Área utilizadas como estacionamento, afundando III" da Fábrica do Realengo)57 e na rua sob o peso dos carros. Ao longo das quase três Bernardo de Vasconcelos nº 941 ("Área I" da décadas em que permaneceram abandonadas, Fábrica do Realengo)58. A partir daí foram as instalações, além de ficarem expostas à ação estabelecidos convênios prevendo a dos elementos naturais, foram tomadas pelo construção de unidades federais de ensino mato e utilizadas pela população como técnico nas antigas instalações. Em algumas depósito de lixo e entulho. Mal iluminadas à delas, optou-se pela restauração das oficinas e noite, sofreram o roubo de grades, portas, sua transformação em salas de aula, fiações, encanamentos, postes, telhas e laboratórios e quadras esportivas cobertas; madeiramento. Tudo isso contribuiu com a outras foram apenas arrasadas para dar lugar decadência das antes imponentes construções aos novos espaços. Em 2004 foram iniciadas e com a ocupação aleatória do seu entorno. obras de restauração nas áreas da rua Bernardo

Somente mais de duas décadas depois da de Vasconcelos, que possibilitaram a extinção da fábrica é que foram iniciados inauguração, já no ano seguinte, de uma acordos entre os Ministérios do Exército56, da unidade escolar do Colégio Pedro II. A unidade passou a atender cerca de mil alunos Educação, do Planejamento, do Orçamento e na localidade, oferecendo ensino médio

56 Comando do Exército, subordinado ao Ministério da competência para alienação, por venda, do imóvel Defesa, a partir de 1999. Lei Complementar nº 97, de 9 cadastrado sob o n° RJ 01-0398. de junho de 1999. Dispõe sobre as normas gerais para 58 Despacho Decisório nº 005, de 16 de janeiro de 2004, a organização, o preparo e o emprego das Forças do Comandante do Exército. Reversão de parcela de Armadas. imóvel situado em Realengo/RJ à Secretaria do 57 Portaria n° 195, de 17 de abril de 2003, do Patrimônio da União (SPU). Comandante do Exército. Autoriza e delega

Revista Digital Simonsen 66 integrado e o Programa Nacional de Integração microbiologia, análises clínicas e histologia. A da Educação Profissional com a Educação expectativa era de que a escola oferecesse, Básica, na modalidade Jovens e Adultos. inicialmente, 560 vagas no nível básico para as

Três anos depois, com a presença do áreas de saúde, meio ambiente, gestão, presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foram informática, turismo e química. Para o nível inauguradas novas dependências no colégio. A técnico seriam oferecidas, no primeiro ano, unidade foi ampliada, ganhando biblioteca, 520 vagas no curso de saúde. Em 2009 já complexo desportivo e centro de cultura estavam em funcionamento os cursos de popular, em um investimento custeado pelo graduação em Farmácia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional. Ministério da Educação. A unidade escolar, na ocasião, já contava com uma biblioteca digital Por um lado, esse trajeto de reformas equipada com 60 computadores, auditório e protegeu consideravelmente o que restava do salões de exposição. Possuía, ainda, duas patrimônio material da fábrica, quadras esportivas e um centro de cultura. Ao compatibilizando-o com os novos usos e com final do ano de 2009, outra grande parte das a necessidade de transformação das antigas ruínas se encontrava em processo de áreas, agora incluídas na política local de restauração. renovação urbana. Resta, a julgar pelas fontes

Em 2007 foi assinado um novo convênio encontradas até hoje, despertar o interesse entre o Ministério da Educação e a Prefeitura sobre os aspectos históricos e sobre o valor do Rio de Janeiro, para a construção da arquitetônico das antigas edificações, que por unidade Realengo do Instituto Federal de muito tempo foram encaradas com Educação, Ciência e Tecnologia. A unidade desinteresse, ou julgadas funcionalmente seria construída em uma parcela de quase 3 mil ultrapassadas. metros quadrados da antiga seção de O abandono das áreas e edificações da metalurgia da Fábrica de Cartuchos, na rua Fábrica de Cartuchos, bem como sua Oliveira Braga. O projeto, contando com deterioração e posterior ocupação sem maiores recursos do Programa de Expansão da critérios de preservação da memória da Educação Profissional do Ministério da presença militar naquele local, forçam ao Educação, previa a construção de novos reconhecimento da necessidade das prédios e a aquisição de equipamentos para transformações implementadas. Mas esse laboratórios de enfermagem, segurança do mesmo abandono foi oriundo tanto da escassez trabalho, análises químicas, informática, e da precariedade de iniciativas que manipulação e produção farmacêutica, registrassem ou preservassem as memórias

Revista Digital Simonsen 67 relacionadas à sua história, quanto do desprezo 1937). São Paulo: Companhia das Letras, 2007. pelas expressões arquitetônicas dos velhos NETO, Domingos. M. Gamelin, o prédios, que foram esquecidos e se tornaram modernizador do exército. Tensões desconhecidos na História, fragilizando a Mundiais. v. 3, n. 4, p. 10-30. 2007. percepção do relevo da antiga Fábrica de RODRIGUES, Fernando da Silva. Da chegada da Missão Militar no Brasil em 1936 à Cartuchos do Realengo e do seu papel, tanto na dominação total da influência doutrinária configuração da sociedade local quanto na do exército do Tio Sam no exército do Zé Carioca. Cadernos da FaEL, v. 1, p. 1- criação e no desenvolvimento da indústria 15, 2008. bélica nacional. VIANA, Claudius Gomes de Aragão. História, memória e patrimônio da Escola Militar do Realengo. 2010. 176 f. Dissertação (Mestrado em Bens Culturais REFERÊNCIAS e Projetos Sociais). Centro de Pesquisa e Documentação de História Fontes primárias Contemporânea do Brasil - Fundação BRASIL. Annaes do Parlamento Brazileiro. Getúlio Vargas, Rio de Janeiro, 2010. Rio de Janeiro: Typographia Imperial e Constitucional de J. Villeneuve & C., 1877. _____ Coleção das Leis da República Federativa do Brasil. Disponível em: . Acesso em 20 de março de 2008. _____ Relatórios do Ministério da Guerra. Disponível em .

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