hans otte PDF version 1.0 081020 sound of sounds

edition :dacapo:

joana gama hans otte – sound of sounds ingo ahmels

A 10 de Maio de 2010 recebi um – Studien zum künstlerischen Contra todo o tipo de obstáculos,

email de um amigo com o título Schaffen e assistente de Hans para mim foi um grande prazer

“Hans Otte”. O email continha Otte desde 1995 até a morte do trabalhar, como co-curador, com apenas a frase “Para o caso de compositor, em 2007. a Joana Gama. não conheceres…" e, como

anexo, o primeiro andamento do Considerando a relevância do tra- Como amantes de música, nem Apoio ciclo para piano “O Livro dos balho artístico de Hans Otte crises económicas nem pandemi- Sons” / “Das Buch der Klänge” Goethe-Institut Lisboa interpretado pelo próprio compo- (música, texto e instalações sono- as nos iriam, de maneira alguma, :dacapo: gGmbH, CESEM – NOVA FCSH sitor. ras), propus a Ingo Ahmels a co- impedir de prosseguir caminho curadoria de um ambicioso pro- com o "sound of sounds". Esta publicação teve apoio do De facto desconhecia o composi- CESEM – Centro de Estudos de Sociologia jecto de apresentação de Hans e Estética Musical da NOVA FCSH, tor e esta música, que me cativou Otte em Portugal. Este projecto, Tal como o Goethe-Institut financiado por fundos nacionais através desde o primeiro momento e que que envolve diversas instituições Lissabon, todos os nossos parcei- da Fundação para a Ciência e a me levou a ouvir todo o ciclo e a Tecnologia, I.P,. em Portuguesas e Alemãs, não ros mostraram uma grande con- querer saber mais sobre o homem no âmbito do projecto pôde acontecer, tal como idealiza- vicção em querer trazer a música por detrás da música. UID/EAT/00693/2020. de Hans Otte a Portugal... apesar do, em 2020, mas não quisemos • Curatores principais do projeto Enquanto pianista, fiquei fascina- deixar de dar um primeiro passo. dos muitos obstáculos. HANS OTTE – SOUND OF SOUNDS: Joana Gama e Ingo Ahmels da pela quietude hipnotizante da • Goethe-Institut Lisboa: Julia Klein música de Hans Otte e, desde Nesse sentido, paralelamente às O próprio Otte pertenceu à rara • Culturgest: Pedro Santos actividades agendadas - a minha espécie de "criativos discretos", • Tradução: Patrícia Lara aquele primeiro contacto, senti que conseguem manter a sua in- • Design :dacapo: ggmbh, Bremen que esta música deveria ser apre- Palestra ao piano (Goethe Institut • Fotografias: Silvia Otte, Nora Farell sentada em Portugal, onde era, de Lisboa, 8 de Outubro) e ao tegridade artística, seguindo ape- e Ingo Ahmels, cover foto: Silvia Otte para minha surpresa, quase total- meu concerto de “O Livro dos nas uma lógica interior. Foi assim © 2020 by :dacapo: All rights reserved! mente desconhecida. E se o era há Sons” (Culturgest, 9 de Outubro) que, ao longo de décadas, Hans Contacto »[email protected]« Otte produziu, lentamente e con- [Textos primero publicação impressa bi- dez anos, continua a sê-lo em - apresentamos nesta brochura a lingue Deutsch/English»Ingo Ahmels, 2020. primeira tradução para Língua sistentemente, obras de arte chei- Hans Otte – Klang der Klänge / Sound Portuguesa de diversos elementos as de poesia, sempre em busca of Sounds«, editado por Rolf W. Stoll, © , New York 2006 (Schott Music O contacto mais aprofundado que proporcionarão um primeiro de mais ouvidos e corações. International) ISBN 3–7957–0586-X] com o legado de Hans Otte acon- contacto com o universo do com- teceu graças à edição “hans otte - positor que, assim cremos, vale a pena conhecer. klang der klãnge - sound of sounds” (Schott Music Interna-

cional) da autoria de Ingo Ahmels,

doutorado pela Universidade de Bremen com a tese Hans Otte – 0 1 Ingo Ahmels Isso é, claro, [muito significativo] verão, tornando-me depois mem- da Idade Média e do Renasci- que ele tinha sido recrutado para por ser tão sensual e tão lírico. Conversa com Hans Otte para um jovem músico que, na bro efetivo. Aí, tive a grande mento. Também tínhamos um o exército. Por isso, já tinha tido Com a voz e com a respiração. É realidade, veio de uma tradição oportunidade de estudarar músi- pequeno grupo, um grupo vocal, uma pequena experiência. Então, maravilhoso trabalhar com canto- Otte Acho que vivemos num fan- bastante sólida. Toco piano desde ca. Aos 19 e 20 anos, fui o único e colocámos isso em prática. Com também estudei órgão para res. tástico e grandioso século. É pre- os meus cinco anos de idade e solista-repetidor a ensaiar esse pequeno grupo de 12, 13 dominar melhor este instrumento, Principalmente, a combinação ciso lembrarmo-nos disto: este é componho desde os meus oito. Butterfly, Otello, Le nozze di alunos, também fizemos um porque adorava órgão. Depois, entre a bela sonoridade do piano o século em que houve o desen- Sinfonias inteiras, não é? Com o Figaro, Weiße Rössl - estas são as espetáculo memorável, em Nova entrei em contacto com Frank B. e das vozes, não é? volvimento mais incrível que se seu próprio teatro de fantoches principais obras de que me lem- Iorque, no Cloisters. Este é o tal Bozyan, um “ex-arménio”, que Sim, não é verdade? Não há possa imaginar de todos os parâ- infantil, acho eu. Construiu um bro - para grande satisfação do mosteiro medieval que foi recon- também me deu acesso ao maior nada mais bonito. É um dar e metros musicais e, de uma forma pequeno palco para si mesmo. Diretor Geral de Música na altura struído aqui, com pedras de órgão Walcker, no Woolsey Hall, receber tudo em simultâneo. ou de outra, artísticos, também Eu também fiz teatro. Também - pois trabalharam muito bem França e de Espanha, creio eu, e para que eu pudesse tocar as Bem, e depois, Hindemith lem- pictóricos, claro, e igualmente um celebrei santas missas no meu comigo. Mais tarde, depois de ter que fica um pouco acima do rio maiores obras neste grandioso brou-se de mim e tive esta opor- desenvolvimento das ciências quarto de criança. O meu pastor vindo para o Ocidente, tive tam- Hudson. Foi aí que fizemos estes órgão antigo. Um dia, apareceu tunidade incrível - creio que teria naturais, desde o século passado alemão era o meu assistente, mas bém a sorte de, mais uma vez, eventos ao ar livre. Houve uma lá Fernando Germani, o primeiro 25 anos na altura - de ser convi- até agora - espantoso! E tudo o não gostava muito do cheiro do ser presenteado, pelo acaso, com afluência incrível. Hindemith era organista da Basílica de São dado pela Filarmónica de Berlim que veio daí! Não esqueçamos incenso. Nos anos que se segui- um famoso professor. muito apreciado lá, em Nova Pedro, em Roma. Comecei a con- para tocar com a orquestra Die que, no início deste século, Verdi, ram, tive também a sorte, o É , não é? Iorque. E, no geral, a música anti- versar com ele e ele disse-me: Vier Temperamente, de Hinde- Richard Strauss, Gustav Mahler desejo e o discernimento de saber Não, ainda não. Não era esse. Era ga, também. Lembro-me que »Se você quiser, venha no próxi- mith, para um disco da Deutsche ainda estavam vivos e que que, se me quisesse tornar num Hindemith. Em 1949, houve aqui quando a Landovska lá tocava, mo ano a Roma, ou antes, a Grammophon. E isso, por sua Schönberg aparecia pouco tempo músico, teria de ir ter com os um concurso entre universidades ficava tudo esgotado. Não se Siena, darei lá as minhas master- vez, resultou num convite para depois, mais os seus alunos melhores, onde quer que estives- para uma bolsa de um ano na conseguia arranjar bilhete e, no classes, nesse Verão«. Então, uma digressão de concertos com Webern e Berg. Stravinsky, em. A primeira alegria tive-a na Universidade de Yale, na Amé- nosso concerto, as pessoas per- depois da América, fui para lá e a Orquestra Sinfónica de Bam- Debussy ainda estavam vivos. minha terra natal, em Breslau, rica, em New Haven, Connecti- maneceram lá, em pé, nos claus- estudei com Fernando Germani. berg, juntamente com Hindemith. Ravel,… onde conheci o polaco Bronislav cut. Recebi uma destas cinco ou tros. Apenas uma terrível trovoa- No pouco tempo em que ele E isso teve como consequência Ahmels Satie! von Pozniak, um excelente pia- seis bolsas de estudo. Como da, que veio de repente, levou esteve comigo, aconselhou-me, ter tocado os seus concertos para Satie, Charles Ives, Mercier, e nista e pedagogo, que abriu ver- disse, na Universidade de Yale, este concerto memorável a um entre outras coisas: "Até lá, todo piano, em 1945, com outros poderíamos continuar a citar dadeiramente o meu coração ao precisamente no ano em que final duplamente memorável. Foi o Bach". No entanto, não conse- maestros. Toquei o seu Ludus nomes até Stockhausen e Boulez. canto do piano. O som do piano! Hindemith lá lecionava, porque também um evento sonoro, por gui encontrar nenhum órgão em Tonalis e as três sonatas, e muito Tudo neste século. Acima de Isso era muitas vezes mais impor- ele alternava sempre um ano em assim dizer... Estugarda que me permitisse pra- mais. Como aluno, eu também tudo, o que se produziu é fabulo- tante do que tocar determinadas Yale e um ano em Harvard, [en- Um evento sonoro. Em baixo, o ticar regularmente. Assim, isso me senti de alguma forma grato, so! Foi por isso que falei de um peças com perfeição. Ele preferiu tre] estas duas antigas universida- caudal do rio Hudson, por cima, falhou irremediavelmente. Mas e a obra de Hindemith não era século realmente rico. Tenho a sempre a expressividade e sabia des bem conhecidas. São de os cantores, rapazes e raparigas. lembrei-me que, há uns anos assim tão conhecida, naquela sorte de estar neste mundo desde transmiti-la maravilhosamente. 1742, construídas em estilo góti- Hindemith no meio, que nessa atrás, tinha sobrevivido como altura. O Ludus Tonalis era ainda 1926 e, sobretudo, após [...] a Depois da guerra, arranjei outro co. altura se parecia sempre um pianista e tinha várias atividades. algo de completamente novo. Segunda Guerra Mundial, de professor de direcção, que foi Para os padrões americanos, são pouco com Anton Bruckner, em Comecei na escola de ballet da Também não havia assim tantos poder experienciar toda esta Hermann Abendroth, hoje já muito antigas. termos de estilo. Além disso, Staatsoper, passando depois para pianistas extraordinários que colossal abertura. esquecido, um maestro com qua- Muito, muito antigas. Tive a houve a possibilidade de tocar o acompanhamento de solistas. tivessem competência pianística Então, nasceu exatamente na lidades especiais, principalmente oportunidade de passar lá um órgão, porque em New Haven, Por exemplo, acompanhei a para tocar uma literatura tão con- altura certa? no que diz respeito à música clás- ano com Hindemith, que não deu na Universidade de Yale, havia famosa Lenora Lafayette, uma temporânea. Sim, mais ou menos: Claude sica. Foi ele quem, então, me diretamente composição, mas sim numerosos órgãos. Eu já tinha cantora negra, com um talento Sim, isso foi logo no início, posso Monet teve de morrer para que colocou em Meiningen, onde fui teoria da composição e, sobretu- substituído o nosso organista na extraordinário, ou Bruce Boyce, dizê-lo. Mais tarde, também nes- Hans Otte pudesse nascer [risos]. solista-repetidor nos meses de do, familiarizou-me com a música aldeia, quando era criança, por- do Covent Garden. Adorei Lied, se domínio, apresentei as minhas 2 3 Passages, em Donaueschingen, indicações sobre transições e mundo e o que está a ser pensa- música ocidental, mas que pare- nova prática de apresentação de histórica com instrumentos anti- ou os meus Momente, com a sobre modulação. E ouvi-lo tocar, do e a ser feito. E o primeiro cia ressoar eterna e inalterável. música antiga. Ainda parcialmen- gos, e não, como acontece com o Orquestra Nacional, em Paris, repetidamente, durante três dias, encontro com a música medieval Fosse uma pancada de gongo, te incompleta, tal como hoje se piano, por exemplo, que no com Scherchen. Era o meu sus- foi absolutamente fabuloso. Era surgiu através das produções de um mantra ou uma Raga. Tudo sabe, regista atualmente um domínio da música antiga é sem- tento. E como já ganhava tão assim, o professor Gieseking. arquivo lançadas nessa altura permaneceu por si mesmo, sem grande desenvolvimento [históri- pre tocado em instrumentos bem a tocar piano, era justo pen- Depois, é claro, fui descobrindo pela Deutsche Grammophon. Um qualquer desejo súbito de deixar co]. Foi-se descobrindo cada vez atuais. A descoberta do pianofor- sar: agora vou procurar um cada vez mais toda a nova músi- dos primeiros discos incríveis foi os sons vaguear e perspetivarem- mais e, entretanto, toca-se a te, que as pessoas de repente mestre para mim, na verdade, ca. Especialmente, através das o de Safford Cape, com o se ou dominarem de alguma música antiga como música nova, quiseram descobrir como poderia um Mestre de primeira qualida- estreias arrebatadoras da Süd- Ensemble Pro Musica Antiqua, forma, mas, sim, com o desejo de como se fosse a primeira vez. É ter soado. de, autorizado a ensinar nova- westfunk, das obras de Schön- com Messe de Notre Dame, de permanecer com os sons e desco- maravilhoso ouvir estes trabalhos Não é uma maravilha ouvir mente, dado que tinha sido sus- berg, como, por exemplo, o seu Guillaume de Machaut, uma brir-lhes a sua natureza. Essa foi quando já não são tocados sinfo- Mozart num pianoforte? O som é penso [profissionalmente] por um Opus 16. Quase não havia regis- peça que aponta para o futuro uma palavra de ordem também nicamente ou segundo um deter- absolutamente incomparável. tempo [acusado de ser simpati- tos, dificilmente nos podíamos de forma inefável, para o século para mim, quando mais tarde vim minado ponto de vista. Depois, as tonalidades e as esca- zante nazista], acho eu. Era ele informar. Bem, Rosbaud, em XX, se quiser. E as primeiras para Bremen, em 1959, e assumi As primeiras apresentações de las adquirem um significado Walter Gieseking, que, uma vez Südwestfunk, fez um trabalho músicas de Perotinus e Leoninus, o departamento de música. Eu Palestrina, em 1905, acredito que totalmente diferente. E o timbre por mês, dava cursos durante incrível como um dos primeiros composições a duas vozes... tinha apenas 32 anos naquela tenham soado como uma brinca- do instrumento também. três ou quatro dias em Saar- maestros. Mais tarde, Günter Esta é uma divulgação que tam- altura, era o mais jovem diretor deira de mau gosto ou algo do E o ambiente também. brücken, na Universidade. Isso Wand também, que, aliás, aju- bém só foi possível graças à era musical, aqui, na ARD e, por isso, género! É preciso lembrar que Absolutamente maravilhoso. E foi, claro, maravilhoso. Éramos dou Mercier a lançar-se aqui. dos meios de comunicação, por começou também, aqui, o primei- foram tocadas assim [na perspeti- monumental. um grupo de cerca de doze estu- Hoje é tudo tão evidente. Hoje tornar viável a visão, a visão his- ro pequeno festival de música que va clássico-romântico-sinfónica]. E o significado do Si Maior, a cor dantes de todo o mundo, do está tudo disponível em mil gra- tórica, num sentido muito mais organizei: Pro Musica Antiqua - Só a rica amplitude de som de do seu som! Uruguai, da Grécia, de Paris, de vações. Ainda me lembro das pri- alargado. Antigamente, antes da que se chamava Cape Pro Musica um violino de hoje, a rica ampli- Sim, absolutamente maravilhoso. Nova Iorque e de Estugarda, de meiras apresentações de Webern, rádio, antes do disco, as pessoas Antiqua, porque o Ensemble de tude da charamela, os instrumen- Para voltar à questão do som co- onde eu vim. Ouvir todos a num festival de música, em Estu- apenas tocavam música da Safford Cape também se chama- tos do Extremo Oriente! Na mo núcleo central: é preciso indi- tocar, conhecer o repertório, co- garda, em que os dois trompistas época e, por isso, na verdade, va Cape Pro Musica Antiqua - Índia, a flauta japonesa de car brevemente o que aconteceu nhecer maneiras de interpretar tocaram toda a partitura uma tinham uma visão muito limitada. com Messe de Notre Dame, de bambu (shakuhachi)! Que instru- ao som, sobretudo depois de a foi absolutamente celestial. O quinta abaixo - porque [algo] foi Bach só foi redescoberto por Machaut, ou ars nova, como era mentos tão ricos! Os alaúdes, tonalidade se ter transformado próprio Gieseking não falava esquecido e o maestro não repa- Felix Mendelssohn Bartholdy, e chamada na Idade Média. como se chamam todos eles e cada vez mais numa espécie de muito. Ele só nos afastava para o rou nisso! O estrépito lá atrás, só isso representava já esse novo Sim, é verdade. que, entretanto, já tinham sido cromatismo, digamos, num espa- lado no banco do piano e, meio porque não tinham percebido aspeto de se poder, de repente, Um ano depois, apareci com introduzidos há muito tempo por ço tonal, em que, cromaticamen- a cantar, tocava certas passagens. que estava tudo anotado [na ampliar a visão, não só histórica, música nova e toquei, de certa Ingo Ahmels, aqui em Bremen. É te, de certa forma, tudo é possí- Não entrava de modo nenhum clave de sol] e não transposto na própria tradição, como tam- forma, "música antiga", nomea- de boa prática familiarizarmo-nos vel. em detalhes técnicos, porque [...]. Portanto, essas atribulações bém, tornando presente a música damente da Escola Vienense: com eles, para aperfeiçoar o seu Schönberg tentou trazer alguma dizia: vêm todos de uma escola iniciais, bem como as dificuldades de outros povos. Schönberg, Webern e Berg, com conhecimento. Afinal, eles volta- ordem a esta situação e conse- de piano completamente diferen- dos maestros que, simplesmente, Sim, e é claro que foi o primeiro o ensemble Die Reihe. Aí, pôde ram a integrar todo o panorama guiu. E Webern e Berg também. te, a americana ou a sul-america- não dominavam a partitura,cons- encontro com a música não-eu- ver-se como o antigo e o novo da música. Eles tentaram racionalizá-la, de na ou a europeia - por isso não tituíram grandes experiências. ropeia, como lhe chamam. Isso muitas vezes combinam maravi- Pode dizer-se que, através da certa forma. Isto por um lado. O interferia. Ele assumia que a Assim, dediquei-me cada vez foi extraordinário, sem dúvida. lhosamente um com o outro. abertura deste horizonte históri- que ainda não foi definido foi, técnica já estava trabalhada. mais à composição, mas, ao De repente, havia um tipo de Nestes dois aspetos, dei sempre co, o som, na sua essência, tor- naturalmente, aquilo [o parâme- Sugeria opções de simplificação mesmo tempo, crescia em mim música que não estava sujeito ao continuidade, especialmente, ao nou-se o centro da consciência. tro] que diz respeito ao tempo [a individuais, dedilhações especiais esta curiosidade: tenho de saber processo dinâmico da história da que o Safford Cape fez. Ele foi Tal como o som dos instrumen- duração]. Mas, ao longo do tem- para passagens difíceis, ou dava o que está a acontecer neste música aqui, no Ocidente, da um dos primeiros a iniciar uma tos. Procurou executar-se música po, tem havido um desenvolvi- 4 5 mento assinalável. Já no Opus lado, e está agora! Desde que, no timbre, intensidade, etc. –, isso do ego - o de lançar moedas, ori- 16, de Schönberg, que vai aos mínimo, o possa levar consigo, conduziria à sua "indiferença" ginalmente varetas de milefólio, limites da instrumentação. O som ele torna-se transportável e tudo tonal, pela "sobre-organização mais tarde dados, hoje até pelo vai-se tornando cada vez mais o mais. Na verdade, os limites do som individual". Tudo soava a computador - através do I Ching, alto, cada vez mais alto e cada das categorias de som definidos tudo. E, com isto, estamos quase um livro com 5.000 anos, através vez mais baixo, com a adição de desta forma foram, até agora, no Cage, em Darmstadt! do qual esta prática de dados foi novos instrumentos. Para baixo e ultrapassados. Do som claro ao Sim, mas [este processo] foi conhecida. Este não é um livro de para cima, através também da ruído branco, há uma enorme muito cedo abandonado, este adivinhação, como as pessoas eletrónica, quase no limite do que variedade. As amplitudes de to- tipo de matemática racional ou também pensam erroneamente, é o campo auditivo humano pode das as propriedades alargaram- gramática racional. Com isto, antes um bom amigo. Diz-lhe suportar. Quanto à duração do -se imenso... tentou definir-se, primeiramente, sempre o que lhe está a aconte- tempo, ele pode ser incrivelmente ... os espaços alargaram-se e os todo esse espaço incomensurável cer, em que posição se encontra. longo, mas [também] incrivel- parâmetros tornaram-se cada vez de sons e poderia em breve ser É por isso que é pensado muito mente curto. Pode tornar-se tão mais autónomos. tratado de forma muito mais mais artisticamente, embora seja espantosamente rápido que, no Sim, especialmente a questão independente e livre. Basta pen- também um ato do ego, ao dei- fim, os sons se desdobrem em espacial, imensa! Também aqui, é sar em Pierre Boulez, em xar as coisas serem determinadas cores sonoras. claro, a música serial tentou orde- Improvisations sur Mallarmé ou desta forma, separar-se do seu O mesmo acontece com as nar as coisas. Ouvimos constan- Le marteau sans maître. Obras ego. Não participa do processo miniaturas de Schönberg, Opus temente que o conceito de serial que utilizavam estes elementos em si ou não o vivencia. 19, número 1, por exemplo. Essas é mal aplicado e que se referiria, muito mais livremente do que Ou diminui para 99,9%. Este pequenas microformas, em que o principalmente, a séries específi- submetendo-os a certas séries 0,1% corresponde à decisão do som e o tempo rápido colocam cas. Significa antes que as dife- matemáticas. Então, em todo ego de renunciar [ao controlo]. em primeiro plano o tempo psi- rentes camadas de sons poderi- este circo, apareceu um homem Mas, ainda assim, todo o proce- cológico. am, por assim dizer, tornar-se do longínquo Oeste... dimento decidido por mim é Sim, tudo isto visa sempre cada cada vez mais independentes e ... do Oeste selvagem! determinado pelo ego. Cage não vez mais o momento presente ou também ser utilizadas de forma Do Oeste Selvagem. , lançava os dados ilimitadamente, a presentificação. independente. Portanto, nem que, de repente, formulou uma para tudo e qualquer coisa, mas Hans Otte, foto © Silivia Otte A momentaneidade. tudo é necessariamente determi- teoria completamente nova de apenas para certas obras, instru- O LIVRO DOS SONS PIANO MAN Pense no volume dos sons - co- nado mutuamente pela intensida- pensar a música e, em suma, quis mentos, sempre para uma área mo isso se desenvolveu! O que de ou pela duração [...], mas a devolver os sons aos sons, reti- muito específica, uma questão O compositor Tom Johnson, resi- De Tom Johnson, destaque-se em costumava ser muito alto num "dinâmica" podia agora ser uma rando-lhes o ego, logo, a sua muito específica, como ele dizia. dente em Paris, escreveu um arti- particular uma frase notável, pre- concerto sinfónico é agora facil- determinada camada ou "tim- determinabilidade pelo composi- Ele não queria respostas, queria go para o nova-iorquino Village cisamente por ter sido escrita por mente ultrapassado pela música bre", "articulação". Considerou- tor. Cage afirmou em todos os fazer perguntas sobre o material Voice sobre a estreia de Buch der um compositor e pianista expe- rock e afins. Só tem de se ver isso se o valor intrínseco, a indepen- seus escritos, que foram forte- musical. Klänge em Dezembro de 1982, riente: «Senti que estava a entrar como uma qualidade, o som dência dos sons. Assim, nasceu mente influenciados pelo Zen, 1 sob o título «Piano Man» . O seu em contacto com o som, de uma nunca esteve tão alto. Depois, o uma música que procurava res- que os sons não precisam de ser Versão ligeiramente adaptada por Ingo relato repete algumas das ligaçõ- forma que nunca antes tinha espaço. Tocava-se o instrumento postas num grande reservatório adicionalmente determinados, Ahmels, da transcrição de Karim Hmida, es já mencionadas, mas, em pou- experienciado.» confinado em salas de concerto e de possibilidades... definidos, ajustados, melhorados Lisboa 2020 © by :dacapo: ggmbh, Bre- men 2005. Segunda publicação do suple- cas palavras, abre um panorama em salões ou em casa. De repen- ... que também levou a parado- pelo compositor. Não era o ego mento em DVD da publicação impressa de trabalho profundamente foca- Piano Man: Hans Otte te, aparece o walkman, o som xos: se alguém subordinasse cada que era suposto escolher a partir bilingue "Ingo Ahmels, Hans Otte - Klang do e pode ajudar-nos a entender 14 de Dezembro de 1982 vagueia. Ou o autorrádio, em camada da sua própria série a deste enorme conjunto de sons, der Klänge / Sound of Sounds", editado por Rolf W. Stoll, © Mainz, New York com mais detalhe a poética do A memória do programa de que o som pode estar em todo o todos os parâmetros - duração, mas sim um processo libertado 2006 SCHOTT MUSIC INTERNATIONAL som de Hans Otte. Mauricio Kagel e a estreia da 6 7 obra de John Cage para cinco a peças semi-minimais para tar referências ao passado, Otte é do teclado, e as texturas também suave. As harmonias das teclas atualmente, tal como a música orquestras, que ouvi no Metz ambientes de som/luz e produ- um sintetista, reunindo ideias são relativamente convencionais. brancas da oitava peça tornam-se computorizada, obras orque- Festival no último outono, ainda ções de vídeo, tornando difícil a antigas e ideias novas, e fazen- Quatro das peças (3, 4, 8, 12) estranhamente cromáticas de strais, ópera, quartetos de cordas, está vívida na minha mente, por sua classificação pelos ouvintes. do-o de forma inteligente e sen- são na verdade apenas sequênci- tempos a tempos. A ondulação escultura sonora e voz solo, mas isso regressei este ano à pequena As pessoas que são conhecidas sível. Otte iniciou ‘The Book of as de acordes, três (2, 7, 9) da décima peça é abruptamente não consigo pensar em três cidade francesa, na esperança de há algum tempo tendem a ser Sounds’ em 1979, e só este ano seguem padrões simples de arpe- interrompida, a dada altura, com maiores obras recentes que me encontrar recompensas semel- ignoradas e compartimentadas, e o terminou, e é óbvio que o tra- jo, quatro (1, 5, 10, 11) movi- a inserção de seis acordes lentos. tenham agradado tanto como hantes nos 11os ‘Rencontres isso parece ser ainda mais verda- balhou durante muito tempo. mentam-se entre duas sonorida- A décima segunda peça desen- estas três para piano solo. O internationales de musique con- de na Europa do que na América. Tocando maioritariamente de des, e uma (6) é apenas uma volve-se no registo superior, instrumento de Chopin está vivo temporaine‘. Mais uma vez, tin- Assim, reparei que algumas das memória, o compositor mostrou- melodia que podia ser tocada exceto quatro notas graves que e bem, e tão fresco e criativo ham sido programados cerca de pessoas que tinham assistido se sempre sereno, consistente, com um dedo. E, contudo, há se intrometem, como vindas de como sempre, e o mesmo se 10 concertos para quatro dias, entusiasticamente a outros con- confiante. Parecia que tinha algo de novo em toda a música. outro mundo.Não consigo deixar pode dizer de Hans Otte. mais uma vez, as salas cheias de certos do festival não se deram tocado estas peças durante anos, Isto liga-se, de alguma maneira, de me lembrar que, no início dos novos profissionais de música e ao trabalho de aparecer no reci- e, claro, fora realmente assim. com uma atividade formal e har- anos 70, por vezes parecia que o Excertos do texto alemão, extraídos da fãs de toda a França e Alemanha tal de Otte. Sem saber o que Também a música parecia serena, mónica incomum, mas também antiquado piano acústico estava versão em PDF de Schott-Publikation »Ingo Ahmels Hans Otte – Klang der Ocidental, e, mais uma vez, pensar disso, e tendo aversão a segura de si, segura do que esta- com inter-relações entre movi- praticamente acabado. Após anos Klänge / Sound of Sounds, Mainz/NYC perdi cerca de metade das ativi- compartimentações, pude ouvir o va a dizer. Tive a sensação de mentos. Muitas vezes, quando o a tocar o pobre instrumento com 2006« dades. Mas, novamente, voltei que foi talvez o concerto mais que o compositor experimentara compositor começava uma nova martelos e garrafas, a amplificá- para casa com uma experiência ponderado, mais bem executado várias alternativas antes de fazer secção, eu tinha a sensação de lo com todo o tipo de microfo- que sei que irá permanecer comi- e mais inspirador do festival. as escolhas finais, em todos os estar a reentrar no tempo, no nes, e a dar cabo dele com peças go durante muito tempo. Desta ‘Book of Sounds’ [Das Buch der detalhes, nos pequenos contras- registo, ou no universo harmóni- do género destrua-o- instrumen- vez, foi um recital de piano solo Klänge / O livro dos Sons] é um tes na dinâmica, nas pequenas co de uma das peças anteriores. to, já era difícil levar a sério o pelo compositor alemão ociden- conjunto de 12 peças que durou, mudanças de harmonia, na colo- Não creio que ‘The Book of velho som de Chopin. Acho que tal Hans Otte. nessa atuação, cerca de uma hora cação dos elementos contrasti- Sounds’ seja rigidamente estrutu- o mesmo acontecia na música Otte, um homem de cinquenta e e vinte minutos. O estilo da obra vos. A composição é dedicada a rado, mas há suficientes ligações popular, em que os teclados elé- tal anos, foi aluno de Hindemith pode ser considerado minimalis- ‘todos aqueles que querem apro- entre os andamentos em que tricos tomaram quase completa- e Gieseking. Ganhou reconheci- ta, dado que cada peça está ximar-se do som, para que, em cada um parece informar os mente o lugar do piano de mento muito cedo na sua carrei- escrita numa textura bastante busca do som, do segredo da outros. Acontecimentos particu- cauda. Mas agora voltaram a ra, como compositor e como pia- simples, sem clímax nem desen- vida, descubram a sua própria lares nas peças individuais são ouvir-se pianos acústicos com nista, mas, em 1959, aceitou o volvimento no sentido tradicio- ressonância.’ A minha tradução é por vezes bastante invulgares e bastante regularidade, mesmo na cargo de chefe do departamento nal. No entanto, há muito pouca assumidamente insatisfatória, eficazes. O tempo bastante rápi- rádio AM, e, nos campos experi- de música da Radio Bremen e, repetição exata e muita concen- mas o sentimento é o apropria- do é estranhamente interrompido mentais, parece-me que o piano hoje, parece ser bem mais conhe- tração na harmonia. Também há do. A peça explora as possibili- por secções que são subitamente solo tem sido muito utilizado. cido pela sua posição executiva um saudável respeito pela tradi- dades do som a um nível relati- lentas, por exemplo. A segunda Duas das minhas peças preferidas do que pelo seu trabalho artísti- ção. À medida que as texturas vamente profundo, e ouvindo-a peça interrompe-se lá mais para dos últimos anos são The People co. Se isso é em parte porque ele mudam gradualmente de um senti que estava a entrar em con- o fim com uma pequena cadên- United, de Frederic Rzewski e simplesmente não teve tempo conjunto de notas para outro, a tacto com o som, de uma forma cia, como por vezes encontramos Time Curve Preludes de William para se concentrar na sua carreira música soa de algum modo mais que nunca antes tinha experien- nos Prelúdios de Bach, mas Duckworth, ambas grandes obras de compositor, sem dúvida, é próxima de Chopin do que de ciado. Não é que o compositor nunca esperaríamos encontrar para piano solo e, agora, acres- também porque o seu amplo tra- Steve Reich. Enquanto os mini- estivesse a explorar novas cores neste contexto. Na quinta peça cento ‘The Book of Sounds’ de balho criativo abarcou desde malistas americanos se viram do piano. Quase toda a música são superimpostos acentos oca- Otte a esta pequena lista. Há peças atonais mais convencionais como inovadores e tentaram evi- se desenvolve na metade direita sionais numa textura, de resto, muitas outras categorias vivas 8 9 SENTIR OS SONS – sons, do que se compõe.»5 «[Para tivamente, ele ouve, toca, sente Cage, na cidade de Nova Iorque, instrumentos, Cage cria um completamente nova. Cage UM CAMINHO EMPÍRICO mim, trata-se da] vida interior ou as suas séries de sons, modela-as em 1950, mas só uma década extremo composicional para cada abandonou modelos ocidentais (OTTE VERSUS CAGE, TAKE 1) – como diria Schönberg – ‹a vida e reformula-as, inspira-as e volta mais tarde se aproximou cada vez um dos três andamentos, indi- aleatórios como o jogo de dados instintiva dos sons›, que até aqui a expirá-las.8 Só quando parece mais das suas obras e ideias. cando apenas a instrução tacet. musical de Mozart ou os câno- Como é que o compositor de nunca foi devidamente descober- ter sido encontrado um ponto de Já então, Cage perseguia um Decide fazer um ataque radical nes-enigma de Bach, nos quais Buch der Klänge alcança o efeito ta, porque as pessoas avançavam equilíbrio, é que as formas são caminho claramente diferente. ao conceito ocidental de obra, há sempre total controlo do que referido por Tom Johnson (e não Desde o final dos anos 40, que o que até essa data ainda era vin- é possível. Encontrou o seu pró- foi, de todo, apenas ele a referi- som lhe parecia ser um “fenóme- culativo na vanguarda. A fim de, prio processo dessubjetivador de lo)? Encontramos uma pista na no base” universal, que pode pelo menos, limitar o poder arbi- composição, que parece ser biografia de Otte. O artista res- explicar-se dedutivamente. A sua trário (divide et impera) do ego capaz de abolir completamente ponde às exigências totalitaristas meticulosidade era como a de um analisador e materialmente domi- as restrições dependentes do acima referidas com uma questão cientista ocidental empenhado na nado, Cage persegue uma beleza sujeito. O ego do compositor chave que desarma e critica a objetividade, mas, neste período, involuntária do som. Dito de uma supostamente tomou uma única ideologia: «O que faz o composi- Cage volta-se de uma vez por forma não-ocidental: um simples decisão subjetiva: nomeadamen- tor com os sons? Utiliza-os para todas para a metáfora asiática. estado de ser dos sons. Depois de te, a de usar o procedimento representar as suas ideias, concei- Estudos Zen intensivos e discus- 1952, como ele próprio reconhe- aleatório. Não se pode negar que tos, o seu programa político ou sões na Universidade de ce, as suas obras tendem a existir é possível ver nisto um autoenga- literário? Ou procura descobrir a Columbia com Daisetz Teitaro «em harmonia com o silêncio».12 no (frutuoso) e que as partituras própria natureza dos sons e Suzuki (1870-1966)10 levam-no O sistema de referência da sua de Cage soavam por vezes extre- desenvolvê-los no tempo?»2 ao mundo do Tao Te King 11 e do música são as chance operations mamente análogas ao serialismo Hans Otte passou três anos a Zen. A filosofia do extremo orien- descritas no I Ching13. Num anti- sistematicamente hiperorganizado compor a sua mais extensa obra te tornou-se a pátria adotiva de go livro de oráculos asiático, dos anos 50 de Darmstadt, que para piano solo. Ele destilou a Cage. Ele sentia que o seu recen- Cage encontra a ferramenta era o epítome do conceito oci- forma final deste ciclo, subdividi- temente descoberto “ponto de apropriada às suas intenções e dental de progresso. Mesmo do em 12 partes, a partir de mais depressa demais para o som notadas graficamente na partitu- vista asiático” era mais promissor utiliza-a continuamente a partir assim, Cage e o pianista e com- de quatrocentas folhas de esbo- seguinte, [... na] viagem para ra, e, se necessário, novamente na superação dos problemas de agora. Mas, mais tarde, subs- positor David Tudor (1926-1999) ço. Num processo de criação pro- dentro do som [...], uma voyage questionadas e modificadas. O humanos do que a psicanálise titui as chance operations, com as provocaram um tumulto na bipo- gressivo, modificou vezes sem intérieur [...]. Sempre fui uma processo de revisão dialético de que acabara de começar e logo varetas de milefólio ou com o lar «Meca da música ocidental», conta as suas notas, sentado ao [...] pessoa obcecada por sons, e Otte ao serviço do desenvolvi- interrompera. Como é bem sabi- lançamento manual de dados, Donaueschingen/Darmstadt.17 piano e, por fim, condensou-as nunca deixei de procurar a sen- mento é, em suma, o do do, esta última baseia-se na ideia pelo random access computoriza- Até um proeminente expoente na partitura final. O manuscrito sualidade, a clareza. A perceção Ocidente. No entanto, o compo- ocidental de progresso através de do para simplificar o processo de do serialismo, Pierre Boulez, liga- final, de 1982, é constituído por sensorial dos sons: essa era a sitor reconhece, neste contexto: uma análise racional, uma ideia trabalho. do a Cage por laços de amizade, 21 folhas.3 minha grande questão.»6 «É um «Estou grato a John Cage pela da qual Cage se dissocia consis- Cage compreende o arquétipo do desde o final dos anos 40, estava Em conversas com vários entre- antigo sonho meu, descobrir a chamada de atenção para os sons tentemente. silêncio do extremo-oriente como interessado no processo de des- vistadores, o compositor explicou natureza dos sons, e não usar os ‹tal como são› [...], a sua atitude Ele começa também a incorporar simultaneamente presença tonal- personalização (dépersonnalisati- detalhadamente o seu processo sons para dizer uma outra perante os sons e as coisas do o ruído na sua música. Quer espacial e processo mental: on)18. No entanto, ao contrário indutivo: «É frequente procurar coisa.»7 Perscrutar a natureza dos nosso mundo [...]: a arte do dei- excluir dela o sujeito ativo, na «Ouve-se melhor num estado de do método de Cage, o seu fra- durante meses um som muito sons diretamente ao piano tor- xar ir, do deixar ser, do deixar medida do possível. Na partitura vazio mental.»14 Music of seado seguia uma lógica ociden- específico, e a sua natureza nou-se o caminho preferido de acontecer.»9 da chamada silent piece, a com- Changes (1951)15 e Music for tal de desenvolvimento. [...].»4 «Os sons mostram para Otte para a composição, no final Otte já tinha conhecido o seu posição de três andamentos Piano (1956)16 de Cage teste- São evidentes as diferenças da onde querem [e não querem] ir. dos anos 70, o mais tardar. Ao contraponto criativo e futuro 4'33'' de 1952 para qualquer munham a produtividade artística «subjetividade acustico-háptica» Na verdade, segue-se mais os mesmo tempo consciente e intui- amigo, o norte-americano John instrumento ou combinação de da sua abordagem experimental de Otte dos finais dos anos 70. 10 11 Otte sentiu inabalavelmente, ao paciência e suavidade evolucioná- RECEPÇÕES ESTREIAS, CON- pgs.152-156. A sua leitura é terapia, à meditação e ao esote- em 1980, o Partido dos Verdes, seu piano, as suas harmonias e ria. Otte completou, em 1991, o CERTOS, MEIOS DE COMUNI- indispensável para uma interpre- rismo sentem-se tocados. Nesta inicialmente apoiado por artistas sons. Antes disso, porém, permi- seu segundo grande ciclo para CAÇÃO SOCIAL tação profissional da obra.24 fase da vida, Otte aproxima-se importantes como Joseph Beuys tiu-lhes, num ato consciente- piano, iniciado sete anos antes. Apesar de ter recebido o seu pri- do meio heterogéneo dos busca- (1921-1986). O acidente grave intuitivo, desenvolverem as suas Após algumas atuações públicas Hans Otte atuou no domingo, meiro tratamento contra o cancro dores de sentido. Sob pressão de (nível 7 na Escala Internacional de próprias vidas. Isso possibilitou de versões intermédias, ele pró- dia 21 de novembro de 1982, às em regime de internamento, no uma doença que fazia perigar a Acidentes Nucleares), no reator transcender os constrangimentos prio documentou a versão final 11h da manhã, no cinema «Ciné verão de 1983, o compositor sua vida, e que exigia uma nuclear ucraniano de Chernobil, dos sistemas tradicionais de har- em CD, em 2000.19 Na esteira 35» em Metz, na Rue de Verdun, tocou a obra em muitos lugares mudança, ele intensificou os seus em 1986, vê serem concretizados monia funcional, ritmo cadencial, dos Livros das Horas literários do na estreia do seu Buch der do mundo nos doze anos que se estudos das ideias e escritos espi- os piores receios. A crítica à e a forma da obra. No caso de ocidente, como o do Duc de Klänge. Apoiado pelo Goethe seguiram. Numerosos convites, rituais do eclético professor de racionalidade floresce nesses Otte, trata-se de uma revolução Berry ou o de Rainer Maria Institut Nancy, o evento integra- apoiados principalmente pelo filosofia indiana e, mais tarde, anos. suave a partir do interior do siste- Rilke,20 ele integrou no seu se no festival Rencontres Goethe-Institut, levaram o pianis- guru de uma seita, Rajneesh O foco do interesse filosófico de ma, e não da sua transformação Stundenbuch também obras não Internationales de Musique ta ao Brasil, aos EUA, à Coreia, Chandra Mohan (1931-1990).28 Mohan, na parte final da sua radical. Esta diferença entre Cage musicais, como a coleção associa- Contemporaine, organizado pelo ao Canadá e a muitos outros paí- A influência de Mohan, conheci- vida, foi o Zen. O Zen, por outro e Otte espelha, com toda a simi- da de textos aforísticos a que Centre Européen pour la recher- ses, após terminar a sua atividade do por Bagwan, que reuniu mui- lado, foi o ponto de ligação pes- laridade nas suas intenções anar- Otte chama Inschriften che musicale, tendo Claude na Radio Bremen.25 Onde quer tos seguidores na Alemanha soal, pois na casa de Otte existia co-estéticas, as diferenças entre (Inscrições)21, assim como a série Lefebvre como diretor artístico. que Otte fosse, Buch der Klänge Ocidental dos anos 80, poderá um interesse pelo budismo zen oriente e ocidente. É tão signifi- de obras gráficas Einzeichnun- Uns meses mais tarde, Otte gra- era bem recebido. O público em talvez ser explicada pela sua críti- japonês desde os anos 60. Uta cante como a cisão vertical contí- gen,22 que brotaram também da vou-o para a editora discográfica todo o mundo também era toca- ca veemente da racionalidade Otte procurou um mestre Zen no nua entre as portas basculantes sua pena. Buch der Klänge, o Kuckuck, que pertence à editora do pelo facto de o pianista, ao hiperenfatizada e unilateral dos Japão, em 1979, e tornou-se sua alinhadas horizontalmente no multimédia Stundenbuch e as ins- musical Eckart Rahn, de Muni- vivo, anular a habitual separação estilos de vida ocidentais – uma aluna. Os escritos de Daisetz (que centro do duplo retrato de Nora talações artísticas NamenKlang e que. Foi lançado nos formatos de entre compositor/obra e intérpre- crítica que não está distante das significa: grande simplicidade) Farrell […]. A artista tirou esta Ich-Atemobjekt mostram que LP, MC e CD. Em poucos anos te. Devido a esta integralidade, ideias de Wilhelm Reich (1887- Teitaro Suzuki e a literatura base subtil fotografia dos dois amigos, Otte era capaz de expressar a sua foram feitas milhares de cópias, e os recitais de Otte, que não eram 1957). Na instável "destruição budista tornaram-se cada vez em maio de 1992, na cidade de poética ocidental com meios refi- vendeu invulgarmente bem para frequentados apenas pelos con- mutuamente assegurada", que mais familiares a Otte. Práticas de Nova Iorque, poucos meses antes nados e simples, não apenas na música contemporânea. hecedores, eram experienciados parece ter sido quase esquecida, meditação, em que técnicas de da morte de Cage. sua música para piano, mas tam- Nos primórdios dos Compact Disc como autênticos. Para além das apenas uma década e meia após autoperceção se destinam a silen- bém na área de fronteira entre a em formato digital, havia limita- críticas, muitas reações pessoais o o fim da Guerra Fria e da retirada ciar a enchente de pensamentos A busca consciente e intuitiva do poesia, a escultura, o ruído e o ções técnicas. A versão digital em testemunham.26 Mesmo as grava- dos mísseis Pershing II da Ale- – desde o Zazen (sentar-se sem som, por parte de Otte, resultou som. Hans Otte não é um Cage CD foi encurtada em cerca de 5 ções em vídeo, feitas para o manha reunificada, esta racionali- fazer nada) até retiros de Sesshins na obra Buch der Klänge, bem europeu – pelo contrário, é minutos.23 A gravação completa arquivo :dacapo:, transmitem dade conduz a um clima cultural – tinham uma função na sua vida como em mais de vinte obras sobretudo um suave (r)evolucio- cabia no LP de vinil, mas com a algo do “intenso relaxamento” opressivo em grande parte do diária. Tornaram-se uma influên- maiores e menores para vários nário. Só desde a última década desvantagem de que o disco pre- que o pianista Hans Otte conse- mundo ocidental. No meio da cia audível na composição de instrumentos (como as cassetes do século XX perpassa a sua obra cisava de ser virado a meio da gue transmitir ao vivo.27 Alemanha, as superpotências, Otte, especialmente no seu para várias instalações de som, também um audível e visível peça. Em 1984, Eckart Rahn tam- União Soviética e EUA, enfren- Stundenbuch. No início dos anos ver OWV 42-69). Em Stunden- sopro de Zen... bém publicou a única versão OUVINTES NOVOS E tam-se armadas até aos dentes, 90, ele trabalhou nessa peça, buch, concluído 16 anos depois, impressa da partitura. O manu- DIFERENTES, MOHAN, ZEN invocando a racionalidade. As enquanto a sua mulher participa- será evidente como Otte conse- scrito de Otte encontra-se em viagens entre o Este e o Oeste va como laica na vida monástica guiu refinar ainda mais a harmo- OMP sob a sigla HO 1982.1. Um Não é de surpreender que agora são negadas à vasta maioria das do Mosteiro Zen Hosshin-ji, perto nia aberta “sentida” em Buch der extenso relatório de atuações Otte atraia também novos ouvin- populações dos países do Pacto da cidade de Obama, na região Klänge, de forma consequente, com comentários de Herbert tes para a música contemporânea de Varsóvia. Dos movimentos de Fukui-ken, a cerca de uma passo a passo, com grande Henck está no apêndice, para piano. Os círculos ligados à pacifistas e ecológicos emerge, hora de Kyoto. O compositor foi 12 13 honrado com o nome japonês der Klänge sejam bem recebidos, dos sons. Desde a sua despedida INVENTAR SOM AO PIANO fora refinado durante séculos até KANDINSKY – SCHÖNBERG – «Shingetsu» – que significa “lua porque Otte considera cuidado- dos palcos, o pianista Otte (OTTE VERSUS CAGE, TAKE 2) ao non plus ultra. Isso lembra o OTTE refletida na água”. Pelas razões samente todo o ambiente «esféri- encontrou muitos executantes momento em que Salvador Dalí acima referidas, Hans Otte, o co» de compor, tocar e ouvir herdeiros, mais velhos e mais Otte encontra, Cage inventa. Isso (1904-1989), num dos seus fil- Otte encontra. Em termos de «Piano Man», precisava de um música. Ele não é um génio solis- novos. Entre eles, encontram-se reflete-se em Buch der Klänge e mes surrealistas, sobe a uma es- técnica de composição, em Buch piano para compor, que não ha- ta em ação, pertencente aos elei- os alemães Claudia Birkholz, nas Sonatas and Interludes for cada e risca com prazer o «non» der Klänge, desde o início, todas via nas imediações do mosteiro tos, mas claramente «um de Herbert Henck e Philipp Vandré, Prepared Piano (1946-1947).34 do «non plus ultra» escrito sobre as expectativas sobre o consagra- de Obama. Por isso, as suas esta- nós», embora a música para pia- na América do Norte, Margaret O ciclo de Otte usa o instrumen- o portão de entrada: «plus ultra»! do compositor de música nova, das no Japão entre 1990 e 1996 no seja, sem dúvida, o métier de Leng Tan, Lois Svard e Frédéric to tradicional totalmente inaltera- Deveria acrescentar-se aqui que o figura pública da cultura, da rádio foram esporádicas. Mas Harada Otte por excelência. Rzewski, na Austrália, Roger do; Cage, refinadamente, vira-o efeito das atuações ao vivo da e programador de festivais sob Sekkei Rôshi, Mestre Zen de Otte Um quarto de século depois, Woodward e Julia Andrews, a de cabeça para baixo e reinventa- obra de Cage pode ser potencia- pressão, foram ignoradas. No e abade do mosteiro Hosshin-ji, Buch der Klänge continua a fazer suíça Marianne Schröder, o o. O resultado em ambos os ca- do através de uma colocação cui- auge da sua consciência, formada era convidado regular na Ale- parte do repertório de muitos holandês Reinier van Houdt e a sos: obras-primas únicas. John dada dos microfones e melhoria na tradição clássica, na música manha. Em 1999, assistiu à pianistas famosos. Embora alguns japonesa Tomoko Mukaiyama. Cage, fundamentalmente, redefi- da distribuição do som. As perfor- contemporânea e na tradição não estreia da obra de Otte, Mémo- «capítulos» estejam tecnicamente Para alegria de Otte, todos eles niu o som do piano por volta de mances tradicionais de Sonatas europeia, o compositor descon- rial para grande orquestra, de ao alcance de amadores, a obra conseguem encontrar soluções 1946. O seu ciclo Sonatas and and Interludes têm a desvanta- traiu, baseando-se em meios de trinta e cinco minutos OWV 64, representa um sério desafio musi- significativamente diferentes.32 O Interludes, inspirado por Henry gem de apenas o executante criação aparentemente ultrapas- por ocasião da «Peace Prayer cal – apesar da sua transparência pianista e investigador musical Cowell (1897-1965), é uma das poder ouvir toda a riqueza dos sados, de forma quase inocente: Meeting» anual, tocada para estrutural e boa compatibilidade Herbert Henck gravou a obra, em excecionais obras para piano do eventos sonoros – uma desvanta- «Já não escrevia nada para piano uma audiência de trezentas pes- pianística. A partitura não pode 1998, para a ECM em Munique. século XX. Cage expandiu o gem da perspetiva auditiva da solo há muito tempo e queria [...] soas, em Osaka, e gravada para a ser simplesmente só tocada. O O resultado é especialmente con- «som espacial do piano» de audiência que não poderia ter poder fazer música verdadeira- televisão japonesa. O último capítulo 11 exige ser tocado com vincente. Otte fica en-tusiasma- forma extremamente surpreen- sido a intenção de Cage. As res- mente para mim, sem a ajuda de capítulo de Buch der Klänge profundidade de foco, mas tam- do. O texto da brochura de dente, dando-lhe uma dimensão sonâncias que são essenciais à todos estes extras técnicos [...]. encontra-se novamente, aliás, bém com consistente e imperati- Henck, como sempre, exaustiva- não europeia, transformando o peça - sons e timbres extrema- Há muito que este instrumento numa versão instrumental de va compreensão mental e com o mente pesquisado, vai direto ao instrumento, com astúcia e sem mente delicados – são, não raro, não era feito soar como realmen- Mémorial.29 desenvolvimento improvisacional assunto, ao identificar o que con- cerimónias, num ensemble de baixas demais, mesmo a uma te quer soar.»37 Buch der Klänge não exclui per- dos padrões oferecidos. Noutros stitui a essência de Buch der piano e percussão que soa como pequena distância.36 Já em Buch Otte seguiu o caminho de encon- ceções distorcidas do campo eso- capítulos, as decisões de grande Klänge, ainda com mais verdade um gamelão javanês. O coup de der Klänge, no caso de grandes trar intuitivamente o som dos térico. A este respeito, esta obra alcance, por exemplo, no que diz para Stundenbuch: «Contenção, Cage ocorreu em poucas sema- espaços e audiências, há que ter sons - e sem querer reinventá-lo é igual a qualquer outra música respeito à escolha do tempo e ao clareza, compreensibilidade e nas, nascido da falta de espaço em consideração, em determina- com intervenções de nenhum composta com integridade, que número de repetições, são deixa- despojamento são o cunho desta de um teatro.35 Mesmo passados das circunstâncias, a cuidadosa tipo - através da economia de não se pode defender da receção das ao critério dos executantes: música.»33 Precisamente devido à sessenta anos, ainda resulta em distribuição do som. Por outro meios, e, especialmente em e aprovação de sectores duvido- «A duração das peças individuais bem-sucedida redução para e espanto por parte de quem nun- lado, Otte compôs a sua obra Stundenbuch, por extrema redu- sos. As obras de arte também está igualmente dependente da concentração no som instrumen- ca o ouviu antes. Ambas as precisamente para o piano de ção. Parâmetros base como a têm de ser defendidas dos seus capacidade artística do executan- tal como tal, Buch der Klänge obras, Buch der Klänge de Otte e cauda, que foi concebido para as altura, a duração e a densidade amigos. Mas as reações à expe- te; cabe-lhe introduzir as variadas pode ser considerado um marco Sonatas and Interludes de Cage, condições acústicas das salas de são libertados de obrigações para riência auditiva de Buch der figuras de som, para serem repe- do inesperado renascimento do permitem, através do seu alto concerto. com a harmonia funcional e sim- Klänge testemunham a felicidade tidas de forma a que a sua natu- piano nos anos 80. O som do poder de invenção, o que não era plesmente aplicados de diferentes da comunicação que se estende reza possa desenvolver-se livre- piano é aqui marcado pela tradi- previsível, nem nos finais dos maneiras: o som dos intervalos, muito para além da intensidade mente.»31 Apenas o intérprete ção, no entanto, o instrumento anos 40, nem no início dos anos das linhas e dos próprios acordes, de uma noite de piano bem-suce- que se deixa envolver pela obra ainda possui o potencial para o 80: a descoberta de novos aspe- que são agora concebidos como dida.30 Talvez os sons de Buch tem hipótese de penetrar no som “inteiramente diferente”. tos de um produto industrial que agregados síncronos de estados 14 15 de som, torna-se a matéria da dia, quase nunca mais conseguiu turas repetitivas mais indepen- de valores como 5, 7, 9, 10, 11 e som de Otte, Ich-Atemobjekt OWV KI 1, de http://www2.bremen. 1972, versa o tema da respiração, OMP HO de/info/dacapo/dc.html. HB 11-14. composição. atingir o grau de liberdade de dentes em formas mais autóno- 0. Em Stundenbuch, que é 1972.1, cf. pg. 116, bem como HB 10. 20 Rainer-Maria Rilke: Das Stundenbuch, in: Aqui evidencia-se o paralelismo sons alcançado por volta de mas. Por sua vez, os trabalhos de caracterizado por harmonia a 9 ver Nota 2. Werke in 3 Bänden, Vol.1, pgs. [5]-122, com o desenvolvimento das artes 1911. As funções estruturais da Otte dos anos 70 foram influen- duas vozes e efeitos de espelho 10 cf. Daisetz Teitaro Suzuki: Zen und die Wiesbaden 1955 / Frankfurt a. M. 1966. 41 Kultur Japans, ed. Ernesto Grassi, Reinbek 21 Hans Otte: Inschriften, no início do séc. XX. A corres- harmonia – como no título de ciados pela cultura musical cente- de vários tipos, o compositor 1958/1972. Aphorismensammlung, OMP HO 1998.13. pondência entre o pintor Wassily um livro de Schönberg publicado nária das Ragas indianas, que ele consegue criar um condensado 11 Lao-tzu: Tao-te-king: das Buch vom Sinn Primeiramente publicado na brochura do CD Kandinsky (1866-1944) e o com- postumamente em 1954 – soa- também ouviu e valorizou.43 orgânico, em que a harmonia e o und Leben, revisto por Richard Wilhelm, d’c 8. Köln 1978, nova edição ampliada, 1980. 22 Hans Otte: Einzeichnungen, 1998, tinta positor Arnold Schönberg (1874- vam mais promissoras do que as Também deixam vestígios em ritmo parecem ter sido "devolvi- 12 cf. Ingo Ahmels /B. Schulte-Hofkrüger: sobre papel, publicado primeiramente no d’c 1951)38, editada por Jelena Hahl- formas historicistas utilizadas por Buch der Klänge, que mais tarde dos a si mesmos" pela anulação «Klang und Stille», in: nie wieder kunst, 8. Koch, em 1981, documenta um ele de forma perturbadora, como foi incorretamente apelidado de da sua dualidade. Otte chega dacapo, Bremen 1993, pgs. 23-27. 23 No outono de 2006, saiu uma edição em 13 cf. Richard Wilhelm: I-Ging, Text und CD, da Celestial Harmonies em cooperação momento chave da alta moderni- os Minuetos de doze notas, etc.. música minimal, mas que, pelo tranquilamente a uma poética, Materialien, Köln 1973/1981, bem como com :dacapo: e Radio Bremen, que contém a dade ou modernismo tardio.39 Os Schönberg diz, sobre este curto contrário, concede aos sons um em que muito é dito com pouco. Frits Blok: I Ging, Köln 1997. O modo de gravação histórica de Otte, de Buch der quadros de Kandinsky começam momento de liberdade, no qual máximo desenvolvimento... consulta do oráculo, que no nosso círculo Klänge, pela primeira vez completa e digital- 1 Agradecimentos a Tom Johnson pela auto- cultural se encontra associado a nomes como mente masterizada, juntamente com a tematizar pontos, linhas, planos não conseguiu aprender a confi- O ciclo de interdependências aqui rização da reprodução desta passagem. os primeiros tradutores, Richard Wilhelm, Stundenbuch e face à face. e cores como tal. Ele dá aos seus ar: «Não me detive muito tempo traçado aponta para uma faceta 2 Hans Otte em Fevereiro de 1987, entrevis- Hermann Hesse e C. G. Jung, também pode 24 Herbert Henck: HANS OTTE Das Buch quadros títulos musicais como neste estilo; mas ensinou-me da música de Otte, já anterior- ta com Monika Fürst-Heidtmann, WDR ser verificado em várias páginas da Internet. der Klänge, Korrekturvorschläge, publicada 1987, OMP HO 1987.1. 14 cf. nota 10. aqui pela primeira vez, numa edição revista e Improvisation. Schönberg, que duas coisas: primeiro, a formular mente mencionada e que englo- 3 Tamanho original 270 x 339 mm, Formato 15 cf. John Cage: Music of Changes, ampliada. Deinstedt 1997. Agradecimentos a também estava ativo como pin- pensamentos de forma aforística, ba o espaço e o tempo. Otte, horizontal, Tinta sobre papel vegetal, 20 Herbert Henck, Klavier, (Primeira gravação Herbert Henck pela autorização de reprodu- tor, escreveu miniaturas como que não requeriam continuação enquanto compositor contempo- folhas numeradas OMP HO 1982,1. da obra completa 5.3. e 14.4.1982, Radio ção. 4 Hans Otte in: Hans Otte. VisuelleMusik: Bremen, Wergo, WER 60099 [LP], nomeada- 25 Uma lista das execuções da obra por Sechs Kleine Klavierstücke op. por razões formais; segundo, a râneo e conhecedor íntimo de Klänge, Texte, Bilder, Ereignisse, Theater, mente, WER 60099-50, bem como Hans Otte encontra-se em apêndice. 19. As suas notas, nomeadamen- ligar ideias sem o uso de musica antiqua, musica nova e Catálogo da exposição da Staatlichen «Werkeinführung» (pg.146) e «Vorwort zum 26 No seu leito de morte, o compositor te, os valores individuais, já não conectores formais, e apenas por musica exotica incorporou em Kunsthalle Baden-Baden, 1979, cit.: Ingo Hören» (pg.149), bem como «Praktische Dane Rudhyar (1895-1985) só queria ouvir 42 Ahmels (Ed.): Hans Otte, Série de Erfahrungen» (pg.115) in: Herbert Henck: Buch der Klänge (carta de Leya Rahel para apresentam relações harmónico- justaposição.» Buch der Klänge material pré- Publicações Dacapo Vol.1, Bremen 1996, pg. Experimentelle Pianistik, Improvisation/ Hans Otte, OMP HO 1985.6; um antigo métricas vinculativas. Já não há Uns bons setenta anos mais existente e torna evidente a sua 32 et seq., OMP HO 1993.3. Interpretation/Komposition, Mainz 1994. alcoólico disse a Otte que Buch der Klänge um princípio formal supraorienta- tarde, Hans Otte usou terceiras, presença nos seus próprios sons, 5 Hans Otte in: Ute Schalz-Laurenze: «Auf Sobre Music for Piano 1-84, encontra-se lhe tinha aberto novas perspectivas para a der Suche nach dem Innern der Klänge», in: também na pg. 123 et seq. o relatório de vida, OMP HO 1988.3; ouvintes de concer- dor. Cada nota é substancial, quintas, sextas, décimas terceiras à maneira ocidental: por tese, MusikTexte 17 (1986), pgs. 32-38 e nmz, Henck sobre o desenvolvimento de um con- tos descreveram as suas experiências a Ute material particularizado, a forma de forma muito diferente: escalas antítese e síntese. Desta forma, Edição XII-1986/I-1987, pg. 3 et seq. ceito interpretativo. Schalz-Laurenze, cf. Nota 5. tornou-se manifestação: a única modais e tonais, padrões repeti- pode emergir uma nova harmo- 6 ver Nota 4. 16 Music for Piano 53-84 de Cage, tocado 27 A gravação ao vivo do capítulo 6, repro- 7 Hans Otte 1992, Entrevista com Christine por Herbert Henck, encontra-se no CD MOS duzido como HB 17, foi feita no 229º con- medida do compositor é a sua dos e simetrias são facilmente nia «caleidoscópica», sem vínculo Breyahn, in: Neues Museum Weserburg 1 – John Cage 1912-1992, gravado ao vivo certo-dacapo a 21.6.1991 e foi editada pela intuição. Schönberg escreveu, audíveis nos espaços sonoros que à harmonia funcional. Como uma (Ed.): Denk-Bilder, Caderno 2, Schriftenreihe pelo presente autor em 26.1.1997 (337. primeira vez, em 1991, em :dacapo:-CD d'c como se tivesse acabado de ler as suas partituras criam. síntese abrangente da(s) histó- der Museumspädagogik, Bremen 1992, cit. : dacapo-Konzert) (www.dacapo-konzerte.de), 0 – silent pieces. Ingo Ahmels (Ed.): Hans Otte, op. cit., pg. cf. nota 14. 28 cf. http://de.wikipedia.org/wiki/Osho, Freud: «Um sentimento verdadei- Encontram-se novamente aqui ria(s) da música, a harmonia de 25 et seq. 17 cf. David Tudor, carta a Hans Otte, OMP consultado em 19.5.2006 ro não deve ser impedido de des- elementos familiares, como os Otte parece inspirar-se em fontes 8 Otte admitiu, em 1987, num concerto HO 1962.2. 29 cf. OMP HO 1999.6. cer ao reino escuro do incons- que são ouvidos em Präludien modais, diatónicas, bitonais, comentado do grupo do projeto «Musik und 18 «Mais les entreprises vers un absolu étai- 30 ver nota 26. Prävention», do departamento de antropolo- ent les mêmes. La ‹dépersonnalisation› vou- 31 Partitura, pg. 6. ciente, uma e outra vez, para tra- und Inventionen de Johann quartas harmónicas, cromáticas e gia da Universidade de Ulm, que as suas lue par Boulez dans la Structure la est même 32 Em várias conversas com o autor (2004- zer à superfície conteúdo e forma Sebastian Bach, nos Lieder de não europeias. Isto também se experiências com o Zen e a terapia da respi- plus proche en 1951 d’une conception du 2005), Otte ficou impressionado com a como uma unidade.»40 Franz Schubert, em Études de observa na seleção de exemplos ração tinham sido influências cruciais para hasard que Cage n’a pas encore fait sien- variedade de interpretações. ele. In: Tonius Timmermann: «Musik, die den ne.», in: Dominique Jameux: Pierre Boulez, 33 Brochura do CD ECM, cf. OMP HO Notas, gestos e sons foram então Frédéric Chopin e em Préludes de nas seguintes «Notas focaliza- Geist zur Ruhe bringt», in: Südwest-Presse, op. cit. 1984, pg. 73. Também se lê aqui que 1999.4. deixados a si mesmos, à sua vida Claude Debussy. Nos padrões dos das». As referências não europei- 11.6.1987, pg. 20. OMP HO 1987.3. Cf. Boulez apresentou Cage a Olivier Messiaen 34 HB 3. instintiva, por um curto espaço minimalistas americanos Terry as são claras, por exemplo, em Também a secção «Die Atmungs- em Dezembro de 1949. 35 Herbert Henck: "Quando Cage, em Achtsamkeit» in: Nyanaponika: 19 CD hans otte plays hans otte – book of 1940, então com 28 anos, teve de escrever, de tempo. Ao contrário de Hans Riley, Steve Reich e La Monte termos rítmicos, na música para Geistestraining durch Achtsamkeit, Konstanz hours, 48 pieces for piano solo, d’c em poucos dias, música de palco para a uma Otte, Schönberg, na sua obra tar- Young, voltam a aparecer estru- piano de Otte, com a ocorrência 1970, pg. 59 et seq. A primeira instalação de records/dacapo d’c 8, 2000, cf. atuação da bailarina Syvilla Fort, em Seattle. 16 17 Não pôde recorrer ao seu ensemble de per- Jahrhunderts (Neues Handbuch der Ingo Ahmels cussão [...] - o espaço do teatro [...] era Musikwissenschaft, ed. de Carl Dahlhaus, demasiado limitado. Mas havia um pequeno vol.7), Laaber 1984, pg. 27, pg. 35 et seq. HANS OTTE – DOIS piano de cauda em frente do palco [...]. 40 Arnold Schönberg: «Franz Liszt Werk und TRABALHOS SONOROS Inspirado pelo toque direto nas cordas utili- Wesen», in: Stil und Gedanke (Gesammelte zado por Henry Cowell, achou que o som Schriften, Vol.1, ed. Ivan Vojtech) Frankfurt também deveria ser alterado aqui. Após ten- a. M. 1976, pg. 171. Os diois trabalhos refletem exem- tativas insatisfatórias com uma base de 41 Arnold Schönberg: Structural Functions plarmente as duas facetas da vida forma de tarte e com pregos, que Cage Of Harmony, New York 1954, Alem.: Die e obra do artista e do mediador colocou ou prendeu nas cordas, os materiais formbildenden Tendenzen der Harmonie, que provaram ser os mais adequados foram Mainz 1957. de arte, Hans Otte. É interessante os parafusos roscados para madeira e ferro, 42 Arnold Schönberg: Stil und Gedanke, op. esta polaridade entre l'art pour pedaços de plástico e borrachas. Os timbres cit., pg. 387. l'art deste compositor e pianista, originais do piano mudaram drasticamente e 43 Sobre a sua admiração mútua, ver Pandit mal podiam ser reconhecidos como tal [...]. Pran Nath: Carta a Hans Otte, de 22 de que cria de forma egocêntrica, e Ao mesmo tempo, todos os resultados da Julho de 1976, na qual ele descreve Otte l'art pour l 'homme do comuni- diferenciação pianística foram preservados e, como um "verdadeiro santo". OMP HO cativo mediador e promotor de uma vez estando familiarizado com as pecu- 1976.5 arte, cujos olhos e ouvidos per- liaridades pianísticas dos novos sons, podia Atemobjekt @ Hamburg, foto © :dacapo: - Archiv tocar-se o instrumento tão virtuosisticamente manecem sempre bem abertos - como antes, mesmo que um pouco mais para os outros e para outras reali- que acompanhou o festival pro acima, Otte referiu que se tinha silencioso do que o habitual. De repente, o dades. musica nova, de 1972, intitulada interessado pela terapia respirató- piano tornava-se numa espécie de conjunto 16 de percussão com tambores e tamborins, HÖREN Texts - Bilder - SEHEN , ria, desde o início da década de guizos, gongos e sinos, um instrumentário O (EU-) OBJETO RESPIRATÓRIO com contribuições de John Cage, 70, com posterior ligação a técni- aparentemente tocado coletivamente, que (Objeto Sonoro Respiratório) Dick Higgins, Mauricio Kagel, cas de meditação. O termo por vezes se aproximava cada vez mais do Dieter Schnebel, Karlheinz abrange tanto a terapia clínica som de uma orquestra de gamelão balinesa, já que a preparação tinha alterado ligeira- O OWV KI 1 consistia numa sim- Stockhausen e Hans Otte, na respiratória (por exemplo, nas mente a afinação e produzia exóticos e des ples placa de madeira, com 65 cm Bremen Kunsthalle. A obra per- doenças pulmonares) como a lumbrantes microintervalos. Embora o proce- maneceu por muito tempo pen- terapia pela respiração. Com a dimento como um todo fosse também sim- de altura e 130 cm de largura. À ples, expandiu e revolucionou um instrumen- esquerda e à direita estavam co- durada no escritório de Otte, na terapia da respiração, como auto- to supostamente sacrossanto cujo som tinha locados dois altifalantes verme- Radio Bremen, quando não esta- consciencialização, os utilizadores sido trabalhado durante séculos; tinha nasci- va exposta noutro espaço. Em tentam induzir as funções físicas do um novo género de música de piano. Cf. lhos. No meio, um texto escrito a 2005, devido a uma inundação e mentais básicas, para aproxi- nota 14. giz, onde se lia: »ein – atmen – 36 Para a atuação de Herbert Henck para no seu armazém, foi descartada, mar, pela meditação, a consciên- aus« [inspirar – expirar]. :dacapo:, o autor desenvolveu uma espaciali- por engano, juntamente com cia de um estado de atenção zação da peça. A ideia básica era dirigir dire- A instalação incluía ainda um muitas outras obras de Otte. especial.17 A respiração, que Otte tamente o público, em termos acústicos, amplificador de dois canais e um A construção simples, em termos abordou, igualmente, na obra para dentro do piano de cauda do concerto, leitor de cassetes (MC), com conseguido com a ajuda de dois microfones físicos, de Atemobjekt contrasta nunca concluída, Odem - Raum- reversão automática, que repro- de contacto no corpo do piano e oito altifa- com as profundas implicações text für einen Sprecher und lantes de alta-fidelidade, dirigidos para cima, duzia uma fita em loop contínuo, filosóficas que a obra de arte Raumklaviatur (1989, sem a sigla colocados no chão entre as filas de cadeiras. estando a placa pendurada à O nível de ruído permaneceu muito baixo e conceptual de Otte transmitia OWV), significa diretamente altura da cabeça do ouvinte. o resultado excedeu as expectativas. audiovisualmente. As palavras tempo e ar, tal como duração e 37 Hans Otte em conversa com Ludolf Ouviam-se inspirações e expira inspirar e expirar permitem tradu- ruído enquanto parâmetros; o Baucke em 1.6.1983, manuscrito não publi- ções profundas, mudando de fase cado, pg.1. lentamente, de tal forma que zir, sem ser uma coincidência, a veículo e o tema da arte acústica 38 Jelena Hahl-Koch: Arnold Schönberg - entrada para o mundo e a saída do tempo: a música. Atemobjekt Wassily Kandinsky: Briefe, Bilder und causa e efeito se revertiam, o Dokumente einer außergewöhnlichen efeito pretendido por Otte. do mundo, o Alfa e o Ómega, teve um forte efeito nos seus

Begegnung, Salzburg/Vienna 1981. A obra foi exibida, pela primeira entre os quais se situa a vida que espectadores, como eu próprio

39 Cf. Hermann Danuser: Die Musik des 20. vez, como parte da exposição respira. Como mencionado pude observar e documentar em 18 19 muitas ocasiões, enquanto assis- olhos nos olhos. Uma vez que as maneira como transformou esses empenhou-se de forma profunda tente do artista, responsável pela amostras ou extensões continham nomes em sons, tornou-se um e apaixonada no despertar cultu- exposição.18 A simplicidade desta fonemas diferentes dos diferentes símbolo artístico do sonho poéti- ral da República Federal Alemã, instalação experimental também nomes (por exemplo, »au« em co de Hans Otte, homem do cujo projeto em curso foi e é alar- levou a que todos os que a revi- Stockhausen, »g« em Cage, etc.), som. Eu (Objeto Respiratório) e gar o horizonte dos dogmatismos ram, anos mais tarde, ainda se resultavam diferentes intervalos os outros (Nomes-Som) significa, monocausais para um sistema lembrassem bem dela. sobrepostos, devido ao vasto assim, todo um cosmos caleidos- aberto de pluralismo estético. Atemobjekt de Otte possui uma espectro sonoro (a-e-i-o-g, etc.). cópico de poesia. qualidade arquetípica. Tematiza Um efeito vocal-coral revelava-se Durante um quarto de século, o algo de fundamental. quando as extensões eram adi- Notas radialista Hans Otte reuniu, num

cionadas para formar acordes. só lugar, novos e excitantes mun- • 16 Kunsthalle Bremen, ed., HÖREN dos do som e centenas de artistas Como a instalação decorria em SEHEN, brochura que acompanha a expo- loop contínuo em leitores com sição, com um prefácio de Jürgen de todo o mundo. Documentou, NAMENKLANG [Nomes-Som] reversão automática, resultavam Schultze. mostrou, no sentido de Walter mudanças de fase na reprodução • 17 Ver Stiftung Warentest, ed., Die Benjamin, a riqueza da musica A instalação sonora mais recente andere Medizin, terceira ed. (Berlin: antiqua, musica nova e musica das fitas magnéticas, nas quais as Stiftung Warentest, 1994), pgs. 138 e NamenKlang @ Goethe House NYC, foto © Silivia Otte exotica que ainda estava por de Hans Otte, NamenKlang para combinações de nomes já esta- 139 et seq. oito altifalantes em pedestais Schnebel, Franco Evangelisti, Mor- acrescentado um fade in e um vam a ser permutadas. Além dis- • 18 O arquivo :dacapo: inclui as minhas ouvir, possibilitando assim o seu OWV KI 16, foi exibida pela pri- ton Feldman, Arnold Schönberg, fade out. O novo som ou ima- so, as oito fitas magnéticas ne- gravações de vídeo ainda não publicadas desenvolvimento. meira vez em 1995, no festival Peter-Michael Hamel, Karlheinz gem sonora assim gerada foi das obras e exposições; ver informações cessárias para a reprodução dos de música em Donau-eschingen. Stockhausen, Hans-Joachim Hes- inserida na fita magnética por sobre o OMP no apêndice [... do meu oito canais eram iniciadas desfa- livro SCHOTT]. No ano seguinte, foi apresentada pos, Igor Strawinsky, Paul Hin- detrás do som não manipulado zadamente. No espaço expositi- 19 Ibid. O «Piano Man» (como Tom sob uma forma diferente, como demith, Charles Ives, Anton We- do respetivo nome. Os 28 no- vo, nunca poderia ocorrer duas Johnson lhe chamou) e composi- Mémorial OWV KI, no âmbito da bern, Mauricio Kagel, Christian mes, juntamente com suas exten- vezes a mesma situação sonora, tor Hans Otte perseguiu inabala- exposição “Von Kranichstein zur Wolff, Helmut Lachenmann, La- sões anexas, podiam ser combi- no que diz respeito às escalas de SUMMA velmente o seu caminho pessoal, Gegenwart”, por ocasião do 50º Monte Young, Claude Lefebvre, nados em diferentes sequências. tempo humano. A boa resonân- de forma ocidental e indutiva, Walter Zimmermann, György Li- A exposição completa deste ma- aniversário do Curso de Verão de cia de espaços museulógicos his- O estudo do trabalho artístico de para alcançar o seu próprio som geti e Olivier Messiaen. terial sonoro demorava cerca de Darmstadt para Música Nova. peracústicos favorecia o efeito Hans Otte pode ser complemen- dos sons. Dois grandes ciclos para Estes nomes, pronunciados por 9 minutos. Só então é que reapa- Seguiram-se outras exposições sonoro: parecia um coro de dife- tado com a seguinte sinopse: piano tornaram-se, assim, obras- em Schwaz, Bremen, Hamburgo uma voz feminina, foram grava- reciam novas combinações de rentes vozes femininas a cantar, primas de referência: a peça para e Nova Iorque.19 Também em dos em modo de locução. Numa nomes em permutações. apesar de todos os sons serem A abordagem da sensibilização piano solo Buch der Klänge, no NamenKlang, a ideia inicial de segunda etapa, com a ajuda do Finalmente, quatro sistemas inde- produzidos pela mesma pessoa. estética, de Hans Otte, poderia início dos anos 80, e o multimé- Otte é simples, mas a implemen- processamento de som digital pendentes de dois canais repro- Com o seu último e mais refinado ser interpretada como um reflexo dia Stundenbuch, no final dos tação física é mais complexa do (DSP), a partir da gravação de duziam os sinais das fitas magné- trabalho sonoro, Otte criou algo poético em resposta à brutaliza- anos 90. Neste último, aproxi- que a do objeto respiratório, que cada nome, o som de cada um ticas através de oito altifalantes. como um pandemónio pessoal de ção sofrida na sua juventude, mou-se das metáforas Zen do é quase um quarto de século dos fonemas foi isolado e trans- As colunas de som em forma de espíritos amigáveis, uma home- monopolizado por um sistema Extremo Oriente, tal como o seu mais antigo. O material sonoro é formado num loop individual - funil, semelhantes aos das esta- nagem às personalidades musicais totalitarista. amigo John Cage, não a partir de a forma fonética dos seguintes 28 por exemplo, o "i" em Satie. ções ferroviárias, foram montados do seu século XX, com quem um espírito oriental, mas ociden- nomes de compositores: Theodor Deste modo, o som relativamente em plintos com cerca de 120 cm esteve ou ainda está ligado, seja Inspirado pelas suas experiências tal, e fez uso artístico e pessoal W. Adorno, Luigi Nono, Alban curto em língua falada (Sat "ie") de altura, assemelhando-se a por conhecimento pessoal ou edificantes na América democrá- da sua perspetiva sobre a essên- Berg, Maurice Ravel, Pierre Bou- poderia ser prolongado vários uma escultura. Pareciam pessoas amizade, seja pelo contexto do tica do pós-guerra, da terceira à cia das coisas com a devida lenti- lez, , John Cage, Erik segundos, em consequência do a dirigir-se aos visitantes da expo- seu trabalho na rádio ou ainda sexta década da sua vida, Otte, dão. Enquanto John Cage intro- Satie, Claude Debussy, Dieter loop criado, e a esse resultado ser sição, comunicando com eles por afinidade artística. Isso e a como compositor e radialista, duziu uma quebra de paradigma 20 21 radical e revolucionária, a estética drar historicamente este trabalho para uma afinação personalizada, mos a ele e nos tornarmos mem- de Bremen e celebrou aí o seu sido quase um choque - como do sintetizador evolucionário musical. A influência de Otte a fim de adequar o instrumento bros desta louvável banda de show down com Judy Winter. E um processo natural e importante Hans Otte está firmemente enrai- mostra como o que é dificilmente aos requisitos específicos exigidos vanguarda. EUA, Julho de 2006 apesar de toda a sua obsessão (porque transformador de vida) e zada no Ocidente: em Bach, possível é, afinal, possível. para The Well-Tuned Piano. O pela composição, demonstrou ser que não se limitou a sorrir, mas Beethoven, Schubert, Chopin, Finalmente, o projeto moroso de piano foi enviado para Nova TERRY RILEY Caro velho amigo um mestre de caloroso afeto para encorajou-me a permanecer nes- Debussy, Schönberg, Ravel. digitalização de partituras e Iorque, onde, em Setembro de e colega, Conhecer-te foi segura- com – sit venia verbo – os cole- se caminho. Querido Hans, tinhas Análises harmónicas da música outros documentos históricos 1978, dei quatro concertos para mente uma das melhores expe- gas [...]. Tornou-se o compositor razão, e eu agradeço-te sincera- para piano de Hans Otte, prova- contemporâneos deve ser urgen- celebrar a criação da Dia Art riências da minha vida e regozijo- e pianista de Buch der Klänge – mente por isso. Lübeck, Maio de 2006 ram que o seu caleidoscópio poli- te e sistematicamente levado a Foundation. Acabei por dar, ao me pelo tempo que passámos aparentemente distanciado do cêntrico de som pode ser aborda- cabo, uma vez que parte desse todo, 65 concertos de Well- juntos. És o género de músico que determinou o caminho de PETER MICHAEL HAMEL do sob várias perspetivas. Os valioso material já se encontra em Tuned Piano. Em 1981, foi lança- compassivo de que o mundo hoje alguém como eu, que trabalha Sempre admirei a sua inclinação meios de criação artísticos, de risco de deterioração. O arquiva- da uma Live-CD-Box com a per- tanto precisa. Uma recordação com os ruídos. Mas em cada uma para a «música interior». Um modo algum novos, de Otte mento sistemático de todas as formance de cinco horas em maravilhosa que guardo, é a de das nossas esporádicas tentativas caminho independente! Também foram aqui utilizados de forma gravações de som, rádio e filmes cinco CDs e em 1987, foi lançada estar sentado na audiência, ao de nos conhecermos, muito espa- lhe estou muito grato por enco- surpreendentemente nova, livre do pianista e compositor Hans em DVD uma performance de lado do Pandit Pran Nath e da çadas no tempo, sobressaía a mendas importantes de composi- de constrangimentos sistémicos e, Otte teria também interesse para seis horas e 25 minutos no tua filha, ouvindo-te tocar a amabilidade dos que se aliam na ções. O seu On Earth, no Meta- simultaneamente, a partir de o aprofundamento da investiga- ambiente de Magenta Lights. estreia do teu Buch der Klänge! criação, que caracterizou até hoje musik-Festival de Berlim Ociden- dentro de si mesmos. A sua poé- ção científica de uma obra que Estou muito grato a Hans Otte Grato pela tua notável contribui- a nossa relação e suscitou a tal, foi inesquecível. tica técnica de criação, que tam- marca uma época. pela visão corajosa da sua sensi- ção para o mundo da música. minha gratidão e admiração. Stundenbuch, a mais profunda bém funciona metaforicamente, bilidade musical, que permitiu Nova Iorque, 4 de Julho de 2006 Leonberg, Junho de 2006 música interior – autêntica, levou o artista Hans Otte a obter que Well-Tuned Piano crescesse inconfundível. Desejo a Hans resultados magistrais em géneros SALUT A OTTE e se tornasse numa das minhas HELMUT LACHENMANN MARGARET LENG TAN Otte anos de aperfeiçoamento na que não eram primariamente obras gravadas mais importantes. Hans Otte – eu já o admirava no Os sons prodigiosos de Hans sua ausência de intenção. musicais. No início do século XXI, Hans Otte O conto dos Irmãos Grimm, Os seu tempo de Stuttgart, enquan- Otte destilam a essência da melo- Munique, Novembro de 2005 encontramo-lo na primeiríssima trouxe uma contribuição extraor- Músicos de Bremen, fora sempre to compositor de Montaru-Musik dia. Trata-se de um lirismo ímpar linha da frente das tradições de dinária para o meu trabalho. Na o meu preferido desde a infância. e como pianista magistral de e arrebatador. vanguarda do seu século XX: estreia de The Well-Tuned Piano Gostava do humor e da desviante Ludus tonalis e, a partir de certa Brooklyn, Julho de 2006 num "espaço interior do mundo" ROGER WOODWARD em 1976, na Alemanha “nova música” criada pela banda altura, também em encontros esférico, do aqui e agora, que No fim de uma turbulenta época Ocidental, Hans Otte providen- de animais. Quando Hans nos mais próximos, [...] como um DIETER MACK Quando recebi, contém também o então, o alhu- da história da música, o humilde ciou o maior piano de cauda mostrou a estátua na bela praça bondoso radical que nunca ficava em 1979, ainda estudante, a res e o amanhã. viajante Hans Otte, olha para Bösendorfer para a nossa partici- de Altstadt, isso foi, na minha parado e, ao mesmo tempo, ia minha primeira encomenda de trás, no seu Stundenbuch, olha O presente estudo tinha por pação no festival „pro-musica vida, como que o cumprimento gentilmente ao encontro dos que uma composição no âmbito do para si mesmo, olhando para a objetivo lançar as bases para nova“ da Radio Bremen. Também epifânico de um presságio mági- estavam cautelosos e hesitantes. festival «», não frente, de forma a completar uma novos projetos de exploração do conseguiu que a Kunsthalle co. Hans fotografou-me a mim, à Experienciei a sua passages [...] queria acreditar que um artista viage na notação livre e espacial complexo trabalho e da influência Bremen nos concedesse uma sala Marian Zazeela, ao Terry Riley e em Donaueschingen, a sua famoso e um brilhante curador do som, que por vezes brilha de de Hans Otte, especialmente com espaçosa para os concertos, para ao nosso Guru Pandit Pran Nath Touches por Gerd Zacher. Cada de festival – porque esteve sem- forma obscura mas sempre com a o catálogo OWV e OMP de que a Marian pudesse instalar o à frente da estátua de bronze. obra era produto vivo e inquieto pre fora do caminho habitual – se paz e a segurança daquela que material digital. Seria particular- seu ambiente de Magenta Lights. Apelidámos essa fotografia de Os de um passo em frente (ou nal- dirigisse a mim, comunicando de procura dimensões etéreas. [...] mente desejável ampliar a com- Os concertos tiveram tanto Músicos de Bremen. Hans Otte guma direção). Em 1971, incenti- igual para igual. Ele foi o único, Uma das suas maiores qualidades preensão do trabalho de radiodi- sucesso, que a Dia Art Founda- é, sem dúvida, o «Honroso vou-me a escrever o meu primei- nesse tempo, a considerar a ao organizar os seus famosos fes- fusão de Hans Otte. Isto poderá tion adquiriu o piano e enviou-o Mestre dos Músicos de Bremen» ro quarteto de cordas, Gran minha experiência da cultura bali- tivais «pro musica nova/antiqua» contribuir para ajudar a enqua- para a Bösendorfer em Viena, – temos orgulho em nos juntar- Torso, para o «pro musica nova» nesa, no ano anterior - que tinha foi que Otte, com todo o seu 22 23 conhecimento e integridade, con- suave e focada: «Não se preocu- ROLF JULIUS vidou inúmeros compositores, pe, venha para minha casa. Imaginem isto hoje: ouvir a músi- independentemente dos seus Podemos falar. Se quiser, passa cá ca mais recente, das 20h à meia- gostos e preferências pessoais, a noite...» Palavras simples, que noite, todas as quartas, receben- Som. para mostrar o que havia, para salvaram a minha vida. Sentámo- do a Radio Bremen em Brake, Som: possibilitar o desenvolvimento. É nos a beber chá e conversámos Unterweser … A vida ativa e a O som é. precisamente o que falta hoje em horas a fio. Depois adormeci. No escuta ativa começaram, para É sempre, dia, num tempo centrado no Ego dia seguinte, fui para casa e ter- mim, com Hans Otte, no início continuamente. e no lucro, em que os organiza- minei a minha peça. Obrigada, dos anos setenta… E com tudo o É sempre: dores de festivais pensam apenas meu amigo! que veio depois. Obrigado, caro Som no espaço, no retorno do seu investimento. Gotemburgo, 16 de Agosto de 2006 Hans Otte. Berlim, Setembro de 2006 Som espacial Sydney, Outono de 2005 em toda a volta WALTER ZIMMERMANN […] em todas as direções OLE LÜTZOW-HOLM Hans Otte foi o meu grande e Querido Hans, Lembras-te modelo relativamente à organiza- MALCOLM GOLDSTEIN em múltiplas formas: daquele fim de tarde, no começo ção de concertos experimentais. Caro Hans, Alltagsmusik, sim, agudo – grave alto da primavera de 1980? Devia Mais tarde, convidei-o para o todos os dias «sentar-se em silên- baixo longe – perto estar a chover muito – ou seria a Beginner Studio. Ele tocou o seu cio...». Tu agracias-nos, ao violi- em velocidades varáveis: tempestade de granizo na minha grande ciclo de piano Das Buch nista e ao público, com um silên- fluindo, cabeça, enquanto ligava o teu der Klänge. Admiro-o muito, por- cio que respira. Fluindo para den- chegando, partindo, número de uma cabine telefóni- que me aproximou de todas essas tro e para fora, o som do violino simultaneamente ca, na estação central de Bre- pessoas da vanguarda americana desdobra-se em dimensões cada no espaço do tempo, men? Eu estava em pânico. com o seu «pro musica nova». vez mais ricas. («Ainda está em no tempo do espaço sonoro Sozinho no mundo, sem ninguém [...] Lembro-me de The Well- aberto a notação de diferentes crescendo, com quem contar. (Não, pensava Tuned Piano, de La Monte cores que deveríamos determinar abrindo(-se), mostran-do(-se), eu para mim mesmo, nunca vais Young, que me causou extraordi- quando estiveres em Bremen»), àquele, conseguir terminar a peça de nária impressão. Também recordo como a erva que cresce de si que se liberta, órgão que o Otte te encomen- Drumming, de Steve Reich, com Montréal, 14 de Setembro de 2006 mesma». que se entrega e dou. Teria sido bom. A tua peça Cornelius Cardew, que se sentava quer permanecer bem está perdu, sua fraude patética. sempre a um canto com as per- (Alltagsmusik für Violine solo presente, para assim, Como vais poder justificar-te?) nas cruzadas ou esticadas e espe- OWV 56 foi estreada em 1992 por um instante, «Fala Hans Otte.» A tempestade rava. Era tudo tão impressionante por Malcolm Goldstein.) poder participar acalmou perante a tua voz tran- para um jovem compositor como dos sons da realidade. quila e amável. Eu balbuciei algu- eu, esta soberania do acto numa mas incoerências sobre a angústia música que decorre perante nós existencial, o perigo de perder a numa espécie de ritual do coleti- razão. Silêncio sem respirar. vo. Este «Alguém dá as baquetas Coração a ribombar. (Como aos outros dois, e depois conti- poema do som, 1991 pudeste perturbar este homem nuamos a tocar», era uma manei- hans otte tão gentil, que tu mal conheces, ra muito diferente de fazer músi- a esta hora tardia, a meio da sua ca. Berlim, Setembro de 2006 meditação?) Do outro lado da linha voltou a ouvir-se a tua voz 24 25 ço de trabalho do Reich, na diretor musical da ARD aos 32 obras multimédia de artistas Klänge, uma composição franca- e abrindo assim horizontes para o Checoslováquia e, um ano mais anos de idade. Aí, paralelamente visuais, de Wolf Vostell a Nam mente popular para uma obra de pensamento filosófico e os senti- tarde, foi recrutado como opera- à sua própria carreira artística, June Paik. Hans Otte viveu em música erudita contemporânea, mentos espirituais - estes são os dor radiotécnico da Marinha, em desenvolveu uma atividade que Bremen como músico e artista foi até agora difundida - na pró- anseios impulsionadores também Kiel, daí prestando serviço militar marcou uma época, como media- multimédia, de 1959 a 2007 pria gravação de Otte, de 1983 – associados às numerosas obras no Mar Báltico, em condições dor cosmopolita da música e da (radialista até 1984, organista e mais de 20.000 vezes em todo o multimédia de Otte. opressivas, até 1945. A partir de arte sonora, especialmente no pianista até 1998, autor de textos mundo. Este trabalho, recente- Desde o objeto sonoro Atem 1946, Otte pôde estudar simulta- âmbito das bienais "pro musica e teatro musical, instalador sono- mente gravado em 1997 por (1972), arquetipicamente direto, neamente composição com Kurt antiqua" e "pro musica nova", ro, artista visual, compositor). Herbert Henck, por exemplo, está até à sofisticada obra Namen- Rasch na Academia de Música de que fundou, até 1984: com apre- Avançou calma e surpreendente- também a atrair cada vez mais klang (1995), que transforma o Weimar e direção com Hermann sentações não dogmáticas de arte mente para o novo desconhecido atenção dos intérpretes na esfera som da fala em música espacial Abendroth, na Bauhaus Fine Arts, musical nova, antiga e cultural- com base na tradição interioriza- dos concertos internacionais. coral, Otte desenvolveu conti- e também estudou teatro na mente diferente baseada na me- da - atitude esta que caracteriza Com o seu segundo grande ciclo nuamente este conjunto de Hans Otte (video still) © :dacapo: Stanislawski School of Acting. No diação sensorial direta, Otte fez não só a ética organizacional de de piano, Stundenbuch (1991– obras. As quase 50 instalações mesmo ano, ganhou o Prémio de Bremen uma referência de Otte, mas também o seu percur- 98), Otte continua no caminho sonoras, esculturas, ambientes de Nacional de Weimar, na categoria topo no mundo da música, du- so profissional como compositor. da abertura integrativa, concen- luz e som, séries de imagens, de Improvisação. Entre 1948–50 rante muitos anos. Otte, que Nas suas obras das décadas de trando-se, desta vez, ainda mais vídeos e, por fim, mas igualmente NOTA BIOGRÁFICA HANS OTTE continuou os seus estudos em esteve sempre em intercâmbio 1950 e 1960, influenciadas pela fortemente no "essencial aparen- importante, as 17 peças de teatro Estugarda (piano com Armin internacional com os melhores Segunda Escola Vienense e pelo temente simples": o diálogo vivo musical, utilizam, formalmente e * 3 de dezembro de 1926 em Plauen Erfurth, composição com Johann compositores, intérpretes, pesso- serialismo, tais como as suas de Otte com a tradição Zen japo- com precisão, um espectro extre- † 25 de dezembro de 2007 em Bremen Nepomuk David). Em 1950–51, as do teatro, artistas visuais e Passages para Piano e Orquestra nesa, que começou quase simul- mamente amplo de técnicas de frequentou a Universidade de filósofos de hoje, naquela altura (1966), que foram vaiadas na taneamente com a sua amizade criação artística para uma e a Hans Günther Franz Otte, nasci- Yale, em New Haven e estudou pouco conhecidos, atribuiu-lhes estreia em Donaueschingen, Otte de décadas com John Cage e mesma pessoa. O catálogo de do a 3 de dezembro de 1926, em composição com , uma série de importantes enco- nunca abandonou o uso de sons continuou durante várias estadias obras de Otte contém já mais de Plauen, na região de Vogtland, depois órgão com Fernando Ger- mendas, muitas vezes contra a consonantes, que foram "proscri- no Japão, levou o compositor ao 100 obras. provém de uma família de farma- mani, em Siena, mas logo deixou resistência maciça dos comités: tos como meios de composição seu trabalho sonoro aberto "que cêuticos e cresceu perto de Itália para continuar a aperfeiço- aos novos intérpretes de música politicamente incorretos" nos liberta", ouvintes e intérpretes Os textos têm a seguinte proveniência: Wrozlaw [Breslau]. Aos cinco ar-se como pianista, em Estugar- antiga, de Safford Cape a Niko- "templos absolutistas da Nova (no sentido de Cage), mas que • CONVERSA COM HANS OTTE, realiza- da em 2005, disponível no suplemento anos de idade, as artes já o fasci- da. A partir daí, participou nas laus Harnoncourt, promoveu a Música".O seu sentido para um não requer a técnica aleatória. As em DVD da publicação impressa. Versão navam, concebia dramas e ence- masterclasses de Walter Giese- criação de mais de 100 novas novo som, esculpido na tradição, 48 miniaturas do Stundenbuch, ligeiramente adaptada por Ingo Ahmels nava-os em palcos-miniatura king, em Saarbrücken, em 1954- obras, de Cage a Stockhausen, e é exemplificado no ciclo para enraizadas no ar, por assim dizer, da transcrição de Karim Hmida, Lisboa, construídos por si. Recebeu a sua 56. Trabalhou como pianista a introdução na Europa de músi- piano de doze partes, Das Buch ricas em associações, evocam 2020 • Ahmels, Ingo. Hans Otte - Klang formação básica de piano em acompanhador, compositor e pia- ca jovem americana, de LaMonte der Klänge (1979-82). Aqui, res- “plantas tonais” harmonicamente der Klänge / Sound of Sounds, Rolf W. Stoll (ed.) Mainz: Schott. 2006. ISBN 3– nista concertista; uma primeira Young a Terry Riley, organizou cindindo cautelosamente da tra- complexas, apesar de estarem Bronislaw von Pozniak, a partir 7957–0586-X [Os textos foram ligeira- de meados da década de 1930. gravação foi feita em 1955 com a performances ao vivo e produçõ- dição do piano europeu, conden- quase inteiramente a duas vozes. mente adaptados por Ingo Ahmels e Desde então, compôs peças para Filarmónica de Berlim sob a dire- es de música para piano, de sou (com vestígios de Schubert, Otte apresentou novamente o Joana Gama para a presente edição]: piano e outros instrumentos, um ção de Hindemith. David Tudor a Herbert Henck, Chopin, Debussy, Ravel, Satie e ciclo completo em 2000, na sua • O LIVRO DOS SONS - Pág. 46–77 concerto para piano aos nove Depois de um período de estudo palestras filosóficas, de Theodor música americana minimal) uma própria gravação. Partilhar a • DOIS TRABALHOS SONOROS - Pág. 116–122 anos de idade e uma primeira na Villa Massimo, em Roma W. Adorno a Ernst Bloch, e, por síntese refinada e sempre fluida experiência auditiva diretamente • SALUT A OTTE - Pág. 132–140 sinfonia aos 14. Aos 16 anos de (1959), a Rádio Bremen contra- último, mas não menos impor- de antigos e novos mundos com os pares, expondo a beleza • SUMMA - Pág. 128–131 idade, foi recrutado para o servi- tou Otte como o mais jovem tante, impulsionou uma série de sonoros e formais. Das Buch der do som que se refere a si próprio • NOTA BIOGRÁFICA (I. Ahmels 2007) 26 27