Teoria Da Guerra Justa Como Doutrina
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Escola de Sociologia e Políticas Públicas Departamento de História A Guerra Justa d’El Rey Dom Sebastião de Portugal aos Imperadores do Monomotapa José Miguel Granadeiro e Falcão de Carvalho Cerqueira Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em História Moderna e Contemporânea na especialidade de Relações Internacionais Orientador: Professor Doutor Luís Fernando Machado Barroso, Professor Convidado, ISCTE/IUM/Academia Militar Outubro, 2020 Ao povo moçambicano, que tudo merece 3 4 Resumo Os estudos sobre a Teoria e Doutrina da Guerra Justa em Relações Internacionais tornaram-se recorrentes nos últimos anos desde a Invasão do Iraque em 2003, tendo havido desde então um crescente interesse do público em geral e da comunidade académica em particular. Mais do que uma corrente de análise jurídica, à luz do Direito Internacional, é também uma reflexão filosófico/política ou mesmo do âmbito da ciência política, sobre uma nova ética a aplicar na contemporaneidade com vista à possibilidade, sempre atual, do Concerto das Nações e da paz. O presente trabalho de investigação pretende incorporar na historiografia moderna um estudo de caso durante o Renascimento português - que eu argumento ser – a primeira declaração de guerra de um soberano Europeu a um Estado e a um soberano na África subsariana, – o Império ou Reino do Monomotapa no século XVI, geograficamente entre o Zimbabwe, Zâmbia, Malawi, Moçambique, Suazilândia, Lesoto e parte da África do Sul. A febre do ouro e a cobiça pelas riquezas de tão importante Império africano, levaram o poder político de Lisboa a despoletar um conflito sem tréguas aos muçulmanos que aí se haviam instalado há muito, assim como aos seus aliados africanos dos povos suaílis. Uma estratégia alargada ao Oceano Índico e ao Oriente contra a influência, o comércio e as fontes de abastecimento e financiamento do Império Otomano, com consequências irreversíveis para as grandes unidades políticas africanas do interior do Continente. Palavras-chave: Teoria e Doutrina da Guerra Justa; Dom Sebastião de Portugal; Império do Monomotapa; Zimbabwe; Zâmbia; Malawi; Moçambique; Abstract Just War Theory in International Relations studies have become more common in recent years since the Iraq Invasion in 2003. A growing interest from the general public and the academic community in particular, developed the thinking on the Just War Tradition concepts. More than a legal analysis in International Law is also a philosophical reflection within the scope of political science about the new ethics to be applied in contemporary times within the possibility, always required, of the Concert of Nations and international peace. The present research in modern historiography is a case study during the Portuguese Renaissance - which I argue to be - the first declaration of war from an European sovereign State to a sovereign State in sub-Saharan Africa - the Empire or Kingdom of Monomotapa in the XVI century, geographically located between Zimbabwe, Zambia, Malawi, Mozambique, Swaziland, Lesotho and part of South Africa. A gold fever and the greed for the wealth of such an important African Empire, led the political power in Lisbon to trigger a relentless conflict against the Muslims, who had settled there for long time, as well as against their African allies, the Swahili peoples of the coast. A strategy that extended across the Indian Ocean and the Middle and far East against the influence, trade, finance and supply chain of the Ottoman Empire, with irreversible consequences for the African political units in the inner land of the African continent. Key words: Just War Theory; King Sebastian of Portugal; Empire of Monomotapa; Zimbabwe; Zambia; Malawi; Mozambique; 6 Índice Introdução e metodologia ........................................................................................... viii A problemática e definições conceptuais do estado da arte ..................................................... xi Apresentação do “estado-da-arte” .......................................................................................... xiii Parte I A Teoria da Guerra Justa como doutrina ................................................................... 18 Uma conceção Filosófico-Política na História das Relações Internacionais ........................... 18 A Tradição da Guerra Justa ................................................................................................... 24 Os grandes pensadores da Tradição da Guerra Justa até ao Renascimento Português .......... 30 Tucídides e a História da Guerra do Peloponeso ................................................................ 30 Cícero e o Tratado da República ......................................................................................... 30 Santo Agostinho de Hipona e a Cidade de Deus ................................................................. 32 Vegécio e a Arte da Guerra ou Epítome da Arte Militar ..................................................... 34 São Tomás de Aquino e a Suma Teológica ......................................................................... 35 Maquiavel e Da Arte da Guerra .......................................................................................... 38 Hugo Grócio e a Da lei da Guerra e da Paz ......................................................................... 39 Outros pensadores em Portugal e Espanha .......................................................................... 41 A Escola Ibérica da Paz ........................................................................................................... 42 A origem do poder civil dos indígenas ................................................................................ 44 A falsa questão da rudeza dos povos ................................................................................... 44 Punir crimes contra o género humano ................................................................................. 45 Dos crimes de guerra perpetrados pelos militares debaixo de ordens superiores ............... 46 O direito de comerciar e o direito de viajar ......................................................................... 46 A crítica à teocracia ............................................................................................................. 47 Os efeitos e contra-efeitos da Escola Ibérica da Paz no pensamento estratégico da época .... 47 vi Parte II A Organização Social e Política a Sul do Continente Africano no Século XVI ...... 54 A chegada dos portugueses à costa africana de Moçambique no caminho para a Índia e na conquista de Ormuz ................................................................................................................. 61 Portugal na Estratégia de Tenaz contra o Império Otomano .................................................. 63 O Império do Monomotapa ..................................................................................................... 67 Parte III O enquadramento político, social e económico do Renascimento português .......... 74 Thomas More o pensador e político que influenciou e foi influenciado pelo pensamento português renascentista ........................................................................................................... 75 Uma nova economia para um mundo que se globaliza ........................................................... 76 A sociedade cavaleiresca em Portugal nos séculos XV e XVI como motor da expansão marítima e da ciência militar náutica ...................................................................................... 79 A governação do Império de Dom Sebastião até ao Oriente .................................................. 83 Parte IV Crise e Conflito ............................................................................................................. 88 O suplício do Padre Gonçalo da Silveira, S. J. ........................................................................ 88 A Determinação dos Letrados de 23 de Janeiro 1569 em Almeirim ....................................... 92 Conclusões ................................................................................................................... 100 Anexos .......................................................................................................................... 106 Bibliografia e Fontes ................................................................................................... 126 vii Introdução e metodologia Os estudos sobre os conceitos de Guerra Justa em Relações Internacionais tornaram-se recorrentes nos últimos anos desde a polémica Invasão do Iraque em 2003 que despoletaria a denominada Guerra do Iraque, inserida na Guerra Global contra o terrorismo islâmico transnacional. Tem havido desde então um interesse acrescido do público em geral e da comunidade académica das Relações Internacionais em particular, na Teoria da Guerra Justa. Mais do que uma corrente de análise jurídica à luz do Direito Internacional, é também uma reflexão filosófica do âmbito da ciência política e, porque não referir, também nas ciências militares, sobre uma nova ética a aplicar na contemporaneidade com vista à possibilidade, sempre atual, do Concerto das Nações e da paz mundial. O presente trabalho de investigação em História Moderna e Contemporânea na Especialidade de Relações Internacionais, pretende incorporar um estudo de caso ocorrido no Renascimento português – que argumento – ser a primeira declaração de guerra de um Estado e de um soberano europeu,