História De Uma Família Ontem Tendo Vindo Parar Às Minhas Mãos Casualmente Um Certo Caderno, Achado No Meio De Papéis Velho
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História de uma família Ontem Tendo vindo parar às minhas mãos casualmente um certo caderno, achado no meio de papéis velhos em Angra dos Reis, escrito por um meu tio- bisavô, achei tão interessante o que nele li que, resolvi escrever algumas notas nesse caderninho sobre o que sei e o que minha memória tem gravada de nossa infância. Talvez ele não tenha a mesma sorte do outro, escrito lá por 1822, porém, se a lata de lixo não for mimoseada com sua presença pode ser que meus netos ou bisnetos venham a lê-lo. Esse é o fim que tenho em vista: “Uma história verdadeira para meus netinhos lerem”. Gostaria qu,e eles amassem aqueles entes queridos que já se foram, que eles não conheceram e talvez nem ouçam falar e que, no entanto, nós amamos tanto: Papai, vovó Lily, figuras centrais de nossas vidas. Se meu objetivo for atingido, peço a eles que os queiram como nós os quisemos, e que ao levantarem diariamente seus pensamentos à Deus, tenham para eles também uma oração:”Senhor dai-lhes em felicidade eterna tudo o que eles nos derem em dedicação”. Para Tuca, Jojoca, Rodrigo e os outros que depois vierem. Ouçam meus filhinhos essa história verdadeira que eu vou contar a vocês. Ontem Há muitos anos, no princípio do século XX, lá por 1902, morava na rua Paissandu, 2 uma família, era o Almirante Brasil, viúvo e seus quatro filhos: Maria Luisa, que então se casara com o Almirante Machado Portela; João Candido, garboso e entusiasta 2o tenente da nossa armada; Carlos Américo, jovem estudante de direito e “leão” da época, moço de salão e Luisa Emilia, que acabara de cursar o Sion de Petrópolis. O Almirante Brasil nascera em Angra dos Reis e sua mãe ainda lá vivia, por essa época na fazenda de propriedade sua. Ele era viúvo de D.Teresa Gonçalves da Silva, que fora uma das moças mais bonitas de Recife, e depois de diversas permanências na Europa falecera bem moça, aos 39 anos, deixando seus filhos inconsoláveis. Completava o quadro familiar e que teriam papel importante em nossa história dois empregados, copeiros do Almirante, Alfredo e José. Havia ainda a velha babá das crianças, Amélia e o antigo empregado, Marcolino. Na rua Bento Lisboa,,4 residia uma família numerosa, moças e rapazes alegres. Era a casada viúva Costa Ferreira (D.Lily), senhora de grandes virtudes que enviuvara cedo e ficara com 8 filhos para criar. D.Lily casou-se muito moça com Luiz da Costa Ferreira, seu primo pernambucano e ela natural do Rio. O casal foi muito feliz, mas ele morreu moço, aos 42 anos. Morava também em casa uma tia viúva que ajudou a educar as crianças, D.Maria Inácia Maya Sodré, na intimidade tia Cocota. Como disse a vocês, D.Lily tinha 8 filhos: Evangelina, Mario, Carlos, Cecília, Laura, Luisinha, Sylvio, e Corina. Tinham eles também seus fiéis servidores: Idalina, que fora residir com a família desde os 14 anos de idade e Martha que era cria da casa. Havia ainda Carolina e outras. Uma casa com tantas moças e rapazes tinha forçosamente de ser uma casa alegre. Lá se dançava e se cantava, cada uma tinha naturalmente seus “fans”. Os rapazes traziam seus amigos e as moças suas companheiras.Todos eram recebidos com alegria e encontravam um ambiente acolhedor e amigo da parte de D. Lily e D.Cocota. Vocês me perguntarão, meus filhinhos, por que isso tudo? Isso é história? Estou contando isso porque como vocês verão depois como os fatos vão se desenrolar. Cecília Ferreira era uma lourinha, tipo de francesa, muito bonitinha e graciosa que flertava com Carlos Brasil, filho do Almirante Brasil. Certa vez, lá pelos princípios de outubro de 1902, faleceu aqui no Rio, o Almirante Wandencolk, figura muito conhecida no Rio de Janeiro, que foi Ministro da Marinha. As meninas Ferreira foram à rua do Catete assistir a passagem do enterro de Wandencolk. Estavam elas vendo passar o cortejo quando passou um carro, era o do Almirante Brasil. Cecília chamou a atenção de Luisinha que ainda era meninota de seus 14 anos. Lá vai o Almte.Brasil, pai do Carlos com o filho ao lado!!! Luisinha olhou e viu os dois fardados. Nesse momento, o rapaz olhou a rua e, ela pode vê-lo bem. Ainda no mês de Outubro do mesmo ano, houve uma festa no Largo do Machado. Luisinha, Cecília e Sylvio estavam passeando e apreciando o movimento quando vêem chegar em sentido contrário Carlos Brasil e seu irmão. Houve a clássica apresentação e o passeio continuou, Cecília e Carlos na frente, Luisinha, João e Sylvio atrás. No final da festa, ao se despedirem, o namoro estava começado. Ao chegar em casa Luisinha contou à empregada Idalina: - Sabe, Idalina, hoje conheci o irmão de Carlos Brasil. Ele é oficial de Marinha.!... - Já sei que vai haver namoro, responde a outra. - Cala a boca, diz Luisinha, o namoro já começou!!! Daí por diante João, conhecido na intimidade por Sinhozinho, passava todas as noites pela rua Bento Lisboa, a pé ou de bonde.Depois foi com Carlos visitar a Família Ferreira. Por outro lado, ele era companheiro de Carlos, o Jujú, irmão de Luisinha, de modo que não houve dificuldades e, o namoro continuou. Luisinha nessa época freqüentava o Colégio Campos Porto, que funcionava na rua Senador Vergueiro. De modo que ao passar de manhã para o Colégio ou à tarde quando voltava recebia sempre das mãos do copeiro José um cartão postal com umas flores. Quando o bonde passava com os rapazes, as meninas corriam à janela para vê-los. Por essa época, havia no Largo do Machado o “Parque Fluminense”, ponto de reunião da sociedade e da mocidade daquele tempo. Ali os nossos namorados se encontravam e passeavam. As Ferreiras, moças casadoiras e bonitas,”uns brotinhos”, como diríamos hoje, faziam sucesso! Havia também um outro oficial de Marinha de olho em Luisinha, mas a preferência dela era para o guapo Tenente Brasil. E assim continuou o namoro até que Luisinha já comprometida deixou o Colégio e se vestiu de moça.... Um ano se passou, dessa época e depois daqueles célebres conchavos, fazendo crer que era surpresa, aconteceu o seguinte: uma noite, o Almirante Brasil visitou a viúva Ferreira e pediu a mão de Luisinha para seu filho João. Houve muito contentamento, doces e alegria, mas eu nada assisti, só ouvi mais tarde e assim acabou-se uma parte de nossa história. Antes de terminar, eu até me esquecia, toda a noite o noivo visitava a noiva e levava flores, e muitos mimos foram oferecidos, jóias que eu ainda conheci. À tarde, José, o copeiro trazia sempre um lindo postal com os cumprimentos do noivo... Hoje,meus filhinhos,eu vou contar mais um pouco de nossa história No dia 11 de outubro de 1903,na Igreja do Sagrado coração de Jesus,às 7 horas da noite,uniram-se diante de Deus e dos homens Luisinha e João. Luisinha muito bonita e jovem,entrou no templo de braço ,com seu sogro e padrinho do ato religioso,ele fardado tendo ao peito suas condecorações,ela uma nuvem de filós e rendas. Foi uma linda festa,luzes,flores,lindas toiletes,oficiais fardados abrilhantando a festa com os seus dourados. Houve doces e champanha para comemorar o ato. A viúva Ferreira tudo fez para a festa de sua filha..Um novo elo se botava na cadeia dessas duas famílias.. Esse casal que se unia,iria dar aos que os cercavam e aos filhos que sairiam desse casamento, o mais belo exemplo de uma união conjugal feliz.! Sobre esse lar profundamente estável ,Deus enviou muitas provações,muitos sofrimentos,mas ele estava firmado sobre a rocha do amor verdadeiro e os vendavais da vida não o derrubaram. Eles deram a seus filhos,a segurança,a certeza que o teto paterno não estava ao sabor das paixões humanas nem da fraqueza do coração volúvel das criaturas.. O cumprimento fiel do dever de estado,foi talvez o lema que esse jovens tiveram em mente,sem nunca traduzirem em palavras. Esse casal foi sem exagero algum ,um exemplo para todos aqueles que tiveram a ventura de conviver na sua intimidade. Amigos sinceros dedicados um ao outro,o foram até que Deus um dia ,chamou João a sua gloria.. Hoje,meus filhinhos ,vou mostrar a vocês quem era: Luisinha Vocês podem crer ela era uma moça muito bonita e interessante.Foi em toda a sua vida esposa dedicada e amiga sincera. Sua nova família a quis muito bem ,seu sogro a estimava como filha. Sua vida se concentrou em seu lar. Ela foi também mãe que se sacrificou tudo pela criação e educação de seus filhos,. Mais tarde quando um deles,o único menino que tinham adoeceu,ela foi incansável,e quando já homem feito ,teve a desdita de adquirir um mal terrível,ela foi a companheira incansável que tudo deixou :as alegrias ,nunca mais ela pisou numa casa de diversão ,enfim abandonou o mundo para se dedicar completamente a ele..Esse é um ligeiro perfil,meus filhinhos da “Vovó do mel”,como vocês chamam. Ela merece o nosso amor e nosso respeito ,pois a dedicação foi o traço principal de sua personalidade. João Aquele jovem oficial de Marinha que foi bisavô de vocês e marido de Luisinha ,era um homem de quem nós devemos nos orgulhar . O traço predominante de seu caráter era o cumprimento do dever Como militar e como cidadão,ele foi um patriota. Todas as vezes que a Nação precisou,lá estava ele pronto para servir..Eu,muito mais tarde,tive a ventura de ouvir de um seu colega,o Almte.Milanez, estas palavras:”Seu pai foi o homem mais íntegro que eu conheci em minha vida” Caráter sem jaça,moral ilibada,tenacidade em seus objetivos,vontade serena e forte,ele soube conquistar a estima e o respeito de seus amigos e companheiros de arma.Coração generoso e bom ,sobretudo para os inferiores,disciplinador mas justo,desprendido em relação aos bens materiais,fidalgo nas atitudes,João recebeu uma educação esmerada.