LUNFARDO, VESRE E OUTRAS MODALIDADES DO LINGUAJAR ARGENTINO

Maria Consuelo de Azevedo

Já se tem falado várias vezes no . O que vem a ser realmente o Lunfardo? No Dicionário Caldas Aulete há o regi stro: " diz respeito à gatunice ou à gíria dos gatunos; calão dos gatunos, gíria ." Zélia dos Santos Jota, no Dicionário de Lingüística, diz o seguinte: " lunfardo - gíria argentina, misto de caló com vários dialetos italianos. Características do lunfardo: empre­ go da palavra com inversão de sílabas (davi por vida) e a repetição, no fim de uma frase, da palavra ou palavras que n inic1am: Não quero mesmo isto, não quero". O termo ca/6 n que se refere Jota é um dialeto dos ciganos da Espanha. Angel Mazzei escreve, no trabalho E/ espãnol de la Re­ pública Argentina, incluído no livro de Guillermo Díaz-Piaja, publicado em 1968: " es urgente la necesidad de preparar un Diccionario de Argentinismos", isso pela maneira de usarem o vos com o verbo na 2? pessoa do singular, e acentuado (vós sabés); pelo lunfardo, pelo vocabuláno, pelas pronún­ cias e pelas gírias. A gíria, como todos sabem, é um conjunto de expressões populares, não registradas nos dicionários, por tratar-se de uma maneira de falar de gente comum, e também porque ten de a sofrer modificações com o passar dos tempos. Mas, como diz M. Rodrigues Lapa, há a gíria chamada de calão, usada entre os viciados, os presos, o pessoal das casernas, otc., e há a "gíria propriamente dita, que não passa de uma forma exagerada da linguagem familiar" . Essa é usada pelos scritores modernos, ouve-se muito entre os personagens de novelas, como: "tô nessa", "saquei, bicho", "ele pintou por uqul", e muitas outras.

ltev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.fdez. 1984 145 Antigamente os escritores menosprezavam a gíria. Hoje, impotencia, el sacrifício; menta, pues, el exacto estado en que porém, tudo mudou, principalmente quando se trata de uma se hallaban los orientales. Es por otra parte una palabra rús­ gíria como a da Argentina, que merece um estudo cuidadoso, tica y expresivamente criolla, analfabeta y gaucha; es una ex­ pois é muito difícil compreender uma língua toda deturpada, presión (mica, propia, para designar un hecho que no tiene que mais parece o nosso gaderipoluty ... iguales." pág. 61, capítulo VI. Chega-se à conclusão de que José Gobello publicou um Dicionario Lunfardo (comple­ a troca de sílabas se estende por toda a parte gaúcha. tado com a linguagem popular, o vesre, a linguagem genera­ Para entender-se a letra de um típico argentino, há lizada, a linguagem elevada, a grosseira e os termós a11t: qos necessidade de recorrer-se ao dicionário lunfardo. Nunca se e modernos). Essa obra teve 4 edições~ 1975, 1977, 1978 e encontra a palavra cumparsa, de onde veio o conhecidíssimo 1982, satisfazendo assim a proposição de Ãngel Mazzei, de tango la cumparsita. É que a palavra é lunfarda, e significa 1968. comparsa. Do italiano meridional cumpàrza." O lunfardo é um linguajar místico, · trazido para Buenos Pavura - esta palavra significa medo, como na Espanha, Aires pelos trabalhadores de navios europeus, no fim do sé­ mas segundo Gobello, veio do italiano paúra. " . .. cuando uno culo XIX. De lunfardo vêm várias formas: lunfa (também usa­ aprecia una cosa, siempre tiene pavura que se la pierda ... " do em português com o significado de ladrão), lunfaría e lun­ Dallegri, Santiago, E/ alma de/ suburbio, Montevideo, 1912. A fardesco. Diz Gobello a respeito: " ... el lunfardo no fue, en palavra pavura é lunfarda, e no sul do Brasil usa-se paúra su origen, un lenguaje secreto, sino una forma lúdica o fes­ com o mesmo significado. tiva del habla popular de ." O popular pebeta, que também não consta nos dicioná­ Lunfardo vem do italiano Lombardo, natural da Lombar­ rios, quer dizer pequena .. é uma variação de pibe, pequeno. dia. Popularmente, independente do lunfardo, criaram um Do tango Melodia de Arrabal, de Le Pera: certo modo de falar ao que chamam "hablar ai vesre", isto é, "hablar ai revés" , falar ao contrário. Conforme José Gobello, en la cortada mistonga essa troca não pertence ao lunfardo. mientras que una pebeta No livro Viaje a la Argentina, Eduardo Aunos se refere a linda como una flor .. . " esse modo de falar: "En oposición a tal asalto de la chaba­ canería, que llegó incluso en alas de una impertinencia ridí­ As palavras cortada (leng. gen.) e mistonga (lunfarda), sig­ 'cula a la tendencia de decir las palabras ai revés, o sea, nificam, respectivamente, pequena rua, e humilde. Mistonga invirtiendo las letras, cuando no adaptando giros rebuscados, ó formada de mishio com o sufixo ongo, tendo um t no meio, el sedimento del sefíorío bonaerense hubo de defenderse devido à influência de misto creando un concepto estrecho y erguido de la elegancia, de Outro exemplo de pebeta, no tango "Arrabalero" , de la conduta y los modales, e imponiendo determinadas restri~ duardo Calvo, com música de Osvaldo Fresedo, 1927: cciones ai uso de vocablos adaptados preferentemente por "Soy la pebeta más rechiflada la turba de forasteros." que en el suburbio O livro Artigas, de M. Blanca Paris e Querandy Cabrera pasó la vida" Pifíón, traz um capítulo que trata de "La Redota" (EI Exodo), emigração conhecida pelo ~xododo Povo Oriental, e sobre Chinchibirra (esp. pop .) - eis uma palavra cujo signifi- isso escreve Carlos Anaya: "Fué una operación muy amarga ldo é bebida gasosa. Aqui no Ceará usou-se antigamente - dejando casi desierta aquella campana alguns pueblos pu ­ uma bebida chamada gengibirra ou jengibirra. Tanto a argen­ dieron tocarse - que por un equívoco muy particular clasi­ tina como a nossa veio do inglês gingerbeer, que é bebida ficaron los paisanos como la 'redota', por decir otra cosa". lolta do gengibre (em inglês o nome está dizendo: cerveja do Mais adiante, em nota sobre a mesma palavra: " Redota (der­ IIHlgibre). rota) es a la vez, el camino, la huída y el estar vencidos, com­ O nome do instrumento bandoneón não provém do lun­ prende en su significación la amargura, la contrariedad, la lnrdo, é linguagem generalizada. Seu criador foi Heinrich

Rev. de Letras,- FortaleZa:· 7 (l/2) ~ .jan.;aez; 1984 146 ltrv. úu Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.fdez. 1984 147 Antigamente os escritores menosprezavam a gíria. Hoje, lmpotencia, el sacrifício; menta, pues, el exacto estado en que porém, tudo mudou, principalmente quando se trata de uma se hallaban los orientales. Es por otra parte una palabra rús­ gíria como a da Argentina, que merece um estudo cuidadoso, tica y expresivamente criolla, analfabeta y gaucha; es una ex­ pois é muito difícil compreender uma língua toda deturpada, presión (mica, propia, para designar un hecho que no tiene que mais parece o nosso gaderipoluty ... iguales." pág. 61, capítulo VI. Chega-se à conclusão de que José Gobello publicou um Dicfonario Lunfardo (comple­ a troca de sílabas se estende por toda a parte gaúcha. tado com a linguagem . popular, o vesre, a linguagem · genera­ Para entender-se a letra de um tango típico argentino, há lizada, a linguagem elevada, · a grosseira e os têrniós · á'lt'qos necessidade de recorrer-se ao dicionário lunfardo. Nunca se e modernos). Essa obra teve 4 edições: 1975, 1977, 1978 e encontra a palavra cumparsa, de onde veio o conhecidíssimo 1982, satisfazendo assim a proposição de Ãngel Mazzei, de tango la cumparsita. É que a palavra é lunfarda, e significa 1968. - comparsa. Do italiano meridional cumpàrza." O lunfardo é um linguajar místico, trazido para Buenos Pavura - esta palavra significa medo, como na Espanha, Aires pelos trabalhadores de navios europeus, no fim do sé­ mas segundo Gobello, veio do italiano paúra. " ... cuando uno culo XIX. De lunfardo vêm várias formas: lunfa (também usa­ aprecia una cosa, siempre tiene pavura que se la pierda ... " do em português com o significado de ladrão), lunfaría e lun­ Dallegri, Santiago, E/ alma de! suburbio, Montevideo, 1912. A fardesco. Diz Gobello a respeito: " ... el lunfardo no fue, en palavra pavura é lunfarda, e no sul do Brasil usa-se paúra su origen, un lenguaje secreto, sino una forma lúdica o fes­ com o mesmo significado. tiva del habla popular de Buenos Aires." O popular pebeta, que também não consta nos dicioná­ - Lunfardo vem do italiano Lombardo, natural da Lombar­ rios, quer dizer pequena_. é uma variação de pibe, pequeno. dia. Popularmente, independente do lunfardo, criaram um Do tango Melodia de Arrabal, de Le Pera: certo modo de falar ao que chamam "hablar ai vesre", isto é, " . .. en la cortada mistonga "hablar ai revés", falar ao contrário. Conforme José Gobello, mientras que una pebeta essa troca não pertence ao lunfardo. linda como una flor " No livro Viaje a la Argentina, Eduardo Aunos se refere a ... esse modo de falar: "En oposición a tal asalto de la chaba­ canería, que llegó incluso en alas de una impertinencia ridí• As palavras cortada (leng. gen.) e mistonga (lunfardal, sig­ cula a la tendencia de decir las palabras ai revés, o sea, nificam, respectivamente, pequena rua, e humilde. Mistonga invirtiendo las letras, cuando no adaptando giros rebuscados, é formada de mishio com o sufixo ongo, tendo um t no meio, el sedimento del sefíorío bonaerense hubo de defenderse devido à influência de misto. creando un concepto estrecho y erguido de la elegancia, de Outro exemplo de pebeta, no tango "Arrabalero", de la conduta y los modales, e imponiendo determinadas restri· Eduardo Calvo, com música de Osvaldo Fresedo, 1927: cciones ai uso de vocablos adaptados preferentemente por "Soy la pebeta más rechiflada la turba de forasteros." que en el suburbio O livro Artigas, de M. Blanca Paris e Querandy Cabrera pasó la vida" Pifíón, traz um capítulo que trata de "La Redota" (EI Exodo), emigração conhecida pelo ~xododo Povo Oriental, e sobre Chinchibirra (esp. pop.) - eis uma palavra cujo signifi­ isso escreve Carlos Anaya: "Fué una operación muy amarga cado é bebida gasosa. Aqui no Ceará usou-se antigamente - dejando casi desierta aquella campana alguns pueblos pu­ uma bebida chamada gengibirra ou jengibirra. Tanto a argen­ dieron tocarse - que por un equívoco muy particular clasi­ tina como a nossa veio do inglês gingerbeer, que é bebida fiçaron los paisanos ·como la 'redota', por decir otra cosa". feita do gengibre (em inglês o nome está dizendo: cerveja do Mais adiante, em nota sobre a mesma palavra: "Redota (der­ gengibre). rota) es a la vez, el camino, la huída y el estar vencidos, com­ O nome do instrumento bandoneón não provém do lun­ prende en su significación la amargura, la contrariedad, la fardo, é linguagem generalizada. Seu criador foi Heinrich

146 Rev. de Letras,-Foítalàa:· 7 (1/2) :__ 'jan.;aez: 1984 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984 147 Band, no ano de 1835, daí a sua denominação. Band era fabri­ No próprio tango há a forma do chamado vesre. t um cante de acordeão na cidade de Krefeld (Alemanha). modo de falar peculiar do portenho. Consiste em inverter a Paro/a vem do Iunfardo e significa palavra: " ... y ese no ordem das sílabas, e é chamada "hablar ai revés", que se Ias va con parolas de disionário, ché. "Palerma, Juan Francis­ transforma em vesre. Há diversas formas para formar-se o co- "EI Amuro" (1911)- En Nuestro Teatro, livro publicado vesre. A forma vésrica consiste em: em 1913. Há muitas palavras do lunfardo usadas somente na Argen­ 1) transposição sucessiva das sílabas: co/o (loco); choma tina: bacán - concubinário: "Es la mina (mujerl de un lunfar­ (macho); dorima (marido); do, que en combinación con su bacán (hombre) se finge en­ 2) transposição das sílabas, convertendo as palavras ferma para atraer otarios." Lugones, Benigno B. - "Los beduí• graves em agudas ou vice-versa: camba (bacán); chacán nos urbanos"- La Nación, Buenos Aires, 18-3-1879. (cancha); tapún (punta); tombo (botónl; chogán (gancho); "Ayer te ví pasar 3) transposição das sílabas finais em uma palavra, trans­ con aires de bacán formando-a completamente: a1oba (abajo); congomi (conmi­ en una voituret copera" go); 4l transposição da última sílaba, que fica no começo, deixando as outras estáveis: jotraba (trabajo); tacuaren (cua­ Esta é a letra de um tango cujo título é Pato, da lingua­ renta); naesqui (esquina); gem popular argentina, pobretão, que não possui nada; voi­ 5) Troca das letras de uma maneira que modifica o modo turet - tipo de carruagem, linguagem generalizada, vem do de escrever: telangive (vigilante) que, na forma vésrica, de­ francês voiturette. e copera, popularmente quer dizer luxuosa. veria ser te/angivi; Foi esse tango gravado em 1928 por Pilar Arcos, com música 6) transposição direta e sucessiva das sílabas de trás e letra de Ramón Collazo. Outro exemplo onde se vê a mesma palavra bacán: "Preparate a filar aquel otario I que parece para diante, com a perda de uma consoante: ortiba (batidor), que, no caso, deveria ser dortiba, para não perder o d; bacán de mucho vento" ... E/ Legado de/ tío (anônimo). O verbo filar, e a palavra vento, vêm do lunfardo, e significam, 7) transposição com acréscimo: colimba (milico), que de­ respectivamente, sair e dinheiro. veria ser colimi, dando-se a mudança da sílaba final, com o Foi graças ao tango que o lunfardo teve entrada na so­ acréscimo do ba; ciedade portenha. Antes, o tango era proibido, como o lunfar­ 8) transposição com ruptura de ditongo e aumento de sí• do, por ser indecente entre famílias. Mas depois que o tango labas: jaevi (viejal, que deveria ser, no vesre, javie; taerpu mereceu destaque, o lunfardo começou a aparecer nas letras (puerta), no caso, tapuer; teermu (muerte), que deveria ser e na linguagem do povo·. temuer, no vesre; O Tango - na linguagem generalizada é uma dança po­ 9) transposição com perda de letra ou sílaba: yo/ipar (apo­ pular do Rio da Prata. Apareceu na sexta década do século liyar) e yompa (pabeyón), em ambos alternam com ayolipar e XIX, definida, a princípio, em compasso de 2 por 4, até à se­ beyompa, respectivamente; gunda década do século XX, e de 4 por 8, depois. A canção 1Ol transposição com mais letras: tegenaite (gente) que popular surgiu no fim do século XIX, quando se escreveram deveria ser somente tegén; letras para serem cantadas. Na segunda década do século 11) anagrama: dá-se o anagrama modificando completa­ XX Pascual Contursi começou a escrever as suas letras. Não mente a palavra: celma (almacén); codemi (médico); sempio se deve esquecer que o maior representante do tango argen­ (pensión); viorsi (servicio); yoruga (uruguayol, yoyega (galle­ tino foi o inesquecível Gardel, cujo cinqüentenário de morte go). Observe-se que em alguns exemplos faltam letras, e, no oco·rreu este ano. Carlos Gardel deixou o tango quando mor­ último, há a predominância da pronúncia; reu, em 1935, morrendo também com ele o melhor desse gê­ 12) no caso de verbos, a transposição acontece com a adi­ nero musical. ção de letras e perda de consoantes: garpar (pagar), que de-

148 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.jdez. 1984 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.fdez. 1984 149 Band, no ano de 1835, daí a sua denominação. Band era fabri­ No próprio tango há a forma do chamado vesre. ~ um cante de acordeão na cidade de Krefeld (Alemanha). modo de falar peculiar do portenho. Consiste em inverter a Paro/a vem do lunfardo e significa palavra: " ... y ese no ordem das sílabas, e é chamada "hablar ai revés", que se las va con parolas de disionário, ché. "Palerma, Juan Francis­ transforma em vesre. Há diversas formas para formar-se o co- "EI Amuro" (1911)- En Nuestro Teatro, livro publicado vesre. A forma vésrica consiste em: em 1913. Há muitas palavras do lunfardo usadas somente na Argen­ 1) transposição sucessiva das sílabas: colo (loco); chama tina: bacán - concubinário: "Es la mina (mujer) de un !untar­ (macho); dorima (marido); do, que en combinación con su bacán (hombre) se finge en­ 2) transposição das sílabas, convertendo as palavras ferma para atraer atarias." Lugones, Benigno B.- "Los beduí• graves em agudas ou vice-versa: camba (bacán); chacán nos urbanos"- La Nación, Buenos Aires, 18-3-1879. (cancha); tapún (punta); tombo (botónl; chogán (gancho); "Ayer te ví pasar 3) transposição das sílabas finais em uma palavra, trans­ con aires de bacán formando-a completamente: a1oba (abajo); congomi (conmi­ en una voituret copera" go); 4) transposição da última sílaba, que fica no começo, Esta é a letra de um tango cujo título é Pato, da lingua­ deixando as outras estáveis: jotraba (trabajo); tacuaren (cua­ gem popular argentina, pobretão, que não possui nada; voi­ renta); naesqui (esquina); turet - tipo de carruagem, linguagem generalizada, vem do 5) Troca das letras de uma maneira que modifica o modo francês voiturette. e copera, popularmente quer dizer luxuosa. de escrever: telangive (vigilante) que, na forma vésrica, de­ Foi esse tango gravado em 1928 por Pilar Arcos, com música veria ser te/angivi; e letra de Ramón Collazo. Outro exemplo onde se vê a mesma 6) transposição direta e sucessiva das sílabas de trás palavra bacán: "Preparate a filar aquel ataria 1 que parece para diante, com a perda de uma consoante: ortiba (batidor), bacán de mucho vento" ... E/ Legado de/ tio (anônimo). O que, no caso, deveria ser dortiba, para não perder o d; verbo filar, e a palavra vento, vêm do lunfardo, e significam, 7) transposição com acréscimo: colimba (milico), que de­ respectivamente, sair e dinheiro. veria ser colimi, dando-se a mudança da sílaba final, com o Foi graças ao tango que o lunfardo teve entrada na so­ acréscimo do ba; ciedade portenha. Antes, o tango era proibido, como o !untar­ 8) transposição com ruptura de ditongo e aumento de sí• do, por ser indecente entre famílias. Mas depois que o tango labas: jaevi (vieja), que deveria ser, no vesre, javie; taerpu mereceu destaque, o lunfardo começou a aparecer nas letras (puerta), no caso, tapuer; teermu (muerte), que deveria ser e na linguagem do povo·. temuer, no vesre; O Tango - na linguagem generalizada é uma dança po­ 9) transposição com perda de letra ou sílaba: yolipar (apo­ pular do Rio da Prata. Apareceu na sexta década do século liyar) e yompa (pabeyón), em ambos alternam com ayolipar e XIX, definida, a princípio, em compasso de 2 por 4, até à se­ úeyompa, respectivamente; gunda década do século XX, e de 4 por 8, depois. A canção 10) transposição com mais letras: tegenaite (gente) que popular surgiu no fim do século XIX, quando se escreveram deveria ser somente tegén; letras para serem cantadas. Na segunda década do século 11) anagrama: dá-se o anagrama modificando completa­ XX Pascual Contursi começou a escrever as suas letras. Não mente a palavra: celma (almacén); codemi (médico); sempio se deve esquecer que o maior representante do tango argen­ (pensión); viorsi (servicio); yoruga (uruguayo), yoyega (galle­ tino foi o inesquecível Gardel, cujo cinqüentenário de morte go). Observe-se que em alguns exemplos faltam letras, e, no ocorreu este ano. Carlos Gardel deixou o tango quando mor­ último, há a predominância da pronúncia; reu, em 1935, morrendo também com ele o melhor desse gê­ 12) no caso de verbos, a transposição acontece com a adi­ nero musical. ção de letras e perda de consoantes: garpar (pagar), que de-

148 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.jdez. 1984 Rcv. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.jdez. 1984 149 veria ser, de acordo com a forma vésrica, garpa; jerquear (co­ cuero; pilcha - prenda. Todos esses exemplos são retirados ger) e não, jerco, como deveria ser no vesre; namicar (cami­ da linguagem gauchesca e do espanhol popular argentino. nar), alternando com narmica; Na apresentação do dicionário de lunfardo, José Gobello 13) derivação - bramaje (hembraje) de brame, forma faz uma referência aos seguintes termos: vésrica de hembra; chagarear (garchar; forma vésrica de "Julguei útil estabelecer os níveis lingüísticos em que se garcha, que é chagar; ortibar (batir), de ortiba, forma vésrica empregam principalmente os termos aqui apresentados, então de batidor; destaquei: 14) pluralização da forma vésrica singular: viongas (ga­ "lenguaje elevado" (exclusivo da aristocracia) viones), que deveria ser nesviogas, faitando também a letra e; "lenguaje general" (a linguagem corrente) 15) aumentativo ou diminutivo da forma vésrica do posi­ "popularmente" (tanto usada na linguagem popular, como tivo: chama (forma vésrica de macho): chomazo ou machazo na boa sociedade) e chomita; tegobito (bigote), formado sobre tegobi. "lunfardo" (linguagem trazida pela imigração e introdu­ zida na linguagem de Buenos Aires) Em uma antiga gravação de "Media Luz", cantada por "delictivo" (pode ser lunfardo ou não, como ocorre com Pilar Arcos, há a seguinte passagem: " ... viejos de a "de la vida airada"). mi flor I un tangó de porcelana .. . " Para facilitar o estudo dos interessados, oferecemos um

Depois de muito rebuscar, chegamos à conclusão de que pequeno glossário onde constam somente as palavras lunfar... a palavra tangó é a forma vésrica de gatón . .. das, e outro, com os demais termos, estes, seguidos de exem­ Alguns exemplos de palavras de forma vésrica na mú­ plos. sica: "Y aunque soy arrabaleroj más que el farol de Pompeyal ni soy guapo ni lancero I ni me tuerzo pa un gotán". Linye­ PEQUENO GLOSSARIO DE PALAVRAS LUNFARDAS ra, Dante A. (Francisco Bautista Rimolil - Semos hermanos! CONTIDAS NO DICIONARIO DE JOSÉ GOBELLO Poesias arrabaferas, 1928. "Celedonio chupándose el to·co del último jotraba'', Gon­ Afnaf - por partes iguais; bissexual, que se comporta como zález Tufión, Tangos. Há, neste exemplo, o verbo chupar, po­ heterossexual e como homessexual. Da gíria afnaf, que pularmente significa beber; toco, no lunfardo é o produto de vem do inglês haff and haff um roubo, e finalmente, a forma vésrica de trabajo, que é Agrampar - reter, tomar. Do italiano aggrampare jotraba. Amurar - empenhar "La naesqui en un desvelo polenta I empavona el chum­ Apoliyar - dormir bo del recuerdo" . Centeya, Julián - "La musa mistonga - Atenti - Cuidado! Do italiano attento (-i) Tangos. Atro que - mais que São inúmeras as transformações na língua espanhola ar­ Babi - bigode. Do italiano baffi gentina. Como diz José Gobello, íez-se preciso um dicioná­ Batifondo - alvoroço, vozerio rio com palavras usadas somente em Buenos Aires, e não Blaba - salteamento perpetrado com violência (de beava, de registradas nos dicionários comuns. Se não nos chegasse uma vários dialetos italianos) explicação como tez José Gobello, como iríamos saber o sig­ Olyuya - dinheiro. Do piamontês begieuia, gravado nificado de tegobi, gotán, jotraba ou zabeca? (bigote, tango, Uobo - relógio. Do italiano bobo, bago, bovo trabajo e cabeza) . Convém lembrar o grande José Hernán­ Uochín - boliche. Do italiano boccino dez, uqe em sua obra-prima Martín Fierro nos mostra muito Oriyo - diamante. Da gíria italiana briffo do linguajar vésrico, como redotao (derrotado) redamar (der­ Orado - do italiano brado (ir a/ brado - arruinar-se; mandar ramar) e outros citados pelo próprio Gobello: abaraje - ata­ a/ brado - defraudar) je; abombarse - aturdirse; cuja - cama; guasca - tira de Oruyir- queimar. Do genovês bruxâ

150" Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.jdez. 1984 l(llv. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984 151 veria ser, de acordo com a forma vésrica, garpa; jerquear (co­ cuero; pilcha - prenda. Todos esses exemplos são retirados ger) e não, jerco, como deveria ser no vesre; namicar (cami­ da linguagem gauchesca e do espanhol popular argentino. nar), alternando com narmica; Na apresentação do dicionário de lunfardo, José Gobello 13) derivação - bramaje (hembraje) de brame, forma faz uma referência aos seguintes termos: vésrica de hembra; chagarear (garchar; forma vésrica de "Julguei útil estabelecer os níveis lingüísticos em que se garcha, que é chagar; ortibar (batir), de ortiba, forma vésrica empregam principalmente os termos aqui apresentados, então de batidor; destaquei: 14) pluralização da forma vésrica singular: viongas (ga­ "lenguaje elevado" (exclusivo da aristocracia) viones), que deveria ser nesviogas, faitando também a letra e; "lenguaje general" (a linguagem corrente) 15) aumentativo ou diminutivo da forma vésrica do posi­ "popularmente" (tanto usada na linguagem popular, como tivo: choma (forma vésrica de macho): chomazo ou machazo na boa sociedade) e chomita; tegobito (bigote), formado sobre tegobi. "lunfardo" (linguagem trazida pela imigração e introdu- zida na linguagem de Buenos Aires) Em uma antiga gravação de "Media Luz", cantada por "delictivo" (pode ser lunfardo ou não, como ocorre com Pilar Arcos, há a seguinte passagem: " .. . viejos tangos de a "de la vida airada"). mi flor I un tangó de porcelana .. . " Para facilitar o estudo dos interessados, oferecemos um Depois de muito rebuscar, chegamos à conclusão de que pequeno glossário onde constam somente as palavras !untar­ a palavra tangó é a forma vésrica de gatón . . . das, e outro, com os demais termos, estes, seguidos de exem- Alguns exemplos de palavras de forma vésrica na mú­ plos. sica: "Y aunque soy arrabalero/ más que el farol de Pompeyal ni soy guapo ni lancero I ni me tuerzo pa un gotán". Linye­ PEQUENO GLOSSÁRIO DE PALAVRAS LUNFARDAS ra, Dante A. (Francisco Bautista Rimolil - Semos hermanos! CONTIDAS NO DICIONÁRIO DE JOSÉ GOBELLO Poesias arrabaleras, 1928. "Celedonio chupándose el toco del último jotraba", Gon­ Afnaf - por partes iguais; bissexual, que se comporta como zález Tufión, Tangos. Há, neste exemplo, o verbo chupar, po­ heterossexual e como homessexual. Da gíria afnaf, que pularmente significa beber; toco, no lunfardo é o produto de vem do inglês half and half um roubo, e finalmente, a forma vésrica de trabajo, que é Agrampar - reter, tomar. Do italiano aggrampare jotraba. Amurar - empenhar "La naesqui en un desvelo polenta 1 empavona el chum­ Apoliyar - dormir bo del recuerdo". Centeya, Julián - "La musa mistonga - Atenti - Cuidado! Do italiano attento (-i) Tangos. Atro que - mais que São inúmeras as transformações na língua espanhola ar­ Babi - bigode. Do italiano baffi gentina. Como diz José Gobello, fez-se preciso um dicioná­ Batifondo - alvoroço, vozerio rio com palavras usadas somente em Buenos Aires, e não Biaba - salteamento perpetrado com violência (de beava, de registradas nos dicionários comuns. Se não nos chegasse uma vários dialetos italianos) explicação como fez José Gobello, como iríamos saber o sig­ Biyuya - dinheiro. Do piamontês begieuia, gravado nificado de tegobi, gotán, jotraba ou zabeca? (bigote, tango, Bobo - relógio. Do italiano bobo, bogo, bovo trabajo e cabeza) . Convém lembrar o grande José Hernán­ Bochín - boliche. Do italiano boccino dez, uqe em sua obra-prima Martín Fierro nos mostra muito Briyo - diamante. Da gíria italiana brillo do linguajar vésrico, como redotao (derrotado) redamar (der­ Brodo - do italiano brodo (ir a/ brodo - arruinar-se; mandar ramar) e outros citados pelo próprio Gobello: abaraje - ata­ a/ brodo - defraudar) je; abombarse - aturdirse; cuja - cama; guasca - tira de Bruyir - queimar. Do genovês bruxâ

i.so· Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984 151 Busarda - Boca. Do italiano bugiarda - mentirosa e /uzarda Mango - peso, unidade monetária. Do provincianismo portu­ - estômago, e do genovês buzzo guês mango, que era o antigo mil réis. Usado entre nós Bute - excelente, ótimo. Do calá de buten como dinheiro Buyón - comida. Do genovês buggio Marosca - na interjeição La Marosca! - expressa assom­ Cachar - tomar. Do italiano cazar bro. Eufemismo de La Madonna, confrontando com o vê­ Cafiía - homem rústico. Do italano meridional cafóne neto Madosca Capela - chapéu. Do italiano capello Minga - não, nada. Do quêchua mink'a: ação de alugar. No Capo - chefe, o cabeça. Do italiano capo espanhol da língua generalizada, comércio entre colo­ Contamusa - mentiroso. Do genovês contamosse nos. Cualunque - qualquer. Do italiano cua/unque Mishio - pobre. Em português temos, popularmente, e no Cucuza - cabeça. Do italiano meridional cucuzza Sul do Brasil, mixe, de pouco valor, insignificante. Cucha - covil de cães. Do italiano cuccia Mufa - mal humor, má disposição. Do vêneto star muffo (me­ Cufa - cárcere. Do genovês côffa lancólico) e este, do italiano muffa, mofo. Chato - agente de polícia. Do italiano ciaffo Pibe - menino. Do genovês pivetto. e da gíria italiana pivello. Chamuyar - conversar. Do calá chamullar Pichibirlo - pequeno, de pouca idade. Talvez do diamontês Chica - rapé. Do italiano cicca piei r/o Chicato - míope. Do italiano accecato Ragutín - comida. Do genovês ragà, carne assada aromati­ Chivato - delator. Do calá chivato zada. Deschavar - abrir uma fechadura. Do genovês descciavâ Sotala - bolso interior do casaco. Da gíria italiana, na ex­ Esparar - colaborar com o punguista distraindo a vítima. Da pressão sotto ala, debaixo do braço. gíria italiana sparâ e/ tir: avisar Sotamanga - parte inferior da manga. Do italiano sottoma­ espiantar - escapar, fugir nica. esquena - espádua. Do genovês schenn-a. Tasca - bolsinho, saquinho costurado nos vestidos para Esquiafo - bofetão. Do italiano schiaffo guardar coisas de uso. Do italiano tasca. Funyi - chapéu. Da gíria italiana fungo Urmo - na expressão "mandar ai urmo", do jogo de padrone Furbo - astuto. Da gíria italiana turbo y soto (patrón y soto), deixar sem beber o vinho posto Gamba - perna. No português popular deu gâmbia em jogo. Do siciliano urmu, sem sentido reto. Garrotear - romper o anel do relógio mediante os dedos po- Yacumina - casaco, vestimenta de homem, com mangas e legar e indicador para levá-lo saias. Do italiano giacchetta, com interferência do geno­ Gil - tonto, tolo. Do espanhol gilí e do ca!ó ji/ vês giacõmin. Grilo - bolso lateral da calça. Da gíria italiana grillet Yeta - influência maléfica. Do, italiano meridional jettatura. Guadariar - ganhar. Do italiano guadagnare Yetatore - pessoa a que se atribui o poder de influir malefi­ Güífaro - italiano. De origem incerta. Há também a forma camente sobre os outros. Do italiano jettatóre. güifano Liny-era - jornaleiro que, no fim do século passado e começo PEQUENO GLOSSÁRIO DE TERMOS USADOS NA do presente, chegava da Itália ou da Espanha para tra­ ARGENTINA COM ALGUNS PEQUENOS EXEMPLOS balhar nas colheitas e voltava à sua terra. Do piamontês usado na gíria: /ingêra Blscuit - (leng. elev.) - mulher formosa, leve, sensual: " Mancar - fracassar um roubo ao ser descoberto o ladrão. una sefiora muy decente y muy aseadita, y tan delicada, Em português temos a gíria "dar mancada'' pobre, un biscuit . . . " Denevi, Marco - Hierba de/ cielo, Manco - nada, de nenhuma maneira. Do italiano manco. 1973. Aparece com freqüência manco dito, pelo emprego da Cancha - (leng. gen.) - espaço onde jogam; pátio, hipódro• forma italiana manco dirlo mo ou arena. "No sentirá el potrillo mucho frío en can- ltov. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.jdez. 1984 152 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.jdez. 1984 153 Busarda - Boca. Do italiano bugiarda - mentirosa e luzarda Mango - peso, unidade monetária. Do provincianismo portu­ - estômago, e do genovês buzzo guês mango, que era o antigo mil réis. Usado entre nós Bute - excelente, ótimo. Do caló de buten como dinheiro Buyón - comida. Do genovês buggio Marosca - na interjeição La Marosca! - expressa assom­ Cachar - tomar. Do italiano cazar bro. Eufemismo de La Madonna, confrontando com o vê­ Cafria - homem rústico. Do italano meridional cafóne neto Madosca Capela - chapéu. Do italiano capello Minga - não, nada. Do quêchua mink'a: ação de alugar. No Capo - chefe, o cabeça. Do italiano capo espanhol da língua generalizada, comércio entre colo­ Contamusa - mentiroso. Do genovês contamosse nos. Cualunque - qualquer. Do italiano cua/unque Mishio - pobre. Em português temos, popularmente, e no Cucuza - cabeça. Do italiano meridional cucuzza Sul do Brasil, mixe, de pouco valor, insignificante. Cucha - covil de cães. Do italiano cuccia Mufa - mal humor, má disposição. Do vêneto star muffo (me­ Cufa - cárcere. Do genovês côffa lancólico) e este, do italiano muffa, mofo. Chato - agente de polícia. Do italiano ciaffo Pibe - menino. Do genovês pivetto, e da gíria italiana pivello. Chamuyar - conversar. Do caló chamullar Pichibirlo - pequeno, de pouca idade. Talvez do diamontês Chica - rapé. Do italiano cicca picirlo Chicato - míope. Do italiano accecato Ragutín - comida. Do genovês ragà, carne assada aromati­ Chivato - delator. Do caló chivato zada. Deschavar - abrir uma fechadura. Do genovês descciavâ Sotala - bolso interior do casaco. Da gíria italiana, na ex­ Esparar - colaborar com o punguista distraindo a vítima. Da pressão sotto ala, debaixo do braço. gíria italiana sparâ e/ tir: avisar Sotamanga - parte inferior da manga. Do italiano sottoma­ espiantar - escapar, fugir nica. esquena - espádua. Do genovês schenn-a. Tasca - bolsinho, saquinho costurado nos vestidos para Esquiafo - bofetão. Do italiano schiaffo guardar coisas de uso. Do italiano tasca. Funyi - chapéu. Da gíria italiana fungo Urmo - na expressão "mandar ai urmo", do jogo de padrone Furbo - astuto. Da gíria italiana turbo y soto (patrón y soto), deixar sem beber o vinho posto Gamba - perna. No português popular deu gâmbia em jogo. Do siciliano urmu, sem sentido reto. Garrotear - romper o anel do relógio mediante os dedos po- Yacumina - casaco, vestimenta de homem, com mangas e legar e indicador para levá-lo saias. Do italiano giacchetta, com interferência do geno­ Gil - tonto, tolo. Do espanhol gilí e do ca!ó jil vês giacõmin. Grilo - bolso lateral da calça. Da gíria italiana gril/et Yeta - influência maléfica. Do, italiano meridional jettatura. Guadanar - ganhar. Do italiano guadagnare Yetatore - pessoa a que se atribui o poder de influir malefi­ Güífaro - italiano. De origem incerta. Há também a forma camente sobre os outros. Do italiano jettatóre. güifano Liny-era -jornaleiro que, no fim do século passado e começo PEQUENO GLOSSÁRIO DE TERMOS USADOS NA do presente, chegava da Itália ou da Espanha para tra­ ARGENTINA COM ALGUNS PEQUENOS EXEMPLOS balhar nas colheitas e voltava à sua terra. Do piamontês usado na gíria: língera 131scuit - (leng. elev.) - mulher formosa, leve, sensual: " Mancar - fracassar um roubo ao ser descoberto o ladrão. una seriora muy decente y muy aseadita, y tan delicada, Em português temos a gíria "dar mancada" pobre, un biscuit ... " Denevi, Marco - Hierba de/ cielo, Manco - nada, de nenhuma maneira. Do italiano manco. 1973. Aparece com freqüência manco dito, pelo emprego da Concha- (leng.gen.)- espaço onde jogam; pátio, hipódro forma italiana manco dírlo mo ou arena. "No sentirá el potrillo mucho frio en can

152 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan.jdez. 1984 lt ov. de Letras, Fortaleza, 7 (1/2) - jan./dez. 1984 153 cha?" - Preguntó Medina." Fabricio, León - E/ hipó­ RECENSÕES dromo. Golibriyo - (pop.) - meio louco: " ... vós sabés que piensa I en el hijo maio, medio colibriyo, a quien siempre es­ pera." Linyera, Dante A. (Francisco Bautista Rimoli) - Semos hermanos! (Poesias arrabaleras, 1928). Cortada - (leng. gen.) - rua muito estreita e sem saída. Do espanhol cortar, interromper: "en la cortada miston­ ga ... " Le Pera, Alfredo, do tango Melodia de Arrabal, 1933. Milonga - (leng. gen.) - mulher da rua, bailarina: "Por eso la milonga es la payada pueblera. Son versos octosíla• BóiA, Wilson, Antônio Sales e sua época. Fortaleza. bos, que se recitam con cierta tonada no desagradable Banco do Nordeste do Brasil, 1984. matizada con intervenciones adecuadas de guitarra ... " "Rossi, Vicente - Cosas de Negros, 1926. Mula (pop) - engano: " ... o el catálogo de los derviches es José Alcides Pinto una mula o ellos no se conocen todavia ... " Marechal, Leopoldo - Megafón o la Guerra, 1970. Mus - (pop) - não, nada - "Mus de hábito, sus leones Numa iniciativa das mais louváveis do Banco do Nordes­ mintongueros I un funghi marca embudo ... " Fernández, te do Brasil, foi publicado na Coleção Antônio Sales, da Aca­ Felipe H. - (Yacarel - Versos rantifusos, 1916. demia Cearense de Letras, um livro de indiscutível importân• Paica - Percanta, Catriela, Feba - (pop.) - todas signifi­ cia, da autoria de Wilson Bóia: Antônio Sales e sua época. cam mulher, moça: "Yo a la mina le bato paica, feba, ca­ Trata-se de obra de alta categoria, um volume de 683 pági­ triela, I percanta, cosa, piba." Fernández, Felipe H (Ya­ nas, enriquecido por valiosa iconografia, além de uma lista care) Versos rantifusos, 1916. dos pseudônimos usados pelo escritor focalizado, e cronolo­ Rechiflar (se) - (pop) - Perder o juízo por uma pess::la ou gia, assim como bibliografia sobre Antônio Sales, poeta e pro­ por uma coisa: "Rechiflado en mi tristeza, te evoco y veo sador cearense que já havia sido objeto apenas de artigos que has sido I en mi pobre vida paria sólo una buena ou capítulos de livros, da autoria de destacados autores, mujer ... ", Flores, Celedonio Esteban - Tango Mano a como Dolor Barreira, Abelardo Montenegro, Otacílio de Aze­ Mano, Chapaleando barro, 1929. vedo, Cruz Filho, Edigar de Alencar, Sânzio de Azevedo, Ota­ Sabiola - (pop) - cabeça - "De la sabiola todo se me pian­ cílio Colares e outros, sem esquecer Pedro Nava, em seus li­ ta", Centeya, Julián (Amleto Vergiatil - La musa miston­ vros de memória. ga, 1964. Wilson Bóia, que sabíamos ser carioca, é, como informa Taita (pop) - homem valente: "soy el taita más ladino fe­ o escritor Cláudio Martins na "Nótula" que abre o livro, "mé­ chinero y compadrito ... " Manco, Silve rio - Echá/e dico, militar, professor de Química Orgânica e de Higiene In­ Bufach a/ Catre! 1907. dustrial", e já publicou, como ainda ressalta o presidente da Va cha cher - (ou va cha ) - certa deformação que imi­ Academia Cearense de Letras, um livro de poemas, Lira sel­ ta a linguagem infantil: "qué vas a hacer" (Que vais vagem, em 1945, o ensaio Ciência e arte na Medicina, publi­ fazer). cado em 1950. Este terceiro livro de Wilson Bóia, Antônio Voltear (leng. delict .) - roubar numa casa, com ou sem vio­ Sales e sua época, é fruto de demoradas pesquisas, indo o lência: "Había sido un jotraba de escruche, voltear la seu autor às fontes, aos velhos arquivos, às coleções de jor­ casa del doctor Achával Reta" - Centeya, Julián (Am­ nais e revistas, num trabalho enorme e extremamente cansa­ leto Vergiati) - E/ Vaciadero, 1971. tivo, para dar ao leitor uma idéia completa ou quase com-

J54 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (112) - jan./dez. 1984 Rev. de Letras, Fortaleza, 7 (112) - jan.fdez. 1984 155