Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Presidente: - … Passo a palavra ao Sr. Secretário da Mesa para proceder à verificação das presenças.

Sr. Secretário da Mesa, Eduardo Monteiro: -

Afonso Silva Mendes da Fonseca Ivete Helena Ramos Delgado Silves Agostinho António Lopes Ferreira Alberto Alves Jacinta da Veiga Martins Alexandre Ramos Lopes Janine Tatiana Santos Lélis Antero Teixeira Jean Emanuel da Cruz António Alberto Mendes Fernandes Joana Gomes Rosa António Delgado Monteiro Joanilda Lúcia Silva Alves António Pascoal Silva dos Santos João Baptista Ferreira Medina António Pedro Pereira Duarte João Carlos Cabral Varela Semedo Aristides Raimundo Lima João Lopes do Rosário Arlindo Tavares Silva Joel Amarante Ramos Silva Barros Armindo Cipriano Maurício Jorge Arcanjo Livramento Nogueira Austelino Tavares Correia Jorge Pedro Maurício dos Santos Carlos Alberto Barbosa José Domingos António Lopes Clemente Delgado Garcia José Luís Lima Santos David Hopffer de Cordeiro Almada José Manuel Afonso Sanches Domingos Mendes de Pina José Manuel Gomes Andrade Eduardo Monteiro José Maria Vaz de Pina Emanuel Pereira Garcia Almeida Joselito Monteiro Fonseca Ernesto Che Guevarra Mendes Júlio Lopes Correia Barbosa da Silva Justiniano Jorge Lopes de Sena Eurico Correia Monteiro Justino Gomes Miranda Eva Verona Teixeira Ortet Libéria das Dores Antunes Brito Felisberto Henrique Carvalho Cardoso Lídio da Conceição Silva Fernanda Fidalgo de Pina Burgo Manuel Gomes Fernandes Fernando Elísio Leboucher Freire de Maria da Ressurreição Lopes da Silva Andrade Mário Gomes Fernandes Fernando Lopes Vaz Robalo Mário Ramos Pereira Silva Filipe Baptista Gomes Furtado Miguel António Costa Filomena de Fátima Ribeiro Vieira Miguel da Cruz Sousa Martins Moisés Gomes Monteiro Filomena Maria Frederico Delgado Nelson do Rosário Brito Silva Orlanda Maria Duarte Santos Ferreira Francisco António Dias Orlando Pereira Dias Hermes Silva dos Santos Paulo da Cruz Guilherme Hermínia Gomes da Cruz Curado Pedro Amante Ramiro Furtado Ferreira Rui Alberto Figueiredo Soares Humberto André Cardoso Duarte Rui Mendes Semedo Vanusa Tatiana Fernandes Cardoso

Sr. Presidente: - A Assembleia tem quórum. Encontram-se na Sala 52 Deputados, estão fora dela 20.

[Eram 9 horas e 47 minutos.]

Anuncio o Período da Ordem do Dia e o ponto 8, Projecto de Lei que eleva a localidade de Coculi à categoria de vila. Convido o Sr. Deputado proponente a

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 se dirigir à Tribuna para proceder à apresentação. Tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Dias.

Sr. Deputado Francisco Dias (MPD): - Cá estou, mais uma vez, para apresentação de um projecto de lei a esta Casa parlamentar, tratando-se agora de um projecto de lei que eleva Coculi à categoria de vila. Ontem tivemos a oportunidade de apresentar a esta Casa parlamentar o Projecto de Lei para a elevação de Chã de Igreja à categoria de vila que mereceu o chumbo da Bancada parlamentar do PAICV e hoje estamos aqui, mais uma vez, para transmitir à população de Ribeira Grande o nosso engajamento naquilo que foi sempre o consenso de Ribeira Grande, na freguesia de Santo Crucifixo, mas também na freguesia de São Pedro Apostole relativamente a Chã de Igreja. Nunca entendemos essa postura, compreendemos que todos os passos foram dados no sentido da elevação dessas localidades à categoria de vila, mas estamos na política e muitas vezes os interesses partidários sobrepõem os interesses do povo. Não compreendemos também os nossos colegas, muitos deles nascidos nessas localidades, ao iniciarmos a apresentação terão abandonado a Sala, num gesto de quem não respeita as populações dessas vilas e põe os interesses do partido em detrimento do povo da Ribeira Grande. Sr. Presidente, no objecto, queríamos fazer uma correcção, antes de iniciar. O objecto é “Elevação de Coculi à categoria de Vila” e não de “Chã de Coculi à categoria de vila”. O povoado de Coculi, situando-se numa posição geográfica e natural estratégica, na confluência das Ribeiras de Jorge, Chã de Pedras e Figueiral, justifica-se assim a sua função de sede administrativa, económica e eclesiástica da freguesia de Santo Crucifixo. Pequeno núcleo demográfico que [Imperceptível] da sua importância económica, administrativa, eclesiástica e da sua localização geográfica propiciou a convergência de outros tantos pequenos povoados nas suas imediações, designadamente Fajã e Corral de Coculi, Chã de Banca, Canpim e Boca de Figueiral, com vocação natural para a integração e extensão territorial do povoado nuclear de Coculi, constituindo-se num pólo populacional com vocação urbana num âmbito espaço rural, voltada para a produção agropecuária, silvopastoril e pequena indústria tradicional. É neste quadro entre a sua vocação natural para a concentração populacional de configuração de um pólo de desenvolvimento urbano e de afirmação no espaço rural, como potencial económico da freguesia de Santo Crucifixo, que o povoado de Coculi ganha a sua importância como centro de troca, comercialização e venda de produtos agrícolas, comércio geral e prestação de serviços. Da justa compreensão do fenómeno de integração populacional, designadamente a necessidade de uma melhor aproximação dos serviços às comunidades e ao mercado potencial, num espaço caracterizado em larga medida pela dispersão populacional, as autoridades administrativas e eclesiásticas estabeleceram ali os principais serviços de prestação às comunidades, do mesmo passo que se estabeleciam as principais unidades comerciais cujas referências actuais mais visíveis podem ser testemunhadas pelas edificações no espaço nuclear, albergando os seus pisos térreos, essencialmente áreas comerciais.

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Assim, por provisão do Bispo Don Cristóvão Boaventura de 10 de Outubro de 1997 funda-se a Igreja de Santo Crucifixo em Coculi, passando igualmente a funcionar naquela freguesia uma misericórdia. A referida igreja foi objecto de inúmeras obras de restauro, sendo as mais significativas no século XIX, restabelecendo-se numa ruína muito acentuada e mais recentemente uma ampla reforma física do edifício na forma como o traçado e a imponência do edifício é hoje conhecida. Em Fevereiro de 1968, cuja cerimónia de bênção foi presidida pelo Bispo Don José do Carmo [Imperceptível], sendo pároco da freguesia o cónego Manuel de Terças. A importância da freguesia de Santo Crucifixo é de tal ordem, que já nos finais do século XIX, para além do missionário conta com a existência de um vigário paroquial para dar respostas às necessidades eclesiásticas e de profusão da fé cristão naquela freguesia. Ainda hoje, reconhecidamente, se lembrada a obra do Cónego Manuel de Terças, por sinal o único da ilha que serviu aquela população cerca de 50 anos e que em sinal deste mesmo reconhecimento, jaz à porta da Igreja de Santo Crucifixo. Embora as primeiras escolas do ensino primário oficial da ilha remontam ao quartel do século XIX, supõe-se que a actividade de instrução pública seja concomitante à instalação da igreja paroquial e a da presença dos primeiros missionários naquela freguesia, conhecidas que são as actividades do ensino e da instrução pela igreja católica noutras paragens. Nogueira Porão dá conta de duas escolas para o sexo masculino no século XIX. Contudo, já em meados do século passado são conhecidos reivindicações das populações através de um regedor da freguesia, o saudoso Gualdino Cardeal Monteiro, da necessidade de construção de novas escolas básicas no interior dos vales, quais sejam: Figueiral, João Afonso, Boca de Coruja e mais uma outra em Coculi, imperativo social, resultante do crescimento da população escolar daquela freguesia. Terra de ricas e seculares tradições profundamente arreigadas na cultura da religiosidade de gentes de Santo Crucifixo, povoações vizinhas e de outras freguesias, Coculi comemora a 3 de Maio as festividades do seu padroeiro com actividades de carácter religioso e profanas, donde se sobressaem as manifestações de carácter eminentemente popular, designadamente o toque do tradicional tambor, o colá, os bailes populares, corridas de cavalos, que mobilizam milhares de festeiros e que marcam significativamente a vida dos inúmeros povoados daquela freguesia. Ainda muito relacionado com as religiosidades das suas gentes comemora-se as festividades de ascensão, popularmente conhecidas como festas de bandeirinha, simbolizada na instalação do Miron de espírito Santo que se prolonga por um período de quarenta dias e a não menos conhecida festa de São Pedro, também comemorada em boca de ambas as ribeiras. A aspiração ou o desenvolvimento, o acesso aos serviços básicos, designadamente as telecomunicações e acessibilidades, energia eléctrica, iluminação pública, infra-estruturas sanitárias, abastecimento de água, a educação, de entre outras, há muito constituíam justas reivindicações daquela freguesia, tantas vezes evocadas nos discursos oficiais perante as autoridades e hoje, felizmente, orientadas para novas aspirações.

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A freguesia de Santo Crucifixo, nos finais do século XIX, albergava 5.223 habitantes, distribuídas por 1.770 famílias. Em 2000 - segundo o censo da população, realizada pelo Instituto Nacional de Estatística - apresentava uma população de 7.789 residentes, distribuída em 1.718 agregados familiares, constituindo-se em mais de um terço da população do concelho de Ribeira Grande, sendo Coculi e as comunidades circunvizinhas - que constituem o pólo populacional nuclear - atingem cerca de mil habitantes, dispondo já de inúmeros serviços básicos, públicos e privados, sendo de destacar: delegação municipal, igreja paroquial de Santo Crucifixo, centro paroquial da freguesia, centro sócio-comunitário, posto policial de atendimento público, pólo de ensino básico, leccionando até o 6º ano de escolaridade; escola secundária de Coculi, com capacidade para albergar 1.700 alunos; jardins infantis, posto dos correios e da CV Telecom; rede de comunicações, telefones domiciliados com extensão por toda a freguesia; rede de abastecimento de água, ligação domiciliária; iluminação pública, escritório da Bornefonden, biblioteca e centro multimédia, associação de desenvolvimento de Coculi e arredores, cemitério, praça pública, minimercados, mercearias de abastecimento de produtos de primeira necessidade e uma agência da Caixa Económica. Desde os finais do século XIX que o povoado de Coculi é tido como um futuro pólo de desenvolvimento urbano, reivindicação calorosamente debatida pelas suas gentes nas décadas de 50 e 60 do século passado. A elevação de Coculi à categoria de vila, ainda hoje um anseio almejado por todos os naturais e residentes daquela freguesia. A construção da escola secundária, o Liceu de Coculi, que serve as freguesias de Santo Crucifixo e São Pedro Apostole tem tido um impacto demográfico, urbanístico, cultural, administrativo e comercial de significativo alcance para o desenvolvimento futuro da comunidade. A existência de terrenos agrícolas nas suas imediações, potencialmente urbanizáveis, asseguram a necessária expansão e consolidação do espaço urbano, designadamente para a edificação de novos serviços, como sejam: alargamento do parque habitacional, espaços verdes e de ocupação de tempos livres, desenvolvimento de actividades económicas, de entre outras. Assim, Coculi é reconhecidamente um povoado que já detém as suas condições básicas e essenciais para a sua elevação à categoria de vila. Reconheço, igualmente, que a elevação do povoado de Coculi à categoria de vila responde a um imperativo social tantas vezes expressa pelas suas populações e constituirá num impulso de elevar alcance para a promoção do desenvolvimento económico, social, cultural, urbanístico daquela localidade. O reconhecimento e a elevação do Coculi à categoria de vila impõe igualmente aos poderes públicos um maior esforço no investimento, de planeamento no investimento e desenvolvimento daquela localidade, designadamente no planeamento urbanístico de instalação de novos serviços e infra-estruturas sociais e constituirá num sentido à promoção do investimento privado nos mais vastos domínios.

Sr. Presidente: - Como os Srs. Deputados sabem, os pareces das comissões foram distribuídos e vamos, de seguida, dar início a um período de esclarecimentos. Há algum Deputado que deseja formular pedido de esclarecimento ou dar? Não sendo este o caso, está aberto o debate. Sr. Deputado Jorge Santos deseja a palavra para que efeito?

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Sr. Deputado Jorge Santos (MPD): - Para uma intervenção.

Sr. Presidente: - Tenha a bondade.

Sr. Deputado Jorge Santos (MPD): -

Srs. Membros do Governo, Srs. Deputados:

Mais uma vez estamos aqui nesta Casa parlamentar a discutir um Projecto de Lei de elevação da povoação de Coculi à categoria de vila. Coculi é uma povoação sobejamente conhecida a nível da ilha de Santo Antão, de Cabo Verde e por toda a nossa diáspora espalhada pelo mundo. É a confluência também de vários vales, como os senhores bem conhecem: Vale de Figueiral, de Chã de Pedra e João Afonso, de Caivos, de Ribeira de Jorge, mas também de localidades próximas de [Imperceptível] de Canpim, Curral, Chã de Banca e outras localidades. É uma povoação que ao longo dos tempos teve um papel importante na vida económica da ilha de Santo Antão, porque é um centro de distribuição e produção por excelência, é uma vila também constituída inicialmente por proprietários agrícolas que detinham as suas propriedades ao longo dos vales verdejantes. Estamos a falar da freguesia de Santo Crucifixo, que é a freguesia mais rica em água natural do País, é a maior concentração de água natural do País, com maior número de nascentes e maior capitação e assim como também é a freguesia que tem havido as maiores pluviosidades da ilha de Santo Antão. Como tal, desenvolveu-se como um núcleo económico, agrícola e de distribuição comercial. Coculi chegou a ter a maior casa comercial da ilha de Santo Antão naqueles tempos, também chegou a ser sede do concelho. Na altura Coculi era a vila de , por isso daí a festa de Santa Cruz que é a festa padroeira que temos em Coculi. A elevação de Coculi à categoria de vila é não só um reconhecimento da importância desta localidade no todo de Santo Antão e de Ribeira Grande, mas também é uma homenagem. Queria aqui chamar a atenção dos Srs. Deputados que mais importante do que a matéria são as pessoas. Coculi tem sido um centro intelectual de Santo Antão e também de Cabo Verde, senão vejamos: em Coculi nasceu o ilustre general Viriato Gomes da Fonseca, que foi o primeiro e único general cabo-verdiano no exército colonial português; lá também nasceram o ilustre professor Pedro Delgado e Domingos António Espencer, uma grande personalidade; é natural de Coculi Teodoro que morreu aos 73 anos de idade; Coculi também é terra de Epifânio Ferreira, o Anon, um ilustre dignitário e proprietário comerciante da ilha de Santo Antão de origem judaica; também nos arredores de Coculi, mais concretamente em Curral, temos o lendário João de Sabina Fortes, um trabalhador, um homem que deu exemplos a toda uma geração, que morreu aos 100 e tal anos. Mas também Coculi é terra do senhor Júlio Morais, pai da ex-ministra Helena Morais que hoje exerce altos cargos a nível do sistema das Nações

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Unidas; também de António Monteiro que é uma enciclopédia viva, um homem que está vivo, que detém toda a história da freguesia de Santo Crucifixo, mas também, quiçá, de Santo Antão. Coculi é terra de Gualdino Monteiro que foi também regedor dessa freguesia e que fez muito pelo desenvolvimento não só de Santo Crucifixo, como também de Ribeira Grande; terra de Eugénia Lopes, de Carlota Wahnon Ferreira, de João Pedro Pires, um ilustre industrial e comerciante, hoje vivo, que também é um exemplo para todos. Coculi também foi terra de Maria dos Santos, esposa do senhor João de Brito, natural de São Nicolau, homem também ilustre da freguesia de Santo Crucifixo. Mas ainda, Coculi é terra do padre Figueiredo, originário de São Nicolau, que viveu uma vida em Coculi quando era pároco de todo o Barlavento. Era padre de Santo Antão, de todos os concelhos. Era padre em São Vicente e ainda cobria São Nicolau. Mas, também é terra da vida do padre Terças, um ilustre português que chegou a Coculi com 32 anos de idade e que deixou a sua marca, hoje a praça central tem o nome de padre Domingos Terças Cónego. Padre Terças não é um homem qualquer, é professor e é o homem que fundou a primeira escola profissional em Coculi, que socorreu em primeiro lugar o Hospital de Ribeira Grande com oxigénio, salvando vidas, mas é o homem que também foi nosso professor: meu, dos meus pais, do Armindo Maurício. O Armindo foi cónego e aluno do padre Terças, assim como nós todos, figuras também do Coculi, das novas gerações. Mas o padre Terças deixou um legado forte, não só a sua obra eclesiástica, mas a sua obra social e a sua sabedoria. Era um visionário e como tal sempre dizia: “Meus senhores se querem desenvolver Cabo Verde têm que pensar alto e grande.” Esse era o principal legado do padre Terças, era um visionário, um homem que pensava e que deixou um legado a várias gerações que passaram por Coculi. Coculi também é terra de Isack Pinto que é um ilustre Judeu da sua altura, que deixou uma longa família de agricultores, professores, mas também de comerciantes. Coculi é terra de Nho Félix Lopes. Quem não se lembra de Nho Félix, também originário de São Nicolau, como vários outros ilustres professores que deixaram a sua obra literária e os seus conhecimentos. Daí, minha gente, se ontem a Bancada do PAICV fez tábua rasa na análise da elevação de Chã de Igreja à categoria de vila, hoje apelaria ao bom senso, ao patriotismo de todos os Deputados do PAICV no sentido de fazermos justiça para com uma freguesia importante deste País, mas fazer justiça também em homenagem a muitos que tanto deram para com uma freguesia importante deste nosso País, mas fazer justiça também e homenagem a tantos que deram para o desenvolvimento e para a independência deste povo. Mas, queria também dizer que Coculi e Santo Crucifixo é terra de ilustres combatentes da liberdade da pátria. Vários combatentes da liberdade da pátria, naturais de Coculi, saíram de Coculi, da Freguesia de Santo Crucifixo, emigraram para Moselle na França e entre eles um irmão meu. Emigraram para França, Moselle, Joaquim Monteiro, Armindo Ferreira, Albino Ferreira, vários outros, e de Moselle nos finais dos anos 60 foram mobilizados por dirigentes do PAIGC na altura para lutar para a independência e eles foram combatentes, de facto, estiveram na guerra e combateram de facto para a independência deste povo.

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Por isto, Coculi tem o direito também de ver homenagear, de ser elevado à categoria de vila. É este apelo que queria aqui deixar, para não entrarmos aqui no que assistimos ontem, numa luta só política. Vi na cara dos Deputados do PAICV que queriam elevar Chã de Igreja à categoria de vila e neste momento estou a ver a vossa alegria, que vocês querem também elevar Coculi à categoria de vila. Mas, meus senhores, furem a disciplina partidária, o sentido monolítico do PAICV e aprovem esta proposta…

Aplausos da Bancada do MPD.

… que é o sentido democrático que estamos aqui. Quero dizer que a rolha que o PAICV impôs aos Deputados da Freguesia de Santo Crucifixo a ponto de abandonarem a Sala é um sinal claro da vossa natureza, da natureza pouco democrática e pouco patriótica que vocês têm tido nesta Casa. Portanto, vocês têm a oportunidade de provar o vosso patriotismo e o sentido democrático e que vocês estão a acompanhar os tempos. Aprovem a elevação de Coculi à categoria de vila.

Aplausos da Bancada do MPD.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra o Sr. Deputado António Delgado Monteiro.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): -

Sr. Presidente da Assembleia, Colegas Deputadas e Deputados:

À semelhança do que discutimos aqui ontem à tarde, estamos aqui esta manhã a falar agora desta vez sobre a povoação de Coculi. Nós, os Deputados da UCID, gostaríamos imenso que todos os Deputados da nação cabo- verdiana vissem este projecto de lei de elevação de uma povoação, neste caso concreto, a povoação de Coculi à categoria de vila como um incentivo ao desenvolvimento desta localidade. Gostaríamos que os colegas vissem esta ideia, que é aqui trazida, como a criação de uma ferramenta indispensável para que a população de Coculi possa ter outros argumentos para que consigam levar avante o desenvolvimento do povoado de uma forma mais célere. Porque uma coisa é termos uma localidade com um rótulo e outra é termos esta mesma localidade com um rótulo superior e que obrigue as entidades nacionais, quer seja a nível do poder central, quer seja a nível do poder local, obrigue estas autoridades a verem com outros olhos o que é que as populações querem. Por isso, nós os Deputados da UCID, que vamos dar todo o nosso apoio a este Projecto de Lei de elevação de Coculi à categoria de vila e para poder ter todos os vectores necessários para o seu desenvolvimento, gostaríamos de pedir aos colegas Deputados para que ponhamos em primeiro plano as aspirações do povo da localidade de Coculi, para que tenhamos em primeiro plano tudo aquilo que possamos dar a esta localidade para que o povo possa

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 sentir na realidade o afecto que os políticos e os poderes instituídos têm para com eles. E se nós o fizermos vos garanto que a população de Coculi ficará grato a esta postura que iremos ter. Peço-vos, encarecidamente, a todos os Deputados do PAICV, do MPD e nós também da UCID, para despirmos um pouco as fardas dos nossos partidos e vistamos a farda da população cabo-verdiana e que tenhamos a coragem política suficiente de mostrar que nem sempre colocamos em primeiro lugar os interesses partidários e votamos, neste caso concreto, este projecto que irá dar à população de Coculi uma oportunidade de terem aquilo que há muitos e muitos anos estão à espera.

Sr. Presidente: - Antes de passar a palavra ao preponente, tenho mais dois inscritos, o Sr. Deputado António Pascoal Silva dos Santos e o Sr. Deputado Fernando Elísio Freire de Andrade. Sr. Deputado Fernando Elísio Freire de Andrade, para que efeito deseja usar da palavra?

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Para esclarecimentos em relação ao último interveniente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal Santos, para que efeito deseja usar da palavra?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Para uma intervenção, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Tem prioridade o Sr. Deputado Fernando Elísio Freire de Andrade.

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Na sequência da intervenção do Deputado António Monteiro, para despirmos as fardas partidárias e vestirmos a farda de Cabo Verde, porque ontem o PAICV esteve calado e hoje continua calado e o argumento que o PAICV utiliza para não aprovar, para chumbar os projectos de lei é um argumento de que ontem o Parlamento cometeu uma ilegalidade. Segundo o PAICV ontem a Mesa e os Deputados cometeram ilegalidades, utilizaram truques para poder discutir a lei. O que não é verdade! A Assembleia Nacional está a discutir este projecto de lei dentro da legalidade e desafiamos o PAICV, se tem dúvidas sobre a legalidade do processo que aja em consequência, caso contrário está apenas a utilizar um argumento falacioso, artificial para ter um discurso lá fora e para continuar a sua onda de desresponsabilização quando não tem onde fugir à responsabilidade. Portanto, consideramos que hoje o PAICV tem uma oportunidade de oiro de explicar à Nação onde está a ilegalidade, onde houve irregularidade do Sr. Presidente da Assembleia Nacional, dos membros da Mesa e dos Deputados para que a população do Coculi, a população de Chã de Igreja fique completamente esclarecida sobre os motivos de que o PAICV não votou a elevação dessas duas localidades à categoria de vila, porque caso contrário é o de sempre, o PAICV a fugir e a acusar os outros. E nós esperamos aqui o

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 bom senso do PAICV, primeiro que retire a rolha que tem sobre os Deputados de Santo Antão, mas que faça um especial favor e retire a rolha sobre o secretário-geral do PAICV, Deputado Armindo Maurício, para que fale e apoie esta iniciativa do MPD, da UCID, de todos os cidadãos de Santo Antão e de todas as ilhas de Cabo Verde. Portanto, é esta a oportunidade do PAICV porque caso contrário, se for lá fora dizer e utilizar os mesmos meios que têm utilizado sempre para passar a sua mensagem está mais uma vez a fugir à responsabilidade e a dizer lá fora que num Parlamento em que o PAICV é a Maioria está-se a cometer ilegalidades e irregularidades, inclusive da parte de membros da Mesa e de Deputados do MPD, o que nós não admitimos e não reconhecemos este argumento como válido, mas sim um argumento como um truque e um argumento artificial para fugir, mais uma vez, à sua responsabilidade.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): -

Sr. Presidente, Srs. Deputados, Srs. Membros do Governo, Ilustre Colega de Bancada, Deputado Francisco Dias, apresentador deste projecto:

É com sentida alegria e com profundo…

Sr. Presidente: - O seu grupo tem quatro minutos e meio, incluindo para o preponente.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - (Descontando os 30 segundos) … e com profundo sentido de honra que enquanto Deputado da Nação, eleito por São Vicente, por uma ilha da região do noroeste de Cabo Verde, enquanto filho, neto e bisneto de gente de Santo Antão, educado, criado em São Vicente por gente de Santo Antão, donde herdei também a força vigorosa das montanhas de Santo Antão e das gentes laboriosas e valentes de Santo Antão que fizeram história muitas vezes dentro da história de Cabo Verde que quero saudar, de forma efusiva, esse projecto de elevação da povoação de Coculi à categoria de vila. Quero também saudar a memória de todos aqueles ilustres filhos de Santo Antão ou de outras ilhas que lutaram e defenderam a elevação das povoações de Chã de Igreja e do Coculi à categoria de Vila. Penso que é chegado o momento para que esta Assembleia Nacional o faça. Ontem vimos o PAICV invocando falsas argumentações e na ausência do Presidente da Mesa, acusou esta Assembleia de ter admitido ilegalmente o projecto em discussão. Aproveitando a ausência do ilustre Presidente da Mesa, o Líder Parlamentar do PAICV agindo de forma um bocado não muito ortodoxa, mas isso já é habitual, fez isso, invocou ilegalidades que não concretizou, só como argumento para não votarem esta elevação. Na verdade sabemos que o PAICV está à espera de passar as eleições para que se ficar no poder,

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 esperemos e rezemos para que não, então venha a oferecer a Chã de Igreja onde protagonizou o 31 de Agosto e a Coculi e a Povoação, etc., oferecer como presente, dando imagem que está a reconciliar-se com as gentes de Santo Antão. Mais uma vez o PAICV é o Deus, os melhores filhos da nossa terra, os patriotas. Sem o PAICV Cabo Verde não existiria, nada existe, nem Deus, nem pátria, nem religião, nem Santo Antão nem nada. Portanto, o ilustre e distinto Deputado Armindo Maurício ficou numa situação difícil. Compreendo a sua situação como Deputado por Ribeira Grande, Santo Antão, e como Secretário- Geral do PAICV. Ele ausentou-se para não votar contra. Eu respeito a sua atitude, contudo eu o desafio e já o desafiei particularmente a desrespeitar porque nós somos Deputados, não somos joguetes, não somos paus mandados. No dia em que o MPD me pedisse para votar contra ou inviabilizar isso, eu desobedeceria claramente, alto e a bom som a directiva dos comandos do Estado Maior do MPD, se fosse o caso, mas o MPD felizmente não faz isso. Portanto, viva essa proposta e que o PAICV despindo e deixando de usar todos os meios para conseguir os seus fins vote e vote de boa fé e consciência a elevação da povoação de Coculi à categoria de vila.

Aplausos da Bancada do MPD.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro, para que efeito deseja usar da palavra?

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para uma pequena intervenção, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Faça o favor, tem um minuto.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Rapidamente para dizer aos colegas Deputados o seguinte: ontem depois que saímos daqui da Sala, eu recebi alguns telefonemas de Chã de Igreja que davam conta da indignação da população desta localidade pelo facto de não termos viabilizado, aqui no Parlamento, o projecto de lei. Gostaria de juntar esse dado para que todos analisássemos e não déssemos hoje também à população do povoado de Coculi essa amargura de boca, este desalento com a reprovação deste projecto de lei. Por isso peço-vos, mais uma vez, para que tenhamos em linha de conta as aspirações desta população e para que não os façamos estar hoje triste como esteve ontem a população de Chã de Igreja.

Sr. Presidente: - Vamos passar à votação. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? O Projecto de Lei que eleva a Localidade de Coculi à categoria de Vila foi rejeitado com 21 votos a favor, sendo 19 do Movimento para a Democracia e dois dos Deputados da União Cabo-Verdiana Independente e Democrática, nenhum voto contra e 36 abstenções de Deputados do Partido Africano da Independência de Cabo Verde. Algum Deputado ou grupo parlamentar deseja fazer declaração de voto? Tenho inscrito os Srs. Deputados Rui Semedo e Francisco Dias. Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Semedo.

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Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - A primeira nota nesta declaração de voto é ver que tanta importância que o MPD deu a esta iniciativa, ontem votou com 20 pessoas e hoje votou com 19 pessoas. Quer dizer que nove pessoas ontem não deram importância a esta iniciativa e hoje 10 Deputados também saíram da Sala ou não se fizeram presentes aqui na Sala para não ter que votar também esta iniciativa. Votámos abstenção independentemente de toda a pressão injusta de dentro e de fora do Parlamento com falsidades pelo meio. Somos favoráveis à elevação de Coculi à categoria de vila, há um engajamento firme desta Maioria em criar todas as condições para a materialização deste objectivo. A nossa abstenção é para nos deixar de consciência tranquila, tendo em conta o processo que consideramos, do nosso ponto de vista, estranho, tortuoso, com parceiros duvidosos no que diz respeito à sua autenticidade. Quem esteve atento e comparou as assinaturas com outras pode nos elucidar que ou não se trata da assinatura da mesma pessoa ou estaremos perante um autor de múltiplas assinaturas. Toda a nossa política de descentralização e a nova proposta de descentralização administrativa vai no sentido da valorização das comunidades, da aproximação das pessoas ao poder e do poder às populações e de aumentar os investimentos a bem das populações. As peripécias e danças dos parceiros demonstram-nos claramente que não houve nem seriedade neste processo e muito menos respeito pelo Parlamento. O Grupo Parlamentar do PAICV é favorável à criação desta vila, mas não podia se pactuar com este expediente e esta irregularidade, do nosso ponto de vista. Reafirmamos o nosso firme compromisso, como teria afirmado também o Primeiro-Ministro, em elevar esta povoação à categoria de vila. O Grupo Parlamentar do PAICV é de opinião que devemos, num processo mais abrangente, reapreciar todos os povoados e decidir de uma só vez pela criação das vilas. Consideramos que Coculi como Chã de Igreja reúnem condições de ser promovida a vila, mas consideramos também que Ribeira das Patas em Porto Novo, Achada Monte em São Miguel, Calheta do Maio, em Santa Catarina, em Santa Cruz, como Nossa Senhora do Monte ou Furna na Brava, enfim, um conjunto de novos povoados que ganharam com esta Maioria condições para serem promovidos a vila. À semelhança da elevação de um conjunto de outros povoados a vila, deve ser reponderada a questão de vilas e de cidades neste País, porque senão teremos vilas diferenciadas como vila de Santa Maria, vila de Espargos e outras vilas que vão surgir agora e temos que repensar a categoria desses povoados. Vamos, pois, num quadro de regularidade, de seriedade, de transparência, reavaliar tudo e tomar o mais urgente possível a decisão de tornar estes povoados em vilas. Vai-se cumprir a promessa e elevar todas essas povoações à categoria de vila. Podem fazer todo o barulho, podem fazer a pressão que quiserem, mas agimos sempre de acordo com a nossa consciência, cumprindo a Constituição, a lei e o Regimento desta Casa.

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Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Para uma declaração de voto em nome do seu grupo Parlamentar, tem a palavra o Sr. Deputado Francisco Dias.

Sr. Deputado Francisco Dias (MPD): - Sr. Presidente, Srs. Deputados, ao fazer esta declaração de voto vou também iniciar como iniciou o Líder Parlamentar do PAICV. Sr. Deputóde, moda bosê dezé, falandu kriole de Santo Antão, MPD na se Bankada onte votá ku 20, oji el votá ke 19. PAICV tanbe onte votá ke 32, oji el votá ke 36. Y si el votase ke Deputóde Armindo Maurício li nes Sala ta tinha ote signifikadu.

Aplausos da Bancada do MPD.

Se Deputóde Armindo Maurício ka tivese au ladu li na un kuartu di menbrus de Guverne sentóde, en ves de estóde li na se lugar komu Deputóde teria onte signifikadu tanbe.

Aplausos da Bancada do MPD.

Grupu Parlamentar de MPD votá a favor dês prujetu de lei purke es grupe ten respeite pa pove de Ribeira Grande, al ten respeite pa pove de Coculi, al ten respeite pa pove de Chã de Igreja. Grupu Parlamentar de MPD votá a favor purke es grupe y MPD é partidu da liberdade y da demokrasia na Cabo Verde.

Aplausos da Bancada do MPD.

Grupe Parlamentar di MPD votá a favor purke é com a liberdade ke un omen ta atinjí tude ses propózitu na vida. Y elevandu a kategoria de Vila, Coculi e Chã de Igreja sertamente no ti ta da un pasu inpurtante pa dezenvolvimente ekonómiku, sosial y kultural de kes lokalidade. Pur isu nos votu é senpre a favor de pesoas e nau a favor de partidus.

Aplausos da Bancada do MPD.

No votá a favor y Deputódes de MPD na Ribeira Grande y Santo Antão ta a favor purke é un konpromise com a sosiedade kabuverdiana. É un konpromise ku Ribeira Grande y é un konpromise kon a liberdade ou en vez da lei da rolha inposte pa Deputóde y Líder de Bankada Parlamentar, Rui Semedo, inposte a Deputódes de Ribeira Grande, y Armindo Maurício, nós nau. Armindo Mauricio, enkuante Deputóde, el ten un konpromise com Coculi, ku igreja de Coculi é ke da-l eskola, é ke po-l oje li nes Parlamentu y [imperceptível] tivese ainda vive, el táva arependide, ou aliás, já el tive arependide, el tava mute más arependide.

Aplausos da Bancada do MPD.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Argumentu falasiozu, Sr. Deputóde, da lei, kuande foi krióde kamaras munisipais senhor táva li nes Kaza tanbe, N tava li. Purke ke senhor ka evoká nesesidade de leis pa kriá es konselhe? So en relasãu a Santo Antão, só kuande é Ribeira Grande, só kuande é Coculi o só kuande é Chã de Igreja aí senhor ta lenbrá ke ten leis. Ise é demagojia, Sr. Deputóde. Pur ise nos nu votá a favor purke nos é kontra demagojia, nos é kontra populisme y nos é kontra pesoas ki tentá tra protagonisme pulítiku. PAICV kre sin trazé un lei li na Parlamentu unde ke el e ta sai kome u donu du puder, donu de Cabo Verde y aí sin, pur dekretu lei el ta elevá Chã de Igreja má Coculi a kategoria de vila. Pove de Coculi, pove de Ribeira Grande, pove Santo Antão ta la ta esperá bosês, ke é un konpromise de bosês, pa da un resposta na urna pa ingratidãu di Deputódes de PAICV y ingratidãu partikularmente de Deputóde Armindo Maurício y otes Deputóde.

Aplausos, de pé, da Bancada do MPD.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Os Deputados da UCID votaram a favor, à semelhança do que fizemos ontem em relação a Chã de Igreja, porque entendemos que a elevação de qualquer localidade a um patamar administrativo superior é sempre motivo de orgulho para gentes destas mesmas localidades. E se podemos dar este orgulho, se podemos dar esta ferramenta a essas pessoas, a esses cidadãos para poderem ter aquilo que tanto os seus pais, os avós e os bisavós lutaram, penso que cabe ao Deputados este direito de o fazerem. Ouvimos aqui os argumentos para não se votar a favor deste projecto, que houve falsificação possível de documentos. Ora, nós, nesta Casa Parlamentar, havendo este indício de falsificação de qualquer assinatura, pensamos que é dever desta Casa Parlamentar agir em conformidade. De forma que fica aqui o desafio para, caso tenha havido, como aqui disse o Sr. Líder Parlamentar do PAICV, possível desvio em termos de documentação, em termos da sua autenticidade, pensamos que esta Casa Parlamentar deve agir. Também ouvimos aqui o argumento de que iremos ter vilas diferenciadas. Falou-se de Santa Maria e também do Espargos no Sal, mas não devemos ter este receio porque temos cidades diferenciadas pelo mundo fora, temos cidades diferenciadas aqui em Cabo Verde, temos concelhos diferenciados. Não é termos uma vila ou outra diferenciada em termos de tamanho, dimensão e número, é que iria fazer-nos não votar a favor desta lei. É claro que há outros argumentos, argumentos estes que não foram aqui claramente dissecados. Votámos a favor, ainda, desta lei porque entendemos que a população de Coculi tem este direito de ter uma vila, uma maior atenção por parte dos poderes públicos. Por isso, entendemos que todos estes argumentos eram suficientes para que, de facto, votássemos a favor.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, tendo sido suscitado aqui uma questão pelos Deputados e esta questão não mereceu nenhum distanciamento

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 por parte das pessoas a que foram imputadas determinadas afirmações, a Mesa deve dizer muito claramente o seguinte: primeiro, que a Mesa não entra na luta política dos Srs. Deputados, ela está aqui para servir o Parlamento na sua globalidade e para gerir os trabalhos de acordo com a Constituição e o Regimento; que não tem nenhum cabimento tentar-se dizer que a Mesa deu cobertura a algum processo que tenha sido ilegal ou fraudulento. A Mesa aceitou os documentos que foram enviados pelas entidades que as enviaram de acordo com os critérios de sempre, designadamente de boa-fé em relação às pessoas que remeteram os documentos. O princípio da boa-fé é um princípio que deve existir na relação entre pessoas e na relação entre instituições. Suscitou-se a questão de que uma assinatura podia ser fraudulenta, é normal que as pessoas façam os seus julgamentos, mas devem assumir também responsabilidade e penso que o crime de falsificação de assinatura exige dos cidadãos uma colaboração na sua denúncia, sobretudo se for algo que põe em causa a correcção do processo e a dignidade de uma instituição. De modo que esperamos que as pessoas que, por ventura, tenham esta ideia tomem - de acordo com a sua consciência e com os imperativos da nossa ordem jurídica - as decisões adequadas. No entanto, não posso aceitar que esta Mesa praticou qualquer acto incorrecto em relação ao processo porque todas as pessoas conhecem esta Mesa e conhecem estes responsáveis. A Mesa fez um julgamento de respeitar a Constituição e a lei e o seu comportamento tem sido assim. Continuaremos a ter este procedimento sem procurar entrar em competências que são próprias de outros sujeitos e em lutas que são de outros. Sei que, às vezes, na luta política há excessos de parte a parte, mas penso que faria bem as pessoas que não procurassem, da forma como feita – não vou dizer se foi leal, se foi desleal – a chamar a Mesa para disputas que não são próprias da Mesa porque ela só tem o trabalho de criar as condições para que os Deputados possam, livremente, defender os interesses que devem defender enquanto representantes de todo o povo cabo-verdiano. Para dizer que a Mesa não recebe lições de ninguém, de correcção de ninguém, de modo que fique absolutamente claro este aspecto.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Semedo, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Para interpelar a Mesa.

Sr. Presidente: - Sim, faça o favor, Sr. Deputado, se tiver dúvidas em relação à condução dos trabalhos.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Tenho sérias dúvidas.

Sr. Presidente: - Então, faça o favor de manifestar a sua dúvida.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - A dúvida é esta intervenção por parte da Mesa porque em nenhum momento acusámos a Mesa. Consideramos aqui que a Mesa caiu no jogo da Oposição, que colocou na nossa boca a

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 acusação à Mesa. Em nenhum momento falámos da Mesa, falámos de uma situação que envolveu o Parlamento. O Parlamento é a Mesa, é a Oposição, é a Situação, somos todos nós. O Parlamento não é a Mesa. O Parlamento em nenhum momento é a Mesa. Mas, mais, caiu…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, pedia-lhe…

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Sim, Sr. Presidente, deixe-me falar, por favor.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, eu é que conduzo este debate.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Está a conduzir mal.

Sr. Presidente: - Não, o Sr. Deputado é que está a abusar da palavra que lhe concedi com toda a correcção. O que quero dizer ao Sr. Deputado é que modere o seu tom de voz e seja respeitoso em relação à Mesa porque se não for, cortar-lhe-ei a palavra.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Muito bem, Sr. Presidente, não obstante não ter…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, peço-lhe que se mantenha nos limites da correcção em relação à Assembleia Nacional e ao seu Presidente.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Muito obrigado, Sr. Presidente, mantenho uma correcção…

Sr. Presidente: - Não, estou a falar neste momento, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Quando terminar, diga-me.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, está a interromper-me e não tem este direito. Dou ao Sr. Deputado a palavra para, nos precisos limites da correcção em relação a esta Casa, dizer o que quer dizer isso em relação a isso. Depois ouvirá o que a Mesa tem para dizer, Sr. Deputado, e pode estar certo que a Mesa não lhe faltará o respeito que lhe é devido. Tenha a bondade.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Na minha afirmação, disse: quem esteve atento e comparou as assinaturas pôde nos elucidar que ou não se trata da mesma assinatura ou a assinatura da mesma pessoa, ou estaremos perante um autor de múltiplas assinaturas. Isto é claro. Ou estamos na presença de actor de múltiplas assinaturas. Esta questão é cristalina. Houve, sim senhor, um incidente neste Parlamento. Primeiro, não houve parecer; segundo, o parecer veio da forma que veio no dia seguinte; terceiro, o parecer veio ontem, em cima da hora, no calor do debate, foi entregue ao Presidente e foi distribuído. O parecer que foi assinado foi substituído a assinatura do grupo de juristas pelo presidente, é o mesmo documento que foi substituído a assinatura

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 do gabinete jurídico pela assinatura do presidente e veio por fax. E essa assinatura é diferente das outras assinaturas que vieram aqui ao Parlamento. Pode ser que ele tenha feito isso à pressa.

Sr. Presidente: - Desculpe, Sr. Deputado, quando se refere a presidente, é melhor dizer que presidente para não haver confusão.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Pode ser que ele tenha feito isso à pressa. Normal. Mas, que a assinatura não coincide com as outras assinaturas. De maneira que, considero normal a minha declaração de voto, no âmbito do exercício do direito do Grupo Parlamentar do PAICV. Penso que o Grupo Parlamentar do PAICV trata o Parlamento com respeito e merece ser tratado com respeito. Em nenhum momento faltámos respeito a ninguém e, por isso, exigimos que sejamos tratados de forma respeitosa. Cumprimos o nosso dever, fizemos a declaração de voto, reflectimos a posição da maneira como sentimos as coisas, da maneira como fizemos a nossa apreciação. Consideramos que o Grupo Parlamentar do PAICV não pode ser condicionado por nenhum sujeito desta Casa Parlamentar, porque a liberdade é para todos e o grupo parlamentar deve considerar-se suficiente livre.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, já ouvi a sua explicação, ouvi que o Sr. Deputado não quis, disse agora, acusar a Mesa em nenhum momento de irregularidade e disse que a Mesa caiu no jogo da Oposição. Sinceramente, esperava que depois da intervenção da Oposição o Sr. Deputado se tivesse distanciado porque no processo de diálogo entre as pessoas se alguém diz uma coisa e não se contrapõe, fica calado, é porque está de acordo. É por isso é que a Mesa se viu, Sr. Deputado, na obrigação de chamar atenção. Fico satisfeito com isso. No entanto, a Mesa não caiu em jogo de ninguém, também é preciso dizer, penso que isso é também ligeiramente ofensivo, como não é hábito porque a Mesa sabe exactamente aquilo que é a sua obrigação. Quer dizer, estou neste Parlamento se calhar há muito mais tempo do que a maior parte dos Deputados aqui, tenho a obrigação de conhecer a Constituição, de conhecer as leis. Normalmente não é meu timbre, as pessoas podem errar, errar em coisas elementares. Fiz um esforço grande em relação aos Srs. Deputados com o propósito sempre de dignificar o Parlamento. Chamei os Deputados para a Conferência de Representantes com esse propósito e pensando que poderia contribuir, de alguma forma, para a aproximação de posições e para a afirmação da boa imagem democrática deste Parlamento. Pessoalmente, eu disse ontem aos Srs. Deputados, vive situações difíceis como líder da oposição, em que várias vezes não foram respeitados os direitos das minorias. Tenho-me batido pelos direitos das maiorias e da minoria porque o verdadeiro timbre da democracia notamos no respeito que se tem pelos direitos das minorias, porque estar em maioria ou minoria depende de uma coisa só: de como o povo vota. Hoje estamos na minoria, amanhã estamos no poder e o contrário.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Então, só espero que este incidente, que é normal em democracia, sirva para nós todos melhorarmos o nosso entendimento sobre o processo democrático e para melhorarmos também as condições de respeito, de consideração e de lealdade em relação a todos os Deputados e em relação aos grupos parlamentares e a Mesa. Creio que nenhum grupo parlamentar tem razão de queixa em relação à Mesa do Parlamento quanto ao respeito pelos grupos parlamentares. Pessoalmente até sou de um grupo parlamentar, sou do PAICV, partido que eu servi em várias situações, como secretário-geral, como líder parlamentar, o primeiro líder parlamentar da história do PAICV, e que contribuiu para a estruturação do Grupo Parlamentar do PAICV em situações difíceis e que deu uma contribuição, sem dúvida nenhuma, para a estruturação do nosso Parlamento. Não estou a ver nenhum outro, sem falsa modéstia, que tenha feito mais do que eu nessa matéria. Isso agora, permitam-me que diga, porque penso é algo que se pode comprovar com trabalhos escritos, com documentos. De modo que é com todo o fair-play, com toda a abertura democrática, que aceito normalmente o posicionamento das pessoas e aceito as interpelações que, às vezes, são intervenção, porque penso que estamos num processo de aprendizagem e que é mais importante as pessoas falarem do que exercerem determinados direitos de imposição que não são sempre o melhor remédio para determinados males.

Sr. Presidente: - Sra. Deputada Filomena Martins, deseja a palavra para que efeito?

Sra. Deputada Filomena Martins (PAICV): - Para pedir a suspensão dos trabalhos, ao abrigo do Regimento, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sim, ao abrigo do Regimento, tem 30 minutos. Faça o favor.

[A Sessão foi suspensa às 11 horas e 02 minutos.]

[Após a suspensão.]

Vamos passar a palavra ao Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro para proceder à apresentação da proposta de lei que altera a lei n.º 57/V/98, de 29 de Junho, que regula o exercício da actividade de televisão.

Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas, Sidónio Monteiro: - Srs. Deputados, os princípios constitucionais relativos à comunicação social foram devidamente concretizados nos vários diplomas legais reguladores das actividades dos sectores da comunicação social. As leis de comunicação social visam, de forma expressa, reflectir as profundas mudanças ocorridas na sociedade cabo-verdiana e, assim, concretizar os paradigmas democráticos acolhidos na Constituição e delas consubstanciais e congénitas relativas à livre expressão, difusão do pensamento e da opinião no quadro de uma sociedade pluralista,

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 democraticamente organizada e alicerçada numa opinião pública esclarecida, formada por cidadãos livres e protagonistas da expressão e do confronto de diversas correntes de opinião. É neste quadro geral que a lei n.º 57/V/98, de 29 de Junho, foi aprovada a Lei da Televisão num contexto global de regulamentação de vastas matérias relativas à comunicação social e de adopção de outras medidas susceptíveis de fazer emergir um panorama mediático marcado pela pluralidade e pelo rápido acesso à informação, como factores favoráveis, por seu lado, a emergência de uma opinião pública esclarecida, participativa, plural e dotada de instrumentos críticos necessários ao exercício cabal das suas potencialidades de fiscalização do exercício do poder, não só do democraticamente constituído, como também de outros poderes sociais e de facto. Esse desenvolvimento que levou à consequente abertura do sector televisivo aos privados, bem como a introdução da utilização de novas tecnologias de informação e comunicação, determinou o aparecimento de situações de vazio legal na lei. Importa, pois, aperfeiçoar o instrumento jurídico existente, adaptando-o não só às exigências do melhoramento das garantias jurídicas da liberdade de expressão e do seu corolário, à liberdade de informação e das crescentes demandas da sociedade em torno de mais e melhores meios de comunicação social, como também aos desafios lançados pelas novas tecnologias de informação e as suas amplas repercussões. Assim, a Lei da Televisão deverá responder aos desafios emergentes de uma conjuntura de diversificação dos veículos de difusão e de distribuição de conteúdos televisivos, designadamente com o surgimento e a expansão da televisão por assinatura. Tendo em consideração que as actividades televisivas mediante a utilização de outros veículos de transmissão, difusão e recepção tornaram-se actualmente possível e são cada mais prolíferas neste novo contexto, como as realizações por televisão por assinatura e via satélite, sem que haja utilização do valioso bem do domínio público do Estado, preferiu-se optar pela sujeição dessas actividades a mera autorização dos membros do governo responsáveis pelas áreas da comunicação social e das comunicações e infra-estruturas. Tal opção não obsta, no entanto, a que o acesso a essas mesmas actividades seja sujeita a rigorosos critérios e normas procedimentais com vista a salvaguardar a qualidade técnica e a viabilidade económica do projecto televisivo. Pretende-se, ainda, adequar o diploma à Constituição da República e demais leis ordinárias no que concerne a liberdade de imprensa, determinando que a criação ou fundação de estações de radiodifusão ou televisão depende da licença a conferir mediante concurso, nos termos da lei, e remete para a lei ordinária a regulamentação do estatuído no referido dispositivo. Portanto, as normas constantes da Constituição e das leis ordinárias sobre a actividade da televisão consideram a realização do concurso público e a atribuição de licença como requisitos prévios essenciais para o exercício da actividade de televisão, salvo a excepção configurada pelo serviço público de televisão. O serviço público de televisão, até agora atribuído expressamente pela lei em revisão a operadores de televisão de capital maioritária ou

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 exclusivamente públicos, vê alargado o seu âmbito com a possibilidade de concessão do serviço público a todos os operadores de televisão de capitais públicos ou privados como forma de incentivar e garantir a qualidade dos serviços televisivos prestados, fomentando assim a concorrência. Finalmente, procedeu-se, no âmbito desta proposta de revisão, a uma recolocação de alguns artigos de forma a garantir uma melhor integração sistemática em função das alterações propostas.

Sr. Presidente: - Pergunto se há parecer da comissão competente. Tinha havido um parecer geral que foi lido, não é? Vamos, então, dar seguimento aos nossos trabalhos com um período de esclarecimento, havendo interessados. Não sendo este o caso… parece que é. Há o Sr. Deputado Nelson Brito a pedir a palavra. Faça o favor.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Sr. Presidente, queria pedir primeiro um esclarecimento à Mesa porque não percebi. O senhor perguntou se havia um parecer ou não, depois não percebi se há ou se não há. É só isso.

Sr. Presidente: - Sim, há um parecer que fora lido no início do debate sobre o pacote da comunicação social (parecer geral). Tem outro pedido esclarecimento?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Faça o favor.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Sr. Ministro, devo dizer que, infelizmente, aquando da apresentação que aqui fez não se ouviu bem. Estava a falar baixo, portanto, não percebemos muito bem ou quase nada do que disse, mas tivémos a oportunidade de ler a proposta do Governo e a exposição de motivos. Tendo em conta o documento, queríamos pedir o seguinte esclarecimento: o Governo de Cabo Verde aprovou todo este pacote sobre a comunicação social e esta proposta em particular, através do Conselhos de Ministro, em 2006, então, queria saber porque só agora, quase quatro anos depois, no final da legislatura - uma legislatura inteira e nas vésperas das eleições legislativas de 2011 - é que o Governo resolveu trazer esta lei da televisão e todo o pacote sobre a comunicação social ao Parlamento. Isto não será mais uma tentativa de manipular e controlar ainda mais a comunicação social? Isto não será uma tentativa por parte Governo e do PAICV de ser beneficiado ainda mais e de prejudicar ainda mais a liberdade de imprensa e de comunicação social? Portanto, gostaria de ter este esclarecimento.

Sr. Presidente: - Sra. Deputada Vanusa Cardoso, faça o favor.

Sra. Deputada Vanusa Cardoso (PAICV): - Queria pedir ao Sr. Deputado Nelson para ele nos ajudar a esclarecer esta situação, quando diz que a proposta de lei visa aumentar ou tenta controlar mais a comunicação social, beneficiar o PAICV e prejudicar outros partidos.

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Queria que ele nos identificasse na actual proposta que artigo, que norma que a proposta de alteração vem consagrar, que visa materializar aquilo que ele disse, que ele mostre isso para, se houver esse vício, corrigirmos isso.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Justino Miranda tem a palavra.

Sr. Deputado Justino Miranda (PAICV): - Prescindo.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Nelson deseja responder?

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Não, pedi um esclarecimento ao Sr. Ministro.

Sr. Presidente: - Certo. Houve também um pedido de esclarecimento ao Sr. Deputado. Tenha a bondade, Sr. Ministro.

Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Lamento que não tenha ouvido bem a minha intervenção, não obstante termos aqui áudio e ter falado, penso, como normalmente costumo falar aqui. Lamento, mas, de qualquer forma, devo dizer-lhe que as informações que tem não são correctas porque este pacote não foi aprovado em 2006, como disse. Iniciou-se um processo de reforma do sector da comunicação social com a aprovação de uma série de leis, muitas delas já foram publicadas alguns regulamentos e faltava um conjunto de outras leis que vieram agora neste pacote. Desse pacote, duas propostas deram entrada aqui no Parlamento em 2008, que se refere a Lei da Comunicação Social e ao Estatuto dos Jornalistas. Entretanto, como tive a oportunidade aqui de explicar, durante a sessão passada, houve necessidade porque verificou-se que tinha havido uma outra reforma no âmbito do processo das leis penais e houve também algumas contribuições que não tinham sido contempladas nas propostas iniciais enviadas ao Parlamento. Na altura optou-se por fazer suspender a iniciativa legislativa e quando eu fui designado para a pasta de Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro dei continuidade ao processo que vinha em curso. Naturalmente que a mudança de um ministro para outro não implica a suspensão do trabalho que vem sendo feito ao longo de um mandato, porque trata-se de um programa do Governo e dei continuidade ao trabalho. Neste sentido posso até concordar consigo que todo esse pacote vem na sequência de uma série de trabalhos já realizados e uma série de outras leis já publicadas. Entretanto, devo esclarecer-lhe que a nova versão das duas propostas que entraram, com as alterações que foram introduzidas, consequentes das outras alterações e da outra reforma feita a nível da justiça e também o resto do pacote que tem a ver com a Lei da Televisão, a Lei da Radiodifusão e outros elementos do pacote foram aprovados pelo Conselho de Ministros há poucos meses. De modo que não se reportam a 2006 como disse. De toda a forma também gostaria de lhe dizer que seria bom que na generalidade ou na especialidade tentasse demonstrar claramente onde é que existe algum artigo que ponha em causa a liberdade de imprensa, que ponha em causa a liberdade de qualquer cidadão ou o controle dos órgãos de

321

Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 comunicação social. Penso que não encontrará, certamente, nada neste sentido. Normalmente no debate político não devemos trazer afirmações muito genéricas e muito bombásticas sem fundamentá-las. De modo que, todo o propósito que temos, é o que temos dito, é contribuir para uma cada vez maior liberdade de imprensa em Cabo Verde e adaptar as leis à nova situação, à nova realidade que o País vive. Por isso, é que na minha introdução me referi às novas tecnologias, neste momento não estamos no tempo da TVEC (Televisão Experimental de Cabo Verde) em que tínhamos apenas uma televisão e nessa altura quando houve a TVEC não tínhamos a televisão digital, não tínhamos uma série de outras novas tecnologias: internet, televisão por cabo, enfim tínhamos uma série de dificuldades. Hoje o mundo é diferente e temos que adaptar as leis à nova realidade. E, como disse também na sessão anterior, temos um mandato de cinco anos. Estamos há um ano do fim do mandato, há legislaturas que têm em outros países até três anos de duração, há legislaturas que têm quatro anos, mas em Cabo Verde a legislatura é de cinco anos e pensamos que estando dentro da legislatura e ainda tendo um programa por cumprir devemos fazer tudo para que melhoremos a qualidade da nossa informação em Cabo Verde e daí o facto de o Governo ter tomado essa decisão no sentido de trazer a esta Casa Parlamentar um pacote que tem o propósito de adaptar as leis da comunicação social ao novo figurino que estamos a viver aos novos tempos e, ao mesmo tempo, melhorar consideravelmente todos os direitos que estão garantido na Constituição através de mecanismos que temos aqui, que visam aprofundar cada vez mais essa liberdade de imprensa e de expressão em Cabo Verde.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Nelson Brito.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Sr. Ministro, vou ler apenas uma parte de uma notícia que saiu ainda em 2006, isso na altura em que o Governo lançou o concurso para o licenciamento de oito canais televisivos em Cabo Verde. Quatro concorrentes foram concedidas licenças, mas que até agora nem sabemos porquê, porque nenhum dos canais funciona de facto devidamente a nível nacional. Por essa altura saiu essa notícia sobre o último conselho de ministros de 2006, em que diz que o Conselho de Ministros de Cabo Verde aprovou ainda três propostas de lei destinadas a ajustar o sector da comunicação social aos desafios dos novos tempos. Essa é a vossa linguagem. Na sua última reunião o Conselho de Ministros aprovou uma proposta legislativa que introduz alterações à actual lei da comunicação social em vigor desde 1998, que é parte principal deste pacote, aos estudos da actividade jornalista, ao decreto regulamentar que aprova o contrato de concessão de serviço e por aí adiante. Portanto, como vê foram aprovados pelo Conselho de Ministros desde 2006. Se calhar tiveram um retoque, porque estiveram a aperfeiçoar os projectos. A minha questão faz todo o sentido. Porquê que essas propostas foram aprovadas pelo Conselho de Ministros desde 2006 e só agora em finais do mandato, próximo das eleições, é que estão aqui agendadas todas no Parlamento.

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Portanto, a questão que coloquei e não afirmação bombástica como disse expressamente o Sr. Ministro e uma colega Deputada também, foram questões tendo em conta este cenário previsível. Quando fizer afirmações irei fazer com certeza no debate e poderei fazer e o senhor poderá as entender claramente. A questão que fica porque é um indício de toda uma revolução no sistema de comunicação social nas vésperas das eleições. Se isso não será uma tentativa de controlo e manipulação ainda mais forte, de modo a beneficiar o PAICV e o Governo. De qualquer forma, Sr. Ministro, eu queria que me esclarecesse e ao Parlamento como é que funcionará na prática esta atribuição do sector público da televisão ao privado. E, também gostaria que esclarecesse sobre o artigo do decreto regulamentar de 2007, aprovado por este Governo, em que diz que o serviço público poderá ser atribuído aos privados mesmo estrangeiros.

Sr. Presidente: - Antes de passar a palavra ao Sr. Ministro passo-a ao Deputado Justino Miranda.

Sr. Deputado Justino Miranda (PAICV): - Era simplesmente para perguntar ao Sr. Deputado Nelson Brito e a toda Bancada do MPD o seguinte: Há alguns meses que estamos a assistir nesta Casa parlamentar o MPD a alegar que estamos a um das eleições e que por isso certas leis, ou certos diplomas não deveriam ser apresentados ou aprovados. Mas, eu perguntaria ao Sr. Deputado Nelson Brito se não foi neste ano que aprovámos a revisão da Constituição. Se não foi a menos de um ano das eleições que aprovámos a revisão do Código Eleitoral. Se seria mais importante ou mais condicionante para o sistema a aprovação de uma simples revisão da Lei da Televisão.

Sr. Presidente: - Sr. Ministro tem a palavra.

Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Penso que o Sr. Deputado volta a insistir na legitimidade ou não do Governo poder apresentar ao Parlamento uma proposta de reforma de um sector tão importante como a comunicação social a um ano do término da legislatura. O Sr. Deputado que me antecedeu acabou por lembrar-se da revisão da Constituição que acabamos de realizar, mas eu também felizmente estou nesta Casa Parlamentar como sujeito parlamentar há variadíssimos anos e toda a gente se lembra que em 99 procedeu-se ainda, teve que se fazer a alteração da Constituição a toque de caixa, inclusive teve que alterar aqui o prazo estipulado para a alteração da Lei Eleitoral porque sentiram a necessidade na altura, a maioria que tinha o MPD de fazer a revisão da Constituição, fazer a revisão da Lei Eleitoral em cima da hora e ninguém contestou. Mas, de qualquer forma o que eu digo para nós, o Governo tem toda a legitimidade de apresentar ao Parlamento até o fim desta legislatura qualquer proposta de lei que achar que vem ao encontro e vem responder ao seu programa eleitoral e de Governo aprovado nesta Casa Parlamentar. Não nos esqueçamos que o Governo apresentou ao Parlamento um programa e esse programa quando foi apresentado não dizia que deve ser

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 realizado em quatro anos. O programa é para uma legislatura e este pacote vem na sequência da aprovação desse programa. Eu já disse também que quando entrei para o sector da comunicação social na qualidade de ministro-adjunto não vim para um novo governo, entrei para um mesmo Governo que vem dirigindo o País desde as eleições de 2006. De modo que há um pacote que vem sendo trabalhado, há algumas leis que já forma aprovadas e publicadas no Boletim Oficial. Naturalmente que algumas delas poderão ter sido discutidas inicialmente, mas o certo é que algumas delas até poderíamos ter pedido autorização legislativa. Eventualmente quisemos trazer e discutir aqui no Parlamento. Portanto, uma questão é aprovar uma lei, outra coisa é discutir a nível de Conselho de Ministros uma proposta mesmo sem ser aprovada e dessas actividades do Governo dá-se conta à comunicação social para que a Nação saiba o que é que o Governo vem fazendo, mesmo que não aprove uma lei num determinado momento. É normal que um órgão de comunicação social possa referir-se a vários aspectos de uma reforma que estamos a realizar há vários anos. De modo que, não creio que abone contra esta (ou outra) lei o facto dela ter sido discutida no passado pelo Governo, porque ao fim ao cabo esses sectores não apareceram agora. São sectores e áreas de actividade que o Governo vem tratando e dirigindo desde que o País é independente. Todos os governos vêm tratando dessas questões. Daí que não vejo o porquê de trazer esta argumentação. De qualquer forma devo lhe dizer que não é pretensão do Governo limitar a liberdade de expressão em Cabo Verde, não é intenção do Governo tomar nenhuma medida para controlar os órgãos de comunicação social, antes pelo contrário todo esse pacote visa aprofundar a liberdade de imprensa e criar as condições para que os órgãos sejam privados ou públicos possam ter melhores condições de exercício, tendo em conta a nova situação em que nos encontramos. Penso que terei respondido às questões que levantou.

Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros.

Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Na sequência da intervenção do Sr. Ministro- Adjunto, respondendo a algumas questões colocadas pelo Deputado Nelson Brito sobre como é que funcionaria esse sistema na prática, eu gostaria de dar aqui um pequeno apoio ajudando a esclarecer as eventuais dúvidas do Sr. Deputado. Efectivamente o diploma que foi revisto estabelece, nos seus vários artigos, a organização e o acesso a essa actividade da Televisão. Veja, Sr. Deputado, que o capítulo segundo deste diploma fala claramente no acesso à actividade, estabelecendo a forma como os operadores de Televisão devem exercer essa actividade, estipula as regras para o licenciamento e autorização, fala da atribuição de licença ou autorização e ainda determina que o Governo pode, por decreto regulamentar, aprovar o regulamento sobre o concurso público. Veja, Sr. Deputado, todas essas matérias que acabei de elencar e que constam nessa proposta de alteração como artigos 11-A, 11-B e 11-C são

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 propostas novas, portanto acaba por contrariar um pouco essa questão de ter havido apenas mexidas de pincel no diploma. Mais do que isso a própria organização da Televisão também vem claramente estipulada neste diploma, no capítulo IV, em que se estabelece as normas de organização e funcionamento da Televisão, em que estabelece-se as funções do director, a composição do conselho de redacção, para além de outras normas transitórias que o Governo teve em devida consideração, tendo em conta os direitos já adquiridos e as matérias já em implementação. Aí eu sugeria que lesse as disposições finais e transitórias que acabam por regular essas questões, nomeadamente nos artigos 65 e 66.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Nelson Brito tem a palavra.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Agradeço as respostas dos membros do Governo. De qualquer forma queria dizer à Sra. Ministra que eu pensava que o período de esclarecimentos era exactamente para esclarecimentos, não é? Se o Deputado tem dúvida, tem questões é para colocá-las ao Governo e caberá ao Governo esclarece-las de acordo com a verdade e honestidade. É para isso que serve esse espaço, penso eu. Mas, a minha dúvida mantém-se porque a Sra. Ministra remeteu-me ao que está escrito aqui na proposta, eu li o que está escrito na proposta. O que eu queria saber era o seguinte: o Governo de Cabo Verde pensará em lançar um concurso do sector público a privado ou a alguma entidade pública, de acordo com esta lei, e manterá ao mesmo tempo a Televisão de Cabo Verde a funcionar, mas por outro lado irá subsidiar o sector público que poderá ser cedido a outras entidades, nomeadamente a outras televisões privadas. Portanto, o Governo controlará a Televisão de Cabo Verde como controla até hoje e assim exercerá uma forma de controlo sobre as televisões ou entidades privadas? É essa a questão. Se o Governo não pensa, que de acordo com o historial da comunicação social que temos em Cabo Verde, concretamente da Televisão, se o Governo não estará a tentar alargar o seu alcance na matéria de manipulação, de propaganda que assistimos todos os dias em Cabo Verde na Televisão de Cabo Verde, acções do Primeiro-Ministro e dos membros do Governo. Um exemplo claro é que só temos Televisão (em ilhas como, por exemplo, São Nicolau) quando os membros de Governo visitam essas ilhas. Temos aí a Televisão a acompanhar imediatamente a cobertura das actividades e de propaganda do Governo, a fazer cobertura das actividades das câmaras municipais quando são do PAICV e de outros lançamentos e inaugurações quando são de câmaras ou de acções do Governo. Portanto, o Governo já faz essa manipulação clara em Cabo Verde, é ver todos os dias na Televisão de Cabo Verde aquilo que o Governo tenta fazer, mas com o subsídio do sector público aos privados esse alcance irá também abranger os privados. É essa a minha dúvida, é esse o meu receio. De qualquer forma eu queria dizer também que a questão que eu coloquei à Sra. Ministra, como é que se justifica da parte do Governo a questão da abertura do acesso a estrangeiros e o Sr. Ministro não respondeu a essa parte. Fico por aqui por enquanto.

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Sr. Presidente: - Sr. Ministro tem a palavra.

Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - A Sra. Ministra vai responder.

Sr. Presidente: - Tem a palavra.

Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Primeiramente eu gostaria de lhe dizer que esse controle que o senhor diz, efectivamente, só pode existir na sua mente. Quando o senhor, por exemplo, vem dar o exemplo, passe o termo, dos jornalistas irem a São Nicolau, creio crer que terá sido esse o exemplo para fazerem a cobertura dos actos oficiais. Sr. Deputado infelizmente ou felizmente o senhor não é membro do Governo, terei de lhe dizer isso e eu até gostaria que o senhor tivesse participado na semana nacional da juventude porque o senhor esteve lá, a parte a assistir, que eu pude vê-lo. Teria muito gosto de tê-lo na cerimónia juntamente comigo. Infelizmente não foi assim, porque contrariamente àquilo que foi dito (e eu digo isso porque o senhor é que chamou essa questão à colação, a questão da ida a São Nicolau) eu não estava lá como representante de nenhum partido político, estava lá como Ministra da Juventude. Relativamente ao controlo que o senhor está a referir-se devo recordá-lo Sr. Deputado, até o senhor deveria isso porque foi aprovado há relativamente pouco tempo por esta Magna Casa Parlamentar o diploma que regula o sector empresarial do Estado que a RTC é uma empresa pública que tem um conselho de administração e cabe ao Governo dar orientações estratégicas. É isto que estipula o diploma que o senhor também creio crer que aprovou, enquanto Deputado. Portanto se é assim e se o senhor acha que essas normas não estão a ser cumpridas vou lhe lançar um desafio que lancei ontem a um Deputado do mesmo grupo parlamentar: denuncie, e se tiver provas que algum acto esteja a ser feito de forma ilegal eu o desafio a denunciar e a provar para que as instâncias judiciais actuem em conformidade.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Nelson Brito tem a palavra.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Sra. Ministra, fiquei contente que tivesse ido a São Nicolau, penso que terá sido a primeira vez, não tenho a certeza, espero que tenha gostado…

[Com a cabeça a Sra. Ministra fez sinal que não.]

[Com o microfone fechado, a Sra. Ministra da Juventude, da Presidência de Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Janira Hopffer Almada disse: “Não, não foi”.]

Eu disse penso que terá sido, não tenho a certeza. Não sei se está a ouvir bem. Se prestar atenção é capaz de ouvir melhor. Espero que tenha gostado e conhecido bem a ilha e não apenas pessoas do PAICV, porque a ilha é muito mais do que PAICV. Espero que

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 tenha sido de facto a Semana da Juventude Cabo-verdiana e não a semana da juventude do PAICV. É o que parece, é o que vimos lá. Estive na abertura como disse, eu não estive no palco com a senhora e com os seus colegas do PAICV, porque penso que a coisa pública deverá servir para o povo cabo- verdiano e não para um partido. Eu não compactuo com isso, por isso é que não fui para o palco. Fiquei com o povo que estava ao lado e eram pouquíssimas pessoas que estavam aí Sra. Ministra. A maior parte das pessoas que estavam lá era jovens que levaram, pagaram passagem, estadia e espero que tenham gostado muito de São Nicolau. Jovens de São Nicolau infelizmente foram contados, eram muito poucos. Quer dizer que a sua semana da juventude tem que ser repensada essa sua estratégia para a semana da juventude do PAICV. A questão de manipulação da comunicação social está na minha mente só? Sra. Ministra não sei onde é que está viver? Se não tem consciência dos vossos próprios actos… A manipulação da comunicação social parte do Estado é evidente e não é total porque temos que salvaguardar alguns jornalistas deste País que têm carácter e têm profissionalismo. E com este subsídio que é a minha questão fundamental e que aqui foi esquecida, com atribuição do sector público a privados iremos continuar com a TCV, ou não, que é em grande parte manipulada pelo Governo. A senhora diz que não sou membro do Governo, por isso e por ser membro do Governo é que a senhora tem cobertura. É exactamente o que estou a dizer. Vai a São Nicolau, Brava, Maio leva a Televisão. E não é só a senhora, ou a semana da juventude, qualquer acção, propaganda do Governo. Parece que estas ilhas não têm outras notícias que mereçam sair na Televisão, só questões de Governo. Estamos a falar do direito à informação, do direito a sermos informados, não do Governo. A senhora vai porque é Ministra, porque foi nomeada ministra quando deixar de ser não terá essa cobertura. É o que estou dizer, o Governo é que tem direito, é a manipulação. Com a atribuição deste subsídio a privados para exercerem o serviço público de Televisão iremos ter também manipulação nos privados através do financiamento. Aí o perigo dessa questão.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados já temos trinta minutos, vamos passar ao debate. Pergunto às pessoas que estão inscritas se desejam usar da palavra. Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros tem a palavra.

Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares: - Prescindo.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Moisés Monteiro e a Sra. Deputada Vanusa Cardoso. Sr. Deputado Moisés Monteiro. O período de esclarecimentos já acabou. É obvio que agora é o período de intervenções. Se um Deputado intervier e um outro quiser dar ou pedir esclarecimentos claro que o pode fazer. Faça o favor, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Moisés Monteiro (MPD): - Era em continuação do que se está aqui a falar, respeitando denúncias e manipulação da comunicação social. Como Deputado para denunciar uma situação que acontece frequentemente

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 mesmo aqui na Assembleia Nacional, relativamente a alguns aspectos relacionados com a transmissão. Um exemplo claro que aconteceu ontem. Foi transmitida aqui ontem a proposta do nosso colega da elevação da localidade de Chã de Igreja à vila. A transmissão não aconteceu bem porque, possivelmente, a Bancada do PAICV não falou, não disse nada, alguma coisa ficou de mal. Hoje, durante toda a transmissão do nosso colega houve um ruído e corte permanente para quem ouve, mas isso acontece frequentemente, não é só hoje. Portanto, houve cortes e cortes. Chegada a altura em que o Sr. Presidente falava a transmissão saía mais clara e quando chegou a vez do nosso colega Jorge Santos, Deputado Nacional, fazer a sua intervenção houve um corte total, ruídos e houve uma confusão, não se ouvia nada e daí até este momento que se transmite. Portanto, isso é que é exactamente a manipulação da comunicação social. Quer dizer que o PAICV tem usado desse direito, de alguma forma, de apagar aqui a voz da Oposição para não ser ouvida lá fora. Possivelmente é esse o receio do nosso colega ao fazer algumas perguntas anteriores e que o Sr. Ministro responde dessa maneira. Possivelmente a Bancada do PAICV também responde. Para que isso fique claro alguma coisa tem de ser feito, isso não pode continuar. Não pode ser uma pessoa na Rádio ou na Televisão a manipular de forma que queira e bem queira, cortando palavras aos outros, não deixando sair, fazendo uma filtração daquilo que ele quer que sai.

Sr. Presidente: - Queria chamar a atenção para o debate na generalidade da Proposta de Lei que deve ser em torno dos princípios gerais da lei e, por isso, gostaria de contar com a colaboração dos Srs. Deputados. A Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros tem a palavra.

Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares:- Tendo em conta o objecto do debate, mas também as intervenções, naturalmente que já foram feitas, de algumas acusações de manipulação. Reitero aquilo que há pouco eu disse a um outro Deputado do MPD, a RTC é uma empresa pública, o Governo tem, enquanto tutela, o poder de dar orientações estratégicas, não tem outros poderes. Mas percebo, com todo o respeito, eventualmente, o raciocínio dos Deputados do MPD porque geralmente diz-se que nós julgamos os outros por nós próprios como isso era prática na década de noventa é normal que agora também pensem que essa seja a prática deste Governo. Não é. Gostaria também de aproveitar esta oportunidade para manifestar o meu profundo respeito por todos os jornalistas e trabalhadores da comunicação social em Cabo Verde porque para que se manipule, e sabendo nós que a lei não nos dá esse direito, a Constituição não dá, as leis ordinárias não dão, é preciso que haja pessoas que se deixem ser manipuladas e não acredito, porque até conheço muitos jornalistas deste País, que devam ser desrespeitados desta forma no exercício da sua profissão por Deputados do MPD. Aqui queria reiterar o meu profundo respeito por esses jornalistas.

Aplausos da Bancada do PAICV.

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Por outro lado, gostaria de afirmar também que o Governo tem todo o interesse que o sector da comunicação social seja objecto de regulação. Foi aprovada já nesta Casa Magna Parlamentar a alta autoridade para a comunicação social que consta do texto constitucional, pela importância da matéria há um desafio à Magna Casa Parlamentar. E aqui, como essa questão vem sendo repetidamente afirmada pelos Deputados do MPD, espero que no momento em que o texto constitucional esteja publicado e sejam reunidas as condições para a eleição e nomeação dos membros dessa alta autoridade, para regular o sector da comunicação social, o MPD não vote contra e nem se abstenha. Aqui é um desafio, que enquanto Governo, lançaria ao MPD.

Sr. Presidente: - A Sra. Deputada Vanusa Cardoso é para uma intervenção, não é? Sr. Deputado Nelson Brito deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Para um esclarecimento.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Luís Santos quer a palavra para que efeito?

Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Esclarecimentos, Sr. Deputado.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal Santos deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Para um esclarecimento.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Justino Miranda deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Justino Miranda (MPD): - Para uma intervenção.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Nelson Brito para um esclarecimento.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Sra. Ministra, quando diz que as nossas acusações ou os nossos receios sobre a manipulação, por parte do Governo, da comunicação social são reflexos dos nossos pensamentos e raciocínios durante a década de noventa, devo dizer-lhe que, por acaso nessa altura nem eu, provavelmente nem a senhora pensávamos sobre certas coisas porque ainda éramos menores na década de noventa. Éramos estudantes, tínhamos outras preocupações, mas estávamos deliciados com a liberdade, de facto, que surgiu e desenvolveu-se no País, com o clima de democracia e de desenvolvimento que a década de noventa permitiu. A democratização do ensino isso tudo. Beneficiei disso, a senhora também, a nossa juventude de certeza absoluta. Portanto, esse pensamento não seria meu e nem da senhora

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 de certeza absoluta, é o pensamento actual, é a visão actual e todos os cabo- verdianos sentem isso todos os dias. Gostaria de dar aqui um esclarecimento, já dei um à Sra. Ministra, queria dar um outro. A senhora falou aqui já duas vezes da RTC e quero, mais uma vez, referir que dou o devido valor aos jornalistas que o merecem. Infelizmente, há outros que são comissários políticos, militantes. Temos visto, como disse aqui o nosso colega Moisés Monteiro, que há alguma manipulação dos próprios trabalhos da Assembleia Nacional, Sra. Ministra. Isso é inaceitável. Há pouco tempo o meu colega Deputado da João Cabral fez aqui uma intervenção no período de Antes da Ordem do Dia sobre uma questão fundamental que era sobre o relatório da auditoria da Câmara Municipal da Praia durante o mandato de Felisberto Vieira. Mandato esse em que a câmara deveria ser cercada várias vezes, mas nunca foi, porque havia muitas suspeitas, há muitas queixas. Portanto, Sra. Ministra, essa intervenção fulcral não foi nem sequer referida. Há várias intervenções minhas também sobre São Nicolau que nunca foram referidas. Há outras, sem dúvida, com determinados jornalistas que fazem o seu trabalho que são, de facto, referidas e anunciadas porque são questões fundamentais para São Nicolau ou para Cabo Verde. Queria prestar aqui um outro esclarecimento sobre RTC, quando a Sra. Ministra diz que é uma entidade, é uma empresa pública e é, daí a minha questão: o Decreto Regulamentar n.º 8 de 2007, diz que há um limite, qualquer entidade não pode beneficiar enquanto funcionário de dois serviços públicos e temos a RTC com rádio e com televisão. Portanto, estamos a viver uma ilegalidade no País, um Decreto que foi aprovado pelo PAICV. Agora, os senhores vêm e aprovam a Lei da Radiodifusão e agora querem aprovar esta Lei de Televisão, a dizer que a rádio está atribuída à RCV, e a televisão está atribuída à TCV, o serviço público. Meus senhores, a TCV e a RCV são RTC, é a mesma entidade juridicamente falando. Portanto, como é que ficamos? Se o próprio Decreto Regulamentar diz que não pode haver concentração dos dois serviços públicos numa só entidade, agora querem brincar com a lei, desta forma, para dizer que a rádio está com a RCV e que a televisão está com a TCV. Portanto, queria que me esclarecessem essa questão, de acordo com a lei.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Luís Santos tem a palavra.

Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Trata-se, efectivamente, de uma questão muito delicada. Do meu ponto de vista, a questão fundamental não é de falta de respeito para com os senhores jornalistas. Os senhores jornalistas merecem todo o respeito dos Deputados do Movimento para a Democracia assim como deverão merecer também dos Deputados do PAICV. Respeitamos sinceramente os senhores jornalistas porque eles desempenham um papel fundamental neste País que é o de informar o cidadão, mas também devemos e merecemos o respeito dos senhores jornalistas. Há, efectivamente, coisas muito estranhas aqui neste País. Vou citar apenas alguns. Vamos aos círculos eleitorais efectuar as nossas visitas, damos declarações para a Rádio e há, sobretudo, um determinado jornalista que constantemente censura as declarações dos

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Deputados. Já recebemos até recados de jornalistas dizendo que estamos armados em bom e que as nossas intervenções serão sempre censuradas por este jornalista, já recebemos recados. Houve até um correspondente da Rádio que disse-nos: “Não, nós não vamos passar a cobrir a tua visita, porque mandamos as declarações e não são transmitidas pura e simplesmente”. Ou então são relegadas para as sete horas da noite, momento que pouca gente ouve a Rádio. Ainda há dias, 22 de Março, fazíamos uma intervenção na Assembleia e recebemos uma mensagem de um cidadão, dizendo o seguinte: “Djais, indague sobre a Rádio quando às 16 horas e 47 minutos usavas a palavra no Parlamento e o som saiu totalmente truncado”, a mensagem está cá. E esse cidadão disse-me inclusive para usar o nome dele. Não vamos usar o nome deste cidadão, mas há coisas estranhas. A Rádio está a transmitir na maior normalidade, quando há determinadas intervenções aparece um barulho qualquer para que as pessoas não oiçam bem as mensagens. Portanto, isso é estranho. Portanto, o que queremos é clarificar. Se essa lei vem para clarificar então que clarifique para que essas coisas não aconteçam porque não fica bem.

Sr. Presidente: - Tenho que perguntar ao Sr. Deputado António Pascoal só para tirar a dúvida: pareceu-me que o Sr. Deputado pediu a palavra para uma intervenção? É bem isso, não é?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Pedi para um esclarecimento, mas Sr. Presidente permita-me agora logo dizer que prescindo, tendo em conta outras intervenções que vão responder de forma eficaz e suficiente ao adversário PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Moisés Monteiro, tem a palavra para esclarecimentos. Tem dois minutos, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Moisés Monteiro (MPD): - Não são necessários os dois minutos, Sr. Presidente. Dentro do contexto ainda da intervenção da Sra. Ministra queria dizer o seguinte: é isso que já disse também um pouco o meu colega José Luís, nós também nutrimos um perfeito respeito por qualquer pessoa, seja jornalista ou não, isso não é de duvidar, mas total desrespeito por essa prática que vem acontecendo aqui e que pensamos até que é algo pago, não sabemos por quem.

Protestos da Bancada do PAICV.

É pago, isso é pago sim, isso é pago para ser feito. Não sabemos o que é pago e nem sabemos quanto é pago, mas que há pagamento por isso, há. E isso é feito propositadamente.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sra. Deputada Vanusa Cardoso.

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Sra. Deputada Vanusa Cardoso (PAICV): - Primeramenti pa N fla ma N sta perplexa ku akuzasoins ki sta fazedu nes Kaza pur parti di Deputadus di MPD kontra jorrnalistas. Y ultimu intervenson di Deputadu Moisés ta insinua, aliás e fla klaramenti, ma ten servisu pagu, insinuandu ki ten jornalistas di Cabo Verde ta resebi kumisoins pa fazi freti seja pa Guvernu, seja pa PAICV, ô pa Grupu Parlamentar isu é gravi y ofensivu pa ken ki nen siker sta nes Kaza y ten direitu di palavra pa defendi ses onra, Sr. Deputadu. Sr. Deputadu, é gravi pamodi Konstituisãu ta fiksa limites ki liberdadi di ispresãu y di informasãu devi ser izersidu, sima ta fixa limiti en ke pesoas ten direitu a se imajen, a se onra, a se dignidadi y a bon nomi, y es nes koredor ki jornalistas kabuverdianu sta trabadja. Nes koredor es ten total liberdadi pa es trabadja, jornalistas kabuverdianu y órgons di komunikasãu susial di Cabo Verde ta disidi livrementi kel ki es ta nutisia, si es debi ô nau nutisia. Má, kre fla ma jornalistas sta ser manipuladu, ma ta ser pagu é kre transmiti ideia ma jornalistas kabuverdianu ka ten konsiênsia etika, ma ka ta kunpri Lei di Kumunikasãu Susial, ka ta respeita Konstituisãu, ma ka ta kunpri se Estatutu. Kel li é interpretason lójika di nhos intervenson ki nhos sa ta fazi. Oris ki nhos ta fla ma jornalistas é pagu, ma e manipuladu, ma Guvernu ta ten jornalistas pa rima pa baxu ta kubri se atus é kuze más ki konkluson ki algen podi tira, Srs. Deputadus? Ki konklusoins? Nhos fla-m ki N ka sta entendi. Nen nu ka sa ta diskuti Lei di Komunikasãu Susial, nu sa diskuti alterason di Lei di Televisão, nen seker é uma nova Lei da Televisão, é alterason a lei. N pidi Deputadu Nelson pa identifika nes pruposta konkretu ki artigu, ki norma, kuze ki sta nes pruposta di alterasãu ki ta tenta kontrola ô tenta reforsa un iventual kontrole ki es ta intendi ma ten pa identifika, ka identifika. Mi N ta akredita pa Deputadu Nelson lê, passa a pente fino es pruposta di lei y si e identifika nes pruposta de lei tentativa di kontrole di kuminikasãu susial ô di Televison pa e fla-nu, se e ka fla-nu, N ta parti di prinsipiu, ma é pamodi efetivamenti e ka atxa-l y e sta li ta fazi konversa di pura konviniensia. U ki N ta fla li é ki MPD sa ta faze auto-retratu di kuza ki kontisi na 98- 2000. Srs. Deputados, hoje en dia Cabo Verde ka ten un Primeiru-Ministru ki ten un asesor ki ta pasa dia na Televisão ta fiskaliza konteudu ki ta sai na telejornal, pelo amor de Deus. Modi! Sinseramenti.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Inda nhos ten korajen di fla di manipulason. Ka ten sensura, jornalistas ta skrebi…

Risos da Bancada do MPD.

Srs. Diputadus, N obi atentamenti y N ta pidiba ki nhos obiba mi tanbe ku algun atensãu, pelu menus si nhos ka ta prestaba atensãu pa nhos ka pertubaba nha intervenson. Srs. Diputadus, jornalistas ta skrebi ses testu di akordu ku ses konsiênsia, di akordu ku pulítika iditurial y di akordu ku regras di étika y di diontolojia. Má, si nhos fla ma jornalistas sta ser manipuladu nhos kre fla ma sta ser sensuradu testus? Axu ki ka ten kasu, aliás tudu relatorius, tudu studus ki

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 fazedu ta afirma ma ka izisti sensura. Sensura é ori ki ta parti di algu ki ta ben di esterior. Si ka ten sensura modi ki nu sta manipula, Srs. Diputadus? N ta pensa ki si ten tudu kes situason ki Deputadu sa ta retrata ten lugar própriu pa Deputadus denunsia pa tomadu medidas. Si Diputadus ka ta dinunsia pa tomadu medidas ka mesti ben ku es konversa di konveniensia kuandu es sabi ma nes Lei di Televisão ka ten nada, absolutamenti nada ki ta poi en kausa livre izersiu di atividadi jornalistika. Má é estremamenti redutor ori ki nu ta reduzi lei, passa a redundansia, di Televisão a TCV. Pelu amor di Deus! Mercado di Televizon na Cabo Verde oji en dia é livri, nu ka ten monopólio di TCV, nu ten TIVER, nu ten Record Cabo Verde. Nhos kre fla ma es lei li ki e pa tudu televizon ki izisti ô ki ta ben izisti na futuru ma tanbé e pa manipula jornalista di TIVER ô jornalista di Record?

[Com o microfone fechado, o Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD) disse: “Claramente.”]

Sra. Deputada Vanusa Cardoso: - Klaramenti! Sr. Líder Parlamentar di MPD fla klaramenti. Signifika ki nhos ta alarga akuzasãu di manipulasãu di jornalistas tanbe pa jornalistas di orgãus privadu, nes kazu Tiver y Record. N ta akredita ki jornalistas y órgãus ki ka sta li pa defendi es ten meius própriu di defendi di akuzasãu ki es ta ser alvu li nes mumentu. Pa termina, N ta pediba pa, sinseramenti, nu resentraba debati na proposta di alterasãu di Lei di Tilivizãu pa nu ka fika li ta diskuti kestoins ki nu ten mekanismus legal pa rizolvi. Y últimu kestãu, Sr. Diputadu José Luís Santos, kestãu de transmisãu di deklarasãu di Deputadus na vizita pa sirkulu, kel li é ka só Sr. Diputadu José Luís ki ta sofre-l! Ami enkuantu Diputada nunka ki N da diklarasãu, enkuantu Diputada na vizita pa sirkulu nunka foi transmitidu. Aliás, desdi prinsipiu, Dilegasãu de Santa Katarina foi klaru: iziste orientasoins, uma vez ki Tilivizãu ka ten kondisoins di fazi kubertura di vizita di tudu Diputadus na sirkulus, pa ka ten tratamentu dizigual Tilivizãu ka ta konpanha y ka ta transmiti kualker deklarasãu di un Diputadu na vizita a sirkulu. Pur isu, nunka N pidi akonpanhamentu, nunka un dá deklarasãu na dilegasãu, pamodi N akata. Má u kontráriu é ka verdadeiru, pamodi Diputadu José Luís kantu vez dja nu odja-l na Tilivizãu ta dá deklarasãu kuandu nu sabi ma se sirkulu ileitoral ka ten delegasãu di TCV. Kuantas vezis? Y ka é só Diputadu, diklarasoins individual na TCV di vizita pa sirkulu ki N kostuma odja é di Diputadu José Luís, Diputadu de MPD, pa un sirkulu ki ka ten dilegasãu; Sra. Diputada Joana Rosa di un sirkulu ki ka ten dilegasãu di TCV, mas ten Diputadus na lugaris ki ten dilegasãu di TCV ki ka ta transmitidu, ka ta transmitidu rizultadus di ses vizita pa sirkulu. Sr. Diputadu, nhu tira konkluzon ki nhu debi tira realmenti. Má, pa nhu fla ma nhu ta ser prejudikadu, ma otus sta ser favoresidu a nãu ser ki sentidu di favoresimentu y prejudikadu dja muda konpletamenti.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Luís Santos, deseja a palavra para que efeito?

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Um esclarecimento, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Faça o favor, tem um minuto.

Sr. Deputado José Luís Santos (MPD): - Não, jornalista ka podé temá parte na disputa pulítika, ise ten ke ser klaru. Jornalista se funsãu é ote. Ora ke un jornalista, pur izenplu moda kontese há dias, de lá de galerias, depôs de un intervensãu de un Deputade de PAICV, ta soma lá el ta ínsita kel Deputade pa fla Grupu Parlamentar de MPD más, fazende asin ke ded…

[Entretanto, o Orador fez um sinal com os dedos imitando o gesto que afirmou ter sido feito pelo jornalista.]

… pa dá mas, ise é inaseitavél, Sr. Presidente, y eu presenciei isso.

Aplausos da Bancada do MPD.

Y es mesme jornalista ke ten estode ta faze todo es trabalhu suju na Cabo Verde, na jornalisme kabuverdianu.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, vamos dar continuidade aos nossos trabalhos e esperaria que os Srs. Deputados tivessem em conta também os direitos de terceiros. Os direitos legítimos independentemente das criticas que os Srs. Deputados possam fazer. O Sr. Deputado Justino Miranda tem a palavra para uma intervenção.

Sr. Deputado Justino Miranda (PAICV): - Sr. Presidente, creio que chegado a este ponto teríamos a necessidade de recentrar o debate porque está em causa uma proposta concreta de revisão da Lei da Televisão, não está em cima da base um debate sobre a liberdade de imprensa ou sobre a manipulação. Se os Deputados do MPD quiserem podem agendar um debate sobre a comunicação social, mas neste momento temos que recentrar naquilo que é objecto de discussão. Para fazer algumas considerações sobre o diploma, Sr. Presidente. Primeiramente, para dizer que este diploma faz parte de um pacote de comunicação social, alguns diplomas já foram aprovados já nesta Casa, outros estão no processo legislativo. A Proposta de Lei da revisão da Lei de Televisão é mais um elemento deste pacote que visa, essencialmente, criar as condições para o exercício da comunicação social em Cabo Verde de forma livre, ou seja, num ambiente de maior liberdade, com rigor e isenção. Segundo aspecto, é que o sector de televisão e o mercado televisivo têm crescido bastante em Cabo Verde, fruto, primeiro, da alteração da lei que se fez em 2004, que permitiu a entrada no mercado e no sector de comunicação de operadores privados. Na altura alguns até disseram que ainda não tínhamos as condições suficientes e necessárias para abrir o mercado aos operadores privados, mas sempre acreditei na altura, acreditava e continuo a acreditar que era o momento oportuno e hoje temos mais operadores no mercado, temos mais qualidade do produto informativo. Esteve bem a Maioria quando fez esta

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 alteração e quando teve essa visão de oportunidade de abertura do mercado aos operadores privados. Mas também o mercado de televisão cresceu bastante, sobretudo, porque também hoje temos mais profissionais no mercado. Profissionais que se formaram cá em Cabo Verde, mas também que se formaram lá fora e hoje temos também mais qualidade do produto da comunicação social por esta via. De tal modo, Sr. Presidente, acredito que também já era altura de se actualizar a lei. Não se trata aqui de uma revisão profunda, como todos sabem, mas apenas algumas alterações pontuais para ajustar a lei à nova realidade, para trazer a questão da televisão por assinaturas, por exemplo, que não consta da lei actual, mas também para abrir a possibilidade da prestação do serviço público de televisão ser concessionada a operadores privados. Creio que aqui há também alguma confusão de alguns Deputados. Primeiramente, porque ouvi aqui uma confusão entre o serviço público de comunicação social e os subsídios, conceder o sector público ao privado, creio que se trata de uma grande confusão. O que a Proposta diz e claramente é o seguinte: é que a prestação de serviço público pode ser concessionada, pode, pode ser concessionada a operadores privados. Com esta alteração é essa possibilidade que se abre e com ela creio, salvo opinião contrária, que estaremos todos a criar as condições para mais qualidade no sector da comunicação social. Primeiro, pelo efeito indutor que isso traz junto aos operadores privados, porque todos vão começar a melhorar a qualidade do seu produto para poder concorrer, eventualmente, à prestação do serviço público. Segundo, pela possibilidade futura que se abre ao Estado de repensar a sua continuidade ou não no sector público, esta é também uma possibilidade que se abre para o futuro. De tal modo que, Sr. Presidente, para não tomar muito mais tempo, creio que em relação a este diploma a proposta é oportuna e vem contribuir para a melhoria da qualidade da prestação da comunicação social e, particularmente, da televisão em Cabo Verde. Queria, por último, Sr. Presidente, só fazer aqui algumas referências. Creio que em matéria de liberdade de imprensa e em matéria daquilo que os Deputados do MPD chamam de manipulação, o País cresceu e cresceu muito, estamos longe do ambiente que havia na década de noventa. E não vale a pena voltar a este assunto para discutir porque isto é cristalino. Por exemplo, sabem que hoje já não há empresa brasileira contratada para controlar a comunicação social. Quando iniciei as funções, em 2000, lembro perfeitamente de uma tal assessoria brasileira que de manhã passava o dia na Rádio, ao meio-dia na Televisão porque havia noticiário da uma, e a tarde passava no Jornal Horizonte porque havia o diário. Isto faz parte do passado e não queremos nunca mais que em Cabo Verde haja situações dessas.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Nelson Brito deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Para esclarecimentos.

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Sr. Presidente: - Tem trinta segundos.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Prescindo, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado António Monteiro tem a palavra.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Ministro, analisámos a Proposta de Lei que traz aqui ao Parlamento e entendemos que é importante que o País vai se adaptando às novas exigências do desenvolvimento. De forma que, em nosso entender a Proposta de Lei que aqui é apresentada por Vossa Excelência, pensamos que ela tem algumas questões que gostaríamos de ver se o Sr. Ministro consegue nos esclarecer. A primeira questão que queremos aqui trazer tem a ver com a autorização. Entendemos que por se tratar de um serviço poderoso em termos de comunicação social, que é a televisão, os Deputados da UCID entendem que qualquer entidade ou qualquer cidadão deste País que queira desenvolver esta actividade deve fazê-lo mediante apresentação ao concurso porque aí poderemos dissecar muitas situações que poderão depois ser situações de criação de conflitos. Nesta matéria gostaríamos de pedir ao Sr. Ministro para aqui nesta Proposta evitar possíveis autorizações, independentemente de serem dadas por dois ministros. As pessoas devem concorrer em função do caderno de encargo para esta matéria poderão ou não ser solucionados pela entidade ou pela comissão competente. Um outro aspecto que queremos aqui trazer nesta matéria tem a ver com a possibilidade, queremos pedir isso, de deixarmos em aberto que alguns cidadãos, vou dar um exemplo de São Vicente que tínhamos um cidadão que emitia em São Vicente, mas que por razões de cumprimento da lei deixou de o fazer. Gostaríamos de ver essa possibilidade não só em São Vicente, mas em várias ilhas e em vários concelhos do País. Permitir que as pessoas que tenham o equipamento, que tenham o Know-how, que tenham o conhecimento suficiente na matéria da televisão, pudessem mediante a participação no concurso poderem emitir programas para a população de determinadas localidades. Por último, já possivelmente não terá muito a ver com essa questão da televisão, ouvimos aqui várias acusações, mas gostaria de pedir a Sra. Ministra da Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares que analisasse a questão dos equipamentos que temos na comunicação social, quer na Rádio, quer na Televisão. Ouvimos aqui algumas queixas de alguns Deputados, que eu também às vezes na Rádio já ouvi a deturpação dos sinais e isso provavelmente poderá ser matéria que merecerá atenção do Governo em termos de qualidade dos equipamentos. Ora, se não houver investimento nos equipamentos iremos ter sempre dúvidas nesta matéria. De forma que, a par da intervenção que fiz na televisão, queria deixar aqui este reparo para que o Governo em termos de definição de linhas estratégicas para a comunicação social do Estado se fizesse um investimento à altura, para podermos ter os equipamentos de ponta e que permitam na realidade um trabalho que não seja apontado dedo por falhas técnicas de comunicação.

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Sr. Presidente: - Passo a palavra ao Sr. Ministro para as considerações finais.

Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Começo por agradecer em grande parte a intervenção do Sr. Deputado António Monteiro porque ele acaba por fazer uma sugestão e inclusive por clarificar um pouco eventuais erros ou eventuais problemas que possam, do ponto de vista técnico ou tecnológico, surgir e que não se deve aproveitar para arremesso político entre os grupos parlamentares ou entre os partidos políticos. Admitimos que possa haver um ou outro problema em relação à transmissão dos sinais da Televisão ou da Rádio e que possa coincidir ou como outros do PAICV me têm chamado atenção para esses problemas, mas são questões do ponto de vista técnico que penso que é muito mau estarmos a trazer aqui na discussão de uma lei cujo objecto é a Lei da Televisão. Vim cá apresentar uma Proposta de Lei da Televisão e, infelizmente, os Deputados do MPD limitaram-se a tratar de outras questões que nada têm a ver com a Lei da Televisão salvo um ou outro aspecto que terão levantado. Devo dizer ao Sr. Deputado António Monteiro que da parte do Governo tem havido investimentos avultados na Rádio e na Televisão. Temos um processo de digitalização seja dos documentos, seja da própria TCV e da RTC e, naturalmente, com esses investimentos a nível dos estúdios e a nível de transmissão, com a melhoria dos sinais. Tive a oportunidade de responder aqui algumas perguntas ainda nesta Sessão de Abril, de modo que há uma série de investimentos que estamos a fazer. Penso que problemas continuarão a existir porque trata-se de máquinas, haverá problemas, iremos melhorando e penso que as condições de transmissão serão melhores no futuro. Gostaria também de clarificar algo aqui, já foi objecto de discussão aqui nesta Casa Parlamentar na apresentação das outras leis. Os contratos de concessão do serviço público são controlados pela entidade reguladora, o Governo não controla, é preciso que se diga isto. Tudo é controlado por uma entidade reguladora e a própria Constituição diz isso e os regulamentos que já aprovamos dizem também isso. De modo que, o Governo não terá nada, apenas o Governo já estabeleceu os regulamentos e haverá uma entidade reguladora que é independente e que emana da própria Assembleia que irá fazer o controlo. Uma outra questão, a questão da autorização, Sr. Deputado. A autorização não é para a televisão é para assinatura, mas neste caso concreto a televisão por assinatura acaba por fazer retransmissão de outros canais e por isso que as regras são diferentes. De qualquer forma, penso que a questão de fundo relativamente à emissão dos sinais da televisão está claro aqui na lei que obedecerá um concurso público, como se fez e temos que primar por essa regra. Há uma série de questões, penso que dado ao adiantado da hora, mas também porque alguns Deputados já referiram, eu não pensava trazer questões do género para aqui. Devo também deixar claro, porque sou o Ministro deste Governo que tutela a comunicação social e quero aqui também, por um lado, expressar a minha solidariedade aos jornalistas de Cabo Verde porque não viemos cá para vir insultar os jornalistas. Viemos aqui apresentar uma proposta de lei e pensamos que os jornalistas que não podem, neste

337

Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 momento, usar da palavra aqui no Parlamento sentem-se, certamente, ofendidos por tamanha afronta. De modo que gostaria de expressar, como tutela da comunicação social, aqui a minha solidariedade para com os jornalistas de Cabo Verde de uma forma geral porque têm feito um bom trabalho, há erros que uns e outros podem cometer, há falhas que podem existir seja do ponto de vista técnico, deontológico ou tecnológico, seja o que for, ou humano. Errar é humano, mas devemos ter como princípio que os jornalistas são pessoas de bem e exercem a sua profissão respeitando princípios, leis e regras que existem no País e que a sua formação pessoal e humana também lhes dá. De modo que, toda a minha solidariedade para com os jornalistas de Cabo Verde. Dizer que os respeitamos e esse pacote tem como finalidade melhorar a comunicação social e o próprio Estatuto dos Jornalistas tem como missão dignificar essa profissão, mas também dizer que enquanto Ministro que tutela a comunicação social não me revejo no que se passou em Cabo Verde na década de noventa. Conhecemos não só o facto de ter havido empresa brasileira a controlar a comunicação social, a ir directamente ao trabalho concreto dos jornalistas, que indignou grande parte dos jornalistas de Cabo Verde, porque sentiram-se coibidos no seu trabalho, mas sabemos também que inclusive da parte de algum agente cabo-verdiano que foi colocado na RTC houve pressão e basta irem lá na RTC e verem as notas que existem lá, de cartas e de controlos que eram feitos na altura. Eu, na qualidade de Ministro, digo que não houve e enquanto estiver nesta pasta, enquanto o Governo do PAICV estiver no poder não haverá certamente nenhuma medida de controlo da comunicação social em Cabo Verde, não haverá, de forma nenhuma, nenhum acto que vise manipular seja o jornalista, seja qualquer tipo de órgão. Iremos fazer tudo para que se reafirme a liberdade de empresa em Cabo Verde e para a dignificação dos jornalistas em Cabo Verde.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Nelson Brito pediu a palavra de novo?

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Para esclarecimentos.

Sr. Presidente: - Tem trinta segundos, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Sr. Ministro, era para também apresentar a minha solidariedade para os bons jornalistas cabo-verdianos, de carácter, de profissionalismo e, mais uma vez, vêem a sua classe manchada por alguns poucos que querem, de facto, manipular a favor do PAICV e do Governo. Sr. Ministro, um esclarecimento muito rápido. Perguntei aqui sobre a não concentração dos serviços públicos na RTC, portanto serviço público de Televisão e de Rádio, e não fui esclarecido. Gostaria que me esclarecesse e não fingisse que não coloquei a questão. Também aqui falou da TV por assinatura, a Proposta de Lei fala em critérios, mas não diz que critérios são esses, não os define. Gostaríamos de saber que critérios são esses.

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Sr. Presidente: - Tinha passado a palavra ao Sr. Ministro para as considerações finais. Queria também dizer-lhe que fosse breve.

Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas: - Sr. Presidente, apenas para lhe dizer que deve consultar os regulamentos que existem. Penso que deve estar um pouco ausente, porque quando se prepara para um debate deve também conhecer os regulamentos e as leis que já existem. Portanto, existe regulamento, existe uma lei sobre isso. Ademais, não estamos a discutir esses regulamentos e essas leis que já foram aprovadas. Estamos a discutir uma proposta concreta, não vamos desviar a atenção a pedir esclarecimentos sobre matérias que não são objecto da nossa proposta.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Nelson Brito, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Queria pedir a palavra ao abrigo do Artigo 114º.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, dei a palavra ao Sr. Deputado sempre que a pediu para esclarecimentos. Queria apenas lembrar ao Sr. Deputado que estamos, neste momento, com uma falta de abundância de tempo. Pelo que pedíamos a colaboração de todos para ver se conseguimos hoje acabar com a nossa Ordem do Dia que é um pouco extensa. Vamos passar à votação. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? A Proposta de Lei foi aprovada com 39 votos a favor, sendo 37 dos Deputados do PAICV e 2 dos Deputados da UCID; 16 votos contra dos Deputados do Movimento para a Democracia e nenhum voto de abstenção. Sr. Deputado Nelson Brito, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Para interpelar a Mesa, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Faça o favor, Sr. Deputado.

Sr. Deputado Nelson Brito (MPD): - Queria interpelar a Mesa no sentido de saber porque é que a Mesa não me pediu para identificar o meu agravo, porque é que a Mesa não me concedeu a palavra ao abrigo do Artigo 114º. Tenho consciência que estamos limitados com o tempo, o que não é minha culpa, é função do Parlamento, deveremos ficar aqui o tempo necessário para cumprirmos as nossas funções de parlamentares, penso eu. Nunca fui deselegante com a Mesa penso eu, nem hoje e nem nunca. O senhor passou- me, de facto, a palavra quando a solicitei enquanto Deputado e foi nessa prerrogativa que o senhor também me deu a palavra e o usei nos termos regimentais, penso eu. Então, o Sr. Ministro aqui na sua última intervenção disse-me que estou ausente, disse isso para mim, para o Parlamento e para Cabo Verde, interpretei isso como ofensa, senti-me ofendido, então pedi a palavra para reagir ao abrigo do 114º e a Mesa simplesmente negou.

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Sr. Presidente: - Sr. Deputado, penso que está absolutamente claro. O Sr. Ministro usou uma expressão que o Sr. Deputado considerou ofensiva, a Mesa não o considerou ofensiva e, por isso, considerando todos os momentos não lhe deu a palavra. Portanto, isso é a posição absolutamente clara no debate, foi disso que resultou. Quando algo é notório para a Mesa, a Mesa pode tomar uma posição que entender mais conveniente e os Srs. Deputados o que podem é, se houver recurso, recorrer. Srs. Deputados, queria pedir-vos o favor de estarem aqui a tempo e horas para que pudéssemos dar andamento aos nossos trabalhos. O nosso trabalho deverá ser retomado às 15 horas.

[Sessão suspensa às 13 horas e 30 minutos.]

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[Após a suspensão]

Sr. Presidente: - Temos quórum de funcionamento. Convido o Sr. Ministro a se dirigir à tribuna para proceder à apresentação da Proposta de lei que concede autorização legislativa ao Governo para aprovar o estatuto do pessoal da Polícia Nacional.

Sr. Ministro da Administração Interna, Lívio Lopes: - Srs. Deputados, com a publicação em 2005 da Lei que cria a Polícia Nacional, mas sobretudo com a publicação dos dois instrumentos mais importantes da criação e institucionalização da Polícia Nacional em Cabo Verde na perspectiva de integração dos quatro ramos diferentes da Polícia em Cabo Verde, na altura, isto é a Polícia de Ordem Pública, a Polícia Fiscal, Marítima e Florestal Cabo Verde ganhou um quadro legal importante para o início no final de 2007 de funcionamento de forma integrada e uniformizada da Polícia Nacional, no quadro das várias competências que derivam do seu ramo principal, mas também dos outros vários ramos derivados das corporações anteriores existentes, enquadrados em outros sectores da governação do País. Visava-se na altura com esta criação reforçar a capacidade operacional da Polícia Nacional, racionalizar os meios materiais e humanos à disposição desses vários ramos e forças da segurança interna e também reforçar os níveis de coordenação interna e externa, no domínio da segurança interna. Julgo que se ganhou muito com esta medida. Naturalmente que, de seguida, deveríamos levar a cabo um conjunto de outras reformas de natureza legislativa institucional para a consecução destes três objectivos e também para a consolidação de toda a estrutura e a função nova que se pretendia também fazer seguir a Polícia Nacional a partir dessa altura. Precisamente por isso, demos início à preparação dos Estatutos da Polícia Nacional como força única e hierarquizada; iniciámos também a reforma

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 do Regulamento Disciplinar, que, como se sabe, a Polícia de Ordem Pública e a Guarda-fiscal eram as duas corporações que possuíam um regime disciplinar e diferenciado. Precisamente por isso pensamos que, por que há diferenciação em termos de princípios, regras, funcionamento, etc, que existiam na altura, teríamos que trabalhar também a parte importante no decurso das várias audições e discussões internas, que é a parte do estatuto remuneratório correspondente ou, aliás, o respaldo do Estatuto de Pessoal, no estatuto remuneratório de uma Polícia Nacional unificada, naturalmente com uma grelha salarial que correspondesse a um corpo único. Por isso, no quadro do novo estatuto da Polícia Nacional se pretende com esta autorização legislativa definir as carreiras e postos, os requisitos de desenvolvimento profissional e o regime de avaliação de desempenho do pessoal policial. Prever também os direitos, deveres, regalias, incompatibilidades e imunidades decorrentes da condição policial. Estabelecer as bases do sistema remuneratório de incentivos, regular o regime de férias, faltas e licenças bem como o tempo de situação de um serviço pessoal; descrever as funções genéricas a desempenhar pelo pessoal policial; fixar o quadro de transição que já foi feito num diploma anterior, mas que deverá ser retomado no quadro deste novo estatuto e revogar expressamente toda a legislação que dispõe em contrário, em relação a este regime especifico de estatuto do pessoal da Polícia Nacional. É importante ressaltarmos que, com esta autorização legislativa, estamos a basear fundamentalmente no Estatuto já existente da Polícia de Ordem Pública que é mais completa a nível dos quatro ramos diferenciados que existiam, mas, naturalmente, fazendo as necessárias adaptações a um novo regime que queremos para Cabo Verde e para a Polícia Nacional, mas apontar como propostas inovadoras as regras do sistema remuneratório adequado à nova realidade, absorvendo algumas das propostas e reivindicações da classe. O desenvolvimento excepcional na carreira, ou a reclassificação do pessoal na perspectiva de uniformização, uma vez que, neste momento, temos pelo menos uma norma diferenciadora da situação de evolução e desenvolvimento na carreira que é a questão que tem a ver com a reclassificação do pessoal com formação superior no quadro da Guarda Fiscal para a primeira categoria de oficial subalterno, mas que não contempla os outros ramos e que, neste quadro, queríamos optar por uma norma única que permitisse a reclassificação do pessoal com formação superior por uma questão até de dar maior qualidade e capacidade de intervenção à Policia Nacional, mas centralizado em áreas de formação que interessam à ordem pública e à segurança interna. Introduzimos também um princípio importante de concurso de avaliação curricular para a promoção da classe do oficialato. Entendemos que será importante para a Polícia Nacional impormos esta exigência, uma vez que é uma exigência que faz com que qualquer promoção ou evolução na carreira de um oficial permita também à segurança interna ter estudos ou uma contribuição dos oficiais para um melhor pensar da segurança interna, o que é de extrema importância, neste momento particular em que pensamos a segurança interna numa perspectiva mais do que policial, de integração e intervenção com outras valências em matéria de segurança interna.

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Há também a preocupação com esta proposta de estabelecer um conjunto de incompatibilidades para além da norma genérica que vem já no estatuto da Polícia de Ordem Pública aplicada neste momento podermos alargar e concretizar situações de incompatibilidades, uma vez que existem um conjunto de actividades de carácter comercial ou industrial designadamente a questão da exploração da indústria de transportes públicos urbanos, interurbanos e de táxis que poderão conflituar directamente com a acção da Polícia Nacional e que queríamos consagrar com este estatuto como uma incompatibilidade, no quadro do exercício da actividade policial para podermos transmitir uma mensagem clara de um exercício imparcial da função policial. Também fixámos alguns critérios mais rigorosos na concessão de licença de estudos, que é extremamente importante para a formação do pessoal policial, mas que vinha sendo concedido com critérios um pouco subjectivos e que seria de todo importante estabelecermos critérios mais objectivos, entre as quais a definição de áreas de importância e interesse para a Polícia Nacional e para a segurança interna em Cabo Verde. Naturalmente, como eu disse, teremos de incluir as normas de transição do pessoal policial que à data da criação da Polícia Nacional integravam os quadros da Polícia de Ordem Pública, da Guarda Fiscal, Florestal e Marítima, para fazer integrar num quadro único para a Polícia Nacional. E também algumas outras normas que seriam de analisar e enquadrar de acordo com as contribuições que fomos recebendo ao longo deste ano de preparação deste diploma em particular e integrar essas preocupações na medida do possível e daquilo que seja interessante para a modernização da Polícia Nacional dando- lhe um estatuto mais adequado às novas exigências do combate à criminalidade em Cabo Verde, mas também de respostas cada vez mais à medida daquilo que é uma força de natureza civil e hierarquizada que se quer em Cabo Verde. Introduziremos algumas inovações em termos de contribuições no quadro por exemplo do oficial de ligação que é uma preocupação nossa importante para a segurança até do País, de podermos dispor à mesma medida daquilo que Cabo Verde dispõe neste momento em termos de oficiais de ligação para a Polícia Judiciária… Podermos também integrar essa preocupação no quadro da Polícia Nacional respondendo em particular às preocupações que temos, neste momento, em matéria de imigração ilegal que seria de todo o interesse dispormos em determinadas embaixadas de pessoal que pudesse auxiliar o serviço diplomático e consular importante para qualquer decisão de entrada ou de fluxo migratório para Cabo Verde. Portanto, seriam estas as nossas preocupações fundamentais em relação a esta proposta de autorização legislativa ao Governo. Naturalmente não fugirá das nossas preocupações alguma adaptação que é a harmonização com outros diplomas entre os quais a Orgânica, mas também de tudo aquilo que se prevê neste momento à regulamentação no quadro do exercício da actividade policial e por isso mesmo teremos ainda algum tempo para introduzir algumas outras contribuições que poderemos ter também do Parlamento para versão final a ser aprovada em Conselho de Ministros.

Sr. Presidente: - Antes de dar continuidade aos trabalhos, gostaria de chamar os Srs. líderes parlamentares para uma breve concertação.

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(…) Favor de ler o relatório parecer da comissão. Damos por conhecido o relatório da Comissão Jurídica que é mais de conformidade jurídica.

Sr. Deputado Justiniano Sena (PAICV): - Comissão Especializada da Reforma do Estado e Segurança.

Relatório

Ao abrigo do disposto no artigo 42º do Regimento da Assembleia Nacional, a Comissão Especializada da Reforma do Estado e Segurança por convocação do seu presidente reuniu-se no dia 13 de Abril de 2010, às nove horas numa das salas da Assembleia Nacional para dar parecer sobre o pedido de autorização legislativa para aprovar o estatuto do pessoal da Polícia Nacional e o pedido de autorização legislativa para aprovar o regime disciplinar do pessoal da Polícia Nacional.

Análise

O Decreto Legislativo nº 2/2005 que criou a Polícia Nacional diz que até a aprovação do estatuto do pessoal, do regime disciplinar e da Orgânica da Policia Nacional mantém-se em vigor os respectivos regimes jurídicos aplicáveis à Polícia de Ordem Pública, Polícia Marítima, Polícia Florestal e Guarda Fiscal. Com efeito, previa-se desde então um estatuto e um regime disciplinar único para todas as forças policiais que integram a Polícia Nacional. Assim, aprovadas a Orgânica da Polícia Nacional, o quadro do pessoal da Polícia Nacional, o Regulamento de manufactura e uso de uniformes, distintivos e símbolos da Polícia Nacional, as carreiras e correspondentes postos de quadro do pessoal da Policia Nacional, o Governo entende que doravante é necessário um novo estatuto do pessoal policial e um novo regime disciplinar que pretende que seja adaptada à nova realidade, facilitadora de uma maior racionalização da gestão dos recursos humanos. Nestes termos, solicitou à Assembleia Nacional o pedido de autorização legislativa para aprovar o Estatuto do Pessoal Policial da Polícia Nacional, procedendo à definição de carreira e postos, fixando os direitos e deveres, a determinação das faltas e sistema remuneratório, a regulação do regime de férias, faltas e licenças, e discriminações das funções genéricas a desempenhar. Igualmente requereu a autorização para estabelecer os pressupostos de punição e responsabilidade disciplinar, estabelecer e regular as formas e os tipos de processo disciplinar, regular as garantias de defesa e definir os pressupostos e o regime de reabilitação do arguido.

Conclusão

A Comissão, considerando que será mais um passo importante na edificação da reforma do sector da segurança interna, entende como sendo oportuna e, logo, de interesse, a discussão e aprovação das duas iniciativas em análise.

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Assembleia Nacional, aos 21 de Abril, de 2010. O Presidente da Comissão, José Maria Vaz de Pina; O Relator, Justiniano Sena.

Sr. Presidente: - Algum Deputado deseja pedir ou dar esclarecimentos? Sra. Deputada Joana Rosa tem a palavra.

Sra. Deputada Joana Rosa (MPD): - Sr. Ministro, salta-nos à vista que este pedido de autorização legislativa peca um pouco por defeito, tendo em atenção a Lei 62/V/98. Ouvi o Sr. Ministro a falar há bocadinho por exemplo do estatuto remuneratório, mas o pedido é omisso em relação a isso. E, em relação a outras matérias que já constam de diplomas que regulam o Estatuto da Polícia de Ordem Pública. O Sr. Ministro fez referência à criação da Polícia Nacional. É verdade que a Polícia Nacional foi criada em 2005 e estamos há praticamente cinco anos sem uniformização legislativa, sem criar as condições do ponto de vista mesmo legal, porque há situações de uma certa incongruência, insubordinação e uma certa confusão criada à volta da junção dessas quatro vertentes da Polícia de Ordem Pública, Polícia Fiscal, Polícia Marítima e Polícia Florestal. Vendo a autorização legislativa anterior, tendo em atenção que o Governo quer neste momento é sistematizar, pelo menos não pude aperceber- me de algo de novo em termos daquilo que se quer, se está a fazer algo de novo para além do que já existe. Entendo que a extensão do diploma está muito aquém e que deveríamos, portanto, especificar ponto por ponto as matérias que vão ser objecto de tratamento legislativo. Por isso criaram uma explicação do Sr. Ministro antes da intervenção em relação a esta matéria.

Sr. Presidente: - Mais algum pedido de esclarecimento? Passo a palavra então ao Sr. Ministro, para dar o esclarecimento.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Sra. Deputada a nossa preocupação em relação a esta reforma é de, naturalmente, no quadro de uma reforma em continuidade de alguns dos aspectos importantes que regulam à acção policial e a própria instituição que como sabe já completou no ano passado 138 anos, é, portanto, uma corporação que tem uma experiência muito boa e rica e com muita história. De modo que absorvemos aquilo que vem do passado que é importante: eu disse que absorvemos o Estatuto da Polícia de Ordem Pública que é a experiência mais bem elaborada, embora tenhamos no passado tido a possibilidade de ter o estatuto por exemplo para a Polícia Marítima e para a Guarda Fiscal, mas que não é consistente e nem materialmente adequado à nova corporação da Polícia Nacional e, por isso, o que sustenta basicamente esta nova proposta é o Estatuto da Polícia de Ordem Pública, mas naturalmente com matérias inovadoras, importantes para os próximos tempos. Eu acabei por enumerar aqui nove pontos distintos (não sei se a Sra. Deputada estava presente) que fazem parte deste novo estatuto. Estamos, como eu disse na minha primeira intervenção, abertos a novas propostas e obviamente no seguimento da aprovação desta proposta de autorização legislativa teríamos que ainda contar com novas contribuições no quadro da Polícia Nacional, da associação socioprofissional que já deu um primeiro

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 contributo, mas que poderá ainda fazer novas propostas caso se mostrar necessário. Dizer que, em relação ao estatuto remuneratório, não é omisso. Nós estamos a estabelecer como foi sempre estabelecido no quadro do estatuto, princípios e regras fundamentais para se poder legislar depois em matéria de estatuto remuneratório. Por isso, consta desta proposta essa preocupação; precisamente por isso fizemos e deixámos claro um pedido de autorização legislativa este objecto, que é também definirmos os princípios e regras fundamentais para o estabelecimento do estatuto remuneratório uniformizado no quadro da Polícia Nacional, bem suportado por um estudo já elaborado para o estabelecimento da nova tabela salarial. Queria aqui salientar algo importante: julgo que se criou realmente a Polícia em 2005, mas fundamental são os dois instrumentos importantes para o início do funcionamento da Polícia Nacional como uma instituição unificada que foi em finais de 2007: a Orgânica e o Quadro de Pessoal. Eu devo ter como ponto de referência fundamentalmente Novembro 2007 como a data de referência para os outros diplomas seguintes de consolidação dessa nova entidade que é a Polícia Nacional. Eram esses os esclarecimentos que eu queria prestar, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Passamos à discussão na generalidade. Estão abertas as inscrições. Sr. Deputado José Maria de Pina.

Sr. Deputado José Maria de Pina (PAICV): - Hoje a Polícia Nacional é uma realidade. Temos ganhos em matéria de reforço das Forças Policiais e na racionalização dos diferentes comandos. A articulação entre os diferentes organismos afectos à segurança interna melhorou e muito e queríamos destacar o excelente trabalho da equipa de coordenação integrada pelo Ministério da Administração Interna que coordena a Polícia Nacional, a Polícia Judiciária e a Polícia Militar. O aumento contínuo dos efectivos é uma realidade. Nos últimos três anos tivemos um aumento de mais de 400 efectivos. Podemos registar também aumentos continuados em matéria de meios. Reparamos que somente no primeiro trimestre deste ano foram entregues 16 viaturas novas e podemos registar que, no quadro da cooperação com outros países, tem sido possível conseguir equipamento, mas também mais oportunidades de formação para o pessoal Policial da Polícia Nacional. Constatamos também com satisfação o trabalho direccionado para o combate à proliferação de armas ligeiras e armas de pequeno calibre. As brigadas BIC e BAC têm tido um papel importante no combate à criminalidade juvenil. Registamos a formação em vários domínios em que gostaríamos de destacar aqui: Fronteira, prevenção da emigração clandestina, pilotagem e manutenção de embarcações, investigação criminal, chefes de esquadras, incêndios criminosos, técnicas de intervenção policial, estágio para os oficiais com funções de direcção e chefia. Em matéria de fronteiras, está-se a trabalhar para a introdução do passaporte biométrico e a instalação do sistema de reconhecimento automático de passageiros, com ganhos em matéria de conforto e na afectação dos efectivos.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Srs. Deputados, desde a criação da Polícia Nacional em 2005, temos tido, como podem ver, ganhos consideráveis. Vários instrumentos legais foram já aprovados e é pois o momento de alterarmos o Estatuto em harmonia com esta instituição moderna que já construímos, ciente de que, com esta iniciativa, a Polícia Nacional e a comunidade sairão a ganhar.

Sr. Presidente: - Não tenho mais nenhum inscrito. Sra. Deputada Joana Rosa tem a palavra. Desculpe, Sr. Deputado António Monteiro está inscrito sim.

Sra. Deputada Joana Rosa (MPD): - Posso?

Sr. Presidente: - Sim, já tinha passado a palavra antes, era o Sr. Deputado António Monteiro, ele não se importa.

Sra. Deputada Joana Rosa (MPD): - Sr. Ministro, está claro que o diploma até na nota justificativa (exposição de motivos) diz claramente o quê que se pretende em termos genéricos, mas a extensão do diploma, quanto a nós, continua com deficiência em relação à mesma matéria tratada aquando da aprovação da Lei n.º 62/V/98. Se se quer de facto… sim, são as mesmas matérias, as mesmas matérias estão sendo tratadas. Se pede uma autorização legislativa tem que especificar, ponto por ponto, o quê que se quer.

[O Sr. Ministro da Administração Interna disse “está”.]

Não está, basta fazer a comparação do pedido agora apresentado pelo Governo e da autorização legislativa concedida anteriormente. Não é a mesma coisa. Não são a mesma coisa. Peca por deficiência, como eu disse e reafirmo isso. Mas o que está em causa, Sr. Ministro, nós gostaríamos, aliás eu acho que isso faz parte da própria reivindicação da classe da Polícia que o diploma fosse discutido aqui no Parlamento. Sabemos que o Governo pode perfeitamente, aliás estar a pedir autorização legislativa, pode fazê-lo, mas, em se tratando de uma matéria hoje um pouco sensível, estamos a atravessar pelo menos um momento um pouco complicado em termos de segurança interna, gostaríamos, tal como foi também a manifestação feita pela classe, que o diploma fosse trazido à Assembleia para ser discutido. Sabemos que há uma versão zero, a qual ainda nem tivemos conhecimento, mas gostaríamos de manifestar a nossa preocupação em relação a algumas matérias. O Sr. Ministro fez referência em relação a algumas que também não estão explícitas no sentido e extensão do diploma e gostaríamos, portanto, de compartilhar um pouco algumas preocupações também em relação a matéria. Desde logo, Sr. Ministro falou em relação ao que se pretende em relação à reclassificação, à formação, a dar um certo incentivo às pessoas que tiveram a possibilidade de estudar um pouco mais de fazer uma carreira mais aliciante. E gostaríamos, Sr. Ministro, que essa questão fosse tida em conta não só em relação às áreas afins, porque estuda-se para se ter uma melhor condição de vida, um melhor desempenho, uma actividade ao nível daquilo que

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 se estuda. Porque estudar e continuar na mesma, há muitas pessoas que dirão “então não vale estudar”. Portanto, essa questão colocada é que eu gostaria que o Sr. Ministro levasse em conta, não só porque nós em Cabo Verde penso que não há nenhuma escola especializada de Polícia ou de áreas afins. Que eu conheça, penso que não há. Em termos de formação nas escolas superiores que temos no País, não sei se há alguma área neste momento para além da área de Direito. Mesmo havendo, não podemos limitar a vontade desses policiais a seguir uma área determinada, porque podem perfeitamente fazer um outro curso superior e, por via disso, obter um grau de licenciatura e a reclassificação devida. Sr. Ministro, há o problema da reciclagem; os quadros policiais precisam de reciclagem. Temos no nosso dia-a-dia constatado, por exemplo…sei que, em relação ao novo Código de Processo Penal, há um grande número de polícias que estão praticamente um pouco a Leste do que é a realidade actual em termos de Código de Processo Penal. Então, há necessidade urgente de se proceder a uma reciclagem dos polícias para que possam estar em condições de responder, à altura, às exigências actuais. Há o problema também de fardamento, que tem a ver com a uniformização do fardamento; há o problema do próprio equipamento material. Quando falo de material, não estou a referir-me somente às viaturas, à própria arma de fogo, por exemplo. Hoje temos armas sofisticadas. Infelizmente, hoje, e isso é comum ouvir-se lá fora, que os bandidos estão muito mais avançados do que a própria Polícia. Porquê? Porque a nossa capacidade em termos de aquisição de material sofisticado para responder, mesmo sendo do ponto de vista psicológico, à sociedade, isso tem prioridade neste momento. Falei há bocadinho de conflitualidade porque, Sr. Ministro, sei…

[Entretanto, o Sr. Presidente, através do toque campainha, chamou à atenção da Sra. Deputada para concluir o seu discurso].

Sr. Presidente: - Já ultrapassou o seu tempo.

Sra. Deputada Joana Rosa (MPD): - Vou terminar, Sr. Presidente. Falei de conflitualidade, penso que o Sr. Ministro sabe que houve nesse período de 2005 até agora várias conflitualidades que têm um pouco a ver com a ausência da aprovação de um diploma único, o que se o Sr. Ministro trouxe agora. Porquê? Porque se tivesse, na altura, acautelado, por exemplo, aquando da aprovação da própria orgânica, uniformizar o estatuto uniformizado, se calhar hoje teríamos menos conflito ao nível da Polícia e uma melhor coabitação das diversas forças que o Deputado…

[Entretanto, o Sr. Presidente, através do toque campainha, chamou à atenção da Sra. Deputada para concluir o seu discurso].

… daquilo que o Governo pretendeu. Obrigada, Presidente. Desculpe.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro tem a palavra para uma intervenção.

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Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Ministro, nós gostaríamos de ver a discussão do possível estatuto da Polícia Nacional a ser feita aqui nesta Casa Parlamentar. No entanto, como o Governo tem esta prerrogativa, também aceitamos que o Governo desenvolva a lei e aprove. No entanto, analisando o parecer da Associação Socioprofissional da Polícia de Ordem Pública, eles alertam para uma situação que é, para poderem conhecer, antes da aprovação do Governo, o ante-projecto ou projecto na sua fase zero. De forma que gostaríamos de pedir ao Sr. Ministro se o Governo irá ceder nesta matéria. Um outro aspecto que nós gostaríamos aqui de frisar e mostrar aqui o nosso contentamento, independentemente do estatuto ser aprovado pelo Governo, tem a ver com a situação do enquadramento dos agentes policiais que, algumas vezes, tive a oportunidade de conversar com alguns responsáveis do Ministério do Interior nesta matéria. Ficámos contentes por saber que o estatuto que vai ser desenvolvido irá dar o suporte necessário a estes agentes e provavelmente irá permitir que outras pessoas com formação superior possam entrar para o quadro da Polícia Nacional. Isto, do nosso ponto de vista, dá-nos satisfação porque, várias vezes, batalhámos sobre essa questão. Um aspecto que gostaríamos também aqui de ouvir o Sr. Ministro tem a ver com as várias vertentes da nossa Polícia Nacional, porque é nossa sensação, podemos estar enganados, é mas é nossa sensação que, provavelmente, não há um casamento perfeito entre todas essas polícias. De forma que, a haver um único estatuto a coordenar todo o serviço da Polícia Nacional, gostaríamos de ouvir o Sr. Ministro se não poderá aqui haver margem para conflito dentro da própria corporação da Polícia Nacional.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Júlio Correia tem a palavra.

Sr. Deputado Júlio Correia (PAICV): - È só para deixar uma nota. Com relação à intervenção do Deputado Monteiro sobre casamento perfeito, penso que casamentos perfeitos não existem. Há um grande esforço que se fez para se criar a Polícia Nacional e esse esforço é notável porque com esta medida ganhos a nível de performance operativa da Polícia, em termos de meios, em termos de optimização de recursos, são mais do que muitos. Só uma nota que não percebi muito bem a intervenção da Joana Rosa, quando ela fez referência que se esses diplomas tivessem sido aprovados antes não haveria tantos conflitos na polícia como tem acontecido. Não sei que conflitos. Conflitos por causa destes diplomas não se conhecem. Penso que logo no início foram aprovados o Quadro do Pessoal e a Orgânica da Polícia Nacional; para que o edifício ficasse completo, tinha-se que depois avançar para os estatutos, como se está a avançar agora, e depois para o regime disciplinar que é o que está a fazer. Agora, não se tem notícia de que, por causa destes estatutos, tenha havido conflitos internos à actuação da polícia.

Sr. Presidente: - Não sei se o Sr. Ministro deseja fazer alguma consideração final.

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Sr. Ministro da Administração Interna: - Sim.

Sr. Presidente: - Tenha a bondade.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Era também para aproveitar para esclarecer alguns aspectos, importantes intervenções aqui havidas e alguns questionamentos. Penso que não há, como deixado observar, quem tenha tido tempo necessário para analisar os outros diplomas anteriores de entender que a extensão deste pedido ultrapassa matérias fulcrais para o novo Estatuto da Polícia Nacional. Nós elencámos aqui o sentido e a extensão da autorização legislativa. Abarca toda a essência dos Estatutos da Polícia Nacional, com respaldo a algumas outras matérias de importância, mas complementares em relação a esses princípios fundamentais ou a esses regimes que pretendemos estabelecer de forma específica no quadro dos diplomas ou deste diploma em particular que pretendemos aprovar. Quero aqui deixar bem claro que, das reacções que também recebemos em relação à Associação Socioprofissional e à Direcção Nacional da Polícia, nunca houve uma reacção no sentido de discutir no Plenário da Assembleia os Estatutos ou o Regulamento Disciplinar. A preocupação dessa classe é avançarmos com este diploma, com base nos procedimentos legais, constitucionais, que existem e, nesse caso, uma autorização legislativa para o Governo poder discutir outros aspectos ainda antes da aprovação final. Portanto, o procedimento ainda mais conveniente, sendo feito assim, e mais importante porque também teremos uma etapa de discussão e de integração das contribuições da associação socioprofissional, da Direcção Nacional da Polícia, etc., que constituiu já nos finais de 2008 uma comissão que integrava um elemento da associação socioprofissional para a versão zero, para um contributo sobre a versão zero apresentada dos Estatutos da Polícia Nacional. Queria aqui deixar bem claro que, em termos de acções de formação, na Polícia Nacional, só em 2009, foram levados a cabo 45 acções de formação de forma diferenciada a nível de oficialato, a nível dos subchefes e a nível dos agentes da Polícia Nacional - o que é algo extraordinário e importante observar, uma vez que é esta a necessidade recorrente que se tem a nível da prestação cada vez mais eficaz da acção da Polícia. Portanto, mais de 40 acções de formação realizadas só em 2008. Não vejo realmente esta noção de conflitualidade entre ramos porque levamos esse tempo precisamente para isso. Diria à Deputada Joana Rosa e ao Deputado António Monteiro que exactamente por isso levamos algum tempo. No substrato disso tudo, discutimos também a proposta possível final do estatuto remuneratório que suportará uma grelha salarial que seja mais adequada à nova realidade. Portanto, penso que com as contribuições que tivéssemos, aliás, o senhor teve acesso ao parecer da associação socioprofissional, vê claramente que o grande interesse, o grande prazer deles é avançarmos com esta proposta, integrando as suas propostas que têm a ver fundamentalmente com a questão da reclassificação para os casos de formação superior e também o estatuto remuneratório. Portanto, penso que aqui estamos perfeitamente de

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 acordo, estamos a responder às necessidades da Polícia Nacional neste momento. Disse que por diversas vezes levantou esta questão da formação superior e da integração, enquadramento desses agentes, também tive a possibilidade de discutir consigo essa questão e tinha-lhe dito que, no quadro do Estatuto, absorveríamos esta proposta. Estamos a absorver e penso que estamos a responder também às preocupações desta Casa Parlamentar, em matéria da versão final que dê mais e melhor resposta aos novos tempos para a Polícia Nacional.

Sr. Presidente: - Vamos passar à votação na generalidade. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? Podem ocupar os respectivos lugares, se assim o desejarem. A proposta de lei de autorização legislativa foi aprovada na generalidade com 51 votos a favor de Deputados do PAICV e do MPD, nenhum voto contra e 2 abstenções dos Deputados da UCID. Pedia ao Sr. Ministro o favor de proceder à leitura do texto para a discussão na especialidade.

Sr. Ministro da Administração Interna: - No uso da faculdade conferida pela alínea b) do n.º 1 do artigo 222.º e alínea c) do artigo 205.º, ambos da Constituição, o Governo submete à Assembleia Nacional a presente proposta de lei:

Artigo 1º Objecto

É concedida ao Governo autorização legislativa para definir e aprovar o Estatuto do Pessoal Policial da Polícia Nacional.

Sr. Presidente: - No preâmbulo, o Sr. Ministro leu “submete” em de “apresenta”. Era isso?

Sr. Ministro da Administração Interna: - Sim.

Sr. Presidente: - Pergunto se há alguma objecção ao artigo 1.º. Não havendo, aprovado. Artigo 2.º.

Sr. Ministro da Administração Interna: -

Artigo 2º Sentido e extensão

A autorização legislativa referida no artigo anterior tem o seguinte sentido e extensão:

a) Definir as carreiras e postos, os requisitos de desenvolvimento profissional e o regime de avaliação de desempenho do pessoal policial; b) Prever os direitos, deveres, regalias, incompatibilidades e imunidades decorrentes da condição policial;

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c) Estabelecer as bases do sistema remuneratório e de incentivos; d) Regular o regime de férias, faltas e licenças, bem como o tempo e situação de serviço do pessoal; e) Descrever as funções genéricas a desempenhar pelo pessoal policial; f) Fixar o quadro de transição do pessoal proveniente da Polícia de Ordem Pública, da Guarda Fiscal, da Polícia Marítima e da Polícia Florestal para as carreiras e postos do quadro de pessoal da Polícia Nacional; g) Revogar expressamente o Estatuto do Pessoal Policial da Polícia de Ordem Pública e o regime jurídico do pessoal da Guarda Fiscal.

Sr. Presidente: - Alguma objecção? Não há, aprovado. Artigo 3.º.

Sr. Ministro da Administração Interna: -

Artigo 3º Duração

A presente autorização legislativa tem a duração de cento e vinte dias.

Sr. Presidente: - Alguma objecção? Parece não haver também, aprovado. Artigo seguinte.

Sr. Ministro da Administração Interna: -

Artigo 4º Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.

Sr. Presidente: - Objecção? Não há, aprovado. Vamos para a votação final global. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? Houve uma movimentação na Sala, saiu um Deputado. 50 Deputados votaram a favor, nenhum votou contra e há 2 abstenções. Os votos a favor são de Deputados do PAICV e do MPD e os votos de abstenção são dos Srs. Deputados da UCID. Não há nenhum voto contra. A Mesa agradece ao Sr. Ministro. Passamos ao novo texto, à nova proposta de lei de autorização legislativa, desta vez sobre o regime disciplinar do pessoal da Polícia Nacional.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Sr. Presidente, retomo as fundamentações e as razões anteriormente avançadas no quadro da proposta dos estatutos do pessoal policial, uma vez que este regulamento é submetido à apreciação da Assembleia Nacional, no mesmo quadro de evolução da reforma legislativa-institucional que se pretende para a Polícia Nacional. Nestes termos, prevemos uma proposta de autorização legislativa para o regime disciplinar do pessoal policial que se baseia também fundamentalmente naquilo que é o regulamento disciplinar da Polícia de Ordem Pública como o suporte ainda aplicável no quadro da acção disciplinar policial, mas que serve perfeitamente para, com a sua adaptação e modernização no sentido de

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 alteração para responder às necessidades actuais de uma força disciplinada e bem hierarquizada, podermos responder, para os próximos tempos, às necessidades da Polícia Nacional em matéria disciplinar. Por isso, essa autorização legislativa pretende estabelecer os deveres gerais e especiais aos quais o pessoal policial está sujeito, bem como os pressupostos da punição e responsabilidade disciplinar, tendo em conta a revisão do sistema penal, do Código Penal e do Código do Processo Penal em Cabo Verde em 2005; tipificar as penas disciplinares e as sanções assessórias, a competência para sua aplicação e os seus efeitos; estabelecer e regular as formas e os tipos de processos disciplinar; regular as garantias de defesa, os recursos, a revisão, a extinção da responsabilidade disciplinar, designadamente o regime de prescrição e de caducidade da acção disciplinar e das penas; definir os pressupostos e regime…

Sr. Presidente: - Silêncio na sala, por favor.

Sr. Ministro da Administração Interna: - … do arguido e revogar expressamente os regimes anteriores que sejam contrários àquilo que se prevê, isto é, o regulamento disciplinar do pessoal da Polícia de Ordem Pública e o regulamento disciplinar do pessoal da Guarda Fiscal, que eram os dois regulamentos que existiam anteriormente. Naturalmente que também aqui introduzimos mais algumas propostas inovadoras em matéria de regulamento disciplinar. Disse há pouco, há adaptação ao regime processual penal e penal em Cabo Verde, particularmente na definição dos pressupostos de punição e responsabilidade disciplinar; um aprimoramento maior dos deveres gerais e especiais para o pessoal policial; a transferência de algumas matérias que tinham a ver, fundamentalmente pela sua natureza, com o estatuto em vez do regulamento disciplinar e que é a melhor sistematização possível mais adequada para uma corporação de natureza civil. Suprimir alguns aspectos que têm a ver com o regime geral e que não faria muito sentido estarem no regulamento disciplinar especial da Polícia Nacional; a abertura à aplicação de outras medidas de graça que não seja só a amnistia, isto é, o perdão e o indulto, mas também a clarificação dos tipos de processos, de forma de processo especial, a separação dos processos de averiguações e processos de inquéritos e sindicância desses processos especiais. Uma nova sistematização para o processo; a clarificação das formas de defesa no quadro do processo disciplinar; o respaldo daquilo que propomos agora, em termos de estatuto disciplinar, em matéria de incompatibilidades e que será importante que ao consagrarmos no estatuto essas situações de incompatibilidade de exercício de determinadas actividades no quadro da Polícia Nacional podermos fazer corresponder no regime disciplinar algumas penas, de acordo com aquilo que se exige em termos de imparcialidade e de cumprimento do Código de Ética e de Honra no quadro da Policial Nacional; mas também, numa perspectiva positiva, fixar para os próprios objectivos, para o requerimento e concessão da reabilitação do arguido e revisão do processo disciplinar. Portanto, mais alguns acréscimos e propostas que recebemos e que estão contemplados nesta versão que temos para análise e aprovação final.

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Portanto, nestes termos, apresento à Assembleia Nacional esta proposta de autorização legislativa para discussão e aprovação.

Sr. Presidente: - O parecer que foi lido há bocado era também para esta iniciativa de lei de autorização legislativa, pelo que pergunto se há algum pedido de esclarecimento. Sra. Deputada Joana Rosa, tenha a bondade.

Sra. Deputada Joana Rosa (MPD): - Era só para um esclarecimento ao Sr. Ministro. Anteriormente, sei que essa questão não fazia parte do estatuto disciplinar; era só para perguntar como é que ficam os processos de inquérito de sindicância, já que estão fora do diploma anterior. Disse claramente que não faz parte do diploma ainda em vigor. Como é que isso fica?

Sr. Presidente: - Mais algum pedido de esclarecimento? Não havendo, tem a palavra o Sr. Ministro para responder.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Não, não ficou fora desta proposta. O que fizemos foi diferenciar, estabelecer regras mais claras em relação ao processo de averiguações, sindicâncias e inquérito na relação que tem com os processos especiais, para formas de processo especial no quadro do processo disciplinar para a Polícia Nacional. Era fundamental podermos separar um processo que era classificado anteriormente como um processo especial, que não é. Portanto, é um processo específico que poderá resultar em processo disciplinar, mas que tem a sua autonomia. Era preciso separar isso.

Sr. Presidente: - Estão abertas as intervenções. Não há, vamos passar à votação. Quem é a favor? A proposta de lei de autorização para aprovar o regime disciplinar do pessoal policial da Polícia Nacional foi aprovada na generalidade pela unanimidade dos deputados presentes. Vamos passar à votação na especialidade. Pedia ao Sr. Ministro o favor de proceder à leitura do texto.

Sr. Ministro da Administração Interna: - No uso da faculdade conferida pela alínea b) do n.º 1 do artigo 202.º e alínea c) do artigo 205.º, ambos da Constituição, o Governo apresenta à Assembleia Nacional a seguinte proposta de lei:

Artigo 1º Objecto

É concedida ao Governo autorização legislativa para aprovar o Regime Disciplinar do Pessoal Policial da Polícia Nacional.

Sr. Presidente: - Alguma objecção? Não havendo, aprovado. Artigo 2.º.

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Sr. Ministro da Administração Interna: -

Artigo 2º Sentido e extensão

A autorização legislativa referida no artigo anterior tem o seguinte sentido e extensão:

a) Estabelecer os deveres gerais e especiais a que o pessoal policial está sujeito, bem como os pressupostos de punição e responsabilidade disciplinar; b) Tipificar as penas disciplinares e as sanções acessórias, a competência para a sua aplicação e os seus efeitos; c) Estabelecer e regular as formas e os tipos de processo disciplinar; d) Regular as garantias de defesa, os recursos, a revisão e a extinção da responsabilidade disciplinar, designadamente, o regime de prescrição e de caducidade da acção disciplinar e das penas; e) Definir os pressupostos e o regime de reabilitação do arguido; f) Revogar expressamente o Regulamento Disciplinar do Pessoal Policial da Polícia de Ordem Pública e o Regulamento Disciplinar do Pessoal Policial da Guarda-fiscal.

Sr. Presidente: - Objecção? Não há, aprovado. Artigo 3.º.

Sr. Ministro da Administração Interna: -

Artigo 3º Duração

A presente autorização legislativa tem a duração de cento e vinte dias.

Sr. Presidente: - Objecção? Não há, aprovado. Artigo 4.º.

Sr. Ministro da Administração Interna: -

Artigo 4º Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação.

Sr. Presidente: - Objecção? Não há, aprovado. Votação final global. Quem vota a favor? Contra? Abstenção? A proposta de lei de autorização legislativa foi aprovada por todos os Deputados presentes, unanimidade. A Mesa agradece ao Sr. Ministro e aos Srs. Deputados que participaram no debate. Srs. Deputados, tínhamos a proposta de lei que altera a Lei n.º 77/VI/05, de 16 Agosto, que regula o regime jurídico da exploração de jogos de fortuna ou azar; esta proposta foi já distribuída aos Srs. Deputados, há já o tempo suficiente para que, após a votação na especialidade, seja aprovada em votação final global.

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Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? A proposta de lei que altera a 77/VI/05, de 16 Agosto, que regula o regime jurídico da exploração de jogos de fortuna ou azar foi aprovada na globalidade por todos os Deputados presentes. Um momento: vamos repetir a votação, com a vossa benevolência. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? A proposta de lei que acabei de referir foi aprovada, em votação final global, por 52 Deputados das Bancadas do PAICV e do MPD, nenhum voto contra e duas abstenções dos Srs. Deputados da UCID. Temos a seguir a Proposta de Lei que estabelece o Regime Jurídico da Declaração e Funcionamento das Zonas Turísticas Especiais. Tenho o prazer de convidar a Sra. Ministra do Turismo, Indústria e Energia a se dirigir à Tribuna. Tenha a bondade, Sra. Ministra.

Sra. Ministra do Turismo, Indústria e Energia, Fátima Fialho: - Face à experiência acumulada desde a criação das zonas turísticas especiais e sua gestão em 1993, o Governo pretende agora reformar o regime de tais zonas, pelo que traz ao Parlamento a presente proposta de lei. Ao fazê-lo, quer provocar, ao fim e ao cabo, uma reflexão responsável sobre a nova configuração das zonas turísticas especiais em sede do poder legislativo. A exposição de motivos que acompanha a presente proposta de lei apresenta, ainda que em termos sintéticos, a razão de ser das alterações que se quer introduzir ao Regime Jurídico das Zonas Turísticas Especiais, decorridos que são dezasseis anos sobre a data da sua institucionalização. Pretende-se corrigir eventuais indefinições da lei e fazer face aos principais pontos de crítica de que a gestão dessas zonas tem sido alvo. Uma das preocupações subjacentes à presente proposta de lei é o respeito, em todo o processo de declaração e gestão das zonas turísticas especiais, para a autonomia local. Na verdade, a participação dos municípios no processo de declaração dessas zonas resume-se, na legislação de 1993, à mera audição do projecto do decreto-regulamentar que as declarava e a informação e audição sobre as actuações relativas aos terrenos situados nos concelhos respectivos. Doravante, porém, além de se manter essa audição e informação, consagra-se, na lei esteira do Decreto-legislativo n.º 1/2005, de 31 de Janeiro, a articulação com o município da área de localização da referida zona na aprovação dos projectos de obras de infra-estruturas viárias e de redes de serviços e dos projectos arquitectónicos de edificações de edifícios hoteleiros, de alojamento de equipamentos comerciais, sociais ou de lazer para efeitos do seu licenciamento municipal, bem como a eventual participação municipal no capital do organismo gestor das zonas turísticas especiais. Uma segunda preocupação tem a ver com o respeito do direito à propriedade privada. Na presente proposta, apenas se admite a expropriação se falhar a modalidade de aquisição de terrenos sitos nas citadas zonas, através da associação de organismo gestor das zonas turísticas especiais, com os proprietários dos terrenos em operações urbanísticas. Deseja-se firmemente que não haja mudanças de titularidade sobre terrenos nas zonas turísticas especiais, harmonizando-se dessa forma os interesses público e privado. Esta é, de facto, a grande novidade da presente

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 proposta. E ao decidir a possibilidade de haver esse tipo de associação, estar- se-á a diminuir, certamente, as probabilidades de conflito com os proprietários dos terrenos. Uma terceira preocupação tem a ver com a especulação sobre terrenos. Com este diploma procura-se dar combate efectivo a este fenómeno que tem sido objecto de muitas críticas com fundamento ou não. Assim, os terrenos só são vendidos após a verificação prévia quer da experiência do promotor, quer da sua capacidade técnica e financeira, bem como da aceitação do compromisso prévio de cumprir cabalmente as obrigações que sobre si impedem. Adquirido o terreno, impõe-se o ónus da inalienabilidade, segundo a qual o terreno só pode ser vendido decorridos que sejam cinco anos contados da celebração do contrato. Por outro lado, se aos bens cedidos não for dado o destino que justificou a cedência ou se o promotor culposamente deixar de cumprir qualquer condição ou encargo pode, ser ordenada a reversão dos bens cedidos para o domínio privado do Estado, não tendo o promotor direito, salvo caso de força maior, à restituição de importâncias pagas ou à indemnização por benfeitorias realizadas. Outra novidade deste diploma é que se estabelece a favor do organismo gestor a preferência nas transmissões por título oneroso entre particulares de terrenos situados nas zonas turísticas especiais com direito de fixação de preço nas condições a definir em decreto-lei. Para o êxito desta luta contra eventuais tentativas de especulação e para a garantia da realização dos investimentos, que deverá a principal preocupação, os promotores prestarão caução em montante e prazo a definir na forma de garantia bancária para seguimento, a reverter a favor do proprietário dos terrenos cedidos, caso os promotores entrarem em incumprimento. Também é alargado o regime de cedência do solo, já que se prevê…

Sr. Presidente: - Está muito barulho na Sala. As pessoas não conseguem seguir o que a Sra. Ministra está a dizer.

Sra. Ministra do Turismo, Industria e Energia: - Também é alargado o regime de cedência do solo, já que se prevê o regime de compra e venda, de arrendamento ou locação financeira, bem como a constituição de direitos de superfície após a aprovação dos competentes planos implementado o projecto de infra-estruturação. A cedência nos termos do presente diploma pode ser precedida de uma fase de reserva de terrenos por um ano e pode efectuar-se por ajuste directo após a verificação prévia, quer da experiência do promotor, quer da sua capacidade técnica e financeira, bem como da aceitação do compromisso prévio de cumprir cabalmente as obrigações que sobre si impendem e outras que lhes sejam impostas dentro dos prazos marcados. A cedência de terreno deve processar-se mediante aprovação do projecto ou da ideia desenvolvida do projecto no pressuposto de que o mais importante é a viabilização dos investimentos nas ZDTI e não a simples cedência de terreno. Com estas precauções, acreditamos que eventuais candidatos a especuladores terão dificuldades em fazer negócio nas zonas turísticas

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 especiais e pôr-se-á cobro a eventuais entesouramentos de terrenos nessas zonas. Em ordem a evitar que durante o estudo de um plano de ordenamento turístico se modifiquem as condições existentes na área que possam comprometer a realização dos objectivos previstos no plano ou tornar mais difícil e onerosa a execução de empreendimentos, justifica-se que se estabeleçam medidas preventivas ou de natureza cautelar destinadas a evitar a alteração das circunstâncias e condições prevalecentes. Com a presente proposta de lei, Srs. Deputados, acreditamos estar a dar mais um passo no sentido do aprimoramento da política de disponibilização de terrenos com a aptidão para o turismo.

Sr. Presidente: - Pergunto se há parecer da primeira e da terceira comissão. Quem é o relator da terceira comissão? Sr. Presidente da Comissão, Sr. Deputado Sanches, quem é o relator?

Sr. Deputado José Manuel Sanches (PAICV): - Sr. Deputado Emanuel Almeida.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Emanuel Almeida tenha a bondade.

Sr. Deputado Emanuel Almeida (PAICV): - Comissão Especializada de Economia, Ambiente e Ordenamento do Território. Assunto: Apreciação da Proposta de Lei que estabelece o Regime Jurídico da Declaração e Funcionamento das Zonas Turísticas Especiais. Relatório. Ao abrigo do disposto no artigo 42º do Regimento da Assembleia Nacional, esteve reunida no dia 17 de Março de 2010, na Sala Multiuso da Assembleia Nacional, a Comissão Especializada de Economia, Ambiente e Ordenamento do Território para apreciar a proposta de lei que estabelece o regime jurídico da declaração e funcionamento das zonas turísticas especiais. Analisando o referido diploma e após algumas considerações dos membros da comissão, todos são unânimes em afirmar que se trata de uma iniciativa oportuna que introduz algumas alterações importantes, em especial nas questões do ordenamento do território, do ambiente e dos planos de ordenamento turístico. No entanto, é igualmente importante destacar a intervenção de alguns membros da comissão que são de opinião que, em se tratando de um documento com algumas alterações positivas, deverá certamente haver um espaço um diálogo e discussão no Plenário para que possa haver mais contribuições para o melhoramento do diploma. Sendo assim, é entendimento da Comissão Especializada de Economia, Ambiente e Ordenamento do Território que o diploma em apreço está em condições de ser submetida à Plenária da Assembleia Nacional para apreciação e votação. Assembleia Nacional, aos 18 dias do mês de Março de 2010. Pelo Presidente da Comissão, Agostinho António Lopes. O Relator, Emanuel Almeida.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Presidente: - Algum Deputado deseja dar ou pedir esclarecimentos? Não sendo este o caso, vamos passar ao debate na generalidade. Sr. Deputado Fernando Elísio Freire de Andrade tem a palavra.

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (PAICV): - A lei das ZDTI que agora esta lei vem substituir foi criada no meio da década de noventa com o espírito de que era importante e urgente proteger zonas com vocação turística, evitando que o seu potencial viesse a ser destruído por outros usos. Mas esse instrumento foi sempre visto como algo transitório, cuja necessidade e oportunidade de adequação e eficácia teriam que se aferidas pelo futuro ordenamento território nacional e pelos PDM. A lei do ordenamento do território era vista como sendo da maior importância e urgência e a grelha que iria permitir ajuizar da bondade das ZDTI. Os planos directores municipais seriam um passo que seguiria a lei do ordenamento do território e a lei das ZDTI teria que ser aferida, modificada, adaptada, enfim, subordinada a essa realidade legislativa mais completa e complexa. Em consequência, quando as câmaras aprovam os PDM, ao ficarem definidos quais são os terrenos urbanos urbanizáveis e não urbanizáveis, as ZDTI parece que colidem com esses instrumentos porque, muito embora os PDM sejam de âmbito municipal, uma vez que o território nacional, excepção feita aos ilhéus, é simultaneamente a soma dos terrenos municipais, acabam por ser também ao seu nível o ordenamento do território. Quando os PDM classificam exaustivamente os terrenos, repartindo-os em urbanos, urbanizáveis e não urbanizáveis, repito, cobrem a totalidade do território nacional. No primeiro caso, são os terrenos aptos para de imediato serem desenvolvidos projectos; no segundo caso, são terrenos classificados para urbanizar, mas apenas em posterior expansão e não para o desenvolvimento imediato; e os últimos são zonas agrícolas, reservas naturais, serventias, etc. O primeiro aspecto com que o MPD não concorda nesta lei das ZDTI tem a ver com a Associação dos proprietários; porque em nenhum caso classificados pelos PDM as câmaras municipais obrigam os respectivos proprietários a constituírem-se em associações. E nem existe nenhum organismo público que gere essas zonas ou esses espaços. Mas, para cada uma dessas zonas existe uma aptidão, estão definidos indicadores máximos e condicionantes da ocupação de solos e os organismos públicos podem, em casos que estão definidos na lei, negociar contrapartidas aos investidores. Por isso, consideramos que, tendo em conta que existe em Cabo Verde neste momento a questão das sociedades de desenvolvimento turístico que foram criadas, parece-me, pela lei de 2005 e não está totalmente consolidada, ou seja, temos dois tipos gestão para as ZDTI em Cabo Verde – temos a de Boa Vista e Maio que é gerida por uma Sociedade de Desenvolvimento Turístico de Boa Vista e Maio e as outras ZDTI são geridas directamente pela Cabo Verde Investimentos, se não estou em erro – portanto, o novo figurino de gestão das zonas turísticas especiais não está ainda consolidado. Não foi testado noutras ilhas, noutras regiões; e seria mais prudente o Governo apostar na sua consolidação e evitar conclusões precipitadas. É de notar que desde 1994 foram criadas cerca de 20 mil hectares de terrenos para ZDTI ou foram reservadas, tendo praticamente duplicado entre

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2005 e 2010 essa quantia. Neste momento, representam mais de 5% do território e há ilhas que são aproximadamente 20% do território para as ZDTI. Portanto, nesta matéria, há que fazer um adequado estudo, há que avaliar o contexto em foram institucionalizadas as zonas turísticas especiais. Foram institucionalizadas em 1992, num contexto em que era preciso reservar terrenos para eventual uso turístico; num contexto em que ainda não se tinha tanta experiência em termos de organização de território e de gestão de terrenos. Por isso, consideramos que é mais prudente neste momento consolidar a experiência existente do que partir para algo novo. Também há necessidade aqui claramente, o que nos parece ser o caso, de uma sobreposição entre os planos directores municipais e as ZTE porque, para além de não introduzir modificações de fundo, esta proposta de lei do Governo vem introduzir ruído no relacionamento entre as câmaras e o poder central na gestão de solos, porque há zonas em que claramente, mesmo sendo zonas turísticas especiais, quando sejam submetidos ao Plano Director Municipal, podem colidir com os interesses municipais, o que para nós também não é uma solução adequada. Por isso, gostaríamos de ouvir o Governo sobre esses aspectos. A questão da associação dos proprietários nos parece excessiva. Obrigar os proprietários a se associarem para poderem defender os seus interesses é excessivo. Não é, do ponto de vista, razoável, nem faz parte da cultura cabo- verdiana essa obrigação, porque os municípios não o fazem, nem o Governo faz com outros tipos de terrenos. Portanto, não podem ser as zonas turísticas especiais a obrigar os privados a se associarem. Consideramos, ainda, que há muita zona de conflito que é preciso resolver, por isso vamos ouvir o Governo para decidirmos sobre o nosso posicionamento em termos de voto.

Sr. Presidente: - Antes de passar a palavra à Sra. Ministra, vou passá- la, passe a redundância, ao Sr. Deputado David Almada que a pediu.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): -

Sr. Presidente, Srs. Membros do Governo, Caros colegas Deputados:

Tomo a palavra neste momento para expressar o meu apoio à proposta que nos é submetida à apreciação, porque entendo que ela é oportuna e que vem ultrapassar algumas dificuldades, em sendo aprovada, por que passa este sector e esta área em particular. Constato, da leitura deste projecto ou dessa proposta, que muitas das consagrações que pretende fazer resultam das recomendações que a Comissão Parlamentar de Inquérito havia feito depois do inquérito parlamentar que se realizou nesta Assembleia a uns tempos atrás. As preocupações que foram assinaladas no relatório final do inquérito parlamentar apontavam para determinadas soluções para obviar o andamento mais rápido do processo de desenvolvimento turístico e para ultrapassar dificuldades que, continuando, não só dificultavam esse processo, mas também davam azo a que pudesse criar motivos de suspeição sobre a gestão do

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 território destinado ao ordenamento turístico ou à implantação turística. Por isso, entendo que este diploma é oportuno e, mais do que isso, a sua aprovação é urgente. Tantos anos passados sobre a altura em que o diploma foi aprovado e sobretudo com toda a experiência que se adquiriu, não só pela nossa gestão interna, mas sobretudo pela qualidade, pelos ensinamentos que os investidores trouxeram, investidores nacionais e, particularmente, estrangeiros que têm mais conhecimento ou outra experiência na matéria, e que ajudam, como aliás já aconselhavam, que medidas outras se tomasse no sentido de ultrapassar essas dificuldades. Esse diploma, de facto, tenta ultrapassar essas dificuldades e vem ajudar resolver problemas que ainda estão pendentes e que poderão eventualmente eternizar-se se não se tomarem medidas já. Por isso, o diploma é oportuno e, para além disso, é urgente. Mais, salvo devido pela opinião do Sr. Líder Parlamentar do MPD, eu não concordo com a parte final intervenção dele quando disse que se está a obrigar a associação. A lei diz aqui expressamente que o organismo gestor pode associar-se aos proprietários. Não sei se estamos a ler a mesma proposta, mas o que tenho aqui é que o organismo gestor pode obter e assegurar a disponibilidade das áreas mediante associação com os respectivos proprietários, etc. A associação tem como finalidade a realização dos trabalhos de urbanização, infra-estruturação geral, etc. Depois diz no artigo 25.º, muito expressamente, “a efectivação da associação depende do acordo de proprietários e titulares referidos no artigo anterior”. Portanto, não vejo como é que se pode concluir que existe uma obrigatoriedade dos proprietários se associarem. Aqui está-se a dar a possibilidade e eu acho que é bom; porque, se se contactarem vários empresários, proprietários de terrenos, vão ouvir isso mesmo, que eles gostariam de associar-se ao Estado para a exploração de terrenos para cuja exploração não têm capacidade, nem meios, e, se calhar, nem possibilidade de chegar onde o Estado pode chegar, neste caso o organismo gestor. Por isso e por tudo o que os outros já disseram, penso que o diploma merece o nosso apoio, a nossa aprovação e também, por isso, dou o meu apoio ao diploma.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Manuel Sanches, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado José Manuel Sanches (PAICV): - Uma pequena intervenção.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Delgado Monteiro, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Uma intervenção.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Fernando Elísio Freire pediu a palavra para que efeito?

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Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (PAICV): - Não sei o Deputado Hopffer Almada estava a intervir ou a pedir esclarecimentos, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado David Almada foi uma intervenção, não foi? Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Intervenção.

Sr. Presidente: - O esclarecimento tem prioridade, faça o favor.

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (PAICV): - Está bem que, na lógica do Deputado Hopffer Almada, acredito que faça isso de boa-fé, tenham estado as recomendações da Comissão Parlamentar de Inquérito, mas, como sabe, houve duas comissões parlamentares de inquérito, uma que foi presidida pelo ilustre Deputado Hopffer Amada e uma outra presidida por uma Deputada do Grupo Parlamentar do MPD, a Deputada Janine Lélis, que chegaram a conclusões completamente divergentes. Portanto, a nossa divergência começa de base. Se acha que aquilo que foi a conclusão da comissão parlamentar de inquérito proposto pela PAICV, que o senhor teve a honra de presidir, tem as recomendações da comissão aqui espelhadas na lei, o Grupo Parlamentar do MPD considera que esta lei não vem resolver as grandes questões porque continua a confusão na gestão dos terrenos, continua a possibilidade, janelas abertas para a intransparência na gestão dos terrenos, continua a janela aberta para que ministros ou mesmo membros da Sociedade de Desenvolvimento Turístico que é o órgão gestor (ou outra entidade qualquer) possa, de forma arbitrária, conceder terrenos. Tudo isso continua com a actual lei. E mais grave ainda é que a questão do direito da propriedade privada que o Sr. Deputado disse que tem que ter consentimento dos donos do terreno (dos proprietários neste caso), mas é um “pode” que é quase obrigatório. Porque, sabendo como funciona o Estado, a burocracia até hoje ainda não permitiu o pagamento das indemnizações, por exemplo, na Boa Vista que já vai há cerca de 10 anos ou mais, naturalmente que é quase uma obrigação dos proprietários associarem-se ao Estado ou aos promotores. É por isso que consideramos que o Estado deve respeitar o direito à propriedade privada e que cada cidadão, desde que o seu terreno esteja enquadrado numa zona de desenvolvimento turístico especial, tenha direito à indemnização se tal ocorrer porque …

[Interferência de um Deputado não identificado.]

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - A lei diz isso mas a atitude na administração pública não é a mesma, Sr. Deputado. A atitude na administração pública é de um autêntico empurrar com a barriga. E estão aqui pessoas que são da Boa Vista, estão aqui pessoas que são do interior de Santiago, estão aqui pessoas que são de São Vicente e que sabem como é que o Estado se porta com as pessoas em relação à propriedade privada. Portanto, têm estado sempre a empurrar com a barriga e a questão fundamental que colocámos na altura é a questão dos concursos públicos para o acesso ao terreno. Não basta o Estado estar a dizer que pode ceder terrenos ou então que pode aprovar projectos para um determinado terreno se surgirem,

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 por exemplo, projectos concorrentes, como é que fará o Estado? Fará concurso público ou não? Estas questões são importantes para fechar todas as janelas da intransparência porque aquilo que surgiu na altura que levou à criação da Comissão Parlamentar de Inquérito tanto pelo PAICV como pelo MPD, foi a intransparência na gestão de terrenos; foi a falta de lógica de gestão dos terrenos, preços fixados de forma arbitrária, preços abaixo do valor do mercado e indemnizações por atribuir, terrenos distribuídos no gabinete dos Membros do Governo e dos órgãos gestores das ZTE… Portanto, são situações que ainda esta lei, do ponto de vista do Grupo Parlamentar do MPD, não vem resolver porque continua tudo enquadrado numa lógica que não melhora a situação. Quanto à questão das câmaras municipais …

[Entretanto, através do toque da campainha, o Sr. Presidente avisou o orador do término do seu tempo.]

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - (Vou terminar, Sr. Presidente) …do nosso ponto de vista é óbvio que continua a confusão da gestão dos solos urbanizáveis, dos solos não urbanizáveis nos respectivos municípios com uma vantagem clara para o Estado, neste caso o Governo, utilizar os seus mecanismos próprios, através das ZDTI, e retirar terrenos aos municípios e atribuir a determinadas entidades por vezes sem concurso público. Por isso é que estamos quase a posicionarmos contra esta proposta de lei.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado David Almada tem a palavra da para esclarecimentos.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Obrigada Sr. Presidente, mais uma vez, por dar-me a palavra. Eu continuo a pensar que, se calhar, não estamos a ler a mesma proposta de lei. É que o Sr. Deputado está a fazer afirmações, acredito que as esteja fazendo de boa fé e segundo a leitura que está fazendo, mas o certo é que não vejo estas coisas que está dizendo nesta proposta que tenho em mãos. Pode ser que na leitura da especialidade ou na discussão da especialidade eu venha a descobrir estas mesmas coisas. Mas não as vejo, pelo menos com a acuidade que o ilustre Deputado está vendo e, se calhar, também porque não tenho à minha frente esse tipo de fantasmas. Estou a ver com olhos reais a proposta que me é apresentada e devo salientar, para esclarecer o Sr. ilustre Deputado o seguinte: A Comissão Parlamentar de Inquérito a que eu tive a honra de presidir, produziu um relatório que foi aprovado por esta Assembleia e que foi remetido ao Governo com recomendações. É isso que estou dizendo. Aquelas recomendações constantes do relatório apresentado aqui e aprovado por esta assembleia estão aqui e como sabe a outra Comissão de Inquérito não produziu relatório, não acabou o trabalho, não se aprovou o relatório e não tinha recomendações nenhumas para apresentar.

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É isso que estamos a dizer. Estamos a falar uma linguagem clara para que nos possamos entender. Acredito que o Sr. Deputado, tanto como eu, quer que esse diploma avance porque nós todos sabemos que essa situação precisa ser melhorada. A situação da exploração das zonas turísticas, dos terrenos… nós constatámos que havia falhas e pusemo-lo no relatório. Esse relatório foi analisado e aprovado aqui. Houve uma recomendação expressa da Assembleia para que o relatório fosse encaminhado para o Governo para se tomar em consideração. Da análise que eu fiz, essas recomendações estão aqui enquadradas. Porém admito que posso não estar a ver bem, mas só na altura em que discutirmos o diploma, ponto por ponto, haveremos de ver quem tem razão. Até lá, ainda não me convenceu e peço desculpas por não ser capaz de compreender as suas razões.

Sr. Presidente: - Queria dizer à Sra. Ministra que se quiser, por ventura, responder antes pode fazer o sinal e a Mesa dá-lhe a palavra logo. A Sra. Deputada Ivete Ferreira, desejava a palavra para que efeito?

Sra. Deputada Ivete Ferreira (PAICV): - Era para uma intervenção.

Sr. Presidente: - Está inscrita. Sr. Deputado Emanuel Almeida, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Emanuel Almeida (PAICV): - Para uma intervenção.

Sr. Presidente: - Fica inscrito. Tenho que fazer a alternância. Está o Sr. Deputado António Monteiro e a seguir o Sr. Deputado José Manuel Sanches.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sra. Ministra, temos a tecer os seguintes comentários: Primeiro dizer que, do nosso ponto de vista, esta lei que tem como objectivo melhorar a lei anterior poderá trazer-nos algumas preocupações. Preocupações estas que gostaríamos de ouvir da Sra. Ministra os esclarecimentos necessários. A primeira questão que gostaríamos de colocar rapidamente tem a ver com o prazo que é concedido às câmaras municipais, o prazo de 45 dias para emitirem o licenciamento adequado para as obras. Ora, nós aqui temos uma dificuldade em entender porque há projectos que são enormes e não estamos a ver as câmaras municipais do País com a capacidade de análise destes projectos num prazo de 45 dias. Esta é a primeira questão. A segunda questão tem a ver com a associação que reza um dos artigos. Entendemos que a propriedade privada deve ser respeitada na sua globalidade apesar de entendermos que aqui o Governo, ao permitir que se menos de um terço dos proprietários em termos de terrenos não estiverem incluídos na associação essa não fará fé, queremos deixar a preocupação de que a propriedade privada é algo sagrado para os cabo-verdianos e isto deve reflectir aqui nesta lei. Um outro aspecto que queremos aqui trazer tem a ver com as contra- ordenações. Vou dar o exemplo concreto de São Vicente. Sabemos que há retirada de areia nas dunas da Praia do Norte. É uma ZDTI, é verdade, mas

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 como é que um cidadão que está ali a tirar a areia, se for coimado, irá pagar entre 200 a um milhão de contos (no caso se for o dono do carro) ou a pessoa que estiver a fazer a extracção irá pagar entre 50 mil escudos a 3 milhões de escudos? E com o agravante de não ser a Polícia Nacional de uma forma geral a actuar, mas sim sendo a IGAE a actuar, indo 50% para o Estado, 35% para a IGAE e 15% para

[Imperceptível]

E aqui vemos que as câmaras municipais que normalmente estão preocupadas com essa situação não têm nenhuma voz e não têm nenhuma contrapartida nesta matéria. De forma que entendemos que há, de facto, uma tentativa para se melhorar essa questão, mas há aqui aspectos importantíssimos que gostaríamos de ver salvaguardados. Por último dizer o seguinte: na definição das Zonas de Desenvolvimento Turístico Integrado diz-se aqui que o município tem um papel a dizer…

[Entretanto, através do toque da campainha o Sr. Presidente avisou o orador do término do seu tempo.]

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - (Vou terminar Sr. Presidente) …que o município tem um papel. Mas nós sabemos que há áreas que os municípios, dentro do próprio território, não controlam, são controlados pelo Governo o que quererá dizer que os municípios ficam, a priori, excluídos deste processo.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado José Manuel Sanches tem a palavra para uma intervenção.

Sr. Deputado José Manuel Sanches (PAICV): - De momento troco com o meu colega Emanuel Almeida.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado Emanuel Almeida tem a palavra.

Sr. Deputado Emanuel Almeida (PAICV): - Queria intervir nesta parte felicitando o Governo pela apresentação desta iniciativa legislativa que, sem dúvida, vai dar maior transparência ao processo de venda e cedência dos terrenos nas zonas turísticas especiais e vai igualmente evitar a especulação dos terrenos situados nessaa zonas e, ao mesmo tempo, salvaguardar os interesses do Estado neste domínio. Queria igualmente fazer alguns comentários em relação à intervenção do Sr. Líder Parlamentar do MPD, quando ele diz que o Estado está a retirar os terrenos aos municípios. Penso que, este governo pelo menos já deu provas cabais da envolvência dos municípios nas declarações das zonas turísticas especiais. Porque, se consultarmos o decreto legislativo 3/93 no seu artigo 6º, ali sim vamos ver que, efectivamente, o governo do MPD é que retirava os terrenos aos municípios. Porque o artigo 6º dizia: “A sugestão à declaração da entidade pública e desapropriação de todos os terrenos situados na dita zona, portanto nas Zonas Turísticas Especiais, e mesmo quando forem de

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 titularidade municipal são declaradas como zonas turísticas especiais”; isto é, sem ter em conta, efectivamente, os terrenos que pertenciam aos municípios. E mais uma prova que este governo deu neste domínio é a envolvência dos municípios no lucro dos terrenos vendidos porque antes os municípios não recebiam nada, mas, com este Governo, as câmaras municipais passaram a receber 49% dos lucros dos terrenos. Acho que há provas cabais disso. Isso serve igualmente para a última intervenção do Sr. Deputado António Monteiro, quando ele diz também que não está a ver os interesses dos municípios aqui salvaguardados. Portanto, aqui a lei é muito clara e o que eu disse em relação à participação nos lucros, à envolvência dos municípios, à identificação do trato de terreno que vai ser vendido, claro está que os municípios serão tidos em conta no momento da venda porque, efectivamente, vão saber quantos hectares vão ser vendidos e quanto é que vão receber como contrapartida da venda de terrenos. De maneira que eu queria terminar felicitando o Governo por esta iniciativa.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção tem a palavra a Sra. Deputada Ivete Ferreira.

Sra. Deputada Ivete Ferreira (PAICV): - Estou a fazer essa intervenção porque ouvi a intervenção do meu colega, Deputado Elísio Freire e ele, na sua intervenção fez aqui algumas afirmações do ponto de vista do relacionamento entre planos de ordenamento do território e planos turísticos que, do meu ponto de vista, revela alguma confusão relativamente à estrutura e organização do nosso sistema nacional de ordenamento de território. Ele dá a entender que deve haver uma submissão dos planos turísticos ao PDM. Não é verdade, Sr. Deputado. Em Cabo Verde temos quatro níveis de intervenção a nível do território. Temos primeiro, o nível nacional em que temos como instrumentos a directiva nacional do Ordenamento do Território, temos o nível regional em que temos os sistemas regionais que salvaguardam os interesses a nível regional do País; temos os planos urbanísticos que intervêm a nível municipal, através do PDM, do PDU e dos planos detalhados; e temos planos sectoriais que defendem os interesses dos nossos sectores económicos. Por último temos os planos especiais e é aqui que se incluem os planos de ordenamento turístico. Portanto, os planos especiais, Sr. Deputado, não podem se submeter aos planos municipais ou planos urbanísticos, porque os planos especiais têm como principal objectivo e função preservar recursos naturais e no âmbito nacional pelo valor paisagístico que têm, devem ser preservados… podemos dar como exemplo zonas com vocação turística ou industrial (neste caso estamos a falar de zonas turísticas); as nossas orlas marítimas, as nossas bacias hidrográficas e outros espaços naturais de valor cultural, histórico ou científico. Portanto, a nível de zonas especiais, zonas identificadas como sendo especiais e que merecem ser preservadas, não pode haver interesses municipais, regionais. Mas sim são zonas que devem ser defendidas como sendo zonas de interesses nacionais.

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Daí que, do nosso ponto de vista, esta proposta traz sim vantagens a nível da preservação e salvaguarda dessas zonas na medida em que, por exemplo, institui que todas as zonas que são reconhecidas como zonas com vocação turística devem ser preservadas e devem ser geridas de acordo e mediante um plano de ordenamento turístico que deve estar, sim, em concertação com outros planos urbanísticos nomeadamente o PDM. E quando reconhecemos ou identificamos zonas com potencial turístico, se não houver ainda ou não estiver elaborado um plano de ordenamento turístico essa iniciativa propõe e muito bem que sejam criadas medidas preventivas que impeçam a alteração das condições existentes que poderão pôr em causa a futura implementação do Plano de Ordenamento Turístico. Esta proposta ainda veio trazer outras vantagens na medida em que obriga a que as zonas turísticas sejam geridas de acordo com o Plano de Ordenamento Turístico, de modo a proteger as nossas vocações turísticas mais importantes e também impedindo assim, usos incompatíveis com o uso turístico. Por fim, traz uma figura que é muito importante (aliás, reforça essa figura) que é a figura de zonas de reserva e protecção turística. No fundo, reserva as áreas que identificamos com um elevado valor turístico e, se por acaso futuramente quisermos declarar essas áreas como sendo áreas de Zonas de Desenvolvimento Turístico Integrado, essas áreas sejam já reservadas para posterior declaração como Zona de Desenvolvimento Turístico Integrado. Podemos também reservar áreas…

[Entretanto, através do toque da campainha o Sr. Presidente avisou o orador do término do seu tempo.]

Sra. Deputada Ivete Ferreira (PAICV): - (Para terminar, Sr. Presidente) …podemos reservar áreas que reconhecemos que têm capacidades para serem áreas de vocação turística e reservá-las para que futuramente sejam também declaradas como zonas de protecção turística.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Manuel Sanches, o Grupo Parlamentar do PAICV já não dispõe de tempo. Passo a palavra à Sra. Ministra para os esclarecimentos que entender.

Sra. Ministra do Turismo, Industria e Energia: - Esta questão das Zonas de Desenvolvimento Turístico Especial tem sido na verdade, desde a sua instituição quase, alvo de muita polémica e com grandes suspeições sobre os actos, seja do Governo seja do organismo gestor, até agora a Cabo Verde Investimentos. Em relação aos preconceitos que possam existir…

[Murmúrios na sala.]

Sr. Presidente: - Silêncio na sala por favor.

Sra. Ministra do Turismo, Industria e Energia: - …sobre esta matéria, nós muito pouco podemos fazer. O que posso garantir é que esta proposta que

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 aqui apresentamos tem exactamente por objectivo clarificar muitas das indefinições que se encontram no decreto legislativo nº 2/93 e alargar algumas atribuições do órgão gestor e também de outros intervenientes no processo. Na verdade, com esta proposta pretende-se introduzir um novo processo para a resolução do problema de disponibilidade de solos, introduz-se uma nova forma de licenciamento, o projecto regula o planeamento das zonas de turismo especiais e a cedência de terrenos aos promotores turísticos, redefine e alarga a missão do organismo gestor. Na verdade achamos que esta proposta vem introduzir muito mais transparência em todo o processo seja de declaração das zonas de turismo especial seja da sua gestão. Quando, por exemplo, se envolve muito mais os municípios em todo este processo, desde a declaração de uma zona até a sua gestão estamos efectivamente a aumentar a transparência e não a reduzi-la. Quando se abre a possibilidade de o organismo gestor ou do Estado se associar a proprietários de terrenos, nós estamos convencidos que, por esta forma, está-se a reduzir as possibilidades, as probabilidades de conflitualidade e não o contrário. As zonas de conflito, de facto, são reduzidas através das propostas que nós aqui trazemos. No que respeita em particular à Associação com os proprietários, na verdade, esta associação não é obrigatória. É uma possibilidade que se abre, sem se pôr em causa a questão da sociedade privada. Se o proprietário não quiser, efectivamente, introduz-se o mecanismo da expropriação. Portanto, a propriedade privada está aqui perfeitamente consagrada e defendida neste diploma. Não se põe em causa qualquer direito dos proprietários privados. Por outro lado, não vemos também a sobreposição deste projecto com os PDM ou com outros instrumentos de gestão, seja municipal seja outro tipo de instrumento, porque quando fazemos intervir em todo o processo entidades como o Ministério da Descentralização, entidades competentes para a questão da descentralização, estamos efectivamente a tentar minimizar eventuais áreas de sobreposição. Na questão da especulação de que muito se tem falado, é outra zona de conflito que, através deste projecto, tenta-se também resolver ou pelo menos reduzir, as possibilidades de conflito. Questões mais de especialidade levantadas pelo Sr. Deputado António Monteiro, quando diz que o prazo concedido às câmaras municipais para licenciamento é um prazo muito alargado, houve até, digamos, um problema com este projecto porque, efectivamente, o licenciamento é apenas um processo dito administrativo que só acontece depois dos projectos aprovados. Para a aprovação dos projectos das ZDTI cuja atribuição é do organismo gestor, aí sim, precisa-se de um prazo mais alargado, possivelmente de 30 a 45 dias. Mas acreditamos que um processo de licenciamento tem que ser uma coisa muito mais rápida. E acreditamos que, em menos de 45 dias, seria possível, efectivamente, às câmaras licenciarem os projectos. Portanto, o licenciamento é apenas um mero acto administrativo, porque a aprovação dos projectos já estará feita, seja na globalidade seja na especialidade, pelo organismo gestor, ouvidos todos os intervenientes no processo.

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Sobre a questão da defesa da propriedade privada, creio que já respondi. Penso que, efectivamente, está-se aqui a defender todos os direitos dos proprietários privados e toda a questão que existe em relação à expropriação dos terrenos da Boa Vista não têm a ver com esta matéria, têm a ver com outras questões que não são do domínio deste diploma e, na verdade, na definição das zonas de turismo especial os municípios têm um papel relevante. Na versão anterior, no processo legislativo 2 / 93 o município era simplesmente ouvido. Havia apenas uma audição; com esta proposta o município tem um papel muito mais interveniente. Tem um papel muito mais activo, seja na declaração, seja na própria gestão das zonas de turismo especial. A questão das contra-ordenações, na verdade se as pessoas infringem têm que ser penalizadas e aí, para desincentivar as pessoas a infringirem, a penalização deverá ser dura. Portanto, quem não quiser pagar as multas não deverá efectivamente infringir. Finalmente, queria também dizer que as zonas de conflitos são reduzidas quando introduzimos (contrariamente àquilo que o Sr. Líder Parlamentar do MPD disse) a questão dos concursos públicos. A cedência de terrenos é feita via concurso público, com regras …

[Um Deputado não identificado falou com o microfone fechado.]

Não, não! Há uma possibilidade na cedência, de haver ajuste directo, mas se for aqui aos artigos anteriores, por exemplo ao artigo 7º que fala da parceria dos privados com o organismo gestor, a partir deste momento abre-se a possibilidade de se fazer concurso público. A possibilidade de ajuste directo é uma outra alternativa. Mas, em todo o processo, o principal ponto é, de facto, haver concursos públicos e creio que, Sr. Presidente, penso ter respondido às principais questões aqui levantadas, mas firmemente nós acreditamos que este diploma vem alargar e clarificar questões que estavam no outro diploma e sobretudo vem dar resposta às imensas críticas que são feitas, tanto na declaração como na gestão das zonas de turismo especial.

Sr. Presidente: - Vamos então passar à votação na generalidade da Proposta de Lei que estabelece o Regime Jurídico de Declaração e Funcionamento das Zonas Turísticas Especiais. Quem vota a favor? Quem vota contra? José Manuel Andrade, como é que votou?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado]

Quem se abstém? A Proposta de Lei foi aprovada na generalidade com 36 votos a favor, do Grupo Parlamentar do PAICV, 11 votos contra do Grupo Parlamentar do MPD e dois votos de abstenção dos Srs. Deputados da UCID. A Mesa agradece à Sra. Ministra e aos Srs. Deputados pela contribuição dada e esta proposta de lei, como as outras, desce para a comissão competente em razão da matéria (neste caso é a terceira comissão) para a votação na especialidade e regressará ao Parlamento para a votação final global, logo após a sua aprovação na especialidade. Anuncio o ponto nº 13 – Proposta de Lei que altera a Lei da Nacionalidade aprovada pela Lei nº 80/3 90, de 29 de Junho, com as

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 modificações nela operadas pela Lei nº 41/4 92, de 6 de Abril e pela Lei nº 64/4 92, de 30 de Dezembro. Esta proposta já tinha sido apresentada pelo que agora falta a discussão na generalidade como pressuposto processual para a votação na especialidade. Estão abertas as inscrições. A Sra. Ministra, se quiser pode ir para Tribuna, se preferir pode ficar aí, mas depois terá de responder aos Srs. Deputados e pode responder daqui ou da Tribuna como entender. Continuam abertas as inscrições. O Sr. Deputado Alberto Alves tem a palavra.

Sr. Deputado Alberto Alves (PAICV): -

Sr. Presidente da Assembleia Nacional, Sras. e Srs. Membros do Governo, Sras. e Srs. Deputados, Minhas senhoras e meus senhores:

Os emigrantes cabo-verdianos continuam a prestar um valioso e significativo contributo ao desenvolvimento económico e social de Cabo Verde. Assim sendo é natural e legítimo que, enquanto patriotas pelo sentir, pela cultura e pelo sangue, enquanto cidadãos cabo-verdianos de corpo e alma, lhes sejam reconhecidos e respeitados, sem qualquer discriminação, os seus direitos políticos e o pleno exercício da sua cidadania. Nenhuma espécie de luta política entre partidos, nenhuma casta de estratégia político-partidária e de manobra eleitoralista de circunstância e nenhum expediente parlamentar de somenos importância devem surgir para bloquear, castrar e reduzir os espaços de participação política dos emigrantes cabo-verdianos e impedi-los de, na normalidade e legalidade, escolher os seus dignos e legítimos representantes. Com efeito, nenhum partido político deve estar interessado em exercer protagonismo em prejuízo dos interesses legítimos dos emigrantes cabo- verdianos. O mais correcto, racional e vantajoso é que lhes sejam proporcionados um ambiente de participação efectiva, transparente e livre a começar pelo recenseamento eleitoral. Por isso consideramos politicamente despropositado e grave trazer outra vez à ribalta, em jeito de desculpas de mau pagador e de gato escaldado que tem medo de água fria, o fantasma e a bandeira da fraude eleitoral, tentando esgravatar finados defuntos debaixo dos sete palmos de terra, na mira de sustentar e multiplicar suspeições, refrescar e actualizar ofensas e desrespeito usados de forma afrontosa e reiterada contra os emigrantes. Ficou-me, diz o ditado “cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça”, isto não é da responsabilidade e nem da conta dos emigrantes cabo- verdianos que cada carreteiro político, se houver, onde quer que esteja, saiba catar a sua rolha; que cada comerciante político, se houver, saiba em cada momento fazer contas ao seu balcão, mas com o devido respeito para com o bom nome e a dignidade das pessoas e dos nossos emigrantes, neste caso. Para que toda a gente fique sabendo, nós os emigrantes não enfiamos o casquete de ignorantes que estragam a festa dos outros. Recusamos também aceitar o atestado de [imperceptível] e remetemos à procedência a carapuça

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 da desonestidade e da fraudulência que abusiva e desrespeitosamente nos querem enfiar. Entendemos que é de salutar importância o reconhecimento da cidadania cabo-verdiana que há dezenas de anos milhares de cidadãos espalhados pelo mundo vêm implorando sem qualquer resposta até a presente data de sucessivos governos de Cabo Verde. É preciso dizer que nesta história da lei da nacionalidade, há muito engodo e muita isca pendurados no anzol da propaganda eleitoral do MPD. É necessário dizer também que a Oposição ventoinha anda abusivamente a misturar batatas e bacalhaus para desviar a atenção do essencial e do importante e aproveitar a oportunidade para espalhar e multiplicar a ideia da fraude e da desgraça eleitoral e pretender também [imperceptível] distribuir sol e vento em tempo de chuva. Tudo não passa de uma campanha orquestrada e montada em momentos escolhidos com propósitos macabros, manhosos e sobretudo eleitoralistas, para manipular e desenformar incautos [imperceptível]. De notar que toda a manobra política sustentada pela Oposição é para fazer dormir o boi e obedece pura e simplesmente a uma estratégia de vingança política e de ajuste de contas com os emigrantes pelas derrotas sucessivas e estrondosas que receberam nas últimas eleições na emigração.

[Entretanto, assume a presidência o Sr. Deputado Jorge Santos, Segundo Vice-Presidente da Assembleia Nacional às 17:25]

Sr. Presidente, Deputado Jorge Santos, II Vice-Presidente da Assembleia Nacional: - Sr. Deputado Miguel de Sousa, pede a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Miguel de Sousa (MPD): - Para um esclarecimento, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sra. Deputada Filomena Delgado, pede a palavra para que efeito?

Sra. Deputada Filomena Delgado (MPD): - Para um esclarecimento.

Sr. Presidente: - Para um esclarecimento tem a palavra o Sr. Deputado Miguel de Sousa.

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - Sr. Presidente, acabamos de assistir a uma intervenção do Sr. Deputado Alves, a propósito da Lei da Nacionalidade, que me parece não vem ao despropósito da própria lei que é aqui apresentada, na medida em que é necessário fazer a distinção das coisas. Uma coisa é a Lei da Nacionalidade, é o pedido de revisão da Lei da Nacionalidade, outra coisa bem distinta é a questão da organização e do processo de recenseamento da emigração, portanto, recenseamento geral na emigração. E a lei da nacionalidade não tem directamente a ver com o processo do recenseamento e nem influencia. Poderá eventualmente influenciar, mas a influência é mínima, e não tem que ver directamente com a questão do processo do recenseamento. Ou seja, não determina efectivamente

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 o seu arranque e nem sequer determina o seu sucesso. Convém fazer a diferença entre as duas coisas. Portanto, uma coisa é o recenseamento eleitoral geral na emigração, outra coisa bem distinta é a questão da Lei da Nacionalidade. Como sabemos a lei da Nacionalidade hoje até por imposição da revisão da Constituição, por causa da alteração do artigo 37º, requer efectivamente um estudo. Requer um trabalho mais aprofundado porque o artigo 37º assim o exige do novo texto constitucional. Portanto, seria conveniente que, em todo o processo de alteração da lei, fosse ajuizado nesse novo quadro constitucional que eu penso que a Constituição está a promulgar e vai sair, se calhar, dentro de poucos dias no Boletim Oficial. Portanto, exigirá com certeza um estudo aprofundado e a adequação da lei da nacionalidade tendo em conta as exigências dessa norma imposta, aliás pela Bancada do PAICV na alteração do artigo 37 que requer efectivamente a atenção na concessão da nacionalidade cabo-verdiana, porque efectivamente introduz elementos sensíveis na sua aquisição. Daí que não tem nada a ver com o processo de recenseamento mormente com o processo de participação política da diáspora que resulta efectivamente de um bom recenseamento e de uma boa participação dos emigrantes. Portanto, não tem rigorosamente nada a ver. Em segundo lugar porque a maioria dos emigrantes tem efectivamente a sua nacionalidade. Quando olhamos para as nacionalidades pendentes neste momento que decorrem de vários atrasados existentes, o número é mínimo relativamente ao grande número da diáspora e relativamente a toda a emigração. Portanto, não afecta directamente o seu sucesso. Portanto, as questões políticas que podem ser levantadas no decurso tanto da Lei da Nacionalidade quanto do processo de recenseamento elas devem ser distintas, devem ser separadas e não devem também tocar com o sucesso eventualmente do processo do recenseamento. A Lei da Nacionalidade pode muito bem ser vista depois da própria promulgação da Constituição, como já referi, precisamente porque é necessário dar tempo. É necessário envolver os cabo-verdianos na nova estruturação do formato de aquisição da nacionalidade. E não convém fazer essa mistura directamente, tendo em conta que, mesmo que aprovássemos aqui a Lei da Nacionalidade, a sua interferência no processo seria uma interferência, de facto, muito pontual, em termos do sucesso do processo de recenseamento. E não pode também haver confusão relativamente à disponibilidade política do próprio MPD e o desejo do MPD em ver regularizados, os processos em atraso de aquisição da nacionalidade. Mas como dizia no início não tem rigorosamente nada a ver e as coisas são distintas e devem ser separadas as águas em termos de aquisição da lei de nacionalidade e em termos do início e do arranque do processo do recenseamento que são coisas efectivamente temáticas e distintas e que devem ser separadas no plano político, e no plano partidário. Tendo em conta que defendemos sempre que a questão da emigração deve provocar efectivamente um entendimento nacional. Se há um esforço a fazer relativamente ao processo de recenseamento, então que resulte efectivamente de um entendimento nacional como decorre aliás da alteração do Código Eleitoral e da própria revisão da Constituição que efectivamente introduziu

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 alterações que devem aqui, em sede da revisão da Lei, serem levadas em consideração. Considero que, efectivamente, não vale a pena estarmos aqui a misturar… todos nós queremos que a emigração participe, porque consideramos que a participação da diáspora na vida política nacional qualifica o processo democrático do País; portanto, é uma questão que não se deve pôr em causa, não se deve pôr em questão porque, efectivamente, há um consenso nesta matéria de que a participação da diáspora no processo democrático do País deve ser qualificada, aumentada e deve ser permitida, por forma a que todos os emigrantes possam recensear e possam participar, através do voto, na escolha dos seus dirigentes. Portanto, neste aspecto, estamos todos de acordo. O que não estamos de acordo é trazer agora uma lei que efectivamente exige um estudo aprofundado, exige um tratamento mais aprofundado, aliás de acordo com a própria Constituição que impõe isso, a partir da norma 37, como estivemos a rever há bem pouco tempo.

Sr. Presidente: - Sra. Ministra da Defesa, solicita a palavra para que fim?

Sra. Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional, Cristina Fontes: - Para um esclarecimento.

Sr. Presidente: - Tenha a bondade.

Sra. Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional: - Gostaria de dizer que na intervenção do Deputado Miguel de Sousa há um avanço em relação a uma declaração bombástica feita recentemente por ele em que considera que esta proposta de Lei da Nacionalidade pretendia introduzir a fraude no processo eleitoral (disse-o claramente na televisão) agitando fantasmas e, naturalmente, como diz aqui o Deputado Alves, trazendo um pouco esta ideia de que a nossa diáspora é fraudulenta por excelência. Portanto, deste anátema, com certeza, o Deputado Miguel não vai se livrar, apesar de ter vindo aqui com outro discurso. É preciso assinalar que o discurso agora é outro, é dizer que é preciso mais tempo para analisar a lei. Mas mesmo aí também não colhe, Sr. Deputado. Não colhe, porque eu ia lembrar-lhe que o Sr. Deputado participou activamente, como sempre e como é seu timbre, nas discussões que têm a ver com esta questão da revisão do Código Eleitoral… tem participado e sabe, ou então devia saber que, das várias reuniões tidas no quadro das Comissão Paritária, das comissões que discutiram a revisão do código, ficou claro que, no quadro da elaboração e da realização do sistema nacional de identificação e autenticação civil de que o recenseamento no estrangeiro é uma componente e do qual também já foi uma componente, o recenseamento no País. Era fundamental sanear as questões que chamamos pendentes e que têm a ver com cidadãos cabo-verdianos que ao longo dos anos, repito, de 75 a esta parte, por falhas da administração, todas as administrações, foram tendo passaportes sem que os processos de nacionalidade estivessem suficientemente resolvidos e que foi nessa comissão onde longamente foram discutidas as soluções possíveis, nomeadamente a proposta do Governo de se

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 introduzir no Código Eleitoral uma possibilidade de recenseamento provisório desses cidadãos, para confirmar uma vez resolvido o problema da sua inscrição nas bases de dados de registo, que o MPD (eu até teria o pudor… nem vou dizer quem foi o Deputado do MPD que sugeriu isso), mas que o MPD sugeriu que, em vez de se discutir em sede de Código Eleitoral, se discutisse numa pequena alteração da Lei de Nacionalidade. Sr. Deputado, a sua intervenção deixaria pensar que estamos aqui a mudar a Lei da Nacionalidade de lés a lés, de A a Z. Não é o caso e sabe disso perfeitamente. Sabe perfeitamente que, em função desses entendimentos chegados, concluiu-se que uma intervenção cirúrgica podia ser feita para resolver duas questões, Sr. Deputado. Uma: permitir, efectivamente, que as sucessivas administrações cabo-verdianas ou que a administração cabo- verdiana nos sucessivos anos desde a independência a esta parte, repito, desde 75 a esta parte, devido à morosidade do processo de aquisição da nacionalidade, foi criando situações em que titulares ou detentores de passaportes não tinham tido os seus processos reconciliados a nível dos serviços centrais. E é o que se está a querer fazer – por sugestão do MPD, eu repito, que em vez de se fazer em sede de Código Eleitoral, se fizesse numa pequena alteração da Lei da Nacionalidade. Qual o nosso espanto quando, talvez porque outros ventos sopraram, talvez porque outros conselheiros se perfilaram, aparecem os Srs. Deputados do MPD aqui na Assembleia a dizer “Aqui d’El Rei” , não é possível, não temos tempo de discutir e vai o Sr. Deputado à televisão dizer : “fraude, temos fogo posto em casa”. Portanto, de facto, não se percebe nada. E apesar do seu esforço, Sr. Deputado, (reconheço que fez um esforço enorme) em vir trazer aqui uma outra perspectiva dizendo agora que podemos discutir um bocadinho mais, não se vai compreender. Penso que os emigrantes cabo-verdianos não vão compreender porque é que não é possível resolver esta questão com dois ou três artigos. Estou de acordo consigo, estaremos de acordo consigo; a Sra. Ministra da Justiça que tem aprofundado esta questão e que tem em preparação alterações mais profundas na Lei da Nacionalidade poderia concordar consigo que alterações mais profundas poderiam ser feitas posteriormente. Neste momento estamos a resolver esta questão. Segunda questão muito importante, e aí então eu penso que os emigrantes cabo-verdianos vão estar muito mais aborrecidos com o MPD, estamos a querer para o futuro facilitar a aquisição da nacionalidade. Através do quê? O Sr. Deputado, porque sabe e tem acompanhado o enorme trabalho que se tem feito de preparação do sistema nacional de identificação e autenticação civil, sabe que neste momento fizemos já … todas as embaixadas e consulados do País no estrangeiro têm aplicações que lhes permitem aceder às bases de dados de registo. Serão efectivamente postos de registo no exterior e que no momento que, alguém cujo filho nasceu na Holanda, em Portugal, se dirige ao Consulado em Lisboa ou ao Consulado na Holanda para inscrever o seu filho no Consulado, pode perfeitamente pedir ao funcionário consular que vá à base de dados e veja se ele tem um ascendente, um pai ou um avô que é cabo-verdiano e poderá ver.

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E isso é que é o requisito da nacionalidade. Para ter nacionalidade: um ascendente e a declaração de vontade. E com a inscrição consular se resolve, nesse momento mágico, deixe-me dizer assim, a questão da nacionalidade. Não é preciso todo um conjunto de documentos para vir para o País, para vir com dinheiro apenso, que demora muito tempo, se extravia pelo caminho, não chega… que é o que acontece neste momento. São esses dois aspectos que estamos a referir. Não há uma alteração de lés a lés, por isso é que eu acho que não é compreensível, pelas razões que eu disse, e politicamente muito pouco adequada uma alteração na posição dessa maneira e que, efectivamente, o Sr. Deputado terá que provar onde é que está a fraude e o Sr. Deputado terá que provar por que é que não é possível fazer esta alteração. Portanto, era isto que eu queria muito calmamente dizer e considerar que nessa matéria, de facto, a oposição ficará mal na fotografia perante as comunidades emigradas. Não tenho qualquer dúvida nesta matéria.

Sr. Presidente: - Para esclarecimentos tem a palavra a Sra. Deputada Filomena Delgado.

Sra. Deputada Filomena Delgado (MPD): - Prescindo, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Miguel de Sousa, para que efeito deseja a palavra? Esclarecimento?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Tenha a bondade.

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - É só para dizer à Sra. Ministra o seguinte: de facto, todos nós estamos a apostar que o processo eleitoral cabo- verdiano seja o mais qualificado e o mais limpo possível, não havendo espaços para qualquer ruído que possa efectivamente manchar o processo de participação política nomeadamente dos emigrantes. Como sabemos e temos também a consciência de que o recenseamento requer efectivamente um sistema complexo porque se trata, de facto, de uma realidade fora do território, portanto exige naturalmente uma organização. Todo um conjunto de sistema que permita efectivamente controlar para o processo possa decorrer de forma mais limpa possível. Quando nós mencionamos a questão da fraude eleitoral, não o fizemos num contexto actual e futuro. Fizemo-lo justamente no sentido de chamada de atenção de que convém trabalhar no sentido de evitar que o que aconteceu no passado volte efectivamente a repetir. Não é trazer aqui nenhum tipo de fantasma, na medida em que todos nós estamos a apostar nisso e nós também trabalhámos com afinco na revisão do Código Eleitoral e temos consciência que a revisão do Código Eleitoral traz efectivamente elementos que se forem bem aplicados qualificam o processo de participação política e retiram efectivamente a sombra de quaisquer possibilidades de fraude. Portanto, não se trata de nenhuma declaração bombástica que eu fiz, pelo contrário; chamei atenção daquilo que considerei e continuo a considerar importante. Ou seja, a alteração da nacionalidade deve ser separada da questão do processo do recenseamento e deve ser também separada da

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Constituição, da organização de todo o sistema de informação que vai suportar o processo do recenseamento. Acreditamos que, se o sistema for efectivamente bem trabalhado, bem instalado, de acordo com aquilo que vem no Código Eleitoral, ou seja, considerando o modelo de dados, o modelo tecnológico e mais um conjunto de coisas nomeadamente Recursos Humanos bem treinados, bem informados, com disponibilidade e sensibilidade para o sector da emigração, que o processo de recenseamento correrá de forma tranquila. Portanto, queremos que esse processo seja desenvolvido tranquilamente, daí que não o associamos à questão da Lei da Nacionalidade. Sabemos que existem atrasos, sabemos que há uma dívida da Administração Pública para com aqueles que, ao longo dos tempos, se inscreveram nos diversos consulados de Cabo Verde no exterior e cujas inscrições não foram transferidas para o País. Sabemos, e há de facto uma dívida do Estado, mas parece-me que neste momento não é o melhor momento de resolver essa dívida e não é o momento sobretudo de misturarmos a questão da nacionalidade com o processo de recenseamento. Portanto, seria conveniente que fizéssemos aqui um esforço da sua separação, tendo em conta que já há o processo de recenseamento é complexo. Daí que eu gostava também que a Sra. Ministra me dissesse aqui o número de pessoas, que sendo aprovada esta lei, fariam parte do universo da população potencialmente recenseável na diáspora. E qual é o impacto que isso teria dentro do processo, justamente para podermos aqui encontrar um ponto de equilíbrio e um ponto de diferenciação entre o recenseamento que é uma coisa completamente distinta e a Lei da Nacionalidade que, do nosso ponto de vista, deve ser estudada e trabalhada. Estamos de acordo que ela pode ser revista até porque pela imposição da Constituição… mas então que seja revista de forma aprofundada, de forma trabalhada e de forma partilhada com a própria sociedade cabo-verdiana e também com os emigrantes que serão, naturalmente, os primeiros interessados no processo.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro, pede a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Para uma intervenção.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Maria de Pina, pede a palavra para que efeito?

Sr. Deputado José Maria de Pina (PAICV): - Para uma intervenção.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro.

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Sr. Deputado António Monteiro (UCID): -

Sr. Presidente da Assembleia, Srs. Membros do Governo:

A questão da Lei da Nacionalidade é uma questão extremamente importante para a Nação e para todos os filhos da Nação. Quer tenham nascido aqui no País, quer tenham nascido de pais originários fora do País. No entanto gostaríamos de ter visto esta lei aprovada há muito mais tempo, porque existem problemas à volta da nacionalidade há vários e vários anos e só hoje é que temos a oportunidade de discutir essa lei. E essa oportunidade é induzida pelo facto de termos em breve as eleições legislativas e provavelmente o Governo do PAICV quererá tirar algum proveito político desta situação o que do nosso ponto de vista não é aceitável. Todavia, ultrapassámos as questões meramente partidárias. Entendemos que o cabo-verdiano tem este direito independentemente de onde ele tenha nascido; e, portanto, aqui nós, os Deputados da UCID, estamos de alma e coração tranquilos para podermos posicionar de forma positiva em relação a esta lei. Contudo isso não nos impede de criticar o Governo por trazer esta matéria tardiamente para este Parlamento, porque provavelmente se não tivéssemos as eleições dentro em breve, estaríamos aqui à espera por mais algum tempo para que, de facto, se estudasse ou votasse esta lei. De forma que, Sr. Presidente, eram por enquanto estas as considerações.

Sr. Presidente: - A Sra. Ministra da Defesa pede a apalavra para um esclarecimento. Tenha a bondade.

Sra. Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional: - Por acaso, aqui estou a intervir como Ministra da Reforma do Estado, Sr. Presidente. Tenho as duas condições e neste caso é como Ministra da Reforma do Estado.

Sr. Presidente: - A Sra. Ministra da Reforma do Estado tenha a bondade de usar da palavra.

Sra. Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional: - Queria esclarecer o Deputado António Monteiro que não há efectivamente e nem poderia haver qualquer tentativa de aproveitamento político e eu acho que seria, de facto, muito injusto (é o mínimo que eu poderei dizer) considerar isso e sobretudo quando, de facto, tem estado o Governo a tentar resolver essa questão e quando a própria UCID tem conhecimento deste processo. O que há Sr. Deputado, e já agora aproveitaria para esclarecer globalmente, o Governo desde 2008 anunciou…

[Murmúrios na Sala.]

Está um bocado de barulho que me está a dificultar a [imperceptível].

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Sr. Presidente: - Srs. Deputados, mais silêncio na Sala se faz favor. Sra. Ministra queira continuar.

Sra. Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional: - No programa do Governo está claramente estabelecido a necessidade de um novo recenseamento geral, tendo em conta as deficiências das bases de dados de recenseamento que conhecemos, nomeadamente tendo em conta o recenseamento feito em 1995, feito em 15 dias, com más condições e que levou à existência de imensas múltiplas, muitas dificuldades e que quisemos superar de uma vez por todas. Então o Governo propôs, nesta legislatura, realizar um novo recenseamento geral. Mas quis fazê-lo em novos termos. Quis fazê-lo numa lógica de aproveitamento das novas tecnologias informacionais e comunicacionais e propôs aos sujeitos políticos e isto antecedeu (o Sr. Deputado se calhar já se esqueceu) a primeira revisão do Código Eleitoral. E o que é que propusemos ao País, de uma forma, parece-me, lúcida e com uma visão de futuro, é a criação de um sistema nacional de Identificação a Autenticação Civil, a partir do qual deixaríamos de ter problemas com recenseamento anual porque esse próprio sistema geraria cadernos eleitorais. E para construir o Sistema Nacional de Identificação e Autenticação Civil, nós explicámos em carta enviada aos vários partidos incluindo à UCID, a anteceder a primeira revisão do Código Eleitoral, que esse sistema iria ser construído em três fases: primeira, o recenseamento no País, segundo – recenseamento no estrangeiro, terceira – recenseamento dos cidadãos dos zero aos 18 anos, ao fim do qual teríamos uma base de dados que se auto geraria e se auto-geriria. Por exemplo os cidadãos que atingissem os 18 anos eram enviados para os cadernos eleitorais e os falecidos eram abatidos, e é com isto que este Parlamento concordou. Está claro no Código Eleitoral revisto. Portanto, fizemos o recenseamento no País com o sucesso que foi, reconhecido por todos, nunca mais se falou de fraude depois desta nova base de dados e anunciámos que iríamos entrar na segunda fase da construção do SINIAC porque, ao mesmo tempo que estamos a fazer o recenseamento e por isso é que o Deputado Miguel Sousa não tem razão, e ele sabe que não tem razão… é que havia e há uma relação directa entre o recenseamento no estrangeiro e a construção do SINIAC, que é justamente esse sistema com base nas novas tecnologias que passará a gerir os cadernos eleitorais e a base de identificação de Cabo Verde. Para fazermos esse recenseamento no estrangeiro, Sr. Deputado, precisávamos da alteração do Código Eleitoral nestes moldes e infelizmente o Código Eleitoral demorou o tempo que demorou. Não foi culpa do Governo, não terá sido culpa de ninguém, mas foi por isso que só depois da revisão do Código Eleitoral é que estávamos em condições de fazer o recenseamento no estrangeiro, para saber como eram as comissões de recenseamento e isso foi decidido só em Março, como se lembra. Foi no decorrer destas conversações que apareceu esta ideia de que, se quisermos preservar um Sistema Nacional de Identificação e Autenticação Civil íntegro não podíamos ter corrupções de dados; e era preciso esclarecer esse problema de pessoas que tinham passaporte, mas que não estavam com os processos conduzidos.

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Portanto, não houve nenhuma intervenção tardia, como não houve, já lhe expliquei, qualquer aproveitamento político. O Sr. Deputado também sabe disso, porque, se tivesse lido ou se ler a proposta que lhe foi transmitida do SINIAC, está lá claro. É isto que se passa. Como a revisão do Código só se fez em Março e neste quadro da revisão do Código, repito, surgiu esta ideia. E ao contrário do que diz o Deputado Miguel Sousa, há de facto uma relação entre esta lei de nacionalidade e o recenseamento, por esta razão. Porque estamos a fazer a segunda fase da construção do SINIAC e não podemos ter cidadãos com passaporte e não reconduzidos. Estou a dizer-lhe que efectivamente não há aproveitamento política e não há intervenção tardia. Há a intervenção permitida pelo quadro que foi construído dos consensos necessários. Também rebateria completamente essa sua intervenção e como tem esta disponibilidade para efectivamente colaborar, estou a contar naturalmente que a UCID possa votar favoravelmente esta lei da nacionalidade, porque serve definitivamente os imigrantes e as comunidades emigradas.

Sr. Presidente: - Sr. António Monteiro, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Esclarecimento à Sra. Ministra.

Sr. Presidente: - O Sr. Deputado fica inscrito. Tem a palavra o Sr. Deputado José Maria de Pina.

Sr. Deputado José Maria de Pina (PAICV): - Sr. Presidente, troco com a Sra. Deputada Filomena Martins.

Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Deputada Filomena Martins.

Sra. Deputada Filomena Martins (PAICV): - É para dizer que efectivamente quando o Governo traz esta proposta de lei de alteração da lei da nacionalidade pretende de facto que milhares de cabo-verdianos que neste momento não têm oportunidade de participar no processo das eleições que se avizinham o possam fazer. É preciso dizer que são cabo-verdianos que têm participado, têm demonstrado uma vontade real de participar na governação do País e que têm de facto uma ligação afectiva e efectiva com o País. Mas também estamos a falar de cabo-verdianos que são filhos ou netos de cabo-verdianos de origem. Portanto, não estamos a falar de nenhuma outra modalidade de nacionalidade. Estamos a falar da nacionalidade de cabo- verdianos que sejam filhos ou netos de cabo-verdianos de origem e que, no momento da aprovação desta lei, já tenham a inscrição a consular. Está-se a pedir que a estes cabo-verdianos, que muitos deles já foram detentores ou titulares de um passaporte cabo-verdiano, lhes seja dada a possibilidade de verem reconhecida a sua cabo-verdianidade. Portanto, é destes cabo-verdianos que estamos a falar. E estamos de falar de milhares de cabo-verdianos, mais de 10 mil cabo-verdianos. Não se pode entender qual é o interesse ou por que razão se pode neste momento estar a obstaculizar e esses cabo-verdianos o direito de serem reconhecidos e tratados como cabo-verdianos.

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Já se disse aqui que este processo de alteração da lei de nacionalidade nada tem a ver com o recenseamento. É falso, porque o recenseamento diz- nos que neste momento os cabo-verdianos que estão a residir na diáspora podem de facto fazer o recenseamento com o BI ou o passaporte caducado, tal como acontece no território nacional e que pode inclusivamente a inscrição ser feita sem nenhum documento de identificação. Mas será provisória e a Comissão de Recenseamento Eleitoral deverá comunicar aos serviços de identificação civil esta situação, para que os serviços promovam, num prazo de 30 dias, a regularização desta situação. Ora se nós não permitirmos a alteração da lei neste momento, não teremos condições de, neste tempo, provavelmente, de responder a todos os pedidos. Muitos cabo-verdianos que têm participado na economia, no PIB do País ficarão excluídos deste processo e é preciso que os cabo-verdianos entendam o quê que se está de facto de passar. Mas mais, queria reforçar aqui algo que a Sra. Ministra já disse que, aquando da revisão do Código Eleitoral, nós acordámos isto. Que, de facto, se traria uma lei medida que resolvesse esta questão. É o que se está aqui a fazer neste momento. Além disso, também acho que há alguma contradição no discurso político do MPD. Ao mesmo tempo que dizem que querem que todos os cabo-verdianos no País e na diáspora participem no processo das eleições e eu vou aqui fazer citação a uma parte da intervenção do comunicado do MPD na voz do Sr. Deputado Orlando Dias, que está no Expresso das Ilhas, do dia 9 de Fevereiro de 2010, em que a determinada altura ele diz que “o MPD deve exigir ao Governo o desbloqueamento imediato de todos os processos de pedidos de nacionalidade, legalmente constituídos pelos descendentes e que estão ser bloqueados intencionalmente pelo Governo”. E o Governo traz esta proposta de lei para reconhecer a filhos e netos de cabo-verdianos de origem a sua nacionalidade, o seu direito de exercer a sua cabo-verdianidade em toda a extensão da palavra, e o MPD neste momento diz que é uma manobra política eleitoralista. E mais, estamos a rever neste momento, já fizemos a revisão do Código Eleitoral, estamos a constituir as Comissões de Recenseamento Eleitoral e o MPD entende que deve haver Comissão de Recenseamento Eleitoral em países, que na sua interpretação da lei, que, neste momento, a cobertura diplomática tem um determinado figurino. O MPD trouxe alguns países. O PAICV concordou que, nesses países, de facto, para evitar que haja problemas e que esses cabo-verdianos não se possam recensear e exercer o seu direito de voto, ainda que com interpretações diferentes, concordámos que se constituam CRES nesses países. E agora recusa a lei da nacionalidade. Quer dizer, não se entende porquê que de facto… há um discurso contraditório e o que podemos concluir é que não há vontade política por parte do MPD. Não sabemos por que razão para que os cabo-verdianos na diáspora votem. Esta é a leitura que nós temos que fazer quando ouvimos o discurso aqui da fundamentação para a não concordância e eventualmente a não votação da lei da nacionalidade neste momento.

Aplausos da Bancada do PAICV.

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Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Fernandes, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Para dar um esclarecimento, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Faça o favor.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sr. Presidente, quando ouvimos a Sra. Deputada Filomena na sua intervenção a querer passar a mensagem que somos contra a atribuição de nacionalidade aos filhos de cabo- verdianos nascidos no exterior, creio que não está a falar a sério. Porque, senão, vejamos: primeiro, quem votou a Constituição de 1992? Foi o MPD, o PAICV não votou. Segundo, quem negou 15 anos a nacionalidade aos cabo- verdianos no estrangeiro foi o PAICV. Por isso, tentar passar essa mensagem é pura, não diria demagogia, mas é diversão. Quem duplicou o número de Deputados para a emigração foi o MPD. Foi com a democracia que os cabo-verdianos nascidos no exterior recuperaram a sua nacionalidade que perderam devido à vossa medida durante os 15 anos. Negaram a dupla nacionalidade. Portanto, passar essa mensagem é não ser sério. Desculpe o termo, sem qualquer insulto. Sejamos sérios, coerentes e competentes. No entanto, o que nós não queremos é que aconteça aquilo que se verificou nas últimas eleições no exterior. Sei o que aconteceu na Guiné- Bissau, nos Estados Unidos, em Dakar. Enfim, é isso que queremos negar. Queremos que não volte a acontecer. Apliquemos as normas. Até porque o Sr. Deputado Monteiro da UCID disse uma coisa correcta. Os senhores durante dez anos não quiseram mexer na lei; agora querem, sobre a hora, mexer nessa lei, sobre joelhos. Eu acho que isso não sério e não tentem dizer que somos contra. Não é verdade. Os senhores trouxeram a proposta de lei bastante tarde e não nos permitem, digamos, fazer uma análise calma. A lei de nacionalidade não é uma lei qualquer. Em qualquer parte do mundo, em qualquer regime democrático, a lei de nacionalidade é séria. Não deve ser tratada sobre joelhos. Portanto não tentem passar a mensagem porque também os nossos partidos lá fora sabem- no muito bem, conhecem muito bem o PAICV. Sabem que quem de facto votou para que os emigrantes tenham nova nacionalidade, como acontece na Holanda, que aí a coisa é diferente, foi o MPD. Aliás, quem chamou de estrangeirados aos emigrantes não fomos nós. Os senhores sabem quem foi. Foi do vosso partido. Não vou dizer o nome, por uma questão de princípio e de respeito.

Sr. Presidente: - Sra. Deputada Filomena Martins, quer a palavra para que efeito?

Sra. Deputada Filomena Martins (PAICV): - Ao abrigo do 114º.

Sr. Presidente: - Faça o favor.

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Sra. Deputada Filomena Martins (PAICV): - Queria dizer ao Sr. Deputado Mário Fernandes que tenha mais contenção nas suas palavras. Ele que diga que a minha intervenção tem demagogia política ou qualquer outra expressão similar, mas não diga que não é uma intervenção séria. Eu não aceito que ele classifique a minha intervenção desta forma. Respeito todas as pessoas. Posso ter intervenções incisivas contundentes, mas nunca faço referência, nunca utilizo nenhum adjectivo que possa pôr em causa a pessoa, o interveniente. E portanto é este apelo ao abrigo do 114º que lhe estou a fazer. Para lhe dizer que, efectivamente, não é preciso descer o nível para se fazer política. A política necessita de pessoa séria, honesta, íntegra, competente para poder tecer uma acção ao serviço da Nação. Gostaria que ele registasse isso e de futuro evitasse este tipo de intervenção em relação à minha pessoa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado ao abrigo do nº 2 para explicações.

Sr. Deputado Mário Fernandes (MPD): - Sra. Deputada, uma coisa é qualificar a pessoa de não ser séria e outra coisa é o discurso que, do meu ponto de vista, não foi sério, à luz daquilo que expliquei. Quem de facto tem o mérito de ter criado normas aqui constitucionais para que os nossos patrícios no exterior pudessem recuperar a nacionalidade cabo-verdiana que foi rejeitada pelo PAICV durante 15 anos, não fomos nós. Quem não votou a Constituição da qual consta esta norma que permite aos cabo-verdianos recuperar a nacionalidade cabo-verdiana fomos nós. Os senhores não votaram. Abandonaram a Sala, se calhar… Não é sério, volto a repetir, um discurso quando tenta atribuir ao MPD a responsabilidade de não querer aceitar que os nossos patrícios no exterior tenham a nacionalidade cabo-verdiana. Isto é falso e não é sério. Não há nenhum insulto aqui. Eu classifiquei o discurso. Qualquer político está sujeito a que outrem faça a classificação do seu discurso. Não há nenhuma ofensa aqui. Penso que aqui foi o abuso do 114º, com todo o respeito.

Sr. Presidente: - Para uma intervenção, tem a palavra a Sra. Ministra da Justiça.

Sra. Ministra da Justiça, Marisa Morais: - Uma intervenção muito curta. Para destacar aquilo que me parece essencial. Não se trata aqui de rever a lei da nacionalidade. Trata-se de se fazer algumas alterações pontuais que permitem que o emigrante cabo-verdiano possa votar. Exactamente por termos a ideia que se trata de uma lei complexa, que já foi sujeita a várias alterações avançamos com estas alterações pontuais e que decorriam do acordo político existente. Mas não é esse o sentido da minha intervenção. O quê que se está a fazer? Considero que é necessário pensarmos um pouco na alteração que é proposta. E uma alteração que aqui, permitam-me citar, aquilo que foi dito pelo Sr. Deputado Miguel Sousa, que paga uma dívida para com o emigrante cabo-verdiano. Uma dívida que é da administração pública cabo-verdiana, que vem desde 1975. Vou dispensar-me de referir números. É uma dívida que vem desde 1975 para com o emigrante cabo- verdiano.

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Mas qual é a dificuldade do emigrante? O emigrante que se quer recensear, que quer ser nacional, quer ver reconhecida a sua nacionalidade cabo-verdiana. Durante os anos anteriores, aquilo que aconteceu é que ele, ao tentar obter uma certidão de nascimento do avô ou do pai, passava por um calvário. Sabemos disso. Passava por um calvário para obter essa certidão. Fruto do trabalho que tem sido feito, hoje é possível ter acesso às certidões a partir dos consulados. Faz sentido obrigar o emigrante cabo-verdiano a percorrer centenas, às vezes milhares de quilómetros para conseguir uma certidão para entregar no mesmo sítio? É esta a questão que tem que ser colocada. Aquilo que esta lei diz é: nós temos a prova. Não peço a alguém para fazer prova daquilo que já sei. A administração cabo-verdiana hoje sabe, mas mesmo assim dizem-me os Srs. Deputados que vale a pena obrigar esse emigrante a fazer esse percurso; porque é esta a alteração que se está a fazer. E é uma alteração que nem pode ser considerada complexa, que já decorre das nossas normas administrativas. Estamos a dizer que por via da inscrição consular, o consulado consulta directamente a base de dados e vê se o avô ou o pai desse emigrante que está na Suíça ou na Inglaterra se efectivamente isso corresponde à verdade ou não. Há aqui transparência e combate à fraude eleitoral. Porque combate à fraude na aquisição da nacionalidade por esta via, volto a dizer, a alteração é uma alteração limitada. Apenas isto e no fundo podemos falar muito, fazer muito discurso, mas a verdade coloca-se aqui: o emigrante cabo-verdiano será obrigado a fazer milhares de quilómetros para obter uma certidão, para entregar no mesmo serviço que por acaso tem essa certidão ou não? É essa a pergunta que julgo que deve ser colocada nesta Casa Parlamentar.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Semedo, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Sr. Presidente, como os outros sujeitos já utilizaram o seu tempo, nós fazemos o requerimento para a votação imediata desta iniciativa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Monteiro estava inscrito ainda. Tem 30 segundos. A seguir admito o requerimento.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Rapidamente para dizer o seguinte. O que ouvimos aqui, Sra. Ministra, vem confirmar aquilo que nós dissemos porque de facto a essência daquilo que deveria ser nacionalizar por um direito não está. O que se quer é criar condições para as eleições. De forma que aquilo que eu disse anteriormente mantém-se válido, porque o objectivo é eleições do nosso ponto de vista da UCID. Não é de maneira nenhuma dar a nacionalidade aos cabo-verdianos.

Sr. Presidente: - A Mesa aceitou o requerimento para se passar à votação. Sr. Deputado o nº 3 do artigo 112º diz o seguinte: o requerimento uma vez admitido é imediatamente votado sem discussão. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém?

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Srs. Deputados, a proposta de lei que altera a Lei sobre a Nacionalidade obteve 38 votos a favor, 19 votos contra e nenhuma abstenção. Obteve assim dois terços de votos dos Deputados presentes que são superiores à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Srs. Deputados, tenho quatro Deputados inscritos: Sr. Deputado Fernando Elísio Freire, Agostinho Lopes, Humberto Cardoso e Miguel Sousa. Pergunto ao Sr. Deputado Fernando Elísio Freire, para que fim deseja usar a palavra?

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Sr. Presidente para interpelar a Mesa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Agostinho Lopes, para que fim deseja usar a palavra?

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Sr. Presidente é para interpelar a Mesa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Humberto Cardoso, para que efeito deseja usar a palavra?

Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Sr. Presidente, eu pedi para interpelar a Mesa antes do Sr. Presidente aceitar o requerimento da Oposição. Não sei como é que… eu disse Sr. Presidente…

Sr. Presidente: - Não…

Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Mas de qualquer forma é interpelar a Mesa sobre a condução dos trabalhos.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Miguel Sousa, deseja usar a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - Prescindo Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Semedo, quer a palavra para que efeito?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Srs. Deputados, vou passar a palavra a todos os Deputados. Agora é o seguinte: em relação à questão que o Sr. Deputado Humberto Cardoso colocou, avisei que eu ia aceitar o requerimento logo após a intervenção do Sr. Deputado António Monteiro. O requerimento foi imediatamente aceite, porque já o tinha dito e submeti à votação porque é um comando do próprio Regimento. Trata-se de uma votação na generalidade.

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Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Semedo, para uma declaração de voto. Se houver mais Deputados que queiram fazer a declaração de voto, é o momento.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Nos nu vota a favor pamodi nu kre partisipason di tudu kabuverdianus na tudu ki ta diz ruspetu a vida di País. Nu vota a favor pa permite tanbe regularizason di nasionalidadi di tudu fidjus y netus di kabuverdianus. Nu vota a favor pa permiti ki tudu kabuverdianu ki ta rezide na exterior ten oportunidadi di partisipa nes atu di resensiamentu ki sta ba ten lugar gosi ku ses nasionalidadi regularizadu. Nu vota a favor tanbe pa tudu kabuverdianus partisipa na prosimus eleisoins ki ta ben ten lugar a nível di País y na diáspora. Nu vota a favor pamodi nu ka sta di akordu ku es ideia di MPD di ka permite ki sidadãus kabuverdianus partisipa na atus eleitoral. Nu vota pamodi nu ka entende pamodi y nen purkê ki MPD é kontra akizison di nasionalidadi di kabuverdianu. Nu vota a favor pamodi nu ka entende pamodi ki entendimentus y akordus ki dja nu tinha tidu en sedi di revison di Kodigu Eleitoral sa ta ser violadu y ka permite ki nu avansa ku lei di nasionalidadi. Nu vota a favor pamodi nu ta atxa ma nenhun partidu polítiku, nen organizason des téra debe ten medu di kabuverdianus ki debe partisipa livrementi na demokrasia y na atus ileitorais. Alias dja tinha sidu fladu na momentus ileitorais ma es perde eleison y responsável di dirota era imigrason. Na un otu momentu es fla ma determinadus países undi ka ten demokrasia ma kabuverdianus ka debia partisipaba na ileisoins na Cabo Verde. Nu vota a favor pa pode ten posibilidadi di partisipason di tudu kabuverdianu independentementi di lugar undi ki e sta residi na konstruson di demokrasia li nes téra y nu vota a favor pa podi ten un partisipason pulítika integral na tudu desisons ki ta tomadu na Cabo Verde y partisipason na eskolha di dirijentis y governantis des téra. Pur tudu isu, Sr. Prezidenti, nu vota a favor, rezumindu y konkluindu pa ki tudu kabuverdianus ser tratadu di forma igual, sen diskriminason, sen diferensiason y ku tudu direitus y garantias ki é dadu pa Konstituison. Nu ka pode da na Konstituison ki nu ta fla pur ladu ma nos ki da, pur otu ladu pa medu di kabuverdianus nu ta ben restrinji propri Konstituison.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Não havendo nenhuma outra declaração de voto, passo a palavra ao Sr. Deputado Fernando Elísio Freire, para uma interpelação à Mesa.

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - O Grupo Parlamentar do MPD tem dúvidas sobre a admissão do requerimento porque o Deputado Humberto Cardoso pediu a palavra ao Sr. Presidente, chamou pelo nome do Sr. Presidente e o Sr. Presidente viu o Deputado Humberto Cardoso e viu-me pessoalmente a levantar a mão a pedir a palavra. Nós não percebemos o porquê que o Sr. Presidente passou imediatamente à votação e não deu a palavra a esses dois Deputados do Grupo Parlamentar do MPD que lhe tinham pedido a palavra.

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E também perguntar-lhe se essa aprovação que agora o senhor acaba de dizer que houve, se tem efeito definitivo ou se ainda teremos uma votação final global.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Tenho dúvidas se a votação que foi feita é uma votação normal, legal, aceitável no nosso Parlamento. Digo isto por uma razão simples: o nosso Regimento no seu artigo 112º que trata dos requerimentos diz o seguinte: 1- Apenas são considerados requerimentos, os pedidos dirigidos à Mesa e respeitantes ao processo de apresentação, discussão e votação de qualquer assunto e ao funcionamento da reunião. 2- Os Requerimentos podem ser formulados por escrito ou oralmente. Até aqui tudo bem. 3- O requerimento, uma vez admitido é imediatamente votado sem discussão. O requerimento não foi votado. Do nosso ponto de vista, a votação que foi feita é para votar o requerimento e não a lei.

Aplausos do Deputado Fernando Elísio Freire.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Cardoso.

Sr. Deputado Humberto Cardoso (MPD): - Quando o Grupo Parlamentar do PAICV apresentou o requerimento, quis interpelar a Mesa em relação a isso porque normalmente o nosso próprio Regimento prevê que para as leis pode-se mesmo determinar uma hora de votação. Isso acontece em todos os Parlamentos precisamente para evitar situações de manipulação de jogadas que distorcem de facto a configuração de forças no Parlamento. Claro que pode-se dizer que na Conferência de Representantes raramente se faz isso, se marca a hora das votações. O problema é que nós aqui já ultrapassámos o horário e naturalmente que isso é algo que se deve ter conta e que todos os Deputados têm isso em devida conta quando, digamos, regulam as suas vidas e a sua participação. E numa situação dessas, há um grupo parlamentar que se antecipa porque há uma alteração no ambiente no Parlamento, antecipa com um requerimento e muda o que de facto é a configuração das forças no Parlamento. Nesse sentido é que ia perguntar à Mesa se é legítimo, de facto, aceitar o requerimento nessas circunstâncias, porque já se sabe que quando se pediu o requerimento estava-se precisamente a fazer uma manipulação para mudar a relação de forças dentro do Parlamento no sentido de conseguir uma votação que não corresponde de facto à posição dos grupos parlamentares. Há parlamentos em que mesmo o líder do grupo parlamentar vota pelo grupo. Não é o nosso caso. Acontece em outros parlamentos, como por exemplo em Portugal, mas o facto é que não se pode admitir que haja manipulação do género em que se interrompe e a qualquer momento pode-se votar e com essa votação não ficar clara e explícita a relação de forças no Parlamento, assim como foram determinadas nas eleições. Essa é que era a

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 questão e por conseguinte seria legítimo neste momento de facto aceitar o requerimento. Também o outro aspecto que foi apontado pelo Deputado Agostinho Lopes que é de facto, o Sr. Presidente, houve penso que se supõe um lapso. O requerimento mesmo depois de aceite não foi votado e avançou-se logo para votação da Lei da Nacionalidade.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, a Mesa ouviu com atenção os vossos argumentos. O que devo dizer é que a Mesa admitiu o requerimento que é uma prerrogativa da Mesa; o Grupo Parlamentar do Movimento para a Democracia não tinha tempo para participação no debate e evidente que tinha tempo para fazer a interpelação. E acaba de fazer a interpelação à Mesa. Penso que tem sido hábito nesta Casa Parlamentar a admissão das iniciativas e, em tratando-se do processo da votação, tem sido este o procedimento. Admito que possa haver outros entendimentos. De todo o modo trata-se, Srs. Deputados, de um voto na generalidade, há ainda o processo de votação na especialidade e a votação final global. Srs. Deputados sobre este assunto, penso que já estamos conversados. Já passei a palavra aos Srs. Deputados, já ficou absolutamente expressa a posição e vamos passar à votação na especialidade. Sr. Deputado Fernando Elísio, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Sr. Presidente, é para interpelar a Mesa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado sobre este assunto, eu disse qual é o entendimento que eu tenho. Se for sobre outro assunto, passo a palavra ao Sr. Deputado.

Sr. Deputado Fernando Elísio Freire (MPD): - Sr. Presidente, é para pedir a suspensão dos trabalhos por 30 minutos.

Sr. Presidente: - Está suspensa a Sessão por 30 minutos.

[A Sessão foi suspensa às 18 horas e 36 minutos e retomada às 19 horas e15 minutos.]

Sr. Presidente: - Srs. Deputados façam o favor de ocupar os vossos lugares na Sala para dar continuidade aos nossos trabalhos. Convido a Sra. Ministra a se dirigir à tribuna para apresentar o texto da iniciativa na especialidade. Srs. Deputados, a Mesa tem a dizer o seguinte em relação à iniciativa e à questão do requerimento: como eu disse há pouco tem sido uma prática de algum tempo a esta parte, eliminar a dupla votação. Pela leitura do texto colhe- se claramente que há uma dupla votação. Que admitindo o requerimento deve- se passar à votação. É verdade. Portanto, há uma irregularidade desse ponto de vista da leitura do texto, há uma irregularidade. Tem sido, entretanto uma prática, como eu disse, Sr. Deputados, de algum tempo a esta parte e não apenas nesta legislatura.

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Entretanto, o processo Parlamentar tem esta virtualidade de ter uma discussão na generalidade, uma discussão na especialidade e uma votação final global. A irregularidade que por ventura possa haver poderá ser obviamente sanada ou não. Mas julgo que este assunto está absolutamente claro. Que os Sr. Deputados já expuseram a sua posição. A Mesa deu uma explicação. Penso que não adianta muito os nossos trabalhos neste momento fazer uma discussão processual. Está absolutamente claro. Passo a palavra à Sra. Ministra, para proceder à leitura do texto na especialidade.

Sra. Ministra da Justiça, Marisa Morais: - Sr. Presidente, Srs. Deputados.

Artigo 1º (Alterações)

São alterados os artigos 8º, 9º, 12º, 17º, 19º e 26º da Lei da Nacionalidade, aprovada pela Lei nº 80/III/90, de 29 de Junho, com as modificações nela operadas pela Lei nº 41/IV/92, de 6 de Abril e pela Lei nº 64/IV/92, de 30 de Dezembro, que passam a ter a seguinte redacção:

Sr. Presidente: - Pode ler por favor o artigo 8º.

Sra. Ministra da Justiça: -

Artigo 8º (Nacionalidade de origem por opção)

Pode optar pela nacionalidade cabo-verdiana de origem, mediante declaração: a) O indivíduo nascido no estrangeiro de pai ou mãe, avô ou avó, de nacionalidade cabo-verdiana por nascimento; b) O indivíduo nascido em Cabo Verde de pais estrangeiros, se estes residirem legalmente em território cabo-verdiano há pelo menos cinco anos e nenhum deles ali se encontre ao serviço do respectivo Estado.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Miguel Sousa, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - Só para um requerimento à Mesa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal Santos, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - É para interpelar a Mesa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Agostinho Lopes, deseja a palavra para que efeito?

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Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Não pedi a palavra. Sr. Presidente eu tinha pedido a palavra antes da Sra. Ministra intervir.

Sr. Presidente: Tem a palavra o Sr. Deputado Miguel Sousa.

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - No sentido de pedir aqui que os artigos fossem votados um a um, portanto, nominalmente.

Sr. Presidente: - Os artigos um a um? Há o artigo 1º, depois temos os artigos 3º, 4º…

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - Portanto todos os artigos.

Sr. Presidente: - Este é o hábito Sr. Deputado. Está a referir-se aos artigos alterados?

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - Sim.

Sr. Presidente: - Bom o artigo 1º tem vários seguimentos. Vamos votar seguimento a seguimento. Srs. Deputados, espero que não me obriguem agora a pôr este requerimento à votação. Estamos no processo de votação, ganhamos tempo. Admite-se. Não vamos agora pôr isto à votação. Não há nenhuma objecção? Estou a perguntar se há objecção. Sr. Deputado, é um requerimento formal que está a fazer ou está a alertar a Mesa para o procedimento, que é o procedimento normal? Votamos normalmente seguimento a seguimento nessas situações de alteração. É isso, não vejo porquê que vamos agora perder tempo com esta situação. Srs. Deputados, se falarem todos ao mesmo tempo, não sairemos daqui. Srs. Deputados, admiti o requerimento do Sr. Deputado Miguel Sousa. Vamos passar à votação. Quem vota a favor? Ele pediu para se votar seguimento a seguimento. Quem vota contra? Quem se abstêm? O requerimento não passou porque foram a favor 22 Deputados, nenhum contra e 36 abstenções. Não obteve a maioria requerida. Srs. Deputados, o artigo 122º diz o seguinte: as deliberações são tomadas por maioria absoluta de votos dos Deputados presentes. É o que diz o Regimento. Sr. Deputado António Pascoal Santos, deseja a palavra para que efeito? Disse que era a interpelação. Faça o favor de interpelar a Mesa.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Presidente, desculpe, primeiro permita-me observar que eu estou todo este tempo à espera de fazer uma intervenção de interpelação e que tem prioridade.

Sr. Presidente: - Não senhor. Sr. Deputado, estou a conceder-lhe a palavra. Não posso conceder a palavra a todos os Deputados ao mesmo tempo. Sr. Deputado fez um requerimento. Admiti o requerimento. O próprio requerimento, [entende-se Regimento] diz que uma vez admitido, ele é posto imediatamente à votação.

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Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Só que já me tinha inscrito antes desse requerimento. Ok, pronto, já está, já está. Agora vou fazer a interpelação, se me permite.

Sr. Presidente: - Sim, faça o favor.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Presidente, eu estou estupefacto com a decisão que aqui se tomou. Sr. Presidente, precisamente está a falar de requerimento que é admitido e votado. Houve um requerimento que foi admitido e não foi votado…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado este assunto já foi mais do que esclarecido…

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - … não, não Sr. Presidente…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado nem sequer estava cá…

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - … Não interessa, Sr. Presidente. Não me denuncie publicamente que eu não estava cá. Não é bonito…

Risos dos Srs. Deputados.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, não interrompa a Mesa por favor. Sr. Deputado, não estou a denunciar o Sr. Deputado, nem ninguém. As pessoas têm o direito de dizer aquilo que pensam. Peço ao Sr. Deputado que respeite a Mesa que está dirigir os trabalhos porque se todos os Deputados não respeitarem a Mesa, haverá o caos. Dei a palavra a um Sr. Deputado, ele interveio nos termos no Regimento, não colocou nenhum problema de falta de respeito. Passei à palavra ao Sr. Deputado. O Sr. Deputado tem uma outra visão das coisas, não é? Agora, estava a chamar a atenção do Sr. Deputado que este assunto já ficou clarificado. É isso. Já está ultrapassado. Já passei a palavra à Sra. Ministra sobre isso. Eu dei a palavra a três ou quatro Deputados que interpelaram a Mesa sobre isso. No momento, o Sr. Deputado não se encontrava aqui. Sr. Deputado António Pascoal, peço-lhe que conclua o seu raciocínio para podermos continuar os nossos trabalhos.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - E para podermos continuar os nossos trabalhos, vou concluir o meu raciocínio, no enquadramento e interpelação à Mesa. O Sr. Presidente entende na condução desses trabalhos, e com o devido respeito pelo seu entendimento, que a questão é processual. A questão é substantiva, Sr. Presidente. Quando se leva a um resultado em que um diploma é considerado votado sem decidir um requerimento, a questão é profundamente política e substantiva, Sr. Presidente; e como sabe somos

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 juristas, embora antes de tudo sejamos políticos aqui. Como sabe, o substantivo e o adjectivo entrelaçam-se na realização do direito e do direito político. O continente e a forma estão numa relação dialéctica. A luz e o caminho, Sr. Presidente. Essa questão é profundamente substantiva. Há uma votação sem decisão do requerimento, há um acto político-legislativo embora parcial que ainda não conclui o processo. Ir para a votação global final já pressupõe considerado votado na generalidade. Não, Sr. Presidente, com o devido respeito, eu sei que não é fácil ser presidente. Eu sei que não é fácil dirigir uma Assembleia. Sr. Presidente, com toda a boa fé e com toda a clareza, não pode ser assim em nome da democracia. É isso que entendo.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes. Prescinde. Pergunto se há algum Deputado que deseja intervir sobre o artigo 1º, pode inscrever-se. Vamos ler o artigo até ao fim porque foi o que resultou da votação. Não vingou a ideia de ler seguimento por seguimento, mas os Deputados podem inscrever-se e a Sra. Ministra pode concluir então a leitura do artigo 1º.

Sra. Ministra da Justiça: -

Artigo 9º (Aquisição em razão do casamento ou união de facto)

1. Pode adquirir a nacionalidade cabo-verdiana o estrangeiro casado há pelo menos cinco anos com nacional cabo-verdiano, que declare, na constância do casamento, querer adquiri-la. 2. Pode ainda adquirir a nacionalidade cabo-verdiana, mediante declaração, o estrangeiro que viva com nacional cabo-verdiano em união de facto reconhecível, cuja convivência dure há pelo menos cinco anos. 3. A declaração de nulidade ou a anulação do casamento ou união de facto não prejudica a aquisição de nacionalidade pelo cônjuge ou unido de facto que o contraiu de boa fé.

Sr. Presidente: - Pedia à Sra. Ministra que continuasse por favor, o artigo 12º até…

Sra. Ministra da Justiça: -

Artigo 12º (Aquisição por naturalização)

1. a) Residir habitual e legalmente em território cabo-verdiano há pelo menos cinco anos.

Artigo 17º (Reaquisição após cessação da incapacidade)

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Aquele que haja perdida a nacionalidade cabo-verdiana de origem por efeito de declaração prestada durante a sua incapacidade pode readquiri-la a todo o tempo após a cessação da incapacidade mediante requerimento desde que tenha estabelecido residência em território cabo-verdiano há pelo menos seis meses.

Artigo 19º (Fundamentos)

a) São fundamentos e oposição à aquisição da nacionalidade cabo- verdiana por efeito de vontade; b) A prática de crime punível com pena de prisão, cujo limite máximo seja superior a três anos segundo a lei cabo-verdiana.

Artigo 26º (Inscrição consular)

A inscrição consular constitui título atributivo da nacionalidade cabo-verdiana desde que o interessado por si ou através do seu representante legal sendo incapaz preencha os requisitos previstos na alínea a) do artigo 8º.

Sr. Presidente: - Algum Deputado deseja intervir sobre o artigo 1º? Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Sra. Ministra, a legislação que é agora objecto de proposta de alteração estabelecia uma diferença clara entre aquisição de nacionalidade em razão do casamento ou união de facto e da aquisição por naturalização. A lei actual acabou por pôr as duas situações em igualdade de circunstâncias, o que torna redundante uma coisa ou outra. Pergunto: por que razão presidiu esta alteração? Já que anteriormente se conseguia a alteração da nacionalidade por casamento ou união de facto com três anos de casamento e agora fala de cinco anos de casamento ou cinco anos de naturalização. Partindo do princípio que a esmagadora maioria dos estrangeiros que chegam a Cabo Verde só casam depois de estar cá. Que vantagem tem casar-se para ter nacionalidade? Que estímulo dá a lei e por que razão temos esses dois sentidos? Já não faz sentido.

Sr. Presidente: - Mais algum Deputado deseja intervir? Não sendo este o caso, passo a palavra à Sra. Ministra.

Sra. Ministra da Justiça: - A diferença aqui é estabelecida, julgo que tive oportunidade de sublinhar na leitura, como reconhecível. Estamos a dar no fundo…

[Devido à falha técnica, o início da Reunião Plenária não ficou gravada, tendo continuidade como se segue:]

Sr. Presidente: - Há uma outra pergunta em relação às duas situações: aquisição em razão de casamento e união de facto e aquisição por

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 naturalização que o Sr. Deputado perguntou que estímulos é que se poderá ter. Não sei se quer clarificar o seu raciocínio. Faça o favor.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Sr. Presidente é que anteriormente a lei dizia que para ter nacionalidade por casamento basta estar três anos casado. E por naturalização, estando cinco anos residente, com autorização de residência legal. Agora virou tudo cinco anos. O problema é que não vale a pena você ter um artigo desses.

Sr. Presidente: - Tem a palavra a Sra. Ministra.

Sra. Ministra da Justiça: - Sr. Deputado, são duas modalidades diferentes da aquisição da nacionalidade. Mesmo admitindo que Cabo Verde pretenderia estimular a aquisição da nacionalidade cabo-verdiana a estrangeiros, aqui não sei se isso é uma prática corrente, o que se pretende aqui é harmonizar com aquilo que vai de encontro [SIC] às práticas dos outros países em que há essas duas modalidades. Na União Europeia, a nacionalidade por naturalização obtém-se com cinco anos e por casamento com cinco anos. Teremos eventualmente informações diferentes a esse respeito.

Sr. Presidente: - Não temos mais nenhum inscrito, vamos passar então à votação do artigo 1º. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstém? O artigo 1º não passou porque obteve apenas 38 votos a favor, sendo 36 do PAICV e mais 2 da UCID, 21 votos contra do Movimento para a Democracia, nenhuma abstenção. A maioria requerida seria no mínimo de 39 dos Deputados presentes. Para passar tem de ser a maioria de 2/3 dos presentes desde que superior a maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções. Foi superior à maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções, mas não superior à maioria requerida de 2/3 que é de 39. Pergunto se faz algum sentido ter artigo 2º sem… Vamos passar à votação, aliás, a discussão do artigo 2º. Pedíamos à Sra. Ministra o favor de proceder à leitura do artigo 2º.

Sra. Ministra da Justiça: - Sr. Presidente, Srs. Deputados, é aditado à Lei da Nacionalidade o artigo 34º a) com a seguinte redacção:

Artigo 34º a) (Atribuição da nacionalidade mediante inscrição consular)

É atribuída a nacionalidade cabo-verdiana aos indivíduos nascidos no estrangeiro de pai ou mãe, avô ou avó cabo-verdiano de origem que à data da entrada em vigor do presente diploma se encontrem inscritos no consulado ou posto do consulado de Cabo Verde, salvo declaração dos próprios em contrário ou …

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Presidente: - Silêncio na Sala por favor. Queira continuar Sra. Ministra. Desculpe. Peço silêncio na Sala, os Srs. Deputados estão a interromper a Sessão sem necessidade. Tenha a bondade.

Sra. Ministra da Justiça: -

Artigo 34º (Atribuição da nacionalidade mediante inscrição consular)

É atribuída a nacionalidade cabo-verdiana aos indivíduos nascidos no estrangeiro de pai ou mãe, avô ou avó cabo-verdiano de origem que à data da entrada em vigor do presente diploma se encontrem inscritos no consulado ou posto do consular de Cabo Verde, salvo declaração dos próprios em contrário ou a oposição legítima de terceiros.

Sr. Presidente: - Em relação ao artigo 2º, algum Deputado deseja intervir? Nenhum. Vamos passar à votação. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstêm? Srs. Deputados o resultado é o mesmo: 38 votos a favor, sendo 36 do PAICV, 2 da UCID, 21 votos contra, nenhuma abstenção. A maioria requerida não foi obtida e portanto, o artigo 2º também não passou. Artigo 3º. Peço silêncio aos Srs. Deputados. Pergunto se a Sra. Ministra está em condições de proceder à leitura do artigo 3º.

Sra. Ministra da Justiça: - Sr. Presidente, muito obrigada por perguntar. Estou em condições logo que for possível. Julgo que é possível agora, procederei à leitura.

Sr. Presidente: - Sim, tenha a bondade.

Sra. Ministra da Justiça: -

Artigo 3º (Regulamentação)

O Governo procederá à adaptação do Regulamento da nacionalidade em conformidade com as alterações ora introduzidas no prazo de 90 dias, a contar da entrada em vigor do presente diploma.

Sr. Presidente: - Vamos passar à votação. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstêm? Srs. Deputados, o artigo 3º foi rejeitado com 38 votos a favor, sendo 36 do PAICV, 2 da UCID, 22 votos contra, nenhuma abstenção. A maioria requerida seria de 40 e não foi obtida. Artigo 4º.

Sra. Ministra da Justiça: -

Artigo 4º (Publicação e Remuneração)

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É publicada em anexo que faz parte integrante à presente lei e baixa assinada pelo Presidente da Assembleia Nacional a nova versão completa da lei da nacionalidade, integrando nos lugares próprios as modificações estabelecidas pelo presente diploma, bem como as demais alterações ocorridas até ao presente.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados é evidente que não faz sentido passar à votação este artigo. Não tem nenhum conteúdo. Os outros não passaram. Também o artigo 5º - entrada em vigor – não tem um conteúdo. Nem podemos passar à votação final global, uma vez que ela pressupõe uma votação na especialidade com conteúdo e não há nenhum conteúdo. Sr. Deputado Rui Semedo, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Sr. Presidente, era para fazer uma declaração de voto em relação ao último artigo votado.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Mário Silva, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Era para interpelar a Mesa. Tenho muitas dúvidas se… Posso?

Sr. Presidente: - Sim.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Tenho muitas dúvidas se não se deve fazer a votação final global.

Sr. Presidente: - Faça o favor de fundamentar.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Por várias razões. Em primeiro lugar porque votou-se na generalidade e houve declaração de voto. Passou-se para a especialidade, é necessário concluir o processo. O procedimento legislativo ainda não está concluído. Portanto, tenho muitas dúvidas se esse procedimento é o mais correcto, a menos que haja argumentos muito fortes em contrário.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados penso que a questão pode ser pertinente, mas acontece o seguinte: a Constituição diz que a votação dos projectos e propostas de lei e de propostas referentes compreende uma votação na generalidade, uma votação na especialidade e uma votação final global. Houve uma votação na generalidade, mas da votação na especialidade não resultou nenhum conteúdo e por isso… diz o seguinte: a votação final global deverá incidir sobre o texto já votado na especialidade, mas não há nenhum texto votado na especialidade. Não há nenhum conteúdo de texto votado na especialidade. É isso a percepção que a Mesa tem sobre este assunto. Não há nenhum conteúdo de texto pelo que me parece inútil, pelo menos de uma leitura à primeira que haja uma votação final global, quando não há um conteúdo resultante da votação na especialidade. O único mérito que

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 uma votação final global poderia eventualmente ter era marcar o termo do debate e permitir que os grupos parlamentares pudessem eventualmente fazer declaração de voto. Reparem, Srs. Deputados, que normalmente o Parlamento não pode em nenhum caso passar à votação final global sem que haja uma votação na especialidade e sem que se tenha decorrido um determinado prazo, quando há discussão na especialidade e a votação é feita em comissão. De maneira que temos também essa dúvida. Não queremos ser categóricos, mas entendemos que só faz sentido passar-se a uma votação final global havendo um conteúdo sobre o qual se vai votar porque a votação na generalidade é para, no fundo, se aprovar os grandes princípios, não é? Mas reparem que depois já não há texto nenhum, já não há nenhum princípio sobre o qual se possa votar em votação final global. É este o nosso entendimento, salvo melhor. Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Silva.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - O artigo 171º diz que finda a discussão e votação na especialidade procede-se à votação final global. O artigo não distingue se na especialidade se votou favoravelmente ou se votou contra, primeira observação. Nós aqui é que estamos a fazer o exercício de distinguir para equacionarmos as consequências o que não me parece a melhor solução. Também não quero ser categórico, mas apresentou dois argumentos que do meu ponto de vista são bastantes para se poder ir à votação final global: primeiro - marca o encerramento do procedimento, segundo – os grupos parlamentares podem fazer declaração de voto para marcar a sua posição, razão pela qual votaram contra o diploma. Parece-me que são dois argumentos suficientes para se fazer a votação final global sem querer ser categórico.

Sr. Presidente: - Também vi o artigo 171º e diz o seguinte: (como sabe tenho muito respeito pelo que diz) “finda a discussão e votação na especialidade procede-se à votação final global”. Mas o nº 2 diz “após a aprovação na especialidade em comissão o texto será enviado” etc., “para votação final global”. Repare que é após a aprovação. Não houve a aprovação na especialidade. Aqui não se trata de comissão, mas trata-se do Plenário. É a mesma natureza de situação. Parte do princípio da aprovação porque com a aprovação há um conteúdo sobre o qual se vota. Não se vota em relação a nada. O direito é direito e não é nireito. Vota-se em relação a alguma coisa. Eu mesmo apresentei os outros argumentos, portanto, num processo de reflexão. Quanto à declaração de voto, penso que os grupos parlamentares podem fazer uma declaração de voto em relação ao último artigo por exemplo que foi votado. Penso que sim. Com todo o respeito que tenho pela Oposição, neste momento não me ocorre uma posição que seja melhor. Não me ocorre que a posição defendida pelo Sr. Deputado seja melhor do que a posição que a Mesa, neste momento, defende. Mas, Srs. Deputados, temos de terminar isto porque ainda temos muita matéria para discutir. Vou passar a palavra às pessoas que querem inscrever-se sobre o assunto. Srs. Deputados queria apenas lembrar que estamos numa Assembleia de 72 Deputados e que provavelmente… também já estamos a 8 horas e que

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 provavelmente temos que ser um pouco pragmáticos no debate que vamos fazer, para não virmos cá agora fazer uma discussão muito doutrinária, muito jurídica. Tenho inscrito os Srs. Deputados Rui Semedo, Agostinho Lopes, David Almada, António Pascoal Santos e Mário Silva. A seguir à intervenção do último orador, é obvio que vou encerrar o debate sobre este ponto e a Mesa tomará uma posição. Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Sr. Presidente, troco com o Deputado David Almada.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado David Almada.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Salvo devido respeito por opinião diferente, a mim me parece evidente que não há lugar aqui neste caso concreto à votação global porque vota-se sobre alguma coisa. Não se vota sobre nada. Do diploma que foi apresentado à votação não resultou nada. Porque nada foi aprovado. Portanto, é pressuposto que o legislador é útil e inteligente. Por o legislador ser útil e inteligente não vai prever votação inútil. E como não há nada sobre o que votar, o legislador pensou seguramente na inutilidade do acto e na sua desnecessidade. Por isso, entendo que não há lugar e não pode haver lugar numa simples lógica das coisas, haver votação na globalidade sobre uma coisa que não existe.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes. Prescinde. Tem a palavra o Sr. Deputado Pascoal Santos.

Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Oh minis já agora no prestá atenson.

Risos dos Deputados.

Penso que já se fez jurisprudência, não sei, mas aqui já se fez doutrina suficiente sobre essa questão da necessidade ou não de votação global. Tenho a minha opinião muito clara e segura sobre isso. Não vou dá-la. Vou requerer que não percamos mais tempo nesta questão. O resultado da votação já se viu, as declarações de voto podem ser feitas, quem quiser fazer, e se houver mais controvérsias, então requeiro que se submeta o requerimento ao Plenário para decidir se vai haver votação na globalidade ou não e passemos às outras coisas, que há muitas outras coisas. Eu ia para uma consulta quando fui encontrado [entende-se chamado] aqui para vir sustentar o meu grupo. Aliás que levou o Sr. Presidente a dizer que eu estava ausente e que levou-me a protestar. Portanto vamos decidir isso e vamos em frente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado ouvi o requerimento do Sr. Deputado… Sr. Deputado vamos evitar… não tem a palavra neste momento e também peço aos Srs. Deputados que contribuamos um pouco para que cheguemos

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 mais rapidamente ao fim dos nossos trabalhos. Penso que numa Plenária aprendemos muita coisa. Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Andrade.

[Sr. Deputado António Pascoal Santos falou com microfone fechado e disse algo imperceptível.]

Sr. Deputado, eu ouvi. Quem admite o requerimento é o Presidente. Ainda não admiti o requerimento.

Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Julgo que estamos a aprender todos os dias e este é um facto novo que surge desde que estou aqui no Parlamento. De facto não estou a ver, apesar da Constituição dizer que deve haver votação na generalidade, na especialidade e na globalidade, votação sobre nada. Temos que fazer uma interpretação criativa. Penso que impõe-se uma interpretação criativa que é de não se prosseguir o processo legislativo a face do nada. Considerar-se findo. Para dissipar as dúvidas e haver deliberação sobre esta matéria, curiosamente vou na mesma linha do colega que me antecedeu, requerendo que se vote a deliberação no sentido de não se proceder à votação na globalidade, por não haver nada.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Mário Silva.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Sr. Presidente, mantenho as minhas dúvidas. Apresentei como dúvidas, gostava de ter a certeza do Deputado Hopffer Almada e a criatividade do Deputado José Manuel Andrade.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Sr. Presidente, não entendo porquê que depois de chumbar toda a iniciativa, artigo por artigo, estamos a pedir que se vote sobre os artigos que já foram chumbados. Todos os artigos já foram chumbados e não ficamos com nenhum artigo para votar. Agora vai-se pedir para votar na globalidade todos os artigos que foram chumbados. Penso que de facto é chumbar o chumbo…

Risos dos Deputados.

… e aqui fica meio complicado. Não é ser-se razoável. Quer dizer, querem nos fazer perder tempo. A lei foi chumbada, artigo por artigo. A Oposição mobilizou todas as suas energias, mandou buscar Deputados em casa, outros no consultório, outros noutros conselhos e conseguiu mobilizar o maior número de Deputados para votar durante toda esta Sessão, porque, em todas as outras votações, não conseguimos este número. Portanto, houve uma vontade clara de chumbar esta iniciativa. A iniciativa foi chumbada. Agora pedem-nos para votar na globalidade sobre uma iniciativa que foi chumbada. Votar o chumbo. Penso que isso é uma brincadeira de mau gosto.

Aplausos da Bancada do PAICV.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Presidente: - Já tinha encerrado o debate Srs. Deputados. Tenho mais uma coisa a dizer-vos. Penso que os Srs. Deputados são inteligentes e seguramente irão compreender a questão. O Regimento da Assembleia Nacional estabelece qual é o objecto da votação na generalidade, na especialidade e diz o seguinte: 1. A discussão na generalidade incide sobre os princípios e o sistema de cada projecto ou proposta de lei. Este é o objecto da generalidade. 2. A discussão na especialidade incide sobre cada artigo podendo a Assembleia deliberar que se faça sobre mais de um artigo etc. etc. Depois a lei fala em votação na globalidade. Mas o que é a globalidade? É a votação em relação à generalidade e em relação à especialidade. Mas se não há especialidade, como é que pode haver globalidade? Globalidade de quê? Globalidade tinha que ser em relação à soma da generalidade e da especialidade. Só há especialidade [entende-se generalidade]. Portanto, Srs. Deputados, eu penso que esta questão está bem clara e eu admito o requerimento do Sr. Deputado António Pascoal. Vamos passar à votação. Sim, o requerimento do Sr. Deputado era no sentido de se dar essa discussão por finda. Não é isso, Sr. Deputado? Sim, faça o favor.

Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - O meu requerimento é se há controvérsia, vai continuar … precisamente para pôr fim a isso, depois podemos fazer teorizações noutros momentos, e continuar os trabalhos, então que o Plenário decida, por voto, se é necessário ou não votar na globalidade e ponto final. Se decidir sim, votemos na globalidade. Se decidir não, não há mais votos e ponto final.

Sr. Presidente: - Obrigado, Sr. Deputado pelo esclarecimento. Admiti o requerimento. Vamos passar à votação. Quem vota a favor? O Requerimento do Sr. Deputado Pascoal no sentido de se passar ou não à votação global. Ele tem uma posição sobre isso. Portanto, vamos votar… Quem vota a favor para que seja feita uma votação final global? Não é isso, Sr. Deputado?

Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Não Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Então eu não estou a entender nada.

Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (MPD): - Nesse tipo de situações, os raciocínios são alternativos, como sabe. Portanto quem pensa que se vote se há necessidade nesses termos ou não, da votação final global?

Risos dos Deputados.

É diferente. É outra forma de… Penso que não perceberam. Se há necessidade ou não, aí está a alternativa… ou não é outros termos da alternativa e é esse o pensamento, e só isso.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Presidente: - Isso é complicado. Se a votação é alternativa, como é que se define uma posição? Se é sim ou não. Penso que falha aí qualquer coisa. Por isso que quis operacionalizar… bom porque dá na mesma. Quem é a favor da votação final global quando não houve uma aprovação na especialidade de um texto? É isso? Retirou o requerimento?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Srs. Deputados, então, vamos passar à palavra aos Srs. Deputados para declaração de voto. Apenas para isso. Ainda temos muita matéria à frente. Para uma declaração de voto, tem a palavra o Sr. Deputado Mário Silva.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Sr. Presidente é para interpelar à Mesa.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, penso que não porque não vamos ficar aqui todo o tempo…

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Não, é que há pouco pedi a palavra, pelo menos devia perguntar-me para que efeito. Não queria fazer uma intervenção. Queria invocar a defesa de honra.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, a Mesa vai lhe conceder a palavra para a defesa da honra a seguir à declaração de voto.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - A seguir…

Sr. Presidente: - Sim, Sr. Deputado. Vai ter essa possibilidade. Algum Deputado deseja fazer uma declaração de voto? Sr. Deputado Rui Semedo, faça o favor.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Nu sisti li mas un ves un vontadi klara y deliberada di ka permite ki sidadãus kabuverdianus ki ta riziidi na estranjeru partisipa na votason. Grupu Parlamentar di PAICV ta defende klaramenti _ y pur isu ki e vota a favor _ ki tudu kabuverdianus debi partisipa sen kualker restrison na prosesu di ileison li na Cabo Verde. Nu vota a favor pamodi nu ta entendi tanbe ma tudu fidjus, netus di kabuverdianus debi partisipa livrementi na prosesu di resensiamentu y di ileison des ki asin é manifesta sé vontadi. Nu vota a favor pamodi resenseamentu debi atinji universu di tudu kabuverdianus, kés ki ta residi li y kés ki ta residi na stranjeru. Nu vota a favor pamodi ileison é un atu mas inportanti di País y na ileison debi partisipa tanbe tudu kabuverdianus. Nu vota a favor pamodi nu ka entendi purkê ki MPD é kontra partisipason jeneralizada di kabuverdianus ki ta rizidi na stranjeru na vida politika nasional y na vida ileitoral. Nu vota a favor pamodi nu ka entendi tanbe pamodi ki MPD viola akordu ki nu tinha estabelesidu akuandu di revison di kódigu ileitoral ki nu devia logu apos aprovason faze alterason di lei di nasionalidadi.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Nu vota a favor pamodi nu ta konsidera ma ka ten razon pa ninhun Sujeitu Polítiku na Cabo Verde ten medu di kabuverdianus independentimenti di lugar undi ki é ta rezidi. Purkê ki MPD nes momentu tene medu di partisipason di kabuverdianus na prosesu ileitoral? Nu vota a favor pamodi nu sta sienti y ta ben nos memória ma dipos di ultimus ileisons presidensias, pelu menus na ileisoins presidensiais di 2001 foi fladu klaramenti ma ganhadu na teritoriu nasional y kenha ki da derota a kandidatu é imigrantis kabuverdianus ki ta rezidi na stranjeru. Y na 2006 fladu klaramenti na kalor di risaka ileitoral ma kabuverdianus ki ta rezidi na determinadus paízes undi ka ten demokrasia ma ka debe partisipa na atus ileitorais. Y li sin es posison di MPD é klaramenti pa restrinji partisipason di kabuverdianus na atu ileitoral. Nu vota a favor pamodi nu kre odja tudu kabuverdianu ta partisipa na prusesu di konstruson y konsolidason di nos demokrasia. Nu vota a favor pamodi nu kre odja kabuverdianus na País y na stranjeru ta partisipa na tudu desisons inportantis ki ta tomadu na País, desisons polítikas y outras, mas prinsipalmenti desisons di skolha ses legítimus representantis polítikus y ses guvernantis. Nu vota ainda a favor pamodi nu ta konsidera vergonhozu Deputadus ki ka partisipa na Seson foi txomadu ou pratikamenti intimadu pa ben partisipa nes ileison [entende-se votação]. Foi suspendedu Seson duranti alguns minutus pa txoma Deputadus ki duranti es Seson ka steve na Asenbleia, otus ki steve fora, otus ki staba na konsultoriu y otus konselhu.

[Entretanto, através da campainha o Sr. Presidente avisou o orador do término do seu tempo.]

Di repenti foi intimadu Deputadu Eurico Monteiro, Deputadu Pascoal Santos, Deputadu Austelino y Deputadu Alberto pa ben partisipa nes atu ileitoral [entende-se acto de votação]. Foi vergonhosu vota kontra es vergonha.

Aplausos da Bancada do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado António Pascoal, deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - É para lavrar um protesto, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o protesto tem a ver com…

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - … com a intervenção e a referência feita pelo Sr. Líder Parlamentar do PAICV.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, o número 3 do artigo 115º diz que não são permitidos protestos a declarações de voto. E ele fez uma declaração de voto. Sr. Deputado Fernando Elísio pediu a palavra? Não. Sr. Deputado Miguel Sousa tenha a bondade.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Deputado Miguel Sousa (MPD): - Grupu Parlamentar di MPD vota kontra es inisiativa pamodi e ta konsidera ma es País ten istória, ten memória y imigrantis tanbe konxi istória des País purki es ten memória di kuzé ki kontisi nes País duranti tudu es tenpu. Oji, grasas a Deus, imigrantis ka ta sai, nenhun kabuverdianus ka presisa nen di autorizason di saída, nen di autorizason di entrada pa País.

[Com o microfone fechado, alguns Deputados do MPD disseram “boa”.]

Aplausos da Bancada do MPD.

Nenhun imigranti ka mesti pidi ninguen autorizason pé ben sé téra pé ben odja sé País, sé família. Purkê? Pamodi nes País okori un fatu istóriku ki tudu algen ta rejista ki é liberdadi y demokrasia y aprovason di Konstituison di 1992 ki konsedi y restitui liberdadi a tudu kabuverdianus ki ta sta na País y ki ta sta na imigrason. Purtantu, memória y istória é mutu klaru. Diferensa di PAICV ku MPD, relativamenti a tratamentu di kestoins sobre kabuverdianus tanbe é mutu klaru. Ka ten duvida li y kabuverdianus ten el registadu na sé memoria, ten el klaru na sé memoria y ten el markadu alguns kabuverdianus na ses vida. Purtantu, oji tudu kabuverdianus pode ben livrementi, pode bai livrementi, pode vivi ku liberdadi y pode sta na demokrasia. Nu vota kontra pamodi nu ta konsidera un inisiativa inoportuna, ileitoralista, partidária…

Aplausos da Bancada do MPD

… ki debia serba un inisiativa ki resultase du konsensu di tudu kabuverdianus y di tudu Sujeitus Parlamentares. Mas nu vota kontra tanbe pa un keston espesifika, é ki kabuverdianus dadu ou finji dadu bilheti di identidadi distribuidu dokumentus duranti ileison di 2006 di forma iregular; y kés imigrantis kuandu és bai renova ses dokumentu, di fatu es konstata ma es ka tinha nasionalidadi. Portantu, houve un eru di adminstrason publika y houve un elementu iregular na distribuison na postura y na trabadju di tudu konsuladu fora di Cabo Verde. É nesesariu koriji es keston, y es keston ka pode ser korijidu di forma partidária, di forma ileitoralista y di forma ki ta kria problema y ki ta divide País entre nau rezidenti y rezidenti. Ou seja, entre kabuverdianus ki ta residi na País y kabuverdianus ki ta rezidi fora. Purtantu, MPD vota kontra justamenti pur kauza des keston. Nos nu kre ki lei di nasionalidadi ser vistu, sin, di forma profundada, di forma partisipada pa tudu kabuverdianus y di forma integrada…

[Entretanto, através da campainha o Sr. Presidente avisou o orador do término do seu tempo.]

… pa tudu kabuverdianus, pa evita ki kontisi kel ki kontisi na istória ki tudu nos nu ta rejista y ki tudu nos nu ten memoria y tudu kabuverdianu ten memoria y es kre fuji des keston.

Aplausos da Bancada do MPD.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, a Mesa ouviu o Sr. Deputado mandar uma ministra calar-se. Penso que da mesma forma que eu há dias disse que não devia mandar calar um Deputado, também penso que ninguém nesta Casa deve mandar calar. Não é nem respeitoso, nem parlamentar, mandar calar um membro do Governo. Basta ver, Srs. Deputados, a história que tivemos. Há muitas pessoas que não se lembram, mas está cá o Sr. Deputado Eurico Correia Monteiro que, por exemplo, foi uma das pessoas que foi para a prisão por causa do seu empenhamento pela liberdade. Ele sabe o quê que isso significa. Nós todos sabemos o quê que significa o período colonial, quando as autoridades mandavam os cidadãos calarem-se. Consideravam-se no direito de mandar calar o simples cidadão. Os administradores e os outros. Portanto, nós devemos ter um pouco de conhecimento da história para não levarmos esta situação… Sr. Deputado Mário Silva tinha pedido a palavra para uma reacção a uma alegada ofensa à honra e consideração. Faça o favor.

Sr. Deputado Mário Silva (MPD): - Prescindo, Sr. Presidente.

Sr. Presidente: - A Mesa agradece às Sras. e Srs. Deputados e também à Sra. Ministra pela contribuição dada para os nossos trabalhos e anuncia a Proposta de Resolução que fixa o subsídio mensal atribuído aos Membros da Comissão Nacional de Eleições …

[Devido à falha técnica, o início da Reunião Plenária não ficou gravada, tendo continuidade como se segue:]

Pedia ao Sr. Secretário da Mesa o favor de proceder à leitura da Proposta de Resolução que é do conhecimento dos Srs. Deputados.

Sr. Secretário da Mesa, Eduardo Monteiro: -

Proposta de Resolução

Tendo presente que o Código Eleitoral em vigor na sua nova redacção dada pela Lei nº 56/VII/2010 de 9 Março contempla no nº 4 do seu artigo 15º o direito dos membros da Comissão Nacional de Eleições a um subsídio mensal, estabelecendo ainda que o montante do referido subsídio deverá ser aprovado mediante resolução da Assembleia Nacional, considerando que, além do subsídio mensal a ser atribuído aos membros da CNE, o Código Eleitoral em vigor fornece ainda as bases legais necessárias ao estabelecimento de uma compensação a ser atribuída aos membros da Comissão Nacional de Eleições quando estiverem em exercício de funções a tempo inteiro e em exclusividade o que ocasionará provavelmente prejuízos profissionais encaixados pelos mesmos. Atendendo que, para o efeito de reposição de tal compensação, os membros nessas condições deverão exibir a declaração de rendimentos apresentada no ano anterior para efeito de tributação. Ponderando ainda, que conforme resulta da lei, o membro da CNE não deverá ser prejudicado pelo

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 facto de ser funcionário de Estado ou trabalhador por conta de outrem, devendo manter no quadro de origem, não somente os seus vencimentos, como também os demais proventos e regalias auferidos, a Assembleia Nacional aprova, no uso da faculdade conferida na alínea g) do artigo 169º da Constituição, a seguinte resolução:

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, a Mesa propõe que façamos um debate, como é habitual, em relação às resoluções. Vamos proceder, então, à leitura do artigo 1º para discussão simples.

Sr. Secretário da Mesa: -

Artigo 1º (Objecto)

A presente resolução visa regular o subsídio mensal atribuído aos membros da Comissão Nacional de Eleições previsto no nº 4 do artigo 15º do Código Eleitoral em vigor.

Sr. Presidente: - Vamos fazer o processo simples. Há alguma objecção? Não havendo, aprovado.

Sr. Secretário da Mesa: -

Artigo 2º (Subsídio)

1. O montante do subsídio atribuído aos membros da Comissão Nacional de Eleições previsto no artigo anterior é equivalente a 50% do vencimento do Presidente da Assembleia Nacional. 2. No período em que os membros da Comissão Nacional de Eleições exerçam a tempo inteiro e em regime de exclusividade as suas funções, o montante do subsídio previsto no artigo 1º será o equivalente a 80% do vencimento do Presidente da Assembleia Nacional.

Sr. Presidente: - Há alguma objecção? Não havendo, aprovado.

Sr. Secretário da Mesa: -

Artigo 3º (Membros funcionários)

Os membros da Comissão Nacional de Eleições que sejam funcionários do Estado ou dos municípios manterão os seus vencimentos no quadro de origem sem prejuízo da prioridade que deverão conceder aos trabalhos da Comissão Nacional de Eleições.

Sr. Presidente: - Há alguma objecção? Não há, aprovado.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Secretário da Mesa: -

Artigo 4º (Membros trabalhadores por conta de outrem)

1. Os membros da Comissão Nacional de Eleições que sejam trabalhadores por conta de outrem continuarão a receber os seus salários e demais proventos no seu quadro, beneficiando de todas as regalias prestadas pela entidade empregadora. 2. O Estado, através do orçamento da Comissão Nacional de Eleições, compensará a entidade empregadora pelas despesas provenientes dos seguintes encargos: a) Salários auferidos pelo trabalhador; b) Prestações complementares pagos aos trabalhadores nos termos da lei; c) Outras prestações e regalias auferidas normalmente pelo trabalhador.

Sr. Presidente: - Há alguma objecção? Não há, aprovado.

Sr. Secretário da Mesa: -

Artigo 5º (Compensação)

1. Pelos prejuízos profissionais decorrentes do exercício das suas funções, a tempo inteiro e em exclusividade, os membros da Comissão nacional de Eleições têm direito a uma compensação arbitrada, com base na declaração de rendimentos apresentada no ano anterior para efeito de tributação. 2. A compensação prevista no número anterior não poderá em caso algum ser, em cada mês, superior ao vencimento do Presidente da Assembleia Nacional.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Eu não consegui compreender a rácio deste artigo. Se os artigos anteriores prevêem compensação por perda de salários e outras condições, o quê que este último artigo afinal, prevê? Qual é a perda que quer prever este artigo? Que mais perdas pode haver? Indemnização civil? Acidente de trabalho? Isso não. O quê? Penso que parece haver algum excesso. Não estou a perceber o quê que se quer com isso. As perdas de salário vão ser compensadas. Em termos de faltas também. As entidades empregadoras que garantirem os salários serão compensadas pelo Estado. Outras prestações, tipo previdência, etc., etc., compensados.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado está a referir-se ao artigo 5º?

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Ao último artigo lido.

Sr. Presidente: - Este artigo diz o seguinte:

1. Pelos prejuízos profissionais decorrentes do exercício das suas funções a tempo inteiro e em exclusividade, os membros da Comissão Nacional de Eleições previstos no artigo 1º têm direito a uma compensação arbitrada com base na declaração de rendimentos apresentada no ano anterior para efeito de tributação. Trata-se de todos os prejuízos profissionais. E depois diz no nº 2 “ A compensação prevista no número anterior não poderá em caso algum ser, em cada mês, superior ao vencimento do Presidente da Assembleia Nacional”. É isso. O Sr. Deputado tem alguma proposta alternativa?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Presidente, explicando melhor: no penúltimo artigo não consigo ver que prejuízos é que poderiam ser. Se já estão garantidos a compensação de salário, todas as outras prestações, a contagem do tempo de serviço etc., que prejuízos são esses? Penso que aqui é um número redundante, tipo residual, mas cujo conteúdo em termos de viabilidade prática, em termos de realidade, não é nada. Compensação de tempo de serviço: não perde regalias por estar a exercer o cargo, garante os salários. Outros que trabalhavam por conta de outrem são garantidos os salários, os que não sejam permanentes. Os permanentes têm um salário já, um vencimento. Os não permanentes têm outras compensações sociais. Que prejuízos mais? Atrasos na carreira? Não, porque é garantido. Se fosse prejuízo dessa natureza como carreira, isso não é compensado em termos de vencimento, obviamente. Levanto esta questão para a própria ponderação do proponente ou dos proponentes.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado David Hopffer Almada.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Eu, independentemente do juízo que eu possa fazer do conteúdo do artigo, penso que este artigo nº 5º está a prever aquilo que não está ainda previsto em nenhum dos outros artigos. Deve estar a querer referir-se expressamente ou especificamente aos profissionais liberais. Penso que é a esses a que se está a referir. Que não é nem o funcionário do Estado ou do município, não é um trabalhador por conta de outrem, mas pode eventualmente ter prejuízos porque admitamos: um advogado ou um médico, um arquitecto etc., que seja requisitado para a Comissão Nacional de Eleições a tempo inteiro, ele pode dizer que tem prejuízos. Eu até já ouvi argumento desse tipo, que pode ter prejuízos pela ocupação do seu tempo naquele período sobretudo eleitoral. Que ele é obrigado a prestar serviço a tempo inteiro. Então, cria-se esse mecanismo para compensação. Portanto, independentemente do juízo que eu faça sobre o que se consagra, o que se quer dizer, parece-me que é com referência aos profissionais liberais.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos.

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Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (PAICV): - Fiz questão de ouvir bem porque há muito barulho na Sala, a intervenção do Deputado Hopffer Almada e, com o devido respeito pelo seu entendimento, compreendo a preocupação se quisermos chamar de preocupação residual que é o seguinte: como pode aparecer qualquer coisa que talvez não tenhamos previsto, em tudo, é melhor metermos chamada cláusula Sá, para qualquer outra eventualidade que possa vir a aparecer. Porque para os profissionais liberais, penso que estariam cobertos nas disposições anteriores. De todo o modo, penso que se ficar qualquer coisa a mais, é caso para dizer é melhor sobejar do que faltar. Pronto, portanto não faço questão. Se é nessa perspectiva de sobejar, melhor do que faltar que fique, mas penso que não era necessário; para não criarmos antecedentes ou situações viciosas, do ponto de vista jurídico, de estar a garantir demais compensações, porque compensações são dinheiro do Estado.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado não faz questão?

Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (PAICV): - Com essas observações, não faço questão.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado José Manuel Andrade.

Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - É uma questão de lógica sistemática. Aqui no artigo 1º estabelece-se o objecto. No artigo 2º estabelece-se o subsídio a todos os membros da Comissão Nacional de Eleições. A partir daqui tratam-se situações especiais: primeiro – membros que sejam funcionários, no artigo 3º. No artigo 4º - membros trabalhadores por conta de outrem. Entendo que o artigo 5º deve ter como título membros profissionais liberais, para ficar mais claro e faz mais lógica. O conteúdo respeita precisamente aos profissionais liberais porque todas as outras profissões estão cobertas pelos artigos precedentes. É uma questão sistemática e lógica do articulado. Uma questão de título. Em vez de compensação sugiro que fique: “membros profissionais liberais”. É uma proposta que faço.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado David Almada.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Não estou de acordo com essa última interpretação do meu colega de bancada, o Sr. Deputado José Manuel Andrade. De facto, dei o exemplo, portanto citei o caso dos profissionais liberais a título exemplificativo. Mas não são só esses, é todo aquele que trabalha por conta própria. Os outros números falam dos funcionários, dos trabalhadores por conta de outrem, este quer referir-se, pode ser um industrial, um comerciante ou qualquer outra actividade, por isso é que se exige a declaração de rendimentos. É alguém que tem rendimentos, que paga impostos e, portanto, tem uma declaração para comprovar que ele no passado ganhou tal e por isso tem direito a uma compensação do mesmo valor, desde que não ultrapasse o vencimento do Presidente da Assembleia, no ano seguinte.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Portanto, penso que deve ficar como está aqui. É mais abrangente.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Manuel faz questão do seu título?

Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Não, não faço questão. Penso que já entendemos a quê que se refere. É a todos aqueles profissionais que, não sendo funcionários, nem trabalhadores por conta de outrem, por exclusão de partes, cabe aqui. O meu entendimento é esse. Fica registado na acta que o entendimento é esse. Por exclusão de partes, qualquer pessoa que não sendo funcionário, nem trabalhador por conta de outrem, portanto, cabe aqui neste artigo. Fica registado na acta, não faço questão.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado António Pascoal Santos.

Sr. Deputado António Pascoal dos Santos (PAICV): - Na verdade, eu disse que não fazia questão, mas as últimas intervenções obrigam-me a requestionar o seguinte: este artigo é bastante claro. Não fala aqui de profissionais liberais, nem outros trabalhadores por conta própria. Estamos aqui a imaginar, sem qualquer sustento, suporte na letra da lei. A interpretação pode ser lata, extensiva, pode ser muitas coisas. Agora, o que tem de ter é o mínimo de suporte na letra da lei. Aqui está dito claramente. E eu solicito a atenção para isto: “pelos prejuízos profissionais decorrentes do exercício das suas funções a tempo inteiro e em exclusividade, os membros da Comissão Nacional de Eleições…”, não distingue. Que o intérprete não distinga onde o legislador não pretende distinguir. “Os membros da Comissão Nacional de Eleições”: não diz se é por conta de outrem, não diz se é funcionário público, ou se é profissional liberal. No entanto, que os meus colegas Deputados acham que se deveria dizer, isso é outra questão. Isso é uma proposta de alteração. Talvez devesse dizer se fosse referido a trabalhadores por conta própria, profissionais liberais ou não. Aí já faria algum sentido, que é uma situação específica com tratamento específico, mas aqui são os membros da Comissão Nacional de Eleições. Não há nenhum suporte, nadica de nada como se costuma dizer, que permite interpretar que quer dizer os membros da Comissão Nacional de Eleições que exerçam trabalho por conta própria. Veja, tanta coisa. Onde é que está isso? Onde é que se permite inferir isso? Em nenhum lugar. Portanto, eu penso que, ou há uma proposta de modificação disso realmente, para contemplar outra categoria, outras situações de membros da Comissão Nacional de Eleições que não aquelas, ou isto está a mais.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, tem alguma proposta concreta.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Presidente, digo que isto está a mais. Se os colegas que fizeram a observação tiverem propostas, que as façam. A minha proposta é que isso está a mais.

Sr. Presidente: - Então propõe a eliminação do artigo. É isso?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Eu proponho, sim.

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Sr. Presidente: - Vamos passar à votação, porque, senão, não saímos daqui hoje. Tem uma proposta de alteração Sr. Deputado? Faça o favor.

Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Vou fazer um enquadramento. Não concordo que isto esteja a mais porque o diploma pretende o seguinte: garantir compensação aos membros da Comissão Nacional de Eleições. Primeiro diz que todos têm direito ao subsídio que é de 50% do vencimento do Presidente da Assembleia Nacional. Depois diz, ao mesmo tempo, que os membros funcionários mantêm os seus vencimentos, para lá do subsídio de 50% do vencimento… Também diz “os membros que não são funcionários”, mas… porque funcionários tem que ser o trabalhador do Estado. Aqui são os trabalhadores por conta de outrem que não sejam do Estado, membros trabalhadores por conta de outrem. No artigo seguinte, mantém também os seus vencimentos e as regalias. Nós temos outras situações por exclusão de partes. Então poderíamos pôr aqui, como decisão política, é decisão legislativa mesmo, no sentido de a compensação caber apenas às outras situações, ou seja, não previstas nos artigos anteriores, designadamente artigo 3º e 4º. Para finalizar, proponho o seguinte: “pelos prejuízos profissionais decorrentes do exercício das suas funções, a membros da Comissão Nacional de Eleições não previstas nos artigos 3º e 4º que exerçam a tempo inteiro e em exclusividade têm direito a uma compensação…” segue o texto seguinte. Não está a mais, porque, no caso de um comerciante, por exemplo, um carpinteiro se costuma ter um rendimento de 450 contos e porque está lá a tempo inteiro a exercer, não faz esse exercício e perde, tem direito a compensação. Um advogado, um economista, um contabilista que tem o exercício normal, aí não está abrangido pelas outras situações, em termos do seu rendimento de origem. A situação concreta é essa. É por exclusão de partes. Portanto, proponho que seja uma decisão concreta neste sentido e deixar a comissão de redacção concluir a redacção desse artigo. É esta a proposta que faço.

Sr. Presidente: - Portanto ele propõe o seguinte: “pelos prejuízos profissionais decorrentes do exercício das suas funções a tempo inteiro e em exclusividade, os membros da Comissão Nacional de Eleições não abrangidos pelos artigos 3º e 4º, têm direito a uma compensação”. Tem a palavra o Sr. Deputado David Almada.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Entendo que talvez devêssemos deixar o artigo como está, porque vamos ler isto: o que o legislador aqui está a pretender dizer é o seguinte: os membros da Comissão Nacional de Eleições, pelos prejuízos, têm direito a uma compensação arbitrada com base na declaração de rendimentos apresentada no ano anterior para efeito de tributação, pelos prejuízos profissionais decorrentes do exercício das suas funções a tempo inteiro e em exclusividade. Quer dizer, qualquer membro da Comissão Nacional de Eleições que fez o seu ofício, o seu escritório, o seu consultório, a sua loja e se entrega a tempo inteiro na Comissão Nacional de Eleições como membro para trabalhar em exclusivo, vai dizer na Comissão Nacional de Eleições, ele tem uma

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 remuneração tal que resulta num prejuízo em relação àquilo que ele costumava ganhar. E então, para provar aquilo que ele costumava ganhar ou que ganhou no ano anterior, ele tem que apresentar a declaração de rendimentos. Essa declaração de rendimentos vai mostrar que ele que está a ganhar 100 contos está a sofrer um prejuízo de 150 porque ganhava normalmente 250, para ele ter essa compensação. Mas o legislador ao mesmo tempo põe o limite. É essa a compensação mesmo que tivesse que ser de 150, não pode ser se esse 150 corresponder a vencimento superior ao do Presidente da Assembleia. Eu acho que é isso que se está a dizer aqui de forma clara. Eu ia sugerir que deixássemos a formulação como está, porque cada formulação traz outras complicações.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado José Manuel Andrade faz questão de manter a sua proposta.

Sr. Deputado José Manuel Andrade (PAICV): - Não faço questão. Isto aqui de facto não está a mais. Esse que é o ponto assente. Quanto ao resto, penso que deve manter-se o texto assim.

Sr. Presidente: - Tem objecção Sr. Deputado?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sim.

Sr. Presidente: - E tem proposta?

[Não se ouviu a resposta do referido Deputado.]

Faça o favor.

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - A proposta que o Deputado Hopffer Almada fez… estaremos todos de acordo. Agora não se pode, sob pena de cairmos em situação de enriquecimento sem causa, estarmos a repetir normas dizendo “é todos os membros da Comissão Nacional”. É essa a minha objecção. Não pode ser todos, são profissionais liberais ou por conta própria ou então que se diga isso claramente…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado qual é a sua proposta?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - A minha proposta é então que se diga: neste artigo 5º: “os membros da Comissão Nacional de Eleições” etc. etc., “que exerçam a tempo inteiro e que exerciam ou que sejam profissionais liberais ou outros trabalhadores por conta própria” e assim continuava o texto. Agora assim você delimitou a situação. Senão você está no artigo 2º, 3º, a repetir parcialmente e a criar situações de bastante ambiguidade…

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, já compreendemos o seu raciocínio e agora queríamos era ter o texto completo para podermos passar à verificação.

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Sr. Presidente, eu já propus o texto.

Sr. Presidente: - Sim, mas não consegui captar tudo. Só captei os membros da Comissão…

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - Vou seguir o texto que está lá: “Pelos prejuízos profissionais decorrentes do exercício das suas funções a tempo inteiro e em exclusividade, os membros da Comissão Nacional de Eleições, que sejam profissionais liberais ou outros trabalhadores que exerçam funções por conta própria, “… e o resto do texto continua como está. É só fazer a intercalação porque essa intercalação delimita e qualifica.

Sr. Presidente: - Então vamos passar à votação da proposta do Sr. Deputado António Pascoal Santos. Quem vota a favor? Quem vota contra? Quem se abstêm? A proposta do Sr. Deputado não passou. Obteve 15 votos a favor, nenhum contra e 28 abstenções. Vamos passar à votação da proposta tal qual ela veio. Quem vota a favor? Quem vota contra? Srs. Deputados, em processo de votação não se deve abrir as portas. Os Srs. Deputados devem saber isso também. Quem se abstêm? O artigo 5º foi aprovado com 31 votos a favor, 1 voto contra e 17 abstenções. Artigo 6º. Há alguma objecção? O Sr. Secretário da Mesa vai ler o artigo.

Sr. Secretário da Mesa, Eduardo Monteiro: -

Artigo 6º (Revogação)

É revogada a Resolução 132/V/99 de 22 de Novembro.

Sr. Presidente: - Há alguma objecção? Não havendo aprovado. Artigo seguinte.

Sr. Secretário da Mesa: -

Artigo 7º (Entrada em vigor)

A presente resolução entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação no Boletim Oficial e os seus efeitos retroagem a 1 de Janeiro de 2010.

Sr. Presidente: - Há alguma objecção? Não há. Aprovado. Srs. Deputados, temos o ponto V – Eleição dos Membros da Comissão Parlamentar de Fiscalização dos Serviços de Informação da República. Foram indicados pelos grupos parlamentares os Deputados Filomena de Fátima

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Martins, Mário Ramos Pereira Silva e José Maria Vaz de Pina. Há um boletim de voto que foi distribuído a todos os Srs. Deputados. Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Presidente, nessa matéria, nós gostaríamos de fazer uma proposta de inclusão de um Deputado da UCID nesta Comissão. Já o tínhamos feito uma vez e gostaríamos de voltar a fazê-lo, porque entendemos que, pelas razões atrás apresentadas, na altura, que faz sentido estarmos presentes. Não vou maçar muito nesta matéria.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado só para dizer que o número de membros dessa Comissão estabelecido na lei é de três.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Está bem, sabemos que é de três. Não diz que é grupo parlamentar, diz que é Deputado.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, a Mesa obviamente não põe em causa o direito de nenhum Deputado. No entanto, temos aqui uma lista plurinominal, completa e nominativa, de acordo com o número estabelecido na lei. Não chegou à Mesa mais nenhuma lista plurinominal, completa e nominativa. Tem a palavra o Sr. Deputado António Monteiro.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Presidente, nós estamos a propor o nome do Deputado Lídio da Conceição Silva, para constar dessa comissão. Não vamos propor outros nomes porque não é da competência neste momento. Queremos que o Dr. Lídio faça parte. É uma proposta.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, se eu entendo bem tem de haver uma proposta completa. Sr. Deputado António Pascoal Santos deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado António Pascoal Santos (MPD): - É para pedir um esclarecimento ao meu colega Deputado António Monteiro. É que sem dúvida a lista só pode ser completa e nominativa. Ele tem todo o direito de propor a inclusão de um Deputado da UCID, no entanto, aceitar ou não é outra questão. Mais, se ele propõe um, tem de propor quem sai. Não pode propor uma adição, em vez de três ficariam quatro. Tem de ser uma substituição na lista, um tirar e pôr. Ele tem todo o direito de propor…

[Um Deputado não identificado disse algo imperceptível.]

Colega Deputado não questiono isso, mas a sua proposta tem de ser levada até às últimas consequências.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, é o que temos à mesa. Perante a Mesa é esse processo instruído. Qualquer dos Srs. Deputados pode propor

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 três nomes. No entanto, temos de ver a questão do ponto de vista da prática e da maioria que é requerida para não termos actos, provavelmente inúteis. Sr. Deputado Monteiro tem a palavra.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - É claro que não posso meter a foice em ceara alheia. Então vou propor que a lista a ser apresentada tenha um nome de Deputado da UCID, um de Deputados do MPD e um de Deputados do PAICV. São três partidos, três elementos.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, as propostas têm de ser identificáveis, para a Mesa recebê-las, elas têm de ser concretas. A sua proposta, Sr. Deputado, só tem um nome concreto, com um Deputado. Sr. Deputado, temos de dar continuidade aos nossos trabalhos. Temos esta proposta que está de acordo com o requerido em termos formais, que foi apresentada por escrito à Mesa que a aceitou, de modo que vamos passar à votação.

[Com o microfone fechado, o Sr. Deputado António Monteiro (UCID) disse: “Se a questão é uma proposta nominal, eu faço”.]

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, normalmente as candidaturas são instruídas com os elementos de prova de ilegibilidade dos candidatos, mas devem ser apresentadas à Mesa antes, normalmente. Devem ser apresentadas com uma certa formalidade, até para permitir que haja um debate para se conseguir a maioria requerida. Compreendo a sua posição, mas não posso, neste momento, fazer nada. Portanto, vamos passar à votação. Os Srs. Deputados têm um boletim de voto com “sim”, “não” e “abstenção”. O Sr. Secretário vai proceder à chamada, a urna está aqui perto.

[O Sr. Secretário da Mesa, Eduardo Monteiro procede à chamada dos Srs. Deputados à urna para votação dos membros da Comissão Parlamentar de Fiscalização dos Serviços de Informação da República. ]

Afonso Silva Mendes da Fonseca Agostinho António Lopes

[Entretanto, durante a votação nominal parte da gravação não ficou gravada, tendo continuidade como se segue.]

Sr. Presidente: - Foram apurados os seguintes resultados: 53 votos a favor, 5 votos contrários e nenhuma abstenção. Os senhores candidatos a membros da Comissão de Fiscalização dos Serviços de Informação da República foram eleitos, uma vez que obtiveram a maioria requerida que era de 39. A Mesa felicita às pessoas pela eleição e deseja um bom trabalho, em nome do Parlamento cabo-verdiano. Vamos passar ao ponto seguinte: Designação de membros das comissões de recenseamento eleitoral no estrangeiro. Sr. Deputado António Monteiro deseja a palavra para que efeito?

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Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Presidente, sobre o processo que vamos agora ter votação, sobre as comissões de recenseamento eleitoral.

Sr. Presidente: - Sim.

Sr. Deputado António Monteiro (UCID): - Sr. Presidente, sobre esta matéria também sentimos que a UCID foi, à semelhança do primeiro acto, excluída do processo. Como democratas que somos, gostaríamos que essas situações não voltassem a acontecer no Parlamento, porque a UCID, como partido nascido na diáspora cabo-verdiana desde 1978, sempre quis participar e, infelizmente, não nos foi dada esta possibilidade. De forma que iremos aceitar os resultados sem problemas de maior, mas não iremos ficar parados. Iremos movimentar lá onde for possível, porque entendemos que isso é um acto não muito democrático e que lesa os interesses dos cidadãos cabo-verdianos de uma forma geral, porque nós gostaríamos de estar na Comissão de Recenseamento Eleitoral e não nos é dada esta oportunidade. Esta declaração fizemo-la para poder constar da Acta.

Sr. Presidente: - Pedia então ao Sr. Ministro o favor de fazer a apresentação da proposta do Governo. Portanto, vai-se proceder à votação, Srs. Deputados dos membros; não é uma resolução. Sr. Deputado Agostinho Lopes deseja a palavra para que efeito?

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Sr. Presidente é uma questão prévia.

Sr. Presidente: - Faça o favor.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - É que aparece uma resolução única para vinte CRE. É um assunto que ficou pendente nas negociações que tivemos com o PAICV e o nosso entendimento é que não se pode ter uma única resolução para todas essas CRE, no pressuposto de que se ia votar a resolução. Se se vai votar as CRE, eu retiro a objecção, mas se se vai fazer uma única votação só para resolução para todas as CRE, eu levanto a objecção de que legalmente não nos é permitido e tínhamos essa objecção, levantamo-la ao Sr. Ministro e ao Grupo Parlamentar do PAICV nas negociações e não chegamos a ter uma resposta. O nosso entendimento é que cada CRE é um órgão autónomo e deve ser objecto de uma nomeação autónoma.

Sr. Presidente: - Sra. Deputada Filomena Martins deseja a palavra para que efeito?

Sra. Deputada Filomena Martins (PAICV): - Para dar o esclarecimento ao Sr. Deputado Agostinho Lopes.

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Sr. Presidente: - Sim, que é uma questão prévia que ele está a colocar quanto ao modo de votação. Se é uma votação global para todos e depois o resultado será traduzido numa resolução! Sr. Deputado Agostinho Lopes, só para ver se a Mesa está a entender o seu raciocínio. Tratando-se apenas de votação, o Sr. Deputado não põe objecção. Se se tratar da votação da resolução, o Sr. Deputado pediria que fosse uma resolução para cada comissão.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Sr. Presidente a primeira coisa é saber se a gente vai votar a resolução ou se vai votar a composição das CRE.

Sr. Presidente: - O acto que vamos fazer é eleitoral. Vai se eleger e normalmente esse acto depois assume uma forma de resolução. Será publicado no Boletim Oficial como foram eleitos para tal cargo fulano, fulano, fulano.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Então pressuponho que se vai votar cada CRE em separado, porque cada um é um órgão autónomo para cada país, porque inclusive temos propostas de alteração a fazer em várias CRE que estão aqui, de nomes, inclusive.

Sr. Presidente: - Primeiro, temos que adoptar um procedimento e se há dúvidas em relação ao procedimento, penso que podia ser mais prático nós deferirmos esta questão a uma comissão que pudesse depois propor ao Plenário uma metodologia, porque, senão, vamos perder muito tempo. Srs. Deputados, se formos fazer vinte votações aqui, fica complicado. O importante é que os sujeitos parlamentares cheguem a entendimento e julgo que tenham feito negociações. Queremos interromper, Srs. Deputados, por cinco minutos, para que uma comissão possa propor ao Plenário… a comissão que eu vejo aqui seria a Comissão de Assuntos Jurídicos. Penso que é um modus operandi que pode poupar ao Plenário uma discussão longa e sem se chegar eventualmente a entendimento, sem prejuízo dos grupos parlamentares fazerem as suas articulações. Vou passar a palavra a um representante de cada grupo parlamentar para se pronunciarem sobre isso. Tem a palavra a Sra. Deputada Filomena Martins.

Sra. Deputada Filomena Martins (PAICV): - Sendo certo que o PAICV desde o início entendeu que concordaria com qualquer um dos modos de votação, também disse que a votação global seria efectivamente muito mais prática, mais racional, uma vez que havia determinados consensos e entendimentos. Dito isto, na última reunião de entendimento entre os dois grupos parlamentares, ficou o grupo Parlamentar do MPD de ver esta questão do modo de votação no seu grupo parlamentar e depois dizer-nos, porque efectivamente o Sr. Deputado Agostinho Lopes levantou essa questão de ter dúvidas em relação à lei, se se poderia ou não votar. Ficaram de, no grupo, ver esta questão e dizer-nos alguma coisa. Hoje de manhã, eu perguntei ao Sr. Domingos de Pina e à Sra. Deputada Filomena Delgado e como havia ainda

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 essa dúvida, eu fui à Mesa e perguntei à Mesa como é que se poderia proceder. Porque eles tinham dúvidas também se poderia fazer uma votação única ou não e o entendimento da Mesa era que se faria uma só apresentação, com os nomes todos e far-se-ia um acto eleitoral. Dirige-me a esses dois Deputados, à Sra. Filomena Delgado e ao Sr. Deputado Domingos e dei-lhes esta resposta e concordaram. Portanto, se há alteração não temos nada contra. Queremos efectivamente que se vote. O entendimento no período da manhã foi esse.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes. Está a falar em nome da bancada?

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - Não sei a que acordo a que se refere a Sra. Deputada Filomena Martins. No entanto o que aconteceu na reunião… a não ser se tem algum acordo agora que fez com um ou dois Deputados do MPD, mas espero que depois os Deputados em causa possam justificar. O que ficámos lá em cima é que o PAICV disse em alto e bom som e a Deputada Filomena acabou por reiterar isso, é que não fazia questão e dissemos que fazíamos questão e dissemos que fazíamos questão porque era uma questão legal. Ficou-se… eu não fiquei com o sentimento de que nós deveríamos dar resposta. Ficámos com o sentimento de que Bancada do PAICV, os Deputados do PAICV é que deviam dar-nos a resposta, porque eles disseram que era tanto faz. Nós dissemos que fazíamos questão que fosse CRE a CRE, porque cada CRE é um órgão específico que vai actuar num país diferente e dissemos que provavelmente teríamos algumas alterações a fazer e acabei agora de dizer a mesma coisa. Portanto, não faz sentido que façamos a votação de forma colectiva. Cada um desses órgãos é um órgão diferente. Não temos um conjunto de órgãos aqui que podem ser votados ao mesmo tempo. Cada órgão, cada CRE é uma CRE e vai actuar num país diferente, sob condições diferentes. Não creio que haja oportunidade legal para se fazer isso.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado da UCID deseja intervir? Srs. Deputados, eu tenho de suspender a sessão por dez minutos. Os Srs. Deputados procurem uma metodologia que seja aceite por todos.

[Entretanto, a sessão foi suspensa às 21 horas e 45 minutos e retomada às 22 horas e 07 minutos.]

[Após a suspensão.]

Sr. Presidente: - Vamos dar continuidade aos nossos trabalhos. Todos os Deputados têm um boletim de voto à frente? Portanto há vinte comissões de recenseamento no estrangeiro. Srs. Deputados estão a pedir que se faça a votação uma a uma. Vamos fazer vinte votações, se é isso que os Srs. Deputados querem, uma a uma. Para não perdermos tempo, já há uma proposta. Já mandei fazer mais dezanove boletins e penso que podemos avançar.

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Pedia ao Sr. Ministro o favor de apresentar a primeira proposta e é sobre esta que se vai votar no início. Por favor, Sr. Ministro.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Sr. Presidente vamos votar… pedia menos barulho.

Sr. Presidente: - Vamos votar a proposta que é apresentada pelo Governo, depois de ter feito as consultas no quadro do que a legislação prevê, designadamente o Código Eleitoral.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Nos termos do Código Eleitoral devo apresentar os quatro cidadãos que integrarão as comissões de recenseamento e mais os dois suplentes, terei de proceder assim. Para a Alemanha, proposta do PAICV, Graciana Amaral Soares, Lucete Maximiano Fonseca Soares; do MPD, José Benvindo Tavares Silva Moreira, Carlos Alberto Pinheiro; suplente do PAICV, Lilia Mendes e suplente do MPD, Jacinto Mendes Semedo;

Sr. Presidente: - Só um esclarecimento. Em relação à presidência, decorre da lei, não é?

Sr. Ministro da Administração Interna: - Decorre da lei.

Sr. Presidente: - Os Srs. Deputados estão de acordo com a metodologia? Tem a palavra o Sr. Deputado Agostinho Lopes.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - A única coisa aqui nas listas todas, isto é válido para esta CRE e para as outras é a ordenação. Penso que pelo método de representação que o Parlamento impõe, devia ser o primeiro nome do PAICV, o segundo do MPD, o terceiro do PAICV e o quarto do MPD.

Sr. Presidente: - Isso faz-se posteriormente, está bem. Estou a perguntar se é indispensável pôr-se quem é que indicou, PAICV ou MPD. Não é necessário. Como?

[Com o microfone fechado, alguns Deputados do MPD disseram: “É necessário”.]

Neste momento, Srs. Deputados, eu não tenho o Código Eleitoral neste momento comigo, mas tenho dúvidas realmente se é, porque essas pessoas não estão aqui a representar os partidos. Sim, podem ter sido indicados. Reparem que…

[Com o microfone fechado, um Deputado não identificado ofereceu o Código ao Sr. Presidente.]

Tem o Código aí? Pode trazer-me por favor?

[Com o microfone fechado, o Sr. Ministro da Administração interna disse: “o nº 3 do artigo 78º”.]

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Diz o seguinte: “Nos períodos eleitorais, a entidade recenseadora de cada unidade geográfica de recenseamento no estrangeiro é a respectiva comissão de recenseamento composta por um funcionário consular de carreira, ou quando não exista por um funcionário diplomático, com excepção do embaixador, que preside, e por mais quatro cidadãos idóneos. Haverá também dois suplentes por cada comissão de recenseamento. Os cidadãos referidos na parte final do nº 1 e no número antecedente são eleitos pela Assembleia Nacional por maioria de dois terços dos Deputados, sob proposta do Governo, procedido de audição dos partidos políticos e assegurando o pluralismo político com expressão parlamentar”. É isso, Srs. Deputados. É uma questão de apenas se assegurar o pluralismo político com expressão parlamentar. Isso não quer dizer que as pessoas têm de ser etiquetadas. Tem a palavra o Sr. Deputado David Almada.

Sr. Deputado David Hopffer Almada (PAICV): - Era para ir no mesmo sentido. Também estranhei quando vi a lista com a etiqueta do partido à frente, porque a rácio do legislador aqui é precisamente exigir que haja audição dos partidos para poder garantir o pluralismo político. Não é que tenha que ser… não vão em representação dos partidos políticos; aliás, não estão como representantes dos partidos políticos. Eu acho que se devia retirar a designação, até porque pode limitar um bocado o exercício a função.

Sr. Presidente: - Tem a palavra o Sr. Ministro.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Eu não tenho nada contra. Acho até que a comissão de redacção poderia ordenar isso, mas a nossa proposta, partindo do Governo, teria que chegar ao Parlamento com alguma indicação; porque, senão, misturaríamos os nomes e não saberíamos nunca quem indicou quem. Portanto este é o procedimento para o processo de votação ser mais ou menos claro. Agora a forma de publicação final da lista, isso é outra coisa que pode ficar a cargo da Comissão de Redacção.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado, eu tenho uma pergunta: só o PAICV e o MPD pronunciaram sobre os nomes? E a UCID? Sr. Ministro.

Sr. Ministro da Administração Interna: - Tivemos encontro conjunto nas primeiras oportunidades de discussão e consensualização. Explicámos também à UCID do conteúdo da lei e daquilo que deveríamos fazer em termos de procedimentos para a eleição dos membros das comissões de recenseamento. Precisamente por isso é que reagiram já na sessão anterior e agora também; o Presidente da UCID reagiu em relação a essa questão precisamente porque foi contactado, tanto em termos oficiais, em termos de encontro personalizado, mas também em termos de encontro personalizado. Tivemos encontro aqui no Parlamento, ouvindo todos os partidos políticos.

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Sr. Presidente: - Bom, então está tudo esclarecido. Portanto, retirar-se- á a indicação das etiquetas e vamos passar à votação da CRE da Alemanha. É obvio que o Presidente decorre da lei, não é efectivamente votado.

Sr. Secretário da Mesa: - [Procedendo à chamada]

[Entretanto, consoante iam sendo chamados, os Srs. Deputados dirigiram-se à urna e nela introduziram os seus boletins de voto.]

[Depois da votação, contabilizou-se os votos dos Srs. Deputados, em voz alta, tendo, de seguida, feito a leitura dos mesmos, um a um, em seguintes termos: “sim, e (em) branco.”]

Sr. Presidente: - A proposta de constituição da CRE da Alemanha foi aprovada com 49 votos a favor e uma abstenção. Srs. Deputados, se, por cada votação, levarmos 20 minutos, vamos precisar de cerca de seis horas: aqui ficaríamos até de manhã. Então a Mesa faz uma proposta que garanta a individualidade do voto, portanto a votação em cada CRE, e que seja mais rápida e prática. A proposta é a seguinte: que os Deputados tenham 19 boletins de voto e ponham o nome de cada CRE no boletim de votos e votam de uma vez em todos os 19, assim ganha-se tempo. Depois vai dar um pouco mais de trabalho no apuramento.

Alguns murmurios dos Deputados

Não, é só o nome da CRE, do país. A Mesa está a fazer esta proposta com a simples vontade de facilitar, se houver consenso dos Deputados. É apenas uma proposta. Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Nós temos duas saídas: ou votamos as comissões globalmente, ou votamos individualmente. Se votamos as comissões individualmente temos que votar cada comissão, fazer o apuramento, depois passar para a comissão seguinte. Não há outra forma.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Agostinho Lopes.

Sr. Deputado Agostinho Lopes (MPD): - O Grupo Parlamentar do MPD acha que, com a proposta que fez o Sr. Presidente, que poderemos garantir a autonomização dos órgãos, porque cada um desses órgãos é externo ao Parlamento, e, se isso for aceite, a nós só nos restava introduzir as alterações de alguns nomes de algumas CRE que temos aqui e que são propostas de alteração. Parece-nos que a preocupação inicial que nós tínhamos levantado fica salvaguardada com a proposta que o Sr. Presidente faz de votar de uma só vez mais 19 votos.

Sr. Presidente: - Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - A saída que poderia ser razoável é apresentarem as propostas de alterações que têm a fazer para cada

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Reunião Plenária de 28 de Abril de 2010 comissão e votarmos globalmente. Porque se a votação for individual não aceitamos que se façam votações globais para fazer apuramento no fim. Tem que ser feito CRE por CRE e, depois de cada eleição, fazer-se o apuramento para termos a ideia clara de como se procedeu a eleição. Ou fazemos globalmente, fazendo todas as propostas de alteração que há ou votamos uma CRE de cada vez. Se é uma CRE de cada vez, votamos uma CRE fazemos o apuramento e passamos para outra CRE.

Sr. Presidente: - Srs. Deputados, há uma seguinte questão. Está-se a adoptar um processo que deixa algo a desejar. Eu penso que as pessoas também têm limites de força e de racionalidade, pelo que propunha que nós marcássemos um tempo para terminarmos os nossos trabalhos hoje e retomava-se na Segunda ou Terça-feira.

Alguns murmúrios dos Deputados

Na Segunda-feira. Alguma objecção? Sr. Deputado Rui Semedo.

Sr. Deputado Rui Semedo (PAICV): - Acontece que muitos Deputados, em decorrência da marcação do fim da sessão para hoje, assumiram outros compromissos para Segunda ou Terça e para a próxima semana. É claro que o Parlamento funciona em Plenária e os Deputados sabem que têm a obrigação de participar na sessão, mas, em decorrência da fixação da data para o término da sessão, foram marcados um conjunto de compromissos, que muitos envolvem terceiros e colocariam os Deputados numa situação meio complicada. De maneira que seria difícil para nós a sessão na Segunda ou Terça- feira. Eu considero que deveríamos fazer os possíveis para avançar o máximo que pudermos nesta matéria.

Sr. Presidente: - Eu compreendo muito, Srs. Deputados, mas eu tenho limite de capacidade também. Estou a dirigir esta sessão há muito tempo e também tenho compromissos. É por isso que estava a propor uma fórmula que eu creio ser razoável e o resto ficaria para depois. Já têm os boletins de voto? Podem distribuir a primeira leva de boletins de voto para Angola. Fernando Elísio Freire.

[Breve pausa]

Srs. Deputados estão de acordo para ser amanhã à hora normal, às 9 horas. O Sr. Vice-Presidente Jorge Santos assumirá a direcção do Parlamento. Está encerrada a nossa sessão de hoje. Até amanhã.

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Lista de intervenientes

Membros da Mesa

Sr. Presidente, Aristides Raimundo Lima: 314-318, 328, 339-340, 349, 351, 354-355, 368-369, 382-384, 386-387, 392-396, 398-401, 410, 412, 414-419. Sr. Secretário da Mesa, Eduardo Monteiro: 402-404, 410.

Grupo Parlamentar do PAICV (Partido Africano para a Independência de Cabo Verde)

Srs. Deputados:

Alberto Alves: 369-370. David Hopffer de Cordeiro Almada: 359-360, 362-363, 396, 405-406, 408-409, 417- 418. Emanuel Pereira Garcia Almeida: 357, 364-365. Filomena de Fátima Ribeiro Vieira Martins: 378-379, 381, 414-415. Ivete Helena Ramos Delgado Silves Ferreira: 365-366. José Manuel Gomes Andrade: 397, 406-409. José Maria Vaz de Pina: 345-346. Júlio Lopes Correia: 348. Justiniano Jorge Lopes de Sena: 343-344. Justino Gomes Miranda: 323, 334-335. Rui Mendes Semedo: 312, 315-317, 384, 397, 399-400, 418-419. Vanusa Tatiana Fernandes Cardoso: 320-312, 332-333.

Grupo Parlamentar do MPD (Movimento para Democracia) Srs. Deputados:

Agostinho António Lopes: 385, 391-392, 413-416, 418. António Pascoal Silva dos Santos: 310-311, 388-390, 396, 398, 404-407, 409-411. Fernando Elísio Leboucher Freire de Andrade: 358-359, 361-362, 384-385. Francisco António Dias: 303-305, 313-314. Humberto André Cardoso Duarte: 383, 385-386. Joana Gomes Rosa: 344, 346-347, 353. Jorge Pedro Maurício dos Santos: 306-308. José Luís Lima Santos: 330-331, 334. Mário Gomes Fernandes: 380-381. Mário Ramos Pereira Silva: 394-395, 399.

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Miguel da Cruz Sousa: 370-372, 374-375, 388, 401. Moisés Gomes Monteiro: 327-328, 331. Nelson do Rosário Brito: 320, 322-323, 325, 326-327, 329-332, 338-339.

UCID - União Caboverdeana Independente e Democrática

Sr. Deputado:

António Delgado Monteiro: 311, 314, 336, 348, 363-364, 376, 382, 411-413.

Membros do Governo

Sra. Ministra da Juventude, Presidência do Conselho de Ministros e dos Assuntos Parlamentares, Janira Hopffer Almada: 324-326, 328-329. Sr. Ministro-Adjunto do Primeiro-Ministro e das Comunidades Emigradas; Sidónio Monteiro: 318-324, 337-339. Sr. Ministro da Administração Interna; Lívio Fernandes Lopes: 340-342, 344-345, 349- 354, 416-417. Sra. Ministra do Turismo, Industria e Energia; Fátima Maria Carvalho Fialho: 355-357, 366-368. Sra. Ministra da Reforma do Estado e da Defesa Nacional; Maria Cristina Lopes Almeida Fontes Lima: 372-374, 376-378. Sra. Ministra da Justiça; Marisa Helena do Nascimento Morais: 381-382, 387, 390- 394.

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