Especial

Um Universo Paralello na Bahia O império underground da música eletrônica O produto de um pequeno nicho dentro da música eletrônica brasileira é também o maior evento de cultura alternativa da América Latina

Texto: Carla Letícia | Diagramação: Juliana Rodrigues Especial Especial inte e sete de dezembro de 2017. em média 15 pessoas por viagem (pela da edição do evento. pada dos Veadeiros. dialmente conhecido Alok, seguia assim a as 21 mil pessoas, incluindo os artistas, Já são mais de sete horas den- qual cada uma pagou R$50,00), além dos onda das festas rave privadas que acon- mas que continua sendo de produção São sete dias de muita dança nos qua- “O UP foi uma ideia que tive quando tro do ônibus saído de Salvador. quilos de bagagem. Quinze quilômetros teciam desde a década de 90 nas praias totalmente independente. Mais três mil V se 3 km de praia fechados para a festa, morava na Holanda, queria fazer um ano Há algumas paradas rápidas apenas para depois, estamos na praia. Ou quase. de Trancoso, já na Bahia. formam a equipe de produção, de acor- morando em barracas e rodeados pelo novo na Bahia, mas quem colocou em comer e fumar um cigarro, mas sem do com Ekanta: “A equipe de idealização Mochilas e mais mochilas em uma mar, muitos coqueiros e pelo famoso prática foi o Swarup (nome artístico de Dezoito anos mais tarde, na pequena descanso. A estrada vai ficando pior a e produção que chamamos de inter- confusão de gente, lanternas, cadeiras de manguezal da Praia de Pratigi, que abas- Juarez Petrillo), meu marido na época”, Ituberá, monta-se uma vez a cada dois cada quilômetro, a cada pequeno povo- na tem 100 pessoas, e é dessa que eu praia e objetos diversos se amontoam tece os chuveiros coletivos feitos de conta Ekanta Jake, pioneira do psytrance anos no réveillon uma estrutura compa- ado que passa como um relâmpago pela faço parte. Estamos sempre crescendo e na fila mais desorganizada que se pode bambu. Mais de 700 DJs da Eletronic no Brasil e DJ há mais de 25 anos. O casal, rável a de um megaevento internacional, janela empoeirada. Gente da Argentina, evoluindo. Vamos nos adaptando à me- imaginar. Pessoas não param de chegar. Dance Music (EDM) mundial e também ar- ao lado dos filhos Bhaskar e o hoje mun- que atende a um público que ultrapassa Chile, Colômbia, Peru. Tem de um tudo dida em que o ‘universo’ pede”. Hoje, o É possível ouvir todos os sotaques do tistas da MPB se dividem em seis palcos, na excursão, mas todos estão calados mundo, em diferentes línguas. Todas um em cada hora, 24 horas por dia. Uma por conta do cansaço. Alguns poucos ao mesmo tempo. A entrada no festival cidade paralela, em um mundo paralelo, aproveitam para dormir o máximo que que custa quase R$2 mil (valor individual com uma comunidade paralela altamente A atração principal da festa podem. São aqueles que já viveram a sua incluindo a excursão, o ingresso em pri- organizada e autônoma. O DJ é aquele cara que toca entre uma a isso”, afirma. Paralello, aos 12 anos de idade. O quintal de estreia no festival. Sabem que vai piorar. meiro lote e os sete dias de alimentação O megaevento atração e outra. Aquele que coloca umas Alguns meses mais tarde, pudemos con- casa. Filhos do casal de DJs e produtores Percorri caminhos diferentes em mi- dentro da festa) pode acontecer daqui músicas pra animar o público até alguém versar pessoalmente, nos bastidores do Juarez Petrillo e Ekanta Jake, fundadores do O Festival Universo Paralello foi um nhas duas incursões ao paraíso artificial a algumas horas ou só no dia seguinte. começar a cantar e aparece pequeno atrás badalado Villa Mix em Salvador. A voz, festival, os meninos nasceram junto com a produto trazido do Goiás e abraçado por do equipamento de som. Raramente co- história do psytrance no Brasil. Ficaram no baiano da música eletrônica, em 2015 e Muitos montam acampamento ali mes- nessa ocasião, estava menos empolgada, Ituberá. Foi em 2000, de um estilo mu- nhecemos seu rosto ou sabemos sobre estilo por um tempo, e ainda mantêm até em 2017, sua última edição. A grande ro- mo, enquanto outros antecipam a festa e ainda que destoando do show grandioso sical e uma cultura ainda emergentes no sua vida. Isso se você não for um fanático e animado que ele fez aquela noite. Estava hoje um dos pés nele com o projeto Ló- tatória, primeira imagem que se tem da começam a cantar, dançar e fumar. país, que surgiu do casal de DJs e pro- por música eletrônica. E principalmente, se mesmo todo elegante e com o jeito de gica, em que tocam juntos. antes desabitada Praia de Pratigi, na ci- essa pessoa não for o DJ Alok. A demora é por conta da revista. A dutores goianos Juarez Petrillo e Ekan- galã com que aparece nas revistas. Fotos Conheci essa história no fim de 2017, em dade baiana de Ituberá, no sul da Bahia, bagagem de cada um dos 20 mil visi- ta Jake a ideia deste evento, uma festa e flashes o tempo todo. A quantidade de minha segunda visita ao Universo Para- não é nada animadora para aqueles ávi- fãs era enorme ao seu redor, como sem- lello. Encontrei um Alok descalço na areia tantes (número de participantes das edi- grande que reunisse os recém-nascidos dos pelo ideal paradisíaco do litoral baia- pre, e ele não conseguia se movimentar escaldante de Pratigi, na praça de alimen- ções de 2015 e 2017, de acordo com a fãs daquela arte. A música era o estra- no, rodeado por belos coqueiros e areia muito. Tentava sem sucesso atender a to- tação abarrotada com alguns dos 20 mil produção do festival) é aberta em cima nho trance psicodélico, estilo eletrônico dos. Após a entrevista corrida no camarim participantes do festival. Vestia bermuda branquinha. O lugar é um verdadeiro de uma mesa por uma fila de incontáveis com raízes na Índia e em Israel, no fim da lotado às 2h da madrugada, com direito a e óculos, enquanto ria e comia um acarajé, caos, completamente abarrotado de ôni- seguranças de camisa preta. Mas isso só década de 80. Com base nele, o Univer- longos bocejos e expressão de puro can- tirando uma foto do cardápio da lancho- bus, bugues e carros de boi. Barracas de depois de trocarmos o ingresso físico ou so Paralello nasceu, já com esse nome saço, eis que recebo um áudio no celular: nete que oferecia um sanduíche com seu lanches e artesanatos dominam a vista, “Voltei da Europa hoje, na minha cabeça já nome. Dali a alguns minutos seria sua apre- virtual pela pulseira de pano onde se lê e 300 pessoas no dancefloor. A primeira junto com grandes cartazes chamativos. são 6 horas da manhã. Desculpe se pareci sentação no palco principal com o Lógica. “Universo Paralello”, seguido do número vez foi no centro-oeste do país, na Cha- de alguma forma um pouco... sei lá... sem Não havia ninguém ao seu redor, não ha- Depois do desembarque, pegamos o Alok e Bhaskar, aos oito anos de ação”. Posso dizer que entendi ali o que via pedido de fotos ou fãs desesperados. transporte que nos leva pela trilha de ter- idade. Os meninos cresceram no acontece por Me lembrei de sua fala no vídeo de ra na mata escura até a entrada oficial do Universo Paralello (Fonte: Repro- trás do gran- apresentação do festival, divulgado Festival Universo Paralello (UP), evento dução/Twitter @alokoficial de letreiro em em suas redes sociais, meses antes: LED nos shows “Essa aqui é a minha casa”. de cultura alternativa realizado há 18 anos “Ter músicas que bombam tira um peso glamourosos no Brasil. Esse transporte é organizado enorme das minhas costas”. Com toda No festival, sua única apresentação onde se lê solo foi no palco paralelo UP Club, pelos moradores da pequena região in- certeza, essa foi a frase que mais cha- “Alok”. com o projeto “Alok”, cheio de per- dígena da Costa do Dendê, já treinados mou a atenção durante uma das conver- sas com o artista brasileiro mais ouvido “Seu suces- sonalidade e perfeitamente equilibra- e habituados a receber seus visitantes no mundo atualmente, de acordo com o so veio muito do entre o mainstream que o carac- barulhentos uma vez a cada dois anos, site de streaming de música Spotify. Essa rápido. Será?”. teriza atualmente e o underground desde 2003. Eles são parceiros dos do- conversa ocorreu em fevereiro de 2017, Escreveu Alok que se espera de um evento de cul- nos da festa e também oferecem outros pelo telefone. Ele disse que estava saindo no Twitter, tura alternativa. Deve ser porque “o serviços lá dentro, como restaurantes da academia e, ao contrário do que possa logo acima de Alok ocupa o 19º lugar na lista dos Universo Paralello é o nosso menino parecer, o tom era de pura alegria. A frase uma foto que DJs mais populares do mundo. Fon- de ouro”, como ele me disse. e carregamento de bagagens, ficando te: Reprodução/Instagram @alok saiu quando me contava sobre a pressão o mostra no Hoje ele é o 19º melhor DJ do mundo, com a metade do lucro. A outra metade em ser o mais requisitado DJ brasileiro do comando das pi- eleito pela DJ Mag, maior referência é dos produtores do evento. momento. “O fato de a nossa música ser a ck-ups ao lado do irmão gêmeo, Bhaskar. para o mundo da música eletrônica. Essa Na imagem não aparentam ter mais de Se embrenhando na mata, um dos mais tocada do Brasil e do mundo me dá o posição nunca havia sido alcançada por um dez anos de idade. A primeira apresenta- brasileiro na história. Deve ser porque ele vários carros de boi coloridos e enfei- suporte necessário para eu carregar essa responsabilidade. Complicado seria se eu ção profissional, para um público grande, agora é a atração principal da festa. tados, com uma lâmpada pendurada por fosse o número um e não correspondesse foi no palco principal do Festival Universo um varal improvisado no teto, carrega Fonte: Acervo Pessoal 2 3 Especial Especial UP é considerado pelos produtos jorna- mago da pista”). No evento trance, to- lísticos especializados (ou não, a exem- dos os participantes são levados a entrar plo do argentino La Nación) o maior fes- neste mesmo “ritual” de dança e intros- tival de trance da América Latina. pecção, a compartilharem da mesma energia coletiva, a vibe. Dentro da área do festival, além dos palcos, tem-se uma “praça” de alimen- No dancefloor tação, pronto-socorro, lojas e áreas de Murilo Ganesh, um fotógrafo reco- convivência, assim como o espaço do nhecido da cena, construiu sua profissão Projeto Circulou, realizado há 12 anos no exclusivamente sobre o nicho formado UP. “Fazemos várias oficinas na cidade de ao redor desta cultura. Ele vive da psico- Ituberá, antes do festival começar. Gera- delia e da admiração de muitas pessoas mos muitos empregos dentro e fora dele, por essa cultura, andando de festival em fazemos reformas no hospital, disponibi- festival. “Tudo começou com um hobby lizamos ambulâncias, etc. Tudo através e uma paixão de adolescente. Comecei a do Circulou”, diz Ekanta. A produtora trabalhar em alguns sites de divulgação afirma que a cidade recebe atividades de baladas, e foi aí que tudo começou a diversas para a população de pouco mais fluir”, conta ele, que atualmente tem mais de 29 mil habitantes, como produção de de 100 mil seguidores em redes sociais cosméticos e culinária; reformas e pintu- Banners de divulgação das festas como o Instagram. derivadas do Universo Paralello em ras em espaços públicos; shows, teatro Goa e Paris (Fonte: Reprodução) Ganesh já participou de 11 edições do e poesia para crianças e adultos, dentre Universo Paralello e é figura carimbada outros tipos de intervenções. Juarez Petrillo e sua equipe, a Vagalume como mundial, que atende a pessoas do alternativas, mas o Main Floor (palco prin- cal – um termo defendido e destrinchado em festivais do estilo, como o Ozora Atua ainda dentro da festa o Coletivo Records. A gravadora/produtora nasceu mundo todo. E você trabalhar e interagir cipal) é de psytrance, assim como o psy- pelo pesquisador carioca Felipe Trotta (Hungria) e Boom Festival (Portugal), por de Redução de Riscos e Danos Balance, em 2004 e é responsável pelo Universo com essa equipe... foi mágico. O públi- trance foi o que impulsionou e nos levou em alguns artigos sobre a sonoridade exemplo. Para ele, o evento nacional tem que tem grupos reunidos em diversos Paralello e pelas festas derivadas, além de co foi em torno de três mil pessoas, e o ao conceito de tudo”, conta a fundadora nos estilos brasileiros – é algo facilmen- um diferencial. “O que faz o UP ser es- estados do Nordeste, e atua juntamen- manter em seu casting uma parte dos ar- resultado foi muito positivo”, conta Ro- do festival Ekanta Jake. Trata-se de um te observado nas cenas relacionadas aos pecial é o público brasileiro. Nós temos te ao serviço médico dentro da festa. “A tistas de trance music brasileiros, como drigo Bouzon, DJ e fundador da empresa. nicho, um pequeno universo na galáxia estilos da e-music. uma energia incrível e estar em um local Nevermind e Vegas. dos gêneros e subgêneros que com- gente passa dois anos se preparando, ca- Eis o bate-estaca! A estética trance, tanto na música paradisíaco também ajuda muito”, opina. pacitando a equipe para que consigamos põem a EDM, termo que engloba todos Outra que também se originou do “Ao contrário do que o estereótipo quanto na cultura que se formou ao seu O curioso psytrance trouxe consigo dar conta desse público (...). O propósito festival foi a UP Club Records, gravadora permite supor, os DJs fizeram histó- redor, busca a formação de uma comu- uma forma de festejar que já era marca da nossa equipe é dar suporte para pes- criada em 2015 por Alok, para dar voz a ria”. A frase da jornalista Claudia Assef nidade alternativa criada fora da socie- em outros estilos, mas que com ele ga- soas que, pelo uso excessivo de drogas, produtores independentes e sem espa- é uma das que iniciam o livro Todo DJ “Ao contrário do que dade massiva atual. Um pacto social to- nhou uma nova roupagem hippie: a rave. desencadeiam crises psíquicas durante o ço no mercado. O UP Club, que também Já Sambou – a publicação mais popular talmente cultivado por aquelas pessoas, Em sua dissertação de mestrado de- festival”, explica Guilherme Storti, mem- nomeia um dos palcos do festival, seguiu no país sobre a história da música ele- o estereótipo permite durante aquele espaço e tempo. Sempre fendida no Programa de Pós-Graduação bro do coletivo, no documentário “Uni- o mesmo caminho da Route 303 Stage e trônica nacional. Claudia, que atualmente foi possível encontrar os conceitos de em História da Universidade de Brasília, verso Paralello 13 - Balance - Redução de supor, os DJs fizeram se tornou uma festa itinerante que acon- escreve sobre o tema no site e editora shamanismo, espiritualidade, hinduísmo intitulada “Temporalidade nômade: raves Danos”, disponível no YouTube. tece pelas capitais do Brasil, levando ge- Music Non Stop, dentro do UOL, é uma história” e até budismo entrelaçados ao trance, psicodélicas”, de 2014, Nathalia Moreira Universos dentro de outro ralmente artistas de techno, house e psy fiel defensora dos disc-jóqueis brasilei- cuja tradução em português é transe, descreve não só o novo parâmetro tra- na boléia. ros, sendo ela mesma uma integrante da - Claudia Assef algo que diz muito sobre ele. Em 2017, pequenas edições que fun- zido pela psicodelia às festas rave, como categoria. “O Universo Paralello acontece cionam como uma “amostra” do evento Em abril deste ano, Salvador recebeu As batidas repetitivas e os sons ele- utiliza o Festival Universo Paralello para numa região onde a gente não tem uma aconteceram na psicodélica Goa, na Ín- uma edição da UP Club, amplamente di- trônicos progressivos têm a função de exemplificar. Segundo ela, a rave passa cena tão fervilhante, ou pelo menos não dia, e até Paris. No caso da cidade indiana, vulgada como “um pedaço do Universo provocar um estado quase hipnótico no a englobar uma enorme variedade de tinha. Atualmente a Bahia está voltando a os demais (ler “Os principais gêneros da berço do psytrance, não foi a primeira Paralello na cidade pra você” pela produ- ouvinte, algo comumente intensificado estilos e tendências, que se desenrolam se firmar no cenário”, afirma Claudia. música eletrônica”). vez e se trata de uma Free Promo Par- tora Concept Content, a maior em atua- pelo uso de substâncias psicoativas – daí proporcionalmente, em uma infinidade de ty, uma festa para promover o UP. Já ção no segmento atualmente na cidade. O cenário a que a escritora se refere Cada um dos estilos de música eletrô- vem sua associação a elas. Este estado símbolos, valores e práticas. nica tem atualmente um tipo de público Paris recebeu a Route 303 Stage, um “A gente tava trabalhando lado a lado é aquele que envolve o trance psicodé- intenciona a libertação emocional e es- As festas trance acontecem geral- e evento segmentados, nascidos con- evento que também nasceu do festival com pessoas que tem 20, 30 anos de lico – o psytrance, e a cultura alternativa piritual, um transcender de consciência, mente em áreas abertas, o mais inseridas forme o imaginário coletivo construído e leva o nome de um dos seus palcos. carreira. São pessoas extremamente ex- relacionada a ele, que ganhou de muitos como defende o criador do estilo, o mú- possível na natureza virgem. Em lugares ao redor dele. O caráter ambientalizador Outras cidades pelo mundo também já perientes, que fazem um negócio como fãs e artistas o nome de cultura trance. “A sico americano Goa Gil, em entrevista ao distantes dos centros urbanos, onde ne- receberam festas do UP organizadas por o Universo Paralello, não só nacional proposta do festival é de arte e cultura e produtor de sentido do gênero musi- portal Trance – Cultura Psicodélica (ler “O 4 5 Especial Especial nhuma interação com a “civilização” seja nhando por isso essa nomenclatura, dife- que segundo o produtor musical Felippe para os DJs nacionais”, comenta. Senne primeiros a levar a música eletrônica em com agenciamento de artistas e label de possível ou buscada. Essas festas, em rente de uma festa normal. Quando dura Senne, está em uma de suas melhores é dono do curso de produção musical nível nacional”, protesta o DJ Feio. festas, além de fazer alguns warm ups sua maioria, não têm patrocínio, são de mais do que um dia, já é considerada um fases. “Artistas brazucas estão lotando online Make Music Now e sócio-fundador (eventos de aquecimento para a festa Em 1996 também surgia o Planeta produção independente, com número festival. eventos, grandes hits estão sendo fei- do HUB Music Group, trabalhando com principal) do brasileiro Lukas Ruiz, o Vin- Atlântida, festival que acontecia no litoral de participantes limitados e muitas ve- tos por aqui, e vemos um interesse gi- a administração da carreira de artistas, tage Culture, um dos mais conhecidos O estilo vem ganhando muito espa- gaúcho, mas que nunca se voltou total- zes estrutura precária. A duração de uma gante do mercado mainstream do show além de uma gravadora e editora. DJs de house music da atualidade. ço na cena de música eletrônica do país, mente para a música eletrônica. Ambos, rave trance é de no mínimo 12 horas, ga- business brasileiro voltando seus olhos Os precursores porém, não chegaram na dimensão que Paraísos artificiais “Nós abrimos o mercado para tudo o gigante Rock in Rio desfrutava desde A cultura de e-music brasileira, porém, OS SEIS PLANETAS palco já se tornou também uma marca que existe hoje em dia”. Quem afirma é 1985.O que se vê nestes eventos atual- tem muito de fora, a começar pelos ter- muito forte por si só, e hoje é um dos Luiz Sala, mais conhecido como DJ Feio mente são palcos e espaços exclusivos mos, todos em inglês e sem tradução. Seis planetas formam o universo paralelo do festival bienal baiano. Seis arenas de dança que maiores selos de house music do Brasil. buscam abarcar juntas o maior número de pessoas fãs de diversos estilos da música eletrô- ou agora também DJ Salla. Artista pionei- voltados para a música eletrônica, coisa Alguns eventos chegaram aqui importa- Projetos de DJs como Alok, CatDealers e que não acontecia na época de seu sur- dos com nome e tudo, como é o caso do nica, e até da MPB. Cada uma delas é independente, tem quase uma vida própria e acabaram Boris Brejcha são aqueles que sabemos ro do psytrance no país, ele e Rica Amaral gimento. Esse foi o diferencial que uma “saindo do festival”, dando nome a festas itinerantes que acontecem pelo Brasil. Para entender que fazem parte do UP Club mesmo sem fundaram em 1996 a XXXperience, a pri- gigante belga Tomorrowland, que reúne do que se trata esse universo, é necessário conhecer um pouco de cada uma. Leia a seguir: terem sido divulgados: eles têm a cara da meira rave do Brasil. A festa de dimen- marca de cerveja conseguiu enxergar, mais de 150 mil pessoas e é um símbolo em 2000. O festival Skol Beats foi o do alcance da cultura de música eletrô- TORTUGA mas sem perder o ritmo, este é o seu lugar. pista, super sofisticada e mais “glamouro- sões gigantescas (quatro palcos, mais de sa” do que o trance “pé no chão” das de- primeiro exclusivo de EDM no Brasil, uma Neste palco você encontraria mais facilmen- Ao chegar no Chill Out, você pode (ou não) 50 atrações e 30 mil de público na épo- nica em nível mundial. Por aqui, o evento mais. Não significa dizer que seja diferente te os DJs que mais gostam de brincar com se surpreender com muita gente dormindo... ca de seu surgimento) foi responsável aposta na cultura jovem e descolada acontece no interior de São Paulo. na estrutura, porém. Techno, deephouse, o grave e passear por ritmos como o hip ou que só parecem estar dormindo. que começava a tomar conta das pistas eletro house, minimal e muitos outros têm pela divulgação do trance por aqui, e até Outro exemplo grande é o Ultra Brasil, hop, o drum and bass, o trap e o bass mu- e que trazia os maiores consumidores da As características técnicas da música chill como casa o UP Club. hoje é considerada um marco para a his- sic – esses dois últimos vertentes nascidas nossa versão do , um out são uma velocidade mais baixa, uma tória da nossa própria música eletrônica. bebida. dos estilos principais - e outros. Isso não BPM (Batida Por Minuto) mais baixa ou até main floor evento realizado anualmente em Miami significa, porém, que psytrance, house ou inexistentes, unidas a sintetizadores harmo- Chegamos então ao ápice. Tudo no Uni- Atualmente, milhares de pessoas lo- O evento da cervejaria tentou cobrir (EUA), mas que também acontece hoje outros estilos não sejam encontrados por niosos e calmos. Além disso, podem possuir verso Paralello converge para para o Main tam cada edição da festa, que acontece os principais estilos de música eletrônica, em diversos outros países como Argen- Floor, o palco principal da festa. Psytran- lá. Muito pelo contrário. Todos os palcos do sons da natureza, como pássaros, ondas, por todo o país, em várias cidades, e há incluindo até mesmo o trance, que aca- tina e Espanha. No Brasil, a última edição Festival Universo Paralelo têm como regra águas e outros. Instrumentos da música ce, house, tecno, dark... Poderíamos passar bava de ganhar, no mesmo ano, o Uni- contou com 20 mil pessoas e três pal- principal e primordial o caráter democrático, os sete dias de festa só no Main. Locali- quem diga já ter ultrapassado as frontei- clássica como piano, flauta, violão e outros verso Paralello. “Nós abrimos as portas cos, também em São Paulo, apesar de já e o Tortuga zado geralmente perto da maior parte dos ras do underground. “O Brasil é um país vocais femininos também podem compor para que as empresas patrocinassem as soma a isso uma música chill out. campings e da praça de alimentação, sua sem memória. Se a XXXperience tivesse ter sido realizado no . festas, abrimos um novo mercado, que a função de decoração é a mais aguardada de todo o sido criada no Japão, Alemanha, França, Um dos mais antigos e emblemá- divulgar no- PALCO PARALELLO Festival. de 300 pessoas em cada festa naque- O Palco Paralello é aquele lugar onde você Holanda, enfim, em qualquer lugar, me- ticos da cultura alternativa, porém, é o vos talentos Os maiores DJs de psytrance do even- la época, cresceu para 30 mil ou mais”, pode encontrar o seu cantor favorito no Uni- nos no Brasil, seríamos vistos com os Burning Man. Nascido em 1986 nos EUA, e artistas to com certeza se apresentarão aqui, em verso Paralello. Ou você tava achando que só reis da e-music mundial, já que fomos os conta o DJ Feio, que hoje em dia trabalha emergentes frente a uma plateia gigantesca: a área de- onde acontece até hoje, o festival cos- tem espaço pra DJ por lá? No palco se apre- em suas re- dicada ao Main tem quatro vezes o tama- tuma atrair mais de 50 mil pessoas e foi sentam artistas que são revelações do rap, giões. nho das outras pistas. o primeiro a trazer a ideia de formação MPB, black music, reggae, hip hop ou qual- 303 STAGE quer outro estilo alternativo que tenha a cara O Main também é o grande espaço de de uma comunidade alternativa ao mun- Poderiam com certeza ser 303 pistas em da festa. Nas duas últimas edições, os shows celebração da virada do ano, sendo o úni- do dos eventos musicais. Depois, é claro, uma só! Porém, todas seriam voltadas para incluíram Lenine, Russo Passapusso, B Negão, co palco em atividade na hora, de 23:00 do lendário Woodstock, em 1969, o pai o trance. O 303 Stage é dedicado a todas Criolo e Emicida. a 00:00. A grande queima de fogos, bem de tudo o que veio a surgir com esté- como performances circenses também as vertentes do psytrance. DJs que têm o tica hippie. Nos tempos atuais, o Ozora “dedo pesado” para subgêneros como dark acontecem por lá nos primeiros minutos psytrance e hi tech costumam estar em sua do novo ano. e o Boom Festival são o sonho de con- maioria por aqui. Goa, fullon e prog (verten- sumo dos novos fãs e profissionais do tes do psytrance) também não podem faltar psytrance. Os eventos datam do fim da e definem o o palco de 300 faces. O 303 década de 90 e reúnem de 30 a 50 mil está localizado fisicamente no coração do pessoas em pequenas cidades no interior UP, e é preciso passar por ele para chegar A estrutura da Hungria e Portugal, respectivamente. em qualquer canto da festa. do UP Club. Fonte: Esses últimos foram alguns dos exem- CHILL OUT Acervo Time to chill! Quase todo festival trance tem pessoal plos tomados por produtores brasileiros um Chill Out, que muito além de um estilo ou para tentarem as suas próprias experi- área física, é um conceito. O termo em in- up club ências no terreno do psytrance, assim Voltando às dancefloors, chegamos à área glês significa “relaxar”, e é justamente isso. mais mainstream do Universo Paralello. Este como Ekanta e Juarez. Depois do Univer- Se você quer desacelerar, repor as energias Pista do Mainfloor. Fonte: Acervo Pessoal so Paralello, temos hoje diversas opções Cores e muita psicodelia: o fotógrafo Murilo Ganesh é especializado no simbolismo transcenden- tal das festas trance (Fonte: Murilo Ganesh) 6 7 Especial Especial

pelo Brasil, nascidas todas nos últimos 15 teve sua última edição embargada pela padrões impostos pela sociedade de Os principais gêneros da Música Eletrônica anos. Os mais procurados são o Mundo justiça em Camaçari, em junho de 2018. massa, é algo comumente relaciona- de Oz, o Samsara (ambos em Minas Ge- Por conta disso, não se sabe ainda se a do aos festivais trance, assunto trazido O DJ baiano Mauro Telefunksoul, pioneiro “Se você tentar mapear todos os gêneros passa muito por ciclos. O techno, por no bass music soteropolitano, ao comentar que existem, não vai conseguir. É impos- exemplo, vai estar em alta e daí vai saturar, rais) e o Zuvuya (Goiás). Esses eventos edição deste ano do Terra em Transe em textos como o do autor português sobre os principais estilos da música ele- sível. São muitos e você vai sempre cair e aí vai vir alguém e vai reinventar, trazendo reúnem de duas a três mil pessoas. será realizada. Gil Calado, intitulado Trance Psicadélico, trônica, a Eletronic Dance Music (EDM), os no conflito de opiniões. Gêneros que para alguma coisa de algum outro gênero. Foi Capitaneados pelo Universo Paralello, Na linha dos festivais destaca-se ainda Drogas Sintéticas e Paraísos Artificiais, chama de “os quatro elementos”: “O house, umas pessoas é assim, pra outras é “assa- assim com o future bass. Ele nasceu do o filho mais velho, muitos outros even- o Ressonar, festival de cultura alternativa publicado em 2006 na revista Toxicode- o techno, o drum and bass e o trance. Tudo do”, pondera Guilherme Souza, DJ do pro- trap apenas com uma pequena variação de tos trance nasceram tendo a Bahia como que acontece todos os anos na Chapada pendências. Paraísos Artificiais, inclusive, vinha deles”. Pouco a pouco diversas outras jeto FullMode e professor há dois anos do sintetizadores”, exemplifica Guilherme. também é o nome do filme brasileiro de variações surgiram e criaram vida própria, Curso Para DJs, escola de música eletrônica cenário. Esse é o caso do Festival Ter- Diamantina, na região da cidade de Len- Com a ajuda do DJ, traçamos um pequeno Marcos Prado, lançado em 2012, que re- trazendo novas características para esse em Salvador. ra em Transe, com primeira edição em çóis, e reúne a mesma média de públi- mapa dos principais estilos da música ele- jogo, que tem muitas outras variáveis. trata os festivais e raves psicodélicas do “O gênero na música eletrônica também trônica abaixo: 2014, atualmente realizado na cidade co dos dois eventos anteriores: duas mil de Jandaíra. Ele é uma alternativa bienal pessoas. A festa acontece toda primeira país como nenhum outro havia feito até para o público, realizado nos anos que lua cheia do ano, logo após o réveillon então. O longa teve cenas gravadas em Estilo tem variações entre 118 e 135bpm, apesar de apresentar batidas mais lentas no seu surgimento. É a música de pista, não tem UP – já que ninguém consegue do Universo Paralello, e tem uma dura- pequenos eventos realizados em Per- aquela que caracteriza a maioria dos DJs que você ouve no rádio. É o gênero mais próximo do pop, considerado o mais competir com ele por aqui. Produzido ção que varia. Em 2018, foram dez dias nambuco no ano anterior e gerou, claro, mainstream. Alguns de seus subgêneros (vertentes) são: progressive house, deep house, electro house. pelo coletivo Soononmoon, existente de evento. muita discussão entre a crítica. HOUSE Alguns artistas do gênero: David Guetta, Avicii e o trio SwedishHouseMafia (formado por Axwell, Steve Angello e Sebas- desde 2006 no estado, o festival nas- psicodelia neles tian Ingrosso). No Brasil, Vintage Culture é um bom representante. A ideia de pessoas simples e não civi- ceu do outro produto da empresa, a já A maneira como tudo se desenrolou Essencialmente dançante, de ritmo acelerado e melodia monótona. O uso criativo da tecnologia de produção de música, lizadas, desprendidas de luxo e glamour, tradicional e polêmica rave Aurora, que no Brasil pode ser explicada por um dos como tambores e sintetizadores é visto como um aspecto importante da estética da música techno. O tempo tende a conectadas pela música e distantes dos variar entre aproximadamente 120 a 150 batimentos por minuto, dependendo do estilo do techno. primeiros a apostar no trance no país, o TECHNO Alguns artistas do gênero: , o brasileiro Gui Boratto e a também brasileira ANNA. DJ Feio. Segundo ele, o psytrance sem- pre foi underground. “Os clubes na época Utiliza a técnica do back-to-back, dois discos iguais e um mixer. É mais conhecido como uma música que se caracteriza pelos samplers de ritmos como hip-hop, funk e electro e que logo se modificam e alteram para criar os denominados tinham uma máfia e não deixavam o psy “breaks”. ser tocado, isso foi o motivo de criar- Alguns artistas do gênero: The Prodigy e FatboySlim. BREAK-BEAT

O gênero é caracterizado por batidas rápidas, próximas a 170 BPM (Batida Por Minuto). Incorporou elementos de culturas “[O psytrance] já é musicais como o dancehall, electro, funk, hip-hop, house, jazz, metal, pop, reggae, rock, techno e trance. Tem grande influência da música brasileira, por ser um dos estilos que se desenvolveu inicialmente por aqui. muito popular no meio Alguns artistas do gênero: Marky, o duo Noisia e Rudimental. O soteropolitano Mauro Telefunksoul também é um expoente da galera que quer do estilo. DRUM AND BASS ter liberdade, e não O gênero, nosso assunto principal aqui, é caracterizado pelo tempo entre 130 e 190 bpm, com partes melódicas de sintetizador e uma forma musical progressiva durante a composição (variantes conforme a vertente). O estilo é derivado se sentir acuado em do house e do techno, com seus sons industriais, que parecem menos melódicos. Temos também o surgimento do trance psicodélico, o psytrance, uma variação nascida com o desenvolvimento do estilo em Goa, na Índia, mais ligado à espiritua- um clube fechado por lidade. Suas vertentes obedecem diferentes variações dentro do padrão musical, sendo algumas delas o fullon, progressive quatro paredes e um TRANCE e o dark psytrance, hi tech... (a lista tem tantas outras que o espaço nem daria). Alguns artistas do gênero: , InfectedMushroon e Ace Ventura. No Brasil: Vegas. teto, que em dia de lua cheia, você não pode Vertente minimalista que segue aquele ditado “less is more” (menos é mais). ‘Minimal techno’ é geralmente considerado vê-la” como o subgênero minimalista derivado do techno. É caracterizado pela repetição de batidas e sons, ou seja, pelo uso de um mínimo de elementos de composição. - Luiz Sala (DJ Feio)

MINIMAL Alguns artistas do gênero: Boris Brejcha, Ricardo Villalobos e Deadmau5

O gênero é marcado pelo uso intenso de sub graves, sendo quase como uma adoração aos sons de frequências baixas e também marcados pelos “bass drops” ao fim da introdução da música. Os elementos mais dominantes an estrutura da mos a XXXperience... Eles deram um tiro música são introduzidos de forma impactante. no próprio pé e acabaram criando um Alguns artistas do gênero: Skrillex, , Benga e KnifeParty. DUBSTEP monstro que éramos nós”, diz ele. O estilo tinha, de início, um grande es- Do dancefloor, horas e mais horas de psytrance. O estilo é o que paço no Brasil, era a novidade, ganhando 8 comanda o festival. Fonte: acervo pessoal 9 Especial Especial só depois o status de estilo undergrou- no Brasil, perdeu força (algo natural em vermind, Cosmic Light, Digital Culture e e os dogmas estéticos do rock às festas em 1998 (oficialmente), ganhou o nome grafia, do design, da moda, produtores nd. “Pelo mundo ele nunca foi superior ao qualquer gênero musical), mas está vol- Second fazem sucesso pelas pistas das pacíficas e inclusivas”, relembra. Sua co- de Coletivo Pragatecno. musicais, DJs, promoters... Foi um marco house, tech-house, techno... Apenas no tando a ter muita atenção através da sua raves de trance psicodélicas brasileiras. A luna ficou conhecida no mundo da músi- porque deu visibilidade e mobilizou no- “Em 1997, eu e três amigos ouvíamos Brasil ele tinha supremacia. Agora, ele se transformação no que chamam de ‘prog lista é imensa. ca e se tornou uma referência para artis- vos grupos em outras cidades no Nor- quase o mesmo som e decidimos pu- tornar comercial, acredito que não. Mas trance’”, afirma ele, se referindo a uma tas e um público que começava a surgir. te e Nordeste”, descreve ele. A iniciativa Nas manchetes blicizar, através de reuniões ampliadas já é muito popular no meio da galera que das vertentes do trance, o progressivo. Camilo escreveu ainda para O Estado de formou coletivos em Belém, Fortaleza, No contexto do surgimento dos fes- e festinhas, o que ouvíamos. Decidimos quer ter liberdade, e não se sentir acuado S. Paulo, Jornal da Tarde e O Globo (ler João Pessoa, Recife, Maceió e depois O prog é, inclusive, o estilo do DJ tivais, os veículos informativos especia- criar um grupo que pudesse assinar nos- em um clube fechado por quatro pare- “Com a palavra, Camilo Rocha”). Salvador. Paulo Vilela, conhecido por seu projeto lizados apareceram, ainda tímidos e com sas festas. Mais pessoas foram se agre- des e um teto, que em dia de lua cheia, Vegas, o maior nome do psytrance em foco no mainstream. Em 1990, o jornalis- Dois anos antes, porém, o futuro já gando. Cada um trazendo diferentes Os coletivos criaram uma cadeia de você não pode vê-la”, afirma Luiz Sala, atuação no Brasil. “Assim como o house, ta Camilo Rocha, um dos primeiros a es- acontecia com a Noite Ilustrada, na Fo- contribuições pessoais. Gente da foto- comunicação na internet, com a ajuda resumindo o pensamento de todo fã do espero que um dia o psytrance seja tão crever sobre música eletrônica no Brasil, lha de S. Paulo. A coluna escrita por Eri- trance. reconhecido como qualquer outro esti- começava seu trabalho na coluna Dance ka Palomino contava o que acontecia A ideia de que o estilo está voltando lo. Somos mais que um estilo de música, Music, na revista Bizz. “Foi uma conse- nos clubes da periferia da cidade, local agora a cultivar um público por aqui tam- somos uma filosofia de vida”, defende o qüência de gostar deste tipo de música. onde a cena underground urbana nascia bém é compartilhada pelo produtor Feli- produtor, que faz cerca de 20 shows por E não apenas da sonoridade inovadora, e fervilhava. Ela criou também o Prêmio com a palavra, camilo rocha ppe Senne, no mercado desde 2007. “O mês e tem mais de 300 mil fãs no Fa- mas do contexto em torno, desde a rup- Melhores da Noite Ilustrada, algo que im- Um dos primeiros jornalistas a escrever sobre e-music psy foi muito popular entre 2003 e 2008 cebook. Como ele, projetos como Ne- tura com a mentalidade ‘machocêntrica’ pulsionou os artistas da época com sua no Brasil, Camilo Rocha ajudou a formar a cena nacional valorização. “Fazia-se uma house super da dance music na pioneira revista Bizz, O Estado de saudável na época. Esse frescor que eu S. Paulo, Jornal da Tarde e n’O Globo, além da revista trouxe das coisas é que apareceu com britânica Muzik. Conheça um pouco do melhor jornalista O mago da pista muita legitimidade no jornal. (...) O que especializado eleito duas vezes pela Rio Music Confe- era visto como coisa de gueto, hoje já rence, a atual BRMC, maior conferência de música eletrô- São 16 horas da tarde e é o primeiro dia do so”, conta o mago na entrevista reveladora de perto, pela primeira vez, essa lenda é entendido como uma manifestação de nica da América Latina: Festival Universo Paralello. Já aconteceram concedida no ano passado ao portal Trance viva da cultura psicodélica – que ele ca- cultura jovem e global”, conta Erika no Reprodução/Internet atividades desde às 8 da manhã, mas ne- - Cultura Psicodélica. O artista é chamado racteriza como uma união entre música nhuma música foi ouvida até o momento. assim desde o nascimento dos seus dispu- e espiritualidade que tem o objetivo de documentário 10 Anos de Música Eletrô- Como você começou a escrever sobre lizados online como portais e blogs O camping já está lotado e tem gente por tados rituais, como são chamadas as suas fazer o ouvinte transcender a consciên- nica no Brasil, de Ruth Slinger, de 2001, música eletrônica? Você acompanha a desempenham hoje algum papel para a todos os lados, mas um único espaço está apresentações em formato long set (shows cia. Gil está lá, movimentando-se sem focado na cena do Rio de Janeiro e São cena hoje? cultura de música eletrônica no Brasil? intransitável de tão abarrotado. A maior par- mais longos do que o normal). parar, organizando a mesa de som do Paulo. Foi uma consequência de gostar deste Com certeza, mas infelizmente o con- te do público está concentrada lá, no palco seu jeito: velas, panos coloridos, objetos Gil foi o precursor do goa trance, verten- tipo de música. E não apenas da sono- teúdo de muitos peca por ser raso e 303, esperando o ritual começar. O ritual de como imagens de Buda e alguns outros O surgimento da música eletrônica te dentro do estilo também desenvolvido ridade inovadora, mas do contexto em pouco questionador. Existem tantas 24 horas do mago Goa Gil. que não dá para distinguir. Ele só inicia também foi registrado em 1997 pelo inicialmente por ele, o trance psicodélico. torno, desde a ruptura com a menta- questões que podem ser exploradas o ritual quando tudo está devidamente Rraurl.com, site feito pela jornalista pau- Vinte e quatro horas em cima do palco. Acredite, eles são diferentes. Pense no pri- lidade “machocêntrica” e os dogmas no cenário hoje, mas poucas são abor- “energizado”. “Desde o início dos tempos, Essa era a proposta inicial. Na prática fo- meiro como um derivado do segundo, que listana Gaía Passarelli e mais dois jorna- estéticos do rock às festas pacíficas dadas com profundidade. Exemplo: a a humanidade usou música e dança para ram 27. Sem comer, sem descansar, sem pode ter (como de fato tem) incontáveis listas. “Comecei a escrever para manter e inclusivas. Comecei a fazer trabalhos baixa representatividade de negros comungar com o Espírito da Natureza e dormir. Coisa até possível para os jovens outras vertentes e subgêneros. o site atualizado e gostei porque eu era esporádicos escrevendo sobre o tema na cena, seja como profissionais, seja o Espírito do Universo... Estamos usando DJs cheios de energia de hoje, mas esta- até que, em 1990, fui convidado para como público. Então pode-se dizer que Ao chegar mais perto do palco para ver a música trance e a experiência que ela dá uma mocinha muito cheia de opinião e ali mos falando de um senhor de 67 anos de fazer a coluna Dance Music, na revista boa parte dos veículos se incumbe de para desencadear uma reação em cadeia encontrava espaço para falar oque que- idade.“Esse cara destrói cérebros!”, grita Bizz. Acompanho a cena sim! Menos in propagar o que já existe e está aceito, na consciência, isto é o que chamamos ria. Hoje parece ingênuo, mas na época a alguém ao longe, em meio a uma expecta- loco, mas por meio de imprensa espe- mas não de contribuir para evolução ou de ‘Redefinir o Ritual Tribal Antigo para o tiva geral pelo set que já estava duas horas gente era muito revolucionário”, diz ela. cializada, redes sociais e inúmeros con- mudanças. século XXI’”, explica ele na entrevista ao atrasado. Gilbert Levey nasceu na Califórnia, Já o movimento das publicações no nor- tatos e amigos que tenho nesse meio. portal Trance - Cultura Psicodélica. Se você pudesse mudar algo na cena em 1951. Aos 18 anos, com o início do enfra- deste do país, região onde hoje o psy- Você conhece o Festival Universo Pa- de música eletrônica brasileira hoje, o quecimento do movimento hippie nos EUA, De fato, as horas seguintes foram de in- trance encontra maior espaço, começou ralello? que você mudaria? se mudou para a Índia, para iniciar uma via- cessantes sons tribais antigos unidos a a aparecer só algum tempo mais tarde. gem espiritual. Viagem essa que hoje leva toques futurísticos, psicodélicos e ani- Toquei lá em 2007, foi maravilhoso. Mais inclusão, mais democratização de milhares de jovens pelo mundo a embarca- malescos da música eletrônica contem- Coletivos no Nordeste Conheço a história do festival. Eventos acesso. Nos anos 2000, a cena eletrô- rem no trance psicodélico, estilo criado por porânea. O objetivo é claramente levar Cláudio Manoel Duarte de Souza, o maiores como o UP têm papel funda- nica baseada em house e techno (afinal, ele na cidade de Goa, nome pelo qual ficou aquela multidão ao transe. Ao trance. DJ Angelis Sanctus, foi uma das figuras mental na ampliação do público, sempre funk é música eletrônica brasileira) pe- mundialmente conhecido. Dormi, acordei, caminhei pelos 15 quilô- importantes do nascimento da cultura trazendo gente nova, assim como na gou um ranço playboy e elitista forte. metros de extensão de praia, comi, dormi consolidação de saberes profissionais Coletivos independentes em São Paulo “As primeiras festas eram fogueiras na praia ligada à música eletrônica no Nordeste. O psicodélico Goa Gil apresenta seu mais um pouco e voltei. Ele continuava em relação a eventos de maior porte. vêm discutindo e tentando melhorar onde tocávamos guitarras, bateria, flautas, set de 27 horas no Universo Paralello. lá, com a mesma disposição do início. Mais do que um disc-jóquei, ele ajudou a isso, mas ainda falta muito. em festas de lua cheia... tudo surgiu dis- Você acha que os produtos especia- Fonte: Divulgação/Internet Aquela de 1990. iniciar um movimento coletivo de cons- trução de uma ideia por aqui. Essa ideia, 10 11 Especial Especial das redes sociais, e possibilitaram a atu- portal, que antes se chamava Play EDM, mas ajuda a solidificar nossa imagem veiculado no seu canal, a Phouse TV. O alização de um público em várias regiões sofreu uma mudança, um rebranding da plural e eclética”, explica o editor-chefe programa se chama “Gipsy Road” e mos- do Brasil, incluindo o interior da Bahia. E Underground X Mainstream marca. “As pessoas acabaram adotando da Phouse, Flávio Lerner. tra as três moças se aventurando pelo essa acabou sendo a sua maior forma o termo EDM como música comercial, litoral baiano, vivendo intensamente na- Com certeza você já viu essas duas pala- hit. Acho que é aquilo que é fiel à verdade Em 2015, a Phouse investiu em um de buscar informação sobre o assunto. apesar de ser um termo que englo- documentário sobre o Festival Universo quilo que mais parece um paraíso sem vrinhas por aí quando o assunto é música. do artista. Aquilo que fala antes de mais regras. Diversas coberturas feitas por Um banco de dados construídos por eles Especialmente música eletrônica. Apesar de nada com a arte e não com os acessórios ba todos os demais, então tinha muito Paralello, gravado por três repórteres e para eles mesmos. polêmicos, esses conceitos estão intrinse- que vêm com a arte, que é o planejamen- preconceito por conta do nosso nome canais independentes no Youtube in- carregar EDM. Por isso a gente não con- vestem no mesmo formato: contar uma Por volta de 1998, o jornalista Lucia- camente ligados aos de mercado e cultura to comercial, sucesso, fama”. musical, seja no Brasil ou lá fora. Para quem seguia conversar com o público do un- história com belas imagens de aventura. no Matos criou um blog especializado Já o DJ Paulo Vilela, responsável pelo pro- não sabe, o mainstream é como chamamos jeto Vegas, mostra a relatividade dessas derground, conta o editor-chefe Rodol- “Buscamos mesclar Um deles, o mais visitado, é feito pela em música underground (não necessa- aquilo que é comercial, vendável. Aquilo que definições: “É um ponto de vista. Seeu fo Reis. Segundo ele, no hoje chamado própria produção do festival e se chama riamente eletrônica) em Salvador. “Há está na moda e que a maioria das pessoas os conteúdos for tocar no mainstage (palco principal) Play BPM o tratamento desses públicos UP Audiovisual. O canal tem mais de 40 mais de 20 anos eu comecei a escrever está consumindo em um determinado mo- da Tomorrowland, por exemplo, meu som mento. Mais do que isso, é um conteúdo fei- é diferenciado, assim como as pautas: “É mais populares mil inscritos, com número de visualiza- sobre música, sentia falta de coberturas pode ser o mais underground do evento. to especialmente para essas pessoas. Para muito difícil de falar porque são públicos ções que ultrapassam os 300 mil em um de um cenário mais independente. Em Porém, se eu toco em um festival como com conteúdo a maioria. realmente bem diferentes. E eu acho que vídeo. 98 eu criei um fanzine em papel, depois Universo Paralello, eu sou mainstream”. O parâmetro que mede o que é mainstream tem que ser diferente a forma de ser tra- underground, que O tratamento geral dos portais e blo- fiz o blog, depois fiz o site e comecei Chamei de oposto complementar acima, ou não é muito relativo, mas convencionou- tado também”. O portal tem média de 40 a trabalhar na imprensa”, diz ele. Luciano porque um conceito não existe sem o não vai nos trazer gs especializados vai de encontro à sub- -se dizer que ele é um resultado da cultura a 50 mil acessos mensais e dez pessoas é dono do portal El Cabong, nome que outro. E ambos são altamente necessá- jetividade e à crítica, traços conhecidos e consumos dominantes em um certo local. rios para a indústria musical e para o de- na equipe - redatores, fotógrafos, vide- tantos acessos, mas do jornalismo musical, porém, mais car- utiliza como DJ. Como no ying-yang, o seu oposto com- senvolvimento de uma cultura, seja ela omakers e freelancers. plementar é chamado underground, quase ajuda a solidificar regados da aura encantadora e utópica Atualmente, diversos sites, revistas e qual for. A exemplo disso, o artigo dos sempre relacionados às palavras resistência Já a DJ Mag Brasil, que também tem que envolve a ideia dos festivais trance. blogs especializados ganharam o seu es- pesquisadores Jorge Cardoso Filho e Je- e contracultura. O underground é o alter- nossa imagem plural e Geralmente, como na Revista Phouse e derJanotti Júnior, de 2006, intitulado “A uma versão impressa e é derivada da es- paço e estão fazendo a festa dos fãs de nativo, produtos culturais independentes e música popular massiva, o mainstream e trangeira, tem 30 mil acessos mensais. eclética” no Play BPM, tratam-se de artigos es- música eletrônica brasileiros. Uma delas é geralmente pouco conhecidos, existentes o underground: trajetórias e caminhos da No site atuam agora um diretor, um edi- peciais de opinião ou matérias longas e a revista DJ Sound, fundada por Fernando apenas pela vontade de artistas e produto- - Flávio Lerner música na cultura midiática”, define bem tor, uma assistente editorial e uma equi- cheia de detalhes, focando na experiên- Sarmiento, que já tem quase 30 anos de res de fazer algo diferente da maioria. Editor-chefe da os conceitos de mainstream e under- pe de redatores freelancers sob deman- revista Phouse cia vivida pelo repórter durante os dias existência e ainda resiste em forma de A jornalista e DJ Cláudia Assef descreve ground como estratégias de consumo, da. “Para a edição impressa, esta equipe de festival. portal. Resiste não. Ela existe. E vai mui- como aquilo que é feito sem a preocupa- que, por sua vez, asseguram público para se une ao time da DJ Mag Latinoamérica to bem, obrigada. Outra que também é ção de vender: “O underground nasce sem ambas. O relato do profissional é, na maioria em Buenos Aires. São eles que cuidam de referência no segmento é a revista Hou- a preocupação de estourar, de se tornar um todo o design, diagramação e impressão seMag, também focada em um cenário da revista”, explica o editor Rodrigo Airaf. mainstream da e-music. “Inevitavelmente o mainstream é o core Para a cena eletrônica, editorial de um modo geral, porém, há revistas eletrônicas uma ajuda considerável no site a talen- A publicação especializada mais co- tos emergentes do cenário alternativo e nhecida hoje, porém, é a revista eletrô- eventos regionais que estejam ‘causan- nica Phouse criada pelo jovem baiano do barulho’, bem como conteúdo sobre Luckas Wagg, em 2013. Segundo ele, os principais players do mercado não- trata-se da maior plataforma de música -comercial”, garante o editor. eletrônica da América Latina atualmen- Com uma equipe pequena e até mes- te, com quase meio milhão de acessos mo instável, os sites fazem um apanhado mensais. “Produzimos conteúdo para sobre o cenário nacional e internacional de toda e qualquer pessoa que tenha inte- música eletrônica, e atuam fazendo notas resse por música eletrônica, seja do ce- rápidas sobre artistas, acontecimentos e nário mainstream ou underground. Tenha furos, além da divulgação de eventos. ela 14 ou 50 anos”, garante o empresário. Artigos de opinião e reportagens espe- Os números da Phouse ultrapassam a da ciais são a carta coringa de todos eles. famosa Billboard Brasil, de acordo com Dentro do Universo Paralello encontro uma marca consolidada. Quem disse que o underground não se vende? | Foto: Acervo pessoal “Buscamos mesclar os conteúdos mais os dados disponíveis no site SimilarWeb. populares com conteúdo underground, Em agosto do ano passado, outro que não vai nos trazer tantos acessos, Espaço Circulou, dentro do UP: oficinas, arte e cultura para todas as idades. Foto: Acervo Pessoal 12 13 Especial

das vezes, acompanhado de imagens maioria vem de fora do estado, especial- descreve a escritora e jornalista Claudia suas do evento, o mais próximas possí- mente do Sul”, diz ela. De novo, o valor Assef. veis do “seu olhar pessoal”, o que serve do underground. Os megaeventos de música eletrôni- ainda mais ao apelo visual já construído O “tempero” emprestado pela Bahia ca, mais especificamente aqueles volta- no texto. Na mídia ou no ingresso do ao Universo Paralello, após 12 anos qua- dos para a cena trance, são um nicho tão festival, em ambos os casos, é vendida se um produto legítimo seu, parece ter específico e segmentado que se perdem a experiência, a aventura. Aquela única e contribuído para a receita do sucesso em um universo de nichos, tidos como especial, diferente de tudo o que você do festival na cena trance, mas também irrelevantes em um contexto maior, mas está acostumado e que promete te tirar fora dela. “O UP é muito importante para que em todos os aspectos significam e da zona de conforto e torpor da rotina trazer novas pessoas para dentro da mú- ressignificam a história de um estilo mu- urbana e estressante. Para os produtos sica eletrônica, acho que quem vai e tem sical no âmbito mundial, de um público jornalísticos, o underground é uma es- uma experiência no Universo Paralello consumidor e de uma cidade. De uma tratégia de mercado, com público asse- tende a ficar nesse universo. Fica muito pequena cidade no interior da Bahia. gurado e valioso. maravilhado com aquela grandiosidade”, “O papel desses veículos é fundamen- tal. Eles apoiam e divulgam uma cena que sem esse apoio de uma estrutura de mí- Uma outra religião dia ficaria muito difícil(...). Hoje a gente não precisa mais daquele veículo grande Com quase 30 anos no comando das Eu sou da cena mais underground de rap, do pickups em Salvador e em muitas cida- bass music, então a gente sempre tocou em como antigamente. Antigamente todo des baianas, o DJ Mauro Telefunksoul já lugares menores. E eu sou assim, até no jei- mundo lia a Folha de S. Paulo, o Estadão, dispensou o convite para tocar no Festi- to de me vestir e pensar, eu sou como meu O Globo, a Veja. Hoje em dia não mais”, val Universo Paralello algumas vezes. Em estilo: da rua, da cidade”, define ele. defende a escritora e jornalista Claudia maio de 2018, minutos antes de entrar no Vestindo uma regata de um time de bas- palco para um show na cidade de Barrei- Assef. quete americano do qual é fã e um boné de ras, a quase 900 km da capital, pergunto aba reta, o típico DJ da periferia, fã de Tim O público do underground ao artista sobre as festas underground Maia e Elza Soares, se apresentou em Bar- Rodrigo Bouzon, DJ e dono da pro- na Bahia e escuto algo curioso: “Nunca fui reiras com um set recheado de funk e até nessa onda de rave. O trance é como se dutora de eventos Concept Content, se MPB. Ao lado dele, estava o DJ carioca RD, fosse outra religião”. apresentou pela primeira vez no Univer- uma das referências em produção musical so Paralello em 2017. “Foi uma realização de funk no Brasil e dono de hits populares pessoal muito grande. A pista tava bem como o “Malandramente”. vazia quando eu tava tocando, e no de- “Já toquei músicas que tinham elementos e correr do set foi enchendo. Era nítido textura do trance, porque hoje eu opto por que as pessoas vinham de vários lugares fazer um set mais aberto, open format. En- do mundo diferentes (...) Não tenho nem tão não tenho essa coisa de não tocar. Se explicação de como é aquele lugar”. eu gostar, eu toco. Pra mim a mistura é es- sencial (...) Mas não é do meu perfil musical A também baiana Adriana Prates, DJ, ouvir trance”, diz Mauro, que se apresentou após alguma insistência pela primeira vez no pesquisadora e integrante do coletivo Mauro Telefunksoul se apresenta em Barreiras, no Universo Paralello na última edição, em 2017. Pragatecno, é frequentadora do festival interior da Bahia: um baile urbano. Foto: Acervo desde 2006, e tenta definir o perfil de pessoal Para o baiano, que já foi convidado a tocar público dentro do evento: “Dá pra dizer Telefunksoul, único nome que utiliza hoje, em festivais como o UP, este representa que ele não é muito variado em termos foi um dos primeiros DJs da cena baiana, uma cena que não é a sua, mas que ganha responsável por criar uma mistura de es- pelo caráter democrático. “No Tortuga [pal- de raça e classe, por exemplo. São pes- tilos que hoje caracteriza muitos artistas co onde ele se apresentou no festival] eu vi soas majoritariamente brancas e de bom por aqui. Precursor do bassmusic regio- que tinha a oportunidade de você mostrar poder aquisitivo – dá para deduzir o alto nal – ao qual chama de Bahia bass, seu outro estilo de som. Tinha acabado de voltar poder aquisitivo porque podem pagar estilo é nascido de uma união do urbano da Europa e resolvi participar pra fechar o pelo ingresso (que é bem caro) além das drum and bass com ritmos baianos. “Eu ano com chave de ouro. A galera recebeu despesas com deslocamento (passa- sempre fui da cena indoor. Os eventos muito bem. Toquei afro, toquei bass. E foi gens, etc), gastos com água e comida outdoor eu até tocava, mas é porque em legal, uma experiência”, descreve. Salvador sempre teve muita festa aberta. durante o festival (porque as coisas são caras lá dentro), etc. Também noto que a 14 Especial

“Um Universo Paralello na Bahia: o império underground da música eletrônica” Trabalho de Conclusão do curso de Comunicação - Habilitação em Jornalismo Faculdade de Comunicação - Universidade Federal da Bahia Discente: Carla Letícia Pereira Oliveira Orientadora: Profª Drª Suzana Barbosa Semestre 2018.1 16