Nova Contribuição À Ornitologia Do Chaco Brasileiro (Mato Grosso Do Sul, Brasil)

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Nova Contribuição À Ornitologia Do Chaco Brasileiro (Mato Grosso Do Sul, Brasil) Nova contribuição à ornitologia do Chaco brasileiro (Mato Grosso do Sul, Brasil) Fernando Costa Straube1,4, Alberto Urben-Filho1,5, Maria Antonietta Castro Pivatto2,6, Alessandro Pacheco Nunes3,7, Walfrido Moraes Tomás3,8 “La etimología de este nombre, Chaco, indica la multitud de naciones que pueblan esta región. Cuando salen a cazar los indi- os y juntan de varias partes las vicuñas y guanacos, aquella muchedumbre se llama chacu, en lengua quechua...”. (Pedro Loza- no, Século 18; apud. Aguilar, 2005) INTRODUÇÃO Para Walter (1986), o chaco consiste da parte mais ocidental do "Zonobioma da re- gião tropical úmido-árida de chuvas esti- vais e de florestas de folhas caducas"; é uma enorme planície situada entre o Pla- nalto Central do Brasil e as montanhas da pré-cordilheira andina, tendo como limite sul a transição com os campos sulinos (pam- pas). Com quase 750 km de largura em mé- dia, estende-se do sul da Bolívia à toda a me- tade ocidental do Paraguai, englobando ex- tensa área do centro-norte da Argentina (Walter, 1986) e, em poucos quilômetros quadrados nos arredores de Porto Murti- nho, no extremo sudoeste do Mato Grosso do Sul (Prado, 1993a, b; Prado & Gibbs, 1993). Neste município fronteiriço há o que pa- rece ser um remanescente oriental daquele complexo de paisagens denominado Gran Chaco (Riveros, 2005), sendo contornado pela faixa de vegetação de cerrado e mata decídua do leste da Bolívia (Departamento de Santa Cruz), que se estende por todo o contorno nordeste do Paraguai (principal- mente nos departamentos de Alto Paraguay e Concepción). Na zona marginal à frontei- ra brasileira, o chaco propriamente dito se- gue adjacente a essa faixa, desde o sudeste da Bolívia até o restante do Paraguai oci- dental. Toda essa área foi palco de inúmeros epi- sódios políticos e sociais envolvendo esses países. Foram dezenas de expedições ex- ploratórias e militares - desde 1521 com Urubu-rei Sarcoramphus papa. Foto Cassiano Zaparoli Zaniboni Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br Aleixo Garcia - em geral visando a coloni- zação local, a abertura de caminhos que pos- sibilitassem o contacto entre as então gran- des cidades, captura de índios, descobertas de tesouros, etc. Por parte dos missionários jesuítas, o interesse era o de catequizar os povos lá estabelecidos e, como um todo, po- de-se afirmar que todos esses personagens contribuíram de alguma forma para o co- nhecimento da história natural da região (Costa, 1999; Aguilar, 2005). Entretanto, a pequena porção deste bio- ma reconhecido para o território brasileiro foi objeto de raras contribuições ornitoló- gicas, sendo possível destacar a de Laub- mann (1935) para a foz do Rio Apa e, prin- cipalmente, Pacheco & Bauer (1994), base- ada em uma grande coleção obtida pelo na- turalista alemão Adolf Schneider na locali- dade de Porto Quebracho, adicionada de re- gistros complementares. Em revisão abrangente, Tubélis & To- mas (2003) também mencionam espécies para a região, embora todas elas sejam ori- ginárias do próprio artigo de Pacheco & Ba- uer (1994), mais algumas adições citadas por Grant (1911a, b, c). Ao contrário da FIGURA 1. Situação geral da área de estudo e sua localização, no extremo sudoeste do Mato Grosso margem brasileira do Rio Paraguai nessa do Sul e áreas fronteiriças com o Paraguai, com indicação das cidades mais importantes dos arredores. região, há considerável material sobre a desta forma, admitir um caráter abrangente dedicado a locais situados no município de avifauna mencionado por autores como que inclui outros tipos de hábitats regiona- Porto Murtinho: Salvadori (1895, 1899, 1900a, 1900b), is, respeitando-se o caráter controverso dos Grant (1911a, b, c), Laubmann (1930, biomas que tangenciam o chaco brasileiro 1. FAZENDA BRAUNAL (22°06'S, 1933a, 1933b, 1939a, 1939b) e mesmo re- e mesmo o complexo mosaico de paisagens 57°44'W, alt. 89 m): uma das várias fazen- visores como Hayes (1995). Bem da ver- observada nesta região sul-matogrossense. das (Oriente, Sorriso, Braunal e Reata) ao dade, esse extenso e importante bioma do Essa área compreende parte da bacia hi- longo da estrada vicinal à MS-467 que dá centro da América do Sul foi motivo de inú- drográfica do Rio Paraguai e toda a metade acesso à cidade de Porto Murtinho. A paisa- meras investigações ornitológicas, em es- final da bacia do Rio Apa, sendo esses dois gem predominante é de vegetação arbusti- pecial o clássico que culminou com a obra acidentes fluviais a linha demarcatória da va xerófila (savana gramíneo-lenhosa), basilar: "A zoogeographic analysis of the fronteira entre o Brasil e o Paraguai (Strau- com solos pedregosos e bromélias espi- southamerican Chaco avifauna" (Short, be, 2003). nhosas no solo; essa aparência entremeia- 1975). Sob este contexto, consideramos todas se com pastos, florestas estacionais decí- Com o intuito de compilar as espécies até as espécies citadas na literatura para locali- duas e carandazais (savana parque estépi- então citadas para a pequena e pouco co- dades situadas no interior do quadrante de- ca), comumente composto por outras espé- nhecida paisagem de chaco no Brasil - e ad- finido. Não foram reavaliadas as identifi- cies arbóreas (savana estépica florestada). jacências - bem como adicionar novas in- cações de espécimes envolvidos nas publi- Período: 11 a 13 de outubro de 2005 (FCS, formações oriundas de uma viagem de pes- cações, de forma que eventuais questiona- AUF); esforço amostral: 13 horas. quisa realizada pelo autores entre 2005 e mentos baseiam-se exclusivamente no co- 2006 é que realizou-se esse estudo, tam- nhecimento moderno das distribuições, mu- 2. RIACHO SANGA FUNDA (22°04'S, bém dirigido a certas atualizações toponí- itas vezes com amparo de outras obras de re- 57°34'W, alt. 104 m): riacho de leito areno- micas e comentários acerca da conserva- ferência. A única exceção foi feita para a co- so (na época totalmente seco), na rodovia ção local. leção Adolf Schneider, depositada no Mu- MS-467, a cerca de 10 km do pesqueiro do seu Nacional (UFRJ) do Rio de Janeiro, cu- Cachoeirão do Apa. A paisagem predomi- MÉTODOS jas identificações foram aferidas direta- nante é de floresta ciliar (floresta estacio- A área considerada para esse estudo, si- mente nos espécimes respectivos. nal semidecidual aluvial), permanente- tua-se no extremo sudoeste do Estado do As citações consideradas são apenas as mente verde e várzeas adjacentes a ela, con- Mato Grosso do Sul, incluindo as imedia- originais, cabendo comentários a compila- tendo pastos e vegetação arbustiva xerófila ções da República do Paraguai, desde que ções (Tubélis & Tomas, 2003) apenas quan- (savana gramíneo-lenhosa), campos de inseridas no perímetro definido pelas lati- do houvesse discrepâncias quanto às loca- inundação e, nas pequenas elevações, flo- tudes de 21°00' a 22°30'S e 57°00' a lidades ou identificações apresentadas. resta estacional decidual. Período: 11 a 12 58°30'W (Figura 1). Esses limites foram de- As localidades consideradas neste estu- de outubro de 2005 (FCS, AUF); esforço finidos com maneira puramente didática, do (Tabela 1; Figura 2) foram de dois tipos: amostral: 10 horas. uma vez que não obedecem as linhas con- associadas a registros mencionados na lite- fusamente transicionais das vegetações ratura ou representando nosso próprio es- 3. FAZENDA PORTO CONCEIÇÃO chaquenhas naquela região. Preferiu-se, forço de campo (vide abaixo), totalmente (21°28'S, 57°55'W, alt. 84 m): fazenda de Atualidades Ornitológicas Nº 134 - Novembro/Dezembro 2006 - www.ao.com.br TABELA 1. Toponímia da área de estudo, tendo em parênteses a respectiva numeração propriedade do então prefeito de Porto Mur- coincidente com o mapa apresentado na figura 2 (q.v.). As coordenadas geográficas e altitu- tinho, sr. Nelson Cintra, cujos pontos de ob- des das localidades 1 a 13 baseiam-se em Google Earth (Google, 2006); as demais foram ob- servação incluem a margem do rio Para- tidas in situ com GPS. *. Não foi possível resgatar a localização precisa; a indicação em ma- guai defronte à sede e imediações do Morro pa é provisória; **. denominação sugerida, pela falta de indicação nominal (vide abaixo). Pão de Açúcar. As paisagem local inclui ex- tensos carandazais (savana parque estépi- ca) e áreas inundadas (sistema edáfico de primeira ocupação) mas também vegeta- ção arbustiva xerófila (savana gramíneo le- nhosa), floresta estacional decidual (nas en- costas das pequenas elevações locais) e fito- fisionomias mistas, especialmente com es- pécies arbóreas que adentram nos caranda- zais (savana estépica arborizada). Período: 14 a 16 de outubro de 2005 (FCS, AUF, MACP) e 6 de setembro de 2006 (APN, WMT); esforço amostral: 23 + 4 horas, res- pectivamente. 4. RIO TARUMÃ, RODOVIA MS-195 (21°32'S, 57°49'W; alt. 80 m): vários pon- tos amostrais, distanciados por 10-15 km da sede municipal de Porto Murtinho, ao longo da estrada que dá acesso à Fazenda Porto Conceição. A paisagem local é domi- nada por carandazais (savana parque esté- pica), várzeas com pastos e campos de inun- dação (savanas gramíneio lenhosas) e, ao longo das elevações próximas, há floresta estacional decidual. Período: 5 e 6 de se- tembro de 2006 (APN, WMT); esforço amostral: 6 horas. RESULTADOS 1. Riqueza de espécies A riqueza de espécies verificadas para a área de estudo ainda deve ser considerada preliminar, especialmente enquanto estu- dos de avifaunas não sejam realizados com dedicação sistematizada para essa região (cf. Tubélis & Tomas, 2003; Pivatto et al., 2006). O contexto indicado na Figura 2 mostra claramente que o conhecimento da avifauna concentra-se muito mais ao longo dos rios Paraguai e Apa, com pouco esforço amostral no "interior", para o qual apenas uma localidade (Firme, seg. Pacheco & Ba- uer, 1994) foi visitada e com poucas espé- cies registradas. Até o presente constam assinaladas 282 espécies para a região estudada, dentre as quais, oito não foram registradas no territó- rio brasileiro sob esse contexto geográfico: Ictinia plumbea, Falco rufigularis, Pyrrhura frontalis, Eleothreptus anoma- lus, Hirundinea ferruginea, Contopus cine- reus e Pachyramphus validus.
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