Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação – - RJ – 4 a 7/9/2015

Babilônia: Um Olhar Necessário Sobre o Telespectador da Novela e o Reflexo da Crise na Audiência 1

Marcelo GOULART2 Míriam MOEMA3 Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, RN.

Resumo

A , através de suas mais variadas tramas envolve os telespectadores no seu enredo, e por isso é considerada o maior produto televisão brasileira em termos de audiência. Porém Babilônia, a atual novela do horário nobre da maior emissora do Brasil, tem sofrido rejeição por parte do público mais conservador, que claramente tem evitado acompanhar seus capítulos, configurando um cenário comercial inusitado para a Rede Globo que perde audiência considerável em horário nobre.

Palavras-chave: telenovela; rejeição; audiência; telespectador; enredo.

Apresentação da novela ao mercado publicitário

A Rede Globo de Televisão apresentou ao mercado publicitário a atual trama das 21h (horário nobre na televisão brasileira), da seguinte forma: ambição, cobiça, luta pelo poder e grandes reviravoltas. Temas fortes e excessivamente pesados, sem o contraponto da leveza e do humor para deixar a trama mais interessante e cativar o público. Mas, essencialmente, esse enredo que a trama ousou abordar em seus capítulos, foi considerado muito negativo e por sua vez, rejeitado por muitas famílias, mesmo esses temas sendo a marca registrada do novelista Gilberto Braga4 (um dos autores da trama). A novela conta a história de Beatriz (Glória Pires), Inês () e Regina (Camila Pitanga), que representam diferentes facetas da realidade da cidade do Rio de Janeiro, e a vida dessas três personagens, protagonistas em potencial na trama, vai se misturar de várias maneiras, envolve um enredo complexo e mostrando a falta de caráter e

1 Trabalho apresentado na Divisão Temática Comunicação Audiovisual, da Intercom Júnior – XI Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXVIII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação

2 Formado na Graduação do Curso de Comunicação Social com habilitação em Radialismo da UFRN, email: [email protected]

3 Orientadora do trabalho. Professora Doutora do Curso de Radialismo da UFRN, email: [email protected] 4 Novelista, autor da novela Babilônia, em parceria com mais dois autores ( Ricardo Linhares e Joâo Ximenes Braga).

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honestidade das duas primeiras, porém ressaltando os ideais da última, considerada a mocinha da estória. A personagem Beatriz não tem escrúpulos na trama desenvolvida e usa a sua sensualidade como arma, é uma ninfomaníaca5. Inês nutre por ela uma espécie de fixação, ambicionando seu sucesso e padrão de vida. Elas vão se aproximar e acabam se envolvendo em um crime de morte, tornando-se cúmplices em uma relação que passa bem longe da amizade. A vítima do crime é o pai de Regina, uma jovem guerreira de origem humilde que mora no Morro da Babilônia.

Rejeição da Trama

O primeiro capítulo ousou em relação ao conservadorismo de seus telespectadores, e mostrou um beijo lésbico, selando a relação entre Teresa () e Estela (Nathalia Timberg). Na trama, as personagens das duas senhoras de idade são casadas há décadas, e juntas criam o filho, Rafael (Chay Suede), neto biológico de Estela. Porém, a rejeição ao beijo foi imediato, apesar desse núcleo da novela, tentar através da dramaturgia fazer o telespectador refletir mais a cerca da configuração da atual família brasileira em curso na sociedade, desconsiderando a formação clássica de família, com pai, mãe e filhos, que já não é maioria no país. O último censo do IBGE, de 2010, informa que as novas configurações familiares estão em 50,1% dos lares. De acordo com o estudo do IBGE, é comum encontrar nos lares brasileiros casais sem filhos, pais ou mães solteiros, netos criados por avós, irmãos e irmãs, casais gays, amigos que moram juntos, pessoas sozinhas, entre outras. O autor da trama declarou recentemente ao Jornal O Globo que “esses novos arranjos familiares não são modismo, são a realidade. Quem não vê essa mudança não olha ao redor”, de acordo com a entrevista de ao jornal carioca publicada. Em princípio, qualquer mudança pressupõe medo e certa resistência. No ar desde 16 de março, “Babilônia” revela-se a produção mais problemática da história recente da Globo em termos de audiência que gira em torno de 25 pontos (na grande São Paulo, referência para o mercado publicitário), as vezes até menos, perdendo para novela das 19h, Jornal

5 Mulher que apresenta um nível elevado de desejos e fantasias sexuais e não se satisfaz com um só ato sexual. Está sempre à procura de mais com o mesmo parceiro ou até com outros.

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Nacional e as vezes até o futebol de quarta-feira a noite. Com audiência muito fraca, abaixo da média do horário na emissora, que espera no mínimo 35/40 pontos no horário da novela das 21h, sem contar a perceptível indiferença de parte do público ao enredo da trama, que até o momento, reta final da novela, não conseguiu reverter seu quadro de rejeição, instaurado desde o primeiro capítulo da trama. Vale salientar também, que a novele padece por ter um enredo pobre, conforme muitos críticos de TV e jornalistas apontam. Diante disso, os autores da novela conseguiram deixar a estória ainda pior, depois que reescreveram tramas, foi mudado radicalmente o perfil de alguns personagens e abandonaram outros, tornando a trama sem identidade e coerência com as próprias chamadas da novela antes de sua estreia na emissora. Porém, sem muita esperança numa reversão do resultado positivo, a emissora decidiu antecipar o final da história em pelo menos um mês.

Crise na audiência

A atual crise de audiência da novela da Globo, se configura através da rejeição de telespectadores, bem como grupos evangélicos conservadores que pregam o boicote à telenovela através das redes sociais. Podemos observar então que existe uma relação similar na atmosfera política atual alimentada diariamente pela TV Globo através do telejornalismo e sua teledramaturgia. Chamamos popularmente de causa e consequência, ou de ação e reação, esse clima de intolerância e radicalismo político, convertido em conservadorismo moral, atingindo em cheio o principal produto (em audiência) da televisão brasileira – a novela do horário nobre. A novela anterior “Império”, no mesmo horário, encerrou sua última semana com 46 pontos, conforme dados do IBOPE6. Já a novela Babilônia baixou os números pela metade, terminando a semana de estreia com 23 pontos. Portanto, abaixo da novela das 19h e do reality Big Brother Brasil. Isso, no horário mais caro da TV brasileira. A novela de Gilberto Braga surge nas telas num momento em que é cada vez mais evidente a necessidade comercial de reerguer a audiência da emissora, que vem em queda livre nos últimos 10 anos, conforme dados do IBOPE passados ao mercado publicitário, além da crescente demanda pela concorrência através do apelo instantâneo que a internet e os novos dispositivos móveis de comunicação oferecem ao público.

6 Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística, que afere os dados de audiência na TV.

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A entrada do instituto de pesquisa alemão GFK que vai medir a audiência quebrando o monopólio do Ibope, promete revirar um pouco os dados consolidados do IBOPE. Os números atuais já mostram a emissora líder cada vez mais próxima de suas concorrentes, e os números do novo instituto que serão divulgados a partir de setembro 2015, podem configurar novas estratégias para o mercado publicitário, conforme os números de audiência que forem apresentados. Pra esquentar ainda mais o mercado televisivo, uma decisão da justiça determinou que o IBOPE revele ou deixe transparente a “caixa preta” – com os dados confidenciais da sua metodologia de aferição da audiência.

Estratégias para relançamento da novela

A TV Globo realizou de forma estratégica, uma operação de salvamento da novela Babilônia. Após observada a rejeição por parte do público e boicotada por evangélicos, a novela das nove se não reagir, poderá entrar para a história como o mais baixo ibope das 21h e para recuperar o público que migrou para SBT e Record, a Globo exibe chamadas introduzindo didaticamente as tramas da novela, em uma ação chamada no meio televisivo de "relançamento". Consequência dessa estratégia, a abertura também foi alterada e disposição na apresentação da logomarca foi mudada para branco paz, em detrimento do vermelho guerra. Nas novas chamadas, que foram intensificadas na TV, a mocinha Regina (Camila Pitanga) foi apresentada para os telespectadores que nunca assistiram a um capítulo de Babilônia, com o intuito de fazê-los entender a trama da mocinha da história. “Aqui vive Regina, uma mulher que se esforça para cuidar da família e tem muito orgulho de seu trabalho. Depois de uma decepção amorosa, ela nunca mais se envolveu com ninguém. Mas Vinicius [Thiago Fragoso] está conseguindo aos poucos mudar essa história", diz a chamada. As vilãs Inês (Adriana Esteves) e Beatriz (Gloria Pires) também foram mostradas como inimigas que se tornaram aliadas. Esse esforço estratégico envolve também o jornalismo da emissora e demais programas do entretenimento. Camila Pitanga apareceu no Fantástico apresentando o morro da Babilônia. Já a nova logomarca de Babilônia, aparece sobre um inspirador nascer do sol estilizado. Antes, vinha sobre uma parede de concreto. A apresentação da abertura ficou mais clara, com nova animação em computação gráfica. Essas mudanças foram às primeiras reações da emissora para conter a baixa audiência de Babilônia.

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Referências

Exemplo com 01 autor:

SODRÉ, Muniz. A comunicação do grotesco: Introdução a cultura de massa brasileira. São Paulo: Vozes, 1971.

XAVIER, Nilson. Almanaque da telenovela brasileira. Rio de Janeiro: Panda Books, 2002.

FILHO, Daniel. O circo eletrônico: Fazendo TV no Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2001.

DICIONÁRIO DA TV GLOBO. Programas de dramaturgia e entretenimento. Vol. 1. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. 2ª ed. São Paulo: Senac, 2001.

SOUZA, Maria Carmem. Telenovela e representação social. Rio de Janeiro: e-papers, 2004.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de e GOMEZ, Guilhermo Orozco. A ficção televisiva em países Íbero-Americanos: narrativas, formatos e publicidade. Anuário OBTEL, 2009. São Paulo: Globo, 2009.

Departamento Comercial Rede Globo (Direção Geral de Negócios). BIP: Boletim de Informação para Publicitários. Edição: Fevereiro de 2015, n. 603.

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