Processos De Perigosidade Natural No Município De Câmara De Lobos – Madeira
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territorium 15 pp. 53-71 PROCESSOS DE PERIGOSIDADE NATURAL NO MUNICÍPIO DE CÂMARA DE LOBOS – MADEIRA. CONTRIBUTO PARA A GESTÃO DO RISCO E DA EMERGÊNCIA 53 Uriel Abreu [email protected] Centro de Estudos da Macaronésia, Universidade da Madeira Alexandre Oliveira Tavares [email protected] Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade de Coimbra Domingos Rodrigues [email protected] Departamento de Biologia, Universidade da Madeira RESUMO O presente estudo aborda a área temática dos riscos naturais, no Município de Câmara de Lobos, nomeada- mente uma análise dos processos de perigosidade natural, na qual serão identificados os elementos socio- económicos/estruturais com maior grau de exposição. Tem como objectivo a optimização das políticas de gestão do território, através da aplicação de um sistema de gestão municipal do risco e de emergência. Palavras-chavePalavras-chave: Processos de perigosidade, susceptibilidade, vulnerabilidade, gestão de risco, Câmara de Lobos. ABSTRACT The present study approaches the thematic of natural risks in the township of Câmara de Lobos, including a hazard analysis, in which the socioeconomic/structural elements, with a higher degree of exposure, will be identified. The main purpose of this article is to optimize and provide a tool in territorial management policies, throughout the application of a risk and emergency management system. Key words: Hazard, susceptibility, vulnerability, risk management, Câmara de Lobos. RÉSUMÉ Cette étude aborde le thème des risques naturels dans la Marie de Câmara de Lobos, y comprise l’analyse des aléas dans laquelle seront identifiés les éléments socioéconomiques et structurels avec un plus haut degré d’exposition. Il vise à optimiser les politiques de gestion du territoire, atravers l’aplication d’un système de gestion du risque et de mesures de secours d’urgence. Mots clés: Aléas, susceptibilité, vulnérabilité, gestion du risque, Câmara de Lobos. RISCOS - Associação Portuguesa de Riscos, Prevenção e Segurança Introdução A análise do risco implica a análise integrada de dois conjuntos de factores, os ligados aos processos A importância atribuída à avaliação de riscos é naturais, que configuram o conceito de Hazard (H) crescente, fruto de uma maior consciencialização para os cientistas de língua inglesa e de Aléas (A) individual e colectiva na gestão dos riscos. O para os de língua francesa, e os factores ligados às surgimento de mapas de risco, ou das suas vulnerabilidades (V) da população e da comunidade. 54 componentes, constitui uma das medidas não A fórmula compósita do Risco (R), nomeadamente estruturais mais visíveis nesta tomada de consciência, para os autores anglo-saxónicos, é a R = H x V, e surgida, a partir da necessidade de preservação da para os autores gálicos, a R = A x V. Segundo CUNHA vida humana e dos bens materiais. et al. (2002, p.2), a combinação entre o factor aléas ou hazard e o factor vulnerabilidade, talvez se traduza O risco natural, segundo CANTOS et al. (2002a, p.54), é melhor como conceito de risco natural, se estes forem a possibilidade de um território e a sua estrutura social relacionados através de um operador de ser afectado por um evento natural de dimensões multiplicação, ou simplesmente através do operador extraordinárias. Por sua vez, catástrofe, é o efeito função, como referem, por exemplo, DAUPHINÉ (2001) perturbador que um episódio natural provoca nesse e REBELO (2003). mesmo espaço, tendo em conta a perda de vidas humanas. Se a consequência desse evento natural for Segundo a IUGS (1997), a análise do risco é definida, de grande magnitude, ao ponto de ser necessária ajuda como sendo o uso da informação disponível na externa, a terminologia adoptada será a de calamidade, avaliação do risco induzido, por fenómenos de aludindo à deterioração da economia e ao drama social carácter natural, a qual estão expostos os indivíduos, de uma região, provocado pela perca de inúmeras vidas populações, bens e ambiente. humanas. Contudo, na acepção de L. LOURENÇO (inf. oral, 2008), não existe diferenciação destes últimos dois A UNDRO e a Unesco consideram que, perigo natural conceitos, aludindo à origem semântica da terminologia “…representa a probabilidade de ocorrência de um que é diferente, nomeadamente disaster, de origem potencial fenómeno catastrófico, num período de tempo anglo-saxónica, e catastrophe, de origem francesa. No específico e numa determinada área.”, tendo a UN/ âmbito da Protecção Civil o conceito de desastre ISDR (2004, p.16), introduzido a actividade humana engloba todas as terminologias referidas anteriormente como factor de perigosidade, para além da componente (SNBPC, 2005, p.7). física. O perigo “inclui condições latentes potenciadoras de futuras ameaças, podendo ter diferentes origens: a A ideia de sociedade de risco de BECK (1992) assume natural (geológica, geoclimática e biológica) ou as uma extrema importância neste contexto, na qual, o risco induzidas por processos antrópicos (degradação é conceptualizado como um perigo externo, e que ambiental e perigos tecnológicos).”. Na acepção de enfatiza o processo de politização do risco que tem VARNES (1989, p.10) o termo natural hazard“…determina ocorrido nos últimos anos, nomeadamente no que se a probabilidade temporal de ocorrência de fenómenos refere às consequências morais e políticas. Para este naturais, que ameaçam e/ou actuam perigosamente, mesmo autor, a consciência dos riscos é uma condição num espaço ou tempo definido”. inerente às sociedades contemporâneas e considera que, se nos primórdios da industrialização, os riscos e A susceptibilidade, na acepção de CANTOS et al. acidentes eram sensorialmente evidentes, agora são (2002a, p.67), é a propensão ou a tendência de uma globais, impessoais e escapam à percepção humana. zona ser afectada fisicamente por um perigo, Neste âmbito, LOURENÇO (2007, p.109) define como comparativamente com outras áreas que tenham sido sendo “transversais à sociedade contemporânea, afectadas no passado. É determinada através de uma fazendo por isso parte da informação quotidiana”. análise comparativa dos factores condicionantes e desencadeantes, quantitativos e qualitativos. No seguimento da linha de pensamento de Ülrich Beck, surge KALDOR (2005) que define as principais A definição de vulnerabilidade é interpretada como, características dos riscos globais, “com o facto de se “…as características de uma pessoa ou grupo, ignorarem todas as fronteiras, os seus impactes serem relativamente à sua capacidade para se antecipar, geralmente inesperados e poderem gerar conflitos lidar com, resistir e recuperar de impactos naturais internos na estrutura social.” Adicionalmente ou antrópicos.” (IFRC/RCS, 2000). determina que “o seu traço mais dominante é a incerteza, pois não os podemos controlar, restando- Cerca de 75% da população mundial, vive em áreas nos a simples monitorização do evento.”. que foram afectadas, pelo menos numa ocasião, por territorium 15 um evento natural catastrófico, entre o período de Relativamente à estimativa da vulnerabilidade social da 1980 e 2000 (UNDP, 2004, p.1). Esta exposição aos área em estudo, foram utilizados os pressupostos da linha riscos naturais potencia consequências devastadoras de investigação de CUTTER et al. (1997), em “Handbook for no desenvolvimento humano e nas suas actividades Conducting a GIS-BASED Hazards Assessment at the County sobre o espaço físico, uma vez que, o risco de desastre Level”, e a definição de critérios referentes aos grupos de natural está intrinsecamente ligado aos processos de risco em DWYER et al., (2004), assim como, consultadas 55 desenvolvimento humano. referências de autores, como BIANCHI et al. (1996) e MORROW (1999). Os dados tratados nesta análise, tiveram por base o CENSO DE PORTUGAL de 2001 (INE, 2001). O método de Metodologia de trabalho cálculo da vulnerabilidade social foi o mesmo para cada uma das variáveis (grupo de risco), com a percentagem de Para a concretização dos objectivos propostos neste cada uma, a ser determinada pela divisão do número trabalho recorreu-se a diferentes metodologias e indivíduos de cada variável na freguesia, pelo número total recursos, que permitiram enquadrar e caracterizar a daquela variável no concelho. área em estudo e fundamentar a avaliação da susceptibilidade e vulnerabilidade. O enquadramento físico foi suportado por uma Um segundo passo consistiu, na atribuição de scores compilação de informação de base morfológica, (valores ponderados) às variáveis, a partir do X geológica, estrutural e hidrogeológica, nomeada- anteriormente calculado e dividindo pelo Xmáximo. mente de autores como, PITMAN et al. (1972), SCHMINCKE (1973), GELDMACHER et al. (2000), SCHWARZ et al. (2005), entre outros e utilizadas referências de CARVALHO et al. (1991), PRAM (2003), RODRIGUES (2005), ABREU et al. (2006) e ABREU (2007). Do ponto Enquadramento Geográfico de vista geológico seguiram-se os pressupostos da carta geológica de ZBYSZEWSKI et al (1975), à escala Caracterização Física 1/50 000 da ilha da Madeira (Serviços Geológicos de Portugal, 1975), que apresenta um modelo com O Arquipélago da Madeira localiza-se no sector cinco complexos vulcânicos (B – B ) separados no 1 5 ocidental do Atlântico Norte, entre os paralelos 30º tempo e no espaço, entre o Miocénico e o Quaternário. 01’ e 33º 08’N e os meridianos 15º 51’ e 17º 16’W Tendo ainda por referência CARVALHO et al. (1991) a de Greenwich, a SE do Arquipélago dos Açores e a terminologia das unidades geológicas adoptada SW de Portugal Continental (fig. 1). engloba, o Complexo Vulcânico