As Datas De Sesmaria Da Capitania Do Paraguaçu (Século XVI)

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As Datas De Sesmaria Da Capitania Do Paraguaçu (Século XVI) As datas de sesmaria da Capitania do Paraguaçu (século XVI) Alexandre Gonçalves do Bonfim1 Em 1552, foi escolhido para o ofício de governador geral do Brasil d. Duarte da Costa, filho de d. Álvaro da Costa, camareiro e armador-mor do rei d. Manuel I. Esta família apesar de não possuir uma titulação nobiliárquica que permita considerá-la como uma das grandes do reino, possuía uma íntima ligação com o paço real, vide seus ofícios de camareiro e armador- mor. A primeira responsabilizava-o pela organização das vestes e do quarto do monarca, enquanto a segunda dava ao agraciado a responsabilidade de cuidar das armas da família real2. Além disso, d. Duarte da Costa frequentava a casa real onde mantinha íntima relação com o filho do rei d. Manuel I, e sucessor do trono, d. João III. Essa proximidade à casa real obtida durante a infância era fundamental para a obtenção de ofícios régios no futuro. Assim, pode-se compreender que o vínculo com d. João III na infância pode ter influenciado na escolha de d. Duarte da Costa para o governo geral do Brasil, o que seria importante para a estratégia de ascensão social de sua família dentro da corte lusa3. Acompanhou d. Duarte da Costa para o Brasil seu filho d. Álvaro da Costa. Este último auxiliou o pai na governação da colônia, sobretudo no que tange às questões militares. O filho do segundo governador geral atuou na repressão de índios tupinambá em Salvador e no seu entorno e alguns historiadores relatam que o mesmo atuou reprimindo a resistência indígena na beira do rio Paraguaçu4. Em 1557, Mem de Sá foi escolhido para o ofício de governador. Antes de voltar a Portugal, d. Duarte da Costa doou em forma de mercê, uma sesmaria entre os rios Jaguaripe e Paraguaçu à d. Álvaro da Costa, retribuindo os serviços prestados pelo seu filho. De acordo com a carta de sesmaria, a terra da doação poderia ter mais ou menos quatro léguas de distância. Da barra dos dois rios para o sertão o terreno avançaria dez léguas5. Em 1562, d. Álvaro da Costa pediu uma nova confirmação das terras, já que a mesma não tinha sido aproveitada, conforme determinava o regimento de Tomé de Sousa. O sesmeiro alegava que a terra estava em guerra, impossibilitando sua ocupação. Esta guerra seria a continuidade da resistência tupinambá no Paraguaçu, o que provocou uma violenta reação por parte de Mem de Sá. Em 1565, d. Álvaro da Costa voltou a pedir a ratificação da doação. No entanto a Coroa não só confirmou a posse da terra, como a converteu à condição de capitania, assim como ocorreu na capitania de Itaparica e Tamarandiva pertencente à Casa de Castanheira. Com isso, o filho do segundo governador deixava de ter apenas o direito ao usufruto das mesmas e passava a ter o direito à jurisdição sobre o território, devendo instalar uma estrutura administrativa, cobrar taxas estipuladas pela Coroa e distribuir sesmarias6. Assim, não haveria a necessidade do donatário morar no Brasil, já que o regimento de Tomé de Sousa estipulava a necessidade de que os beneficiados com sesmarias morassem em suas terras no prazo de três anos após a doação. O descumprimento desta obrigação causava a perda do direito a terra. Segundo historiador Affonso Ruy, essa foi a principal alegação do Senado da Câmara de Salvador para contestar a posse do primeiro conde de Castanheira das ilhas de Itaparica e Tamarandiva, o que também pôde ter sido o motivo da conversão destas à condição de capitania, ainda que a contenda continuasse após 1556, ano da mudança7. Com a conversão das terras de d. Álvaro da Costa para condição de capitania, esta poderia ser dividida em inúmeras sesmarias que poderiam ser distribuídas para outras pessoas. Entre as décadas de 1560 e 1570 encontrou-se o registro da distribuição de vinte e seis sesmarias distribuídas principalmente na beira dos rios Jaguaripe e Paraguaçu e nas proximidades da costa. A sesmaria seria uma benesse que poderia ser distribuída por meio da mercê que era o ato de dispor de bens pertencentes a Coroa para indivíduos que, de alguma maneira, contribuíram com a colonização8. Como vimos acima, d. Álvaro da Costa recebeu sua sesmaria que virou capitania como retribuição aos serviços prestados à Coroa. Este poderia, alçada suas terras à condição de capitania, conceder sesmarias para outros sujeitos. Conforme veremos abaixo, dados documentais acerca de alguns agraciados (e de suas famílias) com lotes sesmariais no Paraguaçu permitiu vislumbrar em que circunstâncias os agraciados receberam as datas de terras, além de outras questões interessantes. O capitão donatário d. Álvaro da Costa nunca voltou ao Brasil. Assim escolheu para ser loco-tenente do Paraguaçu seu primo Fernão Vaz da Costa que tinha chegado ao Brasil na comitiva de d. Duarte da Costa. No Brasil, Vaz da Costa serviu ao governo como capitão de embarcações já em 1552, assim como foi ativo na repressão aos indígenas rebelados durante o governo Duarte da Costa. Estes serviços podem ter motivado a mercê do ofício de tesoureiro geral que ocupou entre 1558 e 15629. O primeiro loco-tenente do Paraguaçu escolheu uma ilha no Jaguaripe como sesmaria e tinha planos para criar uma vila à beira do dito rio não fosse sua morte em 1568. Quem herdou o ofício de tesoureiro geral de Vaz da Costa foi seu genro Martim Carvalho. Este, de acordo com Soares de Sousa, era senhor de engenho na região de Sergipe do Conde. Antes de ocupar o cargo de tesoureiro, tinha participado de uma expedição na capitania de Porto Seguro, conforme indica Pero de Magalhães Gândavo. Após servir como tesoureiro geral ainda foi provedor na Bahia e em Pernambuco10. Carvalho recebeu de seu sogro uma sesmaria no Paraguaçu11 e pode-se pensar que o mesmo tenha participado das repressões feitas no vale do rio na década de 1560, o que justificaria, inclusive, a doação. O sucessor de Fernão Vaz da Costa no ofício de loco-tenente foi Pero Carreiro, criado de d. Duarte da Costa. Carreiro recebeu uma sesmaria à beira do Jaguaripe em 1579. Ao que parece Carreiro planejava montar um engenho na propriedade, algo que não foi concretizado. Posteriormente, quem assumiu suas terras foi Francisco de Mâncelos, sobre o qual não encontramos mais informações12. Interessante notar, também, o grande número de descendentes de Diogo Álvares Correira, o Caramuru, Afonso Rodrigues e Paulo Dias Adorno, europeus que habitavam à Bahia desde a década de 1530. Caramuru logo obteve uma posição de destaque na sociedade baiana em formação, devido à sua inserção entre os tupinambá por meio de casamentos e apoio a estes últimos em diversas guerras intertribais. Assim, Correia poderia mobilizar um bom número de indígenas em guerras na capitania da Bahia, inclusive a serviço do governo geral. Álvaro Rodrigues e Paulo Dias Adorno se casaram com duas das diversas filhas de Diogo Álvares Correia e suas esposas tupinambá. Paulo Dias Adorno casou com Felipa Álvares, enquanto Afonso Rodrigues desposou Madalena Álvares, conforme informa o Frei Jaboatão. Algumas informações indicam que os dois chegaram ao Brasil junto com Martim Afonso de Sousa na primeira expedição que este fez a parte portuguesa na América. Dizem, também, que chegaram à Bahia fugindo da acusação de um assassinato cometido em São Vicente. Juliana Brainer Neves indica que Dias Adorno era fidalgo de uma família genovesa. Já quanto a Rodrigues não se sabe qual era sua posição social no reino, mas apenas sua origem, a vila de Óbidos13. Deve-se ressaltar que a união destas três famílias tornou possível a ascensão social desta linhagem graças ao recebimento de honras e mercês angariadas devido aos serviços prestados a administração colonial. Aliás, a consolidação da boa posição dos descendentes de Caramuru também foi possível graças ao consórcio de sua neta Izabel Dias com Garcia D’Ávila14. A união do patrimônio fundiário das duas famílias foi essencial para a constituição do famoso e gigantesco latifúndio dos D’Ávila. Assim, observa-se como era fundamental, nesse cenário, as uniões de famílias que assumiam a frente da governança da terra e que escolheram servir a Coroa em buscas das mercês que, como bem demonstra o historiador Rodrigo Ricupero, foram fundamentais para a formação da riqueza de senhores baianos no século XVI e início do XVII15. Ao todo foram oito datas de terras doadas às famílias Dias Adorno e Rodrigues e á descendentes de Diogo Álvares Correia, o Caramuru. Entre as diversas expedições organizadas pelo governo geral para buscar minérios preciosos bem como para supressão de revoltas indígenas e para escravização destes últimos, observa-se diversas notícias da presença de membros destas famílias, inclusive em algumas incursões à região do Paraguaçu. A primeira notícia do envolvimento de um membro destas linhagens em expedições ao Paraguaçu foi à do filho de Paulo Dias Adorno, António Dias Adorno, nos tempos de Mem de Sá, líder da mesma16. Após isso, tem-se notícia de Álvaro Rodrigues, filho de Afonso Rodrigues, liderando uma expedição ao Paraguaçu em 1573, a mando do governador Luís de Brito. Após esta, Afonso Rodrigues estabeleceu engenho ao norte do rio, próximo a Iguape17. Dessa maneira, não deixa de ser plausível a hipótese de que as doações de sesmarias feitas aos Rodrigues, aos Dias Adorno, e aos descendentes de Caramuru, terem sido movidas pela participação de membros destas famílias em algumas das jornadas realizadas no vale do Paraguaçu. Felipa Álvares, filha de Caramuru e casada com Paulo Dias Adorno recebeu uma data de terra próxima ao rio Capanema. Nestas terras, o filho do casal, António Dias Adorno, que havia contribuído com Mem de Sá nas expedições para reprimir os indígenas no Paraguaçu, ergueu dois engenhos na década de 1570.
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