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Misericórdias do distrito de . Fontes para a memória colectiva da Região

Manuel Silva Gonçalves Paulo Mesquita Guimarães

Começamos por agradecer ao CEPESE, o convite para participar neste Seminário, “A Misericórdia de Vila Real e as Misericórdias no Mundo de Expressão Portuguesa” temática que se insere no trabalho que temos vindo a desenvolver junto das Santas Casa do Distrito de Vila Real, através de diversas actividades desenvolvidas pelo Arquivo Distrital de Vila Real, das quais destacamos: Recenseamento dos Arquivo Locais – Câmaras Municipais e Misericórdias, realizado no contexto do Inventário do Património Cultural Móvel – Fundos Arquivísticos. Comemorações “Misericórdias do Distrito de Vila Real – Passado, Presente e Futuro”, no âmbito das quais publicámos o Roteiro das Misericórdias do Distrito e organizámos uma exposição do seu valioso património cultural. Organização, preservação e descrição dos arquivos da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua e da Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio. É esse trabalho que vamos expor, abordando, de forma sucinta, a origem e evolução de cada uma das catorze Misericórdias do Distrito, ocupando-nos, num segundo momento, da sua relevância enquanto fontes culturais e de informação.

1. Enquadramento histórico As Misericórdias, instituições de assistência aos necessitados, atingiram um pres- tígio que raras instituições alcançaram, pela sua eficácia e carácter humano e pela constante adaptação à vida social, em cada época, e aos diversos lugares, reunindo à sua volta pessoas escolhidas, de ideologias múltiplas, mas tolerantes e justas, na obra de bem fazer. Tiveram origem nas inúmeras confrarias de caridade, existentes em , desde o início da nacionalidade. Há mais de quinhentos anos, a Rainha D.ª Leonor tomou a iniciativa de dar alento à velha confraria de Nossa Senhora da Piedade da 412 Manuel Silva Gonçalves / Paulo Mesquita Guimarães

Sé de Lisboa, transformando-a numa confraria e irmandade de invocação de Nossa Senhora da Misericórdia. No que se refere, especificamente, ao distrito de Vila Real, podemos encontrar, nesta época, as mesmas preocupações de reorganização de confrarias de caridade. Tendo por base o compromisso e organização da Misericórdia de Lisboa vamos assistir à fundação de várias Misericórdias num movimento de solidariedade cristã que se inicia no século XVI com as Santas Casas de Chaves, Vila Real e Mesão Frio e se estende aos nossos dias. A Santa Casa da Misericórdia de Chaves regeu-se inicialmente pelo Compromisso da Misericórdia de Lisboa de 15 de Novembro 1516, outorgado à Misericórdia de Chaves por D. João III, em 30 de Julho de 1525, prestando, ao longo da sua história e de forma ininterrupta, serviços de solidariedade social à comunidade em que se insere. Em finais do século XVI concretiza-se a construção da Igreja da Misericórdia e do hospital, dispondo de albergues e asilos, constituindo o único suporte da saúde da região de Chaves até à nacionalização dos hospitais, em 1975, bem como um importante centro de apoio a peregrinos na rota de Santiago. Coube igualmente à Misericórdia de Chaves o desempenho do papel de instituição financeira até ao aparecimento dos primeiros bancos, em finais do século XIX. Em 1914 fundou a casa da infância desvalida P.e Celestino da Silva, designação alterada, em 1942, para Escola Agrícola, de Artes e Ofícios. A partir de 1 de Janeiro de 1983, com a inauguração do lar de dependentes profundos, a Santa Casa da Misericórdia de Chaves tornou-se pioneira, neste tipo de estabelecimentos. No período de 1990 a 2004 passou a designar-se “Santa Casa da Misericórdia de Chaves e ” e actualmente mantém o nome original de Santa Casa da Misericórdia de Chaves. A Santa Casa da Misericórdia de Vila Real surge, igualmente, nos inícios do século XVI. Costa Godolphim, na sua obra As Misericórdias, afirma ter sido instituída em 1528, pelo benemérito D. Pedro de Castro, proto-notário apostólico e abade de Mouçós. Tal convicção baseia-se, provavelmente, numa escritura de compra e venda ainda hoje existente no arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, datada de 20 de Março de 1528. Porém, Adelino Samardan, em 1904, refere em Breve Notícia da Fundação da Santa Casa da Misericórdia e Hospital da Divina Providência de Vila Real, a existência da Irmandade em 1518, embora a construção das instalações só se verificasse dez anos mais tarde. Dado adquirido é de que funcionou inicialmente numa pequena capela da freguesia de S. Dinis, até 1532, altura em que D. Pedro de Castro transformou a pequena capela em Igreja da Misericórdia, dotando-a de casa do despacho e mais dependências necessárias. Em 1664 organizou-se o Tombo Velho da Santa Casa e, em 13 de Março de 1796, procedeu-se à instalação do hospital, em casa alugada na Rua de Trás da Misericórdia, uma vez que o antigo hospital do Espírito Santo, não respondia às necessidades da comunidade. Em 19 de Janeiro de 1817, decidiu-se a construção do novo hospital no largo da Câmara, sendo o General Silveira o seu principal impulsionador. Em 1915, o provedor da Misericórdia, Augusto Rua, estabeleceu negociações com monsenhor Misericórdias do distrito de Vila Real. Fontes para a memória colectiva da Região 413

Jerónimo do Amaral, com vista à aquisição do edifício do colégio de Nossa Senhora do Rosário, para o qual se transferiu o hospital. Em Novembro de 1925 é fundada a “Escola de Donas de Casa – Florinhas da Neve”, seguida das valências: Creche e Jardim de Infância, Lar de Idosos, Centro de Dia, Centro de Actividades de Tempos Livres, Lar da Petisqueira, novo Jardim de Infância, Lar Hotel, Unidade de cuidados continuados integrados e por fim o Refeitório Social. A Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio é a terceira mais antiga do Distrito, criada em 1560. Desde a fundação até 1630, data do seu primeiro Compromisso, regeu-se pelos estatutos da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, como comprova o alvará de D. Sebastião, datado de 4 de Junho de 1577. Constituíram obras de vulto, a construção da igreja da Misericórdia, e o hospital. A construção do actual edifício do hospital ocorreu entre 1773-1780. Passou por importantes obras de reparação dos danos causados pela segunda invasão francesa. Após períodos de grande dina- mismo viria a encerrar em 1992 com a saída das irmãs franciscanas hospitaleiras da Imaculada Conceição. A igreja da Misericórdia foi igualmente incendiada por altura da segunda invasão francesa, tendo sido demolida parcialmente por deliberação da Mesa Administrativa da Santa Casa, em 6 de Junho de 1815. A Santa Casa da Misericórdia de surge em inícios do século XVIII, desenvolvendo grande actividade na prática das obras de misericórdia, principalmente ao longo do séc. XIX. A chamada “sopa dos pobres”, distribuída aos mais necessitados, constituiu uma das suas principais actividades. Funcionando, desde a sua fundação, na igreja da Misericórdia, viria a conhecer, na primeira metade do século XX, uma fase de fraca actividade, sendo revitalizada e reorganizada em 1957. A Misericórdia de Murça é de fundação anterior a Maio de 1717, altura a que remonta a primeira notícia conhecida, uma provisão régia de D. João V. Sediada numa capela da igreja matriz de Murça até 1720, viria, posteriormente, a desaparecer, não existindo já em 1758. A sua refundação ocorre em 30 de Junho de 1923, herdeira da velha instituição setecentista, assumindo como absoluta prioridade a assistência aos enfermos, procedendo à criação do Hospital, em 1936. Em 1963, foi criado o Externato Técnico Liceal Frei Diogo de Murça, originado na doação da marquesa de Vale Flor. Mais tarde entrava em funcionamento o lar de terceira idade e jardim de infância. Recentemente foi criada a unidade de cuidados continuados. Em 1873 é fundado, na vila do Peso da Régua, o hospital de caridade designado de hospital D. Luís I. Em assembleia geral extraordinária dos sócios do hospital, de 27 de Fevereiro de 1881, surge o projecto de estatutos para a fundação da irmandade da Misericórdia, tentativa que viria a fracassar e só mais tarde seria instituída mercê do movimento favorável à expansão das Misericórdias. Assim, em 25 de Dezembro de 1927, viria a ser aprovado o novo projecto de estatutos de fundação da irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua, que tinha sob sua administração, o hospital D. Luís I, o asilo de infância desvalida José Vasques Osório e o asilo de idosos Pedro Verdial. Em 1875, funda-se, em Valpaços, a primeira instituição de beneficência sob a designação de confraria do Santíssimo Imaculado Coração de Maria, que esboça o 414 Manuel Silva Gonçalves / Paulo Mesquita Guimarães projecto de construção de um hospital na Vila. Contudo, em 23 de Abril de 1898, viria a ser extinta, passando os seus bens, para a confraria da Nossa Senhora da Saúde, fundada em 24 de Junho de 1897, ficando a seu cargo a construção do hospital. Em 25 de Julho de 1914 fundou-se a associação beneficente municipal, que tinha como principal objectivo concluir a construção do hospital, mantê-lo em funcionamento, prestando assistência gratuita aos pobres do concelho. Esta associação, converte-se em associação beneficente municipal da misericórdia de Valpaços, e por deliberação da assembleia geral da associação, de 24 de Novembro de 1946, passou a designar-se de Misericórdia de Valpaços, e o hospital a intitular-se hospital de Nossa Senhora da Saúde. A Santa Casa da Misericórdia de Alijó teve a sua origem no hospital de Todos os Santos, inaugurado em 1 de Novembro de 1901. A associação que geria o hospital e se converteu na Santa Casa da Misericórdia de Alijó, veria os seus estatutos aprovados, em 16 de Junho de 1909. Em 1931, funda uma creche e no dia 11 de Setembro de 1941, inaugura o novo hospital maternidade, em edifício construído de raiz. Possui, em funcionamento, a farmácia do hospital e o lar de terceira idade. A Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia de Cerva foi fundada a 12 de Abril de 1918, realizando-se a primeira sessão da mesa administrativa no dia 5 de Maio do mesmo ano. Sediada na capela das Almas da freguesia de Cerva, mantém em actividade um lar de terceira idade e um infantário. No mesmo ano, foi fundada a Santa Casa da Misericórdia de . A escassez de recursos condicionou fortemente a sua actividade, concretizando, porém, nas últimas décadas, diversos projectos de assistência à terceira idade e infância. A Santa Casa da Misericórdia de foi criada em 1935 pelo comendador Alfredo Álvares de Carvalho Pinto Coelho. Este benemérito doou-lhe o hospital que funcionou como única unidade de saúde no concelho, até à sua oficialização como hospital concelhio, em 1976. Poucos anos após a sua fundação e a expensas da Casa Álvares de Carvalho, de Recife, Pernambuco, criou a “sopa dos pobres”. A Santa Casa da Misericórdia de foi fundada em 12 de Novembro de 1937. A criação de um hospital que servisse condignamente o concelho constituiu objectivo primordial da sua acção. O fracasso do projecto e a desmotivação lançaria a Santa Casa da Misericórdia de Vila Pouca de Aguiar numa fase de fraca actividade. Em 1988, com a construção do lar de idosos, passa a assegurar as valências de lar de idosos, centro de dia e apoio domiciliário. A Santa Casa de Misericórdia de fundada em 1988 só em 2002 inicia o seu funcionamento com o Lar de idosos e apoio domiciliário. Mais recentemente adquire as valências, creche e unidade de cuidados continuados. A Santa Casa Boticas é a mais recente sendo criada em 2004. Resulta da separação da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, onde esteve agregada durante aproxima- damente 15 anos. Conta com um vasto leque de equipamentos no âmbito da acção social, dos quais podemos destacar: Os centros comunitários e apoio domiciliário, Lar de Terceira idade, Lar de dependentes acamados e Centro de apoio a deficientes Misericórdias do distrito de Vila Real. Fontes para a memória colectiva da Região 415 do Alto Tâmega. No que concerne ao apoio à Educação, tem também as valências de creche, Jardim-de-Infância e A.T.L.

2. Relevância das misericórdias enquanto fontes culturais e de informação Com uma acção decisiva nas comunidades que servem, nomeadamente nos planos económico, social e cultural, as misericórdias encerram uma quantidade inestimável de informação, que urge divulgar. Através dos arquivos das Misericórdias perpassa a vida económica e social, a fortuna e a pobreza, a saúde, a orfandade, numa palavra, a vida e a morte das comunidades a que se estendia o seu raio de acção, e não só das próprias instituições a que diziam respeito. Para estudarmos a economia e a sociedade, a mentalidade e a história da arte, os Arquivos das Misericórdias fornecem-nos dados insubstituíveis, abrangendo, alguns deles, um espectro cronológico de cinco séculos. Acautelar esses arquivos, conservá-los, torná-los acessíveis, é uma tarefa impres- cindível e meritória. Guiar os investigadores, organizando os acervos e dotando-os dos necessários instrumentos descritivos, é fornecer um contributo de excepcional relevância aos estudiosos da nossa identidade colectiva. Tem sido essa a nossa preocupação, desenvolvendo todos os esforços no sentido da preservação, organização e divulgação dos fundos arquivísticos das suas Misericórdias. No contexto do distrito de Vila Real, assumem particular relevância os arquivos da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real e da Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio. A documentação correspondente ao Arquivo Histórico da Santa Casa da Mise- ricórdia de Vila Real foi incorporada no Arquivo Distrital em 1978. Tal acção permitiu o seu tratamento técnico arquivístico, produzindo-se o respectivo inventário, inserido no Catálogo II do Arquivo Distrital de Vila Real. As alterações que entretanto se foram operando, bem como a evolução registada na Arquivística, com novas metodologias e manuais de descrição baseados nas ISAD(G), permitiu-nos adoptar novos procedimentos e produzir instrumentos de descrição mais fiáveis e operacionais. Neste contexto o Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real viria, em 1998, a ser alvo de um processo de reorganização, produzindo-se um novo inventário. No mesmo ano, foram estabelecidos contactos com a Santa Casa da Misericórdia de Chaves, no sentido de serem criadas as condições necessárias para a preservação, organização e descrição do seu Arquivo Histórico. Não tendo conhecido qualquer processo de organização, tornava-se imperioso classificar e ordenar os seus documentos, procurando restituir-lhes, tanto quanto possível, a sua ordem original, passando-se posteriormente à descrição. 416 Manuel Silva Gonçalves / Paulo Mesquita Guimarães

Nos processos de organização e descrição de cada um destes arquivos, utilizou-se uma metodologia similar. Numa primeira fase procedeu-se à análise documental, com recolha de informações sobre a orgânica, funções e evolução histórica das instituições que lhe deram origem, seguida da recolha de dados referente a cada documento. O esquema de classificação então idealizado para os fundos documentais da Santa Casa da Misericórdia de Chaves e da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, espelha, como não podia deixar de ser, a realidade documental própria de cada instituição. Em observância ao proposto pelas ISAD(G), considerou-se um esquema multinível, que admite sete secções: Uma primeira secção onde se engloba a documentação relativa à constituição e regulamentação das instituições, uma segunda relativa aos seus órgãos de gestão e, as restantes, correspondendo a funções e actividades como sejam a gestão financeira, a gestão patrimonial, a gestão de pessoal, as actividades no âmbito da saúde e assistência social e, finalmente, o culto religioso. Trata-se pois de um plano de classificação elaborado com base em critérios orgânico-funcionais, reflectindo as suas secções e subsecções, tanto quanto possível, a orgânica e funções da instituição. Por seu lado, na constituição das séries foram tidas em linha de conta as carac- terísticas e tipologias documentais detectadas. Concluído o processo de classificação, os documentos foram ordenados de uma forma sequencial, prevalecendo o critério cronológico dentro de cada série. Parale- lamente foram atribuídas as cotas arquivísticas, das quais constam elementos como a entidade detentora; o grupo de arquivos, a designação do fundo documental, as secções e subsecções em que se enquadram, a série e, finalmente, o seu número dentro do fundo. No processo de descrição, para cada “documento”, recolheram-se dados como: Cota original (sempre que o documento evidenciava qualquer numeração original), numeração anterior (particularmente útil no caso do fundo da Santa Casa da Mise- ricórdia de Chaves, dado que as unidades de instalação ostentavam uma numeração que lhe foi colocada, aquando da elaboração da listagem que permitia o acesso aos documentos, antes da nossa intervenção), a data (ou datas de produção do documento), o título, o assunto (nos casos em que a série documental não fosse suficientemente explícita para revelar a temática do documento), estado de conservação, dimensões e observações. No caso dos documentos enquadráveis em mais do que uma série documental, colocou-se, em observação, a respectiva cota remissiva, facilitando assim o acesso à sua informação. O Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, constituído por 308 “unidades de instalação”, ocupa, aproximadamente, 8 metros lineares de estante. Nele se encontram documentos que ilustram a evolução da Santa Casa da Misericórdia de Chaves desde a sua fundação até à actualidade. Um exemplar do Compromisso da Confraria da Misericórdia de Lisboa, elaborado em 15 de Novembro de 1516 e impresso a 2 de Dezembro do mesmo ano, contendo autorização régia, de D. João III, manuscrita em 30 de Julho de 1525, para que a Misericórdias do distrito de Vila Real. Fontes para a memória colectiva da Região 417

Misericórdia de Chaves se pudesse reger por ele, constitui o documento mais antigo do Arquivo. A reforçar o inegável valor deste conjunto documental está o facto de, no âmbito do Inventário dos Bens Culturais Móveis – Fundos Arquivísticos, promovido pelo Ministério da Cultura, terem sido classificados como “Unidades de Valor Excepcional”, os seus dois Compromissos, o de 1516 e o de 1704, e o Tombo da Misericórdia de Chaves, de 1654. Neste arquivo é possível individualizar quatro fundos documentais: Desde logo, o fundo documental da Santa Casa da Misericórdia de Chaves, sem dúvida o mais expressivo em termos de volume documental, o da Confraria das Almas de Chaves, o da Comissão Executiva de Assistência da 2ª Zona Central e o da Comissão Municipal de Assistência de Chaves. Em termos gerais, a documentação encontra-se em bom estado de conservação, contudo certos documentos, principalmente os de cronologia mais recuada, osten- tam alguns danos, resultado de uma prolongada exposição a um ambiente hostil, demasiadamente húmido e com amplitudes térmicas consideráveis, provocando o desenvolvimento de agentes químicos de destruição, agravados por outros de ordem biológica. Alguns documentos evidenciam ainda danos de ordem mecânica, frequentemente resultado do seu deficiente manuseamento e acondicionamento. Por seu lado o Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Vila Real, constituído por 275 “unidades de instalação”, ocupa aproximadamente 9 metros lineares de estante no Arquivo Distrital de Vila Real. Escrituras de compra e venda datadas de 1524 constituem os documentos mais antigos. Foram classificados como“ Unidades de Valor Excepcional”, os seus cinco Tombos. Este Arquivo encontra-se em aceitável estado de conservação, usufruindo das melhores condições ambientais e de acondicionamento que lhe são proporcionadas pelo Arquivo Distrital de Vila Real. Por seu lado, o arquivo da Santa Casa da Misericórdia de Mesão Frio, actualmente em organização, atinge uma extensão documental de aproximadamente 8 m/l, constituído por 587 unidades de instalação, alberga documentação dos séculos XV a XX, sendo a unidade documental mais antiga datada de 1561. Para além do fundo da Santa Casa, inclui ainda documentação pertencente à Ordem Terceira de São Francisco de Mesão Frio, à Irmandade do Sagrado Coração de Jesus de São Nicolau, à Comissão Municipal de Assistência de Mesão Frio, ao Hospital Concelhio de Mesão Frio, à Delegação de Saúde do Concelho de Mesão Frio e ao Centro de Saúde do Concelho de Mesão Frio. Os arquivos das restantes Misericórdias do Distrito de Vila Real, embora apresen- tando dimensões mais modestas e cronologias mais recentes, constituem igualmente importantes fontes de informação para o estudo dos séculos XIX e XX. Tal é o caso do Arquivo Histórico da Santa Casa da Misericórdia de Peso da Régua, transferido para o Arquivo Distrital em 1984. Constituído por apenas 15 “unidades de instalação”, encontra-se convenientemente organizado, descrito e disponível para investigação. 418 Manuel Silva Gonçalves / Paulo Mesquita Guimarães

Em conclusão, os resultados atingidos como consequência da política seguida, de estreita colaboração entre o Arquivo Distrital de Vila Real e as diversas Misericórdias do Distrito, são por demais evidentes na preservação do património documental da Região, sua organização, inventariação e digitalização, facultando ao investigador e ao público em geral, um manancial informativo da maior relevância.

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