A Boneca Barbie: Relações Entre Design Do Produto, Representação Do Feminino E Significação
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XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis A boneca Barbie: relações entre design do produto, representação do feminino e significação Laura Felhauer Toledo Mestranda em Design Centro Universitário Ritter dos Reis - Uniritter [email protected] Suelen Rizzi Mestranda em Design Centro Universitário Ritter dos Reis - Uniritter [email protected] César Steffen Doutor em Comunicação Social Centro Universitário Ritter dos Reis - Uniritter [email protected] Resumo: O artigo tem por objetivo apresentar um breve histórico da boneca Barbie levando em consideração o contexto social e as alterações realizadas no design do produto. Para tal, foi realizada uma pesquisa desde o surgimento da boneca Barbie em 1959, idealizada por Ruth Handler após conhecer a boneca “Bild Lili” em uma viagem a Alemanha e lançada pela Mattel- empresa criada por ela e o marido- chegando até a contemporaneidade, onde é possível encontrar diversos modelos de Barbies, pois a boneca passou por modificações nas formas corporais e estéticas. Primeiramente foram feitas pequenas alterações na forma e na mobilidade, depois foram acrescentadas opções de bonecas oriundas de outras etnias, modificando o tom da pele e cabelo e alguns traços faciais. Em 2016 foi lançada a coleção “Barbie Fashionistas 2016”, na qual a Mattel introduz três novos tipos de corpo – “Tall”, “Curvy” e “Petite”. Para entender como as mudanças formais e estéticas do produto podem ter diferentes significações para as crianças, foi necessário relacionar o histórico da boneca com o contexto de cada momento. Pretende-se mostrar a evolução no design dos corpos das bonecas Barbie ao longo dos anos, evidenciando suas principais diferenças e mudanças, com a finalidade de entender as significações que essas alterações podem gerar. 1 Contextualização A boneca Barbie foi lançada por Ruth Handler nos Estados Unidos no ano de 1959, período marcado pela Guerra Fria. Ela foi baseada em uma boneca alemã chamada “Bild Lili” lançada anos antes. Ruth Handler encontrou a boneca em uma viagem à Alemanha, e quando voltou aos Estados Unidos XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016 XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis decidiu desenvolver um redesign juntamente com o engenheiro Jack Ryan, conhecido por desenvolver armas militares. Essa boneca foi intitulada como Barbie – em homenagem à filha de Ruth chamada Barbara – e em seu primeiro ano de produção foram vendidas aproximadamente 350 mil bonecas (GERBER, 2010). A ideia principal que fez com que a Barbie fosse um sucesso de vendas era de que até então as meninas brincavam com bonecas que imitavam bebês, fazendo o papel de mães, mas, a partir da Barbie, o brinquedo se tornou uma representação do que elas poderiam ser quando crescessem (GERBER, 2010). A boneca sempre esteve envolvida em discursos sobre sexismo e feminismo, mas Ruth Handler acreditava que a Mattel – empresa do segmento de brinquedos fundada por ela e o marido e também produtora da Barbie – não criaria novas tendências, apenas as seguiria, e que a boneca simplesmente “[...]refletia a figura idealizada da mulher nos anos 1950 [...]” (GERBER, 2010, p.112, tradução nossa). Esta pesquisa tem como objetivo apresentar a boneca Barbie sob a ótica do design de produto, focando nas diferenças de tamanho e proporção dos “corpos” das bonecas ao longo dos anos. Pretende-se, principalmente, apresentar a coleção “Fashionistas 2016”, anunciada no dia 28 de janeiro, que introduziu três novos tipos de corpo – “Tall”, “Curvy” e “Petite” – e buscar entender as significações que essas mudanças de design podem gerar. 2 Os principais modelos A Barbie passou por diversas transformações ao longo dos anos, sempre acompanhando as novas gerações e, para melhor entender essas transformações, é necessário traçar uma linha de tempo entre os variados modelos desenvolvidos ao longo dos anos. De acordo com o objetivo deste XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016 XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis trabalho, a pesquisa focou somente nos modelos de corpo das bonecas, pois eles podem ser considerados as maiores representações da figura feminina em relação a um determinado período. Figura 1: Evolução do corpo da Barbie I. Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada1. A Barbie “Vintage” foi o primeiro modelo produzido. A cabeça, braços e pernas podiam ser movidos. As primeiras versões ficavam de pé em cima de um pedestal, por isso os sapatos e pés possuíam furos para o encaixe. Esse primeiro modelo da Barbie foi patenteado em 21 de novembro de 1961 por Jack Ryan. Em 1965 foi lançada a primeira alteração de estrutura na boneca, a Barbie com joelhos dobráveis (1959..., 2014a). A Mattel, em 1967, lançou a Barbie com cintura “Twist ‘N Turn”, mudança que durou por décadas no design da boneca. Essa alteração criou um corte na metade do corpo sendo possível girá-la. Dez anos após o lançamento da primeira Barbie e utilizando a mesma tecnologia dos joelhos 1 Disponível em: <https://www.flickr.com/photos/meanqueen119/25212217960/in/photostream/>; <https://www.flickr.com/photos/blackiegracie/14095022286/sizes/l>; <http://thevinylidol.com/wp-content/uploads/sites/4/2010/05/fullyjointed.jpg>. XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016 XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis dobráveis, em 1969 foi lançada a “Barbie New Living” que possibilitava dobrar os braços, mãos, pés, e também os joelhos (1959..., 2014a). Durante os anos seguintes poucas mudanças estruturais foram feitas, apenas mudanças estéticas, como estilo de cabelo, roupas e tons de pele. No início dos anos 90, o modelo “Fully Jointed” surgiu inovando no design das bonecas. Ele possibilitava muitos movimentos sendo utilizado em vários temas esportivos, como a Barbie Ginasta e Bailarina. Foi considerado um modelo de corpo funcional, porém não tinha um aspecto muito “bonito” e por isso sempre foi utilizado com as roupas das bonecas encobrindo suas articulações (1959..., 2014b). Figura 2: Evolução do corpo da Barbie II. Fonte: Elaborado pelos autores, com base na pesquisa realizada2. A Mattel preparou para a virada do século uma mudança estrutural significativa no design da Barbie. A partir de 2000, finalmente o corpo da 2 Disponível em: <http://thevinylidol.com/wp-content/uploads/sites/4/2010/05/everflex.jpg>; <https://www.flickr.com/photos/sandrokia/16858909236/sizes/l>. XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016 XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis boneca passou a ter um umbigo, aproximando ainda mais seu corpo fictício com a realidade de uma jovem mulher. O primeiro modelo dessa nova geração é chamado de “Everflex”, pois possui um material emborrachado na parte da barriga que torna a boneca flexível e mais realista (1959..., 2014b). Comparando com os modelos anteriores verifica-se que houve um aumento no espaço entrepernas, o que deixou a boneca com aspecto de mais “magra”. Além disso, o tamanho dos seios diminuiu levemente, enquanto o quadril aumentou. O modelo “Basic Belly Button” possui as mesmas características, apenas sem o material emborrachado na barriga. O modelo “Model Muse” foi inspirado nas musas e modelos de passarela, e feito para colecionadores. Como não foi desenvolvido com o intuito de ser um brinquedo para crianças, ele não permite muitos movimentos, variando somente na posição dos braços. Houve uma grande atenção aos modelos de corpo articulados, tanto para crianças quanto para colecionadores. O modelo “Pivotal” tem a mesma base do modelo anterior – “Model Muse” – porém este é totalmente articulado. O modelo “Articulated” segue a mesma linha do “Pivotal”, se diferenciando apenas pela ausência de articulação na parte superior do corpo. O tipo de corpo “Fashionista” já apresentou algumas variações ao longo dos anos, mas ele é basicamente um modelo totalmente articulado – com exceção dos tornozelos – feito para crianças. Esse modelo, em comparação com os três anteriores, apresenta um design e acabamento menos refinado (1959..., 2014b). A boneca “Made to Move” é claramente uma evolução do modelo “Fully Jointed”, pois os propósitos são os mesmos: ser capaz de customizar ao máximo a experiência de brincar com a Barbie. No modelo “Made to Move”, a tecnologia possibilitou ao design evoluir a um grau de possibilidades muito maior que no modelo dos anos 90. Foram desenvolvidos 22 pontos de XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação SEPesq – 24 a 28 de outubro de 2016 XII Semana de Extensão, Pesquisa e Pós-Graduação - SEPesq Centro Universitário Ritter dos Reis articulação para que a boneca fosse capaz de realizar movimentos nunca antes vistos. As Barbies “Silkstone” foram introduzidas em 2000 e ainda fazem grande sucesso entre colecionadores, principalmente devido ao estilo retrô das bonecas. Foram chamadas de “silkstone” pois elas são feitas de um material plástico que imita porcelana. O modelo de corpo inicial era uma releitura do “Twist ‘N Turn” de 1967 e, mais recentemente, a linha adotou também a tendência dos modelos articulados, apresentando um tipo de corpo novo baseado nos modelos “Twist ‘N Turn” e “Pivotal”. 3 Nova geração de Barbies A Mattel já apresentou diversas opções e variedades de corpos de Barbies, porém nenhuma delas realmente alterou o formato e tamanho original da primeira boneca lançada em 1959. A coleção “Fashionistas 2016” é a grande revolução no design da Barbie, pois “quebra” a estrutura padrão da boneca – que sempre teve a mesma altura e proporções de corpo fora do padrão da realidade – e apresenta três modelos de corpos novos, cada um com suas peculiaridades. Na figura 3 pode-se ver claramente as diferenças entre os tipos de corpos, sendo da esquerda para direita, os modelos “Original”, “Tall”, “Curvy” e “Petite”.