“IMIGRANTE ITALIANO” POR MEIO DA FAMÍLIA STOCH1 Juliana
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UMA HISTÓRIA EDIFICADA: A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA E IDENTIDADE DE “IMIGRANTE ITALIANO” POR MEIO DA FAMÍLIA STOCH1 Juliana Maria Manfio2* MESTRANDA EM HISTÓRIA Vitor Biasoli3** DOUTOR EM HISTÒRIA INTRODUÇÃO: O presente trabalho faz parte das atividades desempenhadas no Programa de Pós- Graduação em História (Mestrado em História) da Universidade Federal de Santa Maria, com auxílio de bolsa CAPES. A pesquisa tem por interesse a investigação de como se deu a construção de uma memória local, através da reconstituição da trajetória de uma família de imigrantes italianos, que tinha como objetivo o de garantir a manutenção de uma identidade, de matriz italiana entre moradores de uma comunidade, localizada no interior da cidade de Nova Palma, no Rio Grande do Sul. Nova Palma está localizada na região central do Rio Grande do Sul, como mostra o mapa abaixo. No final do século XIX, recebeu imigrantes italianos que colonizaram o local, denominado naquele período de Núcleo Soturno, fazendo parte da Colônia Silveira Martins, o quarto núcleo de colonização no RS4. Entre os imigrantes que chegaram ali, estava o casal Ângelo e Maria Stella Stoch. O casal havia recebido um lote de terras na Colônia Jaguari5, entretanto devido à falta de investimentos iniciais no núcleo, eles abandonaram6 o local, estabelecendo-se em terras de conhecidos no Núcleo Soturno (MARCHIORI, 2000). 1 Este trabalho um pequeno fragmento de minha dissertação de mestrado, que está sendo desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História da UFSM, com auxílio de bolsa CAPES. 2*Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em História - UFSM e bolsista CAPES. 3** Doutor em História e Professor do Programa de Pós-Graduação em História da UFSM. 4 As primeiras colônias de italianos foram a Conde d”eu, Dona Isabel e Caxias do Sul, na região nordeste do RS. 5 Tal fato foi evidenciado na transcrição dos códices da colonização do núcleo Jaguari. Ver mais em: Marchiori (2000). 6 Marchiori (2000) relatou que, no início da colonização de Jaguari, não havia barracão para o abrigo dos imigrantes, sendo recomendado o encaminhamento imediato aos lotes. Salientou ainda que, para os primeiros imigrantes, não constavam “empréstimos relativos aos itens ‘casa provisória’ e ferramentas e sementes’ (p.17). 2 Imagem 1: Mapa do Rio Grande do Sul, localizando a cidade de Nova Palma Fonte:https://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Palma#/media/File:RioGrandedoSul_Municip_NovaPalma.sv g Na pequena localidade de Linha Três, no núcleo Soturno, aconteceu um duplo assassinato que, provocou a dissolução da família Stoch. Quase 100 anos depois, Padre Luiz Sponchiado7 reconstituiu essa história, construiu um monumento no local do ocorrido e organizou uma festa para os descendentes dos Stoch. Dessa forma, investigou-se a relação deste religioso com a comunidade, com a família e com a construção de uma memória que envolve o imigrante italiano. Neste crime, o primeiro suspeito foi o marido, ou seja, Ângelo foi acusado como o causador da tragédia que envolveu o assassinato de Maria Stella e o filho de colo. Já num segundo momento, envolveu- se um nacional a esta trama, o qual foi acusado por outro crime que ocorreu dois anos depois nessa mesma comunidade. Em linhas gerais, ao longo da trajetória do padre Luiz Sponchiado, existia a necessidade de reafirmar uma identidade italiana, porém, isso não fez com que ele não contasse os exemplos negativos existentes na região. Deste modo, Ângelo foi acusado de beber e de maltratar a esposa, o que numa ótica moralizadora resultou na acusação deste 7 Padre Luiz Sponchiado nasceu na localidade de Novo Treviso, pertencente ao município de Faxinal do Soturno, na Quarta Colônia. Seus avôs eram imigrantes italianos que chegaram a região no final do século XIX. Seguiu a vida religiosa, devido ao incentivo da família, bem como uma opção de saída do campo para a cidade, com o intuito de seguir os estudos. Formou-se padre em 1946 e, voltou como pároco de Nova Palma em 1956. Em Nova Palma, criou e organizou um importante acervo sobre a história da imigração italiana na Quarta Colônia, chamado de Centro de Pesquisas Genealógicas, acervo onde foram encontradas a maioria das fontes utilizadas nessa pesquisa. As atividades que estão sendo desenvolvidas no PPGH/UFSM tentam dar conta de estudar a trajetória de Padre Luiz Sponchiado nesse espaço denominado de Quarta Colônia. 3 primeiro suspeito. Na seguida, “o caboclo LÚCIO JOSÉ DOS SANTOS, que residia em lote de dezesseis hectares” 8 foi apontado como desertor da Brigada Militar na narrativa do padre, e logo após uma sequência de eventos que ligaria Maria Stella ao Juvêncio, que acabaria no estupro seguido de assassinato. Para melhor perceber a relação criada e apresentada à família e comunidade pelo padre Luiz desta história, foi cruzado o discurso por ele produzido com o processo-crime existente. Outra fonte pertinente foi o atestado de óbito de um segundo assassinato, supostamente realizado pelo Juvêncio e, que deu a diretriz final para a execução de uma lei comunitária contra ele. Então, no primeiro capítulo foi realizada a contextualização vivenciada pela família Stoch até o desencilhar desta tragédia. No segundo capítulo foi analisado o teor do discurso do padre, assim como também as suas ações para que este acontecimento fosse “relembrado” pela comunidade que este episódio se passou. Aqui houve a problematização a partir da narrativa do religioso, para isso, a consulta as produções bibliográficas que dão conta de abordar a respeito da importância da presença do padre nos núcleos de colonização italiana, como também sobre a história desta imigração e de suas relações com os indivíduos9 de outras etnias. 1. DE CRIMES E DE NARRATIVAS: A TRAMA E A CONSTRUÇÃO DE UMA MEMÓRIA No Rio de Janeiro aportou um vapor que trouxe o casal Ângelo e Maria Stella Stoch. Foi no dia 25 de janeiro de 1889, quando ao desembarcar naquele porto, ao dar os seus dados, saber o destino e partir para o Rio Grande do Sul, onde teria esta família, uma história trágica. A trajetória desse grupo familiar foi narrada pelo padre Luiz Sponchiado há 100 após esta esperança inicial em território brasileiro10. Este casal, ao chegar à colônia Silveira Martins foi estabelecido em um barracão, a qual serviu de residência inicial para muitos imigrantes que foram para está colônia. 8 A narrativa escrita pelo padre Luiz Sponchiado sobre o casal Stoch conteve o equivoco do nome do nacional, já que na verdade o seu nome era Juvêncio dos Santos. Fonte: Uma história de sangue na colonização italiana, no núcleo Soturno da ex-colônia de Silveira Martins do Rio Grande do Sul. Narrativa escrita de Padre Luiz Sponchiado: Igreja Santo Antônio, de Linha Três, Nova Palma. 2002. 9 O termo “indivíduos” deve ser compreendido como imigrantes, colonizadores e trabalhadores em geral, que passam pela região para realizar alguma tarefa esporádica ou aqueles que povoam os lotes ao mesmo tempo em que estes italianos. 10 Junto ao casal, veio também a viúva Santa Stoch, mãe de Ângelo Stoch. 4 Porém, a situação na colônia não permitia a aquisição de lotes a estas novas levas de imigrantes. Assim, não havendo terras para eles, os mesmos foram enviados à Colônia Jaguari11, dando entrada em 02 de agosto de 1889. Aqui, ao olhar a narrativa do padre Luiz, ficou evidenciado que o mesmo não omitiu a existência daqueles que abandonaram os seus lotes. Neste sentido, foi relatado que a família abandonou a colônia, provavelmente pela falta de recursos e por não terem recebido casa provisória, ferramentas e sementes12. Seria estes motivos que os fizeram retornar a Linha Seis Norte, em Silveira Martins, local onde nasceram os três primeiros filhos: João Antônio (1890), Adão (1891) 13 e Gerônimo (1892) 14. Apesar dos esforços do pároco em compreender e contar tudo o que motivou ao casal voltar para Silveira Martins, não se soube ao certo o ano da mudança, mas em 1894, ano de nascimento de Benevenuto, a família Stoch já estava em nova residência15, na localidade de Linha Três, no Núcleo Soturno16. Dado este constatado pelo sacerdote, provavelmente devido às informações encontradas em livros de batismo. Já estabelecidos em seu novo lar, mais precisamente na comunidade denominada Linha Três, a família viveu no ano de 1897, o assassinato de Maria Stella e seu quinto filho Guilherme17– não foi possível saber com precisão a data de seu nascimento, pois a criança ainda não havia sido batizada. Na narrativa do padre ficou perceptível que ele deu ênfase há esse tempo, o qual além de viverem na nova residência tinha sérias desavenças18. Das características de Ângelo, o marido, é elencável que: primeiramente, Ângelo não era afeito ao trabalho na terra, por segundo, vivia alcoolizado, como também, batia em Maria Stella, e finalmente, a obrigava a mendigar na vizinhança para alimentar os filhos19. Percebendo que o padre não omitiu estas informações, foi necessário verificar o que dizia o 11 Tal colônia foi criada com o intuito de estabelecer os imigrantes que chegavam à região central em grande número. 12 O autor Marchiori (2000), ao transcrever os códices da Colônia Jaguari, constatou as data de entrada e os membros que chegaram aos lotes. Além disso, observou que os primeiros imigrantes (entre eles, italianos, alemães e polacos) não receberam os empréstimos relativos aos itens de sementes, casa provisória e ferramentas, e que muitos deles, após receberam lotes de terra, acabaram abandonando-os. Somente a partir de 1890 os imigrantes passaram a receber o que fora prometido. 13 O bebê faleceu meses após o nascimento. 14Cabe salientar que todos os filhos discriminados nasceram no Brasil. 15A circulação de imigrantes italiana na Quarta Colônia era uma característica da região, cf. Manfio (2013). 16 Atual cidade de Nova Palma/RS. 17Conforme consta no Auto de prisão em flagrante delito.