If Divination Bascom
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IIffáá DDiivivinnaatitioonn IFÁ DIVINATION – WILLIAM BASCON 1. INTRODUÇÃO Ifá é um sistema de divinação baseado em 16 configurações básicas e 256 derivadas ou secundárias (Odú), obtidas por intermédio da manipulação de 16 castanhas de palmeira (ikin) ou pelo meneio de urna corrente (opèlè) de oito meias conchas. O culto de Ifá, na sua qualidade de deus da divinação, impõe ce‐ rimônias, sacrifícios, tabus, parafernálias, tambores, cânticos, louvações, inicia‐ ção e outros elementos rituais comparáveis aos de outros ritos iorubás; estes não são tratados aqui exaustivamente uma vez que o tema primordial do presente estudo é o de Ifá como um sistema de divinação. O modus de divinação será dis‐ cutido pormenorizadamente mais adiante, mas urna breve descrição faz‐se ne‐ cessária na etapa inicial. As 16 castanhas de palmeira são pegadas pela mão direita, deixando apenas uma ou duas na esquerda; caso duas castanhas sobrem, um sinal único é feito na bandeja de divinação; se uma ficar, um duplo sinal será feito. Repetindo esse procedimento quatro vezes, resultará uma das 16 configurações básicas, tais como mostradas na Ilustração 1, A; repetindo‐o oito vezes dá um par ou combinação das configurações básicas, isto é, uma das 256 configurações se‐ cundárias. Alternativamente, uma das 256 configurações derivadas pode ser ob‐ tida com um só lançamento da corrente divinatória (opèlè), com cara/coroa ao invés de par/ímpar. Essa corrente é segurada ao meio, de tal modo que quatro meias conchas pendam para cada lado, num só alinhamento. Cada meia concha pode cair cara ou coroa, isto é, pode cair com sua superfície côncava para cima, o que equivale a uma marca única, ou com essa superfície para baixo, o que cor‐ responderá a duas marcas na bandeja. Representando‐se a parte interna cônca‐ va por um ‐O‐ e a parte externa convexa por um ‐Ø‐, as 16 configurações básicas (metade da corrente divinatória) aparecem conforme mostrado na Ilustração 1,B. As figuras básicas estão listadas na Ilustração 1 na ordem reconhe‐ cida em Ifé, mas uma outra, ligeiramente diferente, é mais largamente reconhe‐ cida (ver Capítulo IV, Ilustração 3,B). A divinação Ifá é praticada pelo Iorubá e Benin Edu, da Nigéria (Dennett, 1910: 148; Melzian, 1937: 159; Bradbury, 1957: 54—60; Parrinder, 1961: 148); pelos Fọn, do Daomé (hoje Rep. do Benim), que a denominam Fa (Hersko‐ vits, 1938: 201—230; Maupoil, 1943); e pelos Ewe, do Togo, que a conhecem por Afa ( Spieth, 1911: 189—225). ela é praticada também, sob a denominação Ifá, pe‐ IFÁ DIVINATION – WILLIAM BASCON 2. los descendentes dos escravos Iorubá em Cuba (Bascom, 1952: 170—176) e no Brasil (Bastide, 1958: 104—109). Os Fon e os Ewe reconhecem como local de sua origem a cidade iorubá de Ifé, de onde os próprios iorubá asseveram haver—se ela expandido. Foi em Ifé que os versos Ifá, apresentados na parte II, foram re‐ gistrados e que a sistemática da divinação foi estudada com o maior detalha‐ mento. Quando informações se baseiam em pesquisas de campo realizadas em outras áreas do território iorubá ou retiradas da literatura, haverá indicações específicas a respeito. A divinação Ifá pode estar sendo praticada mais amplamente do que o indicado acima. Thomas (1913‐1814: I, 47) relata enigmaticamente que os Ibo, da Nigéria oriental, “têm também a conhecida divinação com castanhas de palmeira”. Os Kamuku e os Gbari ou Gwari são povos vizinhos na província de Níger, ao norte da Nigéria. Entre os Kamuku, “para predizer o futuro, ervilhas são agitadas dentro duma carapaça de tartaruga e depois apanhadas dentro da mão direita ou esquerda. elas são então contadas e, conforme fiquem na mão em número par ou ímpar, um sinal é feito no chão. Este procedimento é repeti‐ do oito vezes e se chega a uma significação de acordo com a combinação” (Tem‐ ple and Temple, l9l9: 210). “Divinação com ervilhas e um casco de tartaruga é comum entre muitas tribos, notadamente os Gwari. As ervilhas são sacudidas dentro do casco da tartaruga e, depois, colhidas na mão. Conforme o seu núme‐ ro seja par ou ímpar, uma marca é feita no chão e, ao final, mediante a combina‐ ção das várias marcas de par ou ímpar, uma significação é obtida” (Meek, 1925: II,70). Os Gbari praticam igualmente a mui difundida forma islâmica conhecida por cortes na areia (sand cutting) (Temple and Temple, 1919: 210), a qual será dis‐ cutida mais à frente, neste capítulo. O que pode constituir o primeiro relato a respeito da divinação Ifá da costa daquele território que hoje é Gana, em uma descrição fornecida por Bosman, que lá serviu na qualidade de feitor para os holandeses em Elmina e Axim, durante 14 anos, ao fim do século XVII. Depois de primeiro discutir um método de divinação no qual “cerca de vinte pedacinhos de couro” são suados, Bosman (1705: 152) diz que “a segunda maneira de consultar os ídolos deles é por meio de uma espécie de castanhas selvagens que eles fingem levantar por acaso e as deixam cair novamente, após o que eles as contam e preparam suas previsões dependendo se seu número for par ou ímpar”. IFÁ DIVINATION – WILLIAM BASCON 3. ILUSTRAÇÃO 1 – AS 16 FIGURAS BÁSICAS DE IFÁ A‐ EMPREGANDO 16 AMÊNDOAS DE PALMEIRA 1 2 3 4 5 6 7 8 ỌGBÊ OYEKÚ IWÓRI EDÍ OBARÁ OKANRÁN IRÓSUN ỌWÓRIN I II II I I II I II I II I II II II I II I II I II II II II II I II II I II I II I 9 10 11 12 13 14 15 16 OGUNDÁ OSÁ IRETÊ OTURÁ OTURUKPON IKÁ ỌȘÉ OFÚN I II I I II II I II I I I II II I II I I I II I I II I II II I I I II II II I B‐ EMPREGANDO A CORRENTE DIVINATÓRIA 1 2 3 4 5 6 7 8 ỌGBÊ OYEKÚ IWÓRI EDÍ OBARÁ OKANRÁN IRÓSUN ỌWÓRIN O Ø Ø O O Ø O Ø O Ø O Ø Ø Ø Ø O Ø O Ø Ø Ø Ø O O Ø Ø O Ø O Ø O 9 10 11 12 13 14 15 16 OGUNDÁ OSÁ IRETÊ OTURÁ OTURUKPON IKÁ ỌȘÉ OFÚN O Ø O O Ø Ø O Ø O O O Ø Ø O Ø O O O Ø O O Ø O Ø Ø O O O Ø Ø Ø O IFÁ DIVINATION – WILLIAM BASCON 4. Outro antigo relato vem de Assinie, no canto sudeste da Costa do Marfim, ainda mais afastado a oeste 1. Loyer (1714: 248‐249) descreve um méto‐ do de consulta aos deuses que envolvem a movimentação de caroços de palmei‐ ras (noyeaux de palmistes) que são retirados de uma tigela de madeira ou cobre, fazendo com o dedo marcas em pó de madeira sobre uma tábua, com um pé de comprimento por meio de largura (30 cm X 15 cm) e escolhendo dentre alguns objetos que um assistente mantém em mãos e que representam o bom e o mau resultado da consulta 2. A literatura recente não registra divinação Ifá a oeste do Togo 3. Hamilton narra um sistema de divinação observado em Siwah 4, no Saa‐ ra , que é “denominado “Derb er raml” ou “Derb el ful”, conforme o meio empre‐ gado, se areia ou se favas; neste último caso (com as favas) é mais simples, em‐ bora ambos sejam, em princípio, iguais. Sete favas são retidas na palma da mão esquerda que leva uma hábil pancada do punho direito semi‐fechado, de tal modo que algumas favas saltam para dentro da mão direita ‐ se em numero ím‐ par, é assinalada uma marca, se par, duas. As favas são repostas na mão es‐ querda, que é, de novo, golpeada pela direita e o resultado registrado abaixo da primeira marca. Repetindo‐se isto quatro vezes, obtem‐se a primeira figura, e a operação é realizada até que se tenha obtido quatro figuras que são colocadas lado a lado, em um quadrado; elas são, então, lidas verticalmente e perpendicu‐ larmente (sic!) e também de um canto para o outro, por isso mesmo dando dez figuras no total. Como cada uma pode conter quatro números ímpares e quatro pares, elas são suscetíveis de 16 permutações, cada uma das quais com um sig‐ nificado isolado e uma casa própria, ou seja, uma parte do quadrado na qual deveria surgir. O “Derb er raml” apenas se distingue desse pelo fato de ser mais complicado, novas combinações sendo obtidas mediante a adição de cada par de figuras”. (Hamilton, 1856: 264‐265, citado por Ellis, 1894: 63). 1 Assinie, cidadezinha 1itorânea, fica mais próxima da fronteira com Gana - a leste da Costa do Marfim - mas bem a oeste do território Iorubá. (N do T) 2 ) Fui incapaz de localizar o original mas a passagem é citada inteira por Maupoil (1943: 45) e por Labouret e Rivet (1929: 28) e rapidamente citado por Parrinder (1949: 161;1961: 146). Tauxier (1932: 151) e Maupoil data a visita de Loyer ao redor de 1700; Bosman (1705: 17) esteve em Gana em 1690. Para o uso de objetos repre- sentando o bem e o mal, ver o Capítulo V. 3 Field (1937: 40) rElạta sobre os Gan, da Gana costeira:”Ali também se uniu a Labadi, em época in- certa, uma colônia Ewa, vinda de Little Popo, venerando seu próprio deus Okumaga”. Elạ não fornece pormenores acerca da natureza dessa divindade, mas conforme registrou Parrinder (1949: 156), ogu- maga é o nome Fon para a corrente divinatória, ou agunmaga secundo nota Maupoil (1943: 196). 4 Siwah, oásis situado no extremo noroeste do Egito, quase junto à fronteira com a Líbia - bacia mediterrânea.