Com a Palavra: Tanira Lebedeff
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ENTREVISTA Com a palavra: Tanira CASSIANO CAVALHEIRO [email protected] Lebedeff ARQUIVO PESSOAL Quem assistia ao noticiário televisivo na Santa Maria dos anos 1990 deve lembrar o nome e o rosto da Porta jornalista Tanira Lebedeff. Nascida em Santana do Livramento, formada pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) foi repórter e apresentadora do Jornal do Almoço até 1994. Retrato Filha de uma família definida por ela como linda e barulhenta, a segunda de quatro irmãos (três meninas e um guri) cresceu “hablando portunhol”, indo ao cinema em Rivera, e estudando inglês em escola uruguaia. A isso ela costuma“culpar” a curiosidade de conhecer o mundo e pela facilidade de en- tender o outro. Preconceito ou pré-conceitos contra outras culturas ou nacionalidades a deixam muito irritada. Em entrevista ao Diário, ela conta sobre sua carreira e o que faz atualmente. Diário de Santa Maria – Quais suas lem- fizeram entender a função real do Jornalismo. Eu branças de Santa Maria? Morou aqui em qual acho que nosso ofício nos humaniza. Muitas vezes, período? a reportagem encontra seus personagens, suas fon- Tanira Lebedeff – Era feliz em Santa Maria, tes, nos piores momentos de suas vidas. O jornalis- e sabia muito bem disso. Passei de primeira no ta tem de aproximar realidades, mostrar injustiças, vestibular para Jornalismo no fim dos anos 1980 apontar os responsáveis, cobrar, ser chato mesmo e fiquei na cidade até 1994. Foi um tempo muito em função de um bem-estar comum. Essa é a bom, época das primeiras eleições diretas para essência da nossa profissão. 1 2 presidência do Brasil. Fazia teatro, participava de um grupo da Anistia Internacional, fiz grandes Diário – Você escreveu o livro A Velhinha amigos. Lembro com carinho dos shows no Bom- que Entrevistou George Clooney. Sobre o que é? 3 bril, das noites na boate do DCE. Foi um tempo Tanira – O livro tem relatos de viagens e bas- de descobertas, intenso. Fazia aula como aluna tidores de reportagem, sobretudo dos tempos em especial em vários cursos. Participava de todo que vivi no Exterior. Foram mais de 10 anos como agito cultural e político no campus. correspondente em Los Angeles, nos Estados Uni- dos. Cobri a indústria do cinema em Hollywood, Diário – Por qual motivo você foi embora de assuntos de imigração e política internacional, via- Santa Maria? jei por todos os continentes. Quando voltei ao Bra- Tanira – Quando me formei, fui para a RBS sil, em 2010, comecei a colocar minhas memórias TV Santa Maria. Apresentava telejornais, produzia num blog. De uma forma bem egoísta, até: escrevo e fazia reportagens. Aprendi muito, com colegas para viver de novo. Escrevia enquanto cursava o fantásticos. Chegou o momento em que percebi mestrado em Relações Internacionais na Univer- que já tinha cumprido minha etapa na cidade, que sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Foi precisava conhecer outros mercados. um exercício interessante. Acostumada com textos 4 curtos da televisão (onde trabalhei a maior parte Diário – Hoje, você mora onde? da minha carreira), de repente tinha a liberdade Tanira – Hoje moro em Porto Alegre com meu de escrever mais! Depois surgiu a ideia de colocar namorado, um engenheiro, que, por coincidência esses textos num livro. estudou em Santa Maria na mesma época que eu! Mas só nos conhecemos décadas depois. Diário – Quando não está trabalhando gosta de fazer o quê? Diário – E você trabalha onde? Como é sua Tanira – Miçangas. Sim, sou uma jornalista- rotina? -gente-de-humanas-miçangueira. Trabalho com Tanira – Atualmente, sou professora na ESPM artesanato, produzo quadros com temas bem Sul, no curso de Jornalismo. Tem sido uma experi- coloridos, com tecido, fuxicos e detalhes em ma- ência de reinvenção. O contato com uma geração deira. Também adoro brincar na horta que temos que pensa, produz e consome notícias de uma na sacada. É maravilhoso colher temperos em casa forma totalmente inovadora é desafiador. Me sinto na hora do jantar! E me dedico a um projeto que A jornalista, que renovada, sou uma repórter bem melhor. criei há dois anos, o Clubinho da Mochila. A ideia é 5 iniciou carreira na arrecadar mochilas usadas e repassar para crian- RBS TV Santa Maria, Diário – Na sua opinião, quais os desafios do ças que precisam. Surgiu quando, numa reporta- morou por 10 anos nos profissional jornalista hoje? gem no Bairro Restinga, em Porto Alegre, ouvi de Estados Unidos, onde Tanira – O jornalista saiu da zona de conforto e uma líder comunitária que muitas crianças não foi correspondente isso é ótimo! Não apenas em termos de produção, vão para a escola com vergonha de não ter como da Globo. Trabalhar em um mercado cada vez mais dinâmico e multi- carregar seu material... Tem página no Facebook, na área de cultura lhe oportunizou trabalhar mídia, mas também tendo que provar que ainda se alguém quiser colaborar. na cobertura do somos imprescindíveis. E somos. Para investigar, Oscar (1) e também para apurar a veracidade de fatos, para brigar Diário – Olhando para trás, do que você se entrevistar astros contra fake news e “fatos alternativos”. Jornalista orgulha? E se tem algum arrependimento? como Tom Cruise bom, “de raiz”, sempre tem espaço garantido. Tanira – Há algumas semanas, vendo repor- (3). O jornalista Caco Depois que voltei ao Brasil (passei mais de década tagens antigas, fiquei orgulhosa daquela jovem Barcellos também no Exterior) voltei ao Grupo RBS para trabalhar repórter, a foca que eu fui um dia... Como veterana, foi seu entrevistado na TVCOM. Ali tínhamos inovação no DNA, como e agora professora, achei meu trabalho bacana. (4). De volta a dizem. Fazíamos cobertura com celular, vídeo- Claro que dei várias mancadas. Fiz reportagem que Porto Alegre, Tanira -reportagens, quebramos barreiras entre a TV prefiro esquecer, levei cartão amarelo de chefia... trabalhou na TVCOM (2) e hoje, além de dar e o telespectador. Nos Estados Unidos, tive uma Mas acho que o saldo geral é positivo. Apostei aulas na ESPM, lidera o experiência muito bacana como repórter, num algumas vezes no escuro ao conduzir minha vida e projeto social Clubinho programa voltado para a comunidade brasileira, minha carreira, e deu certo. Espero que ela, a jovem da Mochila (5) o Planeta Brasil, da TV Globo Internacional. Era repórter, tenha orgulho de mim também. um programa bem orgânico, tinha vida própria: era pautado pelo público. Experiências assim me SÁBADO E DOMINGO, 30 DE SETEMBRO E 1° DE OUTUBRO DE 2017 33.