Mostly Other People Do the Killing Party Freaks Provocar Um Sorriso No Ouvinte
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
Jazz 26 Maio 2010 Ciclo 'Isto é Jazz?' Comissário: Pedro Costa Mostly Other People Do the Killing Party freaks provocar um sorriso no ouvinte. Para mim, a música só é verdadeiramente Matthew “Moppa” Elliott gosta de definir interessante quando se tiram elemen- o projecto Mostly Other People Do the tos de uma determinada expressão Killing com uma só frase, adaptada para os fundir com outras. Diferentes do título de um disco dos Mothers of estilos musicais têm diferentes propósi- Invention: We’re only in it for the fun! tos na vida quotidiana, e mesmo estes A verdade, porém, é que o diverti- alteram-se ao longo dos tempos. Hoje, mento deste grupo apresentado como por exemplo, podemos ouvir “big bands” praticando um “bebop terrorista” tem de jazz no consultório de um dentista, muito que se lhe diga, e se o humor e como já aconteceu comigo. Se a inten- a ironia estão entre as suas principais ção original do swing era pôr as pessoas virtudes, os propósitos que persegue a dançar, agora serve para relaxarmos. são, afinal, bastante sérios. Em causa Gosto de pensar sobre isto e de colocar está o tipo de revisionismo distanciado géneros musicais distintos em cima uns que faz de praticamente todos os ramos dos outros: um solo de saxofone no e etapas da evolução do jazz, inclusive estilo de Duke Ellington sobre o maior com recurso a citações dos standards, dos pandemónios, ou um solo do bebop e a sua associação a estruturas rítmicas mais literal no topo de um groove da do rock e a explorações situacionais pop dos anos 1980. Interessam-me identificáveis com a new music. “Se a muito estes paradoxos. Para todos os nossa inclusão dos antigos estilos do efeitos, é tudo música, mesmo que Trompete Peter Evans jazz não é, em si mesma, irónica, já o é a seja difícil aceitar que idiomas diversos Saxofone alto Jon Irabagon justaposição que realizamos desses esti- possam misturar-se ou coexistir. A nível Contrabaixo Moppa Elliott los com outros. Procuramos fazer uma pessoal, é sempre um desafio fazer com Bateria Kevin Shea música que reflicta a natureza fragmen- que estas combinações sejam válidas – o tária das nossas vidas nos dias de hoje, o meu divertimento vem de verificar como que envolve a combinação de elemen- resultam estes mixes, e por vezes até tos musicais drasticamente diferentes, pode surgir algo de surpreendente, uma mas todos eles importantes para nós. nova norma.” Encaramos muito seriamente a história da música gravada e tentamos nada Os processos e a filosofia dos MOPDTK excluir”, refere a propósito o mentor alinham com o pós-modernismo anun- deste quarteto que se completa com ciado na música por figuras como Frank Peter Evans (trompete), Jon Irabagon Zappa e John Zorn. Mas com algumas (saxofone alto) e Kevin Shea (bateria, subtilezas... “Somos definitivamente electrónica). pós-modernos, mas não pretendemos A perspectiva de Irabagon a este que as nossas peças musicais formem respeito tem algumas nuances: “Os statements coesos. Zappa e Zorn são procedimentos que os MOPDTK utilizam influências, sim, mas também a muito para interagir entre si são utilizados teatral improvisação holandesa, o Art Qua 26 de Maio sem qualquer tipo de ironização, e os Ensemble of Chicago, Charles Ives e 21h30 · Pequeno Auditório · Duração: 1h30 · M12 seus objectivos não são unicamente muito mais”, explica o contrabaixista 3 e compositor que está no eixo deste últimos álbuns editados atestam-no car como um novo paradigma, com a como os mecanismos de um paradigma vendaval de sons e referências culturais. suficientemente: This Is Our Moosic dimensão que tiveram o bebop ou o free funcionam com os de outro. O grande Preocupa-se “Moppa” em esclarecer que reproduz a do LP This is Our Music de jazz. O que diz isso da cultura ocidental dilema está no facto de as pessoas se não enquanto líder formal e menos ainda Ornette Coleman e a do recém-editado dos nossos dias?” distraírem com preocupações menores, como o “conceptualista” de serviço: Forty Fort é uma cópia da de Out of “Moppa” interroga-se mesmo sobre como ‘o jazz morreu?’ ou ‘o que é o “Nada determino aos outros mem- the Afternoon, de Roy Haynes. Explica se nos tolhe uma colectiva “preguiça”. jazz?’. Não são poucos os músicos que bros da banda. Ao longo de seis anos, Elliott: “A nossa assimilação da maior Até a pop, salienta, “deixou de crescer falam mal de uma determinada orienta- desenvolvemos um conceito de grupo quantidade possível de material histórico desde o movimento grunge no início da ção estética só porque não a praticam que cresceu organicamente para lá das pode parecer modernista, pelo facto de década de 1990, não sendo outra coisa – no meu entender, tal atitude é nociva formas com que nós os quatro intera- estabelecermos um conjunto minima- senão uma colagem de velhas tendên- para a música como um todo. A cena gimos naturalmente. O entendimento mente coerente através da combina- cias como o funk, o disco ou o swing”. do jazz é tão pequena na escala global do tempo por parte do Kevin é decisivo ção de muitos e pequenos elementos, Se a tecnologia tinha como potenciali- que devíamos entreajudar-nos mais e para o que fazemos, e o certo é que mas a nossa abordagem é, realmente, dade incentivar a inovação, “o certo é não deitar abaixo o trabalho dos outros. temos a tendência para nos sabotarmos, pós-moderna, pois a música mantém-se que a digital não produziu as mudanças Defendo a ideia de que estamos num o que se tornou num factor operacio- fragmentária, tal como acontece com de fundo de que estávamos à espera: o período muito interessante da evolu- nal. Confiamos suficientemente uns nos toda a cultura contemporânea. Quer uso de samples pelo hip-hop foi inova- ção do jazz e que muita coisa positiva outros para nos sentirmos confortáveis isso dizer que não estamos à procura de dor nos anos 80, mas ficou-se por aí”. vai sair daqui. Tão positiva que daqui a neste contexto de permanente armadi- um novo paradigma? A verdade é que Continua o músico: “Significa isto que a 30 anos olharemos para trás, tal como lhamento. Ou seja, o conceito do grupo não houve muitos desenvolvimentos cultura ocidental perdeu a imaginação? agora olhamos para o que foi realizado vem dele mesmo e não totalmente de na música, em geral, nestes últimos 30 Esgotámos todos as nossas ideias? Não nos anos 1960 e 70.” mim. Aliás, as composições que escrevo anos.” sei. O que sei é que continuo a querer Isto significa que está, pelo menos, para os MOPDTK são-lhes específicas, Afirmações como a acima transcrita fazer música com instrumentos acústi- definido o caminho a percorrer. combinando temas facilmente reco- tornam os MOPDTK ainda mais polémi- cos e que a única maneira que tenho de A caracterização e as propostas dos nhecíveis e manipuláveis e evitando cos: “Desde o aparecimento do hip-hop o realizar passa pela duplicação da natu- Mostly Other People Do the Killing harmonias excessivamente complexas e da electrónica que o acompanhou reza fragmentária deste início do século derivam do surgimento de um tipo (enfim, nem sempre – risos), de maneira (com o sampling, as sínteses, o ruído) XXI. Somos constantemente bombar- de músico, antes inexistente, que não a podermos mover-nos com mais ligei- que não oiço nada de realmente ‘novo’. deados por informação e as associações só revela uma grande diversidade de reza entre as estruturas.” Espero que alguma novidade esteja a aleatórias que assim se proporcionam interesses e gostos como teve uma “De facto, discutimos tudo o que o emergir e que simplesmente eu ainda podem resultar muito bem quando escolaridade transversal aos vários ‘Moppa’ escreve antes de um concerto não me tenha apercebido disso, mas transpostas para a música.” géneros e famílias musicais. Peter Evans ou de uma gravação. Cabe a cada um de sou bastante céptico. Muito do mais Jon Irabagon vê o problema com é intérprete de música barroca, toca o nós definir, previamente, como podemos aclamado ‘jazz’ da última década (The outro optimismo: “Todos nós estamos à jazz straight-ahead com propriedade, contribuir, mas muitas coisas acontecem Bad Plus, Robert Glasper, Vijay Iyer, procura da ‘verdade’ e pela minha parte tem uma notável actividade na área da imprevistamente no próprio momento Rudresh Mahanthappa, Steve Coleman, estou convencido de que lidar com os música livremente improvisada e é um em que tocamos, e isso passa por Toumani Diabate, Darcy James Argue, paradigmas já aceites da maneira como inovador radical no que diz respeito às termos a liberdade de interferir espon- Tyshawn Sorey, Steve Lehman, etc., etc.) o fazemos pode revelar-nos o que está técnicas extensivas para o trompete. taneamente com o que os outros fazem, é uma combinação do jazz com outro para vir. Não precisamos de os recusar; Jon Irabagon está tão à vontade no mais e quanto mais inconvenientes, despro- estilo da pop, da música erudita ou da basta-nos questioná-los. Aceitamos os rigoroso dos mainstreams como nas positados e invasivos formos, melhor”, world music. A última grande novidade, velhos paradigmas, mas distorcemo-los, dissertações free e para-vanguardistas elucida o saxofonista dos MOPDTK. se pensarmos bem, foi a frente M-Base, viramo-los do avesso e desmembramo- a que volta e meia se atira. Kevin Shea Num contexto como este, a própria na década de 1980. Não consigo indicar -los para depois montarmos todos os tem actividade simultânea no rock mais pós-modernidade do grupo não é uma ninguém que nos últimos 10 anos tivesse pedaços que ficaram espalhados de excêntrico que se tem praticado nos condição linear.