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_ HISTÓRIA

IMEDIATA

GETÚLIO BITTENCOVAT

PAULO SERGIO MARKUM

ia Aérea Cr$ 58,00

VL LENINE ASTROJILDO PEREIRA

Pi qero A História me Absolverá () - O discurso de defesa do im a so nes dirigente cubano ante o osiologia cu Apelogósica? Tribunal de Exceção do M Nanifento: da Contra-tevolução Campo de: Batalha ditador Fulgencio Batista. © Aos e a Sscravião Uma denúncia da violência e Obras Escolhidas - Vol. I da corrupção em Cuba, (V. I. Lenine) - antes da Revolução. Pela primeira vez no Brasil, Ref. B-03 - 112 pp. a obra selecionada de Ensaios Históricos e Cr$ 105,00. Lenine em 3 volumes, dos Políticos (Astrojildo Pereira) - Diário da Guerrilha do quais este é o primeiro. Um livro que reúne cinco Araguaia (apresentação de Entre os 21 textos textos de Astrojildo Pereira, Clóvis Moura) - selecionados, "Que fazer?", escritor e militante Um documento escrito em "As três fontes e as três revolucionário brasileiro: 1975, pelos dirigentes das partes constitutivas do "A formação do PCB", Forças Guerrilheiras do marxismo" e "Duas táticas "Sociologia ou Apologética?" Araguaia, que relata "a da social-democracia na "Manifesto da história resumida de um revolução democrática". Contra-Revolução", período da luta guerrilheira Edição anotada, ilustrada e "Campo de batalha" e "Rui no sul do Pará", entre 1972 com Índice de nomes e Barbosa e a escravidão". e 1974. dados bibliográficos. Apresentação de Heitor Ref. B-01 - 80 pp. Ref. B-05 - 772 pp. Ferreira Lima. Cr$ 100,00. Cr$ 552,00. | Ref. B-06 - 240 pp. Cr$ 210,00. Am.,mL 3 2 ATENÇÃO: Em Câmara Lenta (Renato Tapajós) - Nos pedidos superiores a Um romance a respeito da guerrilha urbana no Brasil, CrS 1.000,00 você ganha, relançado em 2a edição, inteiramente GRÁTIS, um livro. depois de levantada a sua proibição pelo Ministério da Preços válidos até 31 de agosto. Justiça. Ref. B-04 - 176 pp. Cr$ 145,00.

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O CARDEAL OO POVO

D.PNLO

ARMAS 79007 RISTO

GETÚLIO BITTENCOURT

V8.GNC.;AAA,

PAULO SERGIO MARNN -

DFANBSB

BR

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à direção do jornal "Folha de S. Paulo" e do Arquivo da Arquidiocese de São Paulo por cederem as fotos que ilustram este livro, e ao jornalista e deputado estadual pelo MDB-SP Fernando Morais por nos possibilitar a consulta de seu arquivo. (“KK xu_u-...... uo' 1979

INDICE

4

p.

,

A4 9425, ZA

História Imediata é uma publicação da Editora Alfa-Omega Ltda. / Ad- ministração e Corres- pondência: 05413 Rua Lisboa, 502, tel. (011)

DFANBSB 280-9972 e 64-4622, São Paulo, Capital./

BR Todos os direitos re- servados./ Composi- ção: Irmãos Milesi Ltda. / Impressão: Monsanto A favor do povão Ed. Gráfica, Ltda./ Dis- - tribuída pela Abril S/A. Cultural e Industrial. Um tipo meditativo 13

Redatores O cardeal 19 Getúlio Bittencourt e Paulo Sergio Markun. Uma visão americana 39 Arte-Produção José Santana Matias. O ABC de D. Paulo . 40 Capa Vera Altenburg. Face a face 55 Copydesk/Revisão Julio Cezar Garcia Anexo 73

Foto da capa Darci Lopes Obras de D. Paulo 76

THE WHITE HOUSE

WASHINGTON

December 28, 1977

To Cardinal Arns

Thank you for your letter of October 29, bringing to my attention the list of -

ian political prisoners who have disappeared 5

since 1971. These cases emphasize the im- p. portance of the rule of law, with its right , of habeas corpus and due process through independent civilian courts. Such measures

might not eliminate human rights violations, 3,004 but they would at least show that the govern- ment was dedicated to an orderly system of justice.

on behalf of human dignity made Your work 39062892 me proud to share the podium with you at the . I wish you the greatest success in your efforts to secure the basic rights of all human beings, to help those whose rights have been violated,

and to comfort their families. VB.GNC.AAA.

I regret that I was not able to visit Brazil this fall, but I hope to go next year. And I hope our schedules will allow us to meet

DFANBSB again at that time. 1

BR

Sincerely,

A #2?

His Eminence - Paulo Evaristo Cardinal Arns of Sao Paulo Brazil

Arns./ Obrigado por sua carta de 29 de outubro, chamando-me a atenção para a lista Dezembro, 28, 1977/ Ao cardeal do domínio da lei, de prisioneiros políticos brasileiros que desapareceram desde 1971 Esses casos enfatizam a importância com seu direito ao habeas corpus e a dos devidos processos por intermédio de ;cortes civis independentes. Tais medidas humanos, mas mostram, ao menos, que o governo se dedica a um sistema podem não eliminar as violações dos direitos o Ordeiro de justiça./ Seu trabalho de socorro à dignidade humana me fez orgulhoso de poder compartilhar consigo de Notre Dame, Desejo-lhe o maior sucesso em seus esforços para assegurar os direitos básicos pódio, na Universdade famílias./ Lamento a todos os seres humanos, para auxiliar aqueles cujos direitos têm sido violados e para confortar suas não ter sido possível visitar o Brasil desta vez, mas espero ir no próximo ano., E espero que nossas agendas permitam o nosso encontro nessa ocasião./ Sinceramente . » Jimmy Carter

O cardeal do povo / 3

THE WHITE HOUSE WASHINGTON

March 31, 1978

To Cardinal Arns Rosalynn and I enjoyed the warm p. hospitality extended to us during our visit in Rio de Janeiro.

3001, We were proud to come to Brazil,“ and appreciated this opportunity to strengthen the friendship shared by our people.

Thank you for your efforts which contributed to the success of our trip.

Sincerely,

VB.GNC.AAAAIOO2S5I2

-r ff

_BR -<:$;274? 2 jjáhtªª' Me. 1

Sha meada, aa.

e-

Pps (FX The da o f” [Á.—q de 4 e foeo /

Março, 31, 1978/ Ao cardeal Arns, Rosalynn e eu apreciamos a calorosa hospitalidade que nos foi proporcionada durante nossa visita ao Rio de Janeiro./ Ficamos orgulhosos de ir ao Brasil e apreciamos esta oportunidade de estreitar a amizade compartilhada por nossos povos./ Obrigado por seus esforços, Os quais contribulram para o sucesso de nossa viagem./ - Sinceramente/ Jimmy/ P. S. Admiro sua coragem. Por favor, lembrese de nós em suas preces./ P.P.S. O caso da Con- ceição (N, da E. anoel da Conceição líder camponês do Araguaia, preso na época) foi resolvido imediatamente,

. O cardeal do povo / 4

THE WHITE HOUSE

April 11, 1978

3

5004 2

. I had a great trip to Brazil with my parents and 54 enjoyed making so many new friends. )

Thank you so much for the handmade teapot. I will treasure it as a wonderful reminder of ny visit.

Tove, .

Maw VS.GNC;AAA.+IOG2

| His Eminence i DFANBSB BR R: Paulo Evaristo Cardinal Ams . Archbishop of Sao Paulo Brazil

Y /-

19 N E |.. Abril, 11, 19787 Querido cardeal Arns,/ Eu fiz uma grande viagem ao Brasil com meus país, e gostei recordação de fazer tantos de minha ami- É"4 visita./gos novos./ Com Muitoamor,/ obrigada Amy L. peloCarter. bule de chá feito a mão, Eu O guardarei como uma maravilhosa

O cardeal do povo / 5

A FAVOR DO POVÃO

9

AAA?

VB.GNC

FANBSB

D Bá

div Jimmy r. eo Roma visita 3 luta preces esta gontinVa nossa vê-lo pela conse9 admwação Ihe endereçamos r a 5 s into N NB pressasse o Eminenc'laJ lhe para Carter Sua humanos, RosªWnn es jalment© direi I Sincerummk s dese promover melhor nossos 13, 1978 Agos!'o

a do cardeal O 6 .

. cotidiano do arcebispo que administra a maior a de São Paulo. A pressão da 4 aqmdmcese do mundo, p, Igreja em defesa dos oprimidos, dos marginalizados e

dos sofredores. 3,064,

19002512

le chefia oito bispos, 2.100 tos, é conntlano fanático, a pon- I sacerdotes, quase 300 paró- to de ter sido capa da revista quias, 4.000 freiras perten- Placar. Um homem tranqúilo, centes a 124 organlzaçoes e meia sem angústias, capaz de falar, V8.GNC;AAA. centena de grupos e movimen- 1 num tom de voz moderado e siua- tos leigos. ve, quase inaudível para quem

' Vendeu o majestoso palácio não está acostumado, em histó- DFANBSB

eplscopal por 17 milhões de eru- rias terríveis de perseguições e BR zeiros e foi morar numa casa co- torturas a presos políticos e na mum, com muro baixo, na rua miséria brutal do povo da peri- Mocóca, no alto do Sumaré. feria, sem perder a fé e a espe- E com o dinheiro do palácio, rança que o faz preocupar-se com comprou ou deu entrada em pe- a construção de uma nova socie- quenos lotes espalhados pela pe- dade, mais justa, mais humana. riferia, permitindo a centenas de “mllhares de paulistanos, cons- ruir um espaço coletivo onde A Experiência na Favela hoje discutem os problemas co- dez anos e meio viveu munitários, realizam cursos de Durante Petrópolis, trabalhando com treinamento profissional e cultos em das favelas, anais, mesmo sem a presença o povo dos morros, em "de padres. : percorrendo vielas, entrando e - D. Paulo Evaristo, cardeal barracos, cativando crianças carinho e Arns, como assina os documen- moradores com balas, O cardeal do povo / 7

1

A FAVOR DO POVÃO

orem S mm,pur .

O 3

790023492

AAA

1970: o novo arcebispo de São Paulo visita o então prefeito Paulo Maluf.

V8,GNC ' sorrisos. Poucos sabem disso, pois na lingua- O Inimigo dos Torturadores gem fria e objetiva da imprensa não há espaço para essas referências, como também não existe Foi esse homem que o papa tornou cardeal

DFANBSB lugar para suas lembranças do tempo de crian- da maior arquidiocese católica do mundo - e ça, quando gostava de brincar no rio que corria BR que pouco depois, dividiria esse poder imenso pelas terras da pequena propriedade de seu pai, com oito bispos, chamando outros religiosos ou das intermináveis conversas ao pé do tacho para um trabalho conjunto que revolucionou a que cozia a ração para os porcos, povoadas de Igreja brasileira, sem sobressaltos nem publici- lendas e assombrações. dade demasiada. Um homem que nunca nutriu D. Paulo fez pós-graduação em Paris, na Simpatia pelo regime militar. Mas disse pouco. Sorbonne. Mas não foi ali que acumulou imen- E não falou que nos porões da repressão o no- so conhecimento do sentimento dos homens, sua me do cardeal era sempre citado, na relação dos fé total na solidariedade, por cima das divergên- maiores inimigos dos torturadores e assassinos. cias de credo e de opiniões políticas, sua con- Posto que ele conquistou apesar - ou justa- fiança absoluta no futuro da humanidade, que mente por causa - de toda sua capacidade de permitem a esse homem sereno seguir adiante na luta em favor dos direitos humanos, sem perder diálogo, de sua argumentação tranquila, porém a tranquilidade, ostentando uma firmeza perma- firme, de episódios como este, ocorrido em fins nente que levou a Universidade Notre Dame, a de 1974, num almoço em Brasília. maior organização universitária católica dos Es- Presentes, D. Paulo, o general Golbery do tados Unidos, a conceder-lhe o título de doutor Couto e Silva e uma terceira pessoa. Num mo- honoris causa numa solenidade presidida pelo mento em que ficou sozinho com o general, to- próprio presidente dos Estados Unidos, Jimmy do-poderoso senhor dos gabinetes do Planalto, Carter. o cardeal dirigiu-se a Golbery e disse:

O cardeal do povo / 8

A FAVOR DO POVÃO 1 | |- S6 acreditarei que o senhor é contra a tortura se o senhor suspender a censura aos randes jornais. " Golbery disse que era impossível realizar o o do cardeal, pois o governo tinha medo de 'Os jornais "atirassem pedras para trás", ou eja, publicassem o que havia sido censurado

nos anos anteriores. O cardeal garantiu-lhe que não aconteceria. E dois meses depois - guém pode dizer ao certo quanto pesou a inversa - os censores deixavam a redação de Estado de S. Paulo. Mas permaneceriam no 14 eno e combativo semanário da Cúria Me- p. itana, O São Paulo, um dos últimos a se- # , atingidos pelo fim da censura. 001,

es,

A Carteira da ABI 314 é

D. Paulo fuma cachimbo, usa em sua pas-

permanentemente, uma carteirinha da Asso- 34002 ação Brasileira de Imprensa, adora laranja a -- chupa três por dia, manipulando-as co- se fossem bifes: segura com o garfo e abre asca com a faca, comendo aos, nacos -- e

uma secretária, irmã Lourdes, como verda- V8.GNC.AMA a barreira seletiva: era impossível conseguir contato sem passar pelo crivo dela. . Mas sua agenda não se parece nem um

pouco com a de outras autoridades, seguramente DFANBSB

menos conhecidas do que ele. O próprio cardeal BR reconhece que não tem rotina, a não ser a de A Declaração Universal dos Direitos Humanos sobre reservar pelo menos um dia por semana para ler a mesa do cardeal Arns. e se informar sobre questões teológicas e leigas. A maior parte do tempo, percorre a cidade: fa- W, escolas, paróquias, vicariatos, ou consome em reuniões de avaliação com seus auxiliares. É nessas reuniões, por voto direto, que se traçam as grandes linhas de ação da Igreja em São Paulo.

O Plano Espiritual

", Um dos únicos hábitos religiosos do car- deal, no sentido figurativo, é o de dormir entre 10h30 e 11 horas. Acorda sempre às seis e meia € em casa, não usa o clergyman ou batina, pre- ferindo um blusão marrom escuro. . Suas preocupações com questões vinculadas "à vida terrena dos homens não quer dizer que 1971: com o mudem. Emílio Garrastazu Médici em "deixe de lado o plano espiritual: ao contrário, Brasília. -|

MX " O cardeal do povo / 9

A FAVOR DO POVAO

2 1978: com o papa, semanas antes da morte de Paulo VI.

desde sua ascensão ão posto de cardeal arce- bispo, as grandes festas religiosas, como o Natal e a Páscoa têm sido marcadas por gigantescas m Concentrações de fiéis na praça da Sé, que foi *] efetivamente transformada em um espaço do

p povo, que ali se reuniu para chorar a morte de

, Vladimir Herzog, ou para assistir a missa de Sexta-Feira da Paixão. Histórias sobre seu modo singular de agir não faltam. Entre elas, a de que, momentos de- pois de saber que o cronista Lourenço Diaféria - Seria enquadrado na Lei de Segurança Nacional, por sua crônica relatando o feito de um sargento

24002592 que morreu no zoológico de Brasília, ao salvar uma criança -- onde o Ministro do Exército encontrou "ofensas à imagem de Caxias" - ele tirou cinco cópias xerox do texto e mandou "para cinco amigos influentes" lerem. Depois de algumas horas, perguntou a cada um deles o que

VB.GNC.AAA, tinha achado. Todos elogiaram e o cardeal re-

1978: o presidente Carter visita o Brasil e convida o cardeal para acompanhá-lo em seu automóvel.

DFANBSB O cardeal do povo / 10

BR

7 A FAVOR DO POVÃO pªm "Mas não há uma ofensa ao Duque de Caxias?" Ninguém a tinha localizado, maravi- dos com a homenagem ao heroísmo do sar-

E- Um Corintiano

.E Sua paixão pelé futebol começou no tempo que vivia no Rio. "Cada vez que o Flamengo - conta - os favelados se embebeda- | 1, brigavam e eu tinha que ir lá. Se perdia gol, tomavam um pileque; dois gols, dois ues". Para evitar isso, passou a ir ao campo e onou-se pelo Flamengo. Em São Paulo, é Corintiano. E já jogou muito futebol, embora à ”“Liga ; limite-se a apitar partidas entre religiosos, 1978: com o general Dilermando Monteiro no II. Exército, torcendo sempre para os mais velhos. tunidade de meditar e inicia suas preces. O a _ . Em seu caso, nem mesmo uma antiga lenda jesuíta sai por momentos da sala, troca o fusível AAS

de religiosos tem significado. Conta a história UAA + estavam numa sala três padres: um domi- e a luz D. retorna.Paulo soma os dons oratórios do domi- o, um franciscano, um jesuíta. De repente, CR a luz., O dominicano aproveita a oportuni- nicano, a tranqiilidade do franciscano e o prag- para improvisar um magnífico sermão so- matismo do jesuíta. E de esperança em esperan- e as luzes e as trevas, o bem e o mal. O fran- | ca, como diz seu símbolo de cardeal, segue D.

o, em silêncio, agradece a Deus a opor- Evaristo Arns. O cardeal do povo.

Ó Igrantes operário 5.

259497

CO e favelados. da indústriaO autor, automobilística,ele próprio migrante relata e ex-operárioem seus 29 contos a vida dos migrantes nordestinos,

que vêm para a cidade grande atraídos pelo V8.,GNC;AAA, sonho de melhoria de vida e acabam marginalizados, em condições sub-humanas, nas favelas.

Contos de denúncia social sobre a realidade : DFANBSB

proletária dos grandes centros urbanos. BR

CIRIACO MARTINS E OUTRAS HISTÓRIAS Roniwalter Jatobá de Almeida - 120 pp.

2 17) | Pedidos pelo Reembolso Postal à Editora Alfa-Omega E 05413 - Rua Lisboa, 502 - São Paulo - Capital - Tel. 8853-4489.

1977 o sermão do cardeal aos bispos reunidos O UM em cardeal TIPO Itaici MEDITATIVO do povo / 12

ipomeditativo

O garoto traquinas que subia nos ingazeiros carregados,

o protegido da empregada, o professor, o padre: como

e faz um cardeal no Brasil.

[*) P O 9. p riberto, Osvaldo, Gabriela, construído por seu pai onde nas- 2 Paulo Evaristo, Otília, He- ceram também quase todos os 2 | lena, Hilda, Felipe, Max seus irmãos. ra [a] José, Ida, Bertoldo, Zilda e Zélia Até os 12 anos ele viveu A sã são os treze filhos que Gabriel em Forquilhinha, primeiro nes- Arns, descendente de imigrantes sa casa, em cujo andar térreo alemães, teve com sua mulher funcionavam o armazém da co- elena. A eles juntaram-se mais munidade e uma hospedaria ad- tarde João e Maria Maag, órfãos ministrada por dona Helena Stei- gaúchos adotados pelo casal -- e ner Arns, e, depois, nas outras dessa família saíram dois frades duas casas igualmente construí- franciscanos e três freiras. Um das por Gabriel Arns. dos frades, o quarto irmão, che- "Creio que passei a infância garia também a cardeal-arce- como toda e qualquer criança da- bispo da maior arquidiocese do quele tempo e daquela terra: in- undo. teiramente voltado para a escola | Paulo Evaristo Arns nasceu (fiz 6 anos de primário) e indo na localidade de Forquilhinha, todas as tardes para a roça ou lugarejo do município de Cri- para o balcão da venda, onde ciúma, na ponta extrema do Es- substituía meu tio. Até os 10 anos, tado de Santa Catarina, a 14 de não conhecia o costume de ir à setembro de 1921, no sobrado Missa aos domingos, porque uma

9ardoaldopovo/ 13

UM TIPO MEDITATIVO vez só ao mês e em dia de semana - quando térreo para o café da manhã que tínhamos muita começava com sorte - para lá ia o velho e a oração rezada pelo bondoso pai. A seu irmão Paulo vigário de Nova Veneza, A maior lem- Evaristo coube durante brança algum tempo cuidar de daquele tempo é a "festa dos exames". um cavalo de pêlo avermelhado, Por três dias, de cuja fina ra- toda a colônia vinha de carro de ca se orgulhava. boi e carroça para junto da escola, e aí, em cli- Na escola, dirigida por um irmão e um ma de feira, participava de todas as provas orais cunhado de Gabriel Arns, Paulo Evaristo era de cada matéria e de cada classe. Uma espécie sempre o primeiro aluno de sua turma. Os ir- de reciclagem, para toda a colônia. Um "Pique- mãos Arns formavam um time inteiro de futebol nique", em meio a angústias e Vitórias da crian- (as meninas também jogavam) no qual Paulo cada", recorda o cardeal. Evaristo era um dos beques. E praticavam ou- tros esportes, como corridas de cavalo, handball (Punhobol), natação. O rio que passava nos fundos A Infância no Campo . da casa dos Arns, chamado de Mãe Lu- zia, deu certos aborrecimentos pd ao atual cardeal. Os irmãos Arns estão hoje dispersos: dois vivem em Criciúma; duas freiras, no Rio Gran- de do Sul; a terceira, em Roma, e sete em Curi- Uma Surra Histórica tiba. Hilda Arns, de 53 anos, da congregação das Irmãs Escolares de Nossa Senhora, Era Paulo Evaristo quem subia nos 512.004, dirige a inga- zeiros 2 Escola Imaculado Coração de Maria em Feliz, à beira do rio e lá de cima jogava as fru- perto de Porto Alegre, região de colonização tas que as irmãs aparavam nos aventais esten- alemã. didos. Certo dia, o rio estava Cheio e Gabriel proibira os filhos de chegarem perto da água. Irmã Hilda recorda que os jovens Arns le- Mas Paulo Evaristo não resistiu aos ingazeiros vantavam às 4h30, no inverno e no verão, para carregados e subiu numa das árvores. Quando ajudar a ordenhar as vacas do curral, e depois o pai soube da traquinagem, aplicou-lhe uma a família se reunia na grande mesa do andar sur- Ta - uma das raras que deu em algum filho. E R

DFANBSBVB.GNC.;AAA,440G

BR

1972: o arcebispo com o cardeal . O cardeal do povo / 14 | %

MEDITATIVO GA UM TIPO . Irmã Hilda conta algumas peculiaridades ! do cardeal: o gosto pelos passeios a pé (anda de 12 a 14 quilômetros por dia), o chimarrão, é; cachimbo nas conversas à noite e arroz com vos estrelados. Os Arns tiveram uma mesma pregada durante vinte anos, Filantra Rech, que tinha uma predileção especial pelo Paulo". vezes, não havia uma mistura especial que desse para todos, mas Paulo Evaristo sempre ga- nhava a sua parte, porque Filantra o protegia.

- Outro irmão do cardeal foi reitor da Uni- e

' versidade Católica do Paraná: Oswaldo Arns, de 157 & 1 anos, diz que todos os irmãos sempre consi- ff d geraram as melhores qualidades de Paulo Eva- É risto: "Ele é um tipo meditativo, ponderado, & analista, mas sempre sério, muito sério em tudo que faz ou diz. E sua sobriedade é uma ga- rantia de seus mais altos propósitos. Eu o co- nheço como patriota, como brasileiro que vê o bem da pátria;por um prisma sadio. Subversão,

para ele, deve ser o conceito mais repugnante (ÍUÚZãªqzàmLÍP' lmagmavel” - Dom Paulo saiu de Forquilhinha após seis anos de curso primário para continuar os estu- . dos, ingressando na ordem dos franciscanos. Fez

; ”o Seminário Menor no Paraná e o Seminário 1976: com o governador Paulo Egldió Martins no V8.GNC;AAA. 5 Maior, de Filosofia, em ; e Teologia, em Palácio dos Bandeirantes. ª,Petropohs no Instituto dos Franciscanos, for- . mando-se em 1947, dois anos depois de sua or- - pastor da Igreja do bairro Itamarati, a 5 qui-

lômetros do centro da cidade, cercado por fa- | denação sacerdotal. Em 1947 mesmo viajou DFANBSB velas no alto dos seus sete morros; redator de . para a França, indo estudar Letras na Sorbonne.

várias publicações; professor de dois colégios BR etc. AÍ passaria os 10 anos e meio seguidtes de sua vida, até que em 1966 o Papa Paulo VI O Professor Paulo Evaristo o fez bispo e o chamou para trabalhar com o cardeal Agnello Rossi na arquidiocese de São ! Escreveu então em francês "A Técnica do Paulo. - Livro de São Jerônimo", a tese de doutoramento O cardeal Rossi entregou ao recém-esco- . que lhe valeu em 1952 o mais alto grau - "três lhido bispo a Região Norte de São Paulo, com | honorabile" - na famosa universidade parísien- 3 . suas 38 (hoje 55) paróquias. Ali D. Paulo 'se, e foi o primeiro livro dos quase trinta que passou quatro anos e meio, até que :o mesmo . escreveu. Durante sua passagem por Paris, cur- Papa Paulo VI convocou o cardeal Rossi para o cargo de prefeito da Sagrada Congregação dos . sou também os "Hautes Études" e a "Ecole Povos, no Vaticano, e nomeou D. Paulo Eva- | Superieur de Pedagogie". Tisto arcebispo de São Paulo. 1 Já de volta ao Brasil, foi professor do Se- . minário Menor de Agudos, de 1953 a 1955. E . depois fundou a Cadeira de Língua e Literatura O Arcebispo de SP Francesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de . Dessas duas experiências no Arcebispo em 1970, chegaria a cardeal em interior de São Paulo, D. Paulo seguiu para 1973. Como arcebispo, continuou um trabalho que iniciara ainda como bispo-auxiliar do arce- Petrópolis, onde acumularia quase doze funções O cardeal do povo / 15

UM TIPO MEDITATIVO

Bucher, no programa radiofônico Encontro Com, o Pastor, da rádio Nove de Julho. - Quando o general Canavarro Pereir foi despedir-se dele ao deixar o comando do Exército, D. Paulo pediu-lhe para interceder junto às autoridades competentes, no sentido de acelerar a tramitação dos processos e o julga- mento dos presos políticos.

Só a Justiça Pode Julgar. I 9 7 I A Importância da Ideologia. O Brasil Visto pelo Exterior

Fevereiro: Em nota no jornal O São Paulo, o arcebispo protesta contra as notícias de nais informando as prisões dos subversivos pa- dre Giulio Vicini e assistente social Yara Spa- is.. dini. Dom Paulo nota que ambos não podem ser 1973: em Roma, a alegria do novo cardeal. chamados de subversivos antes de serem julga- dos por um tribunal competente que lhes asse- bispo Rossi: cuidar do tratamento dispensado gure ampla defesa; e denuncia as torturas de que pelo regime brasileiro aos prisioneiros, especial- foram vítimas. mente aos presos políticos. Devido a esse esfor- " - Em seu programa A Voz do Pastor, ço em defesa dos direitos humanos, foi muito pela rádio Nove de Julho, D. Paulo se refere difamado por diversos Governos brasileiros, em- à carta de solidariedade que lhe foi dirigida pela bora em 1964 tenha se oferecido para ajudar comissão central, apoiada por todos os bispos, as tropas do general Olímpio Mourão Filho que e na qual se condenam eas torturas. se deslocaram de Minas Gerais para o Rio. Março: Dom Paulo esclarece que a Igreja Ele foi marcando assim o seu arcebispado: não faz oposição ao Governo, mas critica tudo aquilo que está errado, para esclarecer as pes-

soas que têm condições de solucionar eventuais

DFANBSB Preocupação com os Jovens. erros, BR I 970Apelo por Presos Políticos Abril: Regressando da Europa, onde en- e Defesa do Diálogo controu o papa, mencionou a existência de três restrições à atual situação brasileira: a legisla-

ção, que precisa ser aprimorada na defesa dos Novembro: Em visita ao governador Abreu Sodré no Palácio dos Bandeirantes, D. Paulo condena a violência, o uso dos tóxicos e a imo- talidade que vê entre uma parcela da nossa ju- , Ventude, minoritária se comparada com outros países do mundo. Um mês antes, advertira: "Nós somos os culpados se a juventude não acerta". - Em homenagem que lhe foi prestada pela Associação Brasileira de Relações Públicas, disse que acredita no diálogo, e que sempre de- vemos descobrir alguns pontos comuns entre as pessoas, sem distinção de raça, cor ou credo. Dezembro: Deplorou o segiiestro do em- baixador da Suíça no Brasil, Giovanni Enrico Um dos momentos que ele reserva, à noite, para as baforadas.

O .cardul do povo / 16

um TIPO MEDITATIVO 1973: um auxiliar mostra o documen- to que o Papa Pau- lo VI nomeia D. Evaristo Arns car- deal. 0.14

"direitos humanos; a mística da segurança nacio- nal; e a violência contra a pessoa humana. Setembro: Em almoço na Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas, em São Paulo, lembrou a importância da realização de estudos sobre os problemas ideológicos do século XX. "A política é uma necessidade nos dias de hoje, para não ser criada uma tecnocracia", disse. V8.GNC.AAA eeenm

a A Divergência Entre ] 972 Igreja e Estado Devido aos Direitos Humanos DFANBSB BR

Janeiro: Em sua mensagem de fim de ano "pela Rádio Nove de Julho, o arcebispo apelou : ' ao ministro da Justiça para que a comunidade " possa viver e construir o seu futuro em ambiente | de mútuo respeito. É Fevereiro: Ao embarcar para Roma no "aeroporto de Viracopos, D. Paulo informou | que entregaria ao Papa Paulo MI todos os re- " latórios da última Conferência Nacional dos 1977: o cardeal visita uma favela de São Paulo. do Brasil, inclusive os referentes aos di- ' Bispos entre | reitos humanos. Julho: Ao negar qualquer divergência Paulo afirmou que à / Maio: Dom Paulo fez afixar e ler em cen- a Igreja e o Estado, D. limitada aos direi- tenas de igrejas, por ocasião do Pentecostes, questão entre ambos estava os direitos humanos não | uma carta informando que as autoridades o im- tos humanos: "Onde manifestamos contra- pediram de avistar-se com presos políticos que são respeitados, nós nos essas prerrogativas são defen- realizavam greve de fome em dois presídios de riamente; quando favor". | São Paulo. ' didas, estamos a O cardeal do povo / 17

O CARDEAL sean W

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VB8.GNC,;AAA.

DFANBSB

BR 1979: com o líder metalúrgico Luis Inácio da Silva (Lula) num momento de tensão entre os traba- lhadores e o Governo Figueiredo,

O cardeal do povo / 18

rdeal

Os conflitos com o regime militar brasileiro, a 24

lembrança de que ninguém toca impunemente no homem,

F reconhecimento internacional de uma luta. 1 '

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12o

542 ) &e

1973 e 1974 O cardeal continua sua luta de bispo e arcebispo pelos 34067 dz'reztos humanos e amplia as comunidades eclesiais de base.

[. € Paulo tornou-se cardeal Periferia", que pretendla criar.

D em março de 1973, numa centros comunitários nos bairros V8.GNC.AAA, ER cerimônia presidida pelo mais afastados de São Paulo, Papa Paulo VI, a quem entregou usando para isso a quarta parte

três presentes: um par de sapa- de todo o dinheiro arrecadado DFANBSB pelas igrejas.

"tos de couro feitos por operários BR franceses, a carta de uma garota Na comemoração do Dia do 'de São Paulo, chamando o papa Trabalho, D. Paulo fez uma pa- de "o homem que cuida da paz" lestra na rádio Nove de Julho, "e uma foto aérea da Pontifícia falando do custo de vida e do Universidade Católica. No con- desemprego. "Toma posse da sistório secreto, o papa, com terra e faça com que ela progri- quem D. Paulo iria manter um da pelo seu trabalho" dizia ele na "relacionamento cada vez mais mensagem, citando o Antigo Tes- : amigável, tornou-o responsável tamento, num texto que foi lido pela maior arquidiocese católica em todas as 340 paróquias da ci- 'do mundo. dade. "Já confessamos mais de . Mas o cardeal tinha planos para uma vez - dizia o cardeal - que a cidade, antes mesmo de ser es- não nos compete propor soluções colhido pelo papa. Tanto assim técnicas para os grandes proble- que pouco depois de seu retorno mas econômicos, sociais e cultu- de Roma, lançava a "Operação rais de nossa cidade. Mas tam- : © cardeal do povo / 19

- O CARDEAL

portar outros bispos com áreas específicas de | atuação. Era algo inédito em termos de Igreja, .. uma figura jurídica a ser incluída no novo Có- !. digo do Direito Canônico.

Ele explicou assim a mudança, para o Jor- nal da Tarde:

- Precisamos dividir a arquidiocese não só por causa do número de católicos, mas tam- bém devido às diferenças que existem de uma região para outra, Essa realidade nos obriga a uma revisão. A arquidiocese de São Paulo atin- ge um raio de aproximadamente 100 quilôme- tros, na direção de São Roque e Ibiúna e. é claro que as diferenças entre as paróquias de uma zona rural são muito grandes com relação ao

centro da capital. Outra dificuldade é a comu-

ZZ F nicação do arcebispo com seus auxiliares, que são não apenas os bispos, os padres e os reli- giosos, mas todos os agentes de pastoral. /

eum—3.457 Mesmo antes da divisão, ele já havia im- plantado o trabalho em equipe. Com a autori-

“Krª, zação papal e a indicação de novos bispos para >s auxiliá-lo, criou-se uma divisão de trabalho não só em termos geográficos, mas por linhas de atuação. Hoje, cada um dos bispos cuida de uma pastoral: Mundo do Trabalho, Direitos Huma- nos, Marginalizados, Juventude, etc...

Em outubro de 1973, indignado com as re- petidas violações dos direitos humanos e o des-

V8.GNC;AAARICO respeito à integridade de presos políticos, que; se repetiam com um ritmo de normalidade, sem que a sociedade civil deles tomasse conhecimen-

1971: o arcebispo Arns se recupera de um acidente. to, já que a imprensa continuava amordaçada DFANBSB pela censura, o cardeal decidiu realizar uma Se-

BR bém não basta bradar por justiça, sem unirmos mana dos Direitos Humanos. Imprimiu nada nossos esforços em favor de soluções possíveis". menos que 150 mil folhetos com a Declaração Já nessa época, o cardeal pensava em dei- Universal dos Direitos do Homem, da Organi- xar o luxuoso palácio Pio XII. E não demorou zação das Nações Unidas, da qual o Brasil é muito: no começo de maio, era acertada a ven- signatário e determinou que o texto fosse dis- da do grande edifício para uma firma japonesa, cutido em todas as paróquias e nas comunidades por 17 milhões de cruzeiros. O dinheiro iria eclesiais de base. também para a "Operação Periferia" idealizada por D. Paulo. A resposta não demorou. Um dia depois O cardeal mudou-se para a rua Mocóca, de ter transmitido uma palestra de D. Paulo so- no Sumaré, ocupando uma casa espaçosa, numa bre o problema dos direitos humanos, em que rua tranquila, mas que não possuía nem sinais já antevia essa possibilidade, a rádio Nove de do fausto e do luxo do antigo Palácio Episcopal. Julho, de propriedade da Cúria Metropolitana, Era apenas o primeiro passo de grandes mudan- teve sua licença cassada pelo Governo Federal. ças. Ainda em agosto de 1973, D. Paulo propôs A decisão, que não tinha um fundamento legal ao papa a aplicação, em São Paulo, de uma ex- específico, já que o Departamento Nacional de periência pioneira tentada em Paris: a criação Telecomunicações (Dentel) não indicou nenhu-| .de dioceses interdependentes, capazes de com- ma irregularidade que justificasse a atitude, pr

O cardeal do povo / 20

O CARDEAL yocou grande reação. Parlamentares da oposi- tímida abertura provocaram reflexos também na ção, milhares de católicos é personalidades da área da Igreja. Pouco depois de voltar de Roma, ”Sociedade civil protestaram, mas nada adiantou. D. Paulo fez uma visita ao recém-empossado ge- Os transmissores foram lacrados e a Igreja pre- neral Ednardo D'Ávila Mello, comandante do cisou realizar uma enorme coleta para obter os II Exército. Durante mais de uma hora, o car- 700 mil cruzeiros necessários para indenizar os deal conversou com o general, inaugurando uma 45 funcionários, muitos deles com mais de 10 série de encontros em que o problema dos pre- anos de casa. No final de novembro, o próprio cardeal telegrafou ao senador Eurico Rezende, indagan- 4 rb)

do qual a irregularidade cometida pela rádio. O o A. então líder da Arena no Senado reafirmou o que V dissera alguns dias antes, durante debate com o p oposicionista Franco Montoro: que o fechamen- to tinha amparo legal "absoluto e indiscutível". 33, Mas não respondeu à pergunta de D. Paulo. O episódio foi amplamente noticiado pela a“;

imprensa, que chegou a reproduzir afirmações 542

de P Paulo, atribuindo o fato à ação de "al- | «& guma força oculta" de Brasília. Mas nada se fa- lou sobre a campanha em favor dos direitos

humanos. D. Paulo chegou mesmo a ir a Roma, “ária; em dezembro, para conversar com o papa. Na volta, admitiu ter tratado do relacionamento en- tre a IgrEja e Estado e sobre o fechamento da rádio. A relação entre o governo e o cardeal de .GNC.AAA, São Paulo chegavam a um ponto crítico. Mas o V8 quadro político nacional se modificava, e a es- 1976: o cardeal celebra missa na catedral da Sé em colha de Geisel com os primeiros sinais de uma memória de João Goulart.

DFANBSB

BR

Sl.... l

Í”. ao receber o título de cidadão paulistano, D. Paulo é cumprimentado por Ulisses Guimarães e Magalhães Pinto.

O cardeal do povo / 21

O CARDEAL | R sos políticos e as denúncias de torturas se tor- nariam uma constante. Era o dia 18 de janeiro de 1974 e, no Rio de Janeiro, o general Ernesto Geisel já mantinha contatos com representantes de diversos setores sociais, acenando com a pers- pectivà de uma liberalização do regime. Da visita do cardeal a Ednardo, a imprensa registrou apenas o superficial: teria sido uma vi- sita protocolar, para cumprimentá-lo pela posse, já que D. Paulo estava fora de São Paulo na ocasião. Mas havia mais... " Menos de um mês depois, no dia 7 de fe- vereiro, uma pequena nota na Folha de S. Paulo mostrava que o cardeal continuava preocupado com a situação "dos presos políticos. A notícia É“ dizia que D. Paulo estivera no DOPS, no dia an-

P-

, terior, "procurando inteirar-se da situação da professora secundária Maria Nilde Mascellani,

COA atualmente em exercício no "Sedes Sapientae' e do líder católico Waldemar Rossi, pertencente à Justiça e Paz e de mais três elementos perten- centes aos meios católicos, que se encontram de- tidos naquela repartição. O cardeal entrevistou- -se com Maria Nilde e retirou-se da Polícia Política quando ali chegavam dois representantes 3400257123. consulares da Itália, com o mesmo objetivo". O jornal nada mais dizia. Mas um exame cellani e do jornalista Dermy Azevedo, que fo- do New York Times de alguns dias antes seria ram sumariamente detidos há duas semanas. mais produtivo. Um despacho assinado pela "Estamos muito preocupados com o caso

V8.GNC;AAA, correspondente do jornal no Brasil, Marvie Ho- Azevedo pois ouvimos dizer que ele foi muito : we, datado de 30 de janeiro, dava a idéia do maltratado e, algumas fontes alegam que pod ' clima da época: ter morrido" diz o canone Castanho. % "São Paulo-Brazil - Os católicos romanos O sr. Azevedo, um ex-estudante seminarista

DFANBSB aqui estão preocupados com a onda de prisões que esteve em contato com a arquidiocese, tra- BR de ativistas católicos. Segundo Amauri Casta- balha para o jornal Última Hora. Foi detido no nho, diretor do jornal da arquidiocese O São dia 17 de janeiro, juntamente com sua esposa. | Paulo, as detenções mostram, ao que parece, o A srta. Mascellani, que fundou a escola voca- endurecimento da linha do governo ante as ati- cional no Brasil, foi presa em 18 de janeiro. Ela vidades da Igreja, como o fechamento da rádio trabalhou juntamente com um grupo de bispos católica de São Paulo e a proibição do trabalho que denunciou os abusos aos direitos humanos missionário entre os índios. aqui. Nos círculos eclesiásticos interpreta-se o fechamento como um programa de limpeza para : Segundo fontes eclesiásticas, na paróquia o novo governo. Serviços de segurança mostram de Osasco, nos subúrbios de São Paulo, outras um excesso de zelo, influenciando o presidente prisões foram efetuadas no último fim de sema- eleito, general Ernesto Geisel, a manter uma li- na. Naquela localidade, três sacerdotes funda- nha dura com a Igreja que abertamente tem cri- ram grupos de trabalhadores cristãos que as ticado o governo militar. autoridades não vêem com bons olhos. O arcebispo de São Paulo, Paulo Evaristo O número exato de defenções não é conhe- | Arns, interveio junto ao chefe da Região Mili- cido, mas segundo alguns, mais ou menos dez tar, em favor da educadora Maria Nilde Mas- pessoas foram detidas, incluindo líderes católicos O cardeal do povo / 22

-

O CARDEAL

977: o cardeal exercita o ecumenismo conversando meiro de muitos contatos com Golbery, que pa- om o rabino Henri 1. Sobel. recia ser O interlocutor mais próximo do presi- dente e também mais empenhado em normalizar as relações com a Igreja, melhorando a situação

política nacional; ' Muitas outras vezes, o cardeal conversou com Golbery, por telefone e pessoalmente. E numa dessas conversas, acompanhado por uma comissão de familiares de desaparecidos, rece- beu a promessa formal de que seria dada uma resposta sobre a situação desses brasileiros que foram presos pelo aparelho repressivo do Estado e simplesmente desapareceram. A promessa não 25 foi cumprida e o cardeal passou a não mais p. procurar Golbery. Mesmo assim, foi por intermédio de D. Paulo que Golbery ficou sabendo da morte de

Vladimir Herzog. Mas depois disso, o cardeal 22,004, teria sido avisado pelo próprio governador do Estado de que não deveria mais procurar o ge- neral, porque isso criava problemas para ele, Golbery. A versão não é confirmada por D.

Paulo, que dá outra explicação para o caso (ver 72900289 ãe entrevista). 7 1977: o cardeal Kim, da Coréia; o presidente Carter, "dos EUA; o cardeal Arns, do Brasil, e o reverendo Os primeiros meses de 1974 foram um Lamont, da Rodésia, recebem o título de doutores em tempo de muita atividade para o cardeal, que "honoris Causa" da Universidade de Notre Dame por implantava seu projeto para a arquidiocese, di- sua defesa dos direitos humanos. N vidindo as tarefas, criando comunidades de base, "& líderes trabalhistas católicos. Segundo as fon- implantando um estilo singular, construindo. uma "tes eclesiásticas, diversos estudantes da Pontifícia Igreja efetivamente preocupada com o povo. Universidade Católica foram presos na semana

É nesse ano que surgem as primeiras espe- DFANBSB passada. Mas novamente desconhece-se o núme- culações sobre a possibilidade de D. Paulo vir ro exato." BR a ser o sucessor de Paulo VI. Sua ida para Ro- A prisão de Maria Nilde e de Dermy ma, para participar do IV Sínodo dos Bispos Azevedo, dizia o New York Times, acon- aumenta o noticiário em torno da questão, mas "teceram nos dias 17 e 18 de janeiro. D. o próprio cardeal descarta a possibilidade com ' Paulo esteve com o general Ednardo D'Ávila veemência, explicando que se há um brasileiro Mello no dia 18. Portanto, pode não ter sido com alguma chance, é D. Aloísio Lorscheider, lpenas protocolar aquele encontro. De qualquer presidente da Confederação Nacional dos Bis- modo, no dia 27 de fevereiro, o cardeal teria

mmm pos do Brasil. E as afirmações do cardeal de novo encontro com uma alta autoridade do re- São Paulo vieram a ser confirmadas mais tarde, gime militar. nas eleições de João Paulo I e João Paulo II, ! Num escritório do Rio de Janeiro, o car- 65 quando se soube, em Roma, que o candidato deal conversou com um general da reserva, pre- ta de Paulo VI era realmente D. Aloísio. Sidente perpétuo da Dow Chemical, uma das multinacionais mais poderosas e tido como "o Na volta de Roma, D. Paulo comentou a arquiteto da distensão". Seu nome: Golbery do esmagadora votação do MDB, definindo-a como Couto e Silva, até hoje ministro-chefe do Gabi- resultado da insatisfação popular, que havia nete Civil do presidente. transformado a oposição parlamentar num canal D. Paulo esteve com o general, no Rio, na de protesto. A distensão havia naufragado sob Companhia do professor Cândido Mendes, da a avalanche de votos opúsicionistas, mas dali nascia também um novo quadro político. qumissâo de Justiça e Paz da CNBB. Foi o pri- O cardeal do povo / 23

O CARDEAL

1975 .

O terror em São Paulo, a morte de Vladimir Herzog, a voz do cardeal contra as torturas e assassinatos.

o começo de 1975 - mais exatamente, no finitiva das torturas, dos segiiestros e das pri- dia 16 de janeiro -, o Papa Paulo VI no- sões arbitrárias. © A Igreja pede a revisão de todos

- meou dois brasileiros para a Pontifícia Comissão Os processos, porque em nenhum país democrá- para a América Latina: um deles era D. tico, ninguém nunca foi preso por causa de idéias.

248 Avelar Brandão Vilela, arcebispo de Salvador, Uma pessoa só pode ser presa por atos contra Bahia, irmão do senador Teotônio Vilela, que a comunidade e, mesmo assim, não se pode pren- Lp passava a consultor da Comissão. O outro, D. der ninguém sem mandado judicial. Se assim Paulo Evaristo CO Arns, indicado para membro efe- fosse, estaria se violando todas as legislações de , tivo. ! todos os países em todos os tempos." No dia 25 de janeiro, aniversário da cida- O país vivia dias singulares. A supressão da

$47 de, D. Paulo sagrou mais quatro bispos-auxilia- censura aos grandes órgãos de imprensa - Tri res, levando adiante, dessa forma, seu projeto buna da Imprensa, Movimento e o semanário da de divisão de trabalho. Eram D. Francisco Ma- própria Cúria, O São Paulo, continuavam cen- noel Vieira, D. José Ivo Catapan, D.' Angélico . surados - permitia que questões como a anis- Sândalo Bernardino e D. Mauro Gomes Morelli. tia e mesmo denúncias de violências contra pre- Pela primeira vez se fazia uma sagração cole- sos políticos fossem veiculadas. O cardeal tinha tiva, em São Paulo. mais espaço na imprensa e não hesitava em uti- Os quatro, seguramente, auxiliaram no pla- lizá-lo da melhor maneira possível. Mas as vio- nejamento da Semana da Fraternidade daquele lências continuavam se repetindo nos organis- ano, que teve como tema "Repartir o Pão". E mos de segurança, como se nada tivesse mudado. no encerramento da Semana Santa, que adquiria No dia 21 de maio, depois de uma visita assim uma dimensão maior, chegando mesmo a ao governador Paulo Egydio Martins, D. Paulo ' se utilizar dos meios de comunicação de massa, definiu a situação brasileira:

BRDFANBSB numa ação organizada e global, o cardeal diria: "Vivemos num clima de distensão, que gos- "Cristo repartiu, de fato, O pão material taríamos que fosse maior, mas enquanto a eco- numa ceia. Em seguida, repartiu o pão da ami- nomia vai bem, a distribuição de renda ainda não zade, lavando os pés dos discípulos e deixando- álcança 70 por cento da população." nos a prova de que a autoridade não diminui Ele fora ao Palácio dos Bandeirantes, pa- quando serve, que o sentido mesmo da autori- ra, formalmente, comunicar sua viagem à Itália, dade é servir... A Campanha da Fraternidade Onde participaria do Colóquio Internacional das ensinou-nos novamente a ser um povo e um povo Grandes Religiões. E apróveitou para discutir responsável e unido. Um povo que participa, que problemas como a insegurança, a falta de trans- colabora, que assume os riscos, decisões e bene- portes, e os baixos salários da população da pe- fícios de toda a sociedade." tiferia. Na entrevista à imprensa, D. Paulo falou Mas o cardeal foi ainda mais explícito: também sobre a censura a seu jornal, que não "É o momento de nos unirmos ao pedido tinha esperanças de ver suspensa tão cedo: do Papa Paulo VI e dos bispos do Sínodo em "O censor atual deve ter mais medo que o favor de uma anistia generosa para os presos anterior, o que explica que até as minhas en- políticos em nossa terra, por ocasião desse Ano : trevistas venham sendo censuradas ultimamente, Santo. Também não podemos deixar de lembrar uma coisa que não acontecia antes. O medo é a preocupação dos bispos, reunidos na semana uma coisa que vai crescendo, à medida que vai passada, em Brasília, pela abolição total e de- passando de uma pessoa para outra, embora faça Oc'nrãnldopwo/ 24

O CARDEAL

ção dos mesmos. Nunca aceitaremos esse fato,

nem como brasileiros, nem como membros da

Igreja."

No dia 18 de setembro, o cardeal embarcou

para Roma, onde se avistaria novamente com o

papa. Pouco antes da viagem recebeu na Cúria a visita de representantes da direção estadual do

MDB e declarou:

"É preciso que se mantenha a democracia

no Brasil. Todo o governo deve refletir a soma

de liberdade humana. Considero essencial a par-

ticipação dos jovens e dos trabalhadores na po- lítica e sei quanta coragem e responsabilidade

273 que os homens públicos precisam ter, na luta

pelos humildes e pelos trabalhadores." ! 4

O cardeal estava em Roma e se multipli-

cavam as prisões em São Paulo, Era o que os

3.00 organismos de segurança chamavam de "Opera-

ção Jacarta", numa referência à capital da In-

donésia, onde, anos antes, milhares de pessoas,

consideradas comunistas, foram eliminadas nu-

ma noite de triste memória.

Ao voltar, havia quase uma centena e meia de presos políticos detidos no DOI-CODI de arrastão desfechado 977: na cerimônia do Lavapés, na Semana Santa, São Paulo, num gigantesco autoridade não pondo em prática sua tese de que a nas primeiras semanas de outubro. Essa passou se diminui ao servir, pois é essa sua atribuição fun- 1a damental. a ser sua preocupação fundamental. E quando o jornalista Vladimir Herzog apresentou-se no "Íç'çda_vez menos mal. O atual censor deve ser prédio da rua Tomas Carvalhal, no Paraíso, de- | mais medroso que o anterior. Não creio que os pois de ter sido procurado na noite anterior, por | superiores desse policial lhe tenham dado ordem agentes do DOI-CODI, na TV Cultura, ele te-

DFANBSB de me censurar: d que eu digo tem sempre a lefonou pessoalmente ao governador do Estado,

BR | preocupação de construir, não de destruir. A a pedido do jornalista Mino Carta. censura incomoda muito, não tanto pelo que ela O governador estava em Jales e, por inter- | "corta do jornal, mas pelo simples fato de exis- médio de sua esposa, entrou em contato com o dr." cardeal, que pediu garantias para os jornalistas | Mas a distensão citada pelo cardeal tinha presos, especificamente, Paulo Egydio fez o que seus dias contados, ao menos sob aquela forma. lhe permitiam: falou com o coronel Erasmo . Em junho, o presidente Geisel faz um discurso Dias. que foi classificado como uma verdadeira pá de Mas nada adiantou. Herzog morreu no DOI- | cal. sobre o projeto distensionista. Em julho, co- dia em que foi detido. E D. meçam as prisões de alguns elementos ligados à CODI, no mesmo do fato, foi pessoalmente ao Pa- " ala jovem do MDB em São Paulo, Bahia, Bra- Paulo, ao saber "cobrar do governador." " sília e Minas Gerais. Prisões que o cardeal co- lácio dos Bandeirantes, ao general Golbery, que foi mentou dessa forma, no dia 11 de julho de 1975: Depois, telefonou fato. A participação do "É da maior gravidade a prisão de pessoas por ele informado do tensos é até hoje recordada . que estão lutando por uma definição partidária cardeal nesses dias ele. E está relatada com pre- . Ou pela criação de bases partidárias, pois trata- com emoção, por cisão por Fernando Jordão em seu livro Dossiê se de uma luta dentro da legalidade. Essas pes- Tortura e Morte no Brasil. soas estão sendo mantidas incomunicáveis, sem Herzog - Prisão, direito à assistência de advogados ou sem ter se- Desse trabalho, são os trechos reproduzidos

quer direito de informar à família sobre a situa- abaixo:

O cardeal do povo / 25

O CARDEAL

"Já amanhecia, domingo, quando saímos, mais de uma vez a presença de D. Paulo e sua

eu e Fátima, da casa de Clarice, A caminho de posição firme foram uma fonte de renovação de

casa, procuramos o cardeal, D. Paulo Evaristo forças. Especialmente para Clarice, nos momen-

Arns, que não conheciamos pessoalmente. Eram tos em que ela se sentia mais desamparada em

umas seis horas da manhã quando Irmã Lurdes sua luta. nos atendeu no sobrado do Sumaré, numa sos- D. Paulo foi ao enterro de Vlado na se- segada rua sem saída, onde mora D. Paulo. De gunda-feira e, logo depois, seguiria para Itaici, novo, o 'choro incontrolável quase nos impedia para participar de uma reunião regional dos bis- de falar. D. Paulo já sabia. Acompanhava a si- pos de São Paulo. E de lá, na terça-feira, o pa- tuação desde a véspera, à tarde, quando sentira dre Viegas, que era o seu assessor de imprensa, a gravidade dos fatos, percebera que a violência me telefonaria no Sindicato, depois de vários crescia e que era necessário agir. Procurado por re- cados aflitos para o cardeal, para dizer que Mino Carta, fez contato com o governador Pau- nos trangiilizássemos: D. Paulo fazia questão de lo Egydio, que estava no interior. Desse contato vir pessoalmente para a celebração do Culto Ecuméê- é que surgiu a sugestão para que se procurasse

28 nico que programávamos para sexta-feira o secretário da Segurança em Santos. Ele estava e nos

p. dava as instruções para informado de tudo. preparar o ato na Ca- tedral. D. Paulo fala baixo e duro, quase entre den- tes. Não esconde sua revolta, mas ao mesmo Num de nossos encontros posteriores, o car- tempo sua impotência, que é a mesma de todos deal contou que dois secretários de Estado, do nós: "Não sei se não é a hora de um protesto governo Paulo Egydio, o procuraram na véspera mais forte, Quem sabe sair pelas ruas, gritar, do Culto, para dizer-lhe que desistisse, que can- protestar contra isso tudo. Mas eu não sei. . .o celasse o ato, porque - era o argumento que O que fazer? Faz algumas semanas que D. Paulo usavam - um chefe católico não poderia rezar convive com a tragédia da repressão. As famí- por um suicida. "Amanhã eu estarei na Catedral, rezando lias de pessoas segiiestradas procuram seu escri- por Vladimir, porque tenho a plena con- vicção: tório, na Cúria, para denunciar,; para buscar am- de que ele;não se suicidou* - foi a res- paro, para tentar alguma coisa com a Comissão posta." de Justiça e Paz. ... "Quatro da tarde. A Catedral está re- Ele nos fala desses casos, procura nos con- pleta. O corredor central, as laterais, até os al- fortar. Sabendo que éramos amigos de Vlado, tares secundários estão tomados. Muita gente fi- nos consola, mas, ao mesmo tempo, nos renova cou do lado de fora, ocupando as escadarias de as forças, para vencer o desespero e o desalento. entrada e parte da praça. Os diretores do Sindi- 1 Nos meses seguintes, quando tentávamos cato e outros companheiros jornalistas estamos descobrir provas que destruíssem a versão de sui- BRDFANBSS todos atentos, observando a movimentação para ' cídio, ou quando íamos a seu escritório para detetar a tempo qualquer atitude suspeita, qual- convidá-lo para atos ligados à memória de Vlado, quer provocação que sabemos que só pode vir ! da repressão. Sente-se no !F $ ar a força daquela ma- nifestação formidável, que teria enchido toda a

praça da Sé, não fosse o bloqueio policial" , . .

"... D. Paulo Evaristo Arns entrou em se-

guida no altar, acompanhando os dois rabinos

que fariam a concelebração do culto, Henry So-

bel e Marcelo Rittner, o cantor Paul Novak, da

Congregação Israelita, D. Helder Câmara e

mais vinte sacerdotes católicos. Sua voz firme e

enérgica foi ouvida em todo o templo: "Esta Ca-

sa é de Deus e de todos os homens que aceitam

o caminho da Justiça e da Verdade". Oito mil

pessoas, emocionadas e quietas, acompanham a

recomendação do cardeal, dirá pausadamente: 1974: o cardeal conversa com o general Ednardo D'Ávila Mello "Purifiquemos o nosso coração de todo o ódio.

O cardeal do povo / 26