2013 Leonardofeder Vcorr.Pdf
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS ORIENTAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ESTUDOS JUDAICOS E ÁRABES LEONARDO FEDER Em busca de um olhar judaico: análise das séries fotográficas Histórias Bíblicas, de Adi Nes, Marcados, de Cláudia Andujar, e Crisálidas, de Madalena Schwartz VERSÃO CORRIGIDA São Paulo 2013 Nome: FEDER, Leonardo. Título: Em busca de um olhar judaico: análise das séries fotográficas Histórias Bíblicas, de Adi Nes, Marcados, de Cláudia Andujar, e Crisálidas, de Madalena Schwartz Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) para a obtenção do título de Mestre em Letras Orientais. Aprovado em 29/05/2013 Banca examinadora: Profa. Dra. Helouise Lima Costa (MAC - USP) Prof. Dr. Jorge Schwartz (FFLCH - USP) AGRADECIMENTOS À minha querida orientadora, a professora Berta Waldman, por ter estado sempre tão próxima durante a pesquisa, acompanhando atentamente o trabalho, conduzindo meu aprendizado e me ensinando com sua grande experiência e sabedoria. Aos meus amados pais, David Feder e Ana Lúcia Langer, que desde sempre me são fontes de inspiração, me incentivam, me acarinham e me proporcionam alegrias e sentido de vida. Agradeço a eles por acreditar em mim, por me fazer me sentir amado e por lutar incansavelmente para buscar os melhores tratamentos e as últimas novidades médicas e tecnológicas para atenuar os efeitos da Distrofia Muscular de Duchenne. Às minhas adoráveis irmãs, Clarissa e Adriana Feder, com quem tenho conversas sempre muito interessantes e com quem troco ricos conhecimentos (somos formados em Jornalismo e temos afinidades e gostos culturais parecidos). São companheiras para todos os momentos e estão sempre prontas a ajudar quando preciso. Aos meus outros familiares, meu avô, avó, bisavó, tios, tios-avós e primos. Aos amigos e professores do Colégio I.L. Peretz, da USP e da Folha de S.Paulo. Às minhas afetuosas fisioterapeutas com as quais convivi, convivo e aprendo, Valéria Guerrero, Simone Gonçalves de Andrade Holsapfel e Cíntia Arruda Garcia. À carinhosa mulher que trabalha em casa, Alzira Rodrigues, que cuida de mim com muita dedicação desde que nasci. Agradeço a ela por tudo o que ela me fez e faz. Ao professor Atílio Avancini, por ter me despertado para o gosto pela fotografia. Aos professores que participaram das Bancas de Qualificação e Examinadora, Luís Krausz (na 1ª), Jorge Schwartz (nas duas) e Helouise Lima Costa (na 2ª). RESUMO O objetivo desta pesquisa de Mestrado é dissertar sobre o olhar judaico que, por suposição, permeia as obras de três fotógrafos contemporâneos e avaliar se há tendências que apontem para a judeidade das fotografias. Os artistas estudados são o israelense Adi Nes e as brasileiras de origem húngara Cláudia Andujar e Madalena Schwartz, que, respectivamente, produziram as séries Histórias Bíblicas (2003-2006), Marcados (1981-1983) e Crisálidas (1973-1976) – publicadas em 2007, 2009 e 2012. Adi Nes (1966-), ao encenar em estúdio situações contemporâneas de miséria em Tel Aviv com atores representando personagens bíblicos (Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Elias, José, Rute, Caim, Abel e Davi), reatualizou as histórias da Bíblia Hebraica, como faz o Midrash (livro ou trecho de comentários rabínicos), e, talmudicamente, conectou significantes aparentemente díspares que sugerem muitos significados. Cláudia Andujar (1931-) relacionou a situação indígena à história judaica, ao retratar os índios Yanomami com uma placa numerada no pescoço (para identificar qual fora vacinado), o que remete aos números tatuados na pele dos prisioneiros que ingressavam nos campos de extermínio durante a Shoá, o que, em contrapartida, reforça a ameaça à sobrevivência dos índios quando os brancos invadem as suas terras. Madalena Schwartz (1921-1993) fotografou travestis e transformistas do teatro underground realizado pelo Dzi Croquettes, grupo que, ao transitar entre os gêneros masculino e feminino, cultivavam identidades híbridas, fragmentadas e vivenciavam uma condição de exílio compartilhada pela artista, devido aos seus deslocamentos transculturais, ao fazer o percurso migratório Budapeste-Buenos Aires-São Paulo. Palavras-chave: Adi Nes (Histórias Bíblicas), Cláudia Andujar (Marcados); Madalena Schwartz (Crisálidas); olhar judaico; Fotografia; Judaísmo. ABSTRACT The aim of this research is to discourse about the Jewish eye that, by assumption, permeates the work of three contemporary photographers and evaluate if there are tendencies that point to the Jewishness of photographies. The studied artists are the Israeli Adi Nes and the Brazilians of Hungarian origin Cláudia Andujar e Madalena Schwartz, that, respectively, produced the series Biblical Stories (2003-2006), Marcados [Marked] (1981-1983) and Crisálidas [Chrysalides] (1973-1976) – published in 2007, 2009 and 2012. Adi Nes (1966-), by staging in studio contemporary situations of misery in Tel Aviv with actors representing biblical characters (Noah, Abraham, Isaac, Jacob, Elijah, Joseph, Ruth, Cain, Abel and David), re-updated the stories of Hebrew Bible, as does Midrash (book or excerpt of rabbinic commentaries) and, talmudically, connected signifiers apparently different that suggest a lot of meanings. Cláudia Andujar (1931-) correlated the indigenous situation to Jewish history, by depicting the Indians Yanomami with a numbered plaque in neck (to identify who was vaccinated), what links to the numbers tattooed in the skin of prisoners that enter in death camps during Shoah, what, in return, reinforces the threat to survival of Indians when white people invade their lands. Madalena Schwartz (1921-1993) photographed travestites and crossdressers of underground theatre done by Dzi Croquettes, group that, by transiting between masculine and feminine genders, cultivated hibrid, fragmented identities and experienced an exilic condition shared by the artist, due to her transcultural moves, by doing the migratory route Budapest-Buenos Aires-São Paulo. Keywords: Adi Nes (Biblical Stories), Cláudia Andujar (Marcados); Madalena Schwartz (Crisálidas); Jewish eye; Photography; Judaism. SUMÁRIO Introdução......................................................................................................................p. 8 Capítulos 1. Adi Nes – cenas bíblicas na Tel Aviv contemporânea............................................p. 39 Fotos referentes ao capítulo sobre a obra de Adi Nes.................................................p. 90 2. Cláudia Andujar – reminiscência judaica na marcação dos Yanomami...............p. 100 Fotos referentes ao capítulo sobre a obra de Cláudia Andujar..................................p. 157 3. Madalena Schwartz: encontro do hibridismo judaico com o transformista..........p. 164 Fotos referentes ao capítulo sobre a obra de Madalena Schwartz.............................p. 209 Por concluir................................................................................................................p. 215 Bibliografia geral.......................................................................................................p. 229 Anexo: Entrevista com Adi Nes................................................................................p. 243 Anexo II: Entrevista com Cláudia Andujar...............................................................p. 259 Introdução Se não é a raça, que é então que faz um judeu? Religião? Eu sou ateu. Nacionalismo judaico? Sou internacionalista. Dessa forma, em nenhum dos dois sentidos sou judeu. Sou judeu, entretanto, pela força da minha incondicional solidariedade aos perseguidos e exterminados. Sou judeu porque sinto a tragédia judaica como a minha própria tragédia; porque sinto o pulsar da história judaica; porque daria tudo que pudesse para assegurar aos judeus autorrespeito e segurança reais e não fictícios. (Isaac Deutscher. In: DEUTSCHER, 1970, p. 49). Sinto que sou, intensamente – de maneiras diferentes e em momentos diferentes – as duas coisas [judeu e inglês]. Talvez as identificações genéticas sejam menos determinantes do que supomos. E as afinidades eletivas que adquiri ao longo do tempo (...)? (...) Prefiro a fronteira: o local onde países, comunidades, alianças, afinidades e raízes se entrechocam desconfortavelmente – onde o cosmopolitismo não é uma identidade, e sim a condição normal de vida (...). Longe de não ter raízes, eu me considero bem enraizado numa variedade de heranças contrastantes. (Tony Judt. In: JUDT, 2012, p. 199, 200 e 201). 8 O objetivo desta pesquisa de Mestrado é dissertar sobre o olhar judaico que, por suposição, permeia as obras de três fotógrafos contemporâneos: o israelense Adi Nes e as brasileiras de origem húngara Cláudia Andujar e Madalena Schwartz, que, respectivamente, produziram as séries Histórias Bíblicas (2003-2006), Marcados (1981-1983) e Crisálidas (1973-1976) – publicadas em 2007, 2009 e 2012. A cada uma destas séries será dedicado um capítulo de análise incluindo sempre algumas hipóteses de onde e como situar o viés judaico das respectivas produções. Outro capítulo associará a suposta visada judaica dos fotógrafos em relação a seus temas com o modo de constituição de um olhar pós-moderno. Na conclusão, procurar-se-á inter-relacionar as obras, avaliando, a partir da análise comparativa entre elas, se é possível encontrar não características essenciais, o que parece improvável, mas tendências que apontem para a judeidade das fotografias. Indicar-se-ão também perspectivas para futuros estudos sobre o tema. Esta