foto: Camila Aoki Camila foto: ODO NA TA 192 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 193 região da Serra do Amolar são conhecidos como papa-mosquito. Esses insetos vivem em uma grande variedade de habitats, são facilmente Diversidade de Odonata da Reserva Particular do registrados e susceptíveis às mudanças do meio ambiente induzidas Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista por atividades humanas (Lambeck, 1997). Sua abundância e riqueza são influenciadas tanto pela qualidade de recursos disponíveis como pelo 1 2 3 Mara Cristina Teixeira-Gamarra , Camila Aoki , Silvia Leitão Dutra , tipo de habitats e disponibilidade de presas (Huryn & Wallace, 2000; Nelson Silva Pinto4 & Paulo De Marco Jr.5 Benke et al., 2001) quanto pelas características de sua estrutura corporal 1 Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. e-mail: [email protected] e comportamento. 2 Programa de Pós Graduação em Ecologia e Conservação, Universidade Federal Estima-se que a diversidade total de Odonata seja cerca de 6.000 de Mato Grosso do Sul. e-mail: [email protected] 3 Programa de Pós Graduação em Ecologia e Evolução, espécies para o mundo todo (Kalkman et al., 2008). A ordem é dividida Universidade Federal de Goiás. e-mail: [email protected] em três subordens: Anisozygoptera, com distribuição restrita ao Oriente; 4 Graduando em Ciências Biológicas, Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese da Universidade Federal de Goiás. e-mail: [email protected] Anisoptera e Zygoptera, com distribuição Neotropical (Souza et al., 2007). 5 Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese, Departamento de Ecologia, Aproximadamente 48% do total das espécies da Região Neotropical, cerca Universidade Federal de Goiás. e-mail: [email protected] de 800 espécies, são registradas no Brasil (Souza et al., 2007). Para o Estado de Mato Grosso do Sul, a fauna conhecida de Odonata Resumo é cerca de 150 espécies (Longfield, 1929; Heckman, 2006; Souza & Costa, 2006; Pessacq & Costa, 2007). Costa et al. (1998) registraram 39 espécies Os representantes da ordem Odonata são insetos hemimetábolos de Odonata para região do Pantanal Sul-Mato-Grossense, havendo ainda com adultos terrestres e larvas aquáticas, popularmente conhecidos um levantamento com 163 morfoespécies em área de Cerrado na região como libélula, lava-bunda, cavalo-de-judeu, zig-zag e jacinta, entre do Aporé Sucuriú (Souza & Costa, 2006). outros. Na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer A maior parte das informações disponíveis sobre o grupo refere- Batista (RPPN EBB), através da metodologia de busca ativa com rede se ao Pantanal, embora haja grandes lacunas de conhecimento tanto entomológica, foram coletados 224 indivíduos de Odonata, distribuídos nesta região quanto para o restante do Estado. Para a região da Serra em três famílias, 15 gêneros e 24 espécies. A família do Amolar, onde situa-se a Reserva Particular do Patrimônio Natural apresentou maior riqueza e abundância entre as famílias registradas na Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB), a Odonatofauna era até o área de estudo. O gênero mais representativo foi Erythrodiplax, com cinco momento totalmente desconhecida, sendo este o primeiro levantamento espécies registradas. O gênero Triacanthagyna e a espécie Micrathyria sistematizado na região. romani ainda não tinham sido registrados para Estado de Mato Grosso do Sul. Este trabalho figura como a primeira listagem de Odonata para a Metodologia região da Serra do Amolar. Locais de Coleta Introdução A RPPN EEB está localizada no estado de Mato Grosso do Sul, a Os representantes da ordem Odonata são insetos hemimetábolos noroeste do município de Corumbá (S 18°05’25” e O 57°28’27”), entre o predadores, tanto na fase adulta terrestre alada como na fase de larva Rio Paraguai e a Baía Mandioré. O limite oeste da RPPN EEB faz fronteira aquática. Popularmente são conhecidos como libélula, lava-bunda, com a Bolívia. cavalo-de-judeu, zig-zag e jacinta, entre outros (Souza et al., 2007); na As coletas foram realizadas entre os dias 27 de julho e 02 de agosto

194 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 195 de 2010 (estação seca) e entre os dias 27 de março e 05 de abril de 2011 Análise de dados (estação chuvosa), na estrada Mandioré (S 18°05’42” e O 57°28’53”), Para calcular a diversidade dos pontos amostrais foram utilizados nas trilhas Amolar (S 18°05’33” e O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20” os índices de diversidade de Shannon (H’, logaritmo base natural) e o e O 57°29’30”), na sede da RPPN EEB (S 18°05’25” e O 57°28’27”) e na estimador não-paramétrico Chao 1 para estimar a riqueza de espécies. Para margem do Rio Paraguai, dentro dos limites da RPPN EEB (S 18°05’06” e determinação do esforço amostral, utilizamos curvas de acumulação de O 57°28’38”). espécies pela aleatorização (com 1000 iterações) de diferentes tamanhos Dados da 2a Expedição para o Plano de Manejo da RPPN EEB, de amostras (número de indivíduos) usando o programa EcoSim 7 realizada entre 19 e 24 de maio de 2007, foram incluídos à listagem e (Gotelli & Entsminger, 2001). aparecem destacados na Tabela 1. Resultados Métodos de coleta Foram coletados 224 indivíduos, distribuídos em três famílias, 15 gêneros e 24 espécies (Tabela 1), sendo 21 espécies pertencentes à Os indivíduos adultos de Odonata foram coletados com o auxílio de subordem Anisoptera (famílias Aeshnidae e Libellulidae) e apenas três rede entomológica (puçá) (Figura 1), sendo realizadas sete horas diárias pertencentes à subordem Zygoptera (família Coenagrionidae). (7h – 11h e 14h – 17h) de busca ativa e coleta ao longo das trilhas. O material Tabela 1. Espécies de Odonata registradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural En- coletado foi tratado com acetona PA por 24 horas para manutenção das genheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. cores, acondicionado em envelopes entomológicos e conservado em recipientes contendo naftalina.

Figura 1. Busca ativa com auxílio de rede entomológica (puçá). Fotos: Bolivar Porto.

Identificação do material coletado A identificação foi realizada com o auxílio de estereomicroscópio, chaves taxonômicas (Lencioni, 2005; Lencioni, 2006; Garrison et al., 2006; Heckman, 2006) e comparação com materiais previamente identificados por especialistas. Os indivíduos coletados foram depositados na Coleção Biológica Didática da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) e na Coleção do Laboratório de Ecologia Teórica e Síntese da Universidade Federal de Goiás. Legenda: (S) Seca, (C) Chuvosa, (Am) Trilha Amolar, (Ma) Estrada Mandioré, (Mo) Trilha Morrinhos, (Ri) Margem do Rio Paraguai, (Se) Sede da RPPN EEB. *Espécies registradas na 2a Expedição para o Plano de Manejo da RPPN EEB / maio de 2007.

196 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 197 O esforço amostral representado pela curva de acumulação de espécies indicou que a riqueza de Odonata está subamostrada, uma vez que a curva permaneceu abaixo da assíntota (Figura 2). A riqueza estimada foi de 36 espécies; desta forma, teriam sido amostradas cerca de 67% das espécies ocorrentes na área de estudo.

Figura 3. Homeoura nepos. Foto: Camila Aoki.

A família Libellulidae contribuiu com o maior número de espécies (19) e também apresentou as espécies mais abundantes na área de estudo (Tabela 1): Miathyria marcella (42 indivíduos, Figura 4), Erythrodiplax umbrata (24, Figura 5), Erythemis plebeja (21, Figura 6), Erythodiplax paraguayensis (20, Figura 7), Micrathyria romani (19), Erythemis Figura 2. Curva de rarefação de espécies de Odonata na Reserva Particular do Patrimônio Natural vesiculosa (19, Figura 8) e E peruviana (16, Figura 9). Apesar das elevadas Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. As barras indicam o intervalo de confiança de 95%. abundâncias, nenhuma espécie foi registrada em todos os pontos amostrados. O gênero mais representativo foi Erythrodiplax, com cinco espécies registradas. Quatorze espécies foram registradas na estação seca, 22 espécies na estação chuvosa e 12 espécies foram comuns às duas estações: Coryphaeschna adnexa, Homeoura nepos (Figura 3), Erythemis attala, E. peruviana, E. plebeja, E. vesiculosa, Erythrodiplax cf. latimaculata, Er. longitudinalis, Er. paraguayensis, Er. umbrata, Miathyria marcella e Micrathyria romani. Apenas duas espécies foram registradas somente na estação seca: Ischnura fluviatilis e Er. fusca. Dez espécies foram registradas somente na estação chuvosa: Triacanthagyna sp., Helveciagrion sp., herbida, Diastatops intensa, Micrathyria spuria, Orthemis Figura 4. Miathyria marcella. Figura 5. Erythrodiplax umbrata. discolor, Planiplax sp., Tramea calverti, T. cophysa e Tholymis citrina. Foto: Bolivar Porto. Foto: Daniel de Granville.

198 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 199 Tabela 2. Riqueza específica por ponto de coleta e número de espécies exclusivas.

Figura 6. Erythemis plebeja. Figura 7. Erythrodiplax paraguayensis. Discussão Foto: Camila Aoki. Foto: Bolivar Porto. No Brasil, ocorrem 14 famílias de Odonata, sendo dez de Zygoptera (Amphipterygidae, Calopterygidae, Coenagrionidae, Dicteriadidae, Lestidae, Megapodagrionidae, Perilestidae, Protoneuridae, Polythoridae e Pseudostigmatidae). Na RPPN EEB, apenas a família Coenagrionidae foi registrada e quatro da subordem Anisoptera (Aeshnidae, Cordullidae, Gomphidae e Libellulidae) (Ferreira-Peruquetti, 2004), sendo que estiveram presentes na área de estudo as famílias Aeshnidae e Libellulidae. A capacidade de vôo das libélulas é determinada por sua

Figura 8. Erythemis vesiculosa. Figura 9. Erythemis peruviana. capacidade de controlar a temperatura do corpo (comportamento de Foto: Camila Aoki. Foto: Bolivar Porto. termorregulação). Os representantes da subordem Zygoptera (Figura 3) possuem asas pequenas, estreitadas na base e capacidade de vôo mais limitada (Corbet, 1999; Corbet, 2001; Conrad et al., 2002). A maioria A estrada Mandioré apresentou a maior riqueza de espécies (18) das espécies de Zygoptera em ambientes tropicais é associada a áreas e índice de diversidade de 2,34 nats/ind., enquanto na margem do Rio sombreadas, pois apresentam uma alta razão entre a superfície e o volume Paraguai foram registradas 12 espécies e índice de diversidade de 2,18 nats/ corporal, ou seja, são mais delgadas, por isso, são mais vulneráveis aos ind. As trilhas Amolar e Morrinhos apresentaram sete espécies e índice raios solares (Paulson, 2006; Juen & De Marco, 2011). de diversidade de 1,61 nats/ind. e 1,83 nats/ind., respectivamente. A Sede Grande parte da subordem Anisoptera (Figuras 4 a 9) possui asas da RPPN EEB apresentou a menor riqueza (6) e índice de diversidade anteriores e posteriores largas e grande capacidade de voo. Este grupo calculado de 0,74 nats/ind. (Tabela 2). também utiliza a exposição ao sol para termorregulação, mas tem o corpo A estrada Mandioré, a trilha Amolar e a margem do Rio Paraguai mais robusto e por isso são menos dependentes da intensidade dos raios apresentaram espécies exclusivas destes locais (12 espécies no total). A solares com menor perda de calor e água para o ambiente (May, 1976). estrada Mandioré apresentou sete espécies exclusivas (Ischnura fluviatilis, São animais com menos restrições ambientais e mais generalistas com Erythemis attala, E. plebeja, Micrathyria spuria, Orthemis discolor, ocorrência preferencial em áreas abertas. Tramea calverti e Tholymis citrina), na margem do Rio Paraguai foram Na RPPN EEB, registramos as famílias Coenagrionidae (Zygoptera) registradas quatro espécies (Helveciagrion sp., Brachymesia herbida, representada por apenas três espécies, Aeshnidae e Libellulidae Diastatops intensa e Planiplax sp.), e na trilha Amolar foi registrada (Anisoptera) representadas por duas e 19 espécies, respectivamente. As apenas uma (Erythrodiplax fusca) (Tabelas 1 e 2). áreas de coleta na reserva são caracterizadas por vegetação aberta e pouco

200 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 201 sombreamento (para mais detalhes ver capítulo Introdução e Área de mais períodos de emergência anual e indivíduos adultos de uma dada Estudo), o que explica o padrão de maior espécie, devido ao seu ciclo de vida, podem estar presentes no ambiente representatividade de espécies de Anisoptera nas amostragens. apenas em determinadas épocas do ano (Souza, 2003). A riqueza da área é ainda maior que a lista divulgada por este estudo, Costa et al. (1998) registraram 39 espécies de Odonata para a região conforme demonstrado pela curva de acumulação de espécies. do Pantanal Sul-Mato-Grossense. Destas, 19 espécies também foram A família Libellulidae apresentou as espécies mais abundantes e registradas neste estudo: Coryphaeschna adnexa, Ischnura fluviatilis, foi a família mais representativa neste estudo, assim como em outros Brachymesia herbida, Diastatops intensa, Erythemis attala, E. peruviana, levantamentos, como nos Estados de São Paulo (Costa et al., 2000) E. plebeja, E. vesiculosa, Erythrodiplax fusca, Er. latimaculata, Er. e Espírito Santo (Costa & Oldrini, 2005), nos quais cerca de 50% das longitudinalis, Er. paraguayensis, Er. umbrata, Miathyria marcella, espécies conhecidas pertencem a esta família. Micrathyria spuria, Orthemis discolor, Tholymis citrina, Tramea calverti Libellulidae é uma família cosmopolita, com algumas espécies e T. cophysa. bem adaptadas a ambientes temporários e com ciclo de vida muito curto Para o Mato Grosso do Sul, há ainda o levantamento realizado (Carvalho & Calil, 2000; Costa et al., 2002; Watanabe, 2004). O gênero em área de Cerrado (região do Aporé Sucuriú), no qual Souza & Costa Erythrodiplax apresentou o maior número de espécies, a dominância (2006) registraram 163 morfoespécies, com 111 espécies identificadas desse gênero é comum em levantamentos (Costa et al., 2000; Costa & em 54 pontos de coleta. Destas, 15 espécies foram comuns ao presente Oldrini, 2005; Souza & Costa, 2006), embora em algumas áreas ocorra trabalho, são elas: Homeoura nepos (não registrada para região do maior riqueza do gênero Erythemis (Ferreira-Peruquetti & Fonseca- Pantanal), Ischnura fluviatilis, Diastatops intensa, Erythemis attala, E. Gessner, 2003), que foi o segundo gênero mais representativo neste vesiculosa, Erythrodiplax fusca, Er. latimaculata, Er. longitudinalis, Er. estudo, com quatro espécies registradas. paraguayensis, Er. umbrata, Miathyria marcella, Micrathyria spuria, Coenagrionidae inclui as formas de menor tamanho e também Orthemis discolor, Tramea calverti e T. cophysa. as libélulas mais delicadas (Costa et al., 2000). Esta família é mais O gênero Triacanthagyna e a espécie Micrathyria romani ainda não representativa dentre os Zygoptera e amplamente distribuída pelo Brasil, tinham registro para o Estado (Souza & Costa, 2006; Costa et al., 1998; assim como a família Libellulidae, pertencente à subordem Anisoptera Dalzochio et al., 2011), e o registro na RPPN EEB representa extensão da (Costa et al., 2000). Estas famílias são as mais representativas em distribuição. termos de número de espécies no país – Libellulidae com 207 espécies e Coenagrionidae com 144 (De Marco & Vianna, 2005). Considerações Finais A família Aeshnidae inclui os anisópteros chamados de voadores, mais velozes e de maior porte (Costa et al., 2000; Costa & Oldrini, 2005) Com base no estudo dos 224 exemplares coletados, foi possível e figura como a quarta família com o maior número de espécies no Brasil registrar a presença de 24 espécies de Odonata, pertencentes a 15 gêneros (De Marco & Vianna, 2005). e três famílias, na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro A presença de várias espécies exclusivas nas áreas amostradas pode Eliezer Batista, Corumbá/MS. As coletas abrangeram as estações e seca significar alta especificidade de habitat e forte relação com o biótopo, ou e chuvosa, já que estes organismos apresentam um ou mais períodos que as coletas não foram suficientes para amostrar a riqueza real de cada de emergência anual e indivíduos adultos de uma dada espécie, devido ponto amostral. ao seu ciclo de vida, podem estar presentes no ambiente apenas em A diferença registrada entre as campanhas seca e chuvosa pode ser determinadas épocas do ano. explicada pelo fato de que insetos como os Odonata apresentam um ou A importância deste trabalho está pautada na inexistência de dados

202 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 203 para a área, figurando assim como a primeira listagem de Odonata para identificação para imagos dos gêneros de Libellulidae citados para o Brasil esta região. – Comentários sobre os gêneros (Odonata: Anisoptera). Entomología y Vectores, 9 (4): 477-504. Agradecimentos Costa, J. M. & Oldrini, B. B. 2005. Diversidade e distribuição dos Odonata (Insecta) no Estado do Espírito Santo, Brasil. Publicações Ao grande mestre Luiz Onofre Irineu de Souza (In memorian), por Avulsas do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 107:1-15. ter apresentado e ensinado a admirar esses fabulosos insetos. Ao Instituto Dalzochio, M. S.; Costa, J. M. & Uchôa, M. A. 2011. Diversity of Homem Pantaneiro, pelo apoio logístico. A Breno Franco Leonel, Daiene Odonata (Insecta) in lotic systems from Serra da Bodoquena, Mato H. L. Souza, Valdilene Garcia, Antônio R. da Silva e Ramão Feitosa, Grosso do Sul State, Brazil. Revista Brasileira de Entomologia 55(1): pelo auxílio nas coletas. Ao CNPq, pela bolsa de Iniciação científica (no 88-94. período de 2010 – 2011) de Nelson Silva Pinto. De Marco, P. JR. & Vianna, D. M. 2005. Distribuição do esforço de Referências coleta de Odonata no Brasil: subsídios para escolha de áreas prioritárias para levantamentos faunísticos. Lundiana, suplemento 6: 13-26. Benke, A. C.; Wallace, J. B.; Harrison, J. W.; Koebel, J. W. 2001. Food Ferreira-Peruquetti, P. S. & Fonseca-Gessner, A. A. 2003. web quantification using secondary production analysis: predaceous Comunidade de Odonata (Insecta) em áreas naturais de Cerrado e invertebrates of the snag habitat in a subtropical river. Freshwater monocultura no Nordeste do Estado de São Paulo, Brasil: relação entre o Biology, 46:329–346. uso do solo e a riqueza faunística. Revista Brasileira de Zoologia, 20: Carvalho, A. L. & Calil, E. R. 2000. Chaves de identificação para 219-224. as famílias de Odonata (Insecta) ocorrentes no Brasil, adultos e larvas. Ferreira-Peruquetti, P. S. 2004. Odonata (Libélulas) do Papéis Avulsos de Zoologia, 41 (15):223-241. Município de Luís Antônio, São Paulo, Brasil: Relação com o uso do Conrad, K. F.; Willson, K. H.; Whitfield, K. 2002. Characteristics of solo e riqueza faunística. Tese de Doutorado. São Carlos: Universidade dispersing Ischnura elegans and Coenagrion puella (Odonata): age, sex, de São Carlos - Programa de Pós Graduação em Ecologia e Recursos size, morph and ectoparasitism. Ecography, 25:439-445. Naturais, 49 p. Corbet, P. S. 1999. : behavior and ecology of Garrison, R. W.; Ellenrieder, N. V. & Louton, J. A. 2006. Odonata. Comstock Publ. Assoc., Ithaca, NY, 829 p. Genera of the New World: An Illustrated and Annotated Key to the Corbet, P. S. 2001. Book Review. Dragonflies: Behaviour and ecology Anisoptera. The Johns Hopkins University Press, Baltimore, 368 p. of Odonata. Freshwater Biology 46:141-143. Gotelli, N. J. & Entsminger, G. L. 2001. EcoSim: Null models Costa, J. M., Souza, L. O. I. & Santos, T. C. 1998. Uma Lista Preliminar software for ecology. Version 7.0. Acquired Intelligence Inc. & Kesey- dos Odonatos do Pantanal Sul Mato-Grossense com a descrição da Bear. Disponível em: http://homepages.together.net/~gentsmin/ecosim. fêmea de Acanthagrion chararum Calvert, 1909 – Parte I. (dados não htm. Acessado em: 15/08/2010. publicados). Heckman, C. W. 2006. Encyclopedia of South American Aquatic Costa, J. M., Machado, A. B. M., Lencione, F. A. A. & Santos, T. : Odonata – Anisoptera. Illustrated Keys to Known Families, C. 2000. Diversidade e distribuição dos Odonata (Insecta) no Estado de Genera, and Species in South America. Netherlands: Springer, 725 p. São Paulo, Brasil: Parte I – Lista das espécies e registros bibliográficos. Huryn, A. D. & Wallace, J. B. 2000. Life history and production of Publicações Avulsas do Museu Nacional, Rio de Janeiro, 80:1-27. stream insects. Annual Review of Entomology, 45: 83-110. Costa, J. M, Lourenço, A. do N., Vieira, L. P. 2002. Chave de Juen, L. & De Marco, P. Jr. 2011. Odonate beta diversity in terra-firme

204 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 205 forest streams in Central Amazonia: On the relative effects of neutral and ffclrp.usp.br/aguadoce/guia_online. Acesso em: 05/11/2010. niche drivers at small geographical extents. Conservation and Watanabe, M., Matsuoka, H. & Taguchi, M. 2004. Habitat selection Diversity. and population parameters of Sympetrum infuscatum (Selys) during Kalkman, V. J.; Clausnitzer, V.; Dijkstra, K. D. B. Orr, A. G.; Paulson, sexually mature stages in a cool temperature zone of Japan (Anisoptera: D. R. & Van Tol, J. 2008. Global diversity of dragonflies (Odonata) in Libellulidae). Odonatologica, 33(2): 169-179. freshwater. Hydrobiologia, 595: 351-363. Lambeck, R. J. 1997. Focal species: a multi-species umbrella for nature conservation. Conservation Biology, 11(4): 849–856. Lencioni, F. A. A. 2005. Damselflies of Brazil: An illustrated guide. I – Non-Coenagrionidae families. v.1. São Paulo: All Print Editora, 324 p. Lencioni, F. A. A. 2006. Damselflies of Brazil: An illustrated guide. II – Coenagrionidae families. v.2. São Paulo: All Print Editora, 330 p. Longfield, C. 1929. List of Odonata of State of Mato Grosso, Brazil. Transactions of Entomological Society of London, 77: 125-139. May, M. L. 1976. Thermoregulation in adaptation to temperature in dragonflies (Odonata: Anisoptera). Ecological Monographs 46:1-32. Paulson, D. R. 2006. The importance of forest to Neotropical Dragonflies. Forest and Dragonflies. Fourth WDA International Symposium of Odonatology. Pensoft Publishers, Bulgaria, pp.79-101. Pessacq, P. & Costa, J. M. 2007. Three new species of Peristicta Hagen in Selys (Odonata: Zygoptera: Protoneuridae). Neotropical Entomology, 36: 46-52. Souza, L.O.I., 2003. A Influência dos Fatores Ambientais na Distribuição da Fauna de Odonata (Insecta) em Riachos da Serra da Bodoquena, MS. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – Programa de Pós-Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade, 45 p. Souza, L. O. I. & Costa, J. M. 2006. Inventário da Odonatofauna no Complexo Aporé-Sucuriú. In: Pagoto, T. C. S. & Souza, P. R. (orgs.). Biodiversidade do Complexo Aporé-Sucuriú. Subsídios à conservação e manejo do bioma Cerrado. Campo Grande. Editora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, UFMS, 81-88 p. Souza, L. O. I; Costa, J. M.; Oldrini, B. B. 2007. Odonata. In: Froelich, C. G. (org.). Guia on-line de identificação de larvas de Insetos Aquáticos do Estado de São Paulo. 1-23. Disponível em: http://sites.

206 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 207 foto: Daniel Granville Granville Daniel foto: PER CEVE

208 Descobrindo o Paraíso Aspectos BiológicosJOS da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 209 Introdução Diversidade de Percevejos (: Heteroptera) Os Heteroptera (“percevejos”, “true bugs”, em inglês) integram uma subordem da Ordem Hemiptera. O status da outra subordem, da Reserva Particular do Patrimônio Natural “Homoptera”, tem sido atualmente questionada, já que nem todos Engenheiro Eliezer Batista: uma listagem preliminar os seus membros parecem derivar de um ancestral comum (Schaefer

Hélcio R. Gil-Santana1, Camila Aoki2 & Luiz A. A. Costa3 & Panizzi, 2000), motivo pelo qual autores modernos passaram a incluir seus membros em duas subordens: Sternorrhyncha (pulgões, 1 Laboratório Nacional e Internacional de Referência em Taxonomia de Triatomíneos, Instituto Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro. e-mail: [email protected] cochonilhas, psilídeos) e Auchenorrhyncha (cigarras e cigarrinhas) 2 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, PPG Ecologia e Conservação. (Gallo et al., 2002). Estudos filogenéticos, além de corroborar a parafilia e-mail: [email protected] 3 Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de Homoptera, sugerem que a ordem Hemiptera compõe-se de quatro Departamento de Entomologia. e-mail: [email protected] clados, representados pelas três subordens referidas mais Coleorrhyncha, com poucos representantes (Forero, 2008). Resumo Estima-se que Heteroptera inclua 37.000 espécies descritas e outras 25.000 aguardando o reconhecimento (Schaefer & Panizzi, 2000). Os Heteroptera (“percevejos”) integram uma subordem da Ordem As espécies desta subordem ocorrem em uma grande variedade de Hemiptera, que ocorre em uma grande variedade de habitats. A maioria habitats, muitas das quais de relevante importância econômica e médico- é fitófaga, incluindo também espécies predadoras e hematófagas, veterinária (Costa Lima, 1940; Schuh & Slater, 1995; Schaefer & Panizzi, sendo, por estas razões, de relevante importância econômica e médico- 2000; Gallo et al., 2002). A maioria dos heterópteros é fitófaga, incluindo veterinária. As coletas na Reserva Particular do Patrimônio Natural também espécies predadoras e hematófagas, como os percevejos de cama Engenheiro Eliezer Batista ocorreram nas estações seca e chuvosa, de 2010 (Cimicidae) e “barbeiros” (, Triatominae), transmissores e 2011, respectivamente, utilizando metodologias diversas (armadilhas da Doença de Chagas (Hogue, 1993). Um fenômeno recorrente entre de queda, pitfalls, guarda-chuva entomológico, redes de varredura e os heterópteros é o mimetismo com outros insetos, particularmente armadilhas de interceptação de voo). Foram registradas 71 espécies de himenópteros (Hogue, 1993; Gil-Santana et al., 2003). Heteroptera, distribuídas em 16 famílias, das quais Reduviidae, e Coreidae foram as mais ricas. A fauna foi representada principalmente Metodologia por espécies de ampla distribuição, mas cabe ressaltar o registro de Locais de Coleta uma espécie Stenopodainae (Rhyparoclopius sp.) com hemiélitros de dimensões reduzidas em ambos os sexos, o que a torna muito conspícua, A Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer sendo provavelmente uma nova espécie. Apesar de não terem sido Batista (RPPN EEB) está localizada no estado de Mato Grosso do Sul, registradas todas as espécies ocorrentes na área, o que é esperado a noroeste do município de Corumbá, entre o Rio Paraguai e a Baía considerando a alta diversidade encontrada nos trópicos, o curto período Mandioré. O limite oeste da RPPN EEB faz fronteira com a Bolívia. de amostragem e a não utilização de outras metodologias (como a de As coletas foram realizadas entre os dias 27 de julho e 02 de agosto atração luminosa noturna), a relevância deste trabalho está pautada no de 2010 (estação seca) e entre 27 de março e 05 de abril de 2011 (estação fato de ser o primeiro levantamento de Heteroptera feito no Pantanal chuvosa), em três trilhas pré-existentes na área da RPPN EEB: estrada Sul-Mato-Grossense e um dos primeiros realizados no Estado. Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”) e trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”). A estrada Mandioré

210 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 211 é caracterizada pelos tipos vegetacionais savana florestada e floresta dos insetos. Foram instaladas três armadilhas de interceptação de voo estacional semidecidual, os quais estão presentes também na trilha na estrada Mandioré e três na trilha Amolar, as quais permaneceram 48 Amolar, juntamente com savana gramíneo-lenhosa. A trilha Morrinhos horas em campo. apresenta savana gramíneo-lenhosa e savana florestada. (f) Coletas oportunísticas com auxílio de rede entomológica. A eficiência amostral foi representada por uma curva de acumulação Métodos de coleta de espécies resultante da aleatorização de diferentes tamanhos de Para a coleta dos hemípteros foram utilizadas as seguintes amostras (número de indivíduos) utilizando o programa EcoSim 7.72 metodologias: (Gotelli & Entsminger, 2011). (a) Armadilhas de queda formadas por recipientes plásticos de 12 cm de diâmetro e 9 cm de altura, com aproximadamente 200 mL de água Resultados e detergente, enterrados até o nível do solo e iscadas, intercaladamente, Foram coletados 215 indivíduos de Heteroptera pertencentes com banana e fígado em decomposição. Instalaram-se 60 armadilhas de a 71 espécies, distribuídas em 16 famílias (Tabela 1). Reduviidae foi a queda na Estrada Mandioré e 60 na trilha Amolar, as quais permaneceram família mais rica (18 spp.), seguida de Tingidae (12 spp.), Coreidae (10 por 48 horas no campo. spp.) e Pentatomidae (7 spp.). Cinco famílias contribuíram com apenas (b) Armadilhas do tipo pitfall: Mesmas características das uma espécie: , Cydnidae, Enicocephalidae, Pachynomidae e armadilhas de queda, mas não iscadas. Foram instaladas 180 armadilhas Pyrrhocoridae. na estrada Mandioré e 180 na trilha Amolar, as quais permaneceram por Mesmo com a queimada ocorrida em setembro de 2010, a maioria 48 horas no campo. dos indivíduos (80%) foi coletada na campanha chuvosa, bem como a (c) Guarda-chuva entomológico: Utilizou-se uma estrutura de maioria das espécies (65%), sendo que 42 espécies foram registradas madeira em cruz coberta por um pano branco (1 m2) para auxiliar na apenas nesta estação. Estes resultados demonstram a importância da coleta em arbustos e galhos de árvores (a cor do pano visou a facilitar a realização de coletas em estações hídricas contrastantes, principalmente visualização dos animais). Essa armação foi colocada sob os galhos das em ambientes tão dinâmicos como o Pantanal. Por outro lado, a diferença árvores ou sob pequenos arbustos, os quais foram batidos com auxílio de encontrada sugere sazonalidade da comunidade local, cuja avaliação um pedaço de madeira, a fim de que os animais caíssem sobre o pano. Cada demanda um estudo mais abrangente. amostra correspondeu a 20 arbustos ou galhos de árvores explorados em Contudo, o número de espécies registradas provavelmente ainda uma caminhada ao longo das trilhas, perfazendo 40 amostras na estrada está muito abaixo do número real de espécies ocorrentes na RPPN Mandioré, 40 na trilha Amolar e 30 na trilha Morrinhos. EEB, como demonstrado pela curva de acúmulo de espécies (Figura 1). (d) Rede de varredura: É parecida com a rede entomológica (puçá), Entretanto, a impossibilidade de registro de todas as espécies ocorrentes mas a armação de metal é mais reforçada, assim como o tecido, para em um ambiente, em um curto período de tempo, é uma realidade suportar o atrito da rede com a vegetação. O conjunto de 10 batidas na principalmente em locais com alta diversidade, como é o caso do vegetação herbácea-arbustiva correspondeu a uma amostra, totalizando Pantanal. Mas estes registros representam um primeiro passo no intuito 40 amostras em cada trilha. de conhecer a fauna de Heteroptera da área. (e) Armadilhas de interceptação de voo: A armadilha consistiu de Considerando as áreas amostradas, a estrada Mandioré foi a que uma tela de 1 m de altura por 1,5 m de comprimento, com emprego de obteve o maior número de registros, com 57,5% do total de espécies, das dois vergalhões para manter a armadilha aberta; recipientes plásticos quais, 28 delas foram registradas apenas nesta área. Na trilha Amolar, foram colocados na parte inferior, com água e detergente para contenção apesar de encontrarmos as mesmas fitofisionomias (savana florestada

212 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 213 Família Espécie Abundância Área de Coleta Metodologia Seca Chuvosa Alydidae Neomegalotomus parvus (Westwood, 1842) 2 32 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, AQ, RV, P, CO Alydidae Trachelium sp. 0 1 Est. Mandioré AQ Blissidae variegatus (Signoret, 1857) 3 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Coreidae Crinocerus sanctus (Fabricius, 1775) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, CO, RV Coreidae Hypselonotus fulvus (Degeer, 1773) 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Leptoglossus cinctus (Herrich-Schäffer, 1836) 0 1 Tr. Amolar AQ Coreidae Leptoglossus sp. (ninfa) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Phthia picta (Drury, 1770) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Scamurius sp. 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Zicca sp. 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 1 0 3 Est. Mandioré GC, AQ Coreidae Coreidae sp. 2 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 3 0 1 Tr. Amolar RV Cydnidae Cydnidae sp.1 0 1 Tr. Amolar AQ Enicocephalidae Enicocephalinae sp. 1 0 Tr. Amolar AIV Largidae Largus trochanterus Signoret, 1862 0 1 Est. Mandioré AQ Largidae Largus sp. 0 1 Tr. Amolar AQ Lygaeidae Oncopeltus sp. 1 0 Est. Mandioré GC Lygaeidae Rhyparochrominae sp. 0 8 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Lygaeidae Lygaeidae sp. 1 0 Est. Mandioré AQ, P Lygaeidae Orsillinae sp. 0 8 Tr. Amolar RV Miridae Fulvius bisbistillatus (Stål,1860) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar P Miridae Taedia sp. 1 0 Est. Mandioré GC Miridae Miridae sp. 0 1 Sede AIV Pachynomidae Aphelonotus sp. 0 6 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Sede AQ, P, CO Pentatomidae Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) 0 3 Est. Mandioré P, RV Pentatomidae Edessa sp. 1 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 2 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 3 0 2 Est. Mandioré RV Pentatomidae Euschistus heros (Fabricius, 1798) 0 1 Est. Mandioré AQ Pentatomidae Mormidea rugosa Rolston, 1978 0 12 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, RV, GC Pentatomidae Oebalus ypsilongriseus (Degeer, 1773) 0 2 Est. Mandioré RV e floresta estacional semidecidual) e terem sido utilizadas as mesmas Pyrrhocoridae Dysdercus chaquensis Freiberg, 1948 2 0 Est. Mandioré CO Reduviidae Apiomerus lanipes (Fabricius, 1803) 0 1 Est. Mandioré CO metodologias de coleta, foram registradas 14% menos espécies que na Reduviidae Cosmoclopius cf. nigroannulatus (Stål, 1860) 0 1 Tr. Amolar RV Reduviidae Emesinae sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Estrada Mandioré. Contudo, 18 espécies foram registradas apenas nesta Reduviidae sp. 1 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Harpactorinae sp. 2 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Harpactorinae sp. 3 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos GC área. Na trilha Morrinhos, foram registradas apenas 18,3% das espécies, Reduviidae Harpactorinae sp. 4 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Melanolestes (?) lugens Coscarón & Carpintero, 1993 (ninfa) 1 0 Tr. Amolar AQ reflexo da menor amostragem nesta área, mas 11 delas foram exclusivas Reduviidae Notocyrtus sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Reduviidae Pessoaia maculata Wygodzinsky, 1943 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Phymata sp. (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV deste ponto. Estes resultados demonstram elevada diversidade beta e a Reduviidae Pothea sp. (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P Reduviidae Repipta sp. 0 1 Tr. Amolar RV necessidade de se amostrar a maior diversidade de ambientes possível Reduviidae Rhyparoclopius sp. 2 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Sindala sp. (ninfa) 1 0 Tr. Amolar RV quando da realização de inventários. Reduviidae Vescia minima Fracker & Bruner, 1924 1 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Zelus sp. (ninfa) 1 2 Tr. Morrinhos GC, RV Reduviidae Reduviinae sp. 1 (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P A coleta com guarda-chuva entomológico e rede de varredura foram Rhopalidae Jadera aeola (Dallas, 1852) 0 1 Tr. Morrinhos GC Rhopalidae Jadera sp. 3 0 Est. Mandioré GC as metodologias responsáveis pelo maior número de capturas de espécies Scutelleridae Agonosoma sp. 0 1 Tr. Amolar GC Scutelleridae Scutelleridae sp. 1 0 1 Est. Mandioré GC de Heteroptera, 27 (38%) e 24 (34%) respectivamente. As armadilhas Scutelleridae Scutelleridae sp. 2 (ninfa) 0 2 Est. Mandioré RV Scutelleridae Scutelleridae sp. 3 0 1 Est. Mandioré RV Tingidae Aepycysta undosa Drake & Bondar, 1932 1 0 Tr. Amolar RV de queda e pitfalls também foram importantes na amostragem dos Tingidae Gargaphia torresi Lima, 1922 2 0 Est. Mandioré GC Tingidae Liotingis aspidospermae Drake & Hambleton, 1935 1 0 Est. Mandioré GC percevejos, contribuindo respectivamente com 18 (25%) e 15 (21%) das Tingidae Liotingis sp. 1 0 Tr. Amolar GC Tingidae Planibyrsa elegantula (Drake, 1922) 0 23 Tr. Morrinhos GC Tingidae Teleonemia albomarginata Champion, 1898 1 0 Tr. Amolar P espécies encontradas. A maioria das espécies (77%) foi registrada em Tingidae Teleonemia sp. 1 6 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, RV Tingidae Teleonemia multimaculata Monte,1940 0 8 Tr. Morrinhos GC apenas um método de captura, indicando que o emprego conjugado de Tingidae Tigava anonae Drake & Hambleton, 1938 2 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Tingidae Tigava sp. 1 0 Est. Mandioré GC, P metodologias diferentes atua de forma complementar e deve, sempre Tingidae Tingis sp. 0 1 Tr. Amolar GC Tingidae Vatiga sp. 1 0 Tr. Amolar GC Veliidae Veliidae sp. 1 0 Est. Mandioré P, AIV que possível, ser utilizado. Importante ressaltar que neste levantamento, Veliidae Microveliinae sp. 0 23 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, GC, P Abundância 43 172 sem o uso de armadilhas de atração luminosa noturna, uma porção Riqueza 29 46 considerável da fauna de Heteroptera não foi amostrada. Legenda: Metodologia: (AQ) Armadilha de queda, (AIV) Armadilha de interceptação de voo, (CO) Coleta Oportunística, (GC) Guarda-chuva entomológico, (P) Pitfall, (RV) Rede de varredura.

Tabela 1. Espécies de Heteroptera registradas na RPPN Engenheiro Eliezer Batista, com suas respectivas abundâncias por campanha, local de registro e metodologia.

Família Espécie Abundância Área de Coleta Metodologia Seca Chuvosa Alydidae Neomegalotomus parvus (Westwood, 1842) 2 32 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, AQ, RV, P, CO Alydidae Trachelium sp. 0 1 Est. Mandioré AQ Blissidae Ischnodemus variegatus (Signoret, 1857) 3 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Coreidae Crinocerus sanctus (Fabricius, 1775) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, CO, RV Coreidae Hypselonotus fulvus (Degeer, 1773) 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Leptoglossus cinctus (Herrich-Schäffer, 1836) 0 1 Tr. Amolar AQ Coreidae Leptoglossus sp. (ninfa) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Phthia picta (Drury, 1770) 0 1 Tr. Amolar GC Coreidae Scamurius sp. 0 1 Est. Mandioré RV Coreidae Zicca sp. 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 1 0 3 Est. Mandioré GC, AQ Coreidae Coreidae sp. 2 0 1 Tr. Morrinhos RV Coreidae Coreidae sp. 3 0 1 Tr. Amolar RV Cydnidae Cydnidae sp.1 0 1 Tr. Amolar AQ Enicocephalidae Enicocephalinae sp. 1 0 Tr. Amolar AIV Largidae Largus trochanterus Signoret, 1862 0 1 Est. Mandioré AQ Largidae Largus sp. 0 1 Tr. Amolar AQ Lygaeidae Oncopeltus sp. 1 0 Est. Mandioré GC Lygaeidae Rhyparochrominae sp. 0 8 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Lygaeidae Lygaeidae sp. 1 0 Est. Mandioré AQ, P Lygaeidae Orsillinae sp. 0 8 Tr. Amolar RV Miridae Fulvius bisbistillatus (Stål,1860) 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar P Miridae Taedia sp. 1 0 Est. Mandioré GC Miridae Miridae sp. 0 1 Sede AIV Pachynomidae Aphelonotus sp. 0 6 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Sede AQ, P, CO Pentatomidae Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) 0 3 Est. Mandioré P, RV Pentatomidae Edessa sp. 1 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 2 1 0 Est. Mandioré CO Pentatomidae Edessa sp. 3 0 2 Est. Mandioré RV Pentatomidae Euschistus heros (Fabricius, 1798) 0 1 Est. Mandioré AQ Pentatomidae Mormidea rugosa Rolston, 1978 0 12 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, RV, GC Pentatomidae Oebalus ypsilongriseus (Degeer, 1773) 0 2 Est. Mandioré RV Pyrrhocoridae Dysdercus chaquensis Freiberg, 1948 2 0 Est. Mandioré CO Reduviidae Apiomerus lanipes (Fabricius, 1803) 0 1 Est. Mandioré CO Reduviidae Cosmoclopius cf. nigroannulatus (Stål, 1860) 0 1 Tr. Amolar RV Reduviidae Emesinae sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Reduviidae Harpactorinae sp. 1 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos RV 214Reduviidae Harpactorinae sp. 2 (ninfa) 1 0 Tr. Morrinhos Descobrindo oR VParaíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 215 Reduviidae Harpactorinae sp. 3 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos GC Reduviidae Harpactorinae sp. 4 (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Melanolestes (?) lugens Coscarón & Carpintero, 1993 (ninfa) 1 0 Tr. Amolar AQ Reduviidae Notocyrtus sp. (ninfa) 1 0 Est. Mandioré GC Reduviidae Pessoaia maculata Wygodzinsky, 1943 0 3 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Phymata sp. (ninfa) 0 1 Tr. Morrinhos RV Reduviidae Pothea sp. (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P Reduviidae Repipta sp. 0 1 Tr. Amolar RV Reduviidae Rhyparoclopius sp. 2 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Sindala sp. (ninfa) 1 0 Tr. Amolar RV Reduviidae Vescia minima Fracker & Bruner, 1924 1 1 Est. Mandioré, Tr. Amolar AQ, P Reduviidae Zelus sp. (ninfa) 1 2 Tr. Morrinhos GC, RV Reduviidae Reduviinae sp. 1 (ninfa) 0 1 Est. Mandioré P Rhopalidae Jadera aeola (Dallas, 1852) 0 1 Tr. Morrinhos GC Rhopalidae Jadera sp. 3 0 Est. Mandioré GC Scutelleridae Agonosoma sp. 0 1 Tr. Amolar GC Scutelleridae Scutelleridae sp. 1 0 1 Est. Mandioré GC Scutelleridae Scutelleridae sp. 2 (ninfa) 0 2 Est. Mandioré RV Scutelleridae Scutelleridae sp. 3 0 1 Est. Mandioré RV Tingidae Aepycysta undosa Drake & Bondar, 1932 1 0 Tr. Amolar RV Tingidae Gargaphia torresi Lima, 1922 2 0 Est. Mandioré GC Tingidae Liotingis aspidospermae Drake & Hambleton, 1935 1 0 Est. Mandioré GC Tingidae Liotingis sp. 1 0 Tr. Amolar GC Tingidae Planibyrsa elegantula (Drake, 1922) 0 23 Tr. Morrinhos GC Tingidae Teleonemia albomarginata Champion, 1898 1 0 Tr. Amolar P Tingidae Teleonemia sp. 1 6 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC, RV Tingidae Teleonemia multimaculata Monte,1940 0 8 Tr. Morrinhos GC Tingidae Tigava anonae Drake & Hambleton, 1938 2 0 Est. Mandioré, Tr. Amolar GC Tingidae Tigava sp. 1 0 Est. Mandioré GC, P Tingidae Tingis sp. 0 1 Tr. Amolar GC Tingidae Vatiga sp. 1 0 Tr. Amolar GC Veliidae Veliidae sp. 1 0 Est. Mandioré P, AIV Veliidae Microveliinae sp. 0 23 Est. Mandioré, Tr. Amolar, Tr. Morrinhos AQ, GC, P Abundância 43 172 Riqueza 29 46 Lista Comentada de espécies de Heteroptera da RPPN EEB (Slater, 1976; Brambila & Santana, 2004). A identificação de muitos heterópteros não logrou o nível específico, Coreidae estando outras limitadas a níveis mais elevados da hierarquia (subfamília, Crinocerus sanctus (Fabricius, 1775) família), pela ausência de dados na literatura para esse intento em muitos Encontrado no Brasil e Argentina, considerado praga em alguns grupos. A fauna neotropical é muito rica em espécies e nota-se uma cultivos, já tendo sido encontrado em diversas plantas com importância concentração de estudos voltados para aquelas de importância econômica econômica, incluindo Algodão, leguminosas, Citrus sp., Acerola, Goiabeira (s. l.) ou dirigidos a raros grupos que, mesmo sem significado econômico, (Costa Lima, 1940; Silva et al., 1968; Michel, 1994; Mitchell, 2000). Phthia atraíram a atenção de taxônomos em particular. Também é de se notar picta (Drury, 1770) (=Dallacoris pictus (Drury, 1770) – Figura 2 a dificuldade de identificação de formas imaturas, quando encontradas Embora a espécie tenha sido incluída no gênero Dallacoris Osuna, isoladamente, em virtude da raridade de estudos descritivos sobre as 1981, o nome Phthia picta continua em uso na literatura (Mitchell, mesmas. Refletindo tais dificuldades, discorremos abaixo sobre pequeno 2000). Ocorre desde os EUA até a Argentina (Mitchell, 2000). Ataca as número de espécies. Solanáceas, com preferência para o tomateiro (Costa Lima, 1940), o que Alydidae lhe rendeu o nome vulgar de “percevejo-do-tomate” (Gallo et al., 2002). Neomegalotomus parvus (Westwood, 1842) Contudo, tem hábitos polífagos, com registro em diversas plantas (Silva et As formas jovens das espécies de Neomegalotomus Schaffner & al., 1968; Mitchell, 2000), sendo frequente no algodoeiro (Michel, 1994). Schaefer, 1998 (anteriormente incluídas em Megalotomus Fieber, 1861, Os maiores danos são causados ao tomateiro, os quais decorrem não só cf. Schaefer & Panizzi, 1998; Schaefer & Ahmad, 2008) mimetizam, de do dano direto pelas picadas, mas também por tornar os frutos suscetíveis maneira admirável, formigas do gênero Camponotus Mayr, 1861, o que a fungos e ataques por outros insetos (Mitchell, 2000). Phthia picta foi também ocorre com outros gêneros desta família (Costa Lima, 1940). também implicado como transmissor de Phytomonas serpens (Gibbs), Neomegalotomus parvus é comum no Brasil, já tendo sido registrado um trypanosomatídeo parasito do tomateiro (Mitchell, 2000). sobre várias culturas agrícolas, inclusive como praga da soja (Glycine Max (L.) Merr.) (Schaefer & Panizzi, 1998; Panizzi et al., 2000; Gallo et Figura 2. al.,2002). Percevejo-do-tomate (Phthia picta) registrado na RPPN EEB. Blissidae Foto: Daniel De Granville/Photo in Natura. Ischnodemus variegatus (Signoret, 1857) Esta espécie tem ocorrência descrita para América do Sul, América Central (Belize e Trinidad) e América do Norte (Florida) (Brambila & Santana, 2004). Espécies deste gênero alimentam-se e se reproduzem em plantas monocotiledôneas e algumas mostram um notável grau de especificidade de hospedeiros, incluindo várias espécies especialistas em gramíneas de áreas úmidas (Slater, 1976; Dias et al., 2009). Ischnodemus variegatus é um inseto sugador comumente encontrado entre a bainha da folha e do caule, considerado um local mais adequado para alimentação devido à ausência de alguns elementos estruturais da planta que dificultam a alimentação

216 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 217 Largidae Largus trochanterus Signoret, 1862 Esta espécie foi detalhadamente redescrita por Doesburg (1966) como L. umbrosus Distant, 1901, táxon recentemente considerado sinônimo júnior de L. trochanterus por Dellapé et al. (2010).

Pentatomidae A família Pentatomidae é, em número de espécies, uma das maiores de Heteroptera, sendo cosmopolita e com maior diversidade nos trópicos. Pentatomidae conta com aproximadamente 760 gêneros e 4.100 espécies (Schuh & Slater, 1995). Dichelops melacanthus (Dallas, 1851) Ocorre em diversos países da América do Sul, atacando plantações de Soja (Panizzi et al., 2000; Gallo et al., 2002). Edessa Fabricius, 1803 Possui um grande número de espécies descritas e a serem descritas (mais de 200) (Fernandes & van Doesburg, 2000), com várias delas associadas a cultivos agrícolas (Silva et al., 1968). Euschistus heros (Fabricius, 1798) É praga da soja (Gallo et al., 2002), sendo a espécie predominante nessa cultura em regiões dos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul. Também tem sido registrada em diversas outras plantas, incluindo leguminosas, solanáceas, Brassicaceae e compostas (Panizzi et al., 2000). Oebalus ypsilongriseus (Degeer, 1773) Considerada como importante praga do arroz na América do Sul, Figura 3. Casal de Dysdercus chaquensis observado na RPPN EEB. Foto: Camila Aoki. particularmente no Brasil (Panizzi et al., 2000), com registros em outras plantas, como algodoeiro, alpiste e capim (Silva et al., 1968; Michel, 1994). Reduviidae Pyrrhocoridae Com exceção de Triatominae, cujas espécies são hematófagas, Dysdercus chaquensis Freiberg, 1948 todos os demais Reduviidae são predadores de outros artrópodes (Costa As espécies de Dysdercus Guérin Méneville, 1831 frequentemente Lima, 1940; Schuh & Slater, 1995). tornam-se sérias pragas do algodoeiro (Gossypium spp.), sendo Subfamília Harpactorinae conhecidos como “manchadores” (“cotton stainers”, em inglês) (van Apiomerus lanipes (Fabricius, 1803) Doesburg Jr., 1968; Schaefer & Ahmad, 2000; Gallo et al., 2002). Dysdercus Espécie que, embora tenha sido considerada útil para controle chaquensis (Figura 3) é encontrada em vários países da América do Sul biológico de pragas (Rizzo, 1976), foi também observada como predadora (van Doesburg Jr., 1968) e foi considerada por Rizzo (1976) como a espécie da abelha melífera, ocasionando significantes perdas em apiário (Marques do gênero mais difundida na Argentina. et al., 2003).

218 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 219 Cosmoclopius cf. nigroannulatus (Stål, 1860) Rhopalidae C. nigroannulatus tem sido registrado como destacado predador de Jadera sp. insetos, incluindo pragas, em plantações de Fumo na Argentina e Brasil Algumas espécies deste gênero têm sido encontradas sobre (Rizzo, 1976; Marques et al., 2006). algodoeiro, sem maiores repercussões sobre o seu cultivo (Michel, 1994). Notocyrtus sp. (ninfa) Tingidae As espécies de Notocyrtus Burmeister, 1835 são consideradas Gargaphia torresi Lima, 1922 miméticas de abelhas sem ferrão (: Apidae: Apinae: Tem sido registrada em várias culturas agrícolas (Silva et al., 1968), Meliponini), sem que se saiba se o mimetismo é agressivo ou protetor sem ser uma grande praga, contudo (Michel, 1994; Neal & Schaefer, 2000). (Gil-Santana, 2008; Gil-Santana & Forero, 2009). Discussão Subfamília Stenopodainae Rhyparoclopius sp. O período curto de coleta, sem uso de maior diversidade de meios Esta espécie foi representada por três espécimes, observando-se de captura (como a atração luminosa noturna), provavelmente contribuiu que tanto o macho quanto a fêmea são braquípteros (Figura 4), podendo para a parca representação de Heteroptera. No período seco, é notório que não foram encontrados adultos de muitas espécies (ver Tabela 1). representar uma nova espécie ou variação morfológica extrema de uma Confirmando esse fato, notou-se uma significativa predominância de das espécies do gênero, o que será objeto d e futuro trabalho. formas imaturas (ninfas) no material coletado, o que, inclusive, dificultou ou impediu identificações específicas de vários taxa. Apesar disto, a relevância deste estudo está pautada no fato de ser o primeiro levantamento de Heteroptera feito no Pantanal Sul-Mato- Grossense e um dos primeiros realizados no Estado. Aoki & Sigrist (2006) registraram 34 espécies de Heteroptera visitando flores em estudo realizado no Complexo Aporé-Sucuriú, região nordeste do Estado. Dentre as espécies registradas, cabe ressaltar o registro de uma espécie peculiar de Stenopodainae, pois embora as fêmeas possam ser braquípteras, os machos dessa subfamília são macrópteros (Schuh & Slater, 1995). Assim, a constatação da existência de braquipteria (hemiélitros de dimensões reduzidas) em ambos os sexos de Rhyparoclopius sp. (Figura 4), torna a espécie muito conspícua, podendo representar uma nova espécie ou variação morfológica extrema de uma das três espécies conhecidas do gênero.

Considerações finais Considerando a grande variedade de habitats e diversidade dos heterópteros, os resultados obtidos refletem a necessidade de estudos Figura 4. Rhyparoclopius sp. registrado na RPPN EEB. Foto: Hélcio R. Gil-Santana. mais abrangentes, realizados por períodos maiores, incluindo todas as

220 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 221 estações anuais, com uso de variados meios de coleta para permitir um Fernandes, J. A. M. & Doesburg, P. H. van. 2000. The E. dolichocera- adequado inventário da entomofauna da região. group of Edessa Fabricius, 1803 (Heteroptera: Pentatomidae: Edessinae). Zoologische Mededelingen, 73: 305-315. Agradecimentos Forero, D. 2008. The systematics of the Hemiptera – Sistemática de Hemiptera. Revista Colombiana de Entomología, 34(1): 1-21. Agradecemos ao Instituto Homem Pantaneiro pela iniciativa e Gallo, D., Nakano, O., Silveira Neto, S., Carvalho, R. P. L., Baptista, logística; a Viviane F. Moreira, Alessandra Bertassoni, Stephanie Leal, G. C., Berti Filho, E., Parra, J. R. P., Zucchi, R. A., Alves, S. B., Vendramim, Mara C. Teixeira-Gamarra, Nilson L. Xavier Filho, Breno Franco Leonel, J. D., Marchini, L. C., Lopes, J. R. S. & Omoto, C. 2002. Entomologia Daiene H. L. Sousa, Fernanda Rabelo, Valdilene Garcia, Antônio R. da Agrícola. FEALQ: Piracicaba. 920p. Silva, Ramão Feitosa, Sebastião Rolon, Sabrina Clink e Rodney Ribeiro Gil-Santana, H. R. 2008. New records, and nomenclatural and Junior pelo auxílio em campo e auxílio na triagem do material. biological notes on Reduviidae (Hemiptera: Heteroptera) from Bolivia Referências and Brazil. Zootaxa, 1785: 43-53. Gil-Santana, H. R., Costa, L. A. A., Forero, D. & Zeraik, S. O. 2003. Aoki, C. & Sigrist, M. R. 2006. Inventário dos visitantes florais Sinopse dos Apiomerini, com chave ilustrada para os gêneros (Hemiptera- no Complexo Aporé-Sucuriú. In T.C.S. Pagoto & P.R. de Souza (orgs.): Heteroptera, Reduviidae, Harpactorinae). Publicações Avulsas do Biodiversidade do Complexo Aporé-Sucuriú. Subsídios à Museu Nacional, 97: 1-24. conservação e ao manejo do Cerrado. Editora da Universidade Federal Gil-Santana, H. R. & Forero, D. 2009. A new species of Notocyrtus, de Mato Grosso do Sul, pp. 143-162. a new synonym of Coilopus, and new records and notes on other Brambila, J. & Santana, F. 2004. First records for Ischnodemus (Hemiptera: Heteroptera: Reduviidae: Harpactorinae) variegatus (Hemiptera: Blissidae) in North America. Florida from South America. Zootaxa, 2148: 55-67. Entomologist, 87: 585-586. Gotelli, N.J. & Entsminger, G.L. 2011. EcoSim: Null models Costa Lima, A. 1940. Insetos do Brasil, 2º Tomo, Hemipteros. software for ecology. Version 7. Acquired Intelligence Inc. & Kesey- Escola Nacional de Agronomia: Rio de Janeiro. 351p. Bear. Jericho, VT 05465. http://garyentsminger.com/ecosim.htm. Dellapé, P. M., Carpintero, D. L. & Melo, M. C. 2010. New records Hogue, C. L. 1993. Latin American insects and Entomology. of Dipsocoromorpha, and Pentatomorpha (Hemiptera: University of California Press: Los Angeles. 536p. Heteroptera) from Argentina. Zootaxa, 2436: 57-64. Marques, O.M., Gil-Santana, H. R., Coutinho, M. L. & Silva Júnior, D. Dias, R., Overholt, W. A., Heard, T.M., Samayoa, A. & van Klinken, D. 2006. Percevejos predadores (Hemiptera, Reduviidae, Harpactorinae) R.D. 2009. Characterizing the host specificity of Ischnodemus variegatus em fumo (Nicotiana tabacum L.) no município de Cruz das Almas, Bahia. (Signoret) (Hemiptera: Blissidae) on two congeneric grass species. Revista Brasileira de Zoociências, 8(1): 55-59. Biological Control, 55:219-224. Marques, O.M., Gil-Santana, H. R., Magalhães, A. C. A. & Doesburg Jr., P. H. van. 1966. Heteroptera of Suriname. I. Largidae Carvalho, C. A. L. 2003. Predação de Apiomerus lanipes (Fabricius, 1803) and Pyrrhocoridae. Studies on the Fauna of Suriname and other (Hemiptera: Reduviidae) sobre Apis mellifera (Linnaeus, 1758), no estado Guyanas, 9: 1-60. da Bahia, Brasil. Entomología y Vectores, 10(3): 419-429. Doesburg Jr., P. H. van. 1968. A revision of the New World species of Michel, B. 1994. Entomofauna de los algodonales paraguayos: Dysdercus Guérin Méneville (Heteroptera, Pyrrhocoridae). Zoologische Hemiptera Heteroptera. C.I.R.A.D. – C.A./U.R.: Montpellier. 132p. Verhandelingen, 97: 1-215 + 16 pls. Mitchell, P. L. 2000. Leaf-Footed Bugs (Coreidae). Chapter 11.

222 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 223 In: Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. (eds). Heteroptera of economic Slater, J. A. 1976. Monocots and chinch bugs: a study of host plant importance. CRC Press: Boca Raton. Pp. 321-336. relationships in the lygaeid subfamily Blissinae (Hemiptera: Lygaeidae). Neal, J. W. Jr. & Schaefer, C. W. 2000. Lace Bugs (Tingidae). Chapter Biotropica, 8:143–165. 4. In: Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. (eds). Heteroptera of economic importance. CRC Press: Boca Raton. Pp. 85-137. Panizzi, A. R., McPherson, J. E., James, D. G., Javahery, M. & McPherson, R. M. 2000. Stink Bugs (Pentatomidae). Chapter 13. In: Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. (eds). Heteroptera of economic importance. CRC Press: Boca Raton. Pp. 321-336. Panizzi, A. R., Schaefer, C. W. & Natuhara, Y. 2000. Broad-Headed Bugs (Alydidae). Chapter 10. In: Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. (eds). Heteroptera of economic importance. CRC Press: Boca Raton. Pp. 321-336. Rizzo, H. F. 1976. Hemípteros de interes agrícola. Chinches perjudiciales y chinches benéficas para los cultivos. Editorial Hemisferio Sur: Buenos Aires, 69p. Schaefer, C. W. & Ahmad, I. 2000. Cotton strainers and Their Relatives (Pyrrhocoroidea: Pyrhocoridae and Largidae). Chapter 8. In: Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. (eds). Heteroptera of economic importance. CRC Press: Boca Raton. Pp. 271-307. Schaefer, C. W. & Ahmad, I. 2008. A revision of Neomegalotomus (Hemiptera: Alydidae). Neotropical Entomology, 37(1): 30-44. Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. 1998. The correct name of “Megalotomus” Pests of Soybean (Hemiptera: Alydidae). Anais da Sociedade Entomológica do Brasil, 27(4): 669-670. Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. 2000. Economic importance of Heteroptera: a general view. Chapter 1. In: Schaefer, C. W. & Panizzi, A. R. (eds). Heteroptera of economic importance. CRC Press: Boca Raton. pp.3-8. Schuh, R. T. & Slater, J. A. 1995. True Bugs of the World (Hemiptera: Heteroptera): classification and natural history. Cornell University Press: Ithaca. 336p. Silva, A. G. A, Gonçalves, C. R., Galvão, D. M, Gonçalves, A. J. L., Gomes, J., Silva, M. N. & Simoni, L. 1968. Quarto Catálogo dos insetos que vivem nas plantas do Brasil – seus parasitas e predadores. Ministério da Agricultura do Brasil: Rio de Janeiro, Parte II. 622p.

224 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 225 foto: Camila Aoki Camila foto: VES PAS

226 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 227 em flores, com auxílio de rede entomológica. Foram coletados 36 Vespas indivíduos pertencentes às três superfamílias de Hymenoptera Aculeata, Aculeata da Reserva Particular do Patrimônio totalizando 19 espécies de vespas. As vespas foram observadas visitando Natural Engenheiro Eliezer Batista principalmente flores tubulares, pequenas (até 2 mm.), de cor branca ou alaranjada, incluídas na síndrome melitófila. As vespas amostradas Tiago Henrique Auko1,3; Bhrenno Maykon Trad2,3; Rogério Silvestre1,2,3& Camila Aoki4 nas duas partes deste inventário totalizam 50 espécies, 32 gêneros e sete 1 Programa de Pós Graduação em Entomologia e Conservação da Biodiversidade, famílias. Percebemos que para melhor inventariar a comunidade de vespas Universidade Federal da Grande Dourados. e-mail: [email protected] 2 Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais, da RPPN EEB e amostrarmos outros grupos é necessária a realização de Universidade Federal da Grande Dourados. e-mail: [email protected] mais coletas e em épocas distintas do ano, principalmente levando em 3 Laboratório de Ecologia de Hymenoptera HECOLAB, Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais - UFGD. e-mail: [email protected] consideração a marcada sazonalidade encontrada no Pantanal. 4 Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, PPG Ecologia e Conservação. e-mail: [email protected] Parte I - Composição Faunística Introdução Resumo A ordem Hymenoptera, com mais de 130.000 espécies conhecidas, é As vespas Aculeata são insetos cosmopolitas e amplamente diversos, considerada a segunda maior ordem de insetos no mundo. Mesmo assim, pertencentes aos grupos Chrysidoidea, Vespoidea (exceto formigas) muitos entomólogos acreditam que, quando forem incluídas as inúmeras e Apoidea (exceto abelhas). A maior riqueza do grupo é encontrada espécies ainda não descritas, principalmente da micro-fauna parasitóide, nos trópicos. Neste capítulo abordamos a fauna das vespas da Reserva esta pode ser a ordem de insetos mais diversa (Gordon, 2008). Esta Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN ordem é caracterizada pela presença de dois pares de asas membranosas EEB), situada no Pantanal do Paraguai, em duas partes: I - composição de tamanhos diferentes e a autapomorfia do grupo é a união destas asas faunística das vespas em um inventário rápido da diversidade realizado por pequenos espinhos denominados “hâmulos” (Fernández & Sharkey, no período de 25 de março a 04 de abril de 2011, com a utilização de três 2006). técnicas de coleta (armadilha de Malaise, guarda-chuva entomológico e Os Hymenoptera abrangem um vasto leque de estilos de vida rede entomológica). Foram registradas neste levantamento 40 espécies de e biologia, incluindo dois verdadeiramente notáveis dentro da classe Hymenoptera Aculeata, distribuídas nas famílias , Pompilidae, Insecta (taxa eusociais e formas parasitárias) e de maior elaboração Mutillidae, Scoliidae, Crabronidae, Specidae e Chrysididae. II - estudo das comportamental entre os insetos (Whitfield, 1998). Estes insetos vespas visitantes florais (vespas antófilas). Diferentemente das abelhas, são importantes no balanceamento e no funcionamento da maioria as vespas são pouco estudadas em relação à sua capacidade antófila, e por dos ecossistemas terrestres. As vespas sociais, em virtude de seu muito tempo se acreditava que estes insetos não fossem polinizadores comportamento e abundância, têm um grande impacto em outros efetivos de Angiospermas. Estudos recentes sugerem que as vespas são organismos por consumi-los diretamente (Richter, 2000). polinizadoras de dezenas de famílias de plantas e que algumas espécies Os himenópteros são tradicionalmente divididos em duas destes insetos possuem relações específicas com algumas espécies subordens, Symphyta e Apocrita. O que caracteriza a monofilia de vegetais. O levantamento da comunidade de vespas visitantes florais foi Apocrita é a constrição entre o primeiro e segundo segmento abdominal realizado na RPPN EEB, em duas etapas, entre 19 e 24 de maio de 2007 (Wharton et al., 2004). Apocrita é um grupo monofilético comumente e entre 27 de julho e 02 de agosto de 2010. As coletas foram realizadas dividido em Aculeata e Parasítica, também conhecidos como Terebrantia.

228 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 229 Aculeata apresenta quatro divisões informais: abelhas (Apoidea), vespas Guarda-chuva entomológico: Uma estrutura de madeira em cruz predadoras (Vespoidea e Apoidea), formigas (Vespoidea) e parasitóides coberta por um pano branco (1 m2) foi utilizada para auxiliar na coleta em aculeados (Chrysidoidea), sendo que vespas e formigas são geralmente arbustos e galhos de árvores (a cor do pano visou facilitar a visualização predadoras e as abelhas são alimentadas por pólen e néctar quando larvas dos animais). Essa armação foi colocada sob os galhos das árvores ou sob (Hanson & Gauld, 1995; Fernández & Sharkey, 2006; Sharkey, 2007). pequenos arbustos. Estes foram batidos com o auxílio de um pedaço de O termo Aculeata refere-se às vespas que tiveram seus ovopositores madeira, a fim de que os animais caíssem sobre o pano. Cada amostra modificados em forma de ferrão. Por isso estes insetos podem ser correspondeu a 20 arbustos ou galhos de árvores explorados em uma chamados de vespas caçadoras, com exceção de alguns grupos que caminhada no interior do ponto de coleta. Foram realizadas 20 amostras possuem o comportamento das vespas parasíticas, como acontece com na Estrada Mandioré, 20 na Trilha Amolar e seis na Trilha Morrinhos. Chrysididae e Pompilidae. Uma diferença comportamental considerável Busca ativa: A coleta ativa com a utilização das redes entomológicas entre as vespas caçadoras e as parasíticas deve-se ao fato de as caçadoras ocorreu durante todo o trabalho de campo, com inicio às 7h30 e término levarem suas presas até um ninho e também ao fato de suas larvas às 17h. Observações foram feitas em flores durante o percurso das trilhas consumirem mais de uma presa (Fernández & Sharkey, 2006). e na margem do Rio Paraguai e das baías. Apesar da elevada importância deste grupo, estudos no Pantanal A identificação das vespas foi realizada em estereomicroscópio, são inexistentes, sendo esta a primeira tentativa de acessar parte da com consulta às chaves de identificação (Bohart & Menke, 1976; Menke & diversidade de vespas deste bioma/região. Fernández, 1996; Carpenter & Garcete-Barrett, 2002; Brothers, 2006a,b; Manson & Fernández, 2006). Material testemunho foi incorporado à Metodologia coleção de Hymenoptera do Museu da Biodiversidade da Universidade Federal da Grande Dourados – MS (MUBIO) e na Coleção Biológica A Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Didática da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) está localizada no estado de Mato Grosso do Sul, a Batista. noroeste do município de Corumbá, cerca de 180 km a montante da sede do município, entre o Rio Paraguai e a Baía Mandioré. Foi realizado um inventário rápido entre os dias 25 de março a 04 Resultados de abril de 2011, na estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), nas trilhas Durante a amostragem rápida da fauna de vespas Aculeata da RPPN Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”), EEB, foram amostrados 101 indivíduos, 28 gêneros e 40 espécies (tabela 1). na sede da RPPN EEB (S 18°05’25”, O 57°28’27”) e na margem do Rio A superfamília Vespoidea foi responsável por 90% da riqueza das espécies Paraguai (S 18°05’06”, O 57°28’38”). e por 95% da abundância dos indivíduos, sendo representada por quatro Para o levantamento de vespas foram utilizadas três metodologias: famílias. Armadilha tipo Malaise: Estas armadilhas capturam os indivíduos Vespidae apresentou a maior riqueza, com 23 espécies em 16 através da intercepção do voo e são bastante utilizadas para a coleta de gêneros; e também o maior número de indivíduos, 55 espécimes. Aqui insetos voadores. Uma armadilha foi instalada próxima à sede da RPPN foram amostradas as três subfamílias de Vespidae que ocorrem na EEB e outras três foram instaladas nas trilhas Amolar e Morrinhos região Neotropical. Eumeninae foi a subfamília com o maior número e na estrada Mandioré. Elas Ficaram expostas pelo período de cinco de espécies (14) e gêneros (nove) amostrados, foi a subfamília dias, instaladas rentes ao chão, contendo álcool 96% para a fixação dos mais abundante, com mais de 50% dos indivíduos amostrados (30), indivíduos. Polybia chrysothorax (Lichtenstein, 1976) (Figura 1a) foi a espécie mais

230 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 231 abundante, com nove registros. Masarinae foi representada por apenas Tabela 1. Superfamílias, famílias, subfamílias e espécies de vespas Aculeata amostradas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, no período chuvoso, em 2011. uma espécie (Trimeria rubra Hermes & Mello, 2006) (Figura 1b), com somente dois exemplares, sendo este o primeiro registro desta espécie Superfamília Família Subfamília Espécies Abundância Local de coleta VESPOIDEA Mutillidae Sphaeropthalminae Sphaeropthalmini sp. 1 6 Am para o Mato Grosso do Sul e para o Pantanal como um todo. Sphaeropthalmini sp. 2 1 Ma Sphaeropthalmini sp. 3 8 Mo a b Hoplocrates sp. 1 Am Mickelia sp. 1 1 Mo Mickelia sp. 2 1 Am Suareztilla sp 1 Am Traumatomutilla graphica (Gerstaecker, 1874) 8 Ma Traumatomutilla sp. 1 4 Mo Traumatomutilla sp. 2 1 Sd Pompilidae Pepsinae Ageniella sp 1 Mo Pompilinae Anoplius sp 1 Mo Scoliidae Campsomerinae Campsomeris sp 6 Am, Mo Figura 1. Polybia chrysothorax (a) e Trimeria rubra (b), coletadas na Reserva Particular do Vespidae Eumeninae Ancistroceroides sp. 2 Am Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. Foto: Camila Aoki e Tiago Auko. Antezumia chalybea (Saussure, 1854) 1 Mo Hypalastoroides sp. 1 1 Am As duas famílias de Spheciformes foram amostradas na RPPN EEB. Hypalastoroides sp. 2 1 Mo Omicron tuberculatum (Fox, 1899) 3 Mo Sphecidae foi representada por apenas uma espécie, Eremnophila binodis Omicron sp 1 Am (Fabricius, 1728), com dois indivíduos machos. Crabronidae também Pachodynerus sp 5 Mo teve somente dois exemplares registrados, Stictia sp. (Bembicinae), Pachyminixi sp 1 Am amostrado próximo à sede da RPPN EEB, e Liris sp. (Crabroninae), na Parancistrocerus sp 1 Ma Stenodynerus sp 2 Am trilha Morrinhos. Chrysidoidea, com dois representantes da família Zethus sp. 1 2 Ma Chrysididae, teve apenas uma morfoespécie. Os exemplares foram Zethus sp. 2 1 Mo amostrados na Estrada Mandioré e próximo à sede da RPPN EEB. Zethus sp. 3 1 Ma Zethus sp. 4 1 Am Em relação às técnicas de amostragem empregadas nesta expedição Masarinae Trimeria rubra Hermes & Mello 2006 2 Am de coleta, a rede entomológica foi responsável pelo registro da maioria dos Polistinae multipicta (Haliday, 1936) 4 Am indivíduos, com exceção de um exemplar de Agelaia multipcta (Haliday, Brachygastra sp. 1 4 Am 1936) (Vespoidea: Vespidae), que foi amostrada em uma das armadilhas Metapolybia sp 2 Mo Polybia chrysothorax (Lichtenstein, 1796) 9 Ma de Malaise, instalada na trilha Amolar, e um individuo de Mickelia sp. Polybia ignobilis (Haliday, 1836) 4 Mo 1 (Vepoidea: Mutillidae), que foi capturado por meio do guarda-chuva Polybia (gr. occidentalis) sp. 1 5 Ma entomológico, na trilha Morrinhos. Polistes cannadensis (Linnaeus, 1758.) 1 Mo Synoeca sp. 1 Am A trilha Morrinhos mostrou ser a mais diversa entre as três trilhas CHRYSIDOIDEA Chrysididae Chrysididae sp. 2 Ma, Sd amostradas na RPPN EEB, com 38 indivíduos e 16 espécies coletados, APOIDEA Sphecidae Eremnophila binodis (Fabricius, 1798) 2 Mo seguida pela trilha Amolar, onde amostramos 32 indivíduos e 15 espécies Crabronidae Stictia sp. 1 Sd de vespas Aculeata, e, por fim, a estrada Mandioré, com 28 indivíduos e Liris sp. 1 Mo oito espécies registradas. O restante foi amostrado nas proximidades da Legenda: (Am) Trilha Amolar, (Ma) Estrada Mandioré, (Mo) Estrada Morrinhos,(Sd) Sede da RPPN EEB. sede e na margem do rio Paraguai.

232 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 233 Discussão carentes de taxonomistas para a região Neotropical e foram apenas morfoespeciados neste estudo. Com a determinação de especialistas em As 40 espécies de vespas Aculeata amostradas na RPPN EEB um futuro próximo, poderemos ter novos registro de distribuição para a representam uma grande diversidade para este grupo de insetos, levando América do Sul (Sivestre et al., 2010), ou até mesmo descrição de novas em consideração que estes dados são apenas de uma expedição de coleta, espécies. com duração de 10 dias, em um período logo posterior a um incêndio (setembro de 2010). Parte II - Vespas Antófilas A grande diversidade de Vespoidea amostrada na RPPN EEB em relação aos outros grupos de Aculeata já era esperada, afinal este grupo Introdução é expressamente mais diverso que os Apoidea na região Neotropical e Plantas fornecem recursos alimentares, abrigo e locais de porque as técnicas de coleta empregadas não são as técnicas ideais para reprodução/nidificação para diversas espécies de insetos. Estes, por sua a coleta dos chrysidídeos, como por exemplo, a armadilha de Möericke vez, podem contribuir para o sucesso reprodutivo das espécies vegetais, (bandejas coloridas), que é a armadilha mais utilizada para a amostragem atuando como polinizadores. Entre estes insetos, destacam-se as abelhas, da fauna de micro-vespas (Fernández & Sharkey, 2006). borboletas, mariposas, moscas e as vespas (Proctor et al., 1996). O número de espécies pertencentes aos Vespidae (23) foi muito Hunt (1991) identificou oito fontes alimentares para os himenópteros superior aos mutillídeos (10) e aos pompilídeos (2). Esses números aculeados, mas o néctar é o alimento preferencial para os indivíduos refletem a diversidade desses grupos na região Neotropical. Jáa adultos. A justaposição das partes bucais (mandíbula) dá exclusividade abundância dos vespídeos em relação às outras famílias amostradas a essa dieta e reflete a fascinante evolução dos himenópteros, sugerindo aqui está relacionada ao fato de este grupo de vespas contar com que ela ocorreu junto à evolução das Angiospermas (Baker & Hurd, 1968). espécies sociais, possibilitando a coleta de vários indivíduos da mesma Vespas são visitantes comuns em flores, embora algumas espécies sejam colônia. Isto fica evidente quando comparamos a diversidade entre as atraídas pela oportunidade de predar outros visitantes (Faegri & van der duas subfamílias mais diversas de Vespidae representadas aqui, sendo Pijl, 1979; Corlett, 2004). uma delas composta por vespas de hábitos solitários (Eumeninae) e a Com exceção das abelhas, trabalhos realizados com os himenópteros outra caracterizada pelo comportamento social (Polistinae). Polistinae para verificar sua eficiência na polinização são raros (Heithaus, 1979 a,b,c; apresentou a maior abundância entre elas, mas foram os Eumeninae que Proctor et al., 1996; Barros, 1998; Köhler, 2008). Segundo o Ministério do apresentaram a maior riqueza. Meio Ambiente (2006), em publicação que traz levantamento detalhado A diversidade registrada na RPPN EEB em apenas uma expedição da produção científica nacional sobre polinizadores no Brasil, menos de coleta e as espécies de vespas amostradas, como por exemplo, Agelaia de 5% investigam o papel das vespas na polinização. Para o Pantanal, multipcta, indica que este local contempla uma área de grande riqueza estudos com as vespas antófilas são inexistentes. para a fauna de vespas Aculeata e que esta área deve ser preservada com o Mechi (1996) realizou um extenso trabalho de fenologia de vespas intuito de conservação da biodiversidade. capturadas em flores no cerrado do estado de São Paulo. Neste trabalho, Grupos como Crabronidae, Sphecidae, Mutillidae, Pompilidae na Reserva Jataí, foram coletadas 142 espécies de vespas em 69 espécies e Scoliidae são pouco estudados no Mato Grosso do Sul. Com este de plantas com flores, sendo que Didymopanax vinosum (Araliceae) e levantamento, esperamos contribuir para o estudo biogeográfico destas Styrax camporum (Styracaceae) foram as plantas mais visitadas. As vespas, com novos registros de distribuição, preenchendo lacunas de espécies de vespas mais frequentes visitando o maior número de espécies ocorrência das espécies. Grupos como Mutillidae e Pompilidae são de plantas nesta Reserva foram: Agelaia pallipes, Polybia paulista e

234 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 235 Polybia ignobilis. Outras espécies, como Omicron tuberculatum e Polybia (8) câmara. Sete categorias de cores foram consideradas de acordo com dimidiata, visitaram apenas dois tipos de plantas no cerrado, indicando a cor principal: branca, esverdeada (incluindo bege e creme), amarela, especialização; contudo, a maioria das espécies foi generalista. alaranjada, rosa, violeta/lilás (incluindo azul) e vermelha (Machado & As vespas são agentes fundamentais na polinização de muitas Lopes, 2004). famílias de plantas. A reprodução das espécies de Ficus, por exemplo, depende exclusivamente da polinização realizada por pequenas vespas Resultado da família Agaonidae, ao mesmo tempo em que as vespas necessitam de Em um inventário rápido da estrutura da comunidade de vespas algumas flores da planta para desenvolverem suas proles, ocorrendo uma antófilas da RPPN EEB, foram coletados 37 indivíduos pertencentes às estreita interação mutualística (Pereira et al., 2000). No estudo de Granja três superfamílias de Hymenoptera Aculeata, totalizando 20 espécies de e Barros (1998), os principais visitantes de três espécies de Erythroxylum vespas e 15 gêneros (Tabela 2). foram himenópteros, sendo espécies dos gêneros Brachygastra, Polistes, Vespoidea, o grupo mais abundante, foi representado apenas pela Polybia e Pepsis, consideradas polinizadores efetivos. família Vespidae, com 11 gêneros e 17 espécies. A superfamília Chrysidoidea foi representada por um único exemplar da família Chrysididae (Figura Metodologia 2a). Os Apoidea foram representados por dois indivíduos, um pertencente As coletas foram realizadas em duas etapas, entre 19 e 24 de maio à família Crabronidae (Trachypus sp.) e o outro à família Sphecidae de 2007 (2ª Expedição para o Plano de Manejo) e entre 27 de julho e 02 de (Eremnophila sp., Figura 2b). agosto de 2010, na estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), nas trilhas Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”), na sede da RPPN EEB (S 18°05’25”, O 57°28’27”) e na margem do Rio Paraguai (S 18°05’06”, O 57°28’38”). A coleta de vespas foi realizada em flores, com auxílio de rede entomológica. As espécies vegetais em floração foram observadas por 10 minutos, entre as 7h e 12h e entre as 14h e 17h. A maior parte das amostras foi obtida em plantas de porte herbáceo e (sub)arbustivo, bem como em espécies arbóreas que apresentaram ramos acessíveis. A identificação das vespas foi realizada em estereomicroscópio Figura 2. Chrysididae (a) e Eremnophila sp.(b) coletadas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS. Fotos: Camila Aoki. com consulta a chaves de identificação (Manson & Fernández, 2006; Carpenter & Garcete-Barrett, 2002). As plantas visitadas foram Entre os Vespidae, Eumeninae foi a subfamília mais rica (9 spp., identificadas e classificadas quanto à síndrome de polinização (conforme 45%), seguida de Polistinae (8 spp., 40%). Polybia (gr. occidentalis) sp.1 Faegri & Van der Pijl, 1979), medidas quanto ao máximo diâmetro e e Synoeca sp. (Figura 3) foram as espécies que visitaram maior número comprimento, sendo classificadas em pequenas (< 10 mm), médias (> 10 de espécies vegetais (3 spp.). Brachygastra moulae e Polybia ignobilis  20 mm), grandes (> 20  30 mm) e muito grandes (> 30 mm) (Machado (Figura 4) visitaram duas espécies de plantas, e as demais espécies de & Lopes 2004). As flores também foram classificadas em oito tipos florais vespas visitaram flores de apenas uma espécie. (modificado de Faegri & van der Pijl, 1979): (1) inconspícua (< 4 mm); (2) As vespas visitaram 13 espécies de plantas, representantes de sete prato; (3) campânula-funil; (4) tubo; (5) goela; (6) estandarte; (7) pincel; famílias. Asteraceae foi a mais rica, com três espécies, Bidens gardneri,

236 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 237 Eupatorium candolleanum e Mikania micrantha. As espécies que receberam maior número de visitas foram: Bidens gardneri (Figura 5a), visitada por Brachygastra sp. 1, B. moulae, P. ignobilis, P. (gr. occidentalis) sp. 1 e Synoeca sp., todas pertencentes à família Polistinae; e Polygonum acuminatum (Figura 5b), que recebeu visitas de P. chrysothorax, P. ignobilis, Omicron tegulare, Zeta argillaceum e Zethus schrottkyanus. As vespas foram observadas visitando principalmente flores de síndrome melitófila (polinizadas por abelhas) ou “diversos pequenos insetos” (d.p.i conforme Bawa et al., 1985), que englobam flores Figura 3. Polybia ignobilis registrada na Figura 4. Synoeca sp. registrada na RPPN EEB, RPPN EEB, Corumbá/MS. Foto: Camila Aoki. Corumbá/MS. Foto: Camila Aoki. polinizadas por pequenas abelhas, vespas, moscas e besouros. Houve predomínio de visitas a flores tubulares, pequenas (máximo 2mm de a diâmetro e comprimento) e com coloração branca ou alaranjada (Tabela 2).

Tabela 2. Espécies de vespas registradas visitando flores na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Corumbá/MS.

b Figura 5. Espécies vegetais com maior número de visitas por vespas na RPPN EEB, Corumbá/MS. (a) Bidens gardneri e (b) Polygonum acuminatum. Fotos: Camila Aoki.

d.p.i: Polinização por diversos pequenos insetos.

238 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 239 Discussão espécies da família Vespidae polinizando 39 espécies diferentes de plantas na caatinga brasileira, no estado da Bahia; Hermes & Köhler (2006) A riqueza de espécies registrada neste estudo é baixa se comparada registraram 25 espécies de Polistinae em 90 espécies de angiospermas e ao observado por Aoki & Sigrist (2006) em áreas de cerrado, no nordeste Sühs et al. (2009) registraram 12 espécies de vespas em flores de Schinus do estado, com o registro de 113 espécies de vespas antófilas, com terebinthifolius, ambos realizados no sul do Brasil. predomínio de Vespidae, como registrado no presente estudo. Vespidae Asteraceae, como a família com maior número de espécies e visitas está distribuído em todo o mundo, e os trópicos possuem a maior riqueza. por vespas, também foi registrado por Hermes e Köhler (2006) e Aoki e Apenas três subfamílias são encontradas no Brasil, sendo elas Polistinae, Sigrist (2006). Esta família possui distribuição cosmopolita, sendo a mais Eumeninae e Masarinae (Carpenter & Sarmiento, 2006), das quais duas rica entre as eudicotiledôneas, com aproximadamente 23.000 espécies, foram observadas no presente levantamento. das quais 2.000 ocorrem no Brasil (Souza & Lorenzi, 2005). Eumeninae, subfamília mais rica neste levantamento, possui Aoki & Sigrist (2006) também registraram maior número de espécies predadoras de larvas que, quando adultas, visitam flores espécies de vespas associadas a flores com sistemas de polinização d.p.i (Colomo & Berta, 2005a). Esta subfamília inclui mais de 3.200 espécies, (49%) ou melitófilas (39%). Uma maior visita a flores de tubo curto, mais sendo a mais rica entre os vespídeos (Carpenter & Garcete-Barrett, 2002). abertas, é esperada, uma vez que neste tipo floral os recursos ficam mais Polistinae, que também teve destaque nesse levantamento, é acessíveis aos visitantes. composta por mais de 940 espécies sociais; são vespas predadoras de outros artrópodes e podem alimentar-se de néctar e pólen de flores (Colomo & Considerações finais Berta, 2005b). Neste estudo, o gênero Polybia foi o mais representativo em termos de riqueza, com cinco espécies: P. chrysothorax, P. ignobilis Vespas são organismos primordiais para os ambientes terrestres, (Figura 3), P. (occidentalis) sp. 1, P. (occidentalis) sp. 2 e P. (occidentalis) atuam como polinizadoras de uma série de plantas e também são sp. 3. predadoras (fase larval) de vários invertebrados, como aranhas, lagartas, O reduzido número de espécies amostradas neste estudo besouros, baratas, moscas, entre outros, contribuindo assim para o provavelmente está relacionado ao curto tempo de coleta e em grande equilíbrio dos ecossistemas terrestres. parte é reflexo da baixa ocorrência de espécies de plantas em floração na Esta é uma primeira tentativa de descrever a diversidade de vespas época de amostragem. Assim, para melhor inventariar a comunidade de deste bioma/região, até então desconhecida. Para melhor inventariar a vespas visitantes florais, é necessário realizar mais coletas e em épocas fauna da Serra do Amolar, novas amostragens são necessárias e devem distintas do ano, principalmente levando em consideração a marcada englobar distintas épocas do ano. Contudo, uma boa representação sazonalidade encontrada no Pantanal. Táxons não amostrados na foi obtida para a RPPN EEB, que demonstra ser uma área de grande área, como, por exemplo, Tiphiidae e Scoliidae, que também visitam importância para a conservação da biodiversidade de vespas. flores, além de um número maior de espécies, provavelmente seriam contemplados com o aumento do esforço amostral. Agradecimentos Mesmo não amostrando a riqueza total das vespas antófilas da Ao Professor Doutor Fernando B. Noll (UNESP – São José do Rio RPPN EEB, este estudo mostra a importância de se incluir as flores como Preto), aos pesquisadores Marcel Hermes e a Bolívar Rafael Garcete sítios amostrais deste grupo, tendo em vista que das espécies registradas, Barrett (Universidade Federal do Paraná – Curitiba). 18% foram registradas apenas por esta metodologia. Isto é corroborado por estudos realizados em outras regiões: Santos (2000) observou 13

240 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 241 Referências Colomo, M.V. & Berta, C. 2005b. Los ejemplares tipo de Masarinae y Polistinae (Hymenoptera: Vespidae) depositados en la colección Aoki, C. & Sigrist, M.R. 2006. Inventário dos visitantes florais del Instituto Fundación Miguel Lillo (IFML), Argentina. Revista da no Complexo Aporé-Sucuriú. In: T.C.S. Pagoto & P.R. de Souza Sociedade Entomologica da Argentina, 64(1-2): 71-84. (orgs.): Biodiversidade do Complexo Aporé-Sucuriú. Subsídios à Corlett, R.T. 2004. Flower visitors and pollination in the Oriental conservação e ao manejo do Cerrado. Editora da Universidade Federal (Indomalayan) Region. Biological Review, 79: 497-532. de Mato Grosso do Sul, p. 143-162. Faegri, K. & Van der Pijl, L. 1979. The principles of pollination Baker, H.G. & Hurd, P.D. 1968: Intrafloral ecology.Annual Review ecology. Pergamon Press. London. 244p. of Entomology, 13: p. 385-414. Fernández, F. & Sharkey, M.J. 2006. Introducción a los Barros, M.G. 1998. Sistemas reprodutivos e polinização em espécies Hymenoptera de la Región Neotropical, Sociedad Colombiana de simpátricas de Erythroxylum P. Br. (Erythroxylaceae) do Brasil. Revista Entomologia y Universidad Nacional de Colombia, Bogotá. D. C. 894 pp. Brasileira Botânica, 21: 159-166 . Gordon, R. 2008. Earth life web. http://www.earthlife.net/ Bawa, K.S., Bullock, S.H., Perry, D.R., Coville, R.E & Grayum, search.html. Last update: 29. September 2008. Acesso em 20/03/2009. M.H. 1985. Reproductive biology of tropical lowland rain forest trees. II Granja & Barros, M. 1998. Sistemas reprodutivos e polinização em Pollination systems. American Journal of Botany, 72: p. 346-356. espécies simpátricas de Erythroxylum P. Br. (Erythroxylaceae) do Brasil. Bohart, R.M. & Menke, A.S. 1976. Sphecidae of the world. Revista Brasileira de Botânica, 21(2): 159-166. A generic revision. University of California Press, Berkley, 695 pp. Hanson, P.E. & Gauld, I.D. 1995. The Hymenoptera of Costa Brothers, D. J. 2006a. Familia Mutillidae. P. 577-593. In: Fernández, Rica. Oxford University Press, 893 pp. F. & Sharkey, M. J. (eds.) Introducción a los Hymenoptera de La Región Heithaus, E.R. 1979a. Flower-feeding specialization in wild bees Neotropical. Sociedad Colombiana de Entomologia y Universidad and wasps communities in seasonal Neotropical habitats. Oecologia, Nacional de Colombia, Bogotá. D. C. 894 pp. 42: p. 179-194. Brothers, D. J. 2006b. Superfamilia Chrysidoidea. P. 385-388. In: Heithaus, E.R. 1979b. Flower visitation records and resource overlap Fernández, F. & Sharkey, M. J. (eds.) Introducción a los Hymenoptera of bees and wasps in northwest Costa Rica. Brenesia, 16: p. 9-52. de La Región Neotropical. Sociedad Colombiana de Entomologia y Heithaus, E.R. 1979c. Community structure of Neotropical flower Universidad Nacional de Colombia, Bogotá. D. C. 894 pp. visiting bees and wasps: diversity and phenology. Ecology, 60(1): p. 190- Carpenter, J.M. & Garcett-Barrett, B.R. 2002. A key the Neotropical 202. genera of Eumeninae (Hymenoptera: Vespidae). Boletín del Museo Hermes, M. & Köhler, A. 2006. The flower-visiting wasps Nacional de Historia Natural del Paraguay, 14(1-2): p. 52-73. (Hymenoptera, Vesdpidae, Polistinae) in two areas of Rio Grande do Sul, Carpenter, J.M. & Sarmiento, C.E. 2006. Familia Vespidae. p. southern Brazil. Revista Brasileira de Entomologia, 50(2): p. 268-274. 539-555. In: Fernández, F. & Sharkey, M.J. (eds.) Introducción a los Hunt, J.H. 1991. Nourishment and the evolution of the social Hymenoptera de La Región Neotropical. Sociedad Colombiana de Vespidae. Comstock. Ithaca. 678 pp. Entomologia y Universidad Nacional de Colombia, Bogotá. D. C. 894 pp. Köhler, A. 2008. Floral preferences of the Polistine Polistes Colomo, M.V. & Berta, C. 2005a. Los ejemplares tipo de Eumeninae versicolor versicolor Olivier, 1792 (Hymenoptera: Vespidae: Polistinae, (Hymenoptera: Vespidae) depositados en la colección del Instituto Polistini) in Santa Cruz do Sul, Southern Brazil. Biociências, 16(2), p. 162-165. Fundación Miguel Lillo (IFML), Argentina. Revista da Sociedade Machado, I.C. & Lopes, A.V. 2004. Floral traits and pollination Entomologica da Argentina, 64(3): 23-33. systems in the caatinga, a Brazilian tropical dry forest. Annals of Botany,

242 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 243 94: 365-376. Plantarum, p.291. Manson, W.R.M. & Fernández, F. 2006. Clave para las superfamilias Sühs, R.B., Somavilla, A., Putzke, J. & Köhler, A. 2009. Pollen neotropicales de Hymenoptera, pp. 177-202. In: Fernández, F. & vector wasps (Hymenoptera, Vespidae) of Schinus terebinthifolius Raddi Sharkey, M.J. (eds.) Introducción a los Hymenoptera de La Región (Anacardiaceae), Santa Cruz do Sul, RS, Brazil. Brazilian Journal of Neotropical. Sociedad Colombiana de Entomologia y Universidad Biosciences. 7: 138-143. Nacional de Colombia, Bogotá. D. C. 894 pp. Wharton, R., Vilhelmsen, L., Gibson G.A.P. 2004. Characterizing Mechi, M.R. 1996. Levantamento da fauna de vespas aculeata basal apocritans (Hymenoptera: Apocrita). Proceedings of the Russian na vegetação de duas áreas de cerrado. Tese de Doutorado. São Carlos, Entomological Society, 75(1):17-23. SP. Universidade Federal de São Carlos, 242pp. Whitfield, J.B. 1998. Phylogeny and evolution of host-parasitoid Menke, A.S. & Fernández, C.F. 1996. Claves ilustradas para las interactions in Hymenoptera. Annual Review of Entomology, 43:129– subfamilias, tribus y géneros de esfécidos neotropicales (Apoidea: 151. Sphecidae). Revista de Biologia Tropical, 2:1-68. Ministério do Meio Ambiente. 2006. Bibliografia brasileira de polinização e polinizadores. Série Biodiversidade Vol. 16. Brasília, Ministério do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/ estruturas/chm/_arquivos/lista_polinizadores.pdf Pereira R.A.S, Semir, J. & Menezes Jr, A.O. 2000. Pollination and other biotic interactions in figs of Ficus eximia Schott (Moraceae). Brazilian Journal of Botany, 23: 217-224. Proctor, M., Yeo, P & Lack, A. 1996. The natural history of pollination. Harper Collins Publishers. 479 pp. Richter, M.R. 2000. Social Wasps (Hymenoptera: Vespidae) Foraging Behavior. Annual Review of Entomology, 45:121-150. Santos, G.M.M. 2000. Comunidades de vespas sociais (Hymenoptera – Polistinae) em três ecossistemas do Estado da Bahia, com ênfase na estrutura da guilda de vespas visitantes de flores de Catinga. 129 f. Tese (Doutorado em Ciências Biologia) – Universidade Federal de São Paulo, Ribeirão Preto. Sharkey, M.J. 2007. Phylogeny and Classification of Hymenoptera. Zootaxa, 1668: 521-548. Sivestre, R.; Auko, T. H & Carbonari, V. 2010. Insecta, Hymenoptera, Vespoidea, Pompilidae, Epipompilus aztecus (Cresson 1869). Check list, 6(3). pp. 483-484. Souza, V.C. & Lorenzi, H. 2005. Botânica Sistemática: Guia ilustrado para identificação das famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em APGII. Nova Odessa, São Paulo: Instituto

244 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 245 foto: Haroldo Palo Jr. Palo Haroldo foto: MA MI FE 246 Descobrindo o Paraíso ROSAspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 247 uma observação direta de um casal de macaco da noite (Aotus azarae). Mamíferos Estima-se que na RPPN EEB ocorram aproximadamente 64 espécies de Mamíferos da Reserva Particular do Patrimônio mamíferos. A região da Serra do Amolar é considerada uma das áreas de Natural Engenheiro Eliezer Batista importância e prioridade extremamente alta para a conservação segundo o Ministério do Meio Ambiente, com recomendações de ações prioritárias Alessandra Bertassoni¹, Nilson L. Xavier Filho¹, em nível de inventários. Contudo, os estudos sobre sua fauna e flora ainda Fernanda Almeida Rabelo¹ & Grasiela Porfírio¹,² são consideradas insuficientes. ¹ Setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro – IHP - Corumbá – MS. Ladeira José Bonifácio, 171 – Porto Geral – CEP: 79.300-900 - Corumbá - MS, Brasil, e-mail: [email protected], [email protected], [email protected] Introdução ² Departamento de Biologia e CESAM – Centro de Estudos do Ambiente e do Mar. Laboratório de Vida Selvagem. 3810-193. Campus de Santiago. Em todo o globo terrestre, estima-se que existam cerca de 5.400 Universidade de Aveiro, Portugal. E-mail: [email protected] espécies de mamíferos descritas (Wilson & Reeder, 2005). Destas, 688 estão presentes em território brasileiro (Reis et al., 2011). A grande Resumo diversidade de biomas e seus ecótones inseridos no Brasil contribuem Do total de espécies com ocorrência em território nacional para o alto nível de diversidade encontrado (Eisenberg & Redford, 1999). (n=688), 174 são registradas para o Pantanal, incluindo os quirópteros Do total de espécies com ocorrência em território nacional, 174 são e os pequenos mamíferos. A mastofauna pantaneira apresenta uma alta registradas para o Pantanal (Alho, 2008; Alho et al., 2011), incluindo os abundância e distribuição de espécies, contudo o conhecimento ainda quirópteros e os pequenos mamíferos. Contudo, o grau de coleta para é insatisfatório no que diz respeito à sua ocorrência. O presente estudo a região é considerado “ruim”, apresentando lacunas substanciais de teve como objetivo complementar e incrementar a listagem de mamíferos conhecimento (Rodrigues et al., 2002; Lewinsohn, 2005). que ocorrem na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro O Pantanal apresenta uma rica mastofauna com um número Eliezer Batista - RPPN EEB (S 18°05’25”, O 57°28’27”), região da Serra do expressivo de mamíferos ameaçados. Entretanto, o desenvolvimento que Amolar no Pantanal sul-mato-grossense. O trabalho foi desenvolvido em está ocorrendo na região pode colocar em risco ainda várias espécies se duas campanhas, uma na seca de 2010 e outra na cheia de 2011, a partir do medidas conservacionistas apropriadas não forem implantadas (Alho uso das metodologias de coleta de contramoldes de rastros, armadilhas & Lacher, 1991). Tanto pesquisadores quanto conservacionistas estão fotográficas e observação direta de mamíferos. Foram verificadas 33 preocupados em conhecer a mastofauna pantaneira, pois muitas espécies espécies de mamíferos pertencentes a 21 famílias. O lobinho (Cerdocyon são consideradas indicadores biológicos, e esses dados podem auxiliar thous), o veado mateiro (Mazama americana) e a onça parda (Puma no desenvolvimento de estratégias para a conservação (Rodrigues et al., concolor) foram os animais com maior número de registros fotográficos 2002). no período de estiagem. No período de cheia, as espécies com maior A mastofauna pantaneira é caracterizada pela alta abundância de número de registros fotográficos foram a anta (Tapirus terrestris), o espécies (Trolle, 2003), todavia o conhecimento ainda é insatisfatório veado mateiro (Mazama americana), o veado catingueiro (Mazama no que diz respeito à sua ocorrência (Rodrigues et al., 2002; Alho & gouazoubira) e o cateto (Pecari tajacu). No período de estiagem, o mês Gonçalves, 2005). As informações apresentadas neste capítulo têm o que contou com maior frequência de observações diretas de espécies intuito de complementar e incrementar a listagem de mamíferos que foi junho (n=6). Durante o período de cheia, foi obtido um registro ocorrem na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer de cervo-do-pantanal (Blastocerus dichotomus) através de rastros, e Batista - RPPN EEB, situada na região da Serra do Amolar.

248 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 249 Metodologia de cheia, entre outubro e novembro de 2010, foi realizada uma segunda Locais de coleta amostragem, dessa vez na trilha Amolar, entre 03 de outubro a 17 de novembro de 2010, totalizando um esforço amostral de 44 dias e 1056 O estudo foi conduzido na Reserva Particular do Patrimônio horas. Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) (S 18°05’25”, O 57°28’27”), Encontros oportunísticos e observações diretas de mamíferos na situada na região da Serra do Amolar, ao sul do Parque Nacional do RPPN EEB foram registrados no período de maio a setembro de 2010 Pantanal Mato-Grossense. e março e abril de 2011, enquanto os biólogos e técnicos percorriam as As coletas foram realizadas no período de 27 de julho a 02 de agosto trilhas ou as margens do rio Paraguai e seus corpos d’água secundários. de 2010, compreendendo o período de seca, e de 27 de março a 04 de Quando possível, houve o registro fotográfico. Os dados foram tabulados abril de 2011, durante o período de cheia. Os locais amostrados dentro da indicando o local do avistamento, a data, o período do dia ou horário, RPPN EEB foram a estrada Mandioré (S 18°05’42”, O 57°28’53”), e as trilhas bem como as possíveis observações. Amolar (S 18°05’38”, O 57°28’36”) e Morrinhos (S 18°06’20”, O 57°29’30”) Cabe ressaltar que as metodologias supracitadas estão direcionadas aos registros de mamíferos de médio e grande porte. Não foi utilizada Métodos de coleta metodologia específica para amostragem e identificação de mamíferos Os rastros deixados pelos mamíferos foram utilizados como método voadores e pequenos mamíferos, que permanecem pouco conhecidos na para identificá-los a partir da coleta de seus contramoldes (Borges & RPPN EEB. Tomas, 2008; Oswaldo Jr. & Luz, 2008). A técnica é bastante simples e consiste no uso de seções circulares de material plástico (garrafas PETs ou tubos de PVC) cortadas transversalmente e que são colocadas na amplitude do rastro encontrado, onde em seguida despeja-se uma mistura de gesso e água. Após secagem, o contramolde é limpo para retirada do substrato. No campo também procuramos por evidências associadas aos rastros (fezes, tocas, vestígios de forrageamento; figura 1) para facilitar a identificação, que também se baseou na literatura e no conhecimento dos biólogos da equipe envolvida. Paralelamente, foram utilizadas dez armadilhas fotográficas do modelo Tigrinus® convencional 4.0C. Em cada ponto de amostragem, duas armadilhas fotográficas foram instaladas a uma altura média de 45 cm do solo, uma de frente para a outra, com o intuito de fotografar os dois flancos dos animais. As armadilhas foram programadas para funcionar durante 24 horas e utilizamos um intervalo de cinco minutos entre os registros fotográficos. Iscas não foram utilizadas para atrair os animais e foi padronizada uma distância de cerca de mil metros entre as estações. Durante o período de estiagem, foi realizada uma amostragem ao Figura 1 – Observações indiretas associadas às espécies de mamíferos na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. (a e c) rastro de longo da estrada Mandioré, entre 21 de setembro e 17 de outubro de 2010, onça-pintada (Panthera onca); (b) fezes de felino de grande porte; (d) unha de cutia (Dasyprocta totalizando um esforço de 20 noites e 480 horas. No início do período azarae) encontrada em fezes de felino de grande porte. Fotos Instituto Homem Pantaneiro.

250 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 251 Resultados junho (n=6), com um tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), um indivíduo macho de onça-pintada (P. onca), uma lontra (Lontra Através dos métodos utilizados, foram identificadas 33 espécies de longicaudis), uma ariranha (Pteronura brasiliensis), três visualizações mamíferos pertencentes a 21 famílias (Tabela 1). Levando em consideração de C. thous e um grupo de três capivaras (H. hydrochaeris). No mês as estações amostradas, 13 espécies foram identificadas durante a cheia e de setembro, foi visualizado, no período vespertino, um indivíduo de 21 durante a estiagem (Tabela 2). macaco-da-noite (Aotus azarae) próximo a formações de acuri (Attalea Foram coletados 16 contramoldes de rastros. Desses, quatro eram de phalerata). jaguatirica (Leopardus pardalis), dois de onça-pintada (Panthera onca), Durante a segunda campanha de armadilhagem fotográfica, dois de lobinho (Cerdocyon thous), três de anta (Tapirus terrestris), dois realizada no período de cheia, as espécies com o maior número de de queixada (Tayassu pecari) e tatu-peba (Euphractus sexcintus), e um de registros foram a anta (T. terrestris), com 20 registros, e o veado-mateiro cutia (Dasyprocta azarae). (M. americana), com 15 registros, seguidos por veado-catingueiro Grupos taxonômicos diversos foram observados a partir do (M. goazoubira) e cateto (P. tajacu), com 11 registros cada. No mês de armadilhamento fotográfico, sendo 13 espécies e nove famílias. A espécie abril de 2011, foi visualizado por volta do meio dia um casal de macaco- com maior registro de fotos no período de estiagem foi o lobinho (C. da-noite, também em formação de acuris. Um rastro de cervo-do- thous, n=13, figura 2h), seguido do veado mateiro (Mazama americana, pantanal (Blastocerus dichotomus) foi visualizado em abril de 2011, na figura 2a) e da onça-parda (Puma concolor, figura 1i), que obtiveram seis estrada Mandioré. Apesar de não utilizarmos metodologia apropriada registros cada. Foram obtidos ainda cinco registros de anta (T. terrestris, para amostragem de pequenos mamíferos, um roedor (Thrichomys figura 2c), quatro de jaguatirica (L. pardalis, figura 2j), dois de cateto pachyurus; figura 2f) foi registrado através de armadilha fotográfica no (Pecari tajacu, figura 2d e 2k) e quati (Nasua nasua, figura 2g e 2l), um período chuvoso. registro de cutia (D. azarae, figura 2e) e veado catingueiro (Mazama goazoubira, figura 2b). Figura 1 – Observações indiretas associadas às espécies de mamíferos na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. (a e c) rastro de onça-pintada (Panthera onca); (b) fezes de felino de grande porte; (d) unha de cutia (Dasyprocta azarae) encontrada em fezes de felino de grande porte. Fotos Instituto Homem Pantaneiro. C. thous foi fotografado principalmente no período noturno, contando com apenas duas fotos no período diurno e crepuscular. Já P. Fabiano, concolor, M. americana, T. terrestris, L. pardalis e M. goazoubira foram espécies observadas exclusivamente à noite. Por outro lado, N. nasua, D. azarae e P. tajacu foram registradas somente no período diurno. Verde grafico Durante a estiagem, todas as observações diretas aconteceram no período matutino e vespertino, à exceção das espécies C. thous e Hydrochaeris hydrochaeris (capivara). De maio a setembro, o mês que contou com maior frequência de observação direta de espécies foi Tabela 1. Espécies de mamíferos atualmente registrados para a Reserva Particular do ser da paleta. Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS.

252 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 253 Tabela 2. Espécies de mamíferos registrados na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista durante o período de seca de 2010 e cheia de 2011, a partir dos métodos de observação direta, coleta de contramoldes e armadilhas fotográficas. Fabiano, Verde grafico ser da paleta.

Figura 2 – Espécies de mamíferos registradas através de visualizações diretas na Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/MS. (a) Macaco-prego (Cebus cay, foto Alessandra Bertassoni); (b) Macaco-da-noite (Aotus azarae, foto Claudenice Faxina); (c) Bugio (Alouatta caraya, foto Nilson Lino Xavier Filho); (d) Sagui (Mico Legenda: Método: (Obs. Dir) Observação direta e (Arm. Fotog.) Armadilha fotográfica; * melanurus, foto André Brandão); (e) Sauía (Thrichomys pachyurus, foto Nilson Lino Xavier Espécies registradas somente na II Expedição para definições de prioridades da RPPN EEB, em Filho); (f) Capivara (Hydrochaeris hydrochaeris, foto Nilson Lino Xavier Filho); (g) Ariranha maio de 2007. Status (IUCN): LC – Least Concern; NT- Near Thretened; EN- Endangered; DD- (Pteronura brasiliensis, foto Nilson Lino Xavier Filho); (h) Onça-pintada (Panthera onca, foto Data Deficient; VU- Vulnerable. Nilson Lino Xavier Filho); (i) carcaça de cervídeo (foto Nilson Lino Xavier Filho).

254 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 255 O método de registro de rastros em períodos curtos é apontado como satisfatório para o levantamento das espécies de mamíferos terrestres de médio e grande porte (Pardini et al., 2003; Santos et al., 2004). Contudo, se o foco do estudo for maior e com questões diferentes do que simples levantamento de espécies, esse método deve ser associado a outros. Em um estudo realizado na Serra da Bodoquena/MS, 19 espécies foram registradas por rastros (Cáceres et al., 2007). Na Reserva Biológica Municipal Mário Viana, em Nova Xavantina/MT, 29 espécies foram registradas principalmente por rastros (Rocha & Dalponte, 2006). No presente estudo, registramos somente sete espécies. Esse número possivelmente está subestimado, uma vez que o período de coleta dos rastros foi muito curto, e a área de estudo encontrava-se sob influência de forte estiagem, o que pode ter diminuído o tempo em que os rastros ficaram visíveis na estrada e nas trilhas, devido ao solo seco, arenoso e pela presença dos ventos. O método de armadilhamento fotográfico é uma alternativa para o estudo dos animais silvestres e tem sido utilizado em várias pesquisas (Alves & Andriolo, 2005), desde inventários de fauna (Trolle, 2003; Tobler et al., 2008) até projetos com delineamento amostral específico para

Figura 3 – Espécies de mamíferos registradas a partir do método de armadilhas fotográficas na estimativas de densidade (Maffei et al., 2005; Soisalo & Cavalcanti, 2006; Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista, Serra do Amolar, Corumbá/ Negrões et al., 2010), uso de habitats (Karanth, 1995; Santos-filho & Silva, MS. (a) Veado catingueiro (Mazama gouazoubira); (b) Veado mateiro (Mazama americana); (c) 2002), padrões de atividade (Cuéllar et al., 2006; Oliveira-Santos et al., Anta (Tapirus terrestris); (d e k) Cateto (Pecari tajacu); (e) Cutia (Dasyprocta azarae); (f) Sauía (Thrichomys pachyurus); (g e l) Quati (Nasua nasua); (h) Lobinho (Cerdocyon thous); (i) Onça- 2008; Romero-Muñoz et al., 2010) e conservação (Kinnaird et al., 2003). parda (Puma concolor); (j) Jaguatirica (Leopardus pardalis). Fotos de armadilhas fotográficas Em um levantamento de mamíferos realizado na Fazenda Instituto Homem Pantaneiro – IHP. Nhumirim, no Pantanal da Nhecolândia, foram encontradas 20 espécies. As espécies com as maiores frequências de observações foram N. nasua, Discussão C. thous, M. americana, o M. gouazoubira, Ozotocerus bezoarticus e Quando existem espécies difíceis de capturar ou observar, uma Alouatta caraya (Alho et al., 1987). No presente estudo, com exceção de série de indícios pode ser utilizada para inferir a presença de um O. bezoarticus, todas as espécies estiveram presentes, sendo C. thous e (Boitani & Fuller, 2000). O valor das observações indiretas não deve M. americana os animais com maior número de registros fotográficos. ser subestimado, pois muitas vezes é o método mais eficaz para aferir o No Pantanal do Rio Negro, a partir da metodologia de transectos, C. contexto físico do animal e seu ambiente social (Grzimek, 2004). Ainda, thous também esteve entre uma das espécies mais frequentes (Mamede deve-se considerar que a maioria dos mamíferos apresenta hábitos & Alho, 2006). Talvez essa alta frequência ocorra por se tratar de uma noturnos e vive em habitats de difícil acesso (i.e. tocas, dossel), e por isso espécie oportunista generalista, que ocorre em uma ampla variedade de raramente são vistos (Lewinsohn, 2005). habitats, além de possuir hábitos noturnos e crepusculares, porém com

256 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 257 menos frequência é vista em atividade durante o dia (Cheida et al., 2006). (Schaller, 1983), onde se estimava que não houvesse mais de quatro Dentre as espécies listadas como Vulneráveis pela IUCN - indivíduos na propriedade. Devido aos seus poucos registros na área de International Union for Conservation of Nature (2011), estão presentes estudo, é provável que a espécie já esteja com a viabilidade populacional na RPPN EEB a anta, o cervo-do-pantanal, o tatu-canastra e o tamanduá- comprometida na região da Serra do Amolar. bandeira. A anta (T. terrestris) é vulnerável à extinção local ao longo de Do mesmo modo, a RPPN EEB também abriga populações de toda sua área de ocorrência, como resultado da conversão contínua do espécies quase ameaçadas (Near Threatened) (IUCN, 2010), dentre habitat e da caça (Bodmer & Brooks, 1997). É possível que a espécie possa elas o queixada, a onça-pintada, o cachorro-do-mato vinagre e o tatu- ser utilizada como recurso alimentar pelas comunidades locais, como bola. O queixada (T. pecari) é considerado uma das principais presas ocorre no chaco boliviano (Brooks & Eisenberg, 1999). Rastros de antas da onça-pintada (Chinchilla, 1997; Aranda & Sanchéz-Cordero, 1996). são frequentemente avistados na RPPN, indicando que a área pode ser A espécie foi encontrada na região do entorno da RPPN. Possui um considerada um refúgio para a conservação da espécie. O tatu-canastra comportamento social bastante característico, formando os maiores (Priodontes maximus) é considerado uma espécie rara (Rodrigues et bandos de forrageadores dentre todos os ungulados neotropicais, al., 2002) e pouco estudada. Existem poucas informações a respeito de chegando a mais de 200 indivíduos (Peres, 1996). Uma das maiores sua ecologia. Apesar de não termos registrado a espécie por meio das causas do desaparecimento da espécie é a destruição do habitat e pressão armadilhas fotográficas, tocas frescas foram encontradas nas regiões de caça (March, 1993; Bodmer, 1994). No Pantanal, a caça de subsistência de vales da RPPN. Devido ao seu hábito noturno, a espécie é raramente é culturalmente direcionada a algumas poucas espécies, especialmente avistada. Segundo o levantamento realizado na década de 1980 na antiga ao porco-monteiro (Sus scrofa), o que diminui em grande proporção o Fazenda Acurizal, a espécie era dada como praticamente extinta na impacto negativo sobre outras espécies (Silveira et al., 2006), dentre elas propriedade (Schaller, 1983). o queixada. O cervo-do-pantanal (B. dichotomus) é o maior veado da América A onça-pintada é o maior felino das Américas (Seymour, 1989). do Sul, ocorrendo no norte da Argentina, Paraguai, Bolívia, sul do Peru Apesar de sua importância ecológica, atualmente, estima-se que a onça- e Brasil (Alho & Gonçalves, 2005). É considerado especialista quanto pintada (P. onca) ocupe menos de 46% de sua área de distribuição original ao uso do habitat, preferindo locais inundados, com cerca de 70 cm (Sanderson et al., 2002). O Pantanal, ao lado da floresta amazônica, é de profundidade (Mauro et al., 1995). Também é considerado seletivo considerado um dos maiores e últimos refúgios para a espécie (Sanderson nos itens de forrageiras que escolhe, preferindo cerca de 35 espécies de et al., 2002; Zimmermann et al., 2005). Entretanto, a principal ameaça à sua plantas, a maioria aquáticas (Alho & Gonçalves, 2005). Segundo Mourão conservação é a crescente perda do habitat, em função do desmatamento, et al. (2000), a espécie ocupa preferencialmente a porção noroeste e a caça predatória, em resposta aos prejuízos causados pela predação do Pantanal. Apesar de rara em outros biomas, ainda é abundante no dos rebanhos domésticos (Nowell & Jackson, 1996; Silver et al., 2004; Pantanal (Alho & Gonçalves, 2005). Sollmann et al., 2008). Relatos de predação de rebanhos e criações por O tamanduá-bandeira (M. tridactyla), especialista na alimentação onças-pintadas e onças-pardas são frequentemente reportados pelos de formigas e cupins, ocorre desde o sul do Belize e Guatemala, até o moradores locais da região de entorno da RPPN. A distribuição de onças- norte da Argentina, ocupando uma ampla variedade de habitats, desde as pintadas no Pantanal não é homogênea, havendo áreas de densidades florestas tropicais até o Chaco (Eisenberg & Redford, 1999). Em regiões de mais altas (coincidentes com áreas florestadas) e áreas onde a espécie é campo aberto, como no Pantanal da Nhecolândia, a espécie é facilmente praticamente ausente (Quigley & Crawshaw, 1992). Uma das áreas com visualizada. Para a região da RPPN EEB, existe apenas um registro de alta densidade da espécie engloba o Parna Pantanal e a Serra do Amolar observação direta da espécie, assim como na antiga Fazenda Acurizal (Crawshaw, 2006).

258 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 259 Embora o tatu-bola (Tolypeutes matacus) tenha sido registrado (2011) considera a espécie como data deficiente, por ainda ter a taxonomia em outros inventários conduzidos no Pantanal (Schaller, 1983; Coutinho, incerta. Existe a possibilidade de a espécie ser sub-dividida em várias 1997), a espécie foi detectada na RPPN EEB apenas por rastros. Nesse espécies, ou ainda que a espécie atual agrupe indivíduos de uma nova sentido, mais esforços são necessários a fim de obter informações mais espécie de cervídeo. Dessa forma, é impossível avaliar a distribuição precisas sobre a ecologia da espécie na região da Serra do Amolar. O geográfica e o tamanho populacional do que hoje é conhecido como cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é uma espécie rara, mesmo em M. americana. As maiores ameaças são a caça e a redução das áreas habitats não antropizados (DeMatteo, 2008; DeMatteo & Loiselle, 2008), florestadas, uma vez que não se sabe se a espécie é capaz de persistir em mas com alguns pontos de ocorrência na região do Pantanal, tanto nas áreas não-florestadas (Durate & Barbanti, 2008). regiões altas da bacia do Paraguai como na planície (Rodrigues et al., A cutia (D. azarae), apesar de ser facilmente visualizada no Pantanal, 2002). Na RPPN, foi identificado por meio de rastros. A espécie é peculiar é uma espécie com poucas informações disponíveis, sendo incerta a sua por viver principalmente em matas, e, devido à dificuldade de localizar os distribuição geográfica, o seu tamanho populacional e os elementos que animais para estudos de campo, ainda é pouco estudado (Beisiegel, 1999). a ameaçam. Atualmente, sua taxonomia está sob revisão de especialistas, A única espécie em perigo (Endangered) encontrada na RPPN é com o intuito de definir a filogenia da espécie e dar luz às questões a ariranha. A ariranha (P. brasiliensis) é a maior de todas as espécies de ecológicas e comportamentais. No entanto, sabe-se que regionalmente lontras, com um comprimento corporal que tipicamente varia entre 1,5 a sua carne é muito apreciada, de modo a inferir que a espécie sofre com a 1,8 metros, com peso variando entre 26 a 32 quilos (Duplaix, 1980). São pressão de caça (Oliveira & Bonvicino, 2006; Catzeflis et al., 2008). endêmicas da América do Sul (Carter & Rosas, 1997). É categorizada como A lontra (L. longicaudis) é um carnívoro da família Mustelidae que quase extinta em dois países de sua distribuição original (IUCN, 2011). Até se alimenta preferencialmente de peixes, crustáceos e moluscos. Pode a década de 70, a caça para retirada de peles dizimou muitas populações complementar sua dieta de forma oportunística com frutos e pequenos no Brasil (Carter & Rosas, 1997). Na antiga Fazenda Acurizal, a espécie vertebrados. É uma das espécies de lontra menos conhecida no mundo foi considerada extinta durante a década de 1980 (Schaller, 1983). Com a (Quadros & Monteiro-Filho, 2002). A espécie é solitária, de hábitos proibição da caça, as populações têm se recuperado e alguns grupos já são crepusculares, semi-aquática e vive em tocas nos barrancos dos rios. Está observados ao longo do rio Paraguai, como na área da RPPN e entorno. distribuída do noroeste do México ao Uruguai e necessita de habitats com No entanto, a espécie ainda é ameaçada pelo desenvolvimento urbano, ampla vegetação ripária. As maiores causas para o declínio populacional pela mineração, poluição ambiental e construção de hidrelétricas (Carter são a diminuição das matas ciliares, a contaminação,o uso extenso dos & Rosas, 1997). cursos d’água e a caça ilegal. Está nesta categoria pela IUCN em razão A lista vermelha das espécies ameaçadas da IUCN (2011) indica das incertezas sobre os efeitos das ameaças antropogênicas no declínio três espécies: o veado-mateiro, a cutia e a lontra, encontradas na RPPN populacional, existindo carência demasiada de estudos de tamanho e EEB, constando na categoria Dados Deficientes. O veado-mateiro (M. distribuição populacional, estudos ecológicos de campo e identificação americana) vive em áreas de vegetação densa e ecótones entre florestas e de seus habitats chaves (Cheida et al., 2006; Waldemarin & Alvarez, cerrados brasileiros. É uma espécie herbívora, que se alimenta de matéria 2008). vegetal, principalmente frutos e gramíneas. No Brasil, sua distribuição é Segundo Eisenberg & Redford (1999), Aotus azarae apresenta simpátrica com M. gouazobira, o veado-catingueiro (Tiepolo & Tomas, ocorrência na planície da Bolívia, no sudeste do Peru, Paraguai e centro- 2006). No Pantanal sua distribuição é ampla, provavelmente devido norte da Argentina. Reis et al. (2006) diagnosticaram a espécie como à ausência de pressão de caça e em razão dos habitats apresentarem- ocorrente da Floresta Amazônica e para o Pantanal tem sido registrada em se ainda bem conservados (Tiepolo & Tomas, 2006). Contudo, a IUCN áreas restritas da planície, aparentemente confinada em áreas limítrofes

260 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 261 a regiões montanhosas. Segundo Rodrigues et al. (2002), a espécie é estima-se que na RPPN EEB ocorram aproximadamente 64 espécies de comum na região de Corumbá e está distribuída em áreas florestadas mamíferos. de todo o Brasil, exceto no sudeste (Jacobs, 1997). Neste trabalho, houve observações diretas de A. azarae, assim como na I expedição Considerações Finais para a confecção do Plano de Manejo da RPPN EEB, em novembro de Para os dados relacionados à coleta dos rastros, acreditamos que 2006 (Instituto Homem Pantaneiro et al., no prelo). Por ser noturna, a o número baixo de espécies registradas está relacionado com o curto observação direta se torna infrequente, no entanto, o registro feito para a período de amostragem e com a forte estiagem. Para alcançarmos espécie ocorreu no período vespertino. um registro maior a partir deste método, se faz necessário um estudo Das 33 espécies de mamíferos de médio e grande porte não voadores prolongado e sistemático. registradas para a RPPN EEB, quatro não foram registradas por Schaller Em relação ao armadilhamento fotográfico, é necessário um (1983) em seu estudo na área da RPPN Acurizal, também situada no período maior de amostragem, ocorrendo de forma continuada e em Pantanal do Paraguai, sendo elas: M. americana, S. venaticus, Cuniculus vários locais da RPPN EEB, para que haja um registro mais completo paca (paca) e P. brasiliensis. O plano de manejo das RPPNs Acurizal, das espécies de mamíferos terrestres. Ainda, um maior número de Penha e Dorochê verificou igualmente M. americana e P. brasiliensis, equipamentos em campo poderia aprimorar esse monitoramento, como porém não registrou nem S. venaticus nem C. paca (ANA et al., 2003). também possibilitar novos delineamentos amostrais, a fim de responder Ainda nessas RPPNs foi registrada uma espécie de canídeo Dusicyon sp., questões específicas de cunho biológico e ecológico. a qual não foi observada para a RPPN EEB e, segundo ANA et al. (2003), Informações a respeito das Ordens Chiroptera, Didelphimorpha e essa informação pode ter sido mal amostrada e interpretada. O plano de Rodentia carecem de estudos específicos, e devem futuramente agregar manejo do Parque Nacional do Pantanal - PARNA registrou 20 espécies de informações a este compêndio. mamíferos de médio e grande porte, sendo Coendou prehensillis (ouriço- Para que a amplitude de espécies de mamíferos da RPPN EEB seja caxeiro) a única espécie não registrada para a RPPN EEB. Ainda, para a diagnosticada, se fazem necessários estudos abrangentes, em longo prazo RPPN EEB, há o registro de 11 espécies da ordem Carnivora e somente três e nas diferentes estações (chuvosa e seca). A região da Serra do Amolar para o PARNA. São elas: P. onca, P. concolor e P. brasiliensis (Rossi et al., apresenta estudos insuficientes sobre sua fauna e flora, contudo configura 2003). com uma das áreas de importância e prioridade extremamente alta para Ao excluir as espécies das ordens Chiroptera, Rodentia e o Ministério do Meio Ambiente (MMA, 2007), com a recomendação de Didelphimorpha, verificamos 29 espécies de seis ordens no trabalho ações prioritárias em nível de inventários. de Schaller (1983), 32 de seis ordens para o plano de manejo das RPPNs Acurizal, Penha e Dorochê (ANA et al., 2003) e 17 espécies de cinco ordens Agradecimentos para o PARNA Pantanal (Rossi et al., 2003). Com essa exclusão, foram Agradecemos a toda a equipe do setor de Meio Ambiente do inventariadas 28 espécies de seis ordens para a RPPN EEB. Essa variação Instituto Homem Pantaneiro – Ângelo Rabelo, Viviane F. Moreira, nos registros das espécies da mastofauna para locais na mesma região Stephanie Leal, Valdilene Garcia, Marcos Cavalieri, Ramão Feitosa, do Pantanal pode estar diretamente relacionada aos métodos de coleta Sebastião Rolon, André Wagner Amorim Brandão e Franciane Souza da utilizados, pelo tempo amostrado, ou mesmo, pelo nível de especialização Silva –, que acreditou nesta iniciativa. Aos estagiários e voluntários do e conhecimento das competências envolvidas nas amostragens. setor, Sabrina Clink, Rodney Ribeiro Junior, Fernanda Sandim e Thianny Contudo, a partir dos estudos de Schaller (1983) na RPPN Acurizal Carrelo, agradecemos pelo auxílio na tabulação dos dados. e de Rossi et al. (2003) no Parna Pantanal, RPPNs Acurizal e Penha,

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268 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 269 da onça-pintada em propriedades rurais no Pantanal. Relatório Parcial entregue à Conservação Internacional do Brasil. 122 p. Silver, S.C.; Ostro, L.E.T.; Marsh, L.K.; Maffei, L.; Noss, A.J.; Kelly, M.; Wallace, R.B.; Gomez, H.; Crespo, G.A.; 2004. The use of câmera trap for estimating jaguar (Panthera onca) abundance and density using capture/recapture analysis. Oryx 38 (2): 148-154. Soisalo, M. K. & Cavalcanti, S. M. C. 2006. Estimating the density of a jaguar population in the Brazilian Pantanal using camera-traps and capture–recapture sampling in combination with GPS radio-telemetry. Biological Conservation, 129: 487-496. Sollmann, R.; Tôrres, N.M.; Silveira, L. 2008. Jaguar Conservation in Brazil: The role of protected áreas. Cat News. Special Issue 4: 15-20. Tiepolo, L. M. & Tomas, W. M. 2006. Ordem Artiodactyla. In: Reis, N. R.; Peracchi, A. L.; Pedro, W. A.; Lima, I. P. (Eds.). Mamíferos do Brasil. Londrina: Nélio R. dos Reis, pp. 283-303. Tobler, M. W., Carrillo-Percastegui, S. E., Leite Pitman, R., Mares, R. & Powell, G. 2008. An evaluation of camera traps for inventorying large- and medium-sized terrestrial rainforest mammals. Animal Conservation, 11: 169–178. Trolle, M. 2003. Mammal survey in the southeastern Pantanal, Brazil. Biodiversity and Conservation, 12 (4): 823-836. Waldemarin, H. F. & Alvarez, R. 2008. Lontra Longicaudis. In: IUCN 2011. IUCN Red List of Threatened Species. Version 2011.1. Disponível em: . Acesso em: 08 de julho de 2011. Wilson, D. E. & Reeder, D. M. 2005. Mammals species of the world – a taxonomic and geographic reference. 3 ed. v.1. Baltimore: John Hopkins University, 1248 p. Zimmermann, A.; Walpole, M.J.; Leader-Williams, N. 2005. Cattle rancher’s attitudes to conflicts with jaguars in the Pantanal of Brazil. Oryx, 39 (4): 1-7.

270 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 271 Conclusões e Ações Futuras na RPPN EEB Viviane Fonseca Moreira1& Alessandra Bertassoni¹

¹ Setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Pantaneiro (IHP). Ladeira Jose Bonifácio, 171, Porto Geral, Corumbá - MS, Brasil. CEP: 79.300-900. E-mail: viviane@instituto- homempantaneiro.org.br, [email protected]

Esta publicação nasceu da iniciativa de montar e estruturar uma coleção biológica didática que ilustrasse a fauna e a flora representativas da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista (RPPN EEB) e, por conseguinte, de parte da Serra do Amolar. A idealização desta coleção foi fundamentada, em primeira instância, no ensino e na aprendizagem ao longo dos anos por meio do material depositado e conservado. Em segundo lugar, como forma de aproximação com as comunidades ribeirinhas do entorno, uma vez que serve como uma forma de complementação visual educativa e de difusão da consciência ecológica e ambiental para as comunidades do Chané, Amolar e Barra do São Lourenço. Em terceiro lugar, a Coleção Biológica Didática da RPPN EEB tem potencial para operar como base de investigação e estudos de docentes e discentes de graduação e pós-graduação, principalmente das universidades de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, assim como para outros pesquisadores interessados. Para a concretização da Coleção Biológica Didática RPPN EEB e desta publicação, alguns desafios foram lançados. O primeiro deles era o de coletar, através de métodos científicos e replicáveis, material biológico. Para isso houve a necessidade de definir o alinhamento da logística de transporte do pessoal, de equipamentos técnicos e de material de consumo à RPPN EEB. Esta etapa configurou-se como um grande desafio, visto que a RPPN EEB dista cerca de 180 quilômetros do centro urbano de Corumbá – MS, e o acesso a ela é feito somente por barco ou aeronave. Esse fato encarece todos os projetos ali desenvolvidos, requer um planejamento e uma programação precisa, além de haver a preocupação com a segurança das pessoas envolvidas nas atividades de campo. O segundo desafio foi o de montar a coleção. Muitas pessoas estiveram envolvidas, desde o pessoal que iniciou a coleta a partir de

272 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 273 delineamentos amostrais específicos e a triagem do material, ainda em em razão do seu relevo (Unesco, 2010). O Plano de Manejo da RPPN EEB campo, até os pesquisadores com conhecimento especializado para (Instituto Homem Pantaneiro, no prelo) ressalta a peculiaridade da RPPN as devidas identificações taxonômicas. Todos os materiais coletados e da Serra do Amolar, a qual se apresenta como uma série de morrarias de foram tratados com muito cuidado para a sua montagem, identificação e relevo residual, cuja presença é pouco frequente na planície pantaneira, e posterior retorno à RPPN para, enfim, serem depositados adequadamente as possibilidades dessa região abrigar novas espécies, espécies endêmicas na Coleção. O terceiro desafio foi o de publicar os resultados destas coletas ou em risco de extinção. em um livro sobre a RPPN EEB. O processo de análise dos dados, redação, Segundo Alho (2011), o desafio para a conservação da magnífica revisão técnico-cientifica e gramatical e diagramação dos capítulos é biodiversidade do Pantanal aumenta com o passar do tempo e, árduo, e requer capacidades múltiplas, além de vários atores envolvidos. infelizmente, testemunha-se a perda de habitats e espécies, não como No entanto, a ideia desta publicação foi recebida com entusiasmo um resultado da seleção natural, mas por causa da perturbação humana. por toda a equipe do setor de Meio Ambiente do Instituto Homem Neste sentido as unidades de conservação no Pantanal exercem um Pantaneiro (IHP). A precursora desta ideia foi a pesquisadora Camila papel fundamental e de extrema importância para a conservação Aoki, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, uma das pessoas deste ecossistema. A conservação em terras privadas tem contribuído contatadas para participar das coletas para montagem da coleção. consistentemente para o fortalecimento das unidades de conservação Publicações internas de outras expedições à RPPN EEB existiam e no Brasil. Existem 942 RPPNs em território nacional. Destas, 36 estão somente uma dessas havia sido publicada externamente. A publicação no Estado do Mato Grosso do Sul e 28 estão inseridas na Bacia do Alto do Plano de Manejo da RPPN EEB ainda está no prelo, com previsão de Paraguai (REPAMS, 2010). Uma delas é a RPPN EEB, criada através da publicação em 2012. O plano de manejo de uma unidade de conservação Portaria nº 51 ICMBio, em 24 de julho de 2008 (Medeiros, 2008). é, basicamente, o documento técnico que estabelece o zoneamento e as O primeiro passo para a conservação de um ambiente natural normas para a área. é o conhecimento dos elementos que ali se inserem. Partindo desta A ideia de uma publicação sobre a RPPN EEB vem ao encontro premissa, desde a criação da RPPN EEB até o momento foram realizados das metas descritas no seu plano de manejo, bem como dos anseios da levantamentos de ambientes terrestres e aquáticos, em duas expedições instituição gestora da área, do IHP e de seus técnicos. Como exemplos das em períodos sazonais distintos. A primeira expedição, entre os dias 19 e metas do plano de manejo estão: “possibilitar a realização de visitação 27 de novembro de 2006, cobriu o período de baixos níveis de inundação, científica e o desenvolvimento de intercâmbio acadêmico, divulgando a com temperaturas altas e chuvas abundantes. A segunda, entre 23 e 27 UC como área propícia ao desenvolvimento de atividades científicas em de maio de 2007, abarcou o período de altos níveis de inundação e clima Biologia, Ecologia e Conservação”; e “propiciar atividades de pesquisa ameno e seco. Essas avaliações ecológicas rápidas enfocaram aspectos científica, de monitoramento ambiental e de investigação da diversidade vegetacionais, litológicos e de entomofauna, ictiofauna, mastofauna, biológica...”. herpetofauna e avifauna. Os resultados foram utilizados no diagnóstico O conteúdo desta obra corrobora com a recomendação do Ministério da área e suas informações serviram de base para a confecção do Plano do Meio Ambiente (MMA) para a Serra do Amolar, que sugere como ação de Manejo. Após essas duas expedições, aconteceram as duas campanhas prioritária a realização de inventários faunísticos e florísiticos. Essa região com foco específico para a coleta de material para a Coleção Didática é classificada como de importância e prioridade extremamente altas para e, assim, os dados botânicos, de mastofauna e de entomofauna, foram a conservação da biodiversidade (MMA, 2007). Ainda, desempenha um explorados mais a fundo. A importância de aprofundar os estudos deste papel de extrema importância para a manutenção dos estoques pesqueiros último grupo de fauna justifica-se pelo fato de que o Pantanal, juntamente do Pantanal e como refúgio para a fauna em épocas de inundação intensa

274 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 275 com a Caatinga, possui escasso número de inventários de invertebrados, protegidas sob a forma de unidades de conservação, sejam federais, figurando entre os biomas com entomofauna menos conhecida do Brasil estaduais ou privadas. Proprietários de terra protegem uma área ao (Lewinsohn & Prado, 2003). redor de 2.618km² do Pantanal. A criação da Associação de Proprietários Outras RPPNs no Pantanal também têm contribuído para a de Reservas Particulares do Patrimônio Natural de Mato Grosso do conservação do Pantanal, com o desenvolvimento de trabalhos técnico- Sul (REPAMS) estimula o que tem sido visto como a mais importante científicos semelhantes aos desenvolvidos na RPPN EEB. Citam-se ferramenta para a conservação da região, a implantação de novas reservas algumas delas: privadas. O engajamento do setor privado aliado às ações governamentais - RPPN Fazenda Rio Negro: com sete mil hectares no Pantanal são medidas necessárias para assegurar a conservação e o uso econômico da Nhecolândia, possui um Centro de Pesquisas para Conservação e sustentável dos recursos no Pantanal (Harris et al., 2005). apóia projetos de pesquisa sobre a biodiversidade da área da RPPN e do A exemplo da colocação de Harris e seus colaboradores (2005), Pantanal, tais como biogeografia da avifauna, distribuição de espécies está a empresa MMX Corumbá Mineração Ltda, uma das companhias arbóreas, diversidade de formigas, Projeto Papagaio-Verdadeiro, Projeto do grupo empresarial EBX. A MMX adquiriu, em 2006, a área hoje Arara Azul, entre outras (Machado et al., 2009). transformada na RPPN EEB. A iniciativa está fundamentada na - RPPN Fazenda Nhumirim: situada no Pantanal da Nhecolândia, premissa da responsabilidade ambiental empresarial e na sua política de pertencente à Embrapa Pantanal e com aproximadamente 680 hectares, sustentabilidade. No ano de 2008, a RPPN já estava sob o reconhecimento teve em sua criação o objetivo científico. É a única unidade de conservação do ICMBio e gravada com perpetuidade para a conservação ambiental. a proteger uma paisagem única no mundo: a das baías e salinas da Investimentos anuais da empresa são realizados na RPPN para sua Nhecolândia. Considerada como um laboratório natural para os manutenção, e parte disso é desdobrado nas ações de conservação e de pesquisadores da Embrapa e externos, segue algumas linhas de pesquisa pesquisa. O grupo empresarial reconhece que a RPPN trata-se de uma área há bastante tempo, tais quais Manejo de Animais Silvestres, Manejo de de grande expressividade ambiental e valor inestimável para o Pantanal e Recursos Vegetais, Manejo de Bovinos, Germoplasma Animal, além de assumiu o compromisso de conservá-la. Ainda, a ação social responsável disponibilizar espaço para Cursos e Treinamentos (Embrapa, 1997). é instrumento indispensável a uma empresa moderna (Batista, 2011). - RPPN Acurizal: de propriedade da Ecotrópica – Fundação de Desde a concepção desse projeto até a finalização da publicação, Apoio à Vida nos Trópicos, está localizada no entorno do Parque Nacional foram 20 meses de trabalho e 20 dias de coleta do material. Na participação do Pantanal, na Serra do Amolar. Entre os objetivos da RPPN, estão a das campanhas na RPPN EEB, somaram-se 28 pessoas, onde participaram elaboração de inventários da biodiversidade e a obtenção de informações técnicos do setor de Meio Ambiente do IHP, auxiliares operacionais do primárias sobre a flora e fauna em distintas unidades de paisagem da mesmo setor, pesquisadores, estagiários, fotógrafos e pessoas que nos Serra do Amolar (ANA et al., 2003). deram apoio nas atividades de campo. Para a análise, identificação do - RPPN SESC Pantanal: com os seus quase 88 mil hectares em material coletado, montagem da coleção e descrição dos capítulos aqui Barão de Melgaço, tem um Programa de Pesquisa e Desenvolvimento apresentados, além da equipe técnica e de pesquisadores já mencionados, Sustentável da Reserva, e abre as portas para diversas frentes de participaram mais 19 pesquisadores de dez instituições, incluindo o IHP. pesquisa, como plantas potencialmente úteis na alimentação humana, Ao todo, para que esta publicação se tornasse real, foram envolvidas monitoramento e telemetria de espécies de mamíferos, hidrogeologia do diretamente 47 pessoas, sem contabilizar o apoio do setor financeiro e do Rio Cuiabá, entre outras iniciativas (Brandão et al., 2011). setor de comunicação do IHP, onde poderíamos acrescer a este número mais cinco pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho. Apenas 2,5% da Bacia do Alto Paraguai estão oficialmente

276 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 277 Esta publicação tem o objetivo de fomentar a pesquisa científica sugere o MMA (2007), quanto os com delineamento amostral definido dentro da área da Reserva, por meio de parcerias formalmente para responder questões mais específicas. Por exemplo, projetos com estabelecidas; proporcionar uma relação de respeito com a comunidade relações bióticas e abióticas com enfoque no gradiente de altitude, no cientifica, bem como o uso e geração de informação científica, de modo estresse hídrico e funcionamento dos corpos hídricos internos. a atrair recursos externos a partir de seus resultados; e, por fim, que estes O Plano de Manejo RPPN EEB detectou nas duas expedições realizadas resultados sejam reconhecidos pelos mercados financeiros e que seja no ano de 2006 e 2007 os seguintes grupos não contemplados nesta pub- valorizado o capital do proprietário, assim como para dar visibilidade às licação: ações de conservação realizadas dentro da RPPN EEB. Os dados apresentados aqui foram coletados em duas campanhas - AVIFAUNA: de 10 dias consecutivos. A primeira é representativa do período de seca 219 espécies, sendo 196 no período da seca e 159 no período das cheias. (24 de julho a 04 de agosto de 2010 - Campanha I) e a segunda referente Destacaram-se como mais representativas as famílias Tyrannidae e Em- ao período de cheia (26 de março a 05 de abril de 2011 - Campanha berizidae, com respectivamente 26 e 11 espécies. II). Os autores dos capítulos concordam em afirmar que os resultados apresentados nesta publicação podem ser considerados como um passo - HERPETOFAUNA: inicial para a elaboração de listagem de espécies da área, a qual apresenta 45 espécies, sendo 36 no período seco e mais nove espécies acrescidas uma ampla variedade de habitats. Bem como refletem a necessidade de na cheia. A riqueza de espécies da herpetofauna encontrada na RPPN estudos mais abrangentes, que sejam realizados em períodos maiores EEB foi considerada baixa. Estes totais incluíram também o registro do e que incluam todas as estações do ano, bem como pontos de coleta jacaré-paguá (Paleosuchus palpebrosus) e da serpente (Taeniophallus diferenciados dentro da RPPN EEB. Quando aceitamos este desafio, occipitalis). sabíamos que ele iria descortinar uma infinidade de possibilidades de pesquisa para a RPPN EEB, e que apenas incursões pequenas a campo - ICTIOFAUNA: não corresponderiam aos nossos anseios. A necessidade de pesquisas e 33 espécies, com grande representatividade de espécies das ordens Sil- levantamentos, para todos os grupos biológicos e mesmo para as questões uriformes (17) e Characiformes (16). abióticas, tanto na RPPN EEB bem como em toda a região da Serra do Amolar, é uma realidade. Dentre os resultados mais expressivos dessa publicação, estão: No ano de 2010, a RPPN EEB foi formalmente aberta à pesquisa para as universidades dos Estados de Mato Grosso do Sul e de Mato - ABELHAS: Grosso, e esta publicação também tem como finalidade estender esse - Foram registradas 42 espécies de abelhas, distribuídas em 25 gêneros e convite a outras instituições e pesquisadores que tenham interesse em quatro famílias; investigações no Pantanal. Como forma de incentivar os estudos na área, - O registro seguiu o padrão esperado para áreas de Cerrado: foram o IHP oferece aos pesquisadores interessados apoio logístico e estrutura amostrados muitos gêneros com poucas espécies e poucos gêneros com física para o desenvolvimento dos projetos que interessem à instituição e muitas espécies; sob algumas responsabilidades. - Seis espécies figuram como novos registros para o Estado de Mato Gros- A carência de conhecimento que a região da Serra do Amolar sofre so do Sul. São elas: Ceratinamorrensis, Coelioxys (Acrocoelioxys) otom- é consistente e a localidade necessita de estudos com todos os grupos ita, Hopliphora velutina, Thygater analis, Larocanthidium nigritulum e biológicos, tanto aqueles com foco em levantamentos de espécies, como

278 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 279 Trigona chanchamayoensis; Yphthimoides affinis; - Apis mellifera foi a espécie mais abundante, provavelmente em razão do - A composição de espécies variou bastante entre as estações seca e chu- seu cultivo por parte dos ribeirinhos da região; vosa, reflexo da forte sazonalidade do Pantanal e consequentemente da - As abelhas constituem um dos principais grupos de polinizadores das sazonalidade de recursos; plantas e de 26 espécies vegetais, em floração, que ocorrem na RPPN EEB - Os dados indicam subamostragem de espécies de borboletas na área, receberam visitas; sendo necessária a continuidade do estudo, incluindo diversas épocas do - Esse trabalho evidenciou a necessidade de levantamentos abrangentes, ano e um longo período; em longo prazo e nas diferentes estações, para tentar compreender o efei- - Esta é uma tentativa pioneira de acessar parte dos componentes da di- to da sazonalidade na diversidade de abelhas nas diferentes formações versidade de borboletas deste bioma/região, até então pouco conhecido. vegetais do Pantanal. - BOTÂNICA: - ARANHAS: - Uma coleção botânica de referência foi criada na RPPN EEB; - Foram coletadas 6388 aranhas, sendo mais de 5000 jovens (> 86%). - Foram coletados exemplares de 140 espécies botânicas. Algumas identi- As aranhas sexualmente maduras compuseram 82 espécies (ou morfoe- ficadas apenas em nível taxonômico de gênero; spécies) em 19 famílias na estação seca e 77 espécies em 22 famílias na - A área de estudo possui uma flora composta por espécies de Cerrado, estação chuvosa. de Floresta Estacional, da Floresta Amazônica, da Mata Atlântica e do - Foram identificadas pelo menos 10 espécies novas ainda não descritas Chaco, com uma forte predominância de espécies de Cerrado e de Floresta para a ciência, sendo objeto de trabalho futuro; Estacional; - As famílias registradas para a RPPN compuseram 11 guildas: predadores - Em relação à flora, o Pantanal e, portanto, a Serra do Amolar, ainda de espreita de solo, cursoriais de solo noturnos, de liteira, aéreos diurnos, carece de informações de cunho biogeográfico, principalmente em re- de espreita aéreos noturnos, cursoriais aéreos noturnos, tecedoras de solo lação às morrarias residuais, que apresentam difícil acesso e localização diurnas, de solo noturnas, orbiculares aéreas, de teias não orbiculares e remota, tornando-se, em alguns casos, verdadeiras ilhas na planície pan- sedentárias com teias em lençol; taneira durante as inundações mais intensas; - A área com maior diversidade fitofisionômica (savana herbáceo-arbus- - São necessárias complementações do material botânico da RPPN EEB, a tiva, cerradão e floresta semidecidual) distinguiu-se das demais quanto fim de que as espécies que estavam apenas com caracteres vegetativos no às espécies de aranhas dominantes. período de coleta sejam contempladas. - Os resultados do estudo contribuem para enriquecer as informações sobre a fauna araneológica do Pantanal. - COLEÓPTERA: - Foram coletadas 420 espécies e distribuídas em 45 famílias de Coleóptera - BORBOLETAS: (besouros) para a RPPN EEB; - Foram registradas 62 espécies de borboletas na RPPN EEB, a partir do - A presença de várias espécies ocorrendo exclusivamente em locais re- uso de armadilhas e de busca ativa com redes entomológicas; stritos dentro da Reserva pode significar alta especificidade de habitat; - 11 espécies constam como novo registro para o bioma Pantanal. São - Foi observada forte sazonalidade na ocorrência de espécies na área de elas: Adelphaiphicleola, Aidesduma duma, Ascia monuste, Catoneph- estudo, com menos de 3% das espécies observadas em ambas as estações ele sabrina, Fountainea glycerium cratias, Glutophrissa drusilla, Morpho (seca e chuvosa); helenor, Pyrisitia nise tenella, Stalachtis phlegia, Euptoieta hegesia e

280 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 281 - A riqueza de besouros da área não foi completamente amostrada devido ao curto período de coleta; - MASTOFAUNA: - A listagem de Coleóptera, apesar de incompleta, é a mais extensa para o - Foram verificadas 33 espécies pertencentes a 21 famílias de mamíferos Pantanal sul-mato-grossense e a primeira para a sub-região do Paraguai. de médio e grande porte, não voadores, na RPPN EEB; - Dentre as espécies registradas na RPPN EEB e listadas como Vul- - FORMIGAS: neráveis pela IUCN - International Union for Conservation of Nature - Foram coletadas 120 espécies de formigas, distribuídas em 43 gêneros, (2011), estão a anta (Tapirus terrestris), o cervo-do-pantanal (Blastocerus na RPPN EEB; dichotomus), o tatu-canastra (Priodontes maximus) e o tamanduá-ban- - Os gêneros mais ricos foram Pheidole (15), Camponotus (11) e Solenop- deira (Myrmecophaga tridactyla); sis (6), que são amplamente disseminados no Neotrópico; - A RPPN EEB abriga populações de espécies consideradas como quase - Gêneros pouco frequentes, como Amblyopone, Blepharidatta, Myce- ameaçadas pela IUCN, dentre elas o queixada (Tayassu pecari), a onça- tosoritis e Myrmicocrypta, foram amostrados; pintada (Panthera onça), o cachorro-do-mato vinagre (Speothos venati- - Oito grupos funcionais foram identificados para a comunidade: Cul- cus) e o tatu-bola (Tolypeutes matacus); tivadoras de fungos, Generalistas,Predadoras, Crípticas, Patrulheiras, - A única espécie considerada em perigo pela IUCN (2011) e encontrada Oportunistas, Coletoras de exudatos e Nômades; na RPPN é a ariranha (Pteronura brasiliensis); - As espécies Eciton hamatum e Blepharidatta conops foram registradas - Através de comparações com outros estudos realizados próximos à área, pela primeira vez para a região do Pantanal, ambas com o status de rele- estima-se que ocorram aproximadamente 64 espécies de mamíferos na vante raridade e notória importância em estudos evolutivos e biogeográ- RPPN EEB; ficos neotropicais; - Informações a respeito das Ordens Chiroptera, Didelphimorpha e Ro- - Esse levantamento figura como a listagem mais extensa de formigas já dentia carecem de estudos específicos, e devem futuramente agregar in- apresentada para o Pantanal Sul, sendo a primeira para a sub-região do formações à lista de mamíferos da RPPN EEB. Paraguai. - ODONATA: - HETEROPTERA: - Foram registradas 24 espécies de Odonata (libélulas), distribuídas em - Foram registradas 71 espécies de Heteroptera (“percevejos”), distribuí- 15 gêneros na RPPN EEB, a partir de busca ativa com rede entomológica; das em 16 famílias para a RPPN EEB; - A riqueza de Odonata está sub-amostrada. Estima-se que na RPPN EEB - Há a possibilidade de registro de uma nova espécie do gênero (Rhypa- existam 36 espécies, desta forma, teriam sido amostradas cerca de 67% roclopius sp.) ou uma variação morfológica extrema, sendo objeto de tra- das espécies ocorrentes; balho futuro; - O gênero Triacanthagyna e a espécie Micrathyria romani ainda não tin- - Considerando a grande variedade de habitats e diversidade dos het- ham registro para o Estado do Mato Grosso do Sul; erópteros, os resultados mostraram uma parca representação, refletindo - Para a região da Serra do Amolar, a Odonatofauna era até o momento a necessidade de estudos mais abrangentes, realizados por períodos totalmente desconhecida, sendo este o primeiro levantamento sistema- maiores, incluindo todas as estações anuais e com uso de variados meios tizado na região. de coleta; - Este foi o primeiro levantamento de Heteroptera feito no Pantanal sul- mato-grossense e um dos primeiros realizados no Estado.

282 Descobrindo o Paraíso Aspectos Biológicos da Reserva Particular do Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista 283 - VESPAS: cia do Alto Paraguai. Eberhard, G.(Coord.), Subprojeto 2.1 - Programa - Em relação à composição faunística das vespas da RPPN EEB, foram reg- de Gerenciamento para o Desenvolvimento de Zonas Tampão nas istradas 40 espécies de Hymenoptera Aculeata, distribuídas nas famílias Vizinhanças das Reservas Naturais Acurizal, Penha e Dorochê Vespidae, Pompilidae, Mutillidae, Scoliidae, Crabronidae, Specidae e - Relatório Final: Plano de Manejo das RPPN’s Acurizal, Penha e Chrysididae; Dorochê. Cuiabá: Ecotrópica, 125p. - Para o levantamento da comunidade de vespas visitantes florais, foram Batista, E. 2011. Um verdadeiro Santuário às Margens do Rio Para- registradas na RPPN EEB 19 espécies, com o uso de rede entomológica; guai. Disponível em: < http://www.mmx.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/ - As vespas amostradas nas duas partes deste inventário (composição start.htm?sid=170&lng=br >. Acesso em: 06 de julho de 2011. faunística e comunidade de visitantes florais) totalizaram 50 espécies, 32 Brandão, L.G.; Antas, P.T.Z.; Oliveira, L.F.B; Jorge-Pádua, M.T.; Pereira, gêneros e sete famílias. N.C. & Valutky, W.W. 2011. Plano de Manejo da Reserva Particular do - Para melhor inventariar a comunidade de vespas da RPPN EEB, é Patrimônio Natural SESC Pantanal. 2 ed. Rio de Janeiro: SESC, 148 p. necessária a realização de mais coletas e em épocas distintas do ano, prin- EMBRAPA, Centro de Pesquisa Agropecuária do Pantanal. 1997. Plano cipalmente levando em consideração a marcada sazonalidade encontra- de utilização da fazenda Nhumirim. SORIANO, B.M.A.; OLIVEIRA, da no Pantanal. de H.; CATTO, J.B.; COMASTRI FILHO, J.A.; GALDINO, S. & SALIS, S.M. (Org.). Documento, 21. Corumbá, Embrapa-CPAP. 72p. Harris, M. B.; Tomas, W.; Mourão, G.; Da Silva, C. J.; Guimarães, E.; Son- Dentre os desafios para a RPPN EEB no ano de 2012, estão: a realização de oda, F. & Fachim, E. 2005. Safeguarding the Pantanal Wetland: Threats cursos de campo para programas de graduação e pós-graduação nas áreas and conservation initiatives. Conservation Biology, 19(3): 714-720. de biologia e afins; implementação do projeto de trilhas interpretativas, a Instituto Homem Pantaneiro; Zucco, C. A.; Tizianel, F. A. T.; Jesus, F. partir dos dados botânicos obtidos e da definição da capacidade de carga & Saracura, V. No prelo. Plano de Manejo da Reserva Particular do das mesmas; aumento do esforço de campo para o projeto de armadil- Patrimônio Natural Engenheiro Eliezer Batista. Corumbá: Instituto hagem fotográfica, com enfoque em mastofauna; e efetivação de projetos Homem Pantaneiro. científicos de pesquisadores externos. Lewinsohn, T. L. & Prado, P. I. 2003. Biodiversidade Brasileira: Síntese A RPPN EEB foi criada para fins de conservação, a pesquisa é a sua vo- do Estado Atual do Conhecimento. São Paulo: Contexto, 176p. cação. Esta publicação apenas vem demonstrar a necessidade do desen- Machado, R.B.; Silva, S.M.; Camargo, G. & Ribeiro, A.P. 2009. Reserva volvimento de maiores investigações na área, nos seus mais diversos gru- Particular do Patrimônio Natural Fazenda Rio Negro – Plano de pos. Manejo: Conservação Internacional, 145 p. Medeiros, S. C. 2008. Diário Oficial da União – Seção 1. N° 142 de 25 de julho de 2008. Brasília: Imprensa Nacional, p. 52. Referências MMA – Ministério do Meio Ambiente. 2007. Áreas prioritárias para a Conservação, Uso Sustentável, e Repartição de Benefícios da Bio- Alho, C. J. R. 2011. Biodiversity of the Pantanal: its magnitude, human diversidade Brasileira. Brasília: MMA, 301p. occupation, environmental threats and challenges for conservation. Bra- REPAMS. 2010. Repams: Relatório de Atividades Técnicas e Financei- zilian Journal of Biology, 71(1, suppl.): 229-232. ras (2003 a 2010). Campo Grande: Editora Alvorada, 28p. ANA/GEF/PNUMA/OEA. 2003. Projeto implementação de Práticas de UNESCO. 2010. Biosphere Reserves – World Network of biosphere Gerenciamento Integrado de Bacia Hidrográfica para o Pantanal e Ba- reserves. MAB Programme: Paris, 21p.

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