Faculdade De Letras
Total Page:16
File Type:pdf, Size:1020Kb
UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS Departamento de Estudos Clássicos O matrimónio do Sapiens: Estudo e Tradução dos Fragmentos do De Matrimonio de Lúcio Aneu Séneca Luís Alexandre Simões Revez Coelho Dissertação de Mestrado em Estudos Clássicos - Edição e tradução de textos clássicos - 2011 UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS Departamento de Estudos Clássicos O matrimónio do sapiens: Estudo e Tradução dos Fragmentos do De Matrimonio de Lúcio Aneu Séneca Luís Alexandre Simões Revez Coelho Dissertação de Mestrado em Estudos Clássicos - Edição e tradução de textos clássicos - orientada pela Professora Doutora Maria Cristina de Castro-Maia de Sousa Pimentel 2011 A meu avô João, (1923-2008) in memoriam À minha avó Ilda, ab imo corde i ÍNDICE Palavras prévias………………………………………………………………....iii Agradecimentos……………………………………………………………….....v Resumo/ Résumé………………………………………………………………..vi Palavras-chave………………………………………………………………......vi Lista de abreviaturas……………………………………………………………vii INTRODUÇÃO………………………...………………….……………...............1 CAPÍTULO 1: O MATRIMÓNIO DO SAPIENS………….………………....….11 1. Perspectivas da doutrina estóica sobre matrimónio: génese e evolução do pensamento dos principais teorizadores - Zenão, Crisipo, Antípatro de Tarso e Musónio Rufo..................................................12 CAPÍTULO 2: SÉNECA E O MATRIMÓNIO………………………………......31 2.1 Contexto sócio-político………………...……………….…………..32 2.2 Séneca mestre e discípulo do Pórtico….….………………………...43 2.3 O matrimónio e a doutrina familiar na obra de Séneca……………..56 2.4 O DE MATRIMONIO……………………………………………...…76 CAPÍTULO 3: SÃO JERÓNIMO E O ADVERSVS IOVINIANVM………………....83 3.1 Contexto sócio-político ………………………………………….…84 3.2 O matrimónio nos primeiros séculos da Igreja: o contributo das correntes ascéticas encratistas………………………………………86 3.3 A heresia de Joviniano……………………………………………...96 3.4 O ADVERSVS IOVINIAVM………………………………………….100 CAPÍTULO 4: DE MATRIMONIO – texto e tradução dos fragmentos………...107 CONLUSÃO………….………...………………………………………………...…..143 BIBLIOGAFIA……………………………………………………………...…151 ii PALAVRAS PRÉVIAS Posterorum negotium ago. Illis aliqua quae possint prodesse conscribo. (SÉNECA, Ep. 8, 2) Quando, há três anos, sobracei, por sugestão da Professora Maria Cristina Pimentel, a tarefa de traduzir o De Matrimonio, inocentemente não me apercebi da importância do tema que me foi dado tratar. Que interesse, pensei eu, teria uma obra fragmentária e sobre a qual tão pouco se ouve falar? Uma vez compreendida a dimensão da questão, a minha primeira dificuldade foi a de tentar conciliar a abrangência temática que, a meu ver, deveria envolver um estudo sério sobre o De Matrimonio com as balizas de uma dissertação de mestrado. Sobre isso, logo me dei conta de que esta não seria a ocasião própria nem para ensinar o que quer que fosse nem tão-pouco para reivindicar uma descoberta surpreendente ou uma interpretação inovadora que dissessem respeito ao fragmentário tratado de Séneca. O único objectivo que houve foi o de aprender. Ciente de que este é primordialmente um trabalho de tradução, e não querendo descurar as dificuldades que tal tarefa implica, pretendi, todavia, dar algum relevo a um estudo introdutório que procurasse, de forma simples, mas abrangente, contextualizar a obra que intentei traduzir, pois que muitos me pareceram ser os aspectos interessantes a focar e a analisar. De outro modo, o trabalho de tradução revelar-se-ia, por si só, improfícuo. Afinal, o que é a língua, senão um meio para se chegar à Cultura? Traduzir um texto clássico, ainda que fragmentário, como o do De Matrimonio, mais não é, com efeito, do que dar a conhecer a ideia nele contida, o pensamento e a mensagem do seu autor; mas é também - e sobretudo - prolongar a sua existência, por vezes abafada pela distância inevitavelmente imposta pelo tempo, ou, por outras palavras, salvá-lo do esquecimento, como lembra Paul RICOEUR.1 Trata-se, no fundo, de integrar uma obra num contexto diferente do de origem, numa outra mundividência. Mas traduzir um texto clássico é, ainda, acolher de bom grado o precioso património literário, herança gratuitamente recebida que, pelo seu alto valor, deve merecer a nossa maior estima e afeição. Por conseguinte, falar do De Matrimonio, implica obrigatoriamente falar de uma longa tradição de conceitos e preceitos formulados pelos principais teorizadores da Escola do Pórtico, e da sua evolução; e implica igualmente reconhecer a importante influência que a doutrina estóica exerceu no pensamento cristão. Assim foi que um Padre da Igreja, São Jerónimo, fundamentou o seu pensamento no de um autor pagão. Assim foi que, a dada altura, o cristianismo e o estoicismo se caldearam. Facto curioso, que atesta esse encontro, é que o que conhecemos hoje do De Matrimonio - os seus 1 “na tarefa da tradução, também se procede a uma certa salvação.” Paul RICOEUR, Sobre a Tradução, tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo, Lisboa, Livros Cotovia, 2005, p.10. iii fragmentos - devemo-lo tão-somente aos passos que dele São Jerónimo cita no Aduersus Iouinianum. Filosofia, Religião, História e Literatura cruzam-se, dando origem a essa realidade tão vasta e tão profunda a que comummente chamamos Cultura. Jerónimo salvou o De Matrimonio - e a circunstância de tal salvamento não é, como sabemos, caso único na história da transmissão dos textos clássicos. Único é que tenham sido o estoicismo de Séneca e o cristianismo de Jerónimo a ditar as normas que haveriam de reger a moral matrimonial vigente, ainda hoje, na Cultura Ocidental. Vistas assim as coisas, pareceu-me termos hoje fundadas razões para olharmos serenamente para o De Matrimonio e, por acréscimo, para o património moral que nos foi legado pela Antiguidade. Quando terminei este trabalho e reflecti sobre o seu conteúdo, receoso, apercebi- me de que talvez tivesse sido demasiado superficial na abordagem de certas questões. E, com efeito, fui. Não é que desconhecesse a sua profundidade e vastidão; é que tive a consciência nítida de que estão sumamente bem estudadas e de que do seu aprofundamento resultaria uma digressão desnecessária e talvez até prejudicial, dada a imensidão de bibliografia existente. Que poderia eu dizer de novo sobre estoicismo ou sobre as épocas de Séneca e de Jerónimo que ainda não houvesse sido dito? Mas, pondo de lado tal receio, uma dúvida maior me inquietou, e inquieta ainda: a de saber se o que há de transcendente e de eternamente verdadeiro no nosso património moral, latino e cristão, nós o deixaremos perder, sem consciência da sua superioridade, perante a ameaça dos novos tempos. Posterorum negotium ago. Illis aliqua quae possint prodesse conscribo… Não as desprezemos! Vila Viçosa, Agosto de 2011 iv AGRADECIMENTOS Agradeço, como é de justiça, à Professora Doutora Maria Cristina Pimentel, em primeiro lugar, pelas memoráveis aulas de Literatura Latina que me possibilitaram conhecer Séneca, para mim o mais querido autor da Antiguidade Clássica. Agradeço-lhe também por me ter sugerido o tema desta dissertação, que orientou de forma tão dedicada e sabedora. Injusto da minha parte seria se não reconhecesse que foi graças ao seu inestimável apoio e às suas palavras de estímulo que este trabalho chegou ao fim. Agradeço ao Professor Doutor Arnaldo do Espírito Santo, não só pelo interesse que pôs desde o início neste trabalho, mas também, e sobretudo, pela sua bonomia e pelo espírito tão humano sempre para comigo demonstrados. Ao Professor Doutor José Pedro Serra, com quem aprendi a olhar para o horizonte trágico da vida e do mundo, um sincero obrigado pela diligência com que acudiu às burocracias académicas que, em dada altura, começaram a ser um estorvo. Agradeço ao Luís Neves, meu dilecto amigo, pelos reparos e pelas sugestões que fez. Esquecidos não quero deixar aqueles que comigo fizeram a viagem pelas “coisas clássicas”, os meus colegas de curso, com quem tanto partilhei e em cuja companhia me fui esclarecendo. Do coração agradeço à Mizé pela amizade e por todos os bons momentos que a vida nos tem proporcionado. Seja-me também permitida uma palavra de profunda gratidão ao meu amigo Ismael, ilustre organista do Santuário de Fátima, pelo interesse que desde sempre manifestou na concretização deste meu trabalho. Ao Padre Doutor Mário Tavares de Oliveira e ao Cónego António Simões estendo, penhorado, o meu gesto de agradecimento. v RESUMO Escrito no séc. I d.C., do De Matrimonio de Lúcio Aneu Séneca apenas se conhecem alguns fragmentos cujo número e ordem oscilam em função dos críticos que os editaram. Analisando não só o que resta do De Matrimonio, mas também outros passos da obra do filósofo cordovês, em que são afloradas as questões relativas à moral familiar e matrimonial, percebe-se que o ideal de matrimónio que Séneca propôs, influenciado, sem dúvida, pelo contexto político e social da sua época, e também pela sua própria experiência de vida, encontra o seu fundamento nas ideias dos primeiros teorizadores da Escola do Pórtico. São Jerónimo, no séc. IV d.C., pretendendo defender a moral matrimonial, atacada pelas heresias de Joviniano, depois de recorrer às fontes bíblicas, socorre-se também de fontes pagãs. É no seu polémico tratado Aduersus Iouinianum, escrito no ano 393 d.C., que encontramos citados os referidos fragmentos do De Matrimonio. PALAVRAS-CHAVE: Matrimónio, Estoicismo, Cristianismo, Séneca, São Jerónimo RÉSUMÉ Rédigé au premier siècle après J.C., on ne connaît du De Matrimonio de Sénèque que quelques fragments dont le nombre et l'ordre diffère selon les critiques qui les ont édités. En analysant non seulement