04 Artigo Nayara.Indd

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04 Artigo Nayara.Indd ESTIMATIVA DOS PARÂMETROS DE CRESCIMENTO DO BAGRE-BRANCO, Amphiarius rugispinis (SILURIFORMES: ARIIDAE) NUMA ÁREA COSTEIRA AMAZÔNICA, BRAGANÇA-PARÁ-BRASIL Arquivos de Ciências do Mar Estimation of the growth parameters of softhead sea catfish, Amphiarius rugispinis (Siluriformes: Ariidae), on a coastal Amazon area, Bragança, Pará State, Brazil Nayara Cristina Barbosa Mendes1, Wellington Matheus Gomes de Lima1, Camila de Nazaré Araújo Cardoso1, Mayra Souza do Nascimento1, Pablo Antônio Pinheiro da Cruz2, Bianca Bentes Silva3 RESUMO O bagre-branco, Amphiarius rugispinis, é uma espécie de significativa importância econômica, cujos desembarques podem ser considerados como parâmetros confiáveis da produção biológica, apesar de eventuais vícios em sua estimação. Este estudo demonstrou que A. rugispinis possui crescimento lento (Kio = 0,230 e L∞ = 58,45 cm) e longevidade mediana (tmax = 12,4 anos). Como principal resultado ficou evidente a necessidade de ordenamento de sua pescaria, tendo em vista que o estuário Taperaçu parece ser uma área essencialmente de crescimento para a espécie. Palavras-chaves: Amphiarius rugispinis, estuário, crescimento, biologia populacional. ABSTRACT The softhead sea catfish, Amphiarius rugispinis, is a species of commercial economic, whose landings can be taken to be reliable parameters of its biological yield despite the occasional occurrence of biases in their estimates. This -1 study demonstrated that A. rugispinis has slow growth (K = 0. 230 yr. and L∞ = 58.45 cm) and median longevity (tmax = 12.4 years). The main result of this study emphasizes the need for management of its fishery given that the Taperaçu estuary seems to be an important area for the growth of softhead sea catfish. Keywords: Amphiarius rugispinis, estuary, growth, population biology. 1 Acadêmicos em Ciências Biológicas, Universidade Federal do Pará, Campus: Bragança; Estagiários do Laboratório de Bioecologia Pesqueira. E-mail: [email protected]; [email protected]; [email protected]; mayra.snascimento@ yahoo.com 2 Biólogo do Laboratório de Bioecologia Pesqueira. E-mail: [email protected] 3 Professor Adjunto Fepespa-Ufpa-Bragança. E-mail: [email protected] Arq. Ciên. Mar, Fortaleza, 2013, 46(1): 39 - 46 39 INTRODUÇÃO mosa’ e causadora de reações alérgicas à pele e ao fígado (Barthem, 2000). Os bagres da família Ariidae apresentam dis- Estudos de ecologia básica de A. rugispinis tribuição circumglobal, habitando regiões litorâneas, ainda são escassos na região e alguns poucos artigos estuarinas e rios de regiões tropicais e temperadas. A fazem referência à abundância em alguns locais da maioria das espécies ocorre em áreas costeiras rasas costa brasileira (Haimovici & Klippel, 1999), dieta e em estuários e aquelas exclusivamente marinhas (Mendes & Barthem, 2010) e pesca artesanal (Silva, podem ser encontradas em profundidades supe- 2004). O crescimento desta espécie também é desco- riores a 100 m, enquanto outras ocorrem somente em nhecido, tendo em vista a difícil identificação dos água doce. Característico dos bagres marinhos é o indivíduos frente à diversidade de espécies na costa hábito apresentado pelos machos de incubar os ovos, brasileira (Sczepanski, 2008). Desse modo, o presente que são carregados na cavidade bucal até o final de estudo vem contribuir para o incremento de infor- seu desenvolvimento (Marceniuk, 2005). mações sobre os parâmetros biológicos deste táxon Arius rugispinis (Valenciennes, 1840) foi consi- utilizando o modelo de crescimento de von Berta- derada por Marceniuk (2003) como não pertencente lanffy (1938), considerado clássico nos estudos sobre a um gênero monofilético não descrito até aquele populações de peixes. ano e Kailola (2004) sugeriu a criação de um novo gênero. Esta espécie foi incluída em Arius por Taylor MATERIAL E MÉTODOS & Menezes (1977), Burgess (1989), Cervigón (1992), Le Bail et al. (2000), Camargo & Isaac (2001), Acero Área de estudo e coleta de dados (2003) e Marceniuk & Ferraris (2003) e, ainda, no gê- O estuário do Taperaçu adjacente ao estuário nero Notarius por Betancur & Acero (2004) onde do Caeté situa-se entre as longitudes 46°42’W e pôde ser separada pela ausência do sulco medial no 46°45’W e as latitudes 00°50’S e 00°57’S, formando crânio, a linha lateral não bifurcada na região caudal, uma bacia com uma área de 5.000 km² entre os estuá- ausência de dentes associados ao vômer e o processo rios do Caeté e o sistema estuarino Tracuateua-Qua- occipital em forma de funil. tipuru. Além de extensos manguezais, possui Posteriormente a espécie foi reavaliada e rea- planícies de maré e praias arenosas que são domi- locada no gênero Amphiarius baseando-se em sua es- nadas superficialmente por uma fração de areia trutura dentária: dentes acessórios pequenos e muito fina, mas com teores significativos de silte e localizados nas áreas mais laterais da boca que, se- argila (Souza Filho et al., 2006). É caracterizado por gundo Marceniuk (2007), são exclusivos da espécie. macro marés semidiurnas assim como em toda a Amphiarius rugispinis é conhecida popular- zona costeira do nordeste paraense e, devido à pre- mente como jurupiranga ou bagre-branco (Espírito sença marcante das planícies de maré e bancos, a in- Santo, 2005) e pode ser encontrada em regiões estua- fluência das ondas fica limitada à porção externa rinas, com distribuição da América do sul, da Guiana desse estuário no qual a maré pode alcançar um ao estado do Pará, no Brasil (Marceniuk, 2005). Se- valor máximo de 5,37 m, constituindo seu principal gundo dados estatísticos do IBAMA publicados em agente hidrodinâmico (Souza Filho et al., 2009). 2008, sua produção pesqueira respondeu por 46,5 t Os pontos de coleta no estuário do Taperaçu de um total de 65.354t desembarcadas nos portos do foram determinados de acordo com os perfis P1 e P2 Pará, cujo valor comercial médio foi de R$ 1,63/kg e (Figura 1), localizados respectivamente em suas mostrou uma tendência de aumento em relação a partes externa e interna. Os substratos em P1 (areia) anos anteriores, com R$1,43/kg. e P2 (lama) foram fatores decisivos na escolha desses Apesar de ser uma espécie que apresenta perfis, distanciados entre si aproximadamente 1 km, baixos valores de produção e preço na primeira co- bem como a navegabilidade do estuário mesmo na mercialização na Amazônia, os bagres são mais va- maré baixa. lorizados no mercado externo, pelo fato de Os exemplares foram coletados bimensal- possuírem características particulares relacionadas mente durante a “quebrada da lua”, período que se ao seu porte, paladar e ausência de espinhas mus- refere ao fim da lua cheia e inicio da lua minguante, culares e maior rendimento de carne que agregam entre os meses de março de 2010 a julho de 2011, em maior relevância econômica à cadeia produtiva. períodos de 24 h. Foram quatro redes de espera e No entanto, muitos tabus alimentares ainda são uma rede tipo picaré com funil (arrasto) cujas dimen- observados entre os habitantes do litoral, que ainda sões podem ser visualizadas na Figura 2. As redes de se referem à carne dos ‘peixes de pele’ como ‘rei- espera foram colocadas nas marés de enchente e va- 40 Arq. Ciên. Mar, Fortaleza, 2013, 46(1): 39 - 46 Figura 1 - Localização do estuário Taperaçu (Landsat TM3R2G1B – 2001), com delimitação dos locais de coleta: P1 = ponto mais interno; P2 = ponto mais externo (fonte: Brito, 2009). 1 2 Figura 2 - Dimensões das redes de espera (1) e de arrasto (2) utilizadas para a captura de Amphiarius rugispinis em uma área costeira amazônica, no período de março/2010 a julho/2011. zante do dia e da noite em ambos os perfis, permane- do pedúnculo caudal), comprimento total - CT (do cendo imersas por duas horas; os arrastos foram extremo distal da cabeça até o extremo posterior da realizados num canal de maré entre P1 e P2, totali- nadadeira caudal) e peso total. zando 90 m (3 x 30 m) sempre na última maré va- zante do dia. Análise dos dados O estudo dos parâmetros de crescimento foi Processamento das amostras realizado através do Programa FISAT II (FAO/ Os espécimes foram identificados através de ICLARM Stock Assessment Tools, versão 1.1.2, dis- chaves de classificação (Espírito Santo, 2005; Marce- ponível em http://www.fao.org.br/fi/statist/ niuk, 2005) e medidos quanto a comprimento padrão fisoft/fisat/, Gayanilo Jr. et al., 2000-2004), utili- - CP (extremo distal da cabeça até a última vértebra zando-se distribuições mensais em intervalos de Arq. Ciên. Mar, Fortaleza, 2013, 46(1): 39 - 46 41 classe de 5 mm. Para o ajuste da curva de cresci- Log (-t0) = -0.392 - 0.275 log L∞ - 1.038 log K (3) mento foi utilizado o modelo generalizado de von Bertalanffy (1938) (Equação 1), que estabelece a Por fim, foi calculado o índice de desempenho função entre o comprimento total (L ) e a idade dos t do crescimento (f’) através da Equação 4 (Munro & espécimes, a partir da fórmula: Pauly, 1983): Lt = L∞ [1 - exp (- K(t – t0)] (1) f’ = log K + 2*log L∞ (4) onde, L = comprimento na idade t; L = comprimento t ∞ máximo teórico; K= coeficiente de crescimento Todas as estimativas de L∞ foram calculadas (anoˉ¹); t = idade; t = idade no comprimento L = 0. 0 t para comprimento padrão e posteriormente conver- Foi realizada a separação dos grupos etários e tidas em comprimento total, a partir da equação de a determinação do comprimento médio por coorte regressão linear Y= a+bX (Equação 5) com o cálculo através do método de Bhattacharya (1967). Para o do coeficiente de correlação de Pearson (R2). ajuste do modelo de von Bertalanffy, a partir dos dados de comprimento médio por idade foi utili- zado o métdo de Gulland & Holt (1959). Adicional- CT= 1,289 + 1,187 CP (R2= 0,926) (5) mente, os mesmos dados de frequência do comprimento foram usados para outro ajuste da curva de crescimento, pelo método ELEFAN I (Res- RESULTADOS ponse Surface), que identifica modas (picos) e valores intermodais (vales) após o cálculo de médias cor- A espécie Amphiarius rugispinis foi a mais ridas em um processo denominado de ‘reestrutu- abundante nas capturas experimentais feitas no ração’ e ainda ELEFAN I (automático).
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