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Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP CS 305 – Redes Convergentes Docente: José Armando Valente e Hermes Renato Hildebrand Discente: Mona Vicente ­ RA: 174920

Relatório da análise estrutural do uso da hashtag #CipherHunt no

Introdução Séries televisivas são assuntos que mais rendem conversas atualmente e ajudam amizades a começarem e serem estabelecidas. Por isso, é natural que vários fãs de alguma série em específico se reúnam para se divertir enquanto discutem sobre seu programa preferido e compartilhar os trabalhos, como desenhos e histórias, que fizeram inspirado neles. Na década de 1990 esse habito já acontecia em forma de fanclubs, na qual as pessoas se encontravam ​ ​ presencialmente. Com a internet, surgiu o fandom, palavra derivada de “fan”, que em inglês significa fãs, ​ ​ com “kingdom”, reino, em tradução livro seria “reino de fãs”. Eles têm a mesma proposta dos fanclubs: os fãs se reunem para trocar ideias sobre aquilo que gostam mais; a diferença, porém, é ​ que isso acontece online. Os fandoms ficaram bastante famosos com as redes sociais Tumblr e ​ ​ ​ ​ ​ ​ Twitter, e, com a ajuda da tecnologia, conseguem juntar muito mais fãs do mundo inteiro. Assim, ​ cada fandom constituiria uma comunidade online de acordo com a definição do autor Howard Rheingold: Agregações sociais que emergem da rede quando um número suficiente de pessoas empreende [...] discussões públicas por tempo suficiente, com suficiente sentimento humano, para formar redes de relacionamentos pessoais no ciberespaço. (RHEINGOLD, 1993)

Pensando nesse novo fenômeno social e cultural e as interatividades online entre grupos ​ ​ com gostos em comum, pensei em analisar um fandom específico que utilizou da plataforma do ​ Twitter para atingir um objetivo na vida real, e como isso teria sido impossível sem a internet.

O fandom em questão é da série televisiva de animação (2012), que ​ ​ ​ terminou sua segunda, e última, temporada no começo de 2016. Esse seriado já era conhecido por ter códigos e mensagens escondidos durante todos seus episódios, e os fãs costumavam passar dias reassistindo às cenas e trocando informações e ideias, principalmente através do Tumblr, para criar teorias e decifrar as pistas. O criador do show, Alex Hirsch, costuma interagir com o fandom através de seu Twitter, onde ele responde e confirmava, ou desmentia, algumas teorias. Nos minutos finais do último episódio da série é mostrada uma imagem em live action ​ (ou seja, não era animação como o resto do programa) de uma estátua enterrada pela metade de um dos personagens, o vilão, que foi derrotado justamente no mesmo episódio. Desde então, os fãs analisaram a cena inúmeras vezes para tentar descobrir onde essa estátua estava localizada. Muitos acharam que, na verdade, ela nem existia e era só uma imagem para completar o final da série. Alguns meses depois, Alex Hirsch fez um tweet com uma imagem da estátua e um mapa, com a hashtag #CipherHunt. Cipher sendo o nome do personagem da estátua e “hunt”, em inglês, significa caçada, Cipher Hunt, portanto, era o nome da caçada que mobilizaria o fandom de ​ ​ Gravity Falls. ​ Com essas informações, farei uma análise estrutural do uso da hashtag #CipherHunt durante esse período. Não entrarei em detalhes sobre as pistas, como ou onde foram descobertas, apenas olharei como foram as interações na rede social Twitter englobando pessoas do fandom ​ enquanto se juntavam para achar a estátua.

Objetivo Analisando as interações das pessoas que usaram a hashtag #CipherHunt na rede social Twitter, pretendo conseguir responder, ao final desse relatório, as respectivas perguntas: 1) Como começou e qual foram as características da propagação dessa hashtag? 2) A hashtag foi duradoura? 3) A hashtag teve impacto no mundo real ou foi algo que permaneceu no virtual?

Metodologia Tipo de pesquisa: estudo de caso quantitativo e qualitativo. População: frequentadores da rede social Twitter que utilizaram a hashtag #CipherHunt. Equipamento: ferramenta online “Netlytic” de análise de dados e os tweets de maior ​ ​ destaque que utilizaram a hashtag.

Descrição das ações: Pré­produção ● Escolher qual comunidade virtual analisar e o tema dentro dela Como eu já era fã do seriado Gravity Falls, eu tinha acompanhado a #CipherHunt na época em que aconteceu, eu já havia me familiarizado com os fãs que participaram desse fenômeno social. Por isso, escolhi essa hashtag para fazer uma análise. ● Aprender a mexer na ferramenta de análise Netlytic Utilizando das aulas da matéria CS 305 – Redes Convergentes. ​

Produção ● Colocar os dados da hashtag na ferramenta Entrei no site da Netlytic e, em New Dataset, preenchi os campos que eram necessário para a coleta dos dados; deveriam ser buscados no Twitter através da hashtag #CipherHunt. ● Analisar os resultados nos gráficos ● Utilizar dos resultados para responder às perguntas do objetivo

Pós­produção ● Elaboração deste relatório

Resultados O gráfico que eu consegui com a ferramenta Netlytic foi o seguinte:

Figura 1: name network do uso da hashtag #CipherHunt

Cada ponto que aparece na imagem é um username, ou seja, um usuário da rede social ​ ​ Twitter que interagiu de alguma maneira com outros usuários utilizando a hashtag #CipherHunt. No Twitter, os meios de interação são: retweet, like ou interactions. De acordo com a descrição ​ ​ ​ ​ ​ ​ desse gráfico, os pontos são ligados uns aos outros se houver interaction ou retweet, ou seja, se algum usuário mencionou o outro (uma forma de responder um tweet) ou “compartilhou” um tweet em seu próprio perfil. O ponto central, e o maior deles, é o username @_alexhirsch que é o criador da série ​ Gravity Falls. Quanto mais perto desse username, mais as ligações entre os pontos se sobrepõem, ou seja, há mais interações com ele do que com qualquer outro usuário do Twitter. É seguro propor, portanto, que ele começou a hashtag e foi o principal responsável pela sua propagação. Também é possível perceber o fandom atuando dentro da hashtag, já que a maioria dos usernames são trocadilhos com elementos do seriado de animação ou nomes de personagens. Com essas informações, já foi possível responder à primeira pergunta “como começou e qual foram as características da propagação dessa hashtag?”, sabemos que ela começou com o

criador da série Alex Hirsch, e se propagou em grande quantidade pelo fandom de Gravity Falls, ​ ​ com a maioria das interações rondando o próprio criador. Como eu acompanhei a hashtag, eu sei que seu auge durou aproximadamente duas semanas, já que a estátua foi achada no décimo quarto dia da #CipherHunt. Catorze dias não parecem muito, mas no mundo virtual, é incomum uma hashtag durar tanto tempo. Geralmente, quando elas entram nos Trend Topis, os tópicos mais falados do Twitter (o que não foi o caso da #CipherHunt), duram apenas algumas horas. Então, por ser uma hashtag de um fandom ​ consideravelmente pequeno, ela foi suficientemente duradoura. Podemos ver a progressão da hashtag através do tempo com o gráfico do site Netlytic:

Figura 2: progressão da quantidade de posts utilizando a hashtag #CipherHunt por dia

Para concluir, responderei a terceira pergunta, se a hashtag teve impacto no mundo real. O primeiro mapa que foi lançado no Twitter de Hirsch era para a próxima pista, que era física e estava localizada na Rússia. A outra pista foi achada no Japão, outra na Alemanha, e as subsequentes foram espalhadas pelos Estados Unidos. Esse fenômeno, portanto, utilizava de uma comunidade e de uma plataforma virtuais para realizar um trabalho em conjunto e físico, que se passava no mundo real e em escala internacional. O objetivo da hashtag era mobilizar os fãs de Gravity Falls ao redor do mundo para se divertirem em um “caça ao tesouro”, ajudando uns aos outros a encontrarem e desvendarem

pistas com elementos de seu seriado favorito. Com isso, eu diria que a #CipherHunt cumpriu sua meta, e, no final das duas semanas, os fãs acharam a estátua. Acompanhando a hashtag, eu me deparei com pessoas de todas as idades, desde crianças à adultos, e famílias inteiras viajando por horas pelos Estados Unidos atrás das pistas. Portanto, foi um enorme impacto na vida de vários fãs que participaram ativamente dessa atividade, mesmo que estivessem só acompanhando pela internet ou estivessem fisicamente nos locais das pistas. Foi um um fenômeno social incrível, em minha opinião, e nunca teria conseguido ser feito sem uma plataforma online como o Twitter.

Referências

GRAVITY Falls. Direçã: Alex Hirsch. Los Angeles: Disney Studios, 2012.

GRUZD, Dr. Anatoliy. Netlytic. Disponível em: . Acesso em: 24 ago. ​ ​ 2016.

KOZINETS, Robert V. Netnografia: realizando pesquisa etnográfica online. Porto Alegre: Penso, 2014.